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A criança vítima de queimadura

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URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS 
A CRIANÇA VÍTIMA DE QUEIMADURA 
Queimadura – definição 
Define-se queimadura toda lesão resultante do calor direto ou indireto (radiante) sobre o corpo. Pode ser provocada 
por um agente aquecido, agentes químicos (lesões cáusticas semelhantes à lesão térmica) ou descarga elétrica. 
 
As queimaduras por agentes químicos são menos comuns, sendo o principal exemplo a situação na qual a criança 
ingere soda cáustica. As crianças possuem uma vantagem em relação ao acidente com soda caustica, pois elas, 
geralmente, cospem. Com isso, eles apresentam queimadura de lábios e mucosa, mas não possuem queimadura de 
esôfago. A queimadura de esôfago causada por soda caustica é terrível, uma vez que ela provoca uma lesão cicatricial 
com estenose e, com isso, a criança, invariavelmente, necessita ser traqueostomizada e, posteriormente, é submetida 
a várias sessões de dilatação de esôfago em decorrência da estenose gerada pela ingestão de soda cáustica. Portanto, 
felizmente, na maioria das vezes é queimadura dos lábios, da língua e da mucosa. 
 
A queimadura por descarga elétrica é sempre uma queimadura grave, pois ela possui um ponto de entrada, mas não 
se consegue definir um ponto de saída. Com isso, há muitas lesões de órgãos internos e não se consegue definir muito 
bem a extensão da queimadura. 
 
Epidemiologia 
 
No Brasil, 50% das queimaduras ocorrem em ambiente doméstico, sendo que 80% destas acontecem na cozinha por 
um agente aquecido. 
 
O último levantamento realizado em 2011, por Leão et al no Hospital João XXIII – BH/MG, hospital referência em Minas 
Gerais, apontou que 33% dos pacientes vítimas de queimaduras tem entre zero e 15 anos de idade, ou seja, 1/3 das 
vítimas de queimaduras são crianças. 
 
Principais causas: 
✓ Lactentes = escaldadura (liquido que derrama sobre a criança ou a criança é colocada sobre um liquido 
aquecido) 
✓ Pré-escolar = escaldadura + chamas (nessa fase a criança já começa a brincar com fogo) 
✓ Escolar = chamas (predomínio sexo masculino, assim como os acidentes por animais peçonhentos, por causa 
das brincadeiras masculinas que em geral incluem atividades mais perigosas) 
 
A escaldadura com alimentos, principalmente alimentos doces, tem maior gravidade - Queimar com água pura é muito 
menos grave do que queimar com água com açúcar, doces, por exemplo. O açúcar caramelizado ou doces são 
grudentos e quanto mais se tem dificuldade em retirar esse agente aquecido da superfície, mais a queimadura se 
aprofunda. 
 
Anatomia da pele 
 
 
 
Epiderme – camada mais superficial da pele 
Derme – possui os anexos (glândulas, folículos pilosos) 
Hipoderme - camada mais profunda da pele, onde há inervação 
 
 
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS 
Orientações para domicilio diante de uma criança vítima de queimadura 
 
Lavagem das lesões com água fria corrente por cerca de 5 a 15 minutos, o que promove: 
✓ Alívio da dor; 
✓ Redução da profundidade e do edema causados pela queimadura; 
✓ Redução da liberação de cininas e histaminas envolvidas no processo inflamatório, inclusive, de 
aprofundamento da queimadura; 
✓ Melhora da microcirculação. 
✓ Retirada de roupas e acessórios, principalmente em queimaduras nas mãos (anéis) 
✓ NUNCA aplicar gelo! (O gelo pode ser um novo agente de queimadura, podendo aprofundar ainda mais as 
lesões. Assim como nos acidentes por animais peçonhentos, está proscrito garrotear o membro, nas 
queimaduras está proscrito aplicação de gelo). 
 
Classificação 
 
As queimaduras podem ser classificadas quanto à profundidade e quanto à superfície corporal queimada (SCQ), o que 
é essencial para definir se o tratamento vai ser ambulatorial ou hospitalar, bem como as estratégias de tratamento. 
 
Quanto à profundidade: 
 
Grau da lesão Definição Aspecto clinico 
 
Primeiro grau 
Espessura superficial. 
Destruição apenas da epiderme. 
Ex.: Queimadura solar 
Geralmente provoca eritema e dor. 
Descama em 4-6 dias. 
Em geral o tratamento é domiciliar com hidratação 
da pele e hidratação oral 
 
Segundo grau 
SUPERFICIAL 
Possui espessura parcial. 
Destruição de toda a epiderme e da derme 
superior, sempre com formação de bolhas 
(flictenas). 
A lesão é exsudativa (“mais molhada”), eritematosa 
e muito dolorosa. Geralmente reepiteliza em 10-14 
dias, não necessitando de enxertia. 
 
Segundo grau 
PROFUNDA 
Espessura parcial. 
Destruição da epiderme e da derme 
superior e profunda, com formação de 
bolhas. 
Lesão com menor umidade e maior palidez, 
dolorosa. Reepiteliza em 21 dias, mas em alguns 
casos necessita de enxertia. 
 
 
Terceiro grau 
Espessura total. 
Destruição da epiderme, derme e 
hipoderme (destruição de glândulas, 
folículos pilosos, inervação), podendo 
atingir estruturas mais profundas. 
Lesão seca, dura, inelástica (textura coreácea – 
aspecto de couro), indolor (destruição de 
terminações nervosas). Pele bem esbranquiçada. 
Não reepiteliza e necessariamente necessita de 
enxertia. 
 
Primiero grau – queimadura solar 
 
 
 
 
 
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS 
Segundo grau superficial - base da bolha rósea/eritematosa, exudativa/úmida, muito dolorosa. Todas as bolhas 
devem ser desbridadas! 
 
 
Segundo grau profunda - base da bolha branca, mais seca, na base mesmo é indolor. 
 
 
 
Terceiro grau – completamente branca, seca, inelástica, indolor; lesão coreacia 
 
 
 
Quanto à superfície corporal queimada (SCQ): 
 
CLASSIFICAÇÃO ADULTOS CRIANÇAS 
Pequeno queimado 2º grau <10% ou 
3º grau <5% 
2º grau <5% 
Médio queimado 2º grau 10-25% ou 
3ºgrau 5-10% 
2ºgrau 5-15% e 
3º grau <3% 
Grande queimado 2º grau >25% ou 
3º grau >10% 
2ºgrau >15% ou 
3º grau > 3% 
 
*Para crianças, a classificação é bem menos permissiva. Queimaduras que em adultos são classificadas como pequeno 
queimado, nas crianças são classificadas como médio ou grande queimado, pois as crianças se desidratam com mais 
facilidade e tem, dessa forma, maior risco de choque hipovolêmico do que o adulto. 
*Queimadura elétrica: SEMPRE grave e grande queimado, pois é profunda e extensa! A corrente tem ponto 
de entrada, mas não tem ponto de saída >> não dá para calcular a superfície corporal atingida: você vê parte do 
corpo queimado, mas a corrente passa internamente destruindo tudo. 
 
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS 
Estimativa da SCQ - Lund e Browder: 
 
Idade (anos)/Área ≤1 (lactente) 1 – 4 (lactente + pré-escolar) 5 – 9 (escolar) 10 – 14 (adolescente) 15 (jovem) 
Cabeça* 19 17 13 11 9 
Pescoço 2 2 2 2 2 
Tronco anterior 13 13 13 13 13 
Tronco posterior 12 13 13 13 13 
Nádega direita 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 
Nádega esquerda 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 
Genitália 1 1 1 1 1 
Braço 4 4 4 4 4 
Antebraço 3 3 3 3 3 
Mao 2,5 2,5 2,5 2,5 2,5 
Coxa 5,5 6,5 8 8,5 9 
Perna 5 5 5,5 6 6,5 
Pé 3,5 3,5 3,5 3,5 3,5 
 
*O bebê possui uma cabeça desproporcional em relação ao resto do corpo, ou seja, ele possui uma cabeça que significa 
muito mais do que em todas as outras idades. À medida que a criança cresce a cabeça vai perdendo esse 
significado/percentual. 
 
Estimativa da SCQ - Pulanski e Tennison (Regra dos Nove): 
 
Idade (anos)/Área Crianças > 1 ano Crianças < 1 ano 
Cabeça e pescoço 9% 18% 
Membro superior direito 9% 9% 
Membro superior esquerdo 9% 9% 
Região anterior de tronco 19% 19% 
Região posterior de tronco 18% 18% 
Genitália 1% 1% 
Coxa direita 9% 4,5% 
Coxa esquerda 9% 4,5% 
Perna direita 9% 4,5% 
Perna esquerda 9% 4,5% 
 
 
Hierarquização do atendimento 
 
Ambulatorial x Hospitalar 
 
1º) Estimar a superfície corporal queimada (SCQ) pela regra de Lund e Browder OU Pulanski e Tennison (Regra dos 
Nove) e classificar a lesão quanto a profundidade 
2º) Registrar o agente causador* e a circunstância do trauma**. 
*Descarga elétrica é sempre grande queimado, então o paciente sempre deve ser internado. 
*As escaldaduras com líquidos açucarados são mais perigosas. Assim, a queimadura que, em um primeiro momento, 
é classificada como 2º grau superficial,pode aprofundar mais, já que não se consegue retirar todo aquele líquido da 
superfície corporal da criança, por mais que se lave a criança. 
*Portanto, dependendo do agente causador, embora se classifique a criança como pequeno queimado e o tratamento 
poderia ser ambulatorial, a SCQ ou a profundidade pode aumentar e, com isso, a criança passa a ser um médio ou 
grande queimado e necessita ser hospitalizado. 
Regra prática 
*Regra da Palma da mão: a palma do paciente representa 1% da superfície corporal >> Somar quantas palmas 
tem a área queimada para ter a estimativa da SCQ. 
 
 
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS 
**Como essa criança queimou? Por que? Sob a vigilância de quem essa criança queimou? Quem queimou essa criança? 
Dependendo da situação, deve-se fazer uma internação social e, com isso, as vezes a criança é um pequeno queimado, 
tem uma SCQ bem pequena, o agente causador foi só água, mas por uma questão social é preciso internar. 
3º) Registrar a idade* e comorbidades associadas**. 
*Crianças menores possuem um risco bem maior, logo, geralmente são internadas, assim como os idosos. 
**Cardiopatas, pneumopatas, diabéticas – maior risco em relação às crianças hígidas. 
 
 
Atendimento ambulatorial 
 
Pequenos queimados, sejam eles adultos ou crianças; 
Médios queimados com condição de realizar cuidados e curativos em domicílio (crianças com queimadura de 2º grau 
5-10% e 3º grau <3%). 
 
*O agente causador da queimadura é bem definido (por exemplo água quente) – resfriar, lavar e sem risco de 
aprofundamento da lesão; sem suspeita de negligência e violência; família bem orientada. 
 
Abordagem ambulatorial 
 
✓ Analgesia venosa (dipirona, paracetamol ou morfina, dependendo da intensidade dor do paciente) 
✓ Limpeza vigorosa (esfregar) das áreas acometidas com clorexidine degermante 2% e soro fisiológico. Analgesia 
com morfina ou cetamina. A cetamina é um anestésico dissociativo; a criança não rebaixa, mas tem um 
desligamento do terminal de dor e continua consciente. 
✓ Desbridamento de tecidos desvitalizados, ruptura e desbridamento de bolhas (o liquido dentro das bolhas 
funciona como meio de cultura) 
✓ Curativo com sulfadiazina de prata a 1%, ocluindo com gaze aberta e atadura de crepom (trocar diariamente) 
✓ Verificar vacinação anti-tetânica. 
*** Em queimaduras de primeiro grau: hidratação da pele*** 
 
Atendimento hospitalar 
 
Médios queimados sem condições de cuidados domiciliares (crianças com queimaduras de 2º grau >10% e 3º grau 
>3%); 
Todos os grandes queimados; 
✓ Queimaduras da face e pescoço (independentemente do grau de profundidade, sempre internar – risco de 
edema de vias aéreas com necessidade de IOT ou traqueostomia precoce); 
✓ Queimaduras incapacitantes (mãos e pés – são sempre de maior risco); 
✓ Queimaduras graves de genitália e períneo (área extremamente contaminada e, muitas vezes, são 
incapacitantes); 
✓ Lesões por inalação ou queimaduras elétricas; 
✓ Crianças em idade tenra (geralmente até 1 ano); 
✓ Comorbidades associadas (diabéticos, cardiopatas, pneumopatas, sindrômicas) 
 
Abordagem hospitalar 
 
▪ Abordagem inicial sistematizada, conforme o PALS (Pediatric Advanced Life Suport) – ABCDE 
A – Via aérea 
B – Respiração 
C – Circulação 
D – Neurológico 
E – Exposição/Queimaduras 
▪ Avaliar evidências sugestivas de lesão por inalação em pacientes expostos a fumaça ou vapor: 
- Queimadura cervical ou facial; 
- Queimadura de sobrancelhas, cílios ou vibrissas nasais; 
 
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS 
- Escarro carbonáceo/escuro; 
- Rouquidão; 
- História de queimadura em ambiente fechado; 
- Confusão mental; 
- Carboxihemoglobina > 10% (quando há possibilidade de dosagem). 
*Esses pacientes precisam de IOT precoce, pois eles tendem a evoluir com edema de glote. 
 
▪ Considerar IOT precoce 
- Estridor respiratório – RA inspiratório; 
- Rouquidão progressiva; 
- Uso de musculatura acessória; 
- Queimaduras com edema em face e pescoço; 
- Redução do nível de consciência; 
- Hipoxemia ou hipercarbia. 
 
▪ Acesso venoso 
- Mesmo em extensa área acometida, é permitida a punção; preferir membro preservado, mas uma área 
queimada não impede que se pegue um acesso 
- Considerar acesso venoso central (AVC) em SCQ > 50%; crianças com SCQ >50% apresentam mortalidade de 
quase 100%. 
- Grandes queimados: monitorização contínua (PA, FC, SpO2). 
 
▪ Analgesia: analgésicos comuns a opióides. 
▪ Tricotomia, caso existam pelos que não foram queimados (geralmente é feita com lâmina de bisturi). 
▪ Desbridamento: sob analgesia, considerando sedação (midazolam e cetamina), ou anestesia geral em bloco 
cirúrgico quando a criança é um grande queimado. O ambiente hospitalar permite intubar e ventilar o paciente muito 
mais facilmente, então não fazer sedação em pacientes em abordagem hospitalar é crueldade! 
(NÃO utilizar succinilcolina: risco de hiperK). 
▪ Escarotomia: queimadura de 3º grau com escaras rígidas circunferenciais em membros ou placas em tórax com 
restrição dos movimentos respiratórios (abrir a superfície para favorecer a circulação nos membros e a ventilação no 
tórax) 
▪ NÃO utilizar ATB sistêmico na fase inicial! Em pediatria raramente se usa ATB sistêmico profilático, pois selecionar 
bactérias em uma criança é muito diferente de selecionar bactérias em um adulto. Usar ATB tópico – sulfadiazina de 
prata a 1%, com curativo oclusivo. 
 
▪ Sempre lembrar da vacina anti-tetânica. 
 
*NÃO necessariamente há internação envolvida, pois o paciente pode ir diariamente ao hospital para troca de 
curativo. 
 
Internação hospitalar 
 
▪ Queimadura de 2º grau > 10% em crianças; 
▪ Queimadura de 3º grau > 3% em crianças; 
▪ Queimaduras elétricas; 
▪ Queimaduras em áreas especiais: vias aéreas, face, mãos, pés ou períneo; 
▪ Pacientes com comorbidades: desnutrição, diabetes, cardiopatias, drepanocitose; 
 
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS 
▪ Suspeita de maus-tratos – internação social 
 
O paciente queimado morre por duas causas principais: em um primeiro momento, ele pode morrer de desidratação, 
então o risco principal e de choque hipovolêmico. Num segundo momento, o paciente pode morrer por infecção, pois 
há perda da barreira de proteção cutânea, predispondo a infecções. Assim, inicialmente o paciente perde muito calor 
e por outro lado quando ele começar a ser hidratado, há um momento em que ele vai ter um choque hipovolêmico 
relativo; o paciente perde muitas vezes, liquido para o terceiro espaço e não para o ambiente externo e quando o 
paciente começa a se nutrir, esse liquido que saiu do capilar volta para o compartimento intravascular e as vezes o 
paciente faz um edema generalizado, o que é pior ainda. Por isso, deve-se ter muito cuidado nos pacientes queimados 
e nos pacientes com cetoacidose diabética, em que se deve hidratar, mas há um limite de hidratação. Muitas vezes, 
os médicos colocam para correr 500mL/1L em crianças com 8kg e o que ela deveria receber em mais de 24h ela recebe 
em 30min. A criança precisa ser hidratada pelo risco de choque hipovolêmico, mas a hiper-hidratação pode ser tão 
iatrogênica quanto a desidratação. 
 
Internação hospitalar: hidratação 
 
▪ Hidratação é oral para pacientes com <15% de SCQ (crianças maiores, colaborativas, conscientes) 
▪ Hidratação venosa, sempre, para os grandes queimados. 
▪ Avaliar a hidratação através do débito urinário: ≥ 1ml/Kg/h em queimaduras térmicas e ≥ 2ml/Kg/h em 
queimaduras elétricas (há acometimento renal muito grande, por isso precisa-se de um debito urinário maior). 
Avaliação da diurese: 
1. Sondagem vesical 
2. Fraldas (pesagem da fralda) 
3. Frasco 
*** Evitar sondagem vesical de demora (SVD), pois sonda sempre é uma porta de entrada para microrganismos! 
 
Hidratação venosa no grande queimado (1º dia) 
 
▪ Reposição volêmica: Fórmula de Parkland: 3mL/Kg/SCQ 
▪ Deve-se iniciar no atendimento pré-hospitalar (SAMU), em que o médico faz os cálculos e inicia a hidratação. 
Nunca colocar soro aleatório, pois essa condutapode ser iatrogênica, já que se pode estar dando um soro em 30min, 
o qual se daria em 8h. 
 
 
 
*SCQ: considerar apenas queimaduras de 2º e 3º graus e, no máximo, 50% SCQ. 
**Fórmula de Holliday-Segar: 
- Até 10kg: 100ml/kg; 
- De 10 a 20kg: 50ml/kg acima de 10kg + 1000ml; 
- Acima de 20kg: 20ml/kg acima de 20kg + 1500ml. 
 
▪ 50% volume da fórmula de Parkland + 1/3 da manutenção em 8 horas. 
▪ 50% volume da fórmula de Parkland + 2/3 da manutenção em 16 horas, considerando o que foi administrado em 
atendimento pré-hospitalar. 
▪ Ringer lactato é sempre preferencial ao NaCl 0,9%, mas é mais caro. Os estudos não demonstram tanta diferença 
entre RL e SF. 
▪ NÃO é indicada administração de colóide nas primeiras 24h  máxima permeabilidade capilar. A criança 
queimada perde muito calor e muito liquido para o meio externo, mas ela também perde para o terceiro espaço. A 
liberação de mediadores inflamatórios (cininas, histamina) aumenta muito a permeabilidade capilar, permitindo o 
extravasamento de liquido para o interstício. Ao administrar coloide, ele “puxa” todo esse liquido para o 
compartimento intravascular, resultando em edema. Pode-se fazer coloide após 24, pois o paciente pode evoluir com 
hipoalbuminemia. 
 
3ml/Kg/SCQ* + Soroterapia de manutenção** 
 
 
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS 
 
Hidratação venosa no grande queimado (2º dia) 
 
▪ Reposição volêmica: Fórmula de Parkland: 2mL/Kg/SCQ 
 
 
 
*SCQ: considerar apenas queimaduras de 2º e 3º graus e, no máximo, 50% SCQ. 
**Fórmula de Holliday-Segar: 
- Até 10kg: 100ml/kg; 
- De 10 a 20kg: 50ml/kg acima de 10kg + 1000ml; 
- Acima de 20kg: 20ml/kg acima de 20kg + 1500ml. 
 
▪ Administrar em 24 horas. 
▪ NaCl 0,9% + SGI 5% + KCl 3mEq/100ml de necessidade básica + Gluc Ca 10% 1ml/100ml de necessidade básica. 
▪ Se a criança já estiver em uso de dieta, descontar o volume de manutenção. 
 
Hidratação venosa no grande queimado (3º dia) 
 
▪ Reposição volêmica: Fórmula de Parkland: 1mL/Kg/SCQ 
 
 
 
*SCQ: considerar apenas queimaduras de 2º e 3º graus e, no máximo, 50% SCQ. 
**Fórmula de Holliday-Segar: 
- Até 10kg: 100ml/kg; 
- De 10 a 20kg: 50ml/kg acima de 10kg + 1000ml; 
- Acima de 20kg: 20ml/kg acima de 20kg + 1500ml. 
 
▪ Administrar em 24 horas. 
▪ NaCl 0,9% + SGI 5% + KCl 3mEq/100ml de necessidade básica + Gluc Ca 10% 1ml/100ml de necessidade básica. 
▪ Se a criança já estiver em uso de dieta, descontar o volume de manutenção. 
 
Hidratação venosa no grande queimado – Albumina 
 
- Considerar em pacientes com hipoalbuminemia, em anasarca ou que não respondem à expansão com NaCl 0,9%; 
- 1g/Kg/dia em 4 horas. 
2ml/Kg/SCQ* + Soroterapia de manutenção** em 24h 
 
1ml/Kg/SCQ* + Soroterapia de manutenção** em 24h 
 
 
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS 
Internação hospitalar – Cuidados 
 
▪ Se possível, pesar o paciente antes de iniciar a HV e, após, semanalmente; 
*Se o paciente estiver ganhado peso rapidamente, pode estar recebendo maior volume; se estiver perdendo peso, 
ele necessita de dieta hipercalórica para dar conta da demanda metabólica que o trauma está consumindo. 
▪ Monitorizar: oximetria de pulso e ECG contínuos, principalmente no grande queimado; 
▪ Observar as medidas de isolamento e de lavagem de mãos no contato com cada paciente; 
▪ Determinar diariamente a extensão e a profundidade das lesões e observar sinais de infecção da ferida logo no 
primeiro curativo e todos os dias durante o banho do paciente; 
▪ Atentar aos sinais de instabilidade hemodinâmica (o principal risco é o choque hipovolêmico – ficar atento a PA, 
pulsos, FC, perfusão); 
▪ Verificar a presença, volume e característica de diurese (a hidratação é baseada no debito urinário); 
▪ Verificar a função do trato gastrointestinal e estado nutricional (evacuação, eliminação de flatos, se já está se 
alimentando bem); 
▪ Avaliar o estado mental e emocional do paciente; 
▪ Observar a presença de queimaduras circunferenciais e a profundidade da lesão, reavaliando constantemente a 
necessidade de escarotomia. 
 
▪ Banho e troca de curativos sob anestesia 
- Midazolam 0,1mg/Kg em bolus + cetamina 1,0 mg/Kg, 5 minutos após o midazolam. 
*A dose é titulada de acordo com a tolerância do paciente, podendo ser a mesma repetida durante o procedimento 
até a obtenção de um nível de analgesia confortável. 
*Todos os pacientes devem ser monitorizados (oximetria, FC). 
*O midazolam geralmente leva à dependência quando é administrado em infusão contínua. Por exemplo, se um 
paciente fica sedado 72h a 5 dias, dependendo da concentração, já é necessário fazer desmame gradual. 
Normalmente troca-se Midazolam, EV, por lorazepam, VO; e quando há fentanil associado ele é trocado por 
metadona. O desmame pode durar semanas. Bolus pontuais, geralmente, não causam dependência. 
 
▪ Banho e troca de curativos sob anestesia (Balneoterapia) 
- Limpeza da lesão através da aplicação de água corrente e/ou desbridamento mecânico do tecido desvitalizado, 
com solução de clorexidine a 2%; 
- Curativo oclusivo com sulfadiazina de prata 1% nas áreas não enxertadas, e óleo a base de ácidos graxos 
essenciais (AGE) em áreas pós-enxertos ou já cicatrizadas. 
 
▪ Hemotransfusão 
- 10ml/Kg de concentrado de Hm em casos de preparo para enxertia ou na presença de distúrbios hemodinâmicos. 
Não é realizada de rotina. 
 
▪ Nutrição 
- Dieta iniciada precocemente (2ºdia), via oral ou sonda 
- Necessidades básicas + 1.300cal/m² SCQ; 
- Se SCQ > 20% = SNG em bomba de infusão contínua (BIC). 
 
▪ Polivitamínicos 
- SuFe a partir do 3º dia, dose 3mg/Kg/dia, por 4 meses. 
 
Internação hospitalar – Propedêutica 
 
▪ Propedêutica laboratorial DIÁRIA: 
- Hemograma completo e plaquetas; 
- Coagulograma; 
- Ionograma; 
- Ureia, creatinina; 
- Glicemia; 
 
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS 
- Gasometria arterial e lactato; 
- Proteínas (albumina); 
- CK, em caso de queimadura elétrica (lesão muscular – aumento da CK). 
 
▪ Propedêutica laboratorial: 
- Urina rotina e urocultura nos pacientes em SVD ou se suspeita infecciosa (paciente com febre, foco de infecção 
não determinado, características da lesão estão boas); 
- Gram, cultura e antibiograma de secreção de pele SEMANAL; 
- Hemocultura: Se suspeita de infecção, antes do início do ATB. 
 
▪ Propedêutica: 
- Radiografia de tórax em pacientes sépticos ou na suspeita de comprometimento pulmonar, principalmente em 
pacientes que foram hiperhidratados; 
- Eletrocardiograma em queimaduras elétricas, no paciente idoso e naqueles com história de patologias 
cardiovasculares. 
 
Internação hospitalar – Alterações sistêmicas 
 
▪ Aparelho cardiovascular: extravasamento vascular, hipovolemia e choque hipovolêmico. É o principal aparelho 
responsável pela alta morbimortalidade nos primeiros dias após a queimadura. 
▪ Aparelho respiratório: hiperventilação em grandes queimados, edema de mucosa traqueobrônquica em inalação 
de produtos de combustão irritantes (acometimento de face ou ambientes fechados). 
▪ Aparelho digestivo: úlcera de estresse (de Curling). Geralmente, se faz proteção gástrica. 
▪ Aparelho renal: necrose tubular aguda pós choque hipovolêmico e proteinúria (principalmente se queimadura 
elétrica). 
▪ Alterações hematológicas: hemólise em grandes queimados e hipoproteinemia, com necessidade de reposição de 
coloide. 
 
Internação hospitalar – Prevenção de complicações 
 
▪ TEP e TVP: heparina não fracionada ou de baixo peso molecular em pacientes com mais limitação de movimentos 
e pacientes obesos. 
▪ HDA: grandes queimados e queimaduras elétricas – inibidor de bomba de prótons + dieta oral/enteral precoce 
para evitar que o estômago fique vazio por muito tempo. 
▪ Nefroproteção: sempre fazer nas queimaduras elétricas – hiper-hidratação (manter DU ≥ 2ml/Kg/hora). Em casos 
refratários, realizar a alcalinização urinária. 
▪ Orelhas: curativos com sulfadiazina de prata a 1%, 2-3x/dia, para evitar condrite. A orelha é o único local em que 
se faz mais de 1 curativo por dia. 
▪ Mãose pés: elevação por 24-48h após a queimadura e movimentação precoce. 
▪ Olhos: irrigação vigorosa (SF) e uso de pomada oftálmica antibiótica com vedação ocular. 
 
Internação hospitalar – Uso de antibióticos 
 
▪ Profilaxia para desbridamentos em blocos cirúrgicos: 
- SCQ > 10% e/ou >72h de internação; 
- Iniciar a infusão 1h antes do procedimento; 
- Vancomicina para G+ e Meropenem para G- (Protocolo do João XVIII – pode variar em relação a outros hospitais). 
 
▪ Restrito à suspeita ou presença de infecção, sugerida por: 
- Taquipneia ou PaCO2< 32 na gasometria; 
- Íleo paralítico (estase gástrica, vômitos, distensão abdominal); 
- Hipertermia > 38ºC e hipotermia < 36ºC; o paciente pode fazer uma SIRS, na qual a liberação de uma cascata de 
mediadores inflamatórios pode levar à hipertermia 
- Hipotensão arterial ou taquicardia; 
 
URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS PEDIÁTRICAS 
- Alteração do estado mental; 
- Oligúria (DU < 2ml/Kg/hora nas queimaduras elétricas e DU < 1ml/Kg/hora nas queimaduras térmicas); 
- Desenvolvimento de insuficiência renal sem outra causa provável; 
- Leucopenia (<4.000/mm) ou leucocitose (>12.000/mm) ou mais de 10% de formas imaturas (bastões); 
- Plaquetopenia <100.000; 
- Acidose metabólica ou lactato > 2; 
- Hipoxemia; 
- Hiperglicemia; 
- Alterações sugestivas de consolidação pulmonar à radiografia de tórax; 
- Hemoculturas positivas. 
- Escurecimento da lesão, formação de abscesso, drenagem de secreção purulenta, necrose, petéquias, 
aprofundamento muito brusco do grau da lesão. 
 
▪ ATENÇÃO: os achados sugestivos de infecção são extremamente frequentes na fase aguda da queimadura, como 
parte da SIRS – Síndrome da Resposta Inflamatória Sistêmica. Cuidado para não confundir os achados da SIRS com 
achados de infecção. 
 
▪ Escolha do antimicrobiano: 
- Se internação <72h = cobrir Gram positivos (Vancomicina); 
- Se internação >72h = cobrir Gram negativos (Meropenem); 
- Outros: oxa + amica, cefepime + amica, vanco + mero + amica, ceftazidima + vanco + amica; 
- Considerar antifúngico se longa data (2 – 3 meses) de internação (Anfotericina). 
 
Internação hospitalar – Atenção multidisciplinar 
 
▪ Médicos 
▪ Equipe de enfermagem (muito importantes na balneoterapia, troca de curativos) 
▪ Fisioterapeutas (deambulação precoce) 
▪ Nutricionistas (aumento da demanda metabólica) 
▪ Psicólogos (contexto social ruim) 
▪ Assistentes sociais

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