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Alan e Lara CEO CICATRIZAÇÃO DE FERIDAS Primeiramente devemos nos atentar aos conceitos que envolvem o assunto. Ferida é conceituada como a interrupção da continuidade original de um tecido. Já ferida cirúrgica é interrupção intencional dessa continuidade do tecido, com a finalidade de abordar uma estrutura anatômica que esteja deteriorada ou deslocada de posição. A restauração da continuidade dos tecidos pode ser dividida em: • Regeneração – restauração perfeita da arquitetura do tecido pré- existente, na ausência de formação de cicatriz. Pode acontecer em animais inferiores (lagartixa quando perde a calda), no desenvolvimento embrionário e em adultos, no fígado e no osso também podem realizar (mas nesse último caso não retorna à mesma forma que era antes). • Reparo – cicatrização, normalmente através da deposição colágeno. Na cicatrização, a acurácia da regeneração é trocada pela velocidade do reparo. Em algumas pessoas, em especial negros, pode ocorrer a deposição exagerada de colágeno, formando os queloides. Já intervenção de técnica cirúrgica na aproximação das bordas da ferida se divide em: • Fechamento por primeira intenção: quando se faz uma operação para apendicite e observa-se que não houve nenhuma contaminação, você fecha retrogradamente todos os planos até a pele assim que acaba o procedimento. De preferência, isso ocorre com pontos separados, com fio monofilamentar não absorvível (fios não orgânicos). • Fechamento por segunda intenção: é quando encontramos, pus numa cavidade e, por causa disso, fechamos todos os planos e deixamos o tecido subcutâneo e a pele abertas. Além disso, colocamos gaze com soro fisiológico e, 24 a 48 horas depois de um ou dois curativos, fechamos o que ficou aberto. • Fechamento por terceira intenção: supomos que um paciente chega com uma dor abdominal forte e você percebe que o pâncreas do paciente está bem necrosado. Assim, você precisa abrir para retirada de grande quantidade de tecido pancreático, mas não pode fechar logo em seguida pois precisará realizar outros procedimentos para manutenção da vida desse paciente. Assim, o fechamento por 3ª intenção é quando a ferida cirúrgica precisa ficar aberta por dias (ele exemplifica de 6 a 20 dias). A reparação de feridas é dividida em 3 fases: fase inflamatória; fase proliferativa e fase de maturação. É importante lembrar que todas as três fases podem ocorrer simultaneamente, e podem se sobrepor. • Fase inflamatória/exsudativa: inicia-se no momento da lesão. Aqui encontramos reações vasomotoras (retração dos vasos); processos de hemostasia através da formação do tampão de plaquetas (para evitar hemorragia no local) e aumento da permeabilidade vascular (para permitir migração celular por diapedese) com transudato. Ocorrerá, também, alteração na composição de substâncias intercelulares com concentração de macromoléculas como glicoproteínas, mucopolissacarídeos e fibrina. As plaquetas e polimorfonucleares vão liberar mediadores químicos, como histamina, serotonina e cininas (calidina e bradicinina), que aumentam a permeabilidade vascular, favorecendo a exsudação plasmática e passagem de elementos celulares para a área da ferida. Vale ressaltar que, no local da incisão, terá hiperemia localizada. Por isso, em cirurgias longas, é importante sempre passar álcool iodado nas bordas da ferida para evitar proliferação bacteriana. Os primeiros elementos celulares a alcançar o local da ferida são os neutrófilos e os monócitos, a função de desbridar as superfícies da ferida e fagocitar as partículas antigênicas e corpos estranhos. O pico de atividade dos polimorfonucleares ocorre nas primeiras 24-48 horas após o trauma, seguindo-se de um maior aporte de macrófagos durante os dois a três dias seguintes (polimorfonucleares sendo substituídos por mononucleares). O macrófago, também ativa os elementos celulares das fases subsequentes da cicatrização tais como fibroblastos e células endoteliais. Os polimorfonucleares se posicionam na periferia do vaso e saem do vaso por diapedese e migram para a ferida cirúrgica. • Fase proliferativa: pode ser, ainda, subdividida em 3 fases: angiogênese, fibroplasia e epitelização. Esta fase caracteriza-se pela formação de tecido de granulação, que é constituído por um leito capilar, fibroblastos, macrófagos, um frouxo arranjo de colágeno. Esta fase inicia-se por volta do 3º dia após a lesão, perdura por 2 a 3 semanas e é o marco inicial da formação da cicatriz. A angiogênese seria o surgimento de novos capilares, necessários para manter o ambiente de cicatrização da ferida, através da migração de células endoteliais por estímulo do TNF-α, refazendo a circulação da região. A fibroplasia seria a produção de tecido. Após o trauma, células mesenquimais quiescentes e esparsas no tecido normal, são transformadas em fibroblastos (estímulo a partir de IL-1, Il-6, principalmente, do TGF-B) e atraídas para o local inflamatório, onde se dividem e produzem os componentes da matriz extracelular (glicosaminoglicanos e proteínas fibrosas – colágeno é o principal). O fibroblasto só aparece no sítio da lesão a partir do 3º dia, quando os leucócitos polimorfonucleares já fizeram seu papel higienizador da área traumatizada. A função primordial dos fibroblastos é sintetizar colágeno. O colágeno é o material responsável pela sus tentação e pela força tensil da cicatriz, produzido e degradado continuamente pelos fibroblastos. Inicialmente, a síntese de colágeno novo é a principal responsável pela força da cicatriz, sendo substituída ao longo de semanas, pela formação de ligações cruzadas entre os feixes de colágeno. A taxa de síntese declina por volta de quatro semanas e se equilibra com a taxa de destruição e, então, se inicia a fase de maturação do colágeno que continua por meses, ou mesmo anos. A epitelização envolve a proliferação das células epiteliais devido a fatores de crescimento. As células epiteliais induzem a contração e a neo-epitelização da ferida e, assim, reduzindo a sua superfície. • Fase da maturação: essa fase é conhecida como remodelação histológica. A maturação da ferida tem início durante a 3ª semana e caracteriza-se por um aumento da resistência, sem aumento na quantidade de colágeno. Há um equilíbrio de produção e destruição das fibras de colágeno neste período, por ação da colagenase. Ocorre a obliteração e absorção do excesso de capilares formados durante a fase proliferativa. O aumento da resistência deve-se à remodelagem das fibras de colágeno, com aumento das ligações transversas e melhor alinhamento do colágeno, ao longo das linhas de tensão. A reabsorção das fibras é importante a fim de evitar cicatrizes hipertróficas e queloides. Nessa fase há também a normalização das mitoses no epitélio e preenchimento de espaços por células adiposas para que a ferida cirúrgica fique quase similar ao que era anteriormente. Curiosidade: em cirurgias plásticas e do aparelho digestivo não se dá mais pontos, apenas faz a aproximação das bordas, pois, cada ponto seria uma agressão a mais ao tecido, o que aumentaria a chance de queloide. ASPECTOS CLÍNICOS DA CICATRIZAÇÃO DAS FERIDAS Existem diversos fatores que contribuem para o surgimento de infecções no pós-operatório e, por isso, é preciso se atentar a vários fatores. Para o hospedeiro ser resistente a infecções, é possível elencar dois tipos de determinantes: • Determinantes locais: irrigação sanguínea satisfatória e ausência de corpos estranhos, hematomas ou seromas (acúmulo de líquido abaixo da pele). Vale ressaltar que, segundo o professor, o mais importante é que, no momento da diérese, a oferta de oxigênio para o paciente seja suficiente. • Determinantes sistêmicos: estado das defesas imunológicas e das condições hemodinâmicas do paciente(ao meu ver, a oferta de oxigênio entraria aqui, mas o prof só ignorou esse tópico) Além disso, temos os princípios da técnica operatória: • Diérese deve ser delicada e deve remover tecido necrótico e corpos estranhos. Além disso, é indicado que os cortes sigam as linhas de tração da pele (figura). • Hemostasia com o mínimo possível de material de fios de ligadura, afinal são corpos estranhos. Hoje o mais indicado é fazer hemostasia com bisturi à laser, porém é muito caro e, por isso, poucos hospitais possuem. A gordura tem pouca irrigação, assim, temos que traumatizar pouco para evitar necrose! • Síntese sem pontos muito apertados ou muito próximos para evitar isquemia. É importante que os pontos sejam simétricos em distância e profundidade para que não tenha espaço morto. A violação desses princípios favorece a infecção da ferida. FATORES QUE RETARDAM O PROCESSO DE CICATRIZAÇÃO • Deficiência no transporte de O2: OBS: Lembrar da importância da câmara hiperbárica! A câmara compensa a deficiência de O2, auxiliando na cicatrização de feridas. • Violação da técnica operatória • Deficiências nutricional • Infecção: se um paciente possui erisipela, por exemplo, não deve operar. Risco de infecção disseminada. COMPLICAÇÕES DA FERIDA OPERATÓRIA Imediatas: • Hematoma • Seroma • Infecção • Deiscência: abertura de uma sutura, aumenta o risco de infecção e dificulta a cicatrização ATENÇÃO: Fatores predisponentes de deiscência de sutura: Defeito técnico de sutura, desnutrição, infecção, anemia, hepatopatia, uremia, diabetes, uso de corticoide. Fatores precipitantes de deiscência: tosse intensa e repetitiva, ascite (ou faz punção repetitiva antes de operar ou coloca a válvula de Le Veen por 2/3 para operar o paciente sem distensão da cavidade abdominal). PROFILAXIA DE DEISCÊNCIA DE SUTURA • Quanto a técnica operatória: Adequação ao tecido a ser aproximado o Força tensil do material de sutura o Tipo de nó: precisa de padronização. Quanto menos nós, melhor será o resultado o Profundidade da apreensão dos tecidos: importante ser simétrica o Número de pontos • Quanto ao estado geral do paciente Procurar corrigir ou compensar os distúrbios orgânicos pré-existentes. TRATAMENTO Deiscência parcial: abertura de apenas alguns pontos Limpeza da ferida com solução salina isotônica; Remoção de tecido necrótico Fechamento tardio da ferida por 2ª ou 3ª intenção Deiscência total ou visceração: a víscera sai para fora da cavidade Cobertura imediata das vísceras com compressa úmida ou estéril Abordagem da ferida, sob anestesia geral, em ambiente apropriado, remoção de tecido necrótico, sutura por pontos separados OBS: Deiscência total é uma urgência médica! COMPLICAÇÕES TARDIAS DA FERIDA OPERATÓRIA TARDIAS • Hérnia incisional: a cirurgia para tratar hérnia incisional não é fácil. O índice de perfuração intestinal é grande • Queloide • Granuloma de corpo estranho • Dor persistente no local da operação
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