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Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo Síndrome consumptiva Conceitos: • Caquexia: perda de peso associada à perda de massa muscular, podendo haver ou não perda de gordura; estado mais grave do emagrecimento; • Desnutrição: deficiência de nutrientes específicos ou globais, associada ou não com a perda de peso; • Sarcopenia: síndrome geriátrica caracterizada por perda de massa muscular, de força e de desempenho; • Desnutrição energético-proteica (DEP): aporte inadequado de energia; associado ou não ao déficit de proteínas; SÍNDROME CONSUMPTIVA • “Emagrecimento involuntário” - estado patológico resultante de absoluta ou relativa deficiência de proteína e energia; • Emagrecimento involuntário: perda de > 2% do peso basal em 1 semana, >5% em 1 mês, >7,5% em 3 meses e > 10% em 6 a 12 meses; em idosos considera-se em perdas maiores que 5% em 6 a 12 meses; EPIDEMIOLOGIA • Incidência semelhante entre homens e mulheres; • Fatores de risco: tabagismo, idade avançada, autorrelato de “mal estado de saúde”; • 15 a 20% de todos adultos com mais de 65 anos terão emagrecimento involuntário; • Causas mais comuns: neoplasias malignas e causas gastrointestinais não malignas; FISIOPATOLOGIA • A perda de peso só ocorrerá se houver uma diminuição do aporte de energia e/ou um aumento do gasto energético e/ou a perda de energia por via urinária ou intestinal; • O peso é determinado por: ingesta, absorção, utilização e a perda - desequilíbrio desses componentes afeta a habilidade em manter o seu peso; • Ingesta calórica: pode ser modificada pelo cheiro ou gosto, anorexia, náusea, saciedade, etc; • Absorção: alteração da motilidade intestinal, função exócrina do pâncreas, capacidade de absorção da mucosa, bactérias da luz intestinal e medicações; • Utilização: afetada pela taxa metabólica - afetada pela resposta inflamatória sistêmica; • Mediadores da anorexia e perda de peso incluem citocinas: o Caquetina (fator de necrose tumoral) e interleucinas; o Substâncias humorais (substâncias semelhante à bombesina, hipersensibilidade à colecistoquinina); o Agentes anorexígenos (fator liberador de corticotropina); • Método mnemônico de Robbins: causas de perda de peso no idoso; consiste nos 9 “Ds”: o Dentição; Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo o Depressão; o Disgeusia; o Demência; o Disfagia; o Disfunção; o Diarreia; o Drogas; o Doença crônica; o Desconhecida (10º “D”); FATORES ORGÂNICOS Neoplasias: • O câncer é uma doença inflamatória ➝ grande produção e liberação de citocinas (TNF alfa, IL-1, IL-6) - são anorexígenas e geram saciedade precoce; • Promovem a perda de massa magra estimulando os processos de lipólise e proteólise (gasto energético acelerado); • Cânceres de cabeça e pescoço podem gerar anosmia, ageusia, hiporexia, disfagia; em neoplasias do TGI pode ocorrer náuseas, vômitos, diarreia e má absorção intestinal; • É um estado de alto consumo de energia, associado a um hipercatabolismo - aumento dos hormônio catabólico (adrenalina e cortisol) e redução dos hormônios anabólicos (insulina) com depleção constante de nutrientes e consumo exacerbado de massa magra; que culmina em emagrecimento involuntário. Doenças grastrointestinais: • Causas não malignas mais comuns; • Mecanismos: vômitos, anorexia, obstrução, medo de se alimentar, mal absorção, inflamação e compressão por aumento de órgãos; • Doença do refluxo gastresofágico; úlcera péptica; doença inflamatória intestinal; síndrome da dismotilidade (gastroparesia, pseudo-obstrução); pancreatite crônica; doença celíaca; constipação; gastrite atrófica; doenças orais (mal conservação dos dentes, periodontite, xerostomia). Doenças endócrinas: • Diabetes mellitus; hipertireoidismo; hipotireoidismo; • Menos comumente: feocromocitoma, insuficiência adrenal, pan-hipopituitarismo, hiperemese gravídica e hiperparatireoidismo (hipercalcemia). Infecções: • Infecções fúngicas, tuberculose, parasitoses, endocardite bacteriana subaguda, infecções pelo HIV e outras infecções ocultas; • Síndrome consuntiva do HIV: fadiga extrema, perda de massa muscular com nível normal de CK e fraqueza muscular proximal discreta (desproporcional à perda da massa muscular); o Biopsia: mostra atrofia intensa de fibras tipo II; Medicações: • Antibióticos, anti-inflamatórios não hormonais, inibidores de receptação de serotonina, metformina, levodopa, inibidores da enzima de conversão de angiotensina (IECA); • Em decorrência dos efeitos adversos da substâncias - anorexia, náusea, diarreia e disgeusia; Doenças cardiovasculares: • Mecanismo: aumento da demanda metabólica, decréscimo do apetite e baixa ingesta de calorias; • Caquexia: complicação frequente da insuficiência cardíaca congestiva (caquexia cardíaca); Doenças neurológicas: • Doenças traumáticas ou degenerativas - AVC, quadriplegia, esclerose múltipla e demência - podem contribuir para disfunção visceral (disfagia, constipação) e outras limitações funcionais que impedem a ingesta calórica; • Parkinson: se associa à dismotilidade intestinal, disfunção na defecação e aumento do gasto energético; Doenças pulmonares: • DPOC grave: pode levar a aumento da demanda metabólica secundária ao aumento do uso dos músculos acessórios da respiração; • Dispneia, aerofagia e efeitos adversos das medicações: causam anorexia, saciedade precoce, inchaço e dispepsia; • Bronquite crônica: o contínuo engolir da expectoração pode levar a distúrbio gastrintestinal e anorexia; Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo Doença renal: • Uremia: causa anorexia, náusea e vômito; • Perda de proteína na urina: (síndrome nefrótica) leva a balanço calórico negativo; • Hemodiálise: é acompanhada por oscilações no equilíbrio metabólico; Doenças do tecido conectivo • Doenças inflamatórias crônicas e agudas: aumentam o gasto energético, associam-se à anorexia e afetam o equilíbrio nutricional; • Doenças do tecido conectivo que afetam o intestino (esclerodermia): produzem distúrbios da motilidade - disfagia, dificuldade no esvaziamento gástrico, pseudo-obstrução e constipação; • Supercrescimento de bactérias pode provocar a mal absorção de nutrientes • Lúpus eritematoso sistêmico e artrite reumatoide: podem se apresentar com vômitos e náusea, anorexia e mal-estar; FATORES RELACIONADOS À IDADE Alterações fisiológicas: • Homens: alcançam seu peso corpóreo máximo ao redor do início dos 40 anos; mulheres: início dos 50 anos; acima dessas idades, o declínio da massa magra normalmente contribui para a maioria da perda de peso após esses picos; o Distribuição do peso nessa faixa etária se desloca das extremidades para os sítios de estoques no tronco; • Pode ocorrer atrofia gordurosa, causando aspecto caquético; Decréscimo do gosto e do cheiro: • Com o progredir da idade, há diminuição da sensibilidade de sentir o gosto e cheiro dos alimentos; • Deficiência de zinco: pode estar associada a disgeusia; Incapacidades funcionais: • Responsáveis por tornar difícil para o idoso comprar e preparar sua comida; • Artrite; AVC; dano visual; doença cardíaca; demência; FATORES PSIQUIÁTRICOS E COMPORTAMENTAIS • Depressão: pode levar a apatia, anorexia e perda de peso; pacientes deprimidos tem diminuição da habilidade de se autocuidar e perdem o interesse de se alimentar; • Ansiedade: fator menos comum de perda de peso; aumento da agitação pode levar a aumento do gasto energético; paciente pode estar preocupado e esquecer de se alimentar; • Luto: pode levar à perda do interesse em se alimentar; • Alcoolismo: frequentemente causa desnutrição; • Sociopatia: idoso pode perder o senso de controle, e a recusa ao alimento pode ser usada como via para ganhar de volta algumgrau de controle e aumentar a interação com os outros; alguns pacientes desenvolvem atitudes anormais acerca da alimentação - medo de sobrepeso; • Isolamento: pode resultar na baixa ingesta de alimentos; perda de audição pode representar entrave para o convívio social do idoso; • Dificuldade financeira: pode tornar inacessível uma alimentação saudável; DIAGNÓSTICO • História e exame físico cuidadosos, associados com testes diagnósticos diretos identificarão a causa em 75% dos pacientes; • Em geral, os pacientes realizam anti-HIV, glicemia, perfil tiroidiano, radiografia de tórax, hemograma e exames de função hepática e renal; • Se houver queixa dispéptica: solicita-se endoscopia digestiva alta; • Considerar avaliar mama, próstata, pulmão, e trato digestivo, mesmo na ausência de sintomas compatíveis; • Identificação de processos infecciosos por meio de hemograma completo, culturas de sangue e urina, raio X de tórax, deve ser feita mesmo na ausência de sinais físicos, uma vez que esses pacientes não conseguem apresentar resposta inflamatória normal; • História clínica/ anamnese: atenção a presença de sinais e sintomas, além da perda de peso - sintomas dispépticos; diarreia; obstipação; febre; dor abdominal; sintomas urinários, ginecológicos e pulmonares; Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo • Exame físico: avaliar sinais vitais que indicarão (febre, dispneia, taquicardia, hiper ou hipotensão); peso e a altura para cálculo do IMC (gravidade do emagrecimento); estado de hidratação; se há lesões de pele e mucosas; o Pesquisa de lesões: ▪ Hipercrômicas: melanomas; ▪ Hipocrômicas anestésicas: hanseníase; ▪ Úlceras de pressão, feridas que não cicatrizam: blastomicose, diabetes mellitus, neoplasias e doenças autoimunes; o Presença ou não de icterícia, cianose e o estado da perfusão periférica; o Exame da cavidade oral: estado de conservação dos dentes (importante na mastigação); presença de lesões na língua, gengivas, bochechas e cavum (podem indicar neoplasias locais ou sistêmicas); TRATAMENTO • Tratamento da causa de base + tratamento de reposição dos nutrientes; • Tratamento inicial: hidratação e reposição de eletrólitos podem ser necessárias antes de se iniciar a realimentação – realizar avaliação frequente do paciente para evitar insuficiência cardíaca por sobrecarga de líquidos; o Pode ocorrer hipotermia – necessário ambiente aquecido para aumentar a temperatura corporal gradativamente; • Realimentação: pacientes gravemente desnutridos; o Deve ser feita em 3 fases com o objetivo de: ▪ Prevenir a piora da deterioração física e corrigir anormalidades potencialmente letais; ▪ Restaurar as funções orgânicas normais e o metabolismo; normalmente, o apetite melhora na 2ª fase; ▪ Restaurar os estoques de nutrientes em falta; o Preferência para a realimentação oral ou enteral em relação à parenteral (menores complicações e aceleram a recuperação da via gastrintestinal); o Deve ser feita em pequenas quantidades e a intervalos frequentes - para prevenir a hipoglicemia; o Quantidades pequenas de alimento por via oral devem ser dadas frequentemente (cada 1 a 4 horas); alimentos enterais devem ser dados por infusão contínua; o Consumo de sódio dever ser limitado durante o início da realimentação; o de fósforo, potássio e magnésio devem ser fornecidos aos pacientes com função renal preservada; o 3ª fase: devem ser ministradas proteínas e calorias para reposição das reservas e síntese de novos tecidos; o Meta da ingesta de nutrientes em pacientes com baixo peso e pronunciada perda de peso: 30 a 35kcal/kg/dia com 20% ou mais de conteúdo proteico; pacientes idosos malnutridos e naqueles com leve a moderada doença, a meta é 40kcal/kg/dia; o Complicações da realimentação: ▪ “Síndrome da realimentação”: ocorre geralmente nos primeiros 5 dias e se expressa por sobrecarga de líquidos; desequilíbrio eletrolítico; intolerância à glicose; arritmias cardíacas; diarreia; Tratamento farmacológico: Ana Luiza Spiassi Sampaio @anassampaioo REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASTER, K. A. Robbins Patologia Básica. 10. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018. Brasileiro Filho, Geraldo. Bogliolo, Patologia. 9. ed. – Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2016. Hall, John E. Tratado de fisiologia médica. 13. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2017. Patologia: processos gerais. 6. ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2015. Rasslan Z, Castelluccio JF, Lima CAC. Síndrome consumptiva. Sociedade Brasileira de Clínica Médica; Lopes AC, Cipullo JP, Kubiak CAP, organizadores. PROCLIM Programa de Atualização em Clínica Médica: Ciclo 12. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2015. SILVERTHORN, D. Fisiologia Humana: Uma Abordagem Integrada. 7. ed. Artmed, 2017.
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