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ERGONOMIA APLICADA UNIDADE 2 - AOL2

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ERGONOMIA APLICADA
ANTROPOMETRIA E PERCEPÇÃO AMBIENTAL
Marcello Silva e Santos
OLÁ!
Você está na unidade 2 da disciplina de Ergonomia Aplicada. Aqui você será apresentado (a) aos Fundamentos de Antropometria, que, na prática, funcionam como uma ferramenta de projeto na Ergonomia e no Design. Enquanto a Antropometria atende aos requisitos físicos de adequação de projeto, a Percepção Ambiental ajuda a explicar as sensações transmitidas ao homem pelo ambiente e seu entorno, incluindo todas coisas que o compõe. Em resumo, você perceberá a importância dos critérios antropométricos, da correta utilização de contraste e cor e a diferença entre ambiência e ambiente, por exemplo. Bons estudos!
1. Antropometria e percepção ambiental
Se fosse possível destacar dois conjuntos de conhecimentos fundamentais para garantir a qualidade de um projeto em função do atendimento das necessidades dos usuários, a Percepção Ambiental e a Antropometria apareceriam logo em evidência.
A Percepção Ambiental é um tema associado à psicologia ambiental e visa o estudo e a compreensão de fenômenos associados à percepção humana em relação ao seu entorno.
Já a Antropometria fornece os parâmetros de adequação de diferentes objetos aos diferentes tipos de indivíduos. Para tanto, ela leva em consideração a compatibilidade entre gêneros, as diferentes relações dimensionais dos segmentos corporais, a morfologia interindividual e outras referências de ajuste métrico e morfológico, fazendo as devidas adaptações ao corpo inerte (a chamada antropometria estática) e para o corpo em movimento (a antropometria dinâmica).
Uma das definições de Ergonomia é que essa é uma abordagem de projeto e de processo. Em outras palavras, a Ergonomia não somente auxilia na compreensão e realização das atividades destinadas à concepção de produtos e serviços adequados às necessidades do homem como também busca operacionalizar o ajuste de atividades e postos de trabalho e sistemas de produção humanos, de forma a garantir a plena efetividade desses sistemas. Portanto, em se tratando de uma démarche essencialmente projetiva, a Ergonomia não pode prescindir da utilização de métodos e ferramentas de projeto condizentes com as particularidades da atividade humana. Sendo assim, nada mais natural que buscar, por exemplo, técnicas que permitam o ajuste particularizado, ou mais bem customizado às necessidades especiais dos indivíduos.
A Percepção Ambiental é fundamental para o indivíduo situar-se em relação ao espaço.
Por sua vez, a Antropometria é um ramo da antropologia que se ocupa das medidas da altura e dos diferentes segmentos corporais dos seres humanos, enfim, que se preocupa com as particularidades físicas dos indivíduos.
2. Percepção e sua relação com a modelagem e o projeto ergonômico
A percepção possui diferentes significados e importância distinta, conforme as áreas de estudo. Na filosofia, por exemplo, ela é vista como um sistema de conhecimento humano engendrado a partir de reações sensoriais. Na prática projetual, a percepção pode circular em uma espécie de fronteira onírica, talvez oriunda da própria formação acadêmica dos designers e arquitetos, por exemplo.
Enquanto “vivencia” experiências ambíguas de arte e técnica, o designer “confunde-se” entre forma e função, muitas vezes desconhecendo ou ignorando os limites entre ambas. Além disso, fica na fronteira entre o determinismo de um programa, ou conjunto pré-estabelecido de diretrizes técnicas, sociais e organizacionais que devem ser seguidas em um projeto, e a intenção plástica do autor, que repousa na escala do simbolismo. Por sua vez, os psicólogos têm outro entendimento: para eles, a percepção é o ato pelo qual a mente organiza suas sensações e reconhece um objeto externo (agente da ação).
A percepção, no entanto, também resulta em um sistema de referências. Estas referências são percebidas por todos os nossos sentidos; porém, a visão possui a capacidade de síntese perceptiva que outros sentidos carecem. Ainda que a influência dos outros sentidos seja importante no processo perceptivo-cognitivo, é por meio da visão que estas referências literalmente tomam corpo e representatividade.
O que a visão projeta nas mentes só adquire um significado maior quando contextualizado. Ou seja: o que observamos precisa estar situado no tempo e no espaço para se tornar plenamente assimilado pelos sentidos (cenário observável). Como dizia Merleau-Ponty (1971), a experiência sentida é multiperspectiva e não se reduz a nenhum momento efetivo, mas a partir da combinação de diversos pontos de vista espaciais e temporais. Ou, então, conforme Goguen (1999), qualquer teoria da arte ou mesmo qualquer aspecto mecânico envolvido em fenômenos de estimulação humana deve ter idealmente três componentes: 
 A LÓGICA DA ARTE – Se existem regras ou princípios universais.
A RAZÃO EVOLUTIVA – Por que essas regras evoluíram e por que elas têm essa forma.
A LÓGICA COGNITIVA – Qual seria o mecanismo ou o circuito cerebral envolvido.
O cérebro é objeto de estudo das ciências; portanto, a experiência estética seria um subconjunto da consciência. Nesse sentido, a arte, para o ergonomista é de importância limitada, mas certamente não excludente. Os psicólogos (sobretudo os que lidam com a psicologia ambiental) chamam de “boa Gestalt”, ou simplesmente Gestalt articulada, essa característica do observador externo a uma realidade porque une (ou transforma) os elementos “abstratos” ou soltos em formas mais reais, na compreensão dos fenômenos ligados à percepção visual e artística. O processo de assimilação da percepção e sua aplicabilidade na análise
ergonômica passam, necessariamente, pela compreensão do mecanismo de percepção como fenômeno resultante de combinações essencialmente orgânicas.  
O contato do homem com o seu ambiente só é possível porque canais receptores especificamente sensíveis a certas formas de energia processam e decodificam dados externos percebidos em códigos assimiláveis pelo organismo. Esta recepção, transformação e codificação constituem o primeiro estágio do processo perceptivo. Os cones e bastonetes dos olhos são sensíveis à luz incidente provocadas por mudanças fotoquímicas. O ouvido interno reage a movimentos de vibração a que somos submetidos e por sua vez a pele responde a estímulos de mudanças de pressão e temperatura. O olfato e paladar também podem ser acionados no processo perceptivo por meio da sensibilidade a gases e partículas voláteis que agem sobre as fossas nasais, língua e boca. 
Além disso, as características de intensidade e amplitude (tempo de exposição, brilho etc.) dos impulsos externos podem provocar alterações diversas no comportamento dos canais receptores. Estas alterações podem confundir um ou mais órgão sensorial, modificando uma determinada codificação e, por consequência, o resultado de uma representação mental. Ainda que as formas que nos cercam sejam realmente caóticas, o cérebro projeta-nos uma ordem decodificada em uma imagem mais clara. De uma miscelânea de pontos, o olho capta e remete ao cérebro aqueles que se enquadram em alguma estrutura, sejam objetos, formas humanas ou animais.
Assim, quando se contemplam nuvens, ou formações rochosas, por exemplo, facilmente se projeta uma fantasia, recriando objetos que todos sabem não estarem lá. A complexidade do mecanismo de percepção é proporcional à quantidade de centros de pesquisa dedicados à abordagem do tema. Teorias tradicionais em percepção visual da forma geralmente acreditam que o processamento visual é servido por canais ou filtros de banda-estreita que respondem seletivamente para frequências e orientações espaciais (MANAHILOV & SIMPSON, 2001). 
2.1 Fenômeno perceptivo e as diferentes dimensões da percepção visual
O processo de percepção visual ocorre em três fases: primária, secundária e terciária. Na fase primária há a captação da imagem pelos receptores fotossensíveis localizados na retina. Essa imagem é então projetada no lobo occipital, onde se dá a recepção do estímulo visual. Na fase secundária, ocorre o reconhecimentoda imagem projetada, ou seja, a mente atribui à imagem um significado. Nossa mente interpreta tudo aquilo que observamos e contextualiza estas imagens em relação às suas dimensões físicas no tempo e no espaço. Além disso, instantânea e inconscientemente, atribuímos certas características nem sempre “reais” ao que registramos visualmente baseados em nossas experiências individuais. Na última fase ocorre uma integração cortical desta imagem reconhecida com todos os outros sentidos (olfato, tato, audição, etc.). Consequentemente, mesmo sendo a visão o sentido determinante para o processo de percepção, as outras atividades sensoriais, particularmente o tato e a cinestesia, desempenham um papel que não deve ser desprezado (SANTOS; VIDAL; RHEINGANTZ, 2013).
A visão não é uma função totalmente independente de nossa vontade. Ela está profundamente integrada ao desenvolvimento psicossomático do indivíduo. Nossa postura, coordenação, inteligência e personalidade irão afetar e serem afetadas pelos mecanismos da percepção visual. A visão, considerado o sentido mais sofisticado e objetivo, permite a assimilação e o reconhecimento do mundo exterior, fornecendo um relato minucioso do contexto e registrando simultaneamente posição, forma, cor, tamanho e distância no tempo e no espaço.
Para o estudo da ergonomia, ou na ação ergonômica, a noção de percepção voltada para as formas geométricas soltas, ou modelos de representação mental fora de um contexto espacial e temporal, é pouco producente. Por outro lado, não é apenas a imagem (ou cenário) decodificada que tem importância nos estudos e na prática da ergonomia. A aceitação de que princípios óticos (distorção, alongamento, miragem, etc) estão presentes no cotidiano de observadores (e observados) e que estes fenômenos podem ser orientativos e não somente desorientativos são ideias fundamentais para a percepção e representação de formas e cenários observáveis.
Quando se caminha na rua e de repente um cachorro late entre um vão num muro ou numa cerca, a mente é capaz de, em fração de segundos, reconstruir este animal de forma clara, ainda que os olhos não tenham sido rápidos o bastante para perceberem todas as suas características. O mesmo acontece quando alguém senta numa sala com a porta entreaberta para um corredor onde estejam passando grande número de pessoas. Somente pelos vultos já é possível saber que se tratam de pessoas, e, algumas vezes, até mesmo “inferir” certas características individuais baseadas na maneira de andar ou pelo tamanho dos cabelos.
FIQUE DE OLHO: Isto ocorre porque nosso cérebro cria imagens genéricas baseadas nos poucos dados fornecidos. Em alguns casos, inclusive, se as características percebidas forem traços individuais marcantes – uma barba ou cabelo desalinhado – podemos até mesmo identificar certos indivíduos familiares a partir de microssegundos de observação. Esse fenômeno se associa à percepção de movimento que, em linguagem simples, está relacionado ao movimento que ocorre quando existe uma mudança no espaço (deslocamento) em função do tempo. Para que ocorra a percepção deste movimento, é preciso que o deslocamento tenha uma intensidade mínima. Naturalmente, se o intervalo é curto demais, a percepção de imagens determinadas por movimentos (como no caso dos vultos nas portas) é dificultada ou até impossibilitada.
Outra questão importante diz respeito à percepção do espaço tridimensional. Para designers, em especial os designers de interiores, essa propriedade da visão não apenas “percebe” e projeta o espaço em três dimensões, mas adiciona uma quarta: o tempo.
Como já foi dito, o tempo está relacionado ao movimento e, portanto, a observação em movimento oferece perspectivas não apenas orgânicas (no sentido da forma), mas sobretudo estéticas (no sentido da imagem em movimento ser um recurso artístico). Com isso, ao transitar de forma criativa e imaginativa por uma maquete eletrônica, o designer de interiores pode antecipar questões de fluxos, interdependência, contrastes e conflitos, que poderão afetar o produto oferecido ao usuário em relação à usabilidade, ao impacto visual e ao contraste de cores, por exemplo.
A importância do processo de percepção em ergonomia é evidenciada pela apropriação de uma ferramenta presente na análise ergonômica do trabalho, a simulação animada. As observações ergonômicas (ou observações situadas) são como registros instantâneos de uma realidade que demanda alguma forma de intervenção. Existe aí certa ambiguidade (arte e técnica, tal como a arquitetura) de função em cada observação de um ambiente profissional. De cada um destes cenários observáveis podemos extrair diferentes facetas ou grupamentos.
Um primeiro grupamento se mostra (ou percebe-se) de forma estática, tal como uma fotografia. Este fotograma formado em nossa mente é uma representação concreta do cenário e seu determinismo formal. O segundo grupamento é mais complexo e rico de significação, tal como uma imagem dinâmica ou um filme, com princípio (gatilho da ação), meio (desenvolvimento da ação) e fim (resolução da ação). Entretanto, esses grupamentos, ainda que combinados, são insuficientes para a compreensão global de um cenário, pois dependem única e exclusivamente da nossa visão. Esta ordenação óbvia parece subverter o princípio da boa Gestalt, que se relaciona à tendência de a visão humana buscar consolidar ou completar um dado objeto.
Mas nem todos os fenômenos da visão ocorrem de forma objetiva. Afinal, as pessoas tendem a enxergar o mundo de forma diferente dependendo do contexto onde se encontram e da história pessoal que carregam. Detalhes construtivos e aspectos de ambiência (que refere-se aos efeitos do ambiente sobre as pessoas e sistemas) podem afetar a percepção a ponto de trazer desconforto a ambientes anteriormente agradáveis. Algumas dessas reações, aparentemente inexplicáveis, podem ocorrer em outros sentidos do corpo, ou mesmo remeter um sentido inato a um processo cognitivo mais amplo, como ocorre em relação a sabores ou odores que trazem memórias da infância, por exemplo. Ao se observar uma situação, inadvertidamente incorporam-se ao contexto elementos exógenos àquele cenário.
O romancista e poeta irlandês James Joyce (1882–1941), que havia estudado Medicina quando jovem, cunhou um termo para caracterizar esta ocorrência. Ele dizia que ao fotografar uma cena são gerados fadographs (corruptela dos termos em inglês fotograph ou fotografia e o verbo to fade ou dissipar) desta cena, sendo que certos fadographs são mais nítidos enquanto outros desaparecem rapidamente.
Assim, as pessoas acumulam templates (gabaritos) de objetos que são inconscientemente utilizados para compor a Gestalt de um objeto real, da mesma forma como ao se dirigir numa estrada ao longo de uma fazenda não é possível registrar detalhadamente todo o rebanho e suas ações. É possível, porém, perceber a presença de vários animais em toda sua integridade, seus chifres, rabos, cores e tudo mais. Segundo Ehrenzweig (1999), qualquer experiência consciente contém processos complexos inconscientes perscrutando diversas “camadas” (sistemas de diferenciação) dentro de nossa mente, que são capazes de movimentar ou manter suprimidos outros elementos em diferentes níveis da mente.
Os olhos veem apenas aquilo que a pessoa quer, mas procuram estímulos que possam apoiar certos conceitos. Sommer (1977) relata experimentos onde psicólogos ambientais tiveram pessoas com olhos vendados convidadas a perceber o ambiente, como forma de estimular assim outros sentidos. Para a percepção de formas aplicadas sobre um plano qualquer existe uma série de princípios oriundos de experimentos diversos, em campos do conhecimento distintos. Ehrenzweig (1999) e Day (1967) classificaram alguns princípios que ajudam na compreensão dos diferentes mecanismos de visão e cognição: 
· 
Princípio da constância da forma
Torna possível reconhecer instantaneamente uma determinada qualidade (como uma forma circular idêntica dentre objetos com texturas ou posicionados em ângulos diferentes, por exemplo),escolhendo-se aquela que possui uma forma mais real. A constância da forma automaticamente despreza todas as distorções da forma, tornando o reconhecimento do objeto mais rápido e mais seguro.
· Princípio da constância de tom
Serve para equilibrar as distorções do tom local por meio das excentricidades da iluminação (claro/escuro). Um livro preto sob a luz plena do sol se tornará mais claro, por exemplo. A constância do tom automaticamente despreza as distorções do tom e nós tendemos a perceber imediatamente os valores do tom primário, tanto do preto como do branco.
· A fisiologia na observação e interpretação de formas
Serve para capacitar a percepção visual que são dos mecanismos decorrentes da fisiologia humana, como o mecanismo de visão capaz de reconhecer distorções perspectivas e criar distorções da realidade. A visão periférica possui qualidades da percepção inconsciente. Certas diferenças fisiológicas na função das células visuais centrais e periféricas da retina (as células cones centrais e as células bastonetes periféricas) permitem isolar fantasias periféricas da forma sem desviar a atenção para o foco do campo visual. A visão periférica, imperfeita como pode parecer em outros aspectos, supera a visão central por sua acuidade superior sob condições crepusculares.
Ehrenzweig (1999) citava a existência de uma fração de segundo de dúvida e ambiguidade que se atribui a qualquer ato da percepção em seu estágio inicial ainda inarticulado. Por isso, existe a tendência em se esquecer aquele segundo de ambiguidade assim que a imagem mnêmica (relativa à memória) final é formada. Portanto, a aparência inicial e ambígua de algum novo objeto na orla periférica de nossa visão não é retida pela memória depois que ela é identificada do modo normal. O aspecto psicológico aqui presente é que nem a flexibilidade da visão periférica: a sua facilidade em ser moldada pela nossa imaginação pode ser explicada por fatores fisiológicos (como se fosse uma “função” imperfeita das células periféricas da retina). As células responsáveis pela visão periférica encontram-se esparsamente distribuídas na retina e mais estreitamente comprimidas do que as células centrais. Isso explicaria sua reduzida acuidade.
A imprecisão da visão comum é como uma fotografia manchada. As pessoas podem analisar essa fotografia despreocupadamente e dar palpites adequados sobre o que ela representa, enquanto uma pessoa míope, por exemplo, teria que recorrer a adivinhações. A fotografia manchada, ou uma visão ordinariamente manchada, são rapidamente identificadas e, apesar de sua imprecisão, não prejudicam nossa atenção consciente.
A imprecisão da visão periférica, entretanto, está inseparavelmente ligada à sua qualidade evasiva. Uma forma não parecerá muito vaga se for focalizada plenamente, assegurando-se de sua configuração correta. Porém, se não há memória do que determinadas formas representam, então um jogo de adivinhação se iniciará produzindo outros resultados. Logo, a visão periférica deve ser empregada em situações em que a atenção do observador que executa uma tarefa tem sua visão central absorvida, como ao se dirigir um carro.
Existe uma grande semelhança entre a estrutura dupla de nosso campo visual e aquela das imagens mentais que emergem em nossa consciência. Essa semelhança pode ser explicada pelo fato de que nossas imagens mentais são basicamente derivadas de conteúdos reais do campo visual. É como se nossa consciência tentasse lidar com diversos assuntos simultaneamente, o que não deixa de ser uma evidência empírica da causa de certos acidentes que derivam de desvio de atenção, onde o agente ao experimentar e combinar construções mentais conscientes e inconscientes seja propelido a decisões indevidas.
2.2 Fenomenologia dos determinantes inatos da percepção
Os determinantes inatos da percepção (ou nativismo na percepção) são aqueles que nascem com o indivíduo e pouco sofrem influência do seu desenvolvimento social cultural e cognitivo. Estão associados, portanto, às estruturas biológicas e ao fisiologismo humano. Se um indivíduo realiza um reconhecimento característico ou estabelece respostas discriminativas a um estímulo sem ter sido exposto previamente a ele, seria razoável supor a existência de uma relação inata entre estímulo e resposta.
Tentativas para demonstrar a ocorrência de determinantes inatos nos comportamentos de reconhecimento e discriminativo não estão dissociadas das disputas históricas sobre o problema do nativismo na percepção. As preocupações recentes com este problema, todavia, se referem principalmente às evidências biológicas e as que revelam um comportamento perceptivo que não depende de aprendizagem. Ou seja: não é derivado de nossas experiências mais puras ou do conhecimento formal adquirido pelos indivíduos.
Examinando a natureza do estímulo, percebe-se que os receptores respondem primariamente às mudanças na estimulação e que, na ausência de mudanças, as sensações tendem a desaparecer gradualmente. A energia do estímulo pode mudar tanto em função do tempo como do espaço. Quando o estímulo varia espacialmente, os efeitos perceptivos são de margens, limite, forma, contorno e configuração. O delicado “mosaico de receptores”, que recobre a retina dos olhos e se acha distribuído sobre a pele, é particularmente adequado para a discriminação de mudanças espaciais. A forma e a textura visuais decorrem de mudanças em intensidade e comprimento de onda da luz que chega à retina, e sensações táteis como as texturas macias ou ásperas, assim como as sensações de contorno são associadas a variações de pressão mecânica sobre a superfície da pele.
A capacidade de resolução ou a acuidade dos olhos e da pele impõe um limite à finura dos tamanhos e texturas perceptíveis como tais, e os processos de contorno servem para aguçar ou realçar limites e bordas, quando borrados ou pouco claros. A capacidade de resolução e as formações de contorno constituem as bases da percepção da forma e configuração. A retina não é, entretanto, uniforme nesta capacidade de resolução espacial.  As mudanças espaciais na estimulação visual não variam apenas em função de iluminação ou distância, mas também no caráter mais ou menos contrastante destas mudanças. Estas variações espaciais na estimulação são responsáveis pela percepção de limites, bordas, contornos e configurações nas imagens registradas pelo sistema visual.  
O fato de que contornos e configurações resultam de certas diferenças críticas entre uma área de estimulação e outra dá a entender que estes não podem ser considerados separadamente. Para tal, a fim de que contornos ou configurações sejam percebidos, deverá existir necessariamente um determinado “fundo”. Tanto a imagem observada como o fundo servindo de plano de projeção são aspectos do mesmo complexo de estímulo. Sob certas condições, entretanto, pode haver inversão de figura e fundo de tal forma que a primeira é percebida como se fosse o segundo e vice-versa. Um exemplo de inversão perceptiva é apresentado na figura a seguir, que mostra um vaso branco pode ser percebido como um fundo para dois perfis negros, ou os perfis podem servir de fundo para o vaso.
Figura 1 - Imagem dos rostos que formam um vaso ou vice-versaFonte: SANTOS;VIDAL; RHEIGANTZ, 2013, p. 43.
#PraCegoVer: Na imagem, há sombras de dois rostos olhando um para o outro, formando a ideia de um vaso. 
Outras propriedades do estímulo, como a intensidade, o tamanho e a quantidade de detalhes, estão entre os determinantes da figura. Ainda que isto não possa ser exatamente mensurado, é certo que a familiaridade do observador com certas formas, a partir das suas experiências e expectativas, afeta consideravelmente o que ele percebe nas observações. Isso pode ser um indício de que um prejulgamento em relação ao que pretendemos avaliar pode induzir um observador a “interpretar” situações de acordo com uma tendência indesejável. Essa “camuflagem” de objetos e figuras, seja artisticamente ou como fenômeno natural, envolve essencialmente a redução e eliminação de fatorescomo o contorno e a configuração, que distinguem a figura do fundo. As tradicionais figuras ambíguas, mostradas anteriormente, são exemplos de ocultação de figuras por meio da introdução de “ruídos”, ou distrações por uso de imagens e cores contrastantes no fundo da figura.
Outro fator na percepção da forma é o significado de um contorno, especialmente quando os detalhes são reduzidos. Certas formas podem ser percebidas de modo significativo, mesmo quando a quantidade de detalhes e o delineamento da figura são marcadamente reduzidos. Isso vale tanto para um círculo com um tracejado quase imperceptível como um “borrão” de cor levemente diferente da cor do papel, que ainda aparecerá ao observador como um círculo bem definido. No caso do primeiro exemplo, o fechamento cognitivo da forma não contínua, é uma propriedade inata que recebe na Teoria da Gestalt o nome de “pregnância”, derivado do termo em alemão “pragnanz”, significando algo “conciso” ou fechado. Este é um dos mais importantes e de certa forma o mais paradoxal dos princípios da gestáltica, pois pressupõe que a percepção visual não prescinde da complexidade real do objeto (forma perfeita, completa) para a assimilação da realidade de sua forma.
Na percepção de espaço tridimensional, a visão e também a audição, têm sido intensamente investigada para se estabelecer padrões de nativismo. Entretanto, seria incorreto afirmar que a visão e a audição constituem os únicos sistemas sensoriais envolvidos, ou até mesmo os mais importantes. Enquanto os sistemas visual e auditivo são primariamente responsáveis pela discriminação da distância e da posição dos objetos, a percepção de orientação em três dimensões e de uma parte do corpo em relação a outra são mediadas pelo sistema vestibular-labiríntico do ouvido e pelo sistema cinestésico das articulações. É o caso, por exemplo, de um observador sentado numa cadeira que consegue perceber a posição e a distância dos objetos ao seu redor, a direção por onde chegam sons e sua própria postura e orientação e também posição relativa referente ao espaço ambiente. A totalidade de estimulação – visual, auditiva, vestibular-labiríntica e cinestésica – irá determinar a percepção do espaço tridimensional.
A projeção bidimensional do espaço tridimensional na retina do olho, ou a maneira pela qual o cérebro traduz tridimensionalmente a visão bidimensional, resulta num número de propriedades intimamente envolvidas na percepção do espaço, do qual deve-se destacar dois pontos.  O primeiro relaciona-se à geometria do espaço tridimensional projetado sobre uma superfície, onde certas figuras são ambíguas do ponto de vista perceptivo, de modo que dois ou mais tamanhos, contornos, orientações ou direções no espaço projetam uma imagem retiniana idêntica ou quase idêntica. O segundo diz que essa ambiguidade perceptiva, quando ocorre, somente poderá ser resolvida se outros aspectos do
estímulo estiverem disponibilizados.
Na medida em que se aumenta a distância de objetos aos olhos do observador, a imagem lançada por eles na retina vai se tornando progressivamente menor. Assim, os trilhos do trem parecem convergir à distância e o tamanho e o espaço dos vãos parecem ficar cada vez mais próximos, resultando numa perspectiva cônica. Da mesma forma, a interposição ou a superposição de um objeto sobre outro proporciona informação do estímulo sobre a distância relativa dos objetos (DAY, 1974).
Gradientes de texturas, efeitos de disposição e relações entre objeto, observador e o solo na projeção retiniana bidimensional do espaço são fontes de informações sobre as distâncias e as posições relativas dos objetos e aspectos do ambiente espacial. As propriedades mencionadas têm uma qualidade em comum: são todas derivadas da geometria estática de uma projeção bidimensional de um espaço tridimensional. Entretanto, na prática, nenhum observador estará totalmente parado. Seus olhos e a cabeça se movem, bem como pode haver deslocamento ao redor do ambiente e esses movimentos resultam numa outra propriedade do estímulo, que contribui para a percepção do espaço
tridimensional. 
FIQUE DE OLHO: O estudo da percepção visual e sua relação com o sistema cognitivo auxilia na compreensão das chamadas ilusões de ótica. Na verdade, as ilusões são tão somente ajustes instintivos do sistema percepto-cognitivo para interpretar um estímulo. Ao se apresentar aos sentidos uma imagem com quadrados brancos e pretos, por exemplo, os olhos remetem à mente sinais relativos às fronteiras entre os mesmos, “iludindo” a mente no sentido de se enxergar como cinzas alguns quadrados brancos cercados por quadrados pretos.
Em relação aos outros sentidos, a audição exerce um papel importante no processo percepto-cognitivo. Os ouvidos são extraordinariamente sensíveis a mínimas diferenças no tempo de chegada do som a cada um deles, de uma maneira que lembra a sensibilidade dos olhos às mínimas diferenças nas duas projeções retinianas. Diferenças iguais a 30 milionésimos de um segundo são suficientes para a produção da impressão de um som não centralizado. Essa audição estereofônica é uma expressão frequentemente usada para descrever os fenômenos perceptivos associados à audição biauricular. Convém notar, entretanto, que é relativamente pouco o que se sabe ou está consolidado a respeito dos determinantes mono-auriculares da percepção de espaço.  
Ao falarmos de estímulo, dizemos que ocorre um movimento quando há uma mudança no espaço em função do tempo. Para que ocorra a percepção de movimento, contudo, tal mudança deve atingir certos valores mínimos. Se a mudança de um ponto para outro ocorre durante um tempo muito longo, o observador simplesmente percebe o objeto numa sucessão de posições estacionárias, como, por exemplo, no caso do movimento dos ponteiros de um relógio. Estas condições mínimas para a percepção do movimento contínuo, e não de mudanças sucessivas na posição, provavelmente, variam de maneira semelhante ao que ocorre com a acuidade visual.
A percepção de movimento não depende de mudanças contínuas. Isto é, a imagem de um objeto não precisa necessariamente mover-se continuamente sobre a retina ou sobre a pele, a fim de ser percebida como em movimento. Wertheimer (2007, apud Santos; Vidal; Rheingantz, 2013), num experimento há mais de cem anos, apresentou um par de linhas alternadamente separadas por um breve intervalo de tempo. Com intervalos longos (acima de 200 milésimos de segundo), as linhas aparecem sucessivamente. Com intervalos curtos (menos de 30 milésimos de segundo), são vistas simultaneamente. Com intervalos entre 30 e 200 milésimos de segundo, todavia, são percebidas como linha que se move de um lado para outro.
A relação de dependência que existe do movimento percebido para com o fundo é claramente revelada no efeito autocinético ou autônomo. Um pequeno ponto estacionário de luz num quarto escuro parece mover-se de maneira aleatória após alguns segundos de observação. A extensão e a direção deste movimento aparente, a partir do ponto estacionário, depende de vários fatores, entre os quais estão os movimentos dos olhos e do observador. Objetos como automóveis, postes de cercas e pessoas parecem ter mais ou menos o mesmo tamanho, vistos a partir de distâncias diferentes. Um automóvel observado a uma distância de cinquenta metros não parece ter duas vezes o tamanho que tem quando visto a cem metros. Mas a projeção retiniana do automóvel fica realmente duas vezes maior se a distância é dividida pela metade.
Da mesma forma, ao se olhar um relógio de frente e logo a seguir de lado, a forma deste não passará de circular para elíptica. Um objeto branco, uma folha de papel, parecerá sempre branco ainda que se ache num quarto relativamente escuro. Isto ocorre ainda que a intensidade de luz refletida no mesmo seja menor do que a de um objeto mais escuro, sob maior intensidade luminosa. Assim, pode-se comprovar que objetos colocados a diferentes distâncias do observador são percebidos com tamanhos relativamente constantes apesar das alterações do estímulo na retina.Algumas evidências sugerem que certos padrões de comportamento discriminativo ocorrem sem que haja oportunidade de sua aquisição por meio de aprendizagem ou imitação. Ainda no contexto da psicologia formal, é fácil estabelecer nexo direto entre a evolução cognitiva e a percepção visual. Na verdade, um conjunto substancial de dados mostra que parte do comportamento mediado pela percepção ocorre em função das experiências passadas do indivíduo. O esquimó pode discriminar entre muitas variedades de neve, ao passo que o indivíduo que teve pouco contato com a neve só reconhece um tipo. Da mesma forma, enquanto um bom sommelier consegue distinguir entre a metade superior e a metade inferior do vinho contido numa garrafa, um bebedor de vinho eventual não entende a necessidade de aeração na degustação da bebida.
Segundo Santos, Vidal & Rheingantz (2013), esta capacidade discriminativa da percepção deve resultar de um período durante o qual o indivíduo aprende a distinguir propriedades particulares do estímulo como gostos, texturas e cores. As observações corriqueiras de que os provadores de chá e de vinho aprendem a distinguir entre muitas bebidas que os demais não podem discriminar, e de que os lavradores aprendem a reconhecer diferenças entre três muitas farinhas, são confirmadas por experimentos. Um aspecto do papel da aprendizagem na percepção é que os efeitos da prática afetam a habilidade para discriminar estímulos semelhantes. As mudanças na percepção ocorrem não somente sob condições de prática controlada, como também ao longo de períodos muito mais extensos, ao longo desenvolvimento do indivíduo. Ainda na infância, o equipamento sensorial do indivíduo se acha totalmente desenvolvido, quer do ponto de vista fisiológico, quer do ponto de vista fisiológico, quer do ponto de vista anatômico, o que permite concluir que modificações adicionais seja consequência de um processo de aprendizagem.
Entre as numerosas mudanças evolutivas cuidadosamente investigadas estão as que ocorrem na constância perceptiva e na percepção de ilusões espaciais. A tendência para a constância na forma, tamanho e brilho aparentes, apesar das mudanças na estimulação, costuma variar com a idade do observador. Ao se relacionar essas constâncias na percepção com a idade, verifica-se que todas as três apresentam aumentos progressivos. Parece que a capacidade para perceber objetos em termos de suas propriedades físicas reais depende, em algum grau, de aprendizagem. Quanto maior é a idade do indivíduo, mais real é o ambiente que ele percebe. Assim como a constância perceptiva reflete a capacidade do observador para perceber em termos de propriedades reais ou verdadeiras dos objetos, as ilusões espaciais representam uma distorção destas propriedades ou um afastamento da realidade. Se a tendência para perceber realisticamente é um aspecto geral do desenvolvimento, é de se esperar que a magnitude dos fenômenos ilusórios diminua com a idade.
Grande parte da energia do estímulo que atinge os receptores é ambígua, sendo de breve duração ou baixa intensidade, difícil de se perceber claramente. Esta ambiguidade pode também decorrer de uma ausência completa de familiaridade do observador com a forma ou padrão particular de estimulação, ou, ainda, do fato de que formas e padrões podem representar dois ou mais objetos. Estes aspectos podem ser inerentes às propriedades da estimulação diferentes da propriedade sendo julgada. Estes podem também ser dados por atribuição de um nome ou em virtude de uma disposição induzida no observador.
Entre as primeiras explicações da constância de brilho e cor, está a noção de que um conhecimento adquirido de propriedades de um objeto (como a intensidade do negro no carvão, a brancura da neve e o verde da folhagem, por exemplo) serviria para explicar a constância perceptiva. Esta hipótese é hoje difícil de ser sustentada, pois outros experimentos confirmam que, tanto a constância do brilho como a constância da cor, ocorrem no caso de objetos não familiares ao observador (CHALMERS, 2006). Certas evidências, todavia, sugerem que o conhecimento sobre os objetos pode afetar a percepção, um fenômeno denominado memória de cor. Este é, também, exemplo de um efeito geral na percepção, no qual o significado derivado de aprendizagem prévia determina parcialmente a cor, forma, tamanho e outras propriedades percebidas na estimulação.
Em um experimento frequentemente mencionado por estudiosos da percepção, Duncker (1939, apud DAY, 1967) verificou que a cor usual lembrada, no caso de objetos familiares, exerce efeito sobre a cor percebida. Ele colocou sob uma luz verde pedaços de pano recortados com as formas de uma folha e um burro, de modo que a luz refletida dos pedaços de pano para os olhos do observador era esverdeada para ambos os objetos. O pedaço com formato de folha foi considerado, pela maioria dos participantes, como tendo o verde mais forte do que o pedaço com formato de burro, apesar de não haver diferenças de tonalidade. A percepção, portanto, tem relação direta com a experiência de vida dos indivíduos. Por este experimento, por exemplo, vemos que as cores quando associadas às formas conhecidas afetam o modo de percepção delas. Numerosos estudos posteriores ao experimento original de Duncker concluíram que as associações apreendidas entre forma e cor são um determinante da percepção de cores e de tonalidades e de seus efeitos sobre as pessoas.
O estudo desses efeitos fez surgir princípios e práticas, como a Cromologia, que estuda as reações das pessoas às cores, e a Cromoterapia, que busca tratar certos distúrbios a partir da utilização de cores e seus efeitos sobre o corpo e a mente. Ainda que os comprimentos de ondas expliquem muitos dos efeitos das cores sobre os indivíduos, uma parte dessas sensações é de origem fenomenológica. Cores são usadas pelo seu simbolismo, como no caso do vermelho dos carros de bombeiros, para servir com alerta a partir de contraste, como no caso do amarelo e preto de sinalização de segurança, mas também podem ser definidas a partir de estudos complexos, que definem um tom particular de azul-esverdeado, muito usado em Hospitais por transmitir sensação de tranquilidade.
O fenômeno da memória de cores exemplifica um efeito perceptivo no qual os significados aprendidos determinam, em parte, a percepção das propriedades do objeto. Os significados que afetam a cor percebida são derivados das formas familiares dos objetos. O significado, todavia, pode derivar-se de outras fontes, como, por exemplo, das denominações anexadas ao estímulo, quer pelo próprio observador, quer por outra pessoa que forneça instruções ao observador. Do mesmo modo, ao se rotular previamente uma forma ambígua, as reproduções dela tenderão a ir à direção indicada por esses significados.
Por exemplo, quando dois círculos ligados por uma linha são apresentados a diferentes pessoas, uma parte enxerga de imediato um par de óculos, antes mesmo de uma apresentação. As reproduções de indivíduos diferentes mostram, entretanto, que o mesmo estímulo foi percebido de maneira diferente por outros observadores, que descreveram um haltere ou mesmo um sutiã. Estas diferenças presumivelmente resultam do conhecimento adquirido (experiências passadas) e é evocado pela forma atribuída ao estímulo.
Um terceiro modo pelo qual um significado pode ser estimulado a resolver a ambiguidade é pelo desenvolvimento de uma disposição ou expectativa. Se a estimulação prévia é tal que o observador se acha preparado ou sintonizado para esperar uma categoria particular de estímulos, um estímulo ambíguo é percebido nos termos dessa categoria. Ao se apresentar imagens com características de dois objetos distintos, no caso um perfil humano e um roedor, a resposta de percepção poderá variar se, por exemplo, forem apresentadas uma série de figuras inequívocas de animais antes da imagem ambígua. Nesse caso, a figura será percebida pela maioria das pessoas como um rato. Se, por outro lado, forem mostrados perfis humanos antes da figura, ela tenderá a serpercebida como o perfil de um homem.
Neste caso, o significado induzido por uma sequência de estímulos prévios soluciona a ambiguidade, que pode ser novamente provocada se considerarmos uma situação (pouco provável, naturalmente) onde os indivíduos nunca tenham visto um rato nem ao vivo nem em fotos. Neste caso, o significado será determinado pela origem do estímulo, derivado do seu aprendizado sociocultural.
A aprendizagem perceptiva é um processo pelo qual a pessoa adquire a capacidade de interpretar diferentes objetos em função de um conjunto de informações assimiladas previamente. O papel desempenhado por ela tem sido considerado em duas direções: os efeitos do treinamento (prática) na discriminação e os efeitos dos significados adquiridos sobre a percepção de estimulação ambígua.
A diferença entre estas duas concepções de aprendizagem perceptiva é vista em Day (1967), ao se referir à habilidade do esquimó distinguir entre muitas variedades de neve. 
TEORIA DA ASSOCIAÇÃO - A teoria da associação, ou enriquecimento, diz que uma variedade de neve é associada a certas ocasiões e certas atividades.
TEORIA DA DISCRIMINAÇÃO - A teoria da discriminação, por outro lado, concebe a existência de numerosas variáveis de estimulação, como granulometria, textura, brancura, reflexo e aparência externa.
Com a prática, estas variáveis se tornam discrimináveis (identificáveis) pela percepção. Ao contrário do ponto de vista da associação, a hipótese da discriminação argumenta que tudo o que é percebido está no estímulo desde o início. A aprendizagem perceptiva resulta na diferenciação perceptiva destas qualidades.
Não é possível estabelecer com exatidão qual destas formas de aprendizagem perceptiva tem maior importância neste processo. Naturalmente, elas não são mutuamente exclusivas e é bem possível que tanto os processos de associação como a diferenciação perceptiva, contribuam para o resultado da aprendizagem perceptiva. Atualmente, a relação entre aprendizagem e motivação se acha bem estabelecida, embora a natureza dessa relação ainda seja controversa. O indivíduo motivado aprende diferentemente do indivíduo não motivado. Assim como a aprendizagem está envolvida na percepção, também é de se esperar que o estado motivacional do observador afete sua percepção. Em suma, o que é percebido é, ao menos em parte, uma função de seus motivos ou necessidades.
Os efeitos da motivação sobre a percepção têm sido estudados em relação a três grupos de motivos: impulsos primários (ou fisiológicos, como fome e sede), motivos aprendidos (via educação formal) e adquiridos (como necessidade de prestígio social e de realização). Existe um último grupo de motivos que nada tem a ver com uma necessidade, tais como aqueles derivados do medo e da ansiedade. O procedimento adotado nos experimentos a esse respeito, geralmente envolve a manipulação dos motivos do indivíduo como variável independente.
A variável dependente em geral é o reconhecimento, a identificação ou as respostas discriminativas do observador. Um estado motivacional pode derivar de certas propriedades do próprio estímulo. Em outras palavras, o estímulo pode servir para despertar certos motivos, e assim afetar à percepção do mesmo. Por outro lado, os motivos podem ser despertados por condições independentes da estimulação. Bruner e Goodman (1947, apud EHRENZWEIG, 1999) puseram à prova a hipótese de que o tamanho percebido de um objeto valioso seria maior do que o de um objeto não valioso do mesmo tamanho.
Um grupo de crianças com dez anos de idade, oriundas de lares pobres, e um grupo de idade similar, de lares abastados, deveriam avaliar o tamanho de moedas, ajustando a área de um foco luminoso circular numa tela. Imaginou-se que a necessidade de dinheiro, por parte das crianças pobres, deveria ser maior do que a das crianças ricas. Sendo assim, as primeiras deveriam superestimar o tamanho das moedas em maior escala do que as últimas. Um grupo de controle (fora da amostragem) fez comparações semelhantes de tamanho, usando discos de papelão com dimensões iguais às das moedas. O resultado deste experimento mostrou que, tanto no caso das crianças ricas como no das pobres, as moedas foram superestimadas, em comparação com o grupo de controle, e que as crianças pobres de fato superestimaram as moedas em maior grau do que as crianças ricas.
Entretanto, algumas tentativas para confirmar esses resultados não produziram o efeito esperado. Talvez o ponto principal a ser assinalado, com respeito a valores, necessidades e percepção de tamanho, seja a grande amplitude de variáveis envolvidas. As moedas, por exemplo, não variam somente em tamanho e valor. Variam também na textura da superfície, na configuração, em peso (quando tomadas na mão) e na cor. Além desses aspectos, os próprios observadores divergem amplamente em experiências passadas e atitudes. Se um observador é privado de alimento ou água durante certo período, uma condição motivadora será induzida no mesmo. Se por ocasião do experimento, figuras relacionadas ao estado de privação forem apresentadas ao observador, este tenderá a relacionar objetos a elementos induzidos pela fome ou sede (uma bola vermelha percebida como uma maçã, por exemplo).
Um dos primeiros estudos sistemáticos da relação entre motivos primários e percepção foi realizado por Levine, Chein e Murphy (1942, apud Ehrenzweig, 1999). Seus indivíduos foram privados de alimento por períodos variáveis. Desenhos ambíguos, uns em cores e outros não, com as formas e contornos obscurecidos por trás de uma tela de vidro foram apresentados. Os observadores privados de alimentação mencionaram palavras ligadas a alimentos mais frequentemente do que os bem alimentados em suas associações aos estímulos mencionados.
Os primeiros experimentos sobre percepção e motivação que usaram estímulos geradores de ansiedade, deixaram de levar em conta um importante variável: o grau de familiaridade do observador com as duas categorias de palavras. Algumas palavras ocorrem e são usadas mais frequentemente do que outras (e diferentemente de uma pessoa para outra). São palavras mais familiares, isto é, palavras que tendem a ser mais bem assimiladas do que outras. Por conseguinte, tendem a ter uma representação mental construída mais rapidamente. Esta hipótese foi confirmada em numerosos experimentos, nos quais os observadores se viram diante de palavras selecionadas segundo uma determinada frequência de ocorrência e durante breves exposições. De modo geral, quanto mais frequentemente ocorre na linguagem, tanto mais rapidamente a palavra é reconhecida.
O reconhecimento é, portanto, determinado muito mais pela aprendizagem do que pelas propriedades motivacionais. Segundo resultados de investigações recentes, quando as palavras-estímulo são emparelhadas em função da frequência de ocorrência e categorizadas entre boas e más palavras, as últimas levam mais tempo para serem reconhecidas (EHRENZWEJG, 1967). A “bondade” ou “maldade” das palavras está associada ao seu grau de significação, de modo que a percepção pode ser mais afetada pelo significado da palavra para o observador do que pelas suas propriedades geradoras de ansiedade. 
FIQUE DE OLHO: A maioria dos estudos de percepção que geraram publicações relevantes foram realizados até pouco depois da segunda metade do século XX. Não existem muitos estudos realizados, por exemplo, após o advento da Internet e, principalmente, após a aceleração do processo de digitalização social, com os smartphones tornando-se extensões do corpo humano. É possível inferir que indivíduos nascidos a partir da última década do Século XX tenham desenvolvido habilidades diferenciadas para interpretação de estímulos visuais e uma capacidade de resposta bem superior aos seus pais e avós.   
2.3 Do formalismo antropotécnico à antropometria
O ser humano usa apenas um grupo de neurônios seletivo para uma determinada dimensão de um estímulo. Ou seja: para a percepção de um estímulo determinante de frequência espacial são alocados um agrupamento de neurônios. Assim,se um segundo estímulo que difere do primeiro ao longo da faixa de frequência (ou outra dimensão qualquer) é apresentado na mesma área, ele ativará um grupo de neurônios diferente do primeiro. Em outras palavras, estímulos diferentes são processados por grupos ou subgrupos de neurônios diferentes. Estes agrupamentos, por sua vez, formam a base dos canais ou filtros.
A grande maioria de nossas ideias sobre o mundo é baseada na visão. A filtragem espacial tem aparentemente uma função crucial, pois permite ao sistema visual lidar de forma seletiva com uma diversidade muito grande de características simples e complexas de objetos. Estes objetos são captados em estágios anteriores que possivelmente são em seguida integrados em estágios posteriores. Isto permite à mente a reconstrução e interpretação do objeto ou de um determinado cenário composto, em movimento ou estacionário. Este processo intrincado, mas de certa forma articulado, resulta naquilo que denominamos de percepção visual da forma.
Um dos objetivos principais do sistema visual humano é representar o ambiente visual da maneira mais clara possível para as circunstâncias na qual o sistema é utilizado. Muitos acreditam que o sistema visual exista principalmente para extrair da imagem a informação que nós precisamos para a compreensão do nosso entorno e não simplesmente como um meio de recriar a imagem projetada na retina (BRADDICK, CAMPBELL & ATKINSON, 1978, apud SANTOS; RHEINGANTZ; VIDAL, 2013). Cada indivíduo reage diferentemente aos estímulos disparados pela interação com seus ambientes, o entorno e os objetos contidos nesse espaço parametrizado. E estas interações diferem também em função da natureza destes estímulos. Um ambiente interno provoca diferentes sensações em um indivíduo situado em seu exterior, uma vez que implica em considerar, por exemplo, a influência que um detalhe de fachada, um jardim ou qualquer elemento da paisagem podem produzir em sua percepção. E cada ambiente interno, por sua vez, varia em sua amplitude de resposta, em função do grau de importância do ambiente para cada indivíduo – o que irá variar em função dos seus valores culturais, psicológicos, do seu gosto, bem como da sua experiência de vida.
Uma sala sem janelas provoca uma sensação desagradável a qualquer indivíduo que frequente o local, mas ela tende a ser mais intensa nos usuários deste ambiente. Ehrenzweig, (1967) utiliza uma analogia bem apropriada para essa abordagem. Segundo ele, uma casa é vista por nós de todos os lugares e de nenhum lugar em especial. Aquilo que vemos é uma síntese de todas as observações focadas que empreendemos de vários pontos e em vários momentos. E, mesmo que tenhamos formado o conceito de “casa”, ela não é uma síntese intelectual, mas uma síntese perceptiva. A característica temporal dessa síntese desdobra a concepção de percepção na fenomenologia: a percepção também é uma abertura ao futuro. Em Merleau-Ponty (apud Chauí, 2002), reside a noção de projeto na qual o produto permanece como possibilidade para outras sínteses. O produto (objeto ou edificação) só é uma determinação quando já se está numa atitude predicativa, ou quando seu projetista tem de afirmar sua objetividade.  
Arquitetos e designers têm o poder de interferir positiva ou negativamente na qualidade de vida no trabalho de indivíduos. Estes indivíduos, por sua vez, têm pouco ou nenhuma influência/participação neste processo. Ainda que ações projetuais participativas sejam práticas comuns em alguns países e adotadas como padrão em alguns setores (na construção naval, por exemplo), no Brasil esta tendência ainda é muito incipiente e desarticulada, ou seja, existe vontade e reconhece-se a necessidade, mas faltam determinação e sistematização para o seu desenvolvimento enquanto técnica projetual (SANTOS, VIDAL, RHEINGANTZ, 2013).  
O design participativo (participatory design, em inglês) é um processo que parece natural para uma sociedade em transformação como a atual, onde indivíduos seguros de seus direitos passam a exigi-los e o fazem pelo questionamento de paradigmas em várias esferas do pensamento. De fato, nos primeiros anos do movimento behaviorista (método de investigação na psicologia voltado ao  comportamento humano com ênfase nos seus estímulos e reações),  os psicólogos ambientalistas, que passaram a interagir com arquitetos em ações projetuais e outras abordagens participativas, acreditavam ser preciso que arquitetos ensinassem aos usuários e clientes como enxergar seus projetos. Pode-se dizer que exista hoje o entendimento de que este aprendizado deva ser mútuo, recorrente e caracterizado pelo dinamismo na aplicação de métodos e ferramentas. Além disso, é preciso explorar as fronteiras do imaginário, da realidade virtual e da simulação, libertando-se da análise de plantas baixas e cortes. Os ambientes devem ser de alguma forma analisados em uma dimensão volumétrica, que permita aos indivíduos conhecerem, previamente, não somente seus cantos, mas também o vaso de plantas que estará ali, abrir as janelas e ver as paisagens que poderá usufruir, “andar” pelos pisos sem deixar de sentir os fluxos e as distâncias a percorrer.
É possível notar ainda que a percepção visual, não materializada no plano real, adquire um simbolismo próprio do projetista que pensa antever as sensações e anseios de usuários que ele não conhece e executando atividades que ele não domina. Esta imposição projetual é uma atitude inconsciente, em que pese certos projetistas realmente “pensarem” que são capazes de promover e produzir o melhor para as pessoas. Como os resultados das escolhas projetuais – tanto em termos de aplicação do programa como do partido adotado – dificilmente serão conhecidos pelos autores, estes (arquitetos e designers em geral) são excluídos da oportunidade do aprendizado proveniente da utilização dos ambientes de trabalho. Assim, deficiências e incompatibilidades tenderão a se perpetuar no ciclo projetual, ou ainda, assimiladas culturalmente.
Para ilustrar, basta lembrar qual é o padrão de edificação comercial utilizado desde a década de 1940 ao redor do mundo: as cortinas de vidro. Como disse Santos; Vidal; Rheingantz (2013), não importa se em Berlin ou Singapura, em Montreal ou no Panamá, edifícios comerciais desde sempre seguiram essa orientação estética como se fossem a única solução possível ou sempre foi feito assim. Da mesma forma, toda fábrica tem que parecer pesada e forte da mesma forma que certas áreas não tem janelas para não tirar a concentração das pessoas.
Porém, segundo Sommer (1971), não se deve flagelar os arquitetos pelas desconformidades e anomalias em seus projetos (ou no resultado deles). Embora alguns possam ser criticados pela esquisitice, mau gosto e desumanidade, ele acredita que a eles cabe apenas uma pequena parte na responsabilidade. As boas coisas que fizeram, fazem e irão fazer, sem dúvida superam as más. Seus pecados são mais de omissão do que por intenção ou perpetração.
Deve-se ter em mente também que designers e projetistas são, de certa forma, limitados em suas ações pelos seus clientes. Como principais interessados, eles têm o poder de acatar ou recusar soluções, chegando mesmo a ponto de impor suas próprias metodologias para o gerenciamento de projetos. A forma e o conteúdo dos programas dos edifícios podem sofrer modificações tão logo começam a ser definido o partido adotado. Portanto, designers que se interessam pelo tipo de comportamento do usuário devem procurar elaborar programas que possibilitem uma avaliação em termos deste comportamento. Não é uma meta fácil de cumprir, uma vez que o universo sociológico pode ser tão vago e ambíguo quanto o do design e da arquitetura.  
A pouca atenção dada aos projetos depois de inaugurada a obra, aliada a ao aparente descaso com a participação dos usuários nas decisões desde a concepção até a construção, dificulta o atendimento pleno da função social de um ambiente. Como consequência, essa inadequação ou incompatibilidade pode afetar os níveis de produtividade (em ambientes de trabalho)e a qualidade de vida dos seus usuários. Em última análise, o mais importante não é exatamente o que consta do programa, nem o sucesso ou fracasso do arquiteto em alcançar seus objetivos. O mais importante é buscar, a partir da observação dos ambientes em uso, uma metodologia que seja mais adequada para gerar informações válidas e dissemináveis para projetos. Paralelamente, as abordagens participativas para a concepção, o projeto e a construção de ambientes de trabalho devem ser incentivadas e disseminadas.
Para que estas abordagens possam ser bem-sucedidas, é necessário que todos os níveis decisórios, em uma empresa ou instituição, encontrem formas de participar deste processo. Como sugestão, seria interessante estabelecer um plano de ação participativa como parte de um processo maior de gerenciamento de projetos (da concepção à execução), integrando ferramentas, metas, níveis e limites de responsabilidade, normas e exigências técnicas, etc. Conforme descrito por Hall (1966), o homem e suas extensões constituem um sistema interrelacionado. Assim, é um erro agir como se os homens fossem uma coisa e sua casa, suas cidades, sua tecnologia, ou sua língua, fosse algo diferente. Devido à inter-relação entre o homem e suas extensões é conveniente prestarmos mais atenção ao tipo de extensões que são criadas e como essas extensões são inanimadas, é preciso alimentá-las com feedback (pesquisa) para se entender o que está acontecendo, em particular no caso das extensões modeladoras ou substitutivas do meio ambiente natural.  
Um interessante ponto de partida poderia ser o estabelecimento de um guia de referência projetual. Existem propostas para uma sistematização básica em forma de um modelo que contemple, em uma linguagem simples e “universal”, as diferentes fases do processo de concepção, tornando-o palatável e adequado para fazer frente à multidisciplinaridade inerente à ação ergonômica, seja ela direta, via os atores envolvidos em um determinado processo de intervenção. Christopher Alexander (1977) estabeleceu uma teoria onde elementos secundários que compõem elementos primários passem por um processo de “padronização” para que sejam utilizados como gabaritos de forma recorrente em situações que se repetem.
A “linguagem de padrões”, tradução não muito eficaz do termo pattern languages, de Alexander, encontrou campo fértil de aplicação na ciência de computação, uma vez que o processo de construção de algoritmos presentes na criação de softwares depende de um encadeamento lógico de códigos conhecidos e aceitos. No que pese as controvérsias sobre a viabilidade de utilização de padrões de projeto no processo de design, por suspeitar-se tolher o processo criativo, a verdade é que a teoria de Alexander atende uma espécie de carência simbiótica, ajudando no enquadramento conceitual interdisciplinar, mais especificamente ajustando programas de necessidades, vínculos socioculturais, normas comportamentais e na própria ação ergonômica.
Afinal, a ergonomia tem forte componente normativo, apropriando-se de referenciais legais e técnicos, que ajudam a definir as chamadas boas práticas de projeto. De fato, a principal referência de adequação ergonômica no design e na arquitetura são os pontos de verificação ergonômica, definidos pela Organização Internacional do Trabalho (FUNDACENTRO, 2001), um conjunto de 145 itens que devem ser seguidos para se garantir a plena satisfação aos requisitos ergonômicos – ou especificações – em projetos. A própria NR 17 (Norma Regulamentadora de Ergonomia), que entrou em vigor no início da década de 1990, funciona como um guia de orientação de projeto.
Ainda que sua linguagem, como toda peça legislativa ou normativa, de certa forma dificulte a disseminação dos conceitos e premissas ergonômicas, iniciativas recentes (CRUZ, 2019; FUNDACENTRO, 2004) tornaram mais efetiva sua interpretação e, consequentemente, sua disseminação através da incorporação de imagens, textos descritivos mais claros. Enfim, a partir de recursos educacionais, como a ludicidade, a Ergonomia foi sendo naturalmente incorporada ao cotidiano das pessoas e ao mundo do design.
E, conforme esse processo ocorria, algumas técnicas e ferramentas de projeto foram sendo incorporadas ao processo criativo. Como em sua própria definição a Ergonomia se propõe a adaptar o ambiente e objetos às necessidades psicofisiológicas dos seres humanos, a antropometria funciona como a materialização de um programa de necessidades ergonômicas, uma espécie de incorporação sistemática de conceitos, princípios e propriedades da Ergonomia ao Design de produtos e ambientes. 
3. Estudo e a prática antropométrica 
A Ergonomia, como vimos, possui estreita relação com diversas áreas do conhecimento humano e suas respectivas práticas profissionais. No caso da prática projetual, muito mais que o enquadramento normativo usual (Normas Regulamentadoras, em especial a NR 17 e legislações específicas de segurança e saúde ocupacional), a Antropometria fornece os parâmetros essenciais de projeto para atender os diferentes tipos de usuários, levando-se em conta suas peculiaridades e limitações.
Além de buscar a compatibilização dos objetos e ambientes com as necessidades específicas dos usuários, a Antropometria ajuda na perenização desses sistemas, revalidando o atendimento das condições de uso na medida da constante evolução social, cultural e, por que não dizer, antropométrica. 
3.1 Antropometria
A antropometria é um campo de estudo e aplicação prática que não é restrito à Ergonomia, ainda que seu emprego ocorra de forma natural no contexto de uma ação ergonômica, mais especificamente de ergonomia de concepção. A antropometria responde às necessidades de design de produtos e do projeto de ambientes, fornecendo as dimensões adequadas para o posicionamento, localização ou manuseio de dispositivos, equipamentos e sistemas de trabalho em geral. Porém, a análise de certas soluções de projeto mostra que algumas inadequações são tão gritantes que nem ao menos passaram por uma lógica de ergonomia ou de design.
Imagine, por exemplo, que, em uma indústria, o acionamento da válvula de um dos equipamentos só pode ser feito quando o operador se arrasta deitado e de costas por vários metros e sob várias tubulações até atingir o ponto da manobra. Nesse caso, nenhuma solução de ajuste antropométrico resolveria tal deficiência de projeto, já que para se permitir o acesso adequado à válvula haveria necessidade de se demolir o silo de produto químico em questão, o que representaria um custo proibitivo.
3.2 Estudo antropométrico
A antropometria é uma disciplina derivada da Antropologia, que busca estudar a natureza da atividade humana e sua evolução. No caso específico, a Antropometria concentra-se na descrição e nas diferenças quantitativas das medidas do corpo humano, buscando estudar as dimensões dos diferentes segmentos corporais tomando como referência as estruturas anatômicas, de acordo com raça, sexo e origem. Além disso, a Antropometria serve como uma ferramenta de projeto, auxiliando a ergonomia na concepção de dispositivos e sistemas destinados à utilização pelo homem, com o objetivo adaptar os ambientes aos diferentes indivíduos.
Assim, um estudo antropométrico abrange os métodos e técnicas que nos possibilitam obter um conjunto satisfatório de medidas e conformações do corpo ou partes do corpo humano, de forma a facilitar sua acomodação aos sistemas de trabalho e objetos de modo geral. Isso se materializa por meio de um levantamento estatístico da população local, que pode ser amostral (quando se coletam dados a partir de um conjunto baseado na população total, conforto preceitos estatísticos) ou censitário (que utiliza dos dados de toda uma população).
A obtenção das medidas corporais é possível graças a alguns equipamentos existentes no mercado, como a escala antropométrica ou o antropômetro. Também pode ser feita por métodos mais elaborados de captura de dados, como a fotogrametria ou a digitalização humana (bodyscan). O desenvolvimento de métodos computacionaisincorporando novos recursos de simulação, visualização 3-D e realidade ampliada, faz antever uma Ergonomia cada vez valorizada enquanto disciplina de projeto, e onde a antropometria tem um destaque especial.
Caso o aspecto dimensional de um posto de trabalho estiver mal elaborado, certamente o operador será obrigado a adotar posturas forçadas, num dado momento, ou executar uma sequência de movimentos desequilibrados numa configuração dinâmica. Este fato pode ser facilmente observado em postos de trabalho cujos pontos de atuação estão muito altos, obrigando o operador a abduzir os ombros, ou flexionar os punhos. Em contrapartida, quando o ponto de trabalho estiver abaixo do recomendado, haverá flexão do tronco numa orientação pelo menos desconfortável. As figuras a seguir indicam valores que devem ser confrontados com os valores provenientes do estudo antropométrico para o caso específico de uma atividade envolvendo controle, acionamento e monitoramento de um processo, utilizando-se de terminais de vídeo ou painéis de comando.
Figura 2 - Modelagem antropométrica de trabalho com monitoresFonte: Elenabsl, Shutterstock (2020).
#PraCegoVer: Na imagem, há uma pessoa sentada em sua cadeira na sua estação de trabalho. A imagem demonstra altura que o computador deve estar em relação a altura da pessoa, a posição correta da coluna, altura da cadeira para que os pés fiquem alinhados ao chão.
Na figura seguinte, vemos aspectos relacionados à morfologia humana. Além das variações interpessoais circunstanciais, decorrentes de processos de crescimento, envelhecimento, sedentarismo etc., existe ainda fatores de ordem biológica, ou seja, relacionados à genética dos indivíduos. A figura, baseada na classificação de Sheldon (1941), define 3 grupos básicos de configuração de indivíduos pela forma corporal:
ENDOMORFO – Conformação física com presença acentuada de gorduras, formas arredondadas, com ombros desproporcionais em relação a cintura.
MESOMORFO – Tipo musculoso, de formas angulosas. Pouca gordura corporal e ombros largos.
ECTOMORFO – Corpo e membros finos. Pouca gordura ou músculo, geralmente esguio.
Figura 3 - Modelagem morfológicaFonte: Elaborado pelo autor (2020).
#PraCegoVer: Na imagem, há a figura da modelagem morfológica de três mulheres. A mulher que está a esquerda é caracterizada pela modelagem ectomorfo e possui corpo e membros finos. A mulher que está ao centro é caracterizada pela modelagem mesomorfo e possui corpo de tipo musculoso, de formas angulosas A mulher que está a direita é caracterizada pela modelagem endomorfo e seu corpo possui forma arredondas.
A prática dimensional clássica é feita tomando-se as medidas do esqueleto humano, estruturas mais rígidas do corpo. Outro importante fenômeno antropométrico - a existência de uma tipologia diferenciada de indivíduos em função da região, etnia, condição social, colonização etc - é particularmente importante no Brasil, onde é difícil identificar claramente um tipo brasileiro característico. As populações das regiões brasileiras, portanto, podem apresentar significativas divergências corporais e um quadro antropométrico instável por conta de diversos fatores, como a migração interna. A diversidade antropométrica, portanto, é maior e mais significativa que a diversidade racial e de gênero junto o que torna desafiador o projeto de produtos para o coletivo social. Isso acaba determinando, na prática, a necessidade de uma abordagem criteriosa para um estudo antropométrico particular.
Existe uma série de estudos de casos relatando inadequações provocadas por análises antropométricas errôneas. Alguns desses estudos equivocados provocaram verdadeiros desastres de design em organizações dos mais variados tipos. É o caso, por exemplo, do ajuste biométrico de dispositivos para o pessoal da Força Aérea Norte Americana (SANDERS & MC CORMICK, 1993). Utilizando-se tabelas antropométricas pré-existentes, foram definidos padrões de medidas para a organização. Entretanto, após uma análise de validação em cerca de 4000 indivíduos, não foi encontrado um único caso que estivesse na faixa de 30% da média esperada em um conjunto de 10 medidas distintas.
Um exemplo claro de utilização da antropometria, diz respeito ao dimensionamento de uma bancada ou mesa de trabalho, com utilização tradicional por um indivíduo. A área ótima de trabalho, por exemplo, é definida como um quadrado de 25 cm à frente do indivíduo, o que na prática significa que as operações que necessitem de utilização constante das duas mãos devem estar preferencialmente posicionadas dentro desta área. Já na área de alcance ótimo devem ser priorizadas todas as demais operações rotineiras, de natureza intermitente e baixa frequência. Por fim, na área de alcance máximo, devem estar posicionados dispositivos de uso bastante eventual, cujo acionamento inadvertido poderia causar algum problema. Essa caracterização de alocação de funções pode ser observada na figura a seguir. 
Figura 4 - Modelo de ajuste antropométrico para trabalho em bancadaFonte: Elaborado pelo autor (2020).
#PraCegoVer: Na imagem, há uma estação de trabalho e os ângulos antropométricos de alcance máximo, área ótima para trabalho com duas mãos e alcance ótimo.
Ao se falar em Antropometria num contexto geral, costuma-se diferenciar a antropometria estática, que trata das diferenças estruturais do corpo humano, em diferentes posições e sem ação do movimento, da chamada antropometria dinâmica, que considera as posições resultantes do movimento, tendo maior correspondência à biomecânica e às atividades de trabalho, lazer, etc. Os autores fazem esta distinção e outras classificações muito mais para clarificar as aplicações possíveis das diferentes tabelas e ferramentas antropométricas do que por razões conceituais, já que na prática a Antropometria precisa ser abordada de forma integrada e não dissociada das atividades humanas.
A biomecânica aplica as leis da mecânica às estruturas do aparato locomotor, uma vez que o ser humano está formado por alavancas (ossos), tensionadores (tendões), molas (músculos), elementos de rotação (articulações), etc., que cumprem muitas das leis da mecânica. A biomecânica permite analisar os elementos distintos que intervêm no desempenho dos movimentos. A busca de uma adaptação física, ou interface, entre o corpo humano em atividade e os diversos componentes do espaço ao seu redor, é a essência das respostas que a antropometria pretende oferecer no sentido da adequação dos dispositivos e sistemas às necessidades pscicofisiológicas dos seres humanos. Antes de prosseguir, seria importante advertir que os resultados de um estudo antropométrico devem ser aplicados com grande reserva e coerência. A falácia do homem médio, inicialmente resultado de uma má compreensão do conceito de medida humana no projeto, foi denunciada por Designers e famosos Arquitetos como Le Corbusier, um nome representativo da arquitetura moderna. Feita a ressalva, é importante compreender que sempre haverá a necessidade de se seguir algum padrão de uso ou usabilidade como parâmetro para orientação métrica, baseado em médias ou faixas estatísticas, tanto no design de equipamentos e dispositivos como em projetos de ambientes. 
3.3 Antropometria no projeto
O dimensionamento dos objetos de uso comum, sejam elas utilizada por pessoas, no trabalho ou então na vida pessoal, são parte integrante e fundamental de toda e qualquer proposta de elaboração antropométrica. Para os designers de interiores, a antropometria ajudará a dimensionar o lugar do homem, seu ambiente imediato, que deverá considerar uma série de fatores examinando-se uma diversidade de aspectos, dentre os quais nem sempre o aspecto antropométrico será o mais importante. A ideia básica da ergonomia é a da interface, a do relacionamento entre a pessoa e seu lócus social. Assim sendo, nosso corpo se relaciona com o lugar de trabalho, de lazer, de descanso, em vários momentos e sob varias circunstâncias.
Para bem aplicar antropometria, deve-se ter em mãos um inventário mínimo desses momentose circunstâncias através de uma análise ergonômica, conforme foi apresentada na Unidade 1. De posse deste estudo se estabelece uma ou mais posições de base e suas variantes essenciais, correspondendo às ações características do processo. Estas posições devem ser fotografadas de frente (plano frontal) e de lado (plano sagital). Com isso se pode avaliar o ambiente para modifica-lo, por exemplo. Esta avaliação se faz buscando determinar qual a dimensão do indivíduo em relação ao seu posto (altura, profundidade, distância de mesa, bancada, etc.) e se algo estaria forçando a postura por não corresponder a uma dimensão antropométrica correta. A esta condição chamamos de variável limitadora. Cada variável limitadora corresponde a uma dimensão antropométrica e esse é o ajuste a ser feito combinar a dimensão (do objeto) com a antropometria (do sujeito).
Para fazer isso podemos escolher diversas opções, e é por isso que se torna necessário adotar um critério. Em antropometria o critério é o que nos definirá a abrangência e a forma do ajuste ou adequação necessária. Por exemplo, pode-se empregar um critério de distribuir uniformemente o desconforto adotando uma antropometria baseada na média, desde que o posto em questão não seja de uso constante ou frequente. Para alguns casos, três padrões de regulagem serão suficientes para atender as características de um posto e seus usuários. Da mesma forma, em certos casos irão determinar a necessidade de se criar múltiplos ajustes, que atendam a praticamente todo tipo de antropometria individual, ou uma grande amplitude antropométrica. 
FIQUE DE OLHO: A amplitude antropométrica está relacionada aos chamados percentis antropométricos, que serão vistos adiante. Uma faixa de regulagens situada entre o 25º e o 75º percentil, por exemplo, tem baixa amplitude antropométrica, enquanto uma faixa entre o 5º e o 95º seria considerada de grande amplitude, pois os produtos resultantes tenderão a atender um número maior de indivíduos que no primeiro caso, uma vez que ficariam de fora os indivíduos cujas medidas segmentais consideradas estiverem abaixo de 25% e acima de 75% em relação ao conjunto populacional analisado. 
Os principais critérios antropométricos empregados são:
· Uso de médias.
· Uso de extremos.
· Uso por faixas (regulagens).
· Projetos específicos.
As médias cabem ser empregadas em situações onde não há como se definir o usuário, por se tratar
de um objeto, mobiliário ou equipamento de uso generalizado como bancos de praça, cadeiras de sala-de-espera e assim por diante. O critério da média não é um critério de conforto, pois apenas distribui o desconforto: se por um lado todos são considerados no projeto, ninguém fica bem acomodado, já que o homem médio é uma abstração matemática e pouquíssimos indivíduos terão medidas correspondendo exatamente à média da população.
Já o uso de extremos envolve certas variáveis limitadoras que permitem o uso de um critério de grande inclusão ou de grande exclusão. Por exemplo, a altura de uma porta. Ela deve ser dimensionada para que a maior pessoa de uma população passe sem bater a cabeça, ainda que muitos passem folgadamente pelo vão. Se fosse adotado o critério da média, metade da população passaria e a outra metade teria de se agachar para passar.
Na figura a seguir está representada uma janela de um ônibus e dois passageiros, um em pé e outro sentado. A parte superior da janela deve permitir aos mais altos olhar para fora sem precisar se agachar ou flexionar o pescoço. Por sua vez, a parte inferior da janela deve permitir as pessoas sentadas, mesmo as de menor estatura, olharem para fora sem serem obrigadas a se levantar ou entender o pescoço. Neste caso utiliza-se tanto o extremo superior como o extremo inferior no projeto. Nesse caso, para determinar os extremos normalmente estudamos a distribuição antropométrica e adotamos uma faixa ampla, em geral do 5% percentil (extremo inferior) ao 95% percentil como extremo superior.
Figura 5 - Modelo de ajuste antropométrico para passageiros em pé e sentadoFonte: Elaborado pelo autor (2020).
#PraCegoVer: Na imagem, há dois passageiros, um sentado e outro em pé e, a figura refere-se aos ajustes antropométricos.
Os percentis referem-se aos marcos dimensionais para cada conjunto de faixas de medidas. Portanto, ao se dimensionar para o 5° percentil de uma população de trabalho, independentemente do sexo, isso quer na prática dizer que o design do produto estará adequado para as pessoas que são da mesma altura ou mais altas do que 5% de uma população, enquanto que o 95° percentil significa que estará sendo adequado o design às pessoas de altura igual ou inferior aos 5% mais altos dessa mesma população. No caso da estatura na América Latina e com base na tabela antropométrica apresentada na página seguinte, estes valores seriam 1,519 m e 1,849 m, respectivamente.
Complementando, ao se referir ao 50° percentil, na prática estabelece-se o critério das médias, já que o 50° percentil é exatamente o ponto médio das dimensões antropométricas. Na tabela apresentada, decorrente de um estudo antropométrico da década de 1990, não estão representados outros percentis além do 5° e 95°, porém estes e outros índices podem constar em outras tabelas, já que fazem parte dos pares usuais de percentis e respectivamente das variáveis limitadoras utilizadas em projetos. 
Quando se trata de material empregado por mais de um indivíduo, por exemplo, cadeiras utilizadas por pessoas que trabalham em turnos, deve-se optar em utilizar objetos, equipamentos e mobiliários com regulagens, para que a pessoa que inicia o trabalho não seja constrangida a assumir as dimensões antropométricas daquele que terminou de sair. Isso faz com que sejam utilizados padrões de medidas extraídas de tabelas ou inferidas a partir de estudos antropométricos que definam tais parâmetros. Esse aspecto pode permitir inclusive a aquisição de mobiliário de menor custo, desde que a adequação ao seu usuário seja feita dentro de padrões antropométricos aceitáveis e pertinentes à tarefa executada.
Em contrapartida, existem casos específicos de situações individualizadas ao ponto de que o único ajuste antropométrico aceitável é para um usuário específico, como é feito no caso de projeto de assentos de pilotos de Fórmula 1, que são moldados na exata configuração do corpo de cada piloto, garantindo-se a máxima eficiência de sua utilização. Também existem critérios antropométricos (ver estudo de caso) que se originaram da observação para compatibilização dos postos de trabalho. Um exemplo clássico é a escolha da altura de uma bancada de trabalho. Como dificilmente uma bancada pode ser ajustável a diferentes usuários, deve-se priorizar a altura do plano de trabalho em função da estatura do maior trabalhador. Não se trata de discriminar os “baixinhos”, mas sim de preservar o sistema musculoesquelético dos trabalhadores mais altos. Afinal, para a acomodação dos mesmos à atividade de forma ereta – sem flexionar a cervical – seria necessário que lhes cortassem as pernas e não simplesmente oferecer uma plataforma aos mais baixos para que pudessem confortavelmente trabalhar na mesma altura de bancada. 
 O dimensionamento antropométrico se realiza, em geral, a partir das seguintes etapas:
1 - Análise da atividade para estabelecer as ações características da tarefa que se realiza em um dado posto de trabalho ou situação.
2 - Montagem de um dossiê fotográfico (frontal e sagital, uma a três fotos por ação característica).
3 - Determinação das variáveis limitadora.
4 - Aplicação de um critério antropométrico por variável limitadora.
5 - Dimensionamento utilizando a tabela antropométrica, dentro dos critérios compatíveis à cada situação de projeto. 
É importante ressaltar que, em geral, utilizam-se nos processos de design tabelas bem mais complexas, contendo dimensões por segmentos corporais específicos (Ex: medida do cotovelo ao joelho de uma pessoa sentada) e de acordo com múltiplas faixas de altura e gênero. Isso é necessário, por exemplo, para o correto

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