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Redes Sociais e Comunicação Autoria: Danusa Lopes Bertagnoli Tema 01 Práticas de Leitura: do Impresso ao Digital Tema 01 Práticas de Leitura: do Impresso ao Digital Autoria: Danusa Lopes Bertagnoli Como citar esse documento: BERTAGNOLI, Danusa Lopes. Redes Sociais e Comunicação: Práticas de Leitura: do Impresso ao Digital. Caderno de Atividades. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2015. Índice © 2014 Anhanguera Educacional. Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma. Pág. 16 Pág. 17 Pág. 18 Pág. 16 Pág. 14Pág. 12 ACOMPANHENAWEB Pág. 3 CONvitEàlEiturA Pág. 3 POrDENTRODOTEMA 3 Práticas de Leitura: do Impresso ao Digital Um Percurso da Leitura: do Impresso ao Digital A chegada da internet, ao mesmo tempo em que foi comemorada, trouxe algumas inquietações, especialmente em relação às modificações que promoveu sobre algumas práticas humanas já consolidadas, como a leitura e a escrita. Apesar de já existir um certo volume de trabalhos que procuram compreender esse novo fenômeno, a internet ainda é cercada de muitos questionamentos, bem como de afirmações leigas, que sustentam certo preconceito em relação a ela. Em relação à produção e à leitura de textos digitais, inicialmente, pensava-se que o computador e a internet eram apenas um suporte diferente. O texto em papel era transportado para a tela, mas seguia sendo um texto. No entanto, logo se começou a perceber que não se tratava apenas de uma simples diferença de suporte, uma vez que essa diferença impacta nas práticas de escrita e de leitura de diversas formas. A internet tem sido tema de debate entre estudiosos de diferentes áreas, que se interessam principalmente pelas transformações que ela tem provocado na sociedade, na cultura e, no que interessa aqui, no uso da linguagem. No que diz respeito ao uso da língua, ela suscita questões sobre elementos importantes para a Linguística, como as relações entre sincronia e diacronia, modalidade escrita e oral, linguagem formal e informal; a relação entre autor e leitor, bem como o próprio conceito de autoria; a definição de texto e a prática da leitura. Se essas já eram questões complexas de serem respondidas, com a internet surge a necessidade de rever as teorias sobre a linguagem e criar novos modelos de análise que contemplem essa nova realidade linguística. Para começarmos a discutir essas questões, abordaremos, neste tema, a influência da internet sobre as práticas de leitura, o que exige por sua vez que tratemos também das noções de autoria e de hipertexto. CONvitEàlEiturA POrDENTRODOTEMA 4 Braga e Ricarte (2005) afirmam que a leitura na tela do computador tem implicações físicas, como o cansaço visual gerado pelo brilho da tela, pela necessidade de movimentos oculares mais amplos (devido à resolução da tela) e pela posição fixa para a leitura. Esses elementos à primeira vista podem parecer nada ter a ver com o texto em si ou com a leitura, porém os autores mostram que essas modificações têm impacto sobre a estruturação do texto, pois essas limitações fazem com que a informação seja disponibilizada de uma nova forma. O texto digital tem também um impacto na leitura no que diz respeito ao esforço cognitivo. Para Marcuschi (2001), o novo espaço de escrita propiciado pela internet pode ser entendido como um espaço cognitivo em que as estratégias que utilizamos hoje para lidar com o texto precisam ser revistas. Por serem fragmentários e não lineares, os textos digitais exigem um esforço maior do leitor, que precisa ter um conhecimento mais amplo sobre diferentes áreas para relacionar esses fragmentos e traçar rotas de leituras, o que provoca um stress cognitivo, definido por Marcuschi (2001, p. 85) como “a carga ou pressão cognitiva que o hipertexto põe a mais para o seu leitor em relação ao leitor de um texto impresso ou linear”. Dessa forma, percebemos que tratar o computador e a internet apenas como mais um suporte de leitura é uma visão ingênua, que desconsidera diversas implicações que esses novos meios têm tido não apenas sobre as nossas práticas de leitura mas também sobre a nossa maneira de se relacionar com o mundo. De acordo com Carr (2010 apud RAJAGOPALAN, 2013, p. 48), “a internet veio mudar as nossas formas de pensar, ler e lembrar as coisas”. Para compreender as transformações que a internet traz em relação à leitura, faremos um breve percurso sobre as práticas de leitura, do texto impresso ao digital, a partir dos trabalhos de Chartier (1994, 1999). Em seu livro A Aventura do Livro, Chartier delineia uma história da leitura a partir dos principais eventos que modificaram a produção e a circulação de livros ao longo dos séculos. Segundo o autor, a invenção da imprensa em meados do século XV é um marco importante nessa história, pois modificou os modos de reprodução de textos e de produção de livros. Ela propiciou a difusão do acesso à leitura que, com os manuscritos, estava restrito aos mosteiros medievais. No entanto, Chartier (1994) afirma que esse momento não pode ser tratado como aquele em que temos o aparecimento do livro, como defendem alguns autores, pois não houve uma ruptura tão grande entre o manuscrito e o livro: este continua a ser estruturado em papel dobrado e encadernado, com uma escrita linear, é percebido como uma obra em seu todo etc. Já o surgimento do livro digital promove grandes rupturas em relação ao livro impresso, justamente por alterar tanto a sua estrutura material como a textual. A materialidade do livro se perde, uma vez que no meio digital ele é virtual, não POrDENTRODOTEMA 5 sendo mais um objeto manuseável como o livro impresso, e sua organização textual também se modifica, dispensando a linearidade, por exemplo. Com o monitor, que vem substituir o códice, a mudança é mais radical, posto que são os modos de organização de estruturação, de consulta do suporte do escrito que se acham modificados. Uma revolução desse porte necessita, portanto, outros termos de comparação. (CHARTIER, 1994, p. 187). Outra modificação importante trazida pelo texto digital é a revisão dos papéis dos agentes envolvidos na produção e na circulação dos livros: autor, editor, distribuidor, crítico e leitor. Como a internet tem como uma de suas características a liberdade para a produção e difusão da informação, o distribuidor do livro, por exemplo, perde força pela atuação dos sites de compartilhamento de arquivos. O editor também tem sua função enfraquecida, já que qualquer um pode editar seu livro (ou o de outros), bem como distribuí-lo na rede, juntando, assim, funções diferentes. E em relação ao crítico de texto, observamos que, em última instância, todos nós passamos a ser críticos, pois na internet há inúmeros espaços reservados aos internautas para que comentem os conteúdos que acessam. É evidente que esses agentes seguem atuando no mercado de produção e circulação de livros, mas não há como negar que a internet comprometeu a exclusividade de suas funções. Contudo, a transformação mais marcante diz respeito à relação autor-leitor e aos papéis que cada um desempenha na produção do texto digital. Os trabalhos que se debruçam sobre a leitura de textos digitais concordam que a internet propiciou mais espaço e maior liberdade ao leitor. Mais espaço porque na internet o leitor pode comentar os textos e intervir neles, recortando-os, reproduzindo-os e compartilhando-os. Maior liberdade porque, por meio dos links que permeiam os textos digitais, o leitor pode traçar rotas diferentes de leitura, o que não era permitido pelo livro impresso, cuja estrutura textual linear e limitada por margens e páginas predefinia esse percurso. Chartier (1994) observa duas mutações fundamentais na história da leitura. A primeira delas diz respeito à passagem da leitura oralizada para a leitura silenciosa e visual, ao longo da Idade Média, especialmente quando ela deixa de se restringir aosmonastérios e passa a ser incorporada nas universidades, por volta do século XII, chegando mais tarde à aristocracia. A mudança de “lugar” da leitura é importante na medida em que ela modifica a própria maneira de ler: se nos monastérios ela tinha como função copiar um livro e conservar o saber, nas universidades ela passa a funcionar como um trabalho intelectual individual de deciframento (da letra, do sentido e da doutrina). Observamos, assim, que essa primeira revolução ampliou o alcance da leitura, bem como a sua função. Outra transformação importante, considerada por Chartier (1994) como uma revolução da leitura, é o surgimento do texto eletrônico, devido às grandes diferenças que ele traz em relação ao códice. O texto digital substitui a materialidade do POrDENTRODOTEMA 6 texto impresso por sua virtualidade, é composto de fragmentos que podem ser lidos e combinados de diferentes formas – o que altera por sua vez a percepção de uma obra em sua totalidade –, e a leitura é definida como uma navegação – definida pelo próprio leitor e não mais pelo autor do texto. Se a invenção da imprensa no século XV e seu desenvolvimento ao longo dos séculos posteriores já tinham promovido o aumento da produção e circulação de textos, o computador e a internet potencializaram esse processo. O computador permitiu que os textos fossem manipulados de modo mais ágil por qualquer pessoa que o tivesse, ao passo que a internet permitiu que eles fossem espalhados para todo o mundo, ampliando, assim, o alcance de textos que antes ficavam restritos a um determinado espaço. Essa oferta maior de textos que encontramos na internet nos leva a pensar sobre como lidamos com essa nova realidade e que impactos ela tem sobre a cultura impressa, com a qual o mundo estava acostumado anteriormente. Para compreender essa questão, Chartier (2002) afirma que é necessário avaliar três importantes rupturas trazidas pela revolução do texto digital, que são classificadas pelo autor como da ordem dos discursos, da ordem das razões e da ordem das propriedades. Vejamos como ele trata cada uma delas. A ordem dos discursos diz respeito ao modo pelo qual categorizamos os diferentes discursos na cultura impressa, a partir de suas diferentes materialidades (livro, jornal, revista), configurações textuais e formas de leituras. Ela foi estabelecida pela difusão do códice, pelo aparecimento do livro unitário e pela invenção da imprensa. O computador rompe com essa ordem na medida em que ele reúne diferentes tipos de textos que eram antes distribuídos em diferentes objetos materiais. A leitura que antes se daria de modo diferente a depender do objeto (livro, jornal, revista), no computador, passa a se dar da mesma forma, pois ela se realiza em um único suporte. Nesse sentido, há com a internet e o computador uma continuidade dos discursos, pois desaparecem os critérios para distingui-los, classificá-los e hierarquizá-los a partir de sua própria materialidade (CHARTIER, 2002, p. 23). Para o autor, o desaparecimento da categorização está atrelado ainda a outro problema: a perda da percepção da obra como obra, com uma identidade singular e uma coerência interna. Segundo Chartier, no meio eletrônico: O que se torna mais difícil, contudo, é a percepção da obra como obra. A leitura diante da tela é geralmente descontínua, e busca, a partir de palavras-chave ou rubricas temáticas, o fragmento textual do qual quer apoderar-se (um artigo em um periódico, um capítulo em um livro, uma informação em um web site), sem que necessariamente sejam percebidas a identidade e a coerência da totalidade textual que contém esse elemento. (CHARTIER, 2002, p. 23). POrDENTRODOTEMA 7 Um exemplo interessante dessa perda da percepção da obra em sua totalidade é o que ocorreu com a figura do álbum de músicas (seja em CD, seja em LP). O álbum musical foi enfraquecido com a sua disponibilização na internet, pois hoje é possível comprar as músicas individualmente, deslocando-as da relação que têm com outras músicas do álbum, o que é fortemente determinado pela indústria da produção de sucessos/hits musicais. De fato, a transformação da forma como percebemos atualmente os produtos culturais, sejam eles textuais, musicais ou visuais, é um fenômeno promovido pela internet que parece ser irreversível, ainda que haja pontos de resistência para a apreciação e compreensão das obras em sua completude. No entanto, a afirmação de Chartier sobre o desaparecimento da categorização dos discursos deve ser recebida com ressalvas. É certo que essa categorização não se dá mais de acordo com a materialidade do objeto manuseável, já que houve mudanças no suporte de leitura, no entanto, podemos pensar que a internet tem sua própria materialidade (ainda que não física) e que é possível pensar a partir dela em novas classificações e hierarquizações, diante da pluralidade de tipos textuais que circulam na rede. A segunda das rupturas avaliadas por Chartier (2002) é a da ordem das razões. Segundo o autor, ela diz respeito à modificação da forma como a argumentação é construída em um texto. No texto digital, essa argumentação é aberta, uma vez que não é mais linear nem dedutiva, devido ao caráter fragmentário desse tipo de texto e à possibilidade de guiar a leitura acessando diferentes links. Além disso, a internet permite que o leitor comprove a validade de qualquer demonstração, consultando os materiais referenciados, caso estes estejam digitalizados. Isso transforma a leitura na medida em que se modifica a relação de confiança entre leitor e autor, já que este agora pode ser questionado ou refutado facilmente. Por fim, Chartier (2002) trata da ruptura da ordem das propriedades, que são de caráter textual (características da organização textual) e jurídico (copyright). No primeiro caso, temos as profundas transformações das propriedades textuais no texto digital, pois este se caracteriza por ser mais fragmentado, a fim de atender às necessidades do novo suporte, o que produz uma leitura descontínua e segmentada. Essa nova configuração nos leva a repensar, inclusive, a própria noção de texto que, na era digital, precisa ser compreendido a partir de certas particularidades. No segundo caso, temos uma ruptura na forma como se dava a relação entre autor e leitor, bem como nos papéis que cada um tem nesse processo. Enquanto a figura do autor perde força, o leitor ganha espaço, tornando-se mais participativo ao se apropriar do texto digital (recortando, deslocando e recompondo fragmentos de texto). Essas duas rupturas promovidas na ordem das propriedades transformaram as práticas de leitura de um modo bastante contundente, gerando a revisão do modo como compreendemos o processo de leitura e escrita, bem como as figuras de autor e leitor. A seguir, discutimos esses dois pontos de modo mais detalhado, pois a sua compreensão é de fundamental POrDENTRODOTEMA 8 importância para avançarmos no nosso conhecimento sobre o impacto da internet em nossa cultura, bem como para construirmos novas práticas de ensino de leitura e escrita. O Hipertexto Como vimos no tópico anterior, a mudança do suporte impresso para o eletrônico alterou não apenas as práticas de leitura como também a própria textualidade, ou as propriedades do texto. Isso porque esse novo suporte, ao modificar os procedimentos de leitura, exige que se alterem também as formas de se construir um texto, de modo a contemplar as exigências do novo suporte, dando origem, assim, ao que chamamos de hipertexto. De acordo com as considerações de Marcuschi (2001), podemos definir o hipertexto como uma rede de segmentos textuais conectados que preveem uma leitura não linear. Dessas poucas palavras, podemos extrair as particularidades que diferenciam o hipertexto do texto. Ainda não está claramente definida a relação entre os dois conceitos, mas os utilizaremos aqui para nos referirmos ao texto eletrônico e ao texto tradicional ou impresso, respectivamente. O primeiroponto que trazemos dessa definição é “rede de segmentos textuais”. Definir texto não é uma tarefa fácil, visto que diferentes teorias podem defini-lo preconizando aspectos diferentes; no entanto, uma ideia comum a essas definições é a de que o texto é uma unidade de sentido. Você poderia pensar que até aí não há diferença em relação ao hipertexto, mas a diferença está justamente no processo de produção: enquanto o texto é pensado como uma unidade fechada, em que cada “peça” do texto tem uma clara relação com as outras “peças”, o hipertexto é formulado como uma rede aberta, ou seja, que pode ser composta de diferentes maneiras. Nesse sentido, o hipertexto é fragmentado, em contraposição ao texto que tem uma unidade. Outra característica apontada na definição é a exigência de uma leitura não linear. O texto, enquanto uma unidade pensada por um único autor, define previamente o caminho que o leitor deverá seguir para lê-lo, pois há certos elementos nele que guiam essa leitura, como as margens, os parágrafos e a limitação em páginas, que por sua vez são numeradas. Já o hipertexto não tem esses elementos guiadores, deixando livre ao leitor as possibilidades de ordem da leitura. A leitura não linear é permitida pela existência dos links que permeiam o hipertexto e podem levar o leitor a outros hipertextos, em um movimento infinito. Marcuschi (2001) argumenta que nem todos os textos tradicionais preveem uma leitura linear, pois há materiais como as enciclopédias, as listas telefônicas e os dicionários, que são objetos de consulta e que permitem uma leitura não linear. No entanto, o hipertexto vai além da função de consulta, pois liga textos diversos, de diferentes gêneros, que são conectados por algum elemento comum, em uma rede infinita. PolíticaEducação OpiniãoCotidianoCulturaClassificados JORNAL DA MANHÃ POrDENTRODOTEMA 9 Para observarmos essa característica do hipertexto, podemos tomar como exemplo um jornal no suporte impresso e outro no suporte eletrônico. O jornal impresso define previamente a sequência com que seus cadernos são organizados: um caderno é colocado atrás do outro a partir de uma hierarquização dos diferentes temas, o que define previamente um percurso de leitura. O jornal eletrônico funciona de um modo diferente, pois, não sendo material, cada uma de suas seções, em vez de uma atrás da outra, está posta uma ao lado da outra (Figura 1.1), sem uma sequência de leitura definida. É claro que, por trazer os cadernos separadamente, o jornal impresso permite que o leitor selecione apenas aqueles que lhe interessam bem como os leia na ordem que quiser, o que, entretanto, não invalida o fato de que o jornal foi pensado e construído a partir de uma ordem prévia de leitura, uma ordem preferida estrategicamente pelo jornal. Esportes Economia Política Educação Opinião Cotidiano Cultura Classificados JORNAL DA MANHÃ Sábado, 10 de janeiro de 2015 8:41 Figura 1.1 Exemplo fictício de jornal eletrônico Fonte: Elaborada pela autora. Podemos ir além com esse exemplo, mostrando que o jornal impresso define um percurso de leitura organizado cronologicamente, ou seja, os textos são lidos de acordo com o dia em que o jornal foi publicado. Um percurso de leitura possível seria começar pela leitura da capa com as notícias principais, em seguida passar ao editorial e depois a uma notícia de política, todos publicados no mesmo dia. Já no jornal eletrônico poderíamos começar com o editorial que pode trazer na mesma página um link para uma notícia, publicada anteriormente, que se relaciona ao tema tratado nesse editorial. Nesse caso, o leitor pode optar por ler essa notícia publicada em outro dia, que por sua vez pode levá-lo a um artigo de opinião, e, assim, a rota de leitura deixa de ser determinada pela data para ser determinada pelo assunto. Essas duas características nos levam, por fim, a um terceiro aspecto que caracteriza o hipertexto: a liberdade do leitor. O hipertexto, por sua estrutura, prevê uma interatividade maior do que aquela com o texto impresso, pois na internet o leitor pode não apenas escolher seus percursos de leitura como também interferir na produção do texto e ainda comentá-lo. POrDENTRODOTEMA 10 Podemos encontrar, por exemplo, obras literárias abertas, que propõem mais de um desfecho, permitindo, assim, ao leitor que escolha o desfecho que desejar. Ou ainda obras produzidas por uma escrita colaborativa, ou seja, escrita por diferentes pessoas de maneira conjunta. Podemos sintetizar nossa discussão a partir da definição que Marcuschi (2001) faz de hipertexto: Retomando a definição de hipertexto e sugerindo uma caracterização mais sistemática, lembro que o termo hipertexto foi cunhado por Theodor Holm Nelson em 1964, para referir uma escritura eletrônica não sequencial e não linear, que se bifurca e permite ao leitor o acesso a um número praticamente ilimitado de outros textos a partir de escolhas locais e sucessivas, em tempo real. Assim o leitor tem condições de definir interativamente o fluxo de sua leitura a partir de assuntos tratados no texto sem se prender a uma sequência fixa ou a tópicos estabelecidos por um autor. Trata-se de uma forma de estruturação textual que faz do leitor simultaneamente coautor do texto final. O hipertexto se caracteriza, pois, como um processo de escritura/leitura eletrônica multilinearizado, multissequencial e indeterminado, realizado em um novo espaço de escrita. (MARCUSCHI, 2001, p. 86). Ainda que o hipertexto tenha particularidades, ele mantém algumas propriedades do texto impresso, como a coesão, a coerência e a referenciação. Nesse sentido, entendemos que as teorias do texto, desenvolvidas para se estudar o texto tradicional, aliadas aos novos estudos que trabalham as especificidades do texto digital, podem contribuir para a compreensão do hipertexto e seu impacto nas práticas de leitura. Cabe aqui ressaltarmos que todas essas transformações que temos tratado em relação ao hipertexto e às práticas de leitura estão intimamente relacionadas ao contexto social, histórico e cultural que estamos vivendo. Podemos perceber, por exemplo, como o caráter fragmentário do hipertexto responde à nossa necessidade de obtermos um número cada vez maior de informações em um espaço menor de tempo, bem como à especialização do conhecimento. Além disso, trazemos aqui apenas alguns pontos que envolvem o hipertexto, que é bastante complexo e exige maior aprofundamento. Os Papéis de Leitor e Autor nos Textos Digitais Como mostramos anteriormente, o hipertexto se caracteriza por uma nova textualidade que, consequentemente, irá alterar a relação do leitor com o autor e destes com o texto. Essa relação passa a ser mais próxima ao mesmo tempo em que começa a desparecer a dicotomia entre autor e leitor. Como vimos, a nova estrutura textual dá mais liberdade de participação ao leitor, já que ele pode escolher a maneira como deseja ler o texto, ao contrário do que ocorria com os textos impressos que previam uma única forma de leitura já definida e fechada. No entanto, a ampliação da participação do leitor vai além das possibilidades de leitura que ele pode criar, envolvendo outras três ações: o apoderamento de textos alheios, a difusão da produção textual e sua circulação, e a dialogia. POrDENTRODOTEMA 11 O apoderamento diz respeito ao conjunto de ações que o leitor pode fazer sobre um texto que não é de sua autoria, entre elas recortar e recompor fragmentos de textos diversos, construindo, assim, um novo texto, do qual seria o autor. Essa ação só é possível devido ao caráter fragmentário dos textos digitais que, ao permitir a leitura não linear, permite também diferentes combinações de segmentos textuais. Um exemplo desse apoderamento são as fanfics que se espalharam recentemente na internet. Outro aspecto que mostra o enfraquecimento da noção de autoria é a possibilidade, trazida pela internet, de produzir e divulgar textos por conta própria, sem a validação de um editor.Ou seja, para os textos digitais, a autoridade não é um fator determinante, não é necessário mais que uma editora convide alguém para escrever sobre algo ou valide uma obra, uma vez que qualquer pessoa pode escrever sobre um assunto que lhe interesse e divulgar o seu trabalho na rede. Poderíamos nos perguntar se esse tipo de texto teria leitores, já que partiriam de pessoas desconhecidas, muitas vezes com pouco conhecimento sobre o que escrevem. A resposta seria sim, há leitores para esses textos, pois, nesse caso, há um marketing no sentido de se pedir que um leitor siga o outro, como ocorre com muitos blogueiros. Outra ação que caracteriza o papel ativo do leitor, possibilitado pelo texto digital, é a dialogia, pois, por meio dela, ele pode ter contato direto com o autor dos textos que lê. Observamos, assim, que a possibilidade de diálogo entre leitor e autor evidencia uma nova forma de leitura, possivelmente mais crítica, já que o leitor tem agora a oportunidade de se expressar sobre o que leu. Além disso, o diálogo se dá não só entre leitor e autor mas, principalmente, entre os próprios leitores, que podem agora trocar ideias acerca do texto. O próprio texto digital já prevê a participação do leitor, pois em geral tem em sua estrutura um espaço para comentários, algo que não faz parte da estrutura do texto impresso. Tudo o que tratamos aqui caminha para um ponto comum: o enfraquecimento da autoria. Isso não quer dizer que ela tenha desaparecido, conforme afirmam (ou desejam) alguns autores. Ela continua presente em muitos espaços de escrita, como o jornalístico e o acadêmico, e envolve aspectos para além das questões textuais: entre eles uma forte determinação ideológica que divide os saberes a partir de uma hierarquia produzida politicamente. Nesse sentido, entendemos que podemos pensar a relação autor-leitor nas práticas de leitura na era digital sob dois pontos de vista. Um em que o hipertexto promove o surgimento de um leitor ativo e o enfraquecimento da noção de autoria, embaralhando assim os papéis dessas duas figuras já estabilizadas na história da leitura. Outro em que vemos surgir a difusão da autoria e o nascimento de um leitor crítico que se posiciona, o que pode promover a democratização do acesso ao conhecimento e à informação. Um exemplo dessa última perspectiva é o surgimento das mídias alternativas que fazem um contraponto à mídia de massa, controlada geralmente por uma elite. POrDENTRODOTEMA 12 Percebemos, assim, que essa é uma questão complexa, que deve ser pensada com cautela. Devemos considerar as implicações teóricas dessa fluidez entre os conceitos, a fim de refletirmos sobre novas práticas de ensino de leitura e escrita, mas também as suas implicações práticas, como o impasse que se tem hoje quanto à questão dos direitos autorais. Dessa forma, conseguiremos avançar na compreensão desse fenômeno recente que tem transformado a sociedade, a produção e a leitura dos textos digitais. POrDENTRODOTEMA Novas Práticas de Leitura e Escrita • Para se aprofundar nas questões que envolvem as mudanças que o texto digital trouxe para a leitura e a escrita, leia o artigo “Novas Práticas de Leitura e Escrita: Letramento na Cibercultura”, de Magda Soares. Nele, a autora trata do conceito de letramento a partir das mudanças que o texto digital proporcionou em relação ao texto tipográfico. Ela defende que as diferenças entre os dois tipos de texto resultam em modalidades de letramento distintas e que, por isso, é necessário pensar em letramentos (no plural) determinados pelas práticas de leitura e escrita, bem como pela produção, reprodução e circulação dos textos na cibercultura. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13935>. Acesso em: 3 jan. 2015. Entrevista com Roger Chartier • Veja a entrevista com o historiador Roger Chartier, em que ele trata de questões importantes para a leitura e a escrita no mundo atual – tais como o futuro do livro, a digitalização de livros, a democratização do conhecimento por meio da internet – e especialmente do papel da internet na educação. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ZCji5oJZ-rc>. Acesso em: 7 jan. 2015. Tempo: 42:45. ACOMPANHENAWEB http://www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13935 https://www.youtube.com/watch?v=ZCji5oJZ-rc 13 ACOMPANHENAWEB Navegando entre Platão e Salsichas • Leia a notícia “Navegando entre Platão e Salsichas”, em que é divulgada a pesquisa desenvolvida pela semióloga Maria Lucia Santaella sobre o modo como os leitores agem diante de um texto impresso e de um texto digital. Nela, a pesquisadora aborda como o leitor mudou ao longo da história e como é o leitor de hipertextos atualmente. Disponível em: <http://revistapesquisa.fapesp.br/2001/09/01/navegando-entre-platao-e-salsichas/>. Acesso em: 7 jan. 2015. Letramento na Era Digital: Construindo Sentidos através da Interação com Hipertextos • Para entender como o hipertexto muda as nossas práticas de leitura em relação ao texto impresso, leia o artigo “Letramento na Era Digital: Construindo Sentidos através da Interação com Hipertextos”, de Braga e Ricarte. Retomando o conceito de retextualização como uma prática de ensino, proposta por Marcuschi (2001), os autores mostram como o hipertexto afeta a construção ou organização argumentativa de um texto, além de discutir outras características dessa modalidade textual característica da internet. Disponível em: <http://www.anpoll.org.br/revista/index.php/revista/article/viewArticle/440>. Acesso em: 2 jan. 2015. http://revistapesquisa.fapesp.br/2001/09/01/navegando-entre-platao-e-salsichas http://www.anpoll.org.br/revista/index.php/revista/article/viewArticle/440 14 Instruções: Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido. AgOrAéAsuAvEz Questão 1 Como o texto digital muda as práticas de leitura e por que é ingênuo pensar que essa mudança restringe-se apenas à alteração de suporte? Questão 2 Segundo Chartier, quais são as rupturas que a revolução do texto digital promoveu em relação ao texto impresso? Questão 3 Assinale a alternativa incorreta sobre as propriedades que caracterizam o hipertexto: a) Enquanto o texto impresso tem como característica fundamental a sua unidade, o hipertexto caracteriza-se por ser uma rede aberta, fragmentada. b) O hipertexto prevê uma leitura não linear, pois o leitor pode traçar seu próprio percurso de leitura por meio dos links. c) O hipertexto é a variante digital do texto impresso. Ele mantém as características do impresso, diferindo apenas quanto ao suporte em que é disponibilizado. d) O hipertexto requer maior esforço cognitivo, pois exige que o leitor tenha mais conhecimento para criar as relações necessárias entre os diferentes textos e para estabelecer conclusões a partir de uma leitura não linear. e) Ao contrário do texto tradicional, o hipertexto dá mais liberdade ao leitor, pois permite mudanças não só na maneira de ler mas também na maneira de escrever, como ocorre, por exemplo, com as produções colaborativas em que um único texto é escrito por várias pessoas. 15 AgOrAéAsuAvEz Questão 4 Julgue as afirmativas sobre a relação entre autor e leitor e assinale, em seguida, a alternativa que apresenta as afirmativas corretas. I. O surgimento do texto digital preserva as figuras de autor e leitor como duas figuras bem-delimitadas, tal como na cultura impressa. II. Com a internet, qualquer pessoa pode produzir e publicar textos, sem que seja necessária a validação de uma editora. III. O texto digital prevê a interação direta entre autor e leitor, o que era pouco comum na cultura impressa. IV. O percurso de leitura do texto digital, assim como do texto impresso, é definido previamente pelo seu autor. a) I, II e III. b) I e II. c) II e IV. d) II e III. e) I, II, III e IV. Questão 5 As mudanças na relação entreleitor e autor tendem a acabar com esta última figura? Que outros aspectos, além dos textuais, devem ser considerados quando pensamos a noção de autoria? 16 Neste tema, mostramos como a internet tem transformado as práticas de linguagem, especificamente as práticas de leitura e escrita. Para isso, traçamos um percurso da história da leitura, mostrando como a mudança do texto impresso para o digital traz implicações não só ao suporte mas também ao modo de estruturar o texto, bem como à relação entre autor e leitor. Para compreendermos essas novas formas de se estruturar o texto, apresentamos a noção de hipertexto como um novo espaço de escrita promovido pela internet, mostrando as suas diferenças em relação ao texto impresso. Quanto à relação entre autor e leitor, discutimos como estes papéis são reestruturados pelo texto digital, fazendo com que, muitas vezes, eles se confundam, permitindo, assim, novas relações entre eles. Concluímos, assim, que a internet e o texto digital provocaram muitas mudanças nas práticas de leitura e escrita, o que nos leva a pensar em novas formas para compreender essas mudanças e adequar as práticas de ensino-aprendizagem a esta nova realidade. fiNAlizANDO BRAGA, D. B.; RICARTE, I. L. M. Letramento na Era Digital: Construindo Sentidos através da Interação com Hipertextos. Rev. ANPOLL, n. 18, p. 59-82, jan./jun. 2005. Disponível em: <http://anpoll.org.br/revista/index.php/revista/article/view/440>. Acesso em: 2 jan. 2015. CHARTIER, R. Do Códige ao Monitor: A Trajetória do Escrito. Estudos avançados, São Paulo, v. 8, n. 21, maio/ago. 1994. <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141994000200012&script=sci_arttext>. Acesso em: 2 jan. 2015. ______. A Revolução das Revoluções. In: CHARTIER, R. A Aventura do Livro. São Paulo: Ed. Unesp; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. ______. O Autor entre Punição e Proteção. In: CHARTIER, R. A Aventura do Livro. São Paulo: Ed. Unesp; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. rEfErêNCiAs http://anpoll.org.br/revista/index.php/revista/article/view/440 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141994000200012&script=sci_arttext 17 ______. Línguas e Leituras no Mundo Digital. In: CHARTIER, R. Os Desafios da Escrita. Tradução de Fulvia M. L. Moretto. São Paulo: Ed. Unesp, 2002. GALASTRI, L. O Futuro das Fanfics. Galileu, 27 maio 2013. Disponível em: <http://colunas.revistagalileu.globo.com/ colunistas/2013/05/27/o-futuro-das-fanfics/>. Acesso em: 8 jan. 2015. 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Tempo: 42:45. rEfErêNCiAs Códice: ou códex, é o suporte de leitura que substitui o pergaminho em rolo (ou volumen), utilizado na Antiguidade ocidental. É um conjunto de “folhas” presas de alguma forma, e sua inovação está em permitir seu fácil manuseio, ao contrário do que ocorria com o rolo. Inicialmente, era constituído por placas de madeira dobradas e presas (entre os ro- manos), depois essas placas foram substituídas pelo pergaminho (pele de animal) e, por fim, pelo papiro, chegando ao formato de livro que temos hoje. Cognitivo: relativo à cognição, que é o conjunto de processos mentais envolvidos na percepção que temos do mundo, na representação que fazemos dele, no processamento da linguagem e das emoções, no armazenamento e acesso de lembranças (memória) etc. glOssáriO http://colunas.revistagalileu.globo.com/colunistas/2013/05/27/o-futuro-das-fanfics/ http://colunas.revistagalileu.globo.com/colunistas/2013/05/27/o-futuro-das-fanfics/ http://revistapesquisa.fapesp.br/2001/09/01/navegando-entre-platao-e-salsichas/ http://revistapesquisa.fapesp.br/2001/09/01/navegando-entre-platao-e-salsichas/ http://www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13935 https://www.youtube.com/watch?v=ZCji5oJZ-rc https://www.youtube.com/watch?v=ZCji5oJZ-rc 18 glOssáriO Copyright: é o direito legal e exclusivo de controlar a produção, a reprodução e a venda de uma obra artística, científica ou literária. A palavra foi aportuguesada para copirraite. Dialogia: é um importante conceito trabalhado pela Linguística, diz respeito à relação que o sujeito estabelece com o outro por meio da linguagem. Em Bakhtin, a dialogia é determinante da produção de discursos, pois, segundo esse au- tor, sempre que escrevemos (ou falamos) temos um interlocutor como alvo, e, nesse sentido, a dialogia é constitutiva da linguagem. Em Vigotsky, por exemplo, ela é considerada fundamental para o processo de ensino-aprendizagem, pois permite que a criança construa sua consciência e sua percepção do mundo a partir da relação com o outro. Fanfics: “As fanfics são histórias (fiction – fic) criadas por fãs (fan) baseadas em produtos culturais variados – livros, filmes, séries de TV, mangás, animês, games… a lista é longa. O fã escolhe seus personagens preferidos, ou se baseia no universo e em elementos da narrativa original, e cria a sua própria versão dela. Pode ser uma continuação, uma his- tória paralela, uma prequel” (GALASTRI, 2013). Manuscritos: referem-se a qualquer obra escrita à mão. Ao longo da Idade Média, os manuscritos tiveram grande im- portância, pois, por meio deles, foi preservada toda a produção escrita, bem como todo o conhecimento desenvolvido até então. As obras da Antiguidade eram copiadas à mão por monges, os copistas, nos monastérios medievais. Foram substituídos posteriormente pelas obras impressas. gABAritO Questão 1 Resposta: É ingênuo pensar que a chegada do texto digital refere-se apenas a uma mudança de suporte, pois ele promove mudanças na maneira de ler, assim como na maneira de produzir os textos. O texto passa a ser produzido de modo fragmentado, o que implica perda da percepção da obra como obra, maior esforço cognitivo por parte do leitor e mais liberdade para o percurso de leitura. O maior desgaste visual causado pela leitura na tela do computador, ainda que já tenham sido desenvolvidas técnicas para minimizar esse desgaste, também influencia na maneira de ler e produzir textos digitais. 19 Questão 2 Resposta: O surgimento do texto digital é considerado uma revolução na história da leitura, pois, segundo Chartier, promoveu três rupturas em relação ao texto digital. Essas rupturas são de três ordens: dos discursos, das razões e das propriedades. A primeira refere-se ao desaparecimento da categorização dos discursos que, na cultura impressa, era feita a partir da materialidade do objeto; com o texto digital, essa materialidade se perdeu, pois os discursos circulam em um único suporte: o computador. A segunda diz respeito à mudança na forma de se construir a argumentação, que deixa de ser linear e dedutiva e passa a ser aberta, devido à segmentação característica do texto digital. Além disso, a confiança no autor é enfraquecida, pois o leitor pode comprovar a validade daquilo que é afirmado. Por fim, a terceira ruptura é da ordem das propriedades textuais e da autoria. O texto digital configura-se de maneira diferente do impresso, é fragmentado, promovendo, assim, uma leitura descontínua. Em relação à autoria, esta é enfraquecida, pois o leitor, na internet, pode apropriar-se de qualquer texto (reproduzindo, editando etc.), além disso, qualquer pessoapode escrever e publicar textos, provocando, assim, a revisão dos papéis de leitor, autor, editor e crítico. Questão 3 Resposta: Alternativa C. A alternativa c está incorreta, pois a diferença entre o hipertexto e o texto tradicional não se resume ao suporte em que eles são produzidos e disponibilizados. Como vimos neste tema, o hipertexto traz particularidades que o diferenciam do texto tradicional, tais como a escrita fragmentada, não mantendo, portanto, as características do impresso. Questão 4 Resposta: Alternativa D. A afirmativa I está incorreta porque há uma transformação das figuras de autor e leitor com o texto digital, tornando-as fundidas ou indistintas. A afirmativa IV está incorreta, pois o texto digital, diferentemente do impresso, permite que o leitor defina sua rota de leitura, a qual não é definida, portanto, pelo autor do texto. Questão 5 Resposta: Não, a figura do autor não deve ser suprimida pelas novas relações promovidas pelo texto digital. Isso se explica porque, ainda que atualmente essa figura esteja enfraquecida, especialmente em relação à autoridade daquele 20 que escreve, há uma forte ideologia que sustenta uma divisão do acesso e da produção do conhecimento, entre letrados ou intelectuais e aqueles que não detêm muito conhecimento. Um exemplo disso são as universidades, espaços em que a autoridade e a autoria são essenciais e extremamente valorizados. O autor pode ter seu papel transformado e diluído, mas ainda permanece em algumas esferas sociais.
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