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Desenho de Observação “A compreensão profunda do básico produz a verdadeira sofisticação.” (Richard Williams) É justamente para explorar novas alternativas criativas que a compreensão do básico se faz necessária. “Não tente desenvolver um estilo, concentre-se no desenho e o estilo vai simplesmente acontecer.” UNIDADE I Nesta unidade, vamos conceituar o desenho e seus princípios. Veremos que desenhar não é um dom, mas sim uma habilidade que deve ser praticada e aperfeiçoada. Vamos investigar o gesto de desenhar e as diferentes formas de pegar em um lápis. Além disso, abordaremos o gesto intuitivo, que nos leva a desenhar algo mais leve e intuitivo, sem pensar muito. Por fim, iremos iniciar o estudo dos principais elementos como a perspectiva e a relação entre figura e fundo. O DESENHO: Desenhos são interpretações de algo que se vê, conhece ou imagina do ponto de vista daquele que desenha. É representar de forma gráfica aquilo que, por vezes de forma realista, aquilo que se vê, sente ou pensa. “Desenho é a interpretação de qualquer realidade, visual, emocional, intelectual etc., através da representação gráfica.” (Philip Hallawell) É comum pensarmos que desenhistas são pessoas agraciadas com um dom, mas não é bem assim. Estudos mostram que desenhar depende muito mais de treino e aprendizagem, mas não ignora o fato de que alguns tenham mais afinidade com isso. O gesto de desenhar, no entanto, demanda conhecimento e treinamento. A pesquisa e o estudo aprimoram a técnica, enquanto a prática e o exercício diligente do desenho desenvolvem a habilidade. A criatividade também é um ingrediente que completa a receita para um bom desenhista. “Tão importante quanto a técnica e a habilidade, é a capacidade de criar imagens fundamentadas em um pensamento criativo sólido, com soluções visuais construídas a partir de ideias coerentes.” (Zeegen) Zeegen se refere a ilustrações. Mas e quanto ao Desenho de Observação? Deve-se seguir uma regra copiando a realidade sem espaço para a criação? Hallawell diz que não, explicando que o apego às regras inibe a criatividade. Uma das formas de intervenção criativa ao desenho realista é através da distorção. Uma distorção pode ser usada para realçar certos aspectos da cena retratada ou conduzir a alguma interpretação subjetiva. Um exemplo muito direto disso são as caricaturas. Além disso, desenho não é simplesmente pegar papel, lápis/ grafite e desenhar, o desenho é mais que isso. O desenho é formado por 80% de observação e 20% de desenho em si. Vale enfatizar que observar é diferente de ver. Observar é ver um objeto e analisar suas formas, suas texturas, a perspectiva, suas sombras e luzes, é ver como ele é formado. Exercício 1: Observe um objeto por 20 min, dê uma volta nele, olhe de diferentes ângulos e desenhe-o… depois retire o objeto e tente fazer um novo desenho sem olhar para ele. TIPOS DE DESENHOS: O desenho pode ser técnico ou artístico. O desenho técnico emprega instrumentos de precisão, como réguas, esquadros e compassos. Já o desenho artístico, é aquele feito à mão livre. Esse, por sua vez, pode ser dividido em: ●Desenho de observação: este é o objeto do nosso estudo, é a representação gráfica daquilo que observamos; ●Desenho de memória: quando se desenha algo que não está diante de nossos olhos, mas que temos em nossa memória; ●Desenho criativo: aquele em que o desenhista retrata algo que está em sua imaginação; GESTO DE DESENHAR: Como vimos, a habilidade para o desenho pode e deve ser treinada para ser aprimorada. O gestual para se desenhar envolve o domínio de alguns fatores, como a melhor forma de segurar um lápis e o controle dos traços, podendo esses serem leves ou pesados, soltos ou precisos. Outro fator são os braços e os pulsos, não é certo ou errado desenhar com um ou com outro, mas é bom um treinamento para com os braços. Além dessas técnicas manuais, o desenhista precisa também treinar o olhar. Observar o objeto de forma analítica, focar nos contornos, formatos, contrastes e detalhes, é fundamental para o sucesso da sua representação gráfica. Outros elementos que devem ser compreendidos para o desenvolvimento de um bom desenho são a composição, o enquadramento, a proporção, a perspectiva e a textura. GESTO INTUITIVO: As pessoas veem o mundo de formas diferentes, e é isso que faz com que os desenhos sejam diferentes. O Gesto Intuitivo propõe um desenho solto, imaginativo e expressivo. O foco está no processo de desenhar de forma livre, intuitivo e não no resultado gráfico. No gesto intuitivo, o lápis é usado de forma leve, dessa forma, o desenhista conduz seu próprio processo de percepção de formas, proporções, texturas e movimentos. Esses movimentos iniciais devem ser espontâneos e não lineares. O gesto intuitivo será comprometido se o desenhista pensar muito no que vê e no que quer expressar. O traço deve correr com liberdade sobre o papel, isso faz com que aumente a sensibilidade e as percepções de forma geral. “Quando você racionaliza suas percepções com base em ideias preconcebidas, o que você pensa torna-se mais importante do que aquilo que vê, e a clareza de suas percepções visuais diretas é seriamente comprometida.” (Curtis). Dessa forma, o gesto intuitivo busca bloquear momentaneamente o pensamento racional, para permitir que a consciência intuitiva perceba a informação visual e a processe livremente. PERSPECTIVA: Perspectiva é a técnica que permite ao desenhista criar uma ilusão de profundidade em um desenho plano. A gente tem a ideia de que desenhos em perspectiva são complexos com as regras de linha do horizonte e pontos de fuga, mas não é bem assim. Se você consegue ter a noção básica deles observar o ambiente que você está, você consegue entender como a perspectiva funciona. Na observação, a linha do horizonte nada mais é do que a linha do seu olhar. Tendo isso em mente você consegue ver a perspectiva ao seu redor, fazendo somente com a observação o que arquitetos e engenheiros fazem no papel utilizando réguas e esquadros. A perspectiva utiliza linhas, chamadas de raios projetantes, que definem a forma como um objeto é projetado no plano de desenho ou plano de projeção. De acordo com a direção em que essas linhas se projetam, a perspectiva se classifica em: ●Perspectiva cilíndrica/ paralela: os raios projetantes são paralelos entre si e se subdividem. Como os raios projetantes são paralelos, a distância do observador até o plano de projeção é infinita. Ela é mais usada no desenho técnico e é estudada no campo da geometria descritiva, não sendo objeto do nosso estudo; ●Perspectiva cônica: é aquela em que os raios projetantes convergem para um ponto fixo, chamado ponto de fuga. Dessa forma temos que a distância do observador ao plano de projeção é finita. A ilusão de profundidade é dada pelos seguintes elementos: ○ Raios projetantes - linhas que correspondem à continuação das arestas do objeto representado até o ponto de fuga; ○ Linha do horizonte - linha horizontal situada na altura dos olhos do observador; ○ Linha de visão - linha imaginária percorrida pelo olhar do observador até a linha do horizonte; ○ Ponto de visão - para onde se dirige o olhar do observador; ○ Ponto de fuga - para onde convergem os raios projetantes; ●A perspectiva cônica ainda pode ter algumas variações dependendo do ponto de vista do observador: ○ Um P.F. - é também chamada de perspectiva paralela, já que, neste caso, todas as arestas da face frontal do objeto desenhado são paralelas à linha do horizonte e à linha de visão; ○ Dois P.F. - é também chamada de perspectiva oblíqua, este tipo de perspectiva ocorre quando as linhas de fuga convergem para direções distintas e opostas, determinando dois pontos de fuga. A perspectiva com 2 pontos de fuga ocorre quando o objeto representado é observado não por uma de suas faces, mas por uma de suas arestas. Os pontos de fuga ficam sobre a linha do horizonte, um à direita e outro à esquerda do ponto de fixação;○ Três P.F. - é também conhecida como perspectiva aérea e ocorre quando a visão do observador parte de um plano diferente daquele em que o sólido está assentado. Dessa forma, o sólido é visto por um de seus ângulos. Nenhuma das arestas do objeto retangular são paralelas entre si, todas são convergentes e convergem para um dos três pontos de fuga. Nessa perspectiva, dois dos pontos estão localizados na linha do horizonte e o terceiro fica em uma linha perpendicular à linha do horizonte que o intercepta em um ponto médio entre os dois primeiros; Além das formas de perspectiva descritas até aqui, Hallawell descreve ainda a utilização de sombras e hachuras para conseguir o mesmo efeito. O autor refere-se a este recurso como perspectiva tonal. Nessa perspectiva, o desenhista distingue os planos mais próximos dos mais distantes criando diferentes tratamentos de textura, contraste e tonalidades. Outro recurso usado para representar a profundidade, é a utilização de traços detalhados nos primeiros planos em relação aos planos distantes. Para acentuar a ilusão de profundidade, a perspectiva tonal pode ser adicionada à perspectiva linear, aquela obtida através dos raios projetantes. FUNDO E FIGURA: “Ver significa classificar os padrões, com o objetivo de compreendê-los ou reconhecê-los. A ambiguidade é seu inimigo natural e deve ser evitada para que o processo da visão funcione adequadamente.” (Dondis) Sem dúvida, a percepção de uma figura é mais fácil quando existe um fundo contrastante, que nos permita delimitar os contornos da imagem com maior clareza. Curtis define figura como um “formato identificável” e define fundo como o seu entorno, ou seja, o que está à volta da figura. Via de regra, existe uma hierarquia na qual a figura tem mais peso e importância. O fundo é menos importante, servindo apenas como suporte para a figura. Mas há situações especiais em que figura e fundo se confundem, se entrelaçam e, por vezes, ganham nova significação. Algumas dessas situações ocorrem em imagens relacionadas ao Gestaltismo ou Psicologia da Forma. O Gestaltismo é uma doutrina que estuda os aspectos psicológicos da percepção das formas pelo homem. Em outras palavras, estuda como a psicologia humana influencia na forma como reconhecemos as figuras. Segundo o Gestaltismo, o homem, ao perceber uma forma, considera o seu todo, sem atentar-se para cada um de seus componentes. Este princípio explica porque vemos um urso panda na logo da ONG WWF, mesmo que nem todos os seus elementos estejam representados no desenho. Outra imagem que nos permite intercalar nossa percepção, ora privilegiando a figura, ora privilegiando o fundo é o famoso desenho "Vaso de Rubin". Se fixamos o olhar no branco como figura, vemos nitidamente um vaso ao centro. Porém, se focarmos na porção em preto como figura, vemos duas faces de perfil. UNIDADE II Nesta unidade apresentaremos conceitos de proporção e composição que são primordiais para que você possa desenvolver seus futuros trabalhos/projetos. De forma bem sucinta, podemos dizer que a proporção está relacionada ao tamanho do desenho em relação ao tamanho da folha, já a composição tem relação com os aspectos que compõem o desenho. Trabalharemos também os conceitos de Sequência Fibonacci ou sucessão de Fibonacci. Trata-se de uma sequência iniciada sempre por 0,1 e que os próximos números que darão sequência corresponderão à soma dos dois últimos números. Por fim, apresentaremos a proporção áurea, número áureo, secção áurea, proporção de ouro que é chamada por muitos como o número de ouro na matemática. Considerada como número perfeito pelo fato de que a escala, por menor que seja o desenho, sempre será a mesma independentemente do tamanho da folha. PROPORÇÃO: Para manter as corretas proporções dos objetos retratados em um desenho, fazemos comparações entre suas medidas. Dessa forma, proporção é um exercício de comparação. "Proporção é a relação comparativa entre duas coisas no que se refere ao ta manho, à quantidade ou ao peso." (Curtis) No desenho comparamos as partes de um objeto, entre as partes e o todo, e entre diferentes objetos. Podemos comparar também as distâncias entre objetos, e assim teremos a proporção correta aplicada no desenho como um todo. Vale enfatizar que, como se trata de uma comparação, a proporção define o tamanho relativo e não o tamanho físico. Ou seja, define o tamanho de um objeto, ou de parte dele, em relação a outro objeto, ou parte, e não o seu tamanho real. Com um olhar bastante treinado, podemos analisar as proporções dos objetos a olho nu, mas mesmo desenhistas experientes podem se valer de alguns instrumentos. Uma técnica bastante conhecida é usar o lápis para estabelecer relações entre as medidas de um objeto. Nesta técnica, o desenhista segura o lápis pela ponta do grafite e, com o braço esticado, posiciona o lápis na posição horizontal ou na vertical, diante do objeto que quer medir. Com um olho fechado, ele faz relações entre as medidas do lápis e do objeto. Assim como vimos no estudo do gesto intuitivo, Curtis alerta para a influência negativa do pensamento racional também na análise das proporções. "Para evitar que seus conceitos distorçam suas percepções, você deve registrar a proporção que vê, não a que sabe." (Curtis) Além de servir para comparação, a proporção também pode ter a relação de perspectiva , de campo de profundidade e diferença de planos em relação à proporção dos objetos. Um exemplo clássico é que nos cinemas antigos, para simbolizar pessoas pequenas (como fadas e duendes), as pessoas ficavam a uma distância maior para parecerem menores. Assim, a proporção também pode ser entendida como distorção da realidade, ilusão da realidade. Vale lembrar que, nesse exemplo, as pessoas parecem menores, mas sua proporção, anatomicamente falando, continua a mesma. PROPORÇÃO ÁUREA: A proporção áurea é um conceito matemático encontrado na natureza cujo estudo teve início na Grécia antiga. Hallawell explica que a proporção áurea é obtida quando uma linha é segmentada de tal forma que a proporção entre o segmento menor e o segmento maior é igual à proporção entre o segmento maior e a linha inteira: AB para BC = BC para AC (x:y = y:z). O valor matemático dessa proporção equivale a aproximadamente 1,6180. Esse é o número áureo. Para a construção do retângulo áureo, Hallawell indica os seguintes passos: Desenhe o retângulo ABCD com um quadrado com o tamanho de AD, obtendo um quadrado AEFD, depois corte a base desse quadrado no meio obtendo o ponto Z; usando a linha ZE como raio para desenhar um arco que intercepte até o vértice C. Dessa forma, teremos dois retângulos proporcionais, sendo EBCF proporcional a ABCD. SEQUÊNCIA DE FIBONACCI: No início do século XIII, Fibonacci aprofundou os estudos sobre a proporção áurea e identificou uma sequência de números com características muito próprias: a divisão de qualquer número da sequência pelo número anterior, resulta em um número muito próximo do número áureo. Essa sequência infinita de números (1, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144, 233, 377, 610, 987, 1597, 2584, ...), ficou conhecida como a sequência de Fibonacci. Visualmente, se aplicarmos os números da sequência de Fibonacci aos quadrados contidos no retângulo áureo teremos a chamada Espiral de Ouro. Essa espiral está presente em várias coisas na natureza, como veremos no próximo tópico. PROPORÇÃO ÁUREA NA NATUREZA: Apesar de ser um conceito matemático, a proporção áurea é aplicada em vários outros campos. Para a estética, é considerada uma proporção perfeita. Na arquitetura, é relacionada ao equilíbrio e à beleza. Mas o mais incrível é observarmos a presença da proporção áurea na natureza, pois está presente nas pétalas das flores, nas conchas que encontramos no mar, até mesmo no corpo humano. O modelo do homem vitruviano, de Leonardo da Vinci, demonstra as proporções exatas do corpo humano. O desenho de Da Vinci é uma representaçãovisual dos estudos do arquiteto romano Marco Vitrúvio, que viveu no século I A.C. Vitrúvio defendeu, com base em estudos matemáticos e na proporção áurea, que as proporções humanas são perfeitas e que devem servir de referência para as artes, e especificamente para o seu campo de atuação - a arquitetura. Charles Bonnet, biólogo e filósofo suíço, apontou a presença da sequência de Fibonacci nas espirais presentes nas plantas, tanto no sentido horário, como no anti-horário. Um exemplo apontado por Bonnet são os girassóis. As sementes que preenchem o centro dessa flor são dispostas em dois conjuntos de espirais que partem do centro, uma no sentido horário e outra no anti-horário. Normalmente são 34 espirais no sentido horário e 55 no sentido anti-horário. Números da sequência de Fibonacci. As conchas também crescem de acordo com a proporção áurea e a cada novo fragmento acrescenta um número da sequência de Fibonacci. APLICAÇÕES DA PROPORÇÃO ÁUREA: Como vimos no início do tópico anterior, a proporção áurea é aplicada em diversas áreas da atuação humana. Na arquitetura teve como precursor Vitrúvio. Nos projetos arquitetônicos, além do fator estético, a proporção áurea é tida como uma forma de equilibrar as estruturas e proporcionar solidez. Um famoso exemplo da sua aplicação em obras arquitetônicas é a Catedral de Notre-Dame, de Paris. O edifício é uma das mais antigas catedrais francesas em estilo gótico e se utilizou do conceito de proporção áurea para sua construção. No design de objetos, um exemplo da aplicação da proporção áurea é a poltrona Barcelona. A poltrona foi criada por Mies van der Rohe, arquiteto alemão naturalizado norte-americano. Por todos os ângulos, a poltrona Barcelona possui dimensões idênticas, que se encaixam perfeitamente em um cubo. A aplicação da proporção áurea também se popularizou no design gráfico. Grandes marcas aplicam o conceito em suas identidades visuais. Exemplos disso estão nas linhas da famosa maçã da Apple, que são delimitadas por círculos que se encaixam perfeitamente no retângulo áureo. A logomarca da Pepsi é construída sobre as linhas de dois círculos que seguem, em suas medidas, a proporção áurea. Nas artes a proporção áurea foi utilizada por grandes mestres como Botticelli, Salvador Dalí e Leonardo da Vinci. Os artistas empregavam o conceito para alcançar beleza e harmonia em suas pinturas. Um bom exemplo do uso da proporção áurea nas artes é o quadro “O nascimento de Vênus”, do pintor renascentista italiano, Sandro Botticelli. UNIDADE III Vamos seguir com nossos estudos do desenho de observação. Falaremos sobre a modelagem de figuras tridimensionais, partindo das formas biomórficas, vendo o passo a passo dos projetos de computação gráfica e em dimensões. Na sequência, abordaremos as técnicas de luz e sombra e sua capacidade de conferir volume e profundidade aos desenhos. Veremos os diferentes tipos de luz e de sombra, e como eles são representados no desenho de volume. A composição será o tema seguinte. Vamos definir composição e estudar os diferentes conceitos que influenciam na construção de uma composição harmônica e atraente. Por fim, iremos analisar obras de arte, identificando nelas os conceitos de composição estudados. FIGURAS TRIDIMENSIONAIS: Formas tridimensionais são aquelas que podemos observar em três dimensões: largura, altura e comprimento. Exemplos de formas tridimensionais básicas são cubos, esferas, pirâmides, cones e cilindros. Esses são os chamados sólidos geométricos. Uma forma de compreender, representar e modelar fisicamente esses sólidos é a planificação. Planificar um sólido geométrico é representar de forma bidimensional, ou seja, de forma plana, todas as suas faces. FORMAS BIOMÓRFICAS: Formas biomórficas são aquelas que remetem à anatomia dos seres vivos. Nas artes, na arquitetura e no design, o biformíssimo é um estilo que se baseia nas linhas orgânicas e curvas que evocam as formas dos organismos vivos. Na modelagem virtual de objetos tridimensionais, as formas biomórficas são o ponto de partida. Se para construirmos fisicamente um sólido geométrico partimos de sua planificação, na computação gráfica partimos de linhas e formas biomórficas. Os programas de computação gráfica estão cada vez mais avançados e possibilitam a criação e a animação de objetos em três dimensões extremamente complexas e realistas. Contudo, por mais complexos que sejam os objetos 3D a serem modelados, eles começam com o desenho simples de uma linha de contorno e de formas básicas. As linhas e formas básicas podem ser geradas em programas 2D e exportadas para os programas tridimensionais. Definida a forma inicial, o desenhista deve informar ao software os parâmetros necessários para a modelagem tridimensional. A partir da imagem básica contendo o perfil do objeto, o programa modela sua forma tridimensional, com base nos parâmetros fornecidos. LUZ E SOMBRA: Quando abordamos a perspectiva tonal, falamos sobre o uso da luz e da sombra para dar profundidade ao desenho. Hallawell chama de desenho de volume a técnica de usar diferentes tons para delimitar áreas claras e escuras e separar os planos do desenho. Já Curtis utiliza o termo “desenho de tons contínuos”. Em contraste com o desenho de volume, temos o desenho linear, que usa apenas linhas para delimitar os objetos e distinguir os diferentes planos. “O contraste entre claro e escuro é uma técnica de desenho na qual tons de cinza sutilmente mesclados são aplicados para imitar as diferentes intensidades de luz e sombra que ocorrem quando a luz ilumina e é refletida nas formas tridimensionais.” (Curtis). ●Tipos de Luz: ao afirmar que a luz ilumina e reflete, Curtis está se referindo aos dois tipos de iluminação empregados no desenho: a luz direta e a luz refletida. ○ A luz direta é aquela que incide diretamente sobre o objeto; é a área que se representa em tons mais claros, beirando o branco. ○ A luz refletida é aquela que atinge indiretamente o objeto, ela rebate em um plano de fundo e ilumina, parcialmente, o lado em sombra do objeto. Ela é menos intensa e só é percebida por uma leve variação na área de sombra. ●Tipos de Sombra: as áreas de sombra a se representar em um desenho são de dois tipos: sombra própria e sombra projetada. ○ A sombra própria representa a região sombreada do próprio objeto, que fica do lado oposto à região iluminada. É representada pelo cinza escuro. ○ A sombra projetada demarca a projeção do objeto no plano de fundo e caracteriza a região do fundo em que o objeto impediu a passagem de luz. É representada por um cinza mais escuro, quase preto. Entre as áreas iluminadas e sombreadas do objeto, existe uma faixa de transição, chamada de meio-tom. “O claro-escuro é uma ferramenta poderosa para definir a massa e o volume de formas individuais, representar texturas superficiais, dar variação e estabelecer e realçar o espaço entre os objetos.” (Curtis) COMPOSIÇÃO: Quando se fala em desenho, precisamos, primeiramente, pensar em sua composição. Antes de termos em mente o tamanho do desenho, bem como os objetos que serão colocados no papel, é fundamental que saibamos conhecer as propriedades do espaço a ser desenhado, bem como a forma como o olhar de quem vê irá reagir. Assim, por composição, podemos defini-la como a organização de todos os elementos que constituem o desenho em perfeita harmonia com o espaço livre. “Compor é o primeiro passo a ser dado em qualquer trabalho visual.” (Hallawell) Dondis trata da importância da composição no resultado final de uma obra, seja de desenho, seja de pintura: “Os resultados das decisões compositivas determinam o objetivo e o significado da manifestação visual, e têm fortes implicações com relação ao que é recebido pelo espectador.” Para que ocorra uma composição adequada, é preciso que se tenha uma noção nítida dos limites impostos pelo papel que será pintado, sendo que tal limite é imposto pelas margens. De forma geral, o desenho precisater o tamanho necessário para ocupar os espaços em branco da folha, todavia não deverá ser grande a ponto de ultrapassar as margens. Além do correto posicionamento dos elementos do desenho na folha e sua proporção adequada em relação ao tamanho do papel, existem alguns princípios de composição que devem ser aplicados para que o desenho seja atraente e estéticamente agradável. Segundo Curtis, a composição harmônica e atraente não é apenas uma questão de aplicar regras, mas envolve a intuição e o olhar do desenhista: “Para compor uma imagem, você deve se basear em sua resposta emocional e experiência visual direta.” Esse fator intuitivo do desenhista, porém, não afasta a necessidade de conhecer e aplicar os princípios mais importantes da composição. Entre eles, podemos citar: ●Unidade: é o princípio da composição em que os elementos, embora distintos, complementam-se e se combinam de tal forma que componham um conjunto harmonioso. Os elementos visuais que não tenham afinidade com o todo devem ser retirados ou modificados para proporcionar unidade. ●Equilíbrio: é atingido quando o valor (peso ou dimensão), atribuído a um elemento visual ou conjunto de elementos, corresponde, ou equivale ao valor atribuído aos demais elementos, ou ao todo da composição, podendo ser simétrico ou assimétrico. ○ No equilíbrio simétrico, os elementos visuais são distribuídos de forma homogênea. Se traçarmos linhas imaginárias dividindo a composição em duas partes iguais, cada uma das partes vai conter o mesmo peso visual. Embora seja atraente, a simetria pode tornar a composição previsível e menos impactante. ○ Já no equilíbrio assimétrico, não existe uma linha imaginária que divide dois lados iguais. A distribuição dos elementos é desigual, mas o equilíbrio é conseguido por meio de compensações. ●Dinâmica ou Movimento: ainda que o desenho represente uma cena estática, alguns elementos visuais podem ser usados de forma a conduzir o olhar do observador pela composição, gerando a sensação de movimento. Alguns desses elementos visuais citados por Curtis são: a proximidade, a tangência, a continuação e a profundidade. Elementos que, pela proximidade, ou até mesmo por serem tangentes, conduzem o olhar, assim como elementos que parecem dar continuidade a outros, ou que criam a sensação de profundidade também são capazes de direcionar o olhar, dando dinamismo e movimento à composição. ●Repetição ou Ritmo: a repetição de elementos visuais com partes semelhantes, ou que permitam fazer identificações ou conexões, promove gostos estéticos, pela sensação de organização que transmitem. ●Regra dos terços: o campo visual é divido em três, tanto no sentido horizontal quanto no sentido vertical, formando quatro pontos de interseção. De acordo com a regra dos terços, a força visual de elementos posicionados sobre um desses quatro pontos é potencializada. ●Estrutura fundamental: refere-se ao emprego de formas geométricas como base para a organização dos elementos visuais. COMPOSIÇÃO NAS ARTES: Agora que conhecemos os principais conceitos relacionados à composição, vamos analisar algumas obras de arte que exemplificam seu uso. Na obra “A vinha encarnada”, de Van Gogh, a sensação de movimento se faz pela repetição de elementos (trabalhadores da vinha) e pelas linhas da margem do riacho e na base dos arvoredos à esquerda, que se encontram na linha do horizonte, conduzindo o olhar do observador. Na obra “O Cardeal cinza”, podemos ver um exemplo do uso das formas geométricas na composição, recurso chamado de estrutura fundamental. A forma triangular que abriga as pessoas à esquerda é reforçada pela linha da escadaria e conduz o olhar para a figura do cardeal, à direita. UNIDADE IV Nesta unidade, iremos destacar o emprego e a representação gráfica das texturas e para garantir realismo ao desenho. Em seguida, estudaremos mais especificamente o desenho da textura de tecidos e as suas peculiaridades. Trataremos, ainda, do desenho de observação da figura humana, primeiramente, focando o rosto e, em seguida, o corpo humano. Por fim, iremos mostrar a importância e dicas para a elaboração de um bom portfólio. TEXTURA: A representação de texturas no desenho de observação é uma maneira de transmitir realismo. Linearmente, um objeto que é representado com perfeição, mas que falha ao retratar sua textura, pode dar a impressão de dureza a um objeto macio, por exemplo, comprometendo a qualidade do desenho. É possível fornecer textura a um desenho por meio de pequenos traços repetidos, de formas variadas, ou hachuras e sombreados. Cada tipo de superfície reage à incidência da luz de uma forma diferente que influencia na representação de sua textura. ●Materiais duros e lisos: São muito reflexivos, por isso, sua textura deve ser bastante contrastada nos tons claros e escuros. Exemplos desse tipo de superfície são o vidro e os metais; ●Materiais macios: Não são reflexivos e absorvem a luz, e, por isso, exibem menos contraste entre claro e escuro, e as transições entre regiões claras e escuras são suaves. Exemplos são os tecidos e os estofados; ●Materiais ásperos: São pouco reflexivos, desse modo, o contraste entre claro e escuro é pequeno. Nos materiais ásperos, pode existir uma grande variação, conforme a profundidade de seus sulcos. Cascas de árvore, por exemplo, podem ter sulcos bem profundos, e essa profundidade deve ser representada com bastante contraste nos tons claros e escuros; TEXTURA TÊXTIL: As peculiaridades dos diferentes tipos de tecidos tornam bastante complexa a tarefa de representar visualmente as texturas. Alguns tecidos são brilhosos e muito maleáveis; outros, opacos e mais firmes. Essas características devem ser consideradas ao fazer um desenho de observação de tecidos. Em um desenho linear alguns traços soltos são suficientes para indicar que se trata de um tecido. Mas quando o que se pretende é fazer um desenho realista de tecidos, duas características principais devem ser observadas: a brilhosidade e a maleabilidade. ●Brilhosidade: Os tecidos mais brilhosos, como a seda, refletem mais a luz. Com isso, o desenho da textura deve ter mais contraste entre claro e escuro. Tecidos mais opacos, como o algodão, apresentam uma textura menos contrastada. ●Maleabilidade: Quanto à maleabilidade, a representação da textura é influenciada pela quantidade e pelos ângulos das dobras e curvas. Tecidos mais leves e maleáveis têm mais curvas em ângulos mais fechados. Por outro lado, tecidos mais pesados e com menos caimento têm menos dobras e se curvam em ângulos mais abertos. “Para que a textura do tecido seja representada corretamente, de forma a demonstrar sua fluidez, em contraste com a dureza de materiais sólidos, é preciso deixar de lado a representação literal dos objetos e usar técnicas como a aproximação e o exagero. Assim, contrastes e linhas de volume podem ser amenizados ou exagerados, de maneira a conferir mais realismo.” (Curtis) FIGURA HUMANA: “O desenho da figura humana envolve o mesmo processo de observação aplicado a outros objetos: a comparação de tamanhos, pontos e espaços.” (Hallawell) Hallawell alerta para a necessidade de desenharmos de forma concreta e não simbólica. Ou seja, desenhar o que observamos, e não o conceito que temos de figura humana. ●Desenho do Rosto: Para o desenho do rosto, devem ser usadas linhas leves, de forma a não carregar demais os traços. Segundo Hallawell, é preciso conhecer algumas proporções do rosto humano para facilitar o desenho. Destacam-se os seguintes aspectos: 1. A distância entre o topo da sobrancelha e a base do nariz é igual à distância entre a base do nariz e a ponta do queixo; 2. Essa distância é também entre a parte superior da sobrancelha e a linha da testa (base dos cabelos); 3. A altura da boca fica a dois terços da distância entre o queixo e o nariz, para os homens, e um pouco acima da metade dessa distância, para as mulheres; 4. a largura a boca é definida porum eixo vertical a partir da íris; 5. os olhos ficam no meio da cabeça (verticalmente); ● Estrutura Corporal: A gente tem a ideia de que o corpo humano é dividido em 8/ 9 cabeças, mas essas medidas são calculadas matematicamente pelos gregos para que pudéssemos ter uma ideia de um ser humano perfeito. Elas foram criadas para representar os deuses gregos para poder amedrontar a sociedade grega. Os quadrinhos americanos se apropriaram dessa proporção de 8/9 cabeças justamente pra mostrar que os super-heróis tem uma estrutura mais forte, mais poderosa, em relação aos seus vilões. Mas nós, as pessoas "reais", em sua maioria tem 7 cabeças e meia para nove, claro que isso sempre vai ter uma variação, tanto de pessoa pra pessoa como também na nacionalidade. ●Desenho do Corpo: Assim, como no desenho do rosto, Hallawell destaca a importância de saber as proporções da nossa anatomia para desenhar, com correção, o corpo humano. Hallawell faz alguns apontamentos sobre as proporções humanas, especialmente em comparação com o tamanho do rosto e com o tamanho da cabeça: 1. o tamanho do rosto é igual à distância entre o meio do pescoço e o ombro; 2. o tamanho do rosto é igual ao tamanho do braço interno e do antebraço; 3. o tamanho da mão é um pouco menor do que o rosto; 4. o tamanho do pé é um pouco maior do que a cabeça; 5. o púbis fica no meio do corpo, logo, as pernas têm o mesmo tamanho da parte superior do corpo; 6. a parte abaixo do joelho e praticamente igual à parte acima do joelho; 7. os mamilos estão na altura da metade do braço (a parte superior); Além das proporções apresentadas, Hallawell defende o uso de eixos horizontais e verticais, e da observação dos espaços negativos. O uso dos eixos, segundo o autor, permite perceber o alinhamento entre determinadas partes do corpo e manter a correção desses alinhamentos nos desenhos. Os espaços negativos servem de comparação para definir o desenho de partes positivas. PORTFÓLIO: O portfólio tem como objetivo reunir os principais trabalhos produzidos por um profissional. É uma maneira de apresentar competências e aptidões. O portfólio deve destacar os pontos fortes do profissional, ou seja, aquilo que faz de melhor. Por meio dos trabalhos já realizados, o desenhista mostra seu estilo, as características do seu traço, além da sua experiência profissional. Para um desenhista formar um bom portfólio, reunir seus melhores desenhos e apresentá-los aleatoriamente não é o suficiente. Existem alguns cuidados que devem ser tomados para que o portfólio seja uma ferramenta eficiente de “venda” do profissional e de seu trabalho. O primeiro passo na confecção de um portfólio é ter em mente o seu objetivo. Por exemplo, o propósito é conseguir um emprego ou apenas organizar o trabalho? Essa definição determina a forma de seleção de trabalho e a apresentação do portfólio. O desenhista pode escolher entre dedicar-se a uma técnica ou a um assunto, como paisagens, esportes, mangá etc., criando, desse modo, um portfólio mais especializado, ou ampliar o leque e desenvolvê-lo de forma mais abrangente e diversificada. Para criar um portfólio diversificado, basta escolher artigos ou matérias de revistas e ilustrá-las. É interessante escolher áreas bem distintas para mostrar versatilidade. Por exemplo, uma matéria sobre artes e cultura, e fazer um desenho conceitual. Ainda, um artigo de medicina e ilustrar, com um desenho mais técnico, os órgãos humanos citados no texto. Outra ideia interessante é criar capas para livros ou para discos. O portfólio pode ser físico ou digital. No campo do desenho, um portfólio em papel demonstra com mais propriedade os traços e a técnica do desenhista, e é bom tê-lo em mãos. Entretanto, no campo digital o portfólio alcança maior número de pessoas, pode ser diagramado em forma de e-book, enviado por e-mail, ou disponibilizado em um blog ou em um site. TÉCNICAS VARIADAS: É importante, também, incluir no portfólio desenhos criados com técnicas variadas, feitos com lápis preto, lápis de cor, nanquim, guache e etc. É uma forma de demonstrar versatilidade e domínio de diferentes técnicas. É possível eleger uma técnica na qual se tenha mais domínio e dar-lhe ênfase, mas é importante demonstrar capacidade de trabalhar também com outras técnicas. Especialização em uma única técnica pode ser considerada uma limitação.
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