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Princípios de Farmacologia D�. R����� E����� Nota da Editora: A área da saúde é um campo em constante mudança. As normas de segurança padronizadas precisam de ser obdecidas; contudo, à medida que as novas pesquisas ampliam nossos conhecimentos, tornam-se necessárias e modificações adequadas. O autor desta obra verificou cuidadosamente os nomes genéricos das peças mencionadas, bem como conferiu os dados, de modo que as informações fossem precisas e de acordo com os padrões aceitos por ocasião da publicação. Todavia, os leitores devem prestar atenção às novas informações , a fim de se certificarem de que o padrão não sofreu alterações. Isso é importante, sobretudo em relação a informações novas ou que aparecem com pouca frequência. O autor e a editora não podem ser responsabilizados pelo uso impróprio ou pela aplicação incorreta do produto apresentado nesta obra. O autor e a editora empenharam- se para citar adequadamente e dar o devido crédito a todos os detentores dos direitos autorais de qualquer material utilizado neste livro, dispondo-se a possíveis acertos cado, inadvertidamente a identificação de algum deles tenha sido omitida. Nome do livro: Princípios de Farmacologia Autor: Rafael Escada Ano: 2020 ASIN: Direitos exclusivos no Brasil Copyright© 2020 por Carpe Noctem Reservado todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no todo ou em parte, por qualquer processo eletrónico, mecânico, fotocópia, digitalização, gravação, sistema de armazenamento e disponibilização de informação, sítio web, blogue ou outros, sem prévia autorização escrita da Editora. Princípios de Farmacologia Tabela de conteúdos I. Fármacos que interferem com o sistema colinérgico 7 II. Fármacos que interferem com o sistema adrenérgico 29 III. Fármacos que interferem com o sistema 5- hidroxitriptaminérgico 53 IV. Fármacos com acção nos receptores opiáceos 65 V. Cannabis e canabinóides 74 VI. Fármacos e substâncias relacionadas com o etanol e seu metabolismo 77 VII. Estrogénios, progestagénios e androgénios 81 VIII. Fármacos que interferem com as hormonas tiroideias 89 IX. Fármacos que interferem com os receptores dos retinóides 92 X. Anti-diabéticos 98 XI. Anti-bacterianos 117 XII. Antibióticos β-lactâmicos e inibidores das β-lactamases 117 XIII. Tetraciclinas, aminoglicosídeos, quinolonas e macrólidos 140 XIV. Outros anti-bacterianos 182 XV. Anti-tuberculosos 188 XVI. Anti-depressores e ansiolíticos 195 XVII. Tranquilizantes 211 XVIII. Fármacos anti-convulsivantes 228 XIX. Anti-parkinsonianos 241 XX. Anti-psicóticos 251 XXI. Anti-arrítmicos 260 XXII. Sistema renina-angiotensina-aldosterona 275 XXIII. Fármacos que interferem com a hemóstase 286 I. Fármacos que interferem com o sistema colinérgico 1. Fármacos que interferem com a síntese e libertação de acetilcolina e regeneradores da colinesterase Hemicolíneo Composto estruturalmente similar à colina, que é capaz de inibir o transportador responsável pela captação neuronal de colina. Assim, ao induzir diminuição da disponibilidade de colina, este fármaco inibe a síntese neuronal de acetilcolina. Obidoxima Composto nucleofílico forte que pode ser utilizado como “regenerador da colinesterase”, em situações de intoxicações por organofosfarados. A sua administração deve ocorrer antes do envelhecimento enzimático, de modo a que seja assegurada a quebra da ligação fósforo-enzima. Pralidoxima Composto nucleofílico forte que pode ser utilizado como “regenerador da colinesterase”, em situações de intoxicações por organofosfarados. A sua administração deve ocorrer antes do envelhecimento enzimático, de modo a que seja assegurada a quebra da ligação fósforo-enzima. Vesamicol Fármaco capaz de inibir o trocador responsável pelo armazenamento da acetilcolina em vesículas sinápticas. 2. Parassimpaticomiméticos de acção directa 2.1. Alcalóides Muscarina Parassimpaticomimético de acção directa, pertencente à categoria dos alcalóides e com elevada afinidade para os receptores muscarínicos. Dado ser uma amina quaternária, é dificilmente absorvida pelo tracto gastro-intestinal, embora seja capaz de atravessar a barreira hemato-encefálica(podendo, por isso, ser tóxica, quando ingerida). Nicotina Parassimpaticomimético de acção directa, pertencente à categoria dos alcalóides e com elevada afinidade para os receptores nicotínicos. Dado ser um alcalóide terciário, é bem absorvida pelo tracto gastro-intestinal e atravessa facilmente a barreira hemato- encefálica. Assim, a nicotina desempenha importantes efeitos centrais – em doses moderadas, aumenta a atenção, enquanto em doses mais elevadas, pode causar tremor, vómito, estimulação do centro respiratório, convulsões e coma. No sistema cardiovascular, a nicotina induz hipertensão e taquicardia, enquanto nos sistemas gastro-intestinal e genito-urinário, as acções da nicotina são predominantemente parassimpaticomiméticas. Pilocarpina Parassimpaticomimético de acção directa, pertencente à categoria dos alcalóides terciários. Ao nível cardiovascular, induz hipertensão (por activação dos receptores M 1 dos neurónios pós-ganglionares simpáticos), exercendo um efeito oposto ao dos restantes alcalóides parassimpaticomiméticos. Para além disso, é utilizada para induzir secreção salivar. 2.2. Ésteres de colina Acetilcolina Neurotransmissor abundante no sistema nervoso central e no sistema nervoso periférico. Ao nível do sistema nervoso autónomo, é o neurotransmissor libertado pelos neurónios autonómicos pré-ganglionares e pelos neurónios parassimpáticos pós-ganglionares. Actua em dois tipos de receptores (ambos coexistentes no sistema nervoso central e gânglios autonómicos) – os receptores nicotínicos (N) existem ao nível do sistema nervoso central e da placa motora, enquanto os receptores muscarínicos (M) predominam nas estruturas viscerais. Ao actuar nesses receptores, a acetilcolina induz contracção do músculo liso visceral, estimulação da secreção glandular, vasodilatação e contracção do músculo esquelético. No que concerne ao seu metabolismo, a acetilcolina é sintetizada a partir do acetil-CoA e da colina, sendo essa reacção catalisada pela acetiltransférase da colina. Já a degradação da acetilcolina ocorre, maioritariamente, por acção da acetilcolinesterase. Betanecol Parassimpaticomimético de acção directa pertencente à classe dos ésteres de colina. Apresenta particular afinidade para o receptor muscarínico M 3, mas desprezável acção sobre os receptores nicotínicos e reduzida susceptibilidade à hidrólise pelas colinesterases. Na prática clínica, é utilizado na terapêutica de doenças que envolvem uma diminuição da actividade muscular lisa dos tractos gastro-intestinal e urinário. Carbacol Parassimpaticomimético de acção directa pertencente à classe dos ésteres de colina. Apresenta elevada afinidade para os receptores muscarínicos e nicotínicos, mas reduzida susceptibilidade à hidrólise pelas colinesterases (apresentando, por isso, um efeito prolongado). Metacolina Parassimpaticomimético de acção directa pertencente ao grupo dos ésteres de colina. Actua selectivamente nos receptores muscarínicos, apresentando acção desprezível sobre os receptores nicotínicos. Apresenta menor susceptibilidade à degradação pelas colinesterases, quando comparada com a acetilcolina (mas maior susceptibilidade que o betanecol e carbacol). 3. Parassimpaticomiméticos de acção indirecta 3.1. Álcoois com um grupo quaternário Edrofónio Parassimpaticomimético de acção indirecta pertencente à categoria dos álcoois com um grupo amónio quaternário. Apresenta baixa lipossolubilidade e curta duração de acção. Na prática clínica, é utilizado na diferenciação de uma crise miasténica de uma crise colinérgica. Para além disso,no passado, este fármaco foi utilizado no tratamento de taquicardias supra-ventriculares. 3.2. Carbamatos Fisostigmina Parassimpaticomimético de acção indirecta pertencente ao grupo dos carbamatos terciários.Apresenta elevada solubilidade, sendo bem absorvida por todos os locais de administração, e podendo ser aplicada no olho. Atravessa facilmente a barreira hemato-encefálica, motivo pelo qual é mais tóxica que os carbamatos quaternários. Quando administrada em baixas concentrações, induz uma resposta subjectiva de alerta, enquanto em concentrações mais elevadas, pode causar convulsões generalizadas, coma, e paragem respiratória. Em termos terapêuticos, pode ser utilizada na reversão da intoxicação por antagonistas dos receptores muscarínicos. Neostigmina Parassimpaticomimético de acção indirecta pertencente ao grupo dos carbamatos quaternários. Apresenta baixa lipossolubilidade e, por isso, praticamente não penetra no sistema nervoso central e é mal absorvida pela pele, conjuntiva e pulmões. Clinicamente, é utilizada na terapêutica da miastenia gravis, devido (entre outros factores) ao seu baixo tempo de actuação. Para além disso, é utilizada na terapêutica de doenças que envolvem uma diminuição da actividade muscular lisa dos tractos gastro-intestinal e urinário. Piridostigmina Parassimpaticomimético de acção indirecta pertencente ao grupo dos carbamatos quaternários. Apresenta baixa lipossolubilidade e, por isso, praticamente não penetra no sistema nervoso central e é mal absorvida pela pele, conjuntiva e pulmões. Terapeuticamente, é utilizada na terapêutica da miastenia gravis, devido (entre outros factores) ao seu baixo tempo de actuação. 3.3. Organofosfarados Ecotiofato Parassimpaticomimético de acção indirecta pertencente ao grupo dos organofosfarados. Contrariamente aos restantes organofosfarados, é um composto polar, que apresenta um grupo amónio quaternário. Assim, revela-se estável em solução aquosa e apresenta um tempo de acção prolongado. Deste modo, pode ser utilizado em oftalmologia, sendo que os seus efeitos podem se manter durante semanas. Malatião Parassimpaticomimético de acção indirecta pertencente ao grupo dos organofosfarados. É volátil, muito lipossolúvel, e com um tempo de actuação prolongado. Em termos práticos, é utilizado como insecticida. Embora na sua forma original, o malatião seja um composto tiofosfatado inactivo, quando internalizado pelos animais e plantas, este composto é activado, podendo exercer as suas acções. Todavia, no ser humano, este composto é rapidamente inactivado por vias metabólicas alternativas. Paratião Parassimpaticomimético de acção indirecta pertencente ao grupo dos organofosfarados. É volátil, muito lipossolúvel, e com um tempo de actuação prolongado. Em termos práticos, é utilizado como insecticida. Embora na sua forma original, o paratião seja um composto tiofosfatado inactivo,quando internalizado pelos animais e plantas, este composto é activado, podendo exercer as suas acções. Revela-se mais perigoso que o malatião, na medida em que, no ser humano, não é inactivado por nenhuma via metabólica alternativa. 3.4. Parassimpaticomiméticos usados no tratamento do Alzheimer Donepezil Parassimpaticomimético de acção indirecta utilizado na terapêutica da doença de Alzheimer. Apresenta um elevado período de semi- vida, podendo ser administrado apenas uma vez por dia. De entre os parassimpaticomiméticos utilizados na terapêutica do Alzheimer, este fármaco é aquele que apresenta maior selectividade para a acetilcolinesterase e, por conseguinte, menos efeitos adversos Galantamina Parassimpaticomimético de acção indirecta utilizado na terapêutica da doença de Alzheimer. Apresenta menor selectividade para a acetilcolinesterase, quando comparada com o donepezil, mas maior selectividade quando comparada com a rivastigmina. Apresenta elevada biodisponibilidade, necessitando de duas administrações diárias. Rivastigmina Parassimpaticomimético de acção indirecta, utilizado na terapêutica da doença de Alzheimer. Apresenta menor selectividade para a acetilcolinesterase, por comparação com a galantamina e com o donepezil. 4. Antagonistas dos receptores muscarínicos 4.1. Alcalóides naturais Atropina (hiosciamina) Alcalóide natural anti-muscarínico, pertencente à classe química das aminas terciárias. Possui boa absorção por via oral e pela conjuntiva, bem como boa capacidade de atravessar a barreira hemato-encefálica. Possui uma semi-vida de cerca de duas horas, sendo excretada por via renal. Apresenta uma acção sedativa, midriática, ciclopégica, taquicárdica, broncodilatadora e antisecretora. Na prática clínica, pode ser utilizada em situações de bradicardia sinusal, com fins oftalmológicos e no tratamento de diarreia do viajante e de intoxicações por cogumelos. Todavia, quando administrada em doses elevadas, a atropina bloqueia todas as funções parassimpáticas – a intoxicação por atropina está associada ao desenvolvimento de hipertermia, boca seca, midríase, taquicardia, pele quente e ruborizada, agitação e delírio. 4.2. Aminas terciárias Benzatropina Anti-muscarínico pertence à classe das aminas terciárias, utilizado na terapêutica da doença de Parkinson. Biperideno Anti-muscarínico pertence à classe das aminas terciárias, utilizado na terapêutica da doença de Parkinson. Ciclopentolato Anti-muscarínico pertence à classe das aminas terciárias que, devido ao seu curto período de semi-vida, pode ser utilizado como midriático. Darifenacina Antagonista selectivo dos receptores muscarínicos M3. Na prática clínica, é utilizada no tratamento da incontinência urinária (sobretudo, em pacientes com patologia neurológica) e dos espasmos vesicais que se desenvolvem após cirurgia urológica. Quando comparada com a oxibutinina e com o tróspio, apresenta maior selectividade para os receptores M 3 e maior período de semi- vida. Diciclomina (dicicloverina) Antagonista selectivo dos receptores muscarínicos M1. Em termos clínicos, é utilizada no tratamento da hipermotilidade intestinal e dos sintomas da síndrome do intestino irritável. Este fármaco é muito popular em crianças, embora o seu uso em indivíduos com menos de sete meses de idade esteja desaconselhado. Escopolamina (hioscina) Anti-muscarínico pertence à classe das aminas terciárias, que apresenta rápida e eficaz distribuição para o sistema nervoso central. Apresenta boa absorção pelo tubo digestivo, pela conjuntiva, e por via transdérmica. As suas acções centrais incluem sonolência, amnésia e, em doses tóxicas, excitação, agitação, alucinações e coma. Em termos terapêuticos, revela-se particularmente eficaz na prevenção ou reversão das perturbações vestibulares, embora induza sedação e sensação de “boca seca”. Para além disso, pode ser utilizada com o objectivo de facilitar a endoscopia alta, ou determinados procedimentos radiológicos gastro-intestinais. Homatropina Antagonista dos receptores muscarínicos, utilizado como midriático e cicloplégico. Induz prevenção de adesões e cicloplegia incompleta, tendo menor duração de acção que a escopolamina e a atropina. Os seus efeitos laterais incluem irritação local, aumento da pressão intra-ocular, hiperemia, edema e conjuntivite. Mebeverina Anti-muscarínico utilizado na terapêutica de estados espasmódicos do tracto gastro intestinal (incluindo da síndrome do intestino irritável). Apresenta boa tolerância, não acarretando efeitos laterais significativos, quando administrada em doses terapêuticas. Oxibutinina Anti-muscarínico pertence à classe das aminas terciárias, utilizado no tratamento da incontinência urinária (sobretudo, em pacientes com patologia neurológica) e dos espasmos vesicais que se desenvolvem após cirurgia urológica. Apresenta uma certa selectividade para os receptores M3. Pirenzepina Anti-muscarínico pertence à classe das aminas terciárias, que bloqueia selectivamente os receptores M1. Esta selectividade leva a que a telenzepina reduza a secreção gástrica sem induzir tantos efeitos adversos como outros análogos menos selectivos. Solifenacina Antagonista selectivo dos receptores muscarínicos M3. Na prática clínica, é utilizada no tratamento da incontinência urinária (sobretudo, em pacientes compatologia neurológica) e dos espasmos vesicais que se desenvolvem após cirurgia urológica. Quando comparada com a oxibutinina e com o tróspio, apresenta maior selectividade para os receptores M 3 e maior período de semi- vida. Tolterodina Antagonista selectivo dos receptores M3 utilizado no tratamento da incontinência urinária. Partilha de várias propriedades da darifenacina e da solifenacina. Tri-hexifenidilo Antagonista selectivo dos receptores muscarínicos M 1. Actualmente é utilizado na terapêutica do Parkinson. Telenzepina Análogo (mais potente) da pirenzepina, que bloqueia selectivamente os receptores muscarínicos M1. Esta selectividade leva a que a telenzepina reduza a secreção gástrica sem induzir tantos efeitos adversos como outros análogos menos selectivos. Tropicamida Anti-muscarínico pertence à classe das aminas terciárias que, devido ao seu curto período de semi-vida, pode ser utilizado como midriático. Zamifenacina Antagonista muscarínico selectivo para os receptores M 3 intestinais. Na prática clínica, é utilizada na terapêutica da síndrome do intestino irritável, não induzindo efeitos laterais significativos. 4.3. Aminas quaternárias Butilescopolamina Anti-muscarínico pertence à classe das aminas quaternárias, utilizado na terapêutica da doença ulcerosa péptica e da hipermotilidade gastro-intestinal. Clidínio Antagonista dos receptores muscarínicos, quimicamente pertencente à classe das aminas quaternárias. Utilizado na terapia da doença ulcerosa péptica, da hipermotilidade gastro-intestinal, e de patologias genito-urinárias. Ipratrópio Anti-muscarínico pertence à classe das aminas quaternárias, utilizado na terapêutica da asma brônquica e da DPOC. Pode ser administrado por via inalatória, de modo a que passem a ser disponibilizadas grandes concentrações deste fármaco junto da biofase (o que minimiza a ocorrência de efeitos sistémicos indesejáveis). Otilónio Anti-muscarínico utilizado na terapia de estados espasmódicos do tracto gastro intestinal(incluindo na síndrome do cólon irritável). Em termos farmacocinéticos, este fármaco apresenta fraca biodisponibilidade oral e escassa difusão para o sistema nervoso central, o que permite que exerça uma acção intestinal tópica quando administrado por via oral. Para além de eficaz quando activo nos receptores muscarínicos da parede do cólon, este fármaco demonstra ainda capacidade de antagonizar os receptores NK2 das taquicininas, contrariando a acção estimulante mediada pela neurocinina A. Os seus efeitos adversos incluem secura de boca, taquicardia, retenção urinária e agravamento de glaucoma. De qualquer modo, estes efeitos são pouco frequentes, sendo que este fármaco é relativamente seguro. Tiotrópio Anti-muscarínico pertence à classe das aminas quaternárias com acções similares às do ipratrópio. Apresenta uma duração de acção longa e também pode ser administrado por via inalatória. Tróspio Antagonista muscarínico não-selectivo, utilizado no tratamento da incontinência urinária(sobretudo, em pacientes com patologia neurológica) e dos espasmos vesicais que se desenvolvem após cirurgia urológica. 5. Antagonistas dos receptores nicotínicos 5.1. Bloqueadores neuro-musculares Atracúrio Bloqueador neuromuscular competitivo com tempo de latência e duração do efeito moderados. Induz libertação de histamina e, quando administrado em doses extremamente elevadas, interfere com as funções autonómicas. A sua eliminação ocorre maioritariamente por via nãoenzimática (eliminação de Hoffmann), de tal modo que os seus parâmetros farmacocinéticos não são alterados pela insuficiência hepática ou pela insuficiência renal. A sua biotransformação origina laudonosina e outros produtos. Cis-atracúrio Bloqueador neuromuscular competitivo pertencente à família do atracúrio. Apresenta maior potência que o atracúrio, é praticamente desprovido de efeitos cardiovasculares, e não induz libertação de histamina (podendo, por isso, ser administrado em doses elevadas). A sua eliminação ocorre apenas por via não-enzimática (eliminação de Hoffmann), de tal modo que os seus parâmetros farmacocinéticos não são alterados pela insuficiência hepática, pela insuficiência renal, ou pela idade. Mivacúrio Bloqueador neuromuscular competitivo pertencente ao grupo benzilisoquinoleico. É rapidamente hidrolisado pelas colinesterases plasmáticas e, consequentemente, apresenta rápida duração de acção e rápido período de recuperação. Induz libertação de histamina. Pancurónio Bloqueador neuromuscular competitivo esteróide que, para além de bloquear os receptores neuro-musculares, bloqueia os receptores muscarínicos do nó sinusal, os receptores dos terminais pós- ganglionares simpáticos, e os receptores muscarínicos inibitórios expressos nos interneurónios dos gânglios simpáticos. Assim, o pancurónio induz vários efeitos laterais, nos quais se incluem taquicardia, hipertensão, e complicações respiratórias pós- operatórias. Rocurónio Bloqueador neuromuscular competitivo de natureza esteróide, com tempo de latência e potência inferior ao vecurónio, mas com maior duração de acção. É relativamente lipossolúvel, sofrendo rápida captação hepática e um certo grau de redistribuição a partir do músculo esquelético. Quando administrado em doses elevadas, pode induzir taquicardia. Succinilcolina (suxametónio) Composto biquaternário de amónio utilizado com acção bloqueadora despolarizante. Induz despolarização não-seguida de repolarização das fibras musculares esqueléticas, o que se manifesta pela ocorrência generalizada de fasciculações musculares assíncronas e intensas. Essas fasciculações induzem vários efeitos adversos, nomeadamente, dor muscular, aumento da pressão intra-abdominal e libertação de uma grande quantidade de potássio para o meio extracelular. Apesar das suas acções adversas, continua a ser amplamente utilizada na prática clínica, devido ao facto de ser o bloqueador neuromuscular com menor tempo de latência e menor tempo de actuação. Sugamadex Dextrina capaz de se ligar ao rocurónio, impedindo-o de se ligar aos receptores nicotínicos. Utilizada na prática clínica para evitar a génese de efeitos adversos secundários à administração de doses muito elevadas de rocurónio. Tubocurarina Bloqueador neuromuscular competitivo que, simultaneamente, também bloqueia os receptores nicotínicos dos gânglios autonómicos (sobretudo os do sistema nervoso parassimpático). Os seus efeitos laterais incluem taquicardia, hipertensão, bloqueio da medula supra-renal e libertação de histamina. Por estes motivos, a tubocurarina já não é utilizada na prática clínica. Vecurónio Bloqueador neuromuscular competitivo com tempo de latência superior ao da succinilcolina e duração média de acção sita entre os 10 e os 30 minutos. Apresenta uma elevada potência e, subsequentemente, um tempo de latência relativamente elevado. Apesar disso, encontra-se praticamente desprovido de efeitos laterais significativos, quer ao nível cardiovascular, quer ao nível da libertação de histamina. 5.2. Ganglioplégicos e bloqueadores dos receptores centrais Epibatidina Antagonista dos receptores nicotínicos com propriedades analgésicas. Apresenta pouca selectividade para os receptores nicotínicos, o que acarreta vários efeitos laterais, que limitam o seu uso na prática clínica. Em termos químicos, este fármaco é um alcalóide natural extraído da pele de sapo. Hexametónio Derivado do metónio com elevada actividade ganglioplégica, mas com efeitos discretos na placa motora. Outrora utilizado para o tratamento da hipertensão, o seu uso clínico foi descontinuado, devido às suas acções adversas. Trimetafano Ganglioplégico de acção curta, que pode ser utilizado na prática clínica com o objectivo de induzir hipotensão controlada num contexto cirúrgico. Para além de induzir bloqueio ganglionar, também apresenta uma acção vasodilatadora directa (que poderá ser a principal responsável pela hipotensão). Não se sabe se este fármaco induz libertação de histamina. VareniclinaAgonista parcial dos receptores nicotínicos α4β2, cujo período de semi-vida, leva a que as suas acções sejam consideradas de facto antagonistas – de facto, esse elevado período de tempo impede que a nicotina se ligue aos receptores nicotínicos α4β2, exercendo o seu efeito estimulante que cursa com a libertação de dopamina. Assim, a vareniclina é clinicamente utilizada na cessação tabágica. Os seus efeitos laterais incluem náusea, insónia e exacerbação de doenças psiquiátricas(nomeadamente ansiedade e depressão). De referir que, em termos estruturais, este fármaco é um derivado de um alcalóide vegetal designado por citisina – este alcalóide era amplamente usado na Bulgária e restantes países do Pacto de Varsóvia para ajudar na cessação tabágica. II. Fármacos que interferem com o sistema adrenérgico 1. Catecolaminas endógenas Adrenalina Catecolamina endógena, produzida ao nível da glândula supra- renal, a partir da noradrenalina (por acção da enzima FNMT). Considerada um agente simpaticomimético de acção directa que apresenta afinidade para os receptores adrenérgicos α e β. Promove estimulação cardíaca, vasodilatação ao nível esplâncnico e vasoconstrição ao nível dos “órgãos nobres” – assim, a adrenalina promove um aumento da pressão arterial média e um decréscimo da pressão arterial mínima. O seu efeito vasoconstrictor permite que seja usada em conjunto com anestésicos locais (impedindo o seu efeito vasodilatador) ou na contenção de pequenas hemorragias. Para além disso, a adrenalina exerce importantes efeitos metabólicos, induzindo a lipólise (por actuação ao nível dos receptores β3), a glicogenólise (por actuação nos receptores β2), hipercalémia e aumento dos níveis de ácido láctico. Noradrenalina Catecolamina endógena, expressa ao nível do sistema nervoso central e dos neurónios simpáticos pós-ganglionares. Considerada um agente simpaticomimético de acção directa que apresenta afinidade para os receptores adrenérgicos α e β (embora apresente afinidade preferencial para os receptores α). Apresenta acção vasoconstrictora generalizada, de tal modo que promove um aumento das pressões arteriais máxima e mínima. 2. Fármacos que interferem com a síntese e libertação de catecolaminas α-metil-p-tirosina Substrato da hidroxílase da tirosina, que inibe a conversão da tirosina em dopa. α-metil-DOPA Substrato da descarboxílase da DOPA, que inibe a conversão da dopa em dopamina. Utilizada na terapêutica da hipertensão, devido aos efeitos que exerce sob o sistema nervoso central. α-metil-noradrenalina Produto da hidroxílase da DOPA (quando o substrato desta enzima é a α-metildopamina), que é libertada pelos neurónios adrenérgicos como falso mediador. Actua nos receptores adrenérgicos α, tendo maior afinidade para os receptores α2. Assim, quando aplicada localmente, a αmetilnoradrenalina actua como vasoconstrictora. Anfetamina Fenilisopropilamina classificada como agente simpaticomimético de acção indirecta, pois actua promovendo a libertação de noradrenalina por mecanismos não exocíticos (alteração conformacional de um transportador). Ao nível do sistema nervoso central, promove acentuação do estado de alerta, insónia, diminuição provisória da fadiga, elevação do humor, melhoria da capacidade de concentração, euforia, aumento da transmissão simpática na medula, diminuição do apetite e estimulação do centro respiratório e do humor. Causa manifestações do tipo psicótico e dependência psíquica, motivo pelo qual é considerada uma droga, cuja comercialização é proibida. Betanidina Substância simpatoplégica, que impede a libertação de noradrenalina por parte dos neurónios noradrenérgicos. Pode ser utilizada na terapêutica da hipertensão arterial. As suas propriedades são similares às do guanadrel e guanetidina. Bretílio Substância simpatoplégica, que impede a libertação de noradrenalina por parte dos neurónios noradrenérgicos. Pode ser utilizada na terapêutica da hipertensão arterial. Cloroanfetamina Derivado da anfetamina, que promove a libertação de monoaminas, de modo similar ao MDMA (mas com neurotoxicidade superior). Inibe a síntese de serotonina. Efedrina Agente simpaticomimético de origem vegetal e de acção directa (por agonismo dos receptores α e β adrenérgicos) e indirecta (promove a libertação rápida de noradrenalina, a partir dos seus terminais neuronais). Pode ser utilizada para o descongestionamento nasal, embora o seu uso repetido possa levar ao desenvolvimento de rinite crónica. Pode ainda ser usada em oftalmologia, como midriático e para impedir a ocorrência de aderências. De facto, este fármaco aumenta a pressão arterial, sendo usado na terapia da hipotensão. Actua no sistema nervoso central, constituindo um estimulante central em pacientes com narcolepsia e estados depressivos, embora possa causar insónias e efeitos adversos de cariz cardiovascular. Fenilpropanolamina Agente simpaticomimético indirecto, que promove a libertação neuronal de noradrenalina. Antigamente era utilizada como supressora do apetite, mas foi retirada do mercado, porque aumenta o risco de AVC hemorrágico. Guanetidina Substância simpatoplégica, que impede a libertação de noradrenalina por parte dos neurónios noradrenérgicos. Pode ser utilizada na terapêutica da hipertensão arterial. A guanetidina é polar e não actua ao nível do sistema nervoso central. 6-hidroxidopamina Análogo da dopamina, usado na investigação do Parkinson (permite gerar modelos animais para a doença de Parkinson). Promove a libertação de aminas inactivas e, paralelamente, destruição dos neurónios simpáticos (induz simpatectomia funcional e depleção duradoura dos depósitos noradrenérgicos). Não atravessa a barreira hemato-encefálica e, por isso, para exercer efeitos no sistema nervoso central deverá ser administrada por via intra-ventricular. 131I-meta-iodo-benzilguanidina (MIBG) Substrato do transportador de noradrenalina, que é captado pelas células tumorais e que, por isso, pode ser utilizado para localizar feocromocitomas e as suas metástases. Metileno-dioximetanfetamina (MDMA ou ecstasy) Actua de modo similar às anfetaminas, promovendo a libertação de aminas biológicas, através de uma alteração conformacional dos seus respectivos transportadores. Apresenta afinidade preferencial para o transportador da serotonina, contribuindo para o aumento da concentração extracelular de serotonina (e para a depleção deste neurotransmissor). Antigamente, a MDMA foi utilizada em psicoterapia, mas esse uso foi descontinuado, sabendo-se actualmente que esta substância não tem efeitos medicamente úteis. A MDMA é considerada uma droga, visto causar uma série de efeitos tóxicos, nos quais se incluem a hipertermia, desidratação, síndrome da serotonina (alteração do estado mental, hiperactividade autonómica e anomalias neuromusculares), tonturas e perturbações cognitivas a longo prazo (apesar de, a curto prazo, a MDMA aumente os sentimentos de intimidade e empatia, sem impedir as capacidades intelectuais). Pseudoefedrina Substância utilizada como descongestionante nasal. A sua venda é alvo de restrições, dado ser um composto percursor da síntese ilícita de metanfetamina. Reserpina Inibe a captação de noradrenalina e dopamina para as vesículas neuronais e, deste modo, induz a libertação lenta e prolongada de um metabolito inactivo da noradrenalina. Tiramina Agente simpaticomimético de acção indirecta, que actua promovendo a libertação rápida de noradrenalina por mecanismos não exocíticos (alteração conformacional de um transportador). Tirosina Aminoácido percursor de todas as catecolaminas endógenas. 3. Substâncias relacionadas com a captação e metabolização das catecolaminas Ácido vanililmandélico (VMA) Produto de inactivação final da noradrenalina e adrenalina, após estas terem sido submetidas à acção da COMT, da MAO e da desidrogénase dos aldeídos. O seu doseamento na urina pode diagnosticar a presença de feocromocitomas. Cocaína Bloqueia o processo de recaptação neuronal de noradrenalina e, por isso, permiteuma maior concentração de noradrenalina na biofase. Actua ao nível do sistema nervoso central, onde induz efeitos psicológicos similares aos das anfetaminas, mas com menor duração e maior intensidade. Apresenta propriedades vasoconstrictoras e neurotóxicas, sendo considerada uma droga. Desipramina Bloqueia selectivamente o processo de recaptação neuronal de noradrenalina (ou seja, inibe selectivamente o NET) e, por isso, permite uma maior concentração de noradrenalina na biofase. Assim, este fármaco é utilizado como anti-depressor. Clorgilina Potencia os efeitos das catecolaminas, por inibição selectiva da MAO-A. DOMA Produto de inactivação da noradrenalina, formado após esta ter sofrido acção sequencial da MAO e da desidrogénase dos aldeídos. A sua metabolização pela COMT origina ácido vanililmandélico(VMA). DOPEG – Produto de inactivação da noradrenalina, formado após esta ter sofrido acção da MAO. A sua metabolização pela COMT origina MOPEG, enquanto a sua metabolização pela desidrogénase dos aldeídos origina DOMA. Entacapone Inibidor selectivo da COMT, que assegura uma maior disponibilidade de noradrenalina e L-DOPA. Utilizado no tratamento da doença de Parkinson. Imipramina – Bloqueia o processo de recaptação neuronal de noradrenalina e serotonina (ou seja, inibe o NET e o SERT) e, por isso, permite uma maior concentração de noradrenalina na biofase. Assim, este fármaco é utilizado como anti- depressor. Ipronizadina - Potencia os efeitos das catecolaminas, por inibição não-selectiva da MAO. Dado inibir a metabolização serotoninérgica, este fármaco é usado como anti-depressor. Mefedrona Droga sintética com efeitos similares aos das anfetaminas e da cocaína. Provavelmente actua por inibição da recaptação de monoaminas (que passam a estar em maior disponibilidade para a biofase). Causa euforia, alucinações, dificuldade de concentração, ansiedade, paranóia, e neurotoxicidade. Metanefrina Produto do metabolismo da adrenalina, homólogo à normetanefrina. MOPEG Produto de inactivação da noradrenalina e da adrenalina, quando estas são submetidas à acção da MAO e da COMT. A sua metabolização pela desidrogénase dos aldeídos gera ácido vanililmandélico (VMA). Normetanefrina Produto do metabolismo da noradrenalina (formado por acção da COMT), que bloqueia parcialmente a captação tecidular (extra- neuronal) de noradrenalina. A sua metabolização pela MAO gera MOPEG. Rasagilina Potencia os efeitos das catecolaminas, por inibição selectiva da MAO-B. Mais potente que a selegilina na prevenção do Parkinson induzido pela toxina MPTP. Tal como a selegilina, pode ser utilizado como co-adjuvante na terapêutica do Parkinson, para prolongar os efeitos da L-DOPA. Selegilina Potencia os efeitos das catecolaminas, por inibição selectiva da MAO-B. Atrasa a metabolização da dopamina e, consequentemente, prolonga o efeito anti-parksoniano da L-DOPA. Utilizado na terapêutica do Parkinson, como co-adjuvante da L- DOPA. Tolcapone Inibidor selectivo da COMT, que assegura uma maior disponibilidade de noradrenalina e LDOPA. Utilizado no tratamento da doença de Parkinson. 4. Agonistas α-adrenérgicos Brimonidina Agonista α-adrenérgico, com maior selectividade para os receptores α2. Diminui a produção de humor aquoso e, por conseguinte, a pressão intra-ocular. Assim, este fármaco é utilizado na terapia do glaucoma. Clonidina Agonista α-adrenérgico, com maior selectividade para os receptores α 2. Apresenta boa absorção oral e actua ao nível dos receptores α 2 do tronco cerebral, onde exerce uma acção hipotensora, diminuindo o débito cardíaco, a resistência vascular periférica e a síntese de renina. Para além disso, pode ser utilizada na terapia da toxicomania opióide e dos fogachos da menopausa. Os seus efeitos adversos, incluem hipotensão postural, secura da boca, sedação, bradicardia e disfunção sexual. Fenilefrina Agonista α-adrenérgico, com maior selectividade para os receptores α1. Pode ser utilizada para o descongestionamento nasal, embora o seu uso repetido possa levar ao desenvolvimento de rinite crónica. Pode ainda ser usada em oftalmologia, como midriático e para impedir a ocorrência de aderências. Imidazolinas (nafazolina, oximetazolina, tetra-hidrazolina, tramazolina, xilometazolina): Agentes simpaticomiméticos usados como descongestionantes nasais, mas que podem causar risco de depressão do sistema nervoso central (e, como tal, de hipotensão). A oximetazolina apresenta grande afinidade para os receptores α2A. A nafazolina apresenta um efeito irritante sobre a mucosa nasal. A tramazolina pode provocar (embora raramente) cefaleias, vertigens, náuseas e aumentos do fluxo nasal. A xilometazolina é usada a longo prazo. Medetomidina (dexmedetomidina) Agonista α2 com propriedades sedativas e analgésicas. Apresenta um período de semi-vida de 2-3 horas, sendo metabolizada no fígado e excretada na urina (sob a forma de metabolitos inactivos). Utilizada na sedação de pacientes em unidades de cuidados intensivos, e no controlo da dor (reduzindo as necessidades de opióides). Metanfetamina Fenilisopropilamina agonista dos receptores adrenérgicos α. Actua ao nível do sistema nervoso central, onde exerce efeitos similares aos da anfetamina (embora exerça um maior conjunto de acções centrais). Metoxamina Fenilisopropilamina agonista dos receptores adrenérgicos α (apresenta maior selectividade para os receptores α1). Pode ser utilizada para o descongestionamento nasal, embora o seu uso repetido possa levar ao desenvolvimento de rinite crónica. 5. Agonistas β-adrenérgicos Clembuterol Agonista dos receptores β2, usado com fins broncodilatadores. Para além disso, este fármaco é usado na perda de peso e como doping em atletas. O seu uso na insuficiência cardíaca e enfarte agudo do miocárdio está a ser alvo de estudos – de acordo com dados experimentais, este fármaco reduz o tamanho dos enfartes e a apoptose dos cardiomiócitos após enfarte. Dobutamina Agonista β-adrenérgico, com maior selectividade para os receptores β1. Também possui alguma actividade agonista α1, motivo pelo qual pode ser utilizada na terapêutica da insuficiência cardíaca congestiva (aumenta o trabalho cardíaco e a resistência vascular periférica). Fenoterol Agonista β-adrenérgico, com maior selectividade para os receptores β2. Utilizado como broncodilatador na terapêutica da asma. Formoterol Agonista β2 selectivo de nova geração, que apresenta elevada lipofilia e, por conseguinte, elevada duração de acção (superior a 12 horas). Utilizado na terapia da asma (sobretudo profilática), onde interage positivamente com os corticosteróides. Uma vez que não apresenta acção antiinflamatória, não deve ser utilizado como monoterapia para a asma (nem no tratamento de broncospasmo agudo). Indacaterol Agonista adrenérgico β, utilizado como broncodilatador de longa duração na terapêutica da doença pulmonar obstructiva crónica. Pode provocar inflamação do aparelho respiratório, hiperglicemia, dor de cabeça, doença isquémica, espasmos musculares e edema periférico. Isoprenalina Catecolamina sintética que actua ao nível dos receptores adrenérgicos β. Induz uma estimulação cardíaca intensa, bem como vasodilatação generalizada – assim, a isoprenalina causa uma diminuição acentuada da pressão arterial mínima e um aumento muito discreto da pressão arterial máxima. Ritodrina Agonista β-adrenérgico, com maior selectividade para os receptores β 2. Usada em obstetrícia, para atrasar o momento do parto. Salbutamol Agonista β-adrenérgico, com maior selectividade para os receptores β2. Utilizado como broncodilatador preferencial na terapêutica da asma, devido à sua elevada selectividade. Salmeterol Agonista β2 selectivo de nova geração, que apresenta elevada lipofilia e, por conseguinte, elevada duração de acção (superior a 12 horas). Utilizado na terapia da asma (sobretudo profilática), onde interage positivamente com os corticosteróides. Uma vez que não apresenta acção antiinflamatória, não deve ser utilizado como monoterapiapara a asma (nem no tratamento de broncospasmo agudo). Terbutalina Agonista β-adrenérgico, com maior selectividade para os receptores β 2. Utilizada na terapia da asma (devido às suas acções broncodilatadoras) e para atrasar o momento do parto. Trimetoquinol – Agonista β-adrenérgico, com maior selectividade para os receptores β 2. Utilizado como broncodilatador na terapêutica da asma. 6. Bloqueadores α-adrenérgicos Alfuzosina Bloqueador selectivo dos receptores adrenérgicos α 1, utilizado na terapêutica da hipertrofia benigna da próstata. Di-hidroergotamina Derivado di-hidrogenado da ergotamina que apresenta maior afinidade para os receptores α2-adrenérgicos. Apresenta acções similares à ergotamina, incluindo contracção do músculo liso visceral e bloqueio dos receptores da 5-hidroxitriptamina. Doxazosina Bloqueador selectivo dos receptores adrenérgicos α1, utilizado na terapêutica da hipertensão arterial e da hipertrofia benigna da próstata. Ergotamina Agonista parcial de receptores α-adrenérgicos e serotoninérgicos (nomeadamente 5-HT2) pertencente à classe dos derivados da cravagem do centeio. Este fármaco é usado na terapia da enxaqueca. Os seus efeitos adversos incluem bradicardia, hipertensão, redução do débito cardíaco, gangrena e contracção do músculo liso visceral. Ergonovina Derivado da cravagem do centeio, utilizado na prática clínica pelas suas acções uterotónicas. Utilizada ainda na terapêutica da enxaqueca e do sangramento pós-parto. Fenoxibenzamina Bloqueador α-adrenérgico (com maior selectividade por receptores α1) pertencente à classe das β-haloalquilaminas. De entre as β- haloalquilaminas, é a mais potente e a melhor absorvida por via oral, sendo a única usada na prática clínica. Apresenta acção bloqueadora lenta mas que, uma vez instalada, se revela irreversível. Os seus efeitos incluem hipotensão arterial, diminuição da secreção salivar, miose e anulação dos efeitos α das aminas simpaticomiméticas. As suas acções adversas incluem bloqueio dos receptores muscarínicos, dos receptores histaminérgicos H 1, dos receptores 5hidroxitriptaminérgicos e da colinesterase. Terapeuticamente é utilizada em situações de doença vascular periférica e de hipertensão devida a níveis elevados de catecolaminas (quando se procura um efeito sustentado). Fentolamina Bloqueador α-adrenérgico (que também bloqueia os receptores da 5-hidroxitriptamina) pertencente à classe das imidazolinas. Para além das suas acções simpaticolíticas, apresenta acções simpaticomiméticas, parassimpaticomiméticas e histaminomiméticas, que limitam o seu uso na prática clínica. Terapeuticamente é utilizada em situações de hipertensão devida a níveis elevados de catecolaminas (quando se procura um efeito rápido e pouco duradouro). Ioimbina Bloqueador selectivo e competitivo dos receptores adrenérgicos α2. Quimicamente, este fármaco é um alcalóide índole-alquilamina cuja estrutura se assemlha à da reserpina. Este fármaco revela-se capaz de entrar facilmente no sistema nervoso central, onde potencia um aumento da pressão arterial e frequência cardíaca, aumenta a actividade motora e potencia a ocorrência de tremores. Assim, as suas acções são opostas às da clonidina (um agonista α2) e da serotonina. Este fármaco é usado popularmente na terapia da disfunção sexual masculina (vulgo “pau-de-Cabinda”), embora se revele menos eficaz que os inibidores da PDE 5 e que a apomorfina. Para além disso, este fármaco poder-se-á revelar útil na terapia da neuropatia diabética e hipotensão postural. Metilergonovina Derivado metilado da ergonovina, que actua como agonista parcial de receptores αadrenérgicos, serotoninérgicos 5-HT2 e dopaminérgicos. Este fármaco é utilizado na terapia da enxaqueca e das hemorragias pós-parto. Apresenta efeitos uterotómicos, os quais são mais exuberantes que os da ergonovina. Prazosina Antagonista α-adrenérgico com mais selectividade para os receptores adrenérgicos α 1. Apresenta boa absorção por via oral e sofre extensa biotransformação hepática. No que concerne aos seus efeitos, induz vasodilatação generalizada (sem concomitantes efeitos cardíacos), embora esta possa ser acompanhada de hipotensão postural, sonolência, cansaço, palpitações e cefaleias. A prazosina é utilizada na terapêutica da hipertensão, devido à sua selectividade e ao facto de não comprometer a função renal nem o perfil lipoproteico. Utilizada ainda na terapêutica da doença vascular periférica, da hipertrofia benigna da próstata e da insuficiência cardíaca com edema pulmonar. Ravuloscina Bloqueador selectivo dos receptores adrenérgicos α 2. Tansulozina Bloqueador selectivo dos receptores adrenérgicos α1, utilizado na terapêutica da hipertrofia benigna da próstata. Terazosina Bloqueador selectivo dos receptores adrenérgicos α 1, utilizado na terapêutica da hipertensão arterial e da hipertrofia benigna da próstata. 7. Bloqueadores β-adrenérgicos Atenolol Bloqueador selectivo dos receptores β1. Dentro dos bloqueadores β-adrenérgicos, é dos fármacos menos lipofílicos e, por isso, sofre um baixo grau de biotransformação hepática. Este fármaco é usado na terapia da angina de peito em indivíduos que também apresentem asma, sendo ainda usado como anti-hipertensor (conseguindo um controlo efectivo da pressão sanguínea durante 24 horas). Bisoprolol Antagonista selectivo dos receptores adrenérgicos β1, cujo uso está associado a uma redução da mortalidade e das hospitalizações em pacientes com insuficiência cardíaca congestiva(independentemente da etiologia desta patologia). Bucindolol Antagonista selectivo dos receptores β1 com alguma capacidade de bloquear os receptores adrenérgicos α1. Este fármaco apresenta uma certa actividade simpaticomimética intrínseca, aumentando a fracção de ejecção sistólica ventricular esquerda. Para além disso, este fármaco diminui a resistência periférica, reduzindo a pré-carga. Assim, o uso deste fármaco na terapia da insuficiência cardíaca parece ser benéfico. Carvedilol Agonista diferencial dos receptores β, que estimula as vias inibitórias e inibe as vias estimulatórias deste receptor. Para além da sua acção bloqueadora β, este fármaco também possui acção bloqueadora α1. Este fármaco é utilizado na terapia da hipertensão e da insuficiência cardíaca congestiva moderada/grave, onde está associado a uma redução da mortalidade (independentemente da etiologia ou da fracção ventricular esquerda registada). Contudo, este fármaco não parece melhorar a capacidade de realização de esforços físicos, nem deve ser administrado a pacientes com insuficiência cardíaca descompensada. Em termos farmacocinéticos, este anti-arrítmico sofre uma ampla biotransformação hepática, através de processos de oxidação (os quais são mediados pela CYP2D6) e glucorono-conjugação. Celiprolol Bloqueador selectivo dos receptores β 1, com capacidade modesta de activação dos receptores β2. Este fármaco demonstra fraca lipossolubilidade, bem como fracos efeitos vasodilatadores e broncodilatadores. Para além disso, este fármaco parece antagonizar parcialmente a actividade α 2adrenérgica, bem como promover a síntese de NO e inibir o stress oxidativo. Este β- bloqueador parece apresentar alguma acção simpaticomimética intrínseca, embora reduza a frequência cardíaca e aumente o período refractário funcional do nó AV. Em termos clínicos, este fármaco é usado na terapia da hipertensão arterial e angina de peito. Esmolol Bloqueador selectivo dos receptores β1-adrenérgicos, que apresenta fraca absorção oral e um período de semi-vida muito curto (9 minutos), dado ser rapidamente metabolizado por esterases eritrocitárias. Este fármaco é administrado por via-intravenosa, sendo utilizado em situações que requeiram um bloqueio β- adrenérgico imediato (tais como o controlo da fibrilação auricular rapidamente conduzida ou de arritmias associadas a tireotoxicose). A sua biotransformação origina metanol, embora a intoxicação por este metabolito não se revele um problema subjacente ao uso de esmolol. Labetalol Antagonistaβ não-selectivo com acção antagonista dos receptores α1, que demonstra menor potência que o propranolol. A sua acção combinada nos receptores β e α adrenérgicos torna este fármaco útil na terapia de arritmias secundárias a excesso de estimulação simpática (tais como feocromocitomas). Por outro lado, ao antagonizar os receptores α1, este fármaco revela-se capaz de reduzir rapidamente a pressão arterial (quando administrado por via intra-venosa), algo que se revela particularmente útil em situações de crises hipertensivas. Metoprolol Antagonista selectivo dos receptores β1-adrenérgicos, que é utilizado na terapia da hipertensão arterial e da insuficiência cardíaca congestiva, onde está associado a uma diminuição do risco de morte súbita e de morte atribuível a agravamento da insuficiência cardíaca. Este fármaco pode ser administrado sob a forma de uma preparação de “actuação rápida” ou de “actuação prolongada”. Nebivolol Bloqueador selectivo dos receptores β1-adrenérgicos, que também actua no endotélio, promovendo a síntese de NO. Assim, este fármaco induz o relaxamento do músculo liso arterial, apresentando efeitos vasodilatadores – ora, isto permite o seu uso na terapia da hipertensão. Para além disso, este fármaco actua como um agonista dos receptores β 3, embora o significado clínico desse efeito permaneça desconhecido. Pindolol Agonista parcial dos receptores adrenérgicos β, que também apresenta acção anestésica local. Em termos farmacocinéticos, o pindolol é dos bloqueadores β-adrenérgicos menos lipofílicos. Propranolol Antagonista dos receptores adrenérgicos β, que também apresenta acção anestésica local. Extremamente lipofílico, este fármaco sofre elevada biotransformação, que reduz a sua biodisponibilidade oral. Utilizado na terapêutica da angina de peito e como hipotensor (conseguindo um controlo efectivo da pressão sanguínea durante 24 horas). Em termos metabólicos, impede a subida dos níveis plasmáticos de ácidos gordos livres. Antagonista dos receptores adrenérgicos β, que também apresenta acção anestésica local. Extremamente lipofílico, este fármaco sofre elevada biotransformação, que reduz a sua biodisponibilidade oral. Utilizado na terapêutica da angina de peito e como hipertensor (conseguindo um controlo efectivo da pressão sanguínea durante 24 horas). Em termos metabólicos, impede a subida dos níveis plasmáticos de ácidos gordos livres. Sotalol Antagonista dos receptores adrenérgicos β, desprovido de acção anestésica local. Dentro dos bloqueadores β-adrenérgicos, é dos fármacos menos lipofílicos. Este fármaco apresenta propriedades anti-arrítmicas secundárias ao bloqueio da corrente de potássio delayed-rectifier, prolongando os potenciais de acção cardíacos (prolongando o intervalo QT do electrocardiograma), diminuindo a automacidade, lentificando a condução no nó AV e prolongando a refractoriedade AV. Em termos clínicos, este fármaco é administrado a pacientes com taquiarritmias ventriculares e fibrilação ou flutter auricular. Note-se, contudo, que este bloqueador pode causar torsades de pointes (cuja frequência é dependente da dose), sobretudo aquando da presença de baixas concentrações séricas de potássio. O risco de torsades de pointes é superior em pacientes com insuficiência renal, uma vez que o sotalol é eliminado por via renal. Timolol Antagonista dos receptores adrenérgicos β, desprovido de acção anestésica local. Inibe a formação de humor aquoso e, por isso, pode ser utilizado no tratamento de glaucoma de ângulo aberto. III. Fármacos que interferem com o sistema 5- hidroxitriptaminérgico 1. Substâncias relacionadas com a síntese e metabolização de 5-hidroxitriptamina 5-Hidroxitriptamina (serotonina; enteramina) Amina produzida e metabolizada pelas células enterocromafins e pelos neurónios 5-hidroxitriptaminérgicos. Actua em sete classes distintas de receptores, expressos no sistema nervoso central e nos tecidos periféricos. A nível central, é um importante neurotransmissor, onde desempenha várias funções, sabendo-se que a sua diminuição na fenda sináptica se correlaciona com a génese de depressão. Os seus efeitos centrais são predominantemente inibitórios, devendo-se à activação dos receptores 5-HT1A. Por seu turno, a nível periférico, participa na regulação da função plaquetária e da actividade do músculo liso dos aparelhos digestivo e cardiovascular. 5-Hidroxitriptofano Composto intermédio da via de síntese de 5-hidroxitriptamina. Forma-se a partir do triptofano, sendo essa reacção catalisada pela hidroxílase do triptofano. A sua metabolização subsequente pela descarboxílase dos ácidos cromáticos origina 5-hidroxitriptamina. 5-Hidroxitriptofol Produto de metabolização da 5-hidroxitriptamina, quimicamente pertencente à categoria dos álcoois. Forma-se por redução de um aldeído originado por acção da MAO-A. A sua produção pode estar aumentada nos indivíduos alcoólicos. Ácido hidroxindoleacético (ácido 5-Hidroxindole-3-acético) Produto de metabolização da 5hidroxitriptamina, quimicamente pertencente à categoria dos ácidos. Forma-se por oxidação de um aldeído originado por acção da MAO-A. Constitui o metabolito mais abundante da 5-hidroxitriptamina, sendo predominantemente excretado na urina – o seu doseamento permite avaliar a quantidade de 5hidroxitriptamina produzida no organismo, contribuindo para o diagnóstico de síndrome carcinoide. Clorofenilalanina Inibe a hidroxílase do triptofano e, consequentemente, inibe a síntese de 5hidroxitriptamina de modo selectivo e irreversível. Pode ser utilizada no tratamento do tumor carcinóide. Fentermina Substância similar à anfetamina, que promove a libertação neuronal de noradrenalina e 5hidroxitriptamina por mecanismos não- exocíticos. Na prática clínica, é utilizada na terapêutica da obesidade, pois é capaz de suprir o apetite. Os seus efeitos laterais incluem taquicardia, hipertensão, insónia, cefaleias e sobre- estimulação central. Melatonina Hormona produzida na glândula pineal a partir da serotonina. Está envolvida na regulação dos ciclos circadianos e dos ciclos sexuais. Liga-se a receptores MT1/MT2, apresentando um efeito inibitório sobre os neurónios do sistema nervoso central – isto justifica o seu uso em situações de perturbações do sono. Tetrabenazina Inibe a captação de 5-hidroxitriptamina para o interior das suas vesículas, condicionando um empobrecimento do conteúdo tecidular nesta amina. Apresenta maior selectividade para a 5- hidroxitriptamina que a reserpina (que partilha das mesmas funções). Triptofano Aminoácido essencial percursor da síntese de 5-hidroxitriptamina. A sua ingestão condiciona a síntese de 5-hidroxitriptamina. 2. Agonistas dos receptores 5-hidroxitriptaminérgicos 2.1. Ansiolíticos Buspirona Agonista parcial dos receptores 5-HT1A, que é utilizada no tratamento da ansiedade. Apresenta um efeito depressor muito selectivo, de tal modo que a sua acção não gera os efeitos adversos observados para as benzodiazepinas e barbitúricos. O seu efeito ansiolítico demora mais de uma semana a surgir, de tal modo que este fármaco é ineficaz para o tratamento de situações agudas de ansiedade, mas muito eficaz no tratamento prolongado de doenças de ansiedade generalizada. Gepirona, Ipsapirona e Tandospirona Agonistas parciais dos receptores 5-HT1A com acção ansiolítica. 2.2. Fármacos usados no tratamento da enxaqueca Almotriptano Agonista selectivo dos receptores 5-HT1 pertencente à classe dos triptanos de segunda geração. Na prática clínica é utilizado no tratamento da enxaqueca. Apresenta maior biodisponibilidade oral (devido à sua lipofilia) que o sumatriptano. Eletriptano Agonista selectivo dos receptores 5-HT1 pertencente à classe dos triptanos de segunda geração. Na prática clínica é utilizado no tratamento da enxaqueca. Apresenta maior biodisponibilidade oral (devido à sua lipofilia) e maior tempo de semi-vida plasmática que o sumatriptano. A sua administração encontra-se contra- indicada em pacientes com insuficiência renal grave, insuficiênciahepática grave ou síndromes vasculares periféricas. Frovatriptano Agonista selectivo dos receptores 5-HT1 pertencente à classe dos triptanos de segunda geração. Na prática clínica é utilizado no tratamento da enxaqueca. Apresenta maior biodisponibilidade oral (devido à sua lipofilia) que o sumatriptano e maior tempo de semi- vida plasmática que os restantes triptanos (sumatriptano e triptanos de segunda geração). A sua administração encontra-se contraindicada em pacientes com doença vascular periférica. Naratriptano Agonista selectivo dos receptores 5-HT1 pertencente à classe dos triptanos de segunda geração. Na prática clínica é utilizado no tratamento da enxaqueca. Apresenta maior biodisponibilidade oral (devido à sua lipofilia) e maior tempo de semi-vida plasmática que o sumatriptano. A sua administração encontra-se contra- indicada em pacientes com insuficiência renal grave, insuficiência hepática grave ou síndromes vasculares periféricas. Rizatriptano Agonista selectivo dos receptores 5-HT1 pertencente à classe dos triptanos de segunda geração. Na prática clínica é utilizado no tratamento da enxaqueca. Apresenta maior biodisponibilidade oral (devido à sua lipofilia) que o sumatriptano. Sumatriptano Agonista selectivo dos receptores 5-HT1B e 5-HT1D, utilizado no tratamento da fase aguda da enxaqueca. Para tal, inibe a exacerbação da inflamação peri-vascular, bloqueia a condução de estímulos nóxicos até ao núcleo trigémio e induz vasoconstrição dos vasos cerebrais e meníngeos. Apresenta reduzida biodisponibilidade, de tal modo que não deve ser administrado por via oral. O seu período de semi-vida é deveras curto, o que explica a elevada taxa de recidiva de enxaqueca nas primeiras horas após administração deste fármaco. As suas acções adversas incluem irritação ou parestesias restritas ao local de administração, vasoconstrição coronária e, mais raramente, dor torácica ou cervical. Zolmitriptano Agonista selectivo dos receptores 5-HT1 pertencente à classe dos triptanos de segunda geração. Na prática clínica é utilizado no tratamento da enxaqueca. Apresenta maior biodisponibilidade oral (devido à sua lipofilia) e maior tempo de semi-vida plasmática que o sumatriptano. A sua administração encontra-se contra-indicada em pacientes com síndrome de Wolff-Parkinson-White. 2.3. Outros fármacos Cisapride Agonista dos receptores 5-HT4, que na prática clínica é utilizado no aumento da motilidade gastro-intestinal e no tratamento do refluxo gastro-esofágico. Ao actuar nos receptores 5-HT4 do plexo mientérico, este fármaco induz a libertação de acetilcolina que, por sua vez, aumenta a motilidade gastro-intestinal e a tonicidade do esfíncter esofágico inferior. Em termos farmacocinéticos, o cisapride é absorvido por via oral e sofre intensa biotransformação hepática, a qual é mediada pela CYP3A4. As acções adversas deste fármaco incluem cólicas abdominais, borborgismos, diarreia (mais comuns), cefaleias, tonturas, convulsões, taquicardia e prolongamento do intervalo QT do electrocardiograma. Fenfluramina Agonista não-selectivo dos receptores 5-HT2, que foi utilizado como supressor do apetite. Todavia, o seu uso foi descontinuado por induzir hipertensão pulmonar, defeitos valvulares e proliferação do tecido conjuntivo no espaço retroperitoneal, cavidade pleural e tecido endocárdico. LSD (Dietilamida do ácido lisérgico) Agonista dos receptores 5-HT2A (e 5-HT7) centrais, pertencente à categoria dos derivados da cravagem do centeio. Actualmente, é considerado uma droga não-aditiva,pelas suas propriedades alucinogénicas e por incapacitar a capacidade de decisão racional. Para além disso, o seu consumo está associado ao desenvolvimento de tonturas, náuseas, parestesias e visão desfocada. De referir que, a nível laboratorial, o LSD é usado como antagonista dos receptores 5-HT2 periféricos. 3. Antagonistas dos receptores 5- hidroxitriptaminérgicos 3.1. Anti-eméticos Dolasetron Antagonista competitivo e selectivo para os receptores 5-HT3, que é utilizado na profilaxia das náuseas e vómitos desencadeados pela radioterapia ou pela quimioterapia anti-neoplásica. A sua eficácia ainda não é conhecida. Sabe-se, contudo, que de entre os anti- eméticos anti-triptaminérgicos, este fármaco é aquele que induz um aumento mais pronunciado do intervalo QT do electrocardiograma. Granisetron Antagonista competitivo e selectivo para os receptores 5-HT3, que é utilizado na profilaxia das náuseas e vómitos desencadeados pela radioterapia ou pela quimioterapia anti-neoplásica. A sua administração faz-se por via intra-venosa e o seu período de semi- vida ronda as 3-7 horas. Os seus efeitos adversos mais comuns incluem diminuição da motilidade intestinal, sobretudo ao nível do cólon. Ondansetron Antagonista competitivo e selectivo para os receptores 5-HT3, que é utilizado na profilaxia das náuseas e vómitos desencadeados pela radioterapia ou pela quimioterapia antineoplásica. Apresenta rápida absorção oral e sofre intensa biotransformação, a qual é mediada por enzimas da família do citocromo P450. O seu período de semi- vida ronda as três horas e a sua eliminação ocorre preferencialmente por via hépato-biliar. As suas principais acções adversas incluem cefaleias, hipertermia, e sensação de calor na cabeça e epigastro. Palonosetron Antagonista competitivo e selectivo para os receptores 5-HT3, que é utilizado na profilaxia das náuseas e vómitos desencadeados pela radioterapia ou pela quimioterapia antineoplásica. A sua administração faz-se por via intra-venosa e apresenta um período de semi-vida de 40 horas. Sofre um extenso metabolismo hepático e a sua eliminação ocorre por excreção renal e hepática(embora não sejam necessários ajustes posológicos em doentes com insuficiência renal ou hepática). De referir que a sua afinidade para os receptores 5-HT3 é superior à dos restantes anti-eméticos. Tropisetron Antagonista competitivo e selectivo para os receptores 5-HT3, que é utilizado na profilaxia das náuseas e vómitos desencadeados pela radioterapia ou pela quimioterapia anti-neoplásica. A sua administração faz-se por via oral ou intra-venosa. A sua biodisponibilidade oral é de 52-66%, devido ao seu intenso efeito de primeira passagem. A sua semi-vida varia entre 7 e 42 horas e a sua eliminação é predominantemente renal. Os seus efeitos adversos mais comuns incluem cefaleia ligeira, obstipação, diarreia, fadiga e alterações transitórias da pressão arterial. 3.2. Outros fármacos Agomelatina Anti-depressor que actua simultaneamente como antagonista dos receptores 5-HT2C e como agonista dos receptores MT1/MT2 (receptores da melatonina). Tal como a melatonina, a agomelatina apresenta um efeito inibitório sobre a actividade dos neurónios do sistema nervoso central. Ao bloquear os receptores 5-HT2C, a agomelatina promove a desinibição de vias dopaminérgicas que seriam controladas por esses receptores – este aumento de libertação de dopamina explica porque é que a agomelatina actue como anti-depressor. Para além disso, quando comparada com a melatonina, a agomelatina apresenta maior capacidade de ligação aos receptores MT 1, dispondo de uma acção mais prolongada. Assim, para além de ser utilizada no tratamento da depressão major, a agomelatina é utilizada no tratamento de perturbações do sono. Alosetron Antagonista dos receptores 5-HT3 utilizado no tratamento de pacientes com síndrome do intestino irritável com predomínio de diarreia. A sua absorção oral é rápida, condicionando uma biodisponibilidade de 50-60%. Sofre intensa biotransformação hepática (a qual é mediada por enzimas da família do citocromo P450) e é eliminado por via renal. Apresenta um efeito de longa duração, fruto da elevada afinidade com que se liga aos receptores 5-HT3. Os seus efeitos laterais são raros mais deveras graves, incluindo obstipação e colite isquémica. Cetanserina Antagonista selectivo dos receptores 5-HT2A, que é utilizado no tratamento da hipertensão arterial ligeira e moderada. Em termos fisiológicos, induzvasodilatação, broncodilatação e inibição da agregação plaquetária, prevenindo a formação de trombos. Normalmente é administrada por via oral, sofrendo um importante fenómeno de biotransformação hepática, do qual resulta a formação de cetanserol. Os seus efeitos adversos mais comuns incluem sedação, tonturas, cefaleias, xerostomia, náuseas, hipotensão arterial e aumento do intervalo QT do electrocardiograma. Cipro-heptadina Antagonista competitivo dos receptores 5-HT2, que pode ser utilizado no tratamento do tumor carcinoide e em certas formas de urticária. Para além disso, apresenta acção antihistaminérgica, sendo um potente inibidor dos receptores H 1. Assim, a cipro- heptadina previne os efeitos no músculo liso de ambas as aminas, embora não interfira com a secreção gástrica estimulada pela histamina. Para além disso, apresenta efeitos anti-muscarínicos significativos e causa sedação. Metisergide Antagonista não-selectivo dos receptores 5-HT2A e 5-HT2C, pertencente à classe dos derivados da cravagem do centeio. Actua em receptores 5-HT2 vasculares (exercendo propriedades vasoconstrictoras) e pré-sinápticos. Clinicamente foi utilizado na terapêutica das enxaquecas, embora o seu uso tenha sido descontinuado devido aos seus efeitos laterais, que incluem proliferação do tecido conjuntivo no espaço retroperitoneal, cavidade pleural e tecido endocárdico. Ritanserina Antagonista selectivo dos receptores 5-HT2A. Pensa-se que altere a função plaquetária, o que se manifesta através de uma alteração do tempo de hemorragia e da redução da formação de tromboxano. Encontra-se desprovida de acção α-bloqueadora. IV. Fármacos com acção nos receptores opiáceos 1. Opiáceos endógenos Dinorfinas Polipeptídeos derivados da pró-dinorfina, que apresentam elevada afinidade para o receptor κ. Apresentam uma distribuição similar à das encefalinas, embora predominem no hipotálamo e na substância negra. Encefalinas Polipeptídeos derivados da pró-encefalina A, que constituem os ligandos endógenos mais importantes do receptor δ. São expressos ao longo de todo o sistema nervoso central, existindo em pequenos interneurónios de circuitos locais. Endomorfinas (endomorfina 1 e endomorfina 2) Peptídeos endógenos que partilham várias propriedades dos peptídeos opióides (nomeadamente analgesia e elevada afinidade para os receptores opiáceos). Activam selectivamente os receptores opióides μ centrais e periféricos. Endorfina β Polipeptídeo derivado da pró-opiomelanocortina, que constitui o ligando endógeno com maior afinidade para o receptor μ. Encontra- se expressa ao nível do hipotálamo e de quase todo o restante sistema nervoso central (com excepção da porção distal do tronco cerebral, da espinal medula, e do córtex cerebral), bem como em neurónios periféricos e em células do sistema imunitário. 2. Agonistas totais dos receptores opiáceos Alfentanil Derivado do fentanil, que actua como agonista dos receptores μ e κ dos opiáceos. Apresenta uma duração de acção de acção muito curta, não sofrendo acumulação. Comporta, por isso, elevada margem de segurança, mas menor potência que o fentanil. Codeína Pró-fármaco da morfina (a biotransformação hepática da codeína é mediada pela CYP2D6 e origina morfina), que apresenta uma potência cerca de doze vezes inferior à da morfina. Considerada um analgésico fraco, a codeína é preferencialmente utilizada como um anti-tússico. Dextrometorfano Derivado tetracíclico da 4-fenilpiperidina (morfinano). Usado como antitússico, induzindo menos obstipação que a codeína. Exacerba a acção analgésica da morfina e, provavelmente, de outros agonistas dos receptores μ. Todavia, o consumo excessivo da sua forma purificada está associado a vários efeitos adversos, incluindo alucinações e morte. Em termos farmacocinéticos, este fármaco é metabolizado pelo CYP26. Dextropropoxifeno Agonista fraco dos receptores opióides derivado da 3,3- fenilpiperidina. Actualmente não é amplamente utilizado na prática clínica, devido aos seus efeitos secundários, que incluem tonturas, euforia e arritmias. A sua metabolização é mediada pelo CYP2D6. Difenoxilato Derivado bicíclico da 4-fenilpiperidinas, utilizado como anti-diarreico. Não apresenta propriedades analgésicas, quando administrado em doses terapêuticas. Todavia, quando administrado em doses excessivas, apresenta efeitos centrais, podendo induzir dependência (para diminuir a probabilidade de génese de dependência, o difenoxilato é administrado em conjunto com baixas doses de atropina). Fentanil Opióide cerca de 100 vezes mais potente que a morfina, mas com duração de acção muito inferior. Após ser administrado por via parentérica (intra-venosa ou transdérmica), sofre rápida e intensa distribuição para o músculo esquelético e para o tecido adiposo, motivo pelo qual, é alvo posterior de redistribuição. Apresenta acções farmacológicas similares às da morfina, carecendo de efeitos cardiovasculares, motivo pelo qual é amplamente utilizado em cirurgia cardíaca. Heroína Pró-fármaco da morfina, que apresenta um curto período de semi- vida. Apresenta efeitos similares aos da morfina, mas não é utilizada na prática clínica, devido ao seu elevado potencial de génese de dependência física e psíquica. Loperamida Derivado bicíclico das 4-fenilpiperidinas, que actua nos receptores μ periféricos, mas apresenta poucos efeitos ao nível dos receptores opiáceos do sistema nervoso central. Utilizada no controlo da diarreia e, no futuro, poderá ser utilizada no tratamento da dor neuropática. Apresenta baixo potencial de génese de dependência. Metadona Opióide sintético ligeiramente mais potente que a morfina. Causa dependência física cruzada com a heroína, mas os sintomas de abstinência são menos intensos e de instalação mais lenta que os da heroína. Deste modo, o seu uso terapêutico restringe-se ao tratamento da toxicodependência por heroína. Meperidina (petidina) Agonista central dos receptores μ e κ, que compartilha de todos os efeitos centrais da morfina (com excepção do efeito anti-tússico), bem como de alguns efeitos periféricos. Apresenta um efeito anti-muscarínico e, por isso, contrariamente aos restantes opióides, induz taquicardia quando administrada em doses analgésicas. Pode ser administrada por via oral ou intramuscular – quando administrada por via oral, sofre intensa biotransformação hepática, originando vários metabolitos, de entre os quais se destaca a normeperidina (que apresenta cerca de metade da actividade analgésica da meperidina, mas o dobro da sua actividade convulsionante e uma maior semivida de eliminação). Morfina Agonista total dos receptores μ, κ e δ. Apresenta um efeito analgésico, que serve de padrão para todos os analgésicos de acção central. As suas acções centrais mais importantes incluem a analgesia, a sedação, a depressão respiratória e a dependência (física e psíquica). Apresenta ainda uma acção anti-tússica, acção sobre o centro do vómito e uma acção miótica. Em termos periféricos, promove a libertação de histamina, depressão cardíaca, hipotensão, hipercápnia, obstipação e retenção urinária. Em termos farmacocinéticos, apresenta absorção intestinal lenta e irregular, mas boa absorção por via intra-muscular, subcutânea, subdural ou epidural. Para além disso, sofre um intenso fenómeno de primeira passagem no fígado, sendo extensamente biotransformada por glicurono-conjugação. Papaverina Constituinte do ópio que não apresenta acção analgésica. Apresenta um efeito relaxante das fibras musculares lisas, sendo, por isso, usada na terapêutica da disfunção eréctil. Remifentanil Agonista dos receptores opiáceos μ da família do fentanil. Apresenta efeitos analgésicos, sedativos, depressores da respiração, hipotensores, mióticos e indutores de rigidez muscular, náuseas e vómitos. Em termos farmacocinéticos, este fármaco é rapidamente biotransformado pelas colinesterases não-específicas dos tecidos e, como tal, é rapidamente depurado e não sofre acumulação. Assim, quando o remifentanil é administradopor via intra-venosa, verifica-se uma rápida variação da intensidade da analgesia e uma rápida cessação de efeitos. Sufentanil Derivado do fentanil, que actua como agonista dos receptores μ e κ dos opiáceos. Comporta uma elevada margem de segurança, sobretudo, ao nível cardiovascular, motivo pelo qual é amplamente utilizado em cirurgia cardíaca. A sua potência relativa é superior à do fentanil, alfentanil e meperidina. 3. Agonistas parciais e agonistas-antagonistas mistos dos receptores opiáceos Buprenorfina Agonista parcial dos receptores μ, que praticamente carece de acções sobre os receptores κ. Liga-se de forma muito estável aos seus receptores, de tal modo que a sua dissociação dos receptores ocorre a uma velocidade muito reduzida – isto leva a que a síndrome de privação deste fármaco seja pouco exuberante. Apresenta acção analgésica e induz fraca depressão respiratória e uma ligeira redução da frequência cardíaca, da pressão sistólica e da pressão diastólica. É utilizada no tratamento crónico da toxicodependência. Nalorfina Agonista-antagonista misto dos receptores opiáceos (agonista dos receptores μ e antagonista dos receptores κ). Já não é, praticamente, utilizada na prática clínica. Pentazocina Agonista dos receptores κ e antagonista dos receptores μ. Apresenta elevada eficácia analgésica, pode ser administrada por via oral, e induz reduzida depressão respiratória. Todavia, também origina vários fenómenos disforizantes (que incluem alucinações, sensação de morte iminente e despersonalização) e induz estimulação simpática. Apresenta reduzida capacidade de provocar dependência. Tapentadol Analgésico com modesta afinidade para os receptores opióides μ. Inibe significativamente a recaptação neuronal de noradrenalina, de tal modo que os seus efeitos analgésicos são apenas ligeiramente inibidos pela naloxona, mas fortemente inibidos por um antagonista adrenérgico α 2. De referir que, comparativamente ao tramadol, o tapentadol estabelece ligações mais fortes com o transportador de noradrenalina, mas ligações mais fracas com o transportador de serotonina. Tramadol Pró-fármaco do O-desmetiltramadol, no qual é convertido por acção da CYP2D6. O Odesmetiltramadol exerce os seus efeitos analgésicos por agonismo parcial dos receptores μ e por inibição da recaptação neuronal de serotonina e noradrenalina. Em termos terapêuticos, este fármaco é eficaz em situações de dor aguda e dor crónica, embora o seu uso possa causar cefaleias, zumbidos, sonolência, náusea, hipotensão e vómitos (sobretudo, se este fármaco for administrado por via intravenosa). De referir que, o seu potencial para gerar dependência é desprezível. 4. Antagonistas dos receptores opiáceos Alvimopan Antagonista dos receptores μ periféricos que não atravessa a barreira hemato-encefálica e que, por isso, é capaz de reverter os efeitos periféricos dos opióides, mas não os seus efeitos analgésicos centrais. Em termos clínicos é utilizado no alívio da obstipação causada pelos opióides. Contudo, devido à sua potencial toxicidade cardiovascular, o uso do alvimopan encontra-se restrito a pacientes hospitalizados por curtos períodos de tempo. Metilnaltrexona Antagonista dos receptores μ periféricos, desprovido de acções centrais. É capaz de reverter os efeitos periféricos dos opióides, mas não os seus efeitos analgésicos centrais. Deste modo, este fármaco é utilizado no alívio da obstipação causada pelos opióides. Os seus efeitos são similares aos do alvimopan. Naloxona Antagonista competitivo dos receptores μ, δ e κ. Reverte a analgesia e a depressão respiratória causada pelos agonistas dos receptores opiáceos, sendo utilizada na reversão da intoxicação aguda por opióides. Manifesta um curto período de latência e os seus efeitos apresentam uma duração muito inferior à da maioria dos agonistas dos receptores opiáceos. Naltrexona Antagonista dos opiáceos, que é absorvido por via oral e apresenta uma longa duração de acção. Actualmente utilizada no tratamento da toxicodependência. V. Cannabis e canabinóides Agonistas sintéticos em investigação – Estes fármacos incluem o CP 47,497 (agonista dos receptores canabinóides com efeitos analgésicos), HU-210 (agonista dos receptores canabinóides que previne a inflamação associada à doença de Alzheimer e apresenta efeitos analgésicos), JWH-018 e JWH-250. Anandamida Endocanabinóide endógeno que, embora actue nas duas classes de receptores dos canabinóides, apresenta maior afinidade para os receptores Cb 1. Para além disso, esta substância actua nos receptores vanilóides, nomeadamente no receptor TRPV1. O metabolismo da anandamida é operado pela hidrólase FAA, de tal modo que a inibição desta enzima poderia aumentar o efeito analgésico da anandamida. 2-araquidonoilglicerol (2-AG) Endocanabinóide endógeno que actua em ambas as classes de receptores dos canabinóides. O seu metabolismo é operado pela hidrólase FAA. Canabidiol Fitocanabinóide presente em grande quantidade na planta Cannabis sativa. Actua como inibidor dos receptores canabinóides e 5- hidroxitriptaminérgicos, apresentando um efeito anorexiante sem acarretar os efeitos laterais do rimonabant (tais como depressão). Para além disso, o canabidiol apresenta um efeito imunomodulador, diminuindo a progressão da aterosclerose e aumentando a diferenciação dos adipócitos. Todavia, este fármaco apresenta fraca afinidade aos receptores canabinóides, de tal modo que apenas poderá ser usado como terapia adjuvante. Nabilone Análogo sintético do Δ -THC, sendo utilizado em alguns países para o tratamento da dor neuropática e como anti-emético. Rimonabant Agonista inverso dos receptores Cb1, que foi desenvolvido como supressor do apetite. Nos ensaios clínicos, este fármaco demonstrou inúmeros efeitos positivos tais como diminuição do peso de forma progressiva, melhoria do perfil lipídico e aumento da motivação para deixar de fumar. Todavia, o rimonabant comporta sérios efeitos adversos, induzindo um quadro depressivo e tendências suicidas. Apesar disso, o rimonabant ainda é usado em alguns países, no tratamento de situações muito graves de síndrome metabólico ou doença cardiovascular. Δ -tetra-hidrocanabinol (dronabinol) Principal fitocanabinóide constituinte da cannabis. Apresenta acção psicotrópica, anti-emética, orexigénica e analgésica (potenciando os efeitos analgésicos dos opiáceos). Todavia, também apresenta inúmeros efeitos deletérios, nomeadamente, ao nível da memória (sobretudo a curto prazo), aprendizagem, cognição e motricidade. Sabe-se ainda que o Δ –THC induz aumento do risco de surtos psicóticos e potencia dependência. Ao nível periférico, o Δ -THC induz taquicardia, vasodilatação, diminuição da pressão intra-ocular e vasodilatação. Em termos farmacocinéticos, o Δ -THC é altamente lipofílico, sofrendo um importante fenómeno de redistribuição. Já em termos moleculares, este fitocanabinóide liga-se aos receptores Cb1 e Cb2, tanto ao nível do sistema nervoso central como ao nível da periferia. VI. Fármacos e substâncias relacionadas com o etanol e seu metabolismo Acamprosato Adjuvante farmacológico do tratamento da toxicodependência alcoólica, que reduz o desejo de beber e reduz a frequência de recaídas. Em termos químicos, este fármaco é o sal de cálcio da N- acetil-homotaurina, sendo estruturalmente similar ao GABA. Todavia, este fármaco não partilha das acções farmacológicas do GABA nem das benzodiazepinas. Por outro lado, o acamprosato actua sobre o receptor NMDA do glutamato, podendo aumentar ou diminuir a actividade do receptor NMDA. Contudo, isso não explica o mecanismo de acção deste fármaco, na medida em que a activação do receptor NMDA tem diferentes efeitos sobre as acções do etanol (enquanto algumas são potenciadas, outras são inibidas). Assim, desconhece-se ainda o mecanismo de acção do acamprosato. Dissulfiram Adjuvante farmacológico do tratamento da toxicodependência alcoólica, que actua por inibição da desidrogénase aldeídica. Ao ser ingerido em simultâneo com bebidas alcoólicas,
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