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A responsabilidade por acidente de consumo nas relações virtuais

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A RESPONSABILIDADE POR ACIDENTE DE CONSUMO NAS RELAÇÕES VIRTUAIS
1. INTRODUÇÃO
2. RELAÇÃO JURIDICA DE CONSUMO NOS AMBIENTES VIRTUAIS (Evolução e aspectos gerais)
2.1. DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR NAS COMPRAS PELA INTERNET
2.2 A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO ELETRÔNICO 
3. ACIDENTE DE CONSUMO E A RESPONSABILIDADE CIVIL PREVISTA NO CDC 
4. CONCLUSÃO
INTRODUÇÃO
1 ACIDENTE DE CONSUMO E A RESPONSABILIDADE CIVIL PREVISTA NO CDC 
2 RELAÇÃO JURIDICA DE CONSUMO NOS AMBIENTES VIRTUAIS (Evolução e aspectos gerais)
2.1 VULNERABILIDADE GERAL
2.2 DA VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR NA INTERNET
3 A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO ELETRÔNICO 
3.1 DA (IN)SUFICIÊNCIA DAS PREVISÕES CONSUMERISTAS
CONCLUSÃO
INTRODUÇÃO
A sociedade está em constantes modificações, se encontrando em um acelerado processo de desenvolvimento tecnológico, decorrente do processo de globalização, de modo que, neste contexto, as práticas comerciais ganham uma nova tendência.
Por meio da internet viabilizou-se a oferta e contratação variada de consumo, menos burocrática e mais acessível, de modo que o consumidor pode ter acesso a produtos e/ou serviços em qualquer ambiente sem haver a necessidade de ir a uma loja física.
Inconteste que o comércio eletrônico configura uma relação de consumo, mesmo tendo características próprias. Assim, nas situações em que a compra e venda virtual resulta em danos ao consumidor, surge possibilidade de responsabilização civil do fornecedor.
O consumidor que utiliza uma loja virtual para realizar suas compras tem mais conforto, não precisa sair de casa, pode encontrar produtos ou serviços com preços mais acessíveis e variados, podendo acessar a rede a qualquer hora que desejar. Entretanto, aliada às inúmeras vantagens trazidas pelo comércio eletrônico, há também desvantagens, como a maior vulnerabilidade do consumidor em um ambiente propício a fraudes, em que inexiste o contato físico entre consumidor e fornecedor e, portanto, não tendo como se verificar a veracidade do produto ou serviço.
Os direitos básicos do consumidor estão estabelecidos no artigo 6º do Código de Defesa do Consumidor, garantindo a proteção à vida, saúde e segurança contra os riscos provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços, considerados perigosos ou nocivos. 
Assim, diante o novo formato e ambiente que é frequentemente utilizado para as relações de consumo, mister se averiguar também a responsabilização do fornecedor por acidente de consumo nessas relações virtuais. 
Como metodologia, adotar-se-á o dedutivo, explicitando em um primeiro momento sobre o acidente de consumo e a previsão do Código de Defesa do Consumidor (CDC), para posteriormente expor as relações de consumo no mundo virtual e, por fim, fazer a análise das previsões consumeristas existentes e sua suficiência, ou não, na aplicação destas novas relações instaladas no meio eletrônico.
2 ACIDENTE DE CONSUMO E A RESPONSABILIDADE CIVIL PREVISTA NO CDC 
Importante colacionar, primeiramente, o entendimento sobre responsabilidade trazido por Gagliano e Pamplona Filho:
A noção jurídica de responsabilidade pressupõe a atividade danosa de alguém que, atuando a priori ilicitamente, viola a norma jurídica preexistente (legal ou contratual), subordinando-se, dessa forma, às consequências do seu ato (obrigação de reparar) (...) A responsabilidade civil deriva da agressão a um interesse eminentemente particular, sujeitando-se, assim, o infrator, ao pagamento de uma compensação pecuniária a vítima, caso não possa repor in natura o estado anterior de coisas.[footnoteRef:1] [1: GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil: responsabilidade civil. São Paulo: Saraiva, 2012. P. 54.] 
O Código Civil disciplina a responsabilidade civil em seus artigos 927 e seguintes, sendo definido que a responsabilidade civil será apurada mediante a comprovação de culpa do autor do dano (responsabilidade subjetiva), salvo nos casos em que a lei expressamente prever que a responsabilidade se dará independentemente de comprovação de culpa ou quando a atividade desenvolvida colocar em risco a sociedade (responsabilidade objetiva).
A responsabilidade civil subjetiva, adotada como regra pelo Código Civil de 2002, é aquela que tem como fundamento a culpa em sentido amplo, ou seja, é a que exige a comprovação de um ato intencional, negligente, imprudente ou imperito como causador do dano.
Já a responsabilidade civil objetiva, adotada excepcionalmente pelo Código Civil de 2002, tem como fundamento o risco, não sendo necessária a comprovação de culpa do provocador do dano. Essa responsabilidade objetiva surgiu diante do grande número de pedidos indenizatórios nos quais a parte lesada não conseguia comprovar a culpa do outro, então, como o grande objetivo de uma reparação civil é melhorar a situação da vítima, começou a ser aceita em determinadas situações a responsabilização sem comprovação de culpa.
É importante ressaltar que a responsabilidade civil pode ser desmembrada em três elementos essências, de modo que só se pode falar nela quando estiverem simultaneamente presentes a conduta humana, o nexo causal e o dano.
 A partir de uma simples análise do artigo 186 do Código Civil que determina que “aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”, é possível extrair os elementos configuradores da responsabilidade civil.
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5o, XXXII, determina que o “Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. Diante desta determinação constitucional, uma lei especial de proteção ao consumidor foi desenvolvida, entrando em vigor em 1990 o Código de Defesa do Consumidor.
Este Código passou a reger todas as relações de consumo, sendo aplicado com prioridade em detrimento do Código Civil, uma vez que se trata de uma norma especial, devendo-se observar o princípio da especialidade.
Tentando melhorar a situação do consumidor, o CDC trouxe como regra geral de responsabilização civil nas relações de consumo a responsabilidade objetiva, ou seja, não há necessidade de comprovação de culpa do fornecedor, salvo em casos excepcionais em que este Código determina uma responsabilização subjetiva, como quando o fornecedor do serviço é um profissional liberal.
De acordo com Cavaliere (2012, p.18):
A responsabilidade estabelecida no Código de Defesa do Consumidor é objetiva, fundada no dever de segurança do fornecedor em relação aos produtos e serviços lançados no mercado de consumo, razão pela qual não seria também demasiado afirmar que, a partir dele, a reponsabilidade objetiva, que era exceção em nosso Direito, passou a ter um campo de incidência mais vasto do que a própria responsabilidade subjetiva. (CAVALIERE FILHO, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil. 10. ed. rev. e ampl. São Paul: Atlas, 2012.
Isto posto, uma vez configurado um dano em uma relação de comércio eletrônico, o consumidor poderá acionar o judiciário visando uma reparação civil pelo dano sofrido, e a responsabilização do fornecedor se dará objetivamente, ou seja, independerá de comprovação de culpa.
Para a adequada delimitação da responsabilidade civil no âmbito das relações consumeristas, em especial na relação de e-commerce, é primordial fazer a diferenciação entre vício e fato do produto ou serviço.
O vício consiste em uma falha no dever de adequação, de modo que o produto apresenta um mau ou não funcionamento, o que diminui a sua qualidade ou quantidade e acaba por causar um dano de natureza patrimonial ao consumidor.
Já o fato do produto ou serviço é conhecido também como acidente de consumo, e consiste na exteriorização do vicio do produto, ocorrendo uma quebra no dever de segurança, ocasionando uma dano efetivo à vida, saúde e segurança do consumidor.
A responsabilização por fato do produto ou serviço está prevista nos artigos 12 a 17 do Código de Defesa do Consumidor, enquanto que a responsabilização por vício do produto ou serviçoestá nos artigos 18 a 25 do mesmo dispositivo.
Frente uma análise desses artigos, fica claro que a regra de responsabilização por fato e vicio de produtos e serviços é a da reponsabilidade objetiva e solidária entre todos os fornecedores, salvo a do comerciante quando se tratar de fatos do produto, que nessa situação será subsidiária. Isso porque, o comerciante não participa da linha de produção do produto, assim, não seria correto responsabilizá-lo por algo que não poderia ser evitado por ele. (https://www.conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/52132/a-responsabilidade-civil-e-o-comercio-eletronico
O artigo 12, § 3o, CDC, expressa um rol de excludentes de responsabilidade civil do fornecedor. Desta maneira, uma vez conseguindo comprovar que não colocou o produto no mercado, que, embora tenha colocado o produto, o defeito inexiste ou que a culpa pelo dano ocorrido é exclusiva do consumidor ou de terceiro, o fornecedor não terá que indenizar o consumidor pelos prejuízos sofridos.
A doutrina diverge a respeito da taxatividade ou não taxatividade desse rol de excludentes. Todavia, a doutrina majoritária concorda com a não taxatividade, uma vez que ocorrendo fatos imprevisíveis e inevitáveis (caso fortuito ou força maior) que acabem por gerar danos ao consumidor, não deverá ocorrer a responsabilização do fornecedor, pois a imprevisibilidade e inevitabilidade extrapolam o limite do controlável, sendo impossível evitar o dano.
Como já observado, o CDC garante ao consumidor a reparação integral dos danos patrimoniais, morais, estéticos e à imagem sofridos, conforme art. 6º, inciso VI.
Neste diapasão, na Seção II, do Capítulo III do CDC, em seus arts. 12 a 17, o assunto é pormenorizadamente desenvolvido, a fim de que os acidentes de consumo sejam reparados civilmente e tenham certo caráter punitivo. Observa-se:
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi colocado em circulação.
§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.
§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar:
I - que não colocou o produto no mercado;
II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste;
III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos termos do artigo anterior, quando:
I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não puderem ser identificados;
II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu fabricante, produtor, construtor ou importador;
III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.
Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os demais responsáveis, segundo sua participação na causação do evento danoso.
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a verificação de culpa.
Art. 15. (Vetado).
Art. 16. (Vetado).
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.
Assim, em reforço ao direito básico de facilitação da defesa em juízo para o consumidor, a responsabilidade objetiva vem a atribuir ao fornecedor, mais uma vez, o ônus de provar que o defeito no produto ou serviço fornecido inexiste, sendo que, caso não comprovada sua inocência, o mesmo responde independentemente de culpa frente ao dano sofrido ao consumidor, caso não reste quebrada o nexo de causalidade (GAMA, 2008). GAMA, Hélio Zagheto. Curso de direito do consumidor. Rio de Janeiro: Forense, 2008.
Há de se ressaltar que o art. 5º do Decreto nº. 7.962/13 estabelece normas especialmente previstas para o âmbito do e-commerce. Diante deste fato, pode-se afirmar que a regulamentação do comércio eletrônico por tal Decreto estipulou ordens jurídicas que visam a proteger especificadamente o consumidor eletrônico, diante de sua vulnerabilidade frente ao fornecedor.
Assim, percebe-se claramente que foi necessário prever normas específicas à seara do e-commerce, mas sem, contudo, retirar a aplicabilidade do Código de Defesa do Consumidor em tais situações.
Atualmente, o Código de Defesa do Consumidor, juntamente com o Decreto nº. 7.982/13, por ser um dos mais avançados do mundo, notadamente contempla as relações consumeristas no campo virtual, fornecendo, mesmo que implicitamente, diversas defesas ao consumidor frente às mazelas peculiares do comércio eletrônico.
Crê-se que a facilidade da Internet permanecerá contribuindo para o exponencial crescimento do segmento de vendas online no setor varejista, o que implica maior atenção dos consumidores, cada vez mais politizados quanto a seus direitos, e, em especial, dos fornecedores, que, infelizmente, se locupletam à custa dos consumidores por meios ilícitos.
Desta forma, a edição do Decreto nº. 7.982/13 não inovou, nem criou novos direitos, porém, instituiu obrigações acessórias aos empresários e às empresas que exploram por meio eletrônico o fornecimento de produtos e serviços aos consumidores, dando mais credibilidade a este meio de contratação, e mais segurança jurídica aos internautas consumidores.
O caráter desterritorializado da internet, em grande medida, desafia a atividade legislati-
va tradicional, baseada na aplicação territorial da norma legal. Todavia, é inegável a necessidade de disciplina das relações estabelecidas pela internet, prescrevendo padrões de conduta, direitos e obrigações das partes envolvidas, consideradas as características do meio. (MIRAGEM, Bruno. Curso de Direito do Consumidor. 6º ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2016. P. 119)
Sua disciplina jurídica, contudo, necessita acompanhar o rápido desenvolvimento tecno-
lógico que lhe caracteriza, que deu causa, nos últimos vinte anos, a uma série de iniciativas legislativas sem éxito. Por outro lado, a jurisprudência, chamada a disciplinar situações de
responsabilidade por danos aos usuários ou a terceiros, entendeu, desde o primeiro momento, pela incidência do CDC às relações estabelecidas pela internet, por reconhecê-las como essencialmente econômicas, de modo que a organização e prestação de serviços pelos provedores de internet, se estabelecem com claro objetivo de vantagem econômica. (MIRAGEM)
foi aprovada lei que disciplina alguns aspectos da internet no BrasiL O caráter desterritorializado da internet, em grande medida, desafia a atividade legislativa tradicional, baseada na aplicação territorial da norma legal. Todavia, é inegável a necessidade de disciplina das relações estabelecidas pela internet, prescrevendo padrõesde conduta, direitos e obrigações das partes envolvidas, consideradas as características do meio. Daí porque a Lei 12.965/2014, mencionada amplamente, com certo apelo de propaganda, como Marco Civil da Internet, ao definir "princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da internet no Brasil". (MIRAGEM)
A Internet, neste sentido, é um fenômeno da sociedade de consumo. Pela Internet, valores, conceitos, bens e serviços que integram a sociedade de consumo contemporânea são difundidos ou, muitos deles, adquirem existência frente à massa de usuários que direta ou indiretamente tomam contato com a nova realidade virtuaJ.8 76 No direito privado isto ocorre, com especial relevância, no que diz respeito 2. relação jurídica de responsabilidade civil, por ato ilícito, quando este ato ilícito gue enseja, como regra, a imputação do dever de indenizar, é cometido por intermédio da Internet. Paira, neste particular, sobre as soluções jurídicas até então adotadas, um alto grau de insegurança e incerteza quanto à efetividade ou não dos instrumentos legais existentes nos domínios da responsabilidade civil. Da mesma forma, no direito do consumidor, as relações estabelecidas pela Internet ensejam situações de contratos eletrônicos de consumo, em que por intermédio da rede de computadores se realizam contratos de consumo de produtos ou serviços, assim como ilícitos que afetam a segurança do consumidor e, neste sentido, dão causa à responsabilidade por acidentes de consumo. No que se refere aos contratos eletrônicos de consumo, a natureza eletrônica da contratação pode se dar tanto em razão do produto ou serviço objeto do ajuste, do modo de formação do contrato ou do modo de cumprimento de alguma das prestações. Tais situações despertam questões práticas de importância concernentes às relações estabelecidas por intermédio da Internet, como é o caso da produção da prova dos fatos e das condutas havidas no ambiente virtual, assim como sobre
a demonstração das condições de imputação do dever de indenizar próprio da responsabilidade civil. Será o caso da demonstração do nexo de causalidade, do conteúdo da conduta praticada pelo ofensor, ou o correto dimensionamento do dano causado. (MIRAGEM p. 550)
Em matéria de responsabilidade por ato ilícito cometido pela Internet entendeu o STJ
Fazendo da regra pela qualificação da relação jurídica como ao estado de consumo mesmo que aparente ao 14 do CDC admitindo na hipótese que aparente gratuita; o consumidor direto, teria presente o critério remuneratório, do mesmo se diga em relação aos vicias do produto ou do serviço, em que serviço de acesso à Internet, ou ainda nosproJutos serviços adquiridos por seu, determinam a incidência das regras previstas nos artigos 18 e 20 do CDC.
2. RELAÇÃO JURIDICA DE CONSUMO NOS AMBIENTES VIRTUAIS 
A antropologia parte do pressuposto que para que possamos conhecer a cultura de um povo precisamos ter pleno conhecimento das ferramentas utilizadas por esta sociedade, e, partindo desta premissa, a internet não foge à regra. A tecnologia da informação causou impactos extraordinários na maneira de agir das pessoas e estas transformações trouxeram desafios a serem superados abrindo novas frentes de estudo acerca destes impactos causados pela era da tecnologia. 
Em 1945, o mundo deu início ao intenso e duradouro conflito da Guerra Fria. Nesta disputa por poderes e hegemonia, Estados Unidos da América (EUA) e União Soviética necessitavam de mecanismos hábeis e rápidos de troca de informações, momento em que os EUA lançou o protótipo da primeira rede de internet denominada Arpanet, em 1969, e estabeleceu a primeira conexão com envio de um e mail. A partir deste momento, o mundo tomaria novos rumos. 
No Brasil, o Governo Federal sancionou o Decreto nº 5542, de 20 de setembro de 2005[footnoteRef:2], instituindo o projeto Cidadão Conectado – Computador para todos. O respectivo programa tinha fulcro de promover a inclusão digital de forma a proporcionar para a população mais carente condições facilitadas de aquisição de equipamentos de informática com sistema operacional e softwares livres para permitir o acesso à internet. [2: DECRETO Nº5542, de 20 de setembro de 2005. Dispõe sobre o Projeto cidadão conectado. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5542.htm. Acesso em: 03 de junho de 2020. ] 
Diante deste contexto no Brasil, ocorreu a popularização da internet, sendo que, de acordo com os dados do IBGE em um levantamento feito em 2018, o acesso à internet estava presente em 79,1% dos domicílios do país.[footnoteRef:3] [3: Economia. Disponível em https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2020/04/29/em-2018-quase-46-milhoes-de-brasileiros-ainda-nao-tinham-acesso-a-internet-aponta-ibge.ghtml> Acesso em 02 de julho de 2020.] 
A explosão da internet abriu caminhos para o comércio eletrônico, e em 1979, Michael Aldrich funcionário da empresa britânica Redifussion Computers efetivou o primeiro teletexto comercial, posteriores dois anos a empresa Thomson Holidays iniciou as transações comerciais empresa-consumidor; neste trajeto em 1994 já havia inúmeras lojas online. 
Mas antes de adentramos profundamente acerca do tema, não poderíamos deixar de conceituar o que é o comércio eletrônico, que consiste em transações financeiras ou comerciais que tem como pilar a transmissão de dados e de informação através de uma rede de telecomunicações, ou seja, a internet. O comércio eletrônico engloba tanto a compra e venda, bem como a prestação de serviços. 
Mas, o conceito de comércio eletrônico não pode se restringir apenas à compra e venda de mercadorias, porque existe também a possibilidade de se prestar serviços por meio de redes eletrônicas de comunicação à distância. Por conseguinte, quando se fala de comércio eletrônico refere-se tanto à compra e venda de bens quanto à prestação de serviços. Logo, Comércio Eletrônico é a operação que consiste em comprar e vender mercadoria ou prestar serviço por meio eletrônico.[footnoteRef:4] [4: VENTURA, Luís Henrique. Comércio e Contratos Eletrônicos: Aspectos Jurídicos. São Paulo: Editora Edipro, 2010, p.18.] 
Ressalta-se ainda, no entendimento de Cláudia Lima Marques:
O comércio eletrônico pode ser visto sob dois aspectos, em sentido estrito como sendo uma das modalidades de contratação não presencial ou a distância para aquisição de produtos e serviços através de meio eletrônico ou via eletrônica, e em sentido amplo como um novo método de fazer negócios através de sistemas e redes eletrônicas. [footnoteRef:5] [5: MARQUES, Cláudia Lima. Confiança no comércio eletrônico e a proteção ao direito do consumidor: (um estudo dos negócios jurídicos de consumo no comércio eletrônico)São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004, p.38. 
] 
As transações online trouxeram um novo paradigma por apresentar características únicas e peculiares, tais como: facilidade de acesso, mídia interativa, variedade de produtos disponíveis 24 horas e preços mais acessíveis. Uma nova era na qual tudo o que se procura se encontra na tela de um computador mediante um prático sistema de gerenciamento de rede. 
O comércio eletrônico em plena expansão de forma que qualquer pessoa ou empresa pode comercializar seus produtos e oferecer seus serviços em escala mundial, inicialmente surgiu como uma complementação nos processos de vendas, mas que atualmente assumiu as “rédeas” colaborando com globalização da economia, reduzindo os limites geográficos, diminuindo as fronteiras e reduzindo gastos empresariais. 
Estes fatores alavancaram as negociações diante da facilidade que este meio de negócio propicia, esta nova modalidade de transação comercial consequentemente envolve relações jurídicas, pois engloba todas as atividades negociais que circundam consumidores e fornecedores e mesmo de uma forma peculiar enquadra os princípios, requisitos e todas as demais formas negociais. 
Os negócios realizados no mundo virtual abarcam um fornecedor de bens ou serviços, um consumidor online, utilizador daInternet que adquire, como destinatário final, os produtos ou  serviços colocados à venda num website pelo fornecedor e por fim, um acordo bilateral, consistente num contrato eletrônico. Trata-se, portanto, de uma relação de consumo na qual incidirá as normas do CDC.[footnoteRef:6] [6: LIMA, Rogério Montai de. Regulamentação nas relações de consumo via Internet. Disponível em: http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=279. Acesso em 15 de out de 2020.] 
Incluso neste contexto e mediante uma concepção simplista das relações jurídicas evidencia-se o contrato eletrônico um negócio jurídico como fonte de obrigação e através do uso das comunicações em rede gera vínculos recíprocos, criando, modificando e extinguindo direitos. 
A alta demanda das transações comerciais ocasionou o aumento expressivo de pesquisas jurídicas e artigos que se concentram em delimitar as relações jurídicas, a aplicação de legislações de proteção consumeristas bem como a aplicabilidade de Código de Defesa do Consumidor nas relações entre fornecedores e consumidores, considerando que em 1990 quando do surgimento do CDC o comércio eletrônico inexistia. 
Assim imperioso que haja mecanismos de proteção das partes contratantes de forma que as transações comerciais possam se desenvolver em um ambiente confiável e seguro, livres de invasões e quebras de sigilos não autorizadas, tais como as criptografias, assinaturas e certificados digitais. 
A insegurança na contratação eletrônica é latente, tendo em vista que grande parcela dos usuários não tem condições de investigar os servidores e seus respectivos sistemas de proteção seja por hipossuficiência técnica seja por analfabetismo estrutural, persistindo o medo do fornecimento de dados. 
Portanto ainda há um longo caminho a ser percorrido para que haja uma sintonia plena entre a legislação e o varejo de comércio eletrônico, e enquanto isto o uso de normas genéricas, princípios e analogias tem papel fundamental. 
2.1. Vulnerabilidade do consumidor em âmbito geral
A etimologia da palavra vulnerabilidade vem do latim vulnerare que significa ferir, lesar, prejudicar e bílis que quer dizer – suscetível. O dicionário conceitua o termo vulnerável como aquilo que tende a ser magoado, danificado, derrotado, frágil, que poder ser destruído. [footnoteRef:7] Desta forma o indivíduo vulnerável é aquele que dentro de um contexto relacional é afetado de forma negativa e prejudicial. Para Rosco e Bessa: [7: Dicionário Virtual. Disponível em: https://www.dicio.com.br/vulneravel/> Acesso em 02 de julho de 2020.] 
A vulnerabilidade é o ponto fundamental do CDC e, na prática, traduz-se na insuficiência, na fragilidade de o consumidor se manter imune a práticas lesivas sem a intervenção auxiliadora de órgãos ou instrumentos para sua proteção. Por se tratar de conceito tão relevante, a vulnerabilidade permeia, direta ou indiretamente, todos os aspectos da proteção do consumidor. [footnoteRef:8] [8: BESSA, Leonardo Rosco; MOURA, Walter J. F. Manual de direito do consumidor: 4. ed. Brasília: Escola Nacional de Defesa do Consumidor, 2014. p.77.] 
A herança histórica trazia a baila a ideia que os vulneráveis seriam aqueles dotados de deficiências físicas ou mentais, os idosos e as crianças, a visão global insere como vulneráveis todos aqueles com capacidade de autodeterminação reduzida para proteger seus próprios interesses. 
Entretanto nos tempos atuais e com o avanço das relações de consumo estudiosos do direito passaram a observar que estes grupos ora citados necessitam de uma ampla e especial proteção, considerando que na verdade eles tem uma vulnerabilidade potencializada denominada de hipervulnerabilidade. 
A este respeito, mister enaltecer que “vulnerabilidades” e “hipossuficiência” são conceitos distintos, todo consumidor é vulnerável, mas nem todos são hipossuficientes importante demonstrar a diferenciação considerando que a hipossuficiência tem caráter subjetivo sendo analisada no caso concreto pelo magistrado enquanto a vulnerabilidade é objetiva merecedora da proteção do CDC. 
A vulnerabilidade pressupõe uma relação de desigualdades quer seja por motivos técnicos, econômicos, sociais, políticos dentre outros. Para Vignolli:
A vulnerabilidade é tanto uma condição dos atores em face de eventos adversos de várias naturezas (ambientais, econômicas, fisiológicas, psicológicas, legais e sociais) como um enfoque para o exame de diferentes tipos de riscos e de respostas, ou opções de assistência, existentes diante de sua materialização.[footnoteRef:9] [9: VIGNOLLI, Rodrigues Jorge. Vulnerabilidade sociodemográfica: antigos e novos riscos para a América Latina e o Caribe. Disponível em: https://ww.nepo.unicamp.br/publicacoes/livros/vulnerabilidade/arquuivos/arquuivos/vulnerab_cap_4_pgs_95-142.pdf> Acesso em 03 d julho de 2020. 
] 
No âmbito das relações de consumo primordial o entendimento que o consumidor ocupa o espaço da parte da mais fraca, mais suscetível, mais vulnerável - a vulnerabilidade é o cerne, o princípio basilar da relação consumerista e o amparo legal desta assertiva fundamentada pela Política Nacional das relações de consumo está disposta no art. 4°, I do CDC. 
A relevância da vulnerabilidade dentro das relações de consumo denota a primordial importância da proteção jurídica do Estado para com o consumidor, tendo em vista que ela é a exteriorização do necessário equilíbrio entre os fornecedores de produtos e serviços e os consumidores. Neste contexto oportuno ressaltar que a vulnerabilidade é vista sob quatro aspectos.
Vulnerabilidade informacional no qual o fornecedor tem o dever de informar aos consumidores todas as informações corretas acerca do produto e do serviço.
Vulnerabilidade técnica presumida no CDC e aponta a ausência de conhecimento técnico-científico do consumidor frente ao serviço ou produto que adquire.
Vulnerabilidade jurídica ou científica no qual os consumidores se deparam com dificuldades na solução e entendimento advindo das contratações em razão do uso de termos jurídicos de difícil compreensão ou então falta de conhecimentos acerca de técnicas e termos mercantis.
Vulnerabilidade fática que exterioriza-se em razão do desequilíbrio socioeconômico entre as partes em que em um dos polos da balança tem-se os fornecedores com seu poderio econômico e de outro lado a fragilidade dos consumidores. 
A partir de todos estes critérios de visualização da vulnerabilidade, é importante observar que eles são apenas critérios didáticos que auxiliam na identificação do ponto de fragilidade do consumidor. Na prática, a demonstração da vulnerabilidade é presumida pela própria lei. As espécies de vulnerabilidade não precisam se somar para que o consumidor seja reconhecido.[footnoteRef:10] [10: VENTURA, Luís Henrique. Comércio e Contratos Eletrônicos: Aspectos Jurídicos. São Paulo: Editora Edipro, 2010, p.81.
] 
Assim constata-se a manifestação das vulnerabilidades em várias formas, mas que em todas representam um complexo de fatores favoráveis aos consumidores. 
2.2 VULNERABILIDADE DO CONSUMIDOR NA INTERNET
Como já mencionado anteriormente a criação da Web tinha o objetivo inicial de troca de informações, sem maiores preocupações com proteção e segurança, todavia hoje ela é um dos principais meios de comunicação, relacionamento, entretenimento, estudos e transações comerciais. 
Em razão desta expansão é de extrema necessidade o aumento da segurança nos termos de confidencialidade com o objetivo de minimizar a exploração das vulnerabilidades.
O comércio eletrônico com seu crescimento exponencial modificou o cenário econômico brasileiro, a variabilidade de produtos e os preços mais acessíveis solidificou esta expansão sem falar na comodidade de efetuar compras 24 horas por dia. 
Em face da grandiosidade do comércio eletrônico as empresas precisam garantir uma prestação de serviços clara e satisfatória mediante sites dinâmicos, com informações precisas e páginas estruturadas facilitando o acesso pré e pós-venda bem comoestabelecendo um portal destinado a esclarecimento de dúvidas e reclamações.
Neste contexto defendemos que o espaço virtual é um objeto que deve ser regulado pelo Direito devendo ser uma âncora na preservação dos direitos no ciberespaço. 
O comercio eletrônico é um campo fértil para a proliferação de marketing e captura de consumidores, diante da facilidade da interconectividade global que ultrapassa as barreiras territoriais com uma velocidade instantânea, os fornecedores impõem implicitamente sua vontade e o acordo se concretiza com apenas um clique potencializando a liberdade de escolha do consumidor e o alcance a produtos e serviços de difícil acesso em sua localidade física. 
As compras eletrônicas estabelecem um verdadeiro negócio jurídico que evidencia a despersonalização, no qual o consumidor é apenas um sujeito mudo dotado de cartão de crédito e senha exposto a qualquer prática comercial, seja ela benéfica ou não. É justamente um indivíduo bombardeado de informações e propagandas guiado por links, janelas interativas e interações eletrônicas e que apesar da sujeição ao consentimento é amplamente vulnerável face a inúmeros fatores dentre eles a escolha predeterminada pelos fornecedores. 
Evidente que em uma situação de contrato eletrônico o consumidor fica à mercê do contrato de adesão, que mesmo sendo previsto no CDC em seu art. 54 como “aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo” [footnoteRef:11] não são ilegais, no entanto pode ensejar abusividades com suas clausulas preestabelecidas obscuras e implícitas, bem evidenciado por João Batista de Almeida[footnoteRef:12] que aduz que nos contratos de adesão há hipertrofia da vontade do fornecedor, o qual estipula previamente as cláusulas e condições e praticamente a impunha ao consumidor aderente. [11: BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm> Acesso em 03 de julho de 2020.] [12: ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.p.138.] 
Assim a nosso ver as contratações eletrônicas, por analogia, são consideradas espécies de vulnerabilidades acentuadas, como mencionado por Cristiano Heineck Schmitt que a hipervulnerabilidade pode ser definida como uma situação social fática e objetiva de agravamento da vulnerabilidade da pessoa física consumidora, em razão de características pessoais aparentes ou conhecidas pelo fornecedor [footnoteRef:13], isto porque há condições propicias, facilitadas e sedutoras da internet que agravam a vulnerabilidade do consumidor aumentando consequentemente a possibilidade de erros e enganos. [13: SCHMITT, Cristiano Heineck. Consumidores Hipervulneráveis: A proteção do idoso no mercado de consumo. São Paulo: Atlas, 2014, p. 233.] 
O consumidor internauta não tem contato físico e real com o produto, a compra é efetivada mediante a aparição de uma imagem sem análises tridimensionais, sem possibilidade de uso de sentido táteis e olfativos, assim o produto visualizado é mera expectativa do consumidor. 
A eficiência do CDC e de legislações consumeristas sejam elas leis formais ou materiais possuem tutela coletiva dos direitos do consumidor para prevenir toda a gama daqueles que podem se prejudicar nas relações de consumo, e se determinadas clausulas descritas nos contratos eletrônicos são entendidas como abusivas a cautela judicial é a medida que se impõe para primeiramente corrigir erros e falhas e em um segundo plano prevenir danos futuros. Para Bolzan:
Coloca-se tal princípio numa posição inaugural da Lei n. 8.078/90, que é considerada uma lei principiológica, e este enquadramento não poderia ser diferente. Com a constatação de que a relação de consumo é extremamente desigual, imprescindível foi buscar instrumentos jurídicos para tentar reequilibrar os negócios firmados entre consumidor e fornecedor, sendo o reconhecimento da presunção de vulnerabilidade do consumidor o princípio norteador da igualdade material entre os sujeitos do mercado de consumo.[footnoteRef:14] [14: BOLZAN, Fabrício. Direito do Consumidor Esquematizado. 2.ed. São Paulo: Saraiva, 2014, p.195.
] 
Destarte a confiança é princípio fundamental nesta relação jurídica e neste contexto a segurança do consumidor não deve se pautar exclusivamente na confiabilidade na empresa e nas marcas, a problemática é acentuada nos contratos eletrônicos e assim o consumidor deve se apoiar no Direito que reconhece a hipervulnerabilidade no ciberespaço e assim poderá proteger os consumidores virtuais de forma amplamente satisfatória. 
3 A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO ELETRÔNICO 
Contribui para seu impacto sobre o direito o fato de que a internet rompe com fronteiras (desterritorialização), reformula o modo e os instrumentos de contratação (desmaterialização) e torna ainda mais complexa a identificação dos agentes econômicos, agora apresentados apenas sob a forma de websites e/ou homepages (despersonalização). Tais características reforçam a vulnerabilidade do consumidor frente à oferta de produtos e serviços pela intemet. (MARQUES, Claudia Lima. Confiança no comércio eletrônico, cít.; CANTO, Rodrigo Eidelvein, Direito do consumidor e vulnerabilidade no meio digital. Revista de Direito do Consumidor. v. 87. p. 179 ess. São Paulo: RT, maio 2013 APUD Bruno Miragem, p 119)
Então, o comércio eletrônico é, segundo Fábio Ulhoa Coelho (2011, p. 48), “a venda de produtos (virtuais ou físicos) ou a prestação de serviços realizadas em estabelecimento virtual. A oferta e o contrato são feitos por transmissão e recepção eletrônica de dados.” Curso de Direito Comercial, volume 3: direito de empresa. 12. Ed. São Paulo: Saraiva, 2011.
Já Cláudia Lima Marques conceitua comércio eletrônico tanto de maneira ampla, como estrita:
De maneira estrita, o comércio eletrônico é uma das modalidades de  contratação não-presencial ou à distância para a aquisição de produtos e  serviços através de meio eletrônico ou via eletrônica. De maneira ampla, podemos visualizar o comércio eletrônico como um novo método de fazer negócios através de sistemas e redes eletrônicas. Latu sensu, pois, o comércio eletrônico abrangeria qualquer forma de transação ou troca  de informação comercial ou visando a negócios, aquelas baseadas na  transmissão de dados sobre redes de comunicação como a Internet,  englobando todas as atividades negociais, juridicamente relevantes, prévias e  posteriores à venda ou à contratação. (MARQUES, 2004 apud LORENZONI, 2006, p. 18).
O primeiro deles, mais importante porque reflete toda a concepção do movimento, proclama que ‘O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor’ (art. 5º, XXXII). Em outra passagem, é atribuída competência concorrente para legislar sobre danos ao consumidor (art. 24, VIII). No capítulo da Ordem Econômica, a defesa do consumidor é apresentada como uma das faces justificadoras  da intervenção do Estado na economia (art. 170, V). E o art. 48 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias anunciava a edição do tão almejado Código de Defesa do Consumidor, que se tornou realidade pela Lei 8.078/90, após longos debates, muitas emendas e vários vetos, tendo por base o texto preparado pela Comissão de Juristas e amplamente debatido no âmbito do CNDC. (ALMEIDA, 2009, p. 11). ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. 7ª ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.
Diante disso, infere-se que o consumidor eletrônico possui os mesmos direitos básicos daquele consumidor que efetua compra em um estabelecimento comercial físico. O consumidor eletrônico não pode ser discriminado por comprar virtualmente, devendo assim, o Código de Defesa do Consumidor amparar os interesses da relação de consumo online, principalmente no que concerne aos ditamesestabelecidos no art. 6º.
Assim, o que deve restar demonstrado, para que haja a inversão do ônus da prova, a critério do juiz, é a verossimilhança da alegação e a hipossuficiência técnica do consumidor, a fim de que a defesa dos direitos deste sujeito seja facilitada, visto figurar em condições de inferioridade nas relações jurídicas de consumo.
E no comércio eletrônico, caso exista algum problema na negociação, a inversão do ônus da prova é instrumento processual importantíssimo para o consumidor, visto que o fornecedor online[10] poderá omitir algumas informações de seus produtos e serviços maliciosamente, ou até não especificar a data de entrega das mercadorias ou onde se situa a empresa, por exemplo. Assim, percebe-se que a hipossuficiência do consumidor no ambiente virtual poderá vir a ser maior, o que talvez impossibilite o mesmo provar suas alegações em juízo, sem que houvesse a inversão do ônus da prova.
Contudo, os direitos básicos não são somente os previstos em lei, muito pelo contrário, é extenso o rol de direitos e interesses dos consumidores espalhados por todo o ordenamento jurídico, que resguarda o caráter interdisciplinar em todos os ramos do direito (CAVALIERI FILHO, 2008). Até mesmo a Lei nº. 8.078/90 esclarece o assunto em seu art. 7º, caput:
Art. 7°. Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e equidade.
Recorda-se que o artigo 49 do CDC determina como prazo de desistência sete dias a contar da assinatura do ato ou do recebimento do produto ou serviço, sempre que a contratação ocorrer fora do estabelecimento comercial, como por exemplo nas contratações feitas por internet.
Segundo Nunes (2015, p.721) :
O consumidor está garantido de sempre que a compra se der fora do estabelecimento comercial, nos vários sistemas de vendas existentes. Nesse tipo de aquisição o pressuposto é que o consumidor está ainda mais desprevenido e despreparado para comprar do que quando decide pela compra e, ao tomar a iniciativa de fazê-la, vai até o estabelecimento. (NUNES, Rizzatto. Curso de Direito do Consumidor. 10. ed. São Paulo: Saraiva, 2015. 936.)
Não é difícil perceber que como o risco do empreendimento é do fornecedor, todos os custos com a devolução do produto ou serviço são de responsabilidade exclusiva dele.
Apesar de não ter uma legislação específica tutelando o comércio eletrônico no ordenamento jurídico brasileiro, o consumidor que realiza uma compra pelo meio virtual não estará desamparado caso sofra um dano na relação de consumo. Isso porque, como se verá a seguir, é possível a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, que é uma norma protetiva e extremamente benéfica ao consumidor.
É muito comum, no contexto do e-commerce, a atuação de sites intermediadores, que se intitulam como meros aproximadores dos consumidores e fornecedores, facilitando a compra e venda virtual. Um site intermediador muito utilizado pelos brasileiros em suas negociações é o Mercado Livre.
O próprio Código de Defesa do Consumidor, em seu artigo 25 determina que é vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exonere ou atenue a obrigação de indenizar por vícios e fatos dos produtos ou serviços, sendo inadmissíveis as cláusulas que afirmam a não responsabilização do sítio eletrônico intermediador. Assim, fica evidente que a cláusula retratada não é válida, não tendo nenhuma aplicabilidade prática.
É fácil perceber que os sites intermediadores, como o Mercado Livre, se enquadram perfeitamente no conceito de fornecedor de serviços e os seus usuários no de consumidores, ficando sujeitos ás regras do CDC quanto á responsabilização pelos serviços prestados.
Com tudo isso, é evidente que o posicionamento majoritário recentemente adotado pelos tribunais superiores consiste em afirmar a legitimidade passiva dos sites intermediadores em ações de indenização por danos sofridos pelo consumidor, uma vez que são fornecedores de serviço, respondendo objetivamente segundo o Código de Defesa do Consumidor.
Sabe-se que o consumidor é parte hipossuficiente da relação consumerista, e dado o grande poderio econômico dos fornecedores, é indispensável que aquele tenha seus direitos estabelecidos em lei, como no Código de Defesa do Consumidor – Lei nº. 8078/90.
Porém, somente em 2013, mais precisamente no dia 15 de março, o Decreto nº. 7.962/13 foi criado para regulamentar as relações jurídicas de consumo praticadas no comércio eletrônico.
A oferta contida em um sítio eletrônico dirige-se a um número indeterminado de pessoas, devendo haver informações precisas e claras sobre o produto, preço, formas de pagamento, prazo de entrega, entre outras questões.
O art. 427, do Código Civil[15] revela que “a proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso” e ainda estabelece o art. 429, do mesmo Código[16] que “a oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos”. Tais artigos, apesar de se encontrarem no Código Civil de 2002, regulam a formação de quaisquer contratos, principalmente os de consumo, resguardando os direitos do consumidor, ora oblato, que, de boa-fé, conheceu da oferta e confia na efetiva probabilidade de finalizar uma relação jurídica nos termos desta.
Há, também, no art. 30, do CDC[17], o princípio da vinculação da oferta ao consumidor, o que, conforme Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho expõem:
Logo no art. 30, o legislador cuidou de estabelecer, com nitidez, que as propostas feitas ao consumidor serão informadas pelo princípio da vinculação, o que significa dizer que terão sempre uma carga de obrigatoriedade mais acentuada do que as ofertas em geral, reguladas pelo Código Civil (GAGLIANO; PAMPLONA FILHO, 2009, p. 102). GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de Direito Civil, volume IV: contratos, tomo I: teoria geral. 5. Ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
os contratos não obrigam os consumidores eletrônicos se estes não tiverem conhecimento prévio de seu conteúdo antes de sua formalização, ou ainda se escritos de maneira a impedir a sua compreensão, como prevê o art. 46, da Lei nº. 8.078/90:
Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.
Desta forma, se não respeitada a previsão legal do art. 46 em epígrafe, mesmo que haja o consentimento do internauta para a aceitação da oferta pelo fornecedor virtual, o CDC assegura a não vinculação do consumidor aos contratos onde não houve o prévio conhecimento de seu conteúdo.
Neste diapasão, se as cláusulas de um contrato, principalmente os de adesão, não forem previamente apresentadas ao consumidor, de maneira adequada, este não se adere ao contrato; ocorrendo o mesmo no que concerne às cláusulas de complexa compreensão.
Em relação ao atendimento facilitado ao consumidor, a contratação foi um dos assuntos mais retratados no art. 4º, do Decreto nº. 7.962/13, estabelecendo mecanismos de contato entre fornecedor e consumidor, a fim de que este tenha facilidade em exercer seus direitos frente ao fornecedor eletrônico.
cabe descrever quais são os outros serviços que o atendimento eletrônico deve garantir: fornecer ferramentas eficazes ao consumidor para identificação e correção imediata de erros ocorridos nas etapas anteriores à finalização da contratação; confirmar imediatamente o recebimento da aceitação da oferta; manter serviço adequado e eficaz de atendimento em meio eletrônico, que possibilite ao consumidor a resolução de demandasreferentes a informação, dúvida, reclamação, suspensão ou cancelamento do contrato; confirmar imediatamente o recebimento das demandas do consumidor referidas no inciso, pelo mesmo meio empregado pelo consumidor; e utilizar mecanismos de segurança eficazes para pagamento e para tratamento de dados do consumidor.
Acrescente-se o entendimento de Cláudia Lima Marques, reconhecendo que o contrato eletrônico é uma forma de contratação na seara consumerista fora do estabelecimento comercial.
Como se observa, o chamado ‘comércio eletrônico’ é realizado através de contratações a distância, por meios eletrônicos (e-mail etc.) por internet (on line) ou por meios de telecomunicação de massa (telemarketing, TV, TV a cabo etc.), é um fenômeno plúrimo, multifacetado e complexo, nacional e internacional, onde há realmente uma certa ‘desumanização do contrato’. (MARQUES, 2005 apud BARROS, 2008, p. 07).
3.1 DA (IN)SUFICIÊNCIA DAS PREVISÕES CONSUMERISTAS
CONCLUSÃO
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, João Batista de. A proteção jurídica do consumidor. 7. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2009.
BESSA, Leonardo Rosco; MOURA, Walter J. F. Manual de direito do consumidor: 4. ed. Brasília: Escola Nacional de Defesa do Consumidor, 2014.
BOLZAN, Fabrício. Direito do Consumidor Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2014.
BRASIL. Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8078.htm> 
DECRETO Nº5542, de 20 de setembro de 2005. Dispõe sobre Projeto cidadão conectado. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Decreto/D5542.htm. Acesso em: 03 de junho de 2020. 
Dicionário Virtual. Disponível em: https://www.dicio.com.br/vulneravel/> Acesso em 02 de julho de 2020.
Economia. Disponível em https://g1.globo.com/economia/tecnologia/noticia/2020/04/29/em-2018-quase-46-milhoes-de-brasileiros-ainda-nao-tinham-acesso-a-internet-aponta-ibge.ghtml> Acesso em 02 de julho de 2020.
MARQUES, Cláudia Lima. Confiança no comércio eletrônico e a proteção ao direito do consumidor: (um estudo dos negócios jurídicos de consumo no comércio eletrônico)São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
VENTURA, Luís Henrique. Comércio e Contratos Eletrônicos: Aspectos Jurídicos. São Paulo: Editora Edipro, 2010.
SCHMITT, Cristiano Heineck. Consumidores Hipervulneráveis: A proteção do idoso no mercado de consumo. São Paulo: Atlas, 2014.
VIGNOLLI, Rodrigues Jorge. Vulnerabilidade sociodemográfica: antigos e novos riscos para a América Latina e o Caribe. Disponível em: https://ww.nepo.unicamp.br/publicacoes/livros/vulnerabilidade/arquuivos/arquuivos/vulnerab_cap_4_pgs_95-142.pdf> Acesso em 03 de julho de 2020.

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