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Milena Lopes SISTEMA CEREBELAR O cerebelo recebe aporte motor e sensorial e coordena a atividade motora, mantém o equilíbrio e ajuda a controlar a postura. O cerebelo está situado na fossa posterior da cavidade craniana, atrás do tronco encefálico. Divide-se em: (1) arquicerebelo: sua parte mais primitiva, formada pelo lobo floculonodular; (2) paleocerebelo, constituído pelo paraflóculo, pela úvula, pela pirâmide e pela porção vermiana do lobo anterior; (3) neocerebelo (hemisférios), sua parte mais desenvolvida, formado pelas porções laterais e vermianas da parte média do lobo posterior. O paleo e o neocerebelo compõem o corpo cerebelar, separado em lobos anterior e posterior pela cissura primária. Embora diverso na aparência, o cerebelo guarda algumas semelhanças com o cérebro. Assim, observa-se um manto cortical de cor cinzenta, denominado córtex cerebelar, o qual envolve as substâncias brancas, constituídas pelas fibras aferentes que transitam pelos pedúnculos cerebelares inferior, médio e superior, em ambos os lados da linha média, formações essas que fixam o cerebelo ao tronco encefálico. Na substância branca estão situados os quatro pares de núcleos cerebelares: denteado, globoso, emboliforme e fastigial. Da superfície para a profundidade, são distinguidas três camadas no córtex: a molecular, com suas fibras amielínicas e com poucas células; a camada de células de Purkinje; e a granular, ricamente povoada por células. Embora seja perfeitamente possível a vida sem o cerebelo, esse órgão funciona como um computador programado para interferir no controle dos movimentos. O simples ato, por exemplo, de pegar com a mão um objeto sobre a mesa desencadeia uma série de impulsos nervosos, que se originam no córtex motor cerebral e terminam em sinapses nos motoneurônios da coluna cinzenta da medula. Esses impulsos estimulam simultaneamente o córtex cerebelar, cuja resposta para a área cerebral (retroalimentação) e para a medula corrige, modula, harmoniza, regula, coordena e integra o referido ato motor. • Coordenação, postura e marcha: - Paciente deve ser observado na posição em pé e andando, deve ser anotado qualquer assimetria ou instabilidade postural ou da marcha. MANIFESTAÇÕES DO COMPROMETIMENTO DAS ESTRUTURAS CEREBELARES: (1) ataxia da marcha, nistagmo e vertigem nas lesões do arquicerebelo; (2) ataxia da marcha e dos membros inferiores nas lesões do paleocerebelo; Milena Lopes (3) hipotonia, disdiadocodicinesia, decomposição dos movimentos, dismetria, disartria, tremores postural e de ação, nistagmo e ataxia da marcha nas lesões do neocerebelo. - Vale lembrar que, ao contrário do cérebro, as lesões dos hemisférios cerebelares produzem manifestações homolaterais. O EXAME É REALIZADO OBSERVANDO: • Marcha ou equilíbrio dinâmico: - Cada pessoa tem um modo próprio de andar, extremamente variável, individualizado pelas suas características físicas e mentais. Ao observar a maneira pela qual o paciente se locomove é possível, em algumas afecções neurológicas, suspeitar do ou fazer o diagnóstico sindrômico; - Observar as marchas. • Equilíbrio estático: - Fazer manobras de Rosemberg e Mingazzini; COORDENAÇÃO Na execução dos movimentos, por mais simples que sejam, entram em jogo mecanismos reguladores de sua direção, velocidade e medida adequadas, que os tornam econômicos, precisos e harmônicos. Não basta, portanto, que exista força suficiente para a execução do movimento; é necessário que haja coordenação na atividade motora. Coordenação adequada traduz o bom funcionamento de, pelo menos, 2 setores do sistema nervoso: o cerebelo (centro coordenador) e a sensibilidade proprioceptiva. À sensibilidade proprioceptiva cabe informar continuamente ao centro coordenador as modificações de posição dos vários segmentos corporais. • Ataxia: perda de coordenação. Pode ser de três tipos: - Cerebelar; - Sensorial; - Mista. Cumpre mencionar que, nas lesões da sensibilidade proprioceptiva, o paciente utiliza a visão para fiscalizar os movimentos incoordenados. Cerradas as pálpebras, acentua-se a ataxia. Tal fato não ocorre nas lesões cerebelares. INTEGRAÇÃO DE QUATRO ÁREAS FUNCIONAIS DO SISTEMA NERVOSO: - Sistema motor, necessário para a força muscular; - Sistema cerebelar (também parte do sistema motor), para os movimentos rítmicos e postura constante; - Sistema vestibular, para equilíbrio e coordenação dos movimentos dos olhos, da cabeça e do corpo; - Sistema sensorial, para a propriocepção; EXAME DA COORDENAÇÃO - AVALIAÇÃO, DEVE-SE OBSERVAR: - Movimentos alternados rápidos; Milena Lopes - Movimentos ponto a ponto; - Marcha e outros movimentos corporais correlatos; - Ficar de pé em posições especificadas. MOVIMENTOS ALTERNADOS RÁPIDOS PROVA DOS MOVIMENTOS ALTERNADOS - Determina-se ao paciente que realize movimentos rápidos e alternados, tais como: abrir e fechar a mão, movimento de supinação e pronação, extensão e flexão dos pés. - O registro das alterações encontradas é feito anotando-se a sede e o grau de ataxia; - Tais movimentos denominam-se diadococinesia, e a capacidade de realizá-los é chamada eudiadococinesia; * Disdiadococinesia: dificuldade que uma pessoa tem em realizar movimentos rápidos alternadamente → ocorre na doença cerebelar; * Adiadococinesia: incapacidade de realizá-los; MEMBROS SUPERIORES - Mostra-se ao paciente como bater com uma mão na coxa, levantar a mão, virar a mão e bater com o dorso da mão no mesmo lugar na coxa. Solicite que o paciente repita esses movimentos alternados o mais rápido que conseguir; - A velocidade, o ritmo e a regularidade dos movimentos devem ser analisados. O mesmo é feito em relação a outra mão. A mão não dominante frequentemente tem um desempenho um pouco inferior a outra mão. - Quando existe doença cerebelar não é possível alternar rapidamente os movimentos e os movimentos são lentos, irregulares e desajeitado. Essa anormalidade é denominada disdiadococinesia. O comprometimento do neurônio motor superior e a doença dos núcleos da base também comprometem os movimentos alternados rápidos, mas não do mesmo modo. - A seguir, mostre ao paciente como percurtir a articulação distal do polegar com a ponta do dedo indicador, mais uma vez o mais rápido possível. A velocidade, o ritmo e a regularidade dos movimentos devem ser analisados. O lado não dominante frequentemente tem um desempenho um pouco inferior ao do outro lado. Milena Lopes MEMBROS INFERIORES - Peça ao paciente que bata na sua mão o mais rápido possível com o pé (com a região logo abaixo dos dedos). Alterne os pés. Verifique se o movimento é mais lento que o esperado ou se o movimento é desajeitado. Normalmente o desempenho dos pés não é tão bom quanto o das mãos. - Na doença cerebelar os movimentos são desajeitados, instáveis e apresentam velocidade, força e direção inapropriadamente variáveis. O dedo da mão pode, inicialmente, ultrapassar o alvo, mas acaba alcançando-o (a chamada dismetria).Tremor intencional pode ocorrer. Na doença cerebelar os movimentos são desajeitados, instáveis e apresentam velocidade, força e direção inapropriadamente variáveis. O dedo da mão pode, inicialmente, ultrapassar o alvo, mas acaba alcançando-o (a chamada dismetria). MOVIMENTOS PONTO A PONTO MEMBROS SUPERIORES | TESTE / PROVA DEDO-NARIZ - Com o paciente em pé ou sentado, com o membro superior estendido lateralmente, solicite que toque o seu dedo indicador e depois o próprio nariz várias vezes; - Mova o dedo indicador de modo que o paciente precise mudar de direção e esticar totalmente o braço. Acurácia e ausência de movimentos bruscos são o padrão normal. - Mantenha o dedo em um ponto de modo que o paciente consiga tocá-lo com um braço e um dedo esticado. Solicite ao paciente que eleve o braço acima da cabeça e baixe de novo paratocar o seu dedo. Após algumas repetições peça ao paciente que feche os olhos e tente mais algumas vezes; - O procedimento é repetido do outro lado. Em geral, a pessoa consegue tocar o dedo do examinador com os olhos abertos e com os olhos fechados; - Essas manobras avaliam a propriocepção e as funções do labirinto e do cerebelo. - A doença cerebelar provoca incoordenação que se agrava quando a pessoa fecha os olhos. Se isso ocorrer, é sugestivo de perda da propriocepção. Desvio repetitivo e consistente para um lado, referido como ultrapassagem do ponto, que é exacerbado pelo fechamento dos olhos, sugere doença cerebelar ou vestibular. MEMBROS INFERIORES | TESTE CALCANHAR-FACE ANTERIOR DA PERNA / CALCANHAR-JOELHO - Na posição de decúbito dorsal, solicite ao paciente que apoie o calcanhar no joelho oposto e depois desça com o calcanhar até o hálux (olhos abertos); Milena Lopes - Os movimentos normais são acurados e sem hesitação; - O teste é repetido com o paciente de olhos fechados para avaliar a propriocepção. A seguir, repita com o outro calcanhar. A prova deve ser realizada várias vezes; - Nos casos de discutível alteração, “sensibilizase” a prova mediante o deslizamento do calcanhar pela crista tibial, após tocar o joelho. Diz-se que há dismetria (distúrbio na medida do movimento) quando o paciente não consegue alcançar com precisão o alvo. - Na doença cerebelar o calcanhar ultrapassa o joelho e oscila de um lado para o outro na frente da perna. Quando há perda da propriocepção, o calcanhar é levantado demais e o paciente tenta olhar para realizar o teste. Com os olhos fechados o desempenho é insatisfatório. POSTURA Os próximos dois testes podem, com frequência, ser realizados concomitantemente. Eles diferem apenas na posição dos braços do paciente e naquilo que está sendo avaliado. Aproxime-se o suficiente do paciente para evitar uma queda. MANOBRA DE ROMBERG Esse é principalmente um teste da propriocepção. - O paciente deve, primeiro, ficar de pé com os pés juntos e os olhos abertos e, depois, deve fechar os olhos durante 30 a 60 s sem suporte; - Observa-se a capacidade do paciente de manter a posição ortostática; - Na ataxia consequente a doença da coluna dorsal e perda da propriocepção, a visão compensa a perda sensorial. O paciente fica na posição ortostática razoavelmente bem com os olhos abertos, mas perde o equilíbrio quando fecha os olhos (sinal de Romberg positivo). Na ataxia cerebelar o paciente tem dificuldade em ficar de pé com os pés juntos, estejam os olhos abertos ou fechados. - No indivíduo normal: nada se observa, ou apenas ligeiras oscilações do corpo são notadas (prova de Romberg negativa); - Individuo com alterações neurológicas: ao cerrar as pálpebras, o paciente apresenta oscilações do corpo, com desequilíbrio e forte tendência à queda (prova de Romberg positiva). É positiva nas labirintopatias, na tabes dorsalis, na degeneração combinada subaguda e na polineuropatia periférica. Milena Lopes Em algumas ocasiões, sobretudo nas lesões cerebelares, o paciente não consegue permanecer de pé (astasia) ou o faz com dificuldade (distasia), alargando, então, sua base de sustentação pelo afastamento dos pés para compensar a falta de equilíbrio. Tais manifestações não se modificam quando se interrompe o controle visual (prova de Romberg negativa). • A tendência para a queda pode ser: (1) para qualquer lado e imediatamente após interromper a visão, indicando lesão das vias de sensibilidade proprioceptiva consciente; (2) sempre para o mesmo lado, após transcorrer pequeno período de latência, traduzindo lesão do aparelho vestibular. Posição dos pés na manobra de Romberg / Prova de Romberg sensibilizada (um pé na frente do outro). MANOBRA DE MINGAZZINI - O paciente deve ficar de pé durante 20 a 30 s com os braços esticados para frente, com as palmas para cima e os olhos fechados. A pessoa que não consegue ficar de pé pode ser avaliada na posição sentada. Uma pessoa normal consegue manter satisfatoriamente os braços nessa posição, seja sentada ou de pé. - A seguir, oriente o paciente a manter os braços esticados para frente e os olhos fechados, como se vê a seguir, enquanto se empurram vigorosamente os braços dele para baixo; - Normalmente os braços retornam à posição horizontal. Essa resposta exige força muscular, coordenação e propriocepção preservada. - A manobra de Mingazzini é a pronação de um antebraço. É um sinal sensível e específico de lesão do trato corticoespinal originária no hemisfério contralateral. O deslocamento para baixo do braço com flexão dos dedos da mão e do cotovelo também pode ocorrer. - Deslocamento lateral ou ascendente, algumas vezes associado a movimentos contorcidos das mão, é um achado sugestivo de perda da propriocepção. O paciente não reconhece o deslocamento e, se for solicitado a corrigi-lo, não o faz de modo satisfatório. Na incoordenação cerebelar o braço retorna a posição original, mas ultrapassa a posição e “ricocheteia”. Milena Lopes MARCHA • Peça ao paciente que: 1°: Caminhe pelo aposento ou no corredor, vire e retorne. Devem ser observados a postura, o equilíbrio, o balanço dos membros superiores e os movimentos dos membros inferiores. Normalmente o equilíbrio é fácil, os braços se deslocam alternadamente ao lado do tronco e o ato de virar é realizado sem oscilação; A marcha incoordenada, com instabilidade e vacilação, é denominada atáxica. A ataxia pode ser consequente a doença cerebelar, perda da propriocepção ou intoxicação 2°: Caminhe com um pé atrás do outro (tandem) em linha reta – um padrão conhecido como marcha tandem; A marcha tandem pode revelar ataxia até então despercebida. 3°: Caminhe na ponta dos pés e depois apoiado nos calcanhares – testes sensíveis, respectivamente, para flexão plantar e dorsiflexão dos calcanhares, assim como para equilíbrio; Caminhar na ponta dos pés e apoiado nos calcanhares pode revelar fraqueza da musculatura distal nos membros inferiores, a incapacidade de andar apoiado nos calcanhares é um teste sensível de lesão do trato corticoespinal. 4°: Saltite no mesmo lugar, primeiro com um membro inferior e depois com o outro (se o paciente estiver em condições de fazê-lo). Esse movimento envolve os músculos proximais dos membros inferiores, assim como os músculos distais, e exige propriocepção adequada e função cerebelar normal; A dificuldade em saltitar pode ser consequente a fraqueza muscular, perda da propriocepção ou disfunção cerebelar. Milena Lopes 5°: Flexione discretamente os joelhos, primeiro um e depois o outro. Segure o cotovelo do paciente se houver risco de queda. A dificuldade em flexionar discretamente o joelho sugere fraqueza proximal (extensores do quadril) e/ou fraqueza do músculo quadríceps femoral (o extensor do joelho). 6°: Levantar-se da posição sentada sem a ajuda dos braços e subir em um banquinho são testes mais adequados do que saltitar ou flexionar os joelhos quando o paciente é idoso ou menos robusto. A fraqueza da musculatura proximal, envolvendo o cíngulo dos membros inferiores (cintura pélvica) e os membros inferiores, provoca dificuldades nos testes de Romberg e de Mingazzini. ** Disbasia: todo e qualquer distúrbio da marcha. A disbasia pode ser uni ou bilateral. - Anormalidades da marcha aumentam o risco de queda. SÍNDROME CEREBELAR A síndrome cerebelar é constituída de alterações da coordenação e do tônus muscular. Podem-se identificar os sintomas próprios da lesão do vérmis e dos hemisférios cerebelares. As alterações dependentes das lesões hemisféricas refletem-se nos membros e são sempre do mesmo lado; as decorrentes da lesão do vérmis localizam-se de modo predominante no tronco. • Os sinais e sintomas são: alterações dos movimentos ativos (ataxia) e alterações do tônus (hipotonia).- Ataxia: alterações dos movimentos ativos; - Dismetria: constitui um distúrbio na medida do movimento, verificável pelas provas dedo– nariz, calcanhar–joelho e das linhas horizontais; - Dis ou adiadococinesia: é a dificuldade ou a incapacidade de realizar movimentos rápidos e alternados, como fazer alternadamente supinação e pronação da mão; - Tremor: chamado tremor intencional, cinético ou cerebelar. Ocorre quando o paciente executa um movimento. Reflete sua descontinuidade; - Dis ou assinergia: é a dificuldade ou a incapacidade de efetuar um conjunto de movimentos que representam determinado ato. Na mudança da posição deitada para a sentada, por Milena Lopes exemplo, o paciente eleva demasiadamente os membros inferiores, dificultando ou impossibilitando essa ação; - Disartria: é caracterizada pela fala lenta, monótona e explosiva - Disgrafia: as letras tornam-se maiores (macrografia) e irregulares - Distúrbios dos movimentos oculares: representados pela lentidão e descontinuidade dos movimentos, além da instabilidade na fixação dos olhos - Disbasia: todo e qualquer distúrbio da marcha. A disbasia pode ser uni ou bilateral. Marcha do tipo embrioso ou em zigue-zague, com ampliação da base de sustentação; - Hipotonia: alterações do tônus; - Exagero do balanço das extremidades distais dos membros; - Aumento da passividade; - Aumento da extensibilidade; - Reflexos patelar e tricipital pendulares. ** É conveniente ressaltar que, não obstante a dificuldade para manter o equilíbrio, o sinal de Romberg é negativo, porque o desequilíbrio não se modifica significativamente quando se fecham os olhos. • Causas da síndrome cerebelar: As principais causas são: neoplasias, infecções, distúrbios vasculares (isquemia, hemorragia), intoxicações exógenas (álcool), uso de medicamentos (hidantoinato, piperazina), doença desmielinizante (esclerose múltipla), doenças heredodegenerativas e traumatismos.
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