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– A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO SEGUNDO PIAGET Piaget partiu da ideia de que os atos biológicos são atos de adaptação ao meio físico e que ainda ajudam a organizar o ambiente. Do ponto de vista biológico, organização é inseparável da adaptação. A inteligência é relacionada à aquisição de conhecimento na medida em que sua função é estruturar as interações sujeito-objeto. Assim, todo a pensamento se origina na ação, e para se conhecer a gênese das operações intelectuais é imprescindível a observação da experiência do sujeito com o objeto. Para ele, o desenvolvimento intelectual age do mesmo modo que o biológico, pois a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento total do organismo. A Epistemologia Genética é a teoria desenvolvida por Jean Piaget, e consiste numa síntese das teorias então existentes, o apriorismo e o empirismo. Piaget não acredita que o conhecimento seja inerente ao próprio sujeito, como postula o apriorismo, nem que o conhecimento provenha totalmente das observações do meio que o cerca, como postula o empirismo. O processo de adaptação é realizado sob duas operações: assimilação e acomodação. Conceitos cognitivos básicos: esquema, assimilação, acomodação e equilibração. São usados para explicar como e por que o desenvolvimento cognitivo ocorre. ESQUEMAS São estruturas mentais/cognitivas pelas quais os indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio. Explica por que as pessoas apresentam respostas mais ou menos estáveis aos estímulos e para explicar fenômenos associados a memória (utilizados para processar e identificar a entrada de estímulos). São definidos pelo pensamento observável da criança. São conjuntos de processos dentro do Sistema Nervoso. São constructos hipotéticos (não são objetos reais; conjunto de processos dentro do SN; não tem correlatos físicos; não são observáveis; são inferidos). Quando uma criança nasce, apresenta poucos esquemas e à medida que se desenvolve seus esquemas se tornam mais generalizados, diferenciados e numerosos. A assimilação e adaptação são responsáveis pelas mudanças de esquemas. ASSIMILAÇÃO Integração de um novo dado aos esquemas ou padrões já existentes. Semelhança; Crescimento. É sempre o produto final. Explica o crescimento (uma mudança quantitativa). Por exemplo, imaginemos que uma criança está aprendendo a reconhecer animais, e até o momento, o único animal que ela conhece e tem organizado esquematicamente é o cachorro. Assim, podemos dizer que a criança possui, em sua estrutura cognitiva, um esquema de cachorro. Pois bem, quando apresentada, à esta criança, um outro animal que possua alguma semelhança, como um cavalo, ela a terá também como cachorro (marrom, quadrúpede, um rabo, pescoço, nariz molhado etc.). Notadamente, ocorre, neste caso, um processo de assimilação, ou seja, a similaridade entre o cavalo e o cachorro (apesar da diferença de tamanho) faz com que um cavalo passe por um cachorro em função das proximidades dos estímulos e da pouca variedade e qualidade dos esquemas acumulados pela criança até o momento. A diferenciação do cavalo para o cachorro deverá ocorrer por um processo chamado de acomodação. ACOMODAÇÃO Criacao de novos esquemas ou a modificação de velhos esquemas. Diferença; Desenvolvimento. Acontece quando a criança não consegue assimilar um novo estímulo, ou seja, não existe uma estrutura cognitiva que assimile a nova informação em função das particularidades desse novo estímulo. Explica o desenvolvimento (uma mudança qualitativa). → Quando se fala que não existe assimilação sem acomodação, significa que a assimilação de um novo dado perceptual, motor ou conceitual se dará primeiramente em esquemas já existentes, ou seja, acomodados em fases anteriores. E quando se fala que não existem acomodações sem assimilação, significa que um dado perceptual, motor ou conceitual é acomodado perante a sua assimilação no sistema cognitivo existente. EQUILIBRAÇÃO Trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, e assim, é considerada como um mecanismo autorregulador, necessária para assegurar à criança uma interação eficiente dela com o meio-ambiente. Esta equilibração é necessária porque se uma pessoa só assimilasse estímulos acabaria com alguns poucos esquemas cognitivos, muito amplos, e por isso, incapaz de detectar diferenças nas coisas, como é o caso do esquema "seres", já descrito nesta seção. O contrário também é nocivo, pois se uma pessoa só acomodasse estímulos, acabaria com uma grande quantidade de esquemas cognitivos, porém muito pequenos, acarretando uma taxa de generalização tão baixa que a maioria das coisas seriam vistas sempre como diferentes, mesmo pertencendo à mesma classe. Três formas de equilibração: 1. Em função da interação fundamental de início entre o sujeito e os objetos, há primeiramente a equilibração entre a assimilação destes esquemas e a acomodação destes últimos aos objetos. 2. Há, em segundo lugar, uma forma de equilibração que assegura as interações entre os esquemas, pois, se as partes apresentam propriedades enquanto totalidades, elas apresentam propriedades enquanto partes. Obviamente, as propriedades das partes diferenciam-se entre si. Intervêm aqui, igualmente, processos de assimilação e acomodação recíprocos que asseguram as interações entre dois ou mais esquemas que, juntos, compõem um outro que os integra. 3. Finalmente, a terceira forma de equilibração é a que assegura as interações entre os esquemas e a totalidade. Essa terceira forma é diferente da Segunda, pois naquela a equilibração intervém nas interações entre as partes, enquanto nesta terceira a equilibração intervém nas interações das partes com o todo. Em outras palavras, na segunda forma temos a equilibração pela diferenciação; na terceira temos a equilibração pela integração. FATORES NECESSÁRIOS PARA O DESENVOLVIMENTO Maturação ou Hereditariedade: é uma condição necessária, na perspectiva de ser uma continuação do processo de formação do indivíduo, mas que não explica todo o desenvolvimento, desempenhando o limitado papel de abrir possibilidades para novas condutas que precisam ser atualizadas, o que automaticamente leva à consideração de outras condições, das quais a mais imediata é a experiência. → Mecanismo pelo qual os amplos limites impostos pelos fatores herdados são estabelecidos. Indica a possibilidade de construção de estruturas especificas em um determinado estágio. Experiência Ativa: Piaget estabelece dois tipos distintos: a experiência física, que está relacionada a conteúdos assimilados, e consiste em agir sobre os objetos para abstrair suas propriedades, partindo dos próprios objetos; e a experiência lógico matemática, que revela um aspecto construtivo da própria estrutura, e consiste em agir sobre os objetos para abstrair suas propriedades, mas não dos próprios objetos, e sim a partir das ações do indivíduo sobre esses objetos. Assim, a experiência física não é um simples registro de dados, mas uma estruturação ativa e assimiladora a quadros matemáticos internos. → Aquelas que provocam assimilação e acomodação, resultando em mudança nas estruturas ou esquemas. Interação Social: é um fator necessário, na medida em que a criança pode receber uma grande, quantidade de informações. Entretanto, não é suficiente, pois ela só assimilará as informações que estiverem de acordo com o conjunto de estruturas relativas ao seu nível de pensamento. Um dos principais equívocos da escola tradicional, afirma Piaget (1982), é imaginar que a criança tenha apenas de incorporar as informações já digeridas, como se a transmissão não exigisse uma atividade interna de assimilação-acomodação do indivíduo, no sentido de haver uma restruturação e daí uma correta compreensão do quefoi transmitido. Equilibração: é o que completa e evidencia o caráter não-apriorístico do desenvolvimento das estruturas mentais do indivíduo. A evolução ocorre sempre na direção de um equilíbrio, mas sem um plano preestabelecido, assim como a marcha para o equilíbrio da entropia em termodinâmica, isto é, como o equilíbrio depende da ação do sujeito ativo sobre os distúrbios externos e, ao mesmo tempo, da ação desses sobre aquele. O que se pode observar é um ponto de equilíbrio e não o ponto de equilíbrio. → Explica a coordenação dos outros fatores e a regulação do desenvolvimento, em geral. ESTÁGIOS COGNITIVOS → Cada estágio constitui então, pelas estruturas que o definem, uma forma particular de equilíbrio, efetuando-se uma evolução mental no sentido de uma equilibração sempre mais completa. → As atividades intelectuais que definem o estágio compartilham uma estrutura de conjunto. → São hierarquicamente inclusivos e a transição entre eles é gradual. Sensório-motor (0 – 2 anos); ação Pré-operatório (2 – 6 anos); representação Operatório-concreto (7 – 11 anos); operação Operatório-formal (12 – 15 anos); operação Sensório Motor → Neste estágio, a partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar mentalmente o meio. Também é marcado pela construção prática das noções de objeto, espaço, causalidade e tempo. As noções de espaço e tempo são construídas pela ação, configurando assim, uma inteligência essencialmente prática. → É assim que os esquemas vão pouco a pouco, diferenciando-se e integrando-se, no mesmo tempo em que o sujeito vai se separando dos objetos podendo, por isso mesmo, interagir com eles de forma mais complexa. → Exemplos: O bebê pega o que está em sua mão; "mama" o que é posto em sua boca; "vê" o que está diante de si. Aprimorando esses esquemas, é capaz de ver um objeto, pegá-lo e levá-lo a boca. → Assim, no estádio sensório-motor ou pré-verbal, a criança procura coordenar e integrar as informações que recebe pelos sentidos e, restringindo-se ao real, elabora o conjunto de subestruturas cognitivas ou esquemas de assimilação, que servirão de base para a construção das futuras estruturas decorrentes do desenvolvimento ulterior. → É dividido em 6 subestágios. Pré Operatório (Inteligência Simbólica) → É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de substituir um objeto ou acontecimento por uma representação, e esta substituição é possível, conforme Piaget, graças à função simbólica. → A percepção ainda domina o raciocínio. → A linguagem é adquirida muito rapidamente entre as idades de 2-4 anos. → O comportamento é predominantemente egocêntrico e não social. → É pré-lógico. → A atividade sensório-motor não está esquecida ou abandonada, mas refinada e mais sofisticada, pois verifica-se que ocorre uma crescente melhoria na sua aprendizagem, permitindo que a mesma explore melhor o ambiente, fazendo uso de mais e mais sofisticados movimentos e percepções intuitivas. → A criança deste estágio: é egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar, abstratamente, no lugar do outro. Não aceita a ideia do acaso e tudo deve ter uma explicação (é fase dos "por quês"). Já pode agir por simulação, "como se". Possui percepção global sem discriminar detalhes. Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos. → No estádio pré-operatório, surge o que Piaget & Inhelder (1978) denominam de função simbólica, que consiste no poder de representação de objetos ou acontecimentos, tomando possível, por exemplo, a aquisição da linguagem ou de símbolos coletivos. A partir daí, há o desenvolvimento de um pensamento simbólico e pré-conceitual e, em seguida, do pensamento intuitivo, que, em progressivas articulações, conduzem ao limiar das operações. As operações são ações internalizadas, ou seja, uma ação executada em pensamento sobre objetos simbólicos, seja pela representação de seu possível acontecimento e de sua aplicação a objetos reais evocados por imagens mentais, seja por aplicação direta a sistemas simbólicos. → Exemplos: Mostram-se para a criança, duas bolinhas de massa iguais e dá-se a uma delas a forma de salsicha. A criança nega que a quantidade de massa continue igual, pois as formas são diferentes. Não relaciona as situações. Operatório Concreto → Uso de operações lógicas pela primeira vez. → O pensamento deixa de ser dominado pelas percepções e a criança torna-se capaz de resolver problemas que existem ou existiram em sua experiência. → Não é egocêntrica como as crianças do estágio anterior. → Paralelismo entre o desenvolvimento cognitivo e o afetivo. → O pensamento ainda conserva seus vínculos com o mundo real, isto é, as operações se prendem às experiências concretas, não envolvendo operações de lógica de proposições ou, como coloca Piaget: o pensamento concreto é a representação de uma ação possível. Operatório Formal → Na adolescência, é alcançada a independência do real, surgindo o período das operações formais. Seu caráter geral é o modo de raciocínio, que não se baseia apenas em objetos ou realidades observáveis, mas também em hipóteses, permitindo, desta forma, a construção de reflexões e teorias. O pensamento toma- se então hipotético-dedutivo e, conforme Piaget, ocorre a libertação do pensamento, quando a realidade se torna secundária frente à possibilidade. Neste período, além da lógica de proposições, são desenvolvidas, entre outras, operações combinatórias e de correlação. → É um pensamento reversível. → Estruturas que emergem durante a construção das operações formais: o raciocínio hipotético-dedutivo, o pensamento científico-indutivo e a abstração reflexiva. → Dois principais conteúdos cognitivos: operações proposicionais ou combinatórias e os esquemas operacionais formais. CRITÉRIOS QUE DEFINEM E DELIMITAM O USO DA NOÇÃO DE ESTÁGIO Hierarquização: a ordem da sequência é constante e as idades cronológicas variam em função de uma série de fatores. Integração: aquisições em determinado estágio pressupõe a de estágios anteriores. Consolidação: todo estágio envolve um período de formação ou gênese e um período de realização do comportamento adquirido. Estruturação: as ações e operações que caracterizam um estágio formam uma unidade ou uma estrutura de conjunto. Equilibração: há uma sucessão de níveis de equilíbrio.
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