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PROCESSO Nº (1)

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PROCESSO Nº: 0803436-31.2021.4.05.8500 - AÇÃO CIVIL PÚBLICA 
AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL 
RÉU: CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISA EM AVALIACAO E 
SELECAO E DE PROMOCAO DE EVENTOS - CEBRASPE e outro 
ADVOGADO: Fabiane Silva Araujo 
3ª VARA FEDERAL - SE (JUIZ FEDERAL TITULAR) 
 
 
 DECISÃO 
 
Trata-se de Ação Civil Pública, ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO 
FEDERAL, em face da UNIÃO FEDERAL E DO CENTRO 
BRASILEIRO DE PESQUISA EM AVALIAÇÃO E SELEÇÃO E DE 
PROMOÇÃO DE EVENTOS - CEBRASPE, requerendo o seguinte: 
a) o recebimento da presente petição inicial ; 
b) a juntada dos documentos que instruem a inicial; 
c) a concessão de tutela de urgência ou de medida liminar, inaudita altera 
pars, com fundamento no art. 12 da Lei nº 7.347/85 c/c art. 300 do Código de 
Processo Civil, para determinar: 
c.1) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de 
Promoção de Eventos - CEBRASPE que, na condução do concurso regido 
pelo Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, respeitem a reserva 
de vagas destinadas a candidatos negros estabelecida no §1º do art. 3º da Lei 
12.990/2014 em todas as fases do concurso e não apenas no momento da 
apuração do resultado final; 
c.2) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de 
Promoção de Eventos - CEBRASPE que realizem a retificação do Edital 
Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, para dele fazer constar 
expressamente que os candidatos autodeclarados negros aprovados nas provas 
objetivas que tiverem direito à correção de suas provas discursivas com base 
nas suas classificações na ampla concorrência não serão contabilizados no 
quantitativo de correções das provas discursivas de candidatos autodeclarados 
negros, constando tanto da listagem de candidatos da ampla concorrência com 
direito à correção de suas provas discursivas, quanto da listagem dos 
candidatos autodeclarados negros que têm direito à correção de suas provas 
discursivas; 
c.3) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de 
Promoção de Eventos - CEBRASPE, de acordo com os itens anteriores, que 
não considerem, no número de correções de provas discursivas para 
vagas reservadas para candidatos negros, aqueles candidatos negros que 
obtiveram nota suficiente para estarem no número de correções de 
provas discursivas para vagas de ampla concorrência, na primeira etapa 
do concurso público em andamento (mantendo-os, porém, tanto na lista dos 
aprovados para as vagas destinadas à ampla concorrência quanto na lista dos 
aprovados para as vagas reservadas a candidatos negros), devendo realizar, 
ainda, a correção das provas discursivas de candidatos autodeclarados 
negros aprovados e classificados dentro das vagas reservadas, tantos 
quantos bastem para completar o limite previsto no edital (ou seja, em 
número equivalente ao de candidatos autodeclarados negros classificados 
ou aprovados dentro do número de vagas oferecido para ampla 
concorrência); 
c.4) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de 
Promoção de Eventos - CEBRASPE, que retifiquem o Edital de Concurso 
PRF nº 11, de 27 de maio de 2021, de forma a que sejam incluídos, na lista 
dos candidatos que se autodeclararam negros, outros eventuais candidatos que 
atendam ao item "c.3" acima, devendo ser oportunizado a esses candidatos o 
direito de interposição de recurso contra o resultado provisório da prova 
discursiva; 
c.5) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de 
Promoção de Eventos - CEBRASPE que, analisados os eventuais recursos, 
publiquem o resultado final da prova discursiva relativamente a esses 
candidatos e façam a convocação para a prova de capacidade física dos que 
forem aprovados na prova discursiva (item 11.1 do edital), bem como das 
demais fases do certame (itens 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20 do 
edital), caso venham a obter aprovação, retificando-se os correspondentes 
editais de resultados já publicados; 
c.6) a suspensão do andamento do concurso público até que os candidatos que 
venham a ter suas provas discursivas corrigidas, nos termos das alíneas 
anteriores, e sejam submetidos às demais fases do certame (caso venham a 
obter aprovação), até que alcancem a fase em que se encontram os demais 
candidatos já aprovados. 
d) a citação da UNIÃO e do Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e 
Seleção e de Promoção de Eventos - CEBRASPE, na forma da lei, para, 
querendo, contestarem a presente ação, sob pena de decretação da revelia e 
aplicação de seus efeitos; 
e) por se tratar de questão unicamente de direito, o julgamento antecipado do 
mérito, conforme disposto no artigo 355, inciso I, do Código de Processo 
Civil, e, caso Vossa Excelência entenda necessária dilação probatória, pugna 
pela produção de todas as provas em direito admitidas, em especial juntada de 
novos documentos e oitiva de testemunhas; 
 
Relata que: 
A presente ação tem por objetivo determinar à UNIÃO e ao Centro Brasileiro 
de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos - 
CEBRASPE, que, no concurso público para provimento de vagas no cargo de 
Policial Rodoviário Federal - PRF, regido pelo Edital Concurso PRF nº 1, de 
18 de janeiro de 2021, observem o disposto no art. 3º, §1º, da Lei nº 
12.990/2014 em cada um das fases e etapas do concurso referido. 
Assim, pretende-se com esta ação obter provimento jurisdicional que imponha 
obrigação de fazer aos demandados, consistente na retificação do Edital 
Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, a fim de que os candidatos 
autodeclarados negros aprovados nas provas objetivas que tiverem direito à 
correção de suas provas discursivas com base nas suas classificações na ampla 
concorrência não sejam contabilizados no quantitativo de correções das 
provas discursivas de candidatos autodeclarados negros, constando tanto da 
listagem de candidatos da ampla concorrência quanto da listagem dos 
candidatos autodeclarados negros que tem direito à correção de suas provas 
discursivas. 
Além disso, em sede definitiva, objetiva-se que a UNIÃO e o CEBRASPE 
sejam condenados adotar tais medidas sempre que realizem e organizem 
concursos públicos para provimento de cargos efetivos no âmbito da 
administração pública federal, assegurando-se, assim, efetividade da Lei nº 
12.990/2014. 
Restou apurado, no âmbito do procedimento nº1.35.000.000717/2021-13 em 
anexo, que o CEBRASPE e a UNIÃO, no concurso para provimento de vagas 
no cargo de Policial Rodoviário Federal em andamento, adotaram critérios de 
classificação que desfiguram o disposto no art. 3º, caput, da Lei nº 
12.990/2014. 
Dispõe o Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021: 
 
4 DAS VAGAS 
Vagas para ampla concorrência Vagas reservadas para candidatos negros Vagas reservadas para candidatos com 
deficiência 
 
Total 
1.125 300 75 1.500 
 
(...) 
6 DAS VAGAS DESTINADAS AOS CANDIDATOS NEGROS 
6.1 Das vagas destinadas ao cargo e das que vierem a ser criadas/autorizadas 
durante o prazo de validade do concurso, 20% serão providas na forma da Lei 
nº 12.990, de 9 de junho de 2014, e da Portaria Normativa nº4, de 6 de abril de 
2018. 
10.6 DOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA PROVA DISCURSIVA 
10.6.1 Respeitados os empates na última colocação, será corrigida a prova 
discursiva do candidato aprovado na prova objetiva e classificado até a 
posição especificada no quadro a seguir. 
 
Candidatos à ampla concorrência Candidatos que se autodeclararam negros Candidatos que solicitaram concorrer às 
vagas 
 
Total 
4.500ª 1.200ª 300ª 6.000ª 
 
(..) 
10.6.2 O candidato cuja prova discursiva não for corrigida na forma do 
subitem 10.6.1 deste edital estará automaticamente eliminado e não terá 
classificação alguma no concurso." 
Observa-se que o item 10.6 do Edital Concurso PRF nº 1, de 18/01/2021, 
prevê duas regras que impedem o candidato de prosseguir nocertame, as 
chamadas regras restritivas, que subdividem-se em eliminatórias e cláusulas 
de barreira. Quando o edital prevê que serão corrigidas as provas discursivas 
dos candidatos aprovados nas provas objetivas, está prevendo uma regra 
eliminatória (10.6.1), pois condiciona a correção das provas a um acerto 
mínimo de questões das provas objetivas. 
Destarte, as regras eliminatórias estão ligadas à noção de eliminação do 
candidato do certame público por insuficiência em seu desempenho. 
Por sua vez, quando limita o número de provas discursivas a serem corrigidas, 
estabelece uma cláusula de barreira (10.6.1). Dessa forma, no universo de 
candidatos que não forem excluídos pela regra eliminatória (aprovação na 
prova objetiva), participará da fase subsequente (correção da prova discursiva) 
apenas um número predeterminado de candidatos, contemplando-se somente 
os mais bem classificados. Salienta-se que a previsão das cláusulas de barreira 
foi declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal no Recurso 
Extraordinário nº 635.739, julgado em 19/02/2014, não sendo este o objeto do 
questionamento desta ação 
Entretanto, a problemática gira em torno da formação da lista de 
classificados para a correção das provas discursivas, elaborada em 
desconformidade com o previsto no art. 3º, caput e §1º, da Lei nº 
12.990/2014 ("§ 1º Os candidatos negros aprovados dentro do número de 
vagas oferecido para ampla concorrência não serão computados para efeito 
do preenchimento das vagas reservadas") e com a Ação Declaratória de 
Inconstitucionalidade nº 41, julgada em 08/06/2017. 
Segundo o Edital Concurso PRF nº1, de 18/01/2021, serão elaboradas três 
listas de classificação, quais sejam: ampla concorrência, candidatos negros e 
candidatos com deficiência. Assim, de acordo com o ofício 1361/2021 (em 
anexo), encaminhado pelo CEBRASPE ao MPF: 
"Conforme se verifica no § 1.º do art. 3.ª da Lei n.º 12.990/2014, os 
candidatos negros, aprovados dentro do número de vagas da ampla 
concorrência, não serão computados para efeito de preenchimento das vagas 
reservadas. 
Veja-se: 
Art. 3º Os candidatos negros concorrerão concomitantemente às vagas 
reservadas e às vagas destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua 
classificação no concurso. 
§ 1º Os candidatos negros aprovados dentro do número de vagas 
oferecido para ampla concorrência não serão computados para efeito do 
preenchimento das vagas reservadas. 
(...) (Grifou-se) 
Tal dispositivo foi literalmente repetido no Edital Concurso PRF nº 1, de 18 
de janeiro de 2021, para garantir que, ao final do concurso, quando da 
divulgação do resultado final, os candidatos negros, aprovados dentro do 
número de vagas previsto no edital de abertura para ampla concorrência, não 
sejam computados para provimento de vagas reservadas a candidatos negros, 
conforme transcrito a seguir: 
6.3 Os candidatos negros concorrerão concomitantemente às vaga reservadas 
e às vagas destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação 
no concurso. 
6.4 Os candidatos negros que se declararem com deficiência concorrerão 
concomitantemente às vagas reservadas a pessoas com deficiência e às vagas 
destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação no 
concurso. 
6.5 Os candidatos negros aprovados dentro do número de vagas oferecido à 
ampla concorrência não preencherão as vagas reservadas a candidatos negros, 
sendo, dessa forma, automaticamente excluídos da lista de aprovados na lista 
de candidatos negros. 
Assim, o candidato negro aprovado dentro do número de vagas de ampla 
concorrência ocupará necessariamente uma dessas vagas, abrindo a 
possibilidade de que outro candidato negro, que tenha classificação suficiente 
ao final do concurso, seja aprovado para a vaga reservada por aquele não 
preenchida. 
Frisa-se que o estabelecido no § 1.º do art. 3.º da Lei 12.990/2014, somente 
deve ser implementado no momento do resultado final do concurso, pois 
tal regra refere-se a candidatos aprovados. Salienta-se que CANDIDATO 
APROVADO é aquele que foi submetido a todas as etapas do certame e 
obteve aprovação, figurando no resultado final do concurso e obtendo 
classificação final para fins de nomeação ou de permanência em cadastro de 
reserva. 
 Ou seja, segundo o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e 
de Promoção de Eventos - CEBRASPE, a regra contida no art. 3º, caput e §1º, 
da Lei nº 12.990/2014, deve ser implementada apenas no resultado final do 
concurso. Contudo, releva observar que, a se prevalecer a interpretação 
adotada pelo CEBRASPE, o objetivo da referida norma legal será 
esvaziado. Assim, o aludido dispositivo legal deve ser aplicado em todas as 
fases e etapas do certame, notadamente todas as vezes que houver formação 
de lista de classificação. 
Exemplifica-se: O edital em exame prevê que serão disponibilizadas 1.125 
vagas para a ampla concorrência, serão reservadas 300 vagas para candidatos 
negros no concurso para o cargo de Policial Rodoviário Federal. Dessa forma, 
corrigidas 4.500 provas discursivas para vagas de ampla concorrência e 300 
provas para vagas reservadas para candidatos negros. 
Aplicando-se o entendimento do CEBRASPE, se 300 candidatos negros 
obtiverem nota suficiente para correção das provas discursivas dentro das 
vagas de ampla concorrência, ainda assim eles serão computados no número 
de correções para as vagas reservadas para candidatos negros. Ou seja, 
nenhum candidato cotista terá sua prova discursiva corrigida. 
Nessa hipótese, se os 300 candidatos negros mantiverem seu desempenho, 
sendo aprovados dentro das vagas da ampla concorrência, a reserva de 20% de 
vagas aos candidatos cotistas terá sido meramente nominal e nenhuma será 
preenchida, pois aqueles que teriam sido beneficiados pela Lei nº 12.990/2014 
terão sido todos eliminados anteriormente, de forma manifestamente indevida. 
Registre-se que, mesmo que apenas um candidato negro classificado na lista 
da ampla concorrência seja contabilizado no quantitativo de correções das 
provas discursivas de candidatos autodeclarados negros, isso importará em 
violação à Lei e ao Princípio da Igualdade, pois o percentual de provas 
discursivas dos candidatos cotistas a serem corrigidas será proporcionalmente 
menor que o dos demais candidatos. 
Por outro lado, caso se aplique o entendimento ora postulado na presente 
ação, os candidatos negros que obtivessem nota suficiente para a ampla 
concorrência, embora constem das duas listas, não devem ser 
considerados no número de correções de provas discursivas para as vagas 
reservadas para candidatos negros, de forma que mais candidatos negros 
teriam suas provas discursivas corrigidas, atingindo-se, assim, o real 
objetivo das cotas. 
A aplicação do citado art. 3º, caput e §1º, da Lei nº 12.990/2014 em todas as 
fases e etapas do certame é medida que se impõe para assegurar a eficácia da 
ação afirmativa instituída pelo mencionado diploma legal e cuja 
constitucionalidade foi declarada pelo STF na ADC 41 / DF. 
 Caso contrário, ao final do certame, será mais provável que não tenham 
candidatos cotistas suficientes para o preenchimento de todas as vagas ou 
para o cadastro de reserva pois, entre aqueles que chegarem ao final do 
certame, estarão os candidatos com nota suficiente para ocupar as vagas 
da ampla concorrência e que, durante todo o concurso, foram 
considerados na contagem de cotistas, prejudicando os demais candidatos 
negros concorrentes. 
Desse modo, necessária a retificação do edital de forma a prever que, em 
cada uma das etapas e fases do concurso, não sejam computados, para 
efeito de preenchimento do percentual de vagas reservadas a candidatos 
negros, os candidatos autodeclarados negros classificados ou aprovados 
dentro do número de vagas oferecido para ampla concorrência. 
Além disso, devem esses candidatos constar também da lista dos aprovadospara as vagas destinadas à ampla concorrência e da lista dos aprovados para as 
vagas reservadas a candidatos negros em todas as etapas do concurso. Por 
fim, deverá ser realizada a correção das provas discursivas dos 
candidatos autodeclarados negros aprovados e classificados dentro das 
vagas reservadas, conforme o limite previsto no edital, no número 
correspondente ao de candidatos autodeclarados negros classificados ou 
aprovados dentro do número de vagas oferecidas para ampla 
concorrência. 
 
Este Juízo, em sede proemial, em homenagem ao princípio do contraditório, 
determinou as notificações dos requeridos para, em 72 (setenta e duas) 
horas, manifestarem-se sobre a postulação autoral. 
 
A União Federal, no id 4058500.4981749, impugna o pedido liminar nos 
seguintes termos: 
INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL. 
Há que se notar a inépcia da petição inicial, que não apresenta os fatos com 
necessárias clareza e objetividade. Resta dificultada a compreensão do objeto 
da demanda, a ampla defesa e o contraditório, de modo que a prestação 
jurisdicional fica prejudicada. 
Com efeito, a petição inicial precisa delimitar o fato e os fundamentos 
jurídicos, bem como apresentar pedido certo, conforme artigo 319, III e IV, 
c/c os arts. 322 e 330, I, do CPC. Há necessidade, portanto, que da narração 
dos fatos decorra a conclusão (art. 330, §1º, I e III; do CPC). 
DO DESCABIMENTO DO PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA 
ANTECIPADA. CONCURSO DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL 
(Edital PRF n. 1, de 18.01.2021). LEGALIDADE ADMINISTRATIVA. 
No caso presente, não há probabilidade do direito, uma vez que o alegado 
direito não encontra guarida no ordenamento jurídico. Ademais, o perigo de 
dano ou risco ao resultado útil do processo, tampouco restou satisfeito; à 
mingua de qualquer comprovação. 
De início, as alegações são "genéricas, sem qualquer prova, de modo que 
revelam matéria controvertida. 
Inexiste a probabilidade do direito alegado. 
Também não provou o alegado perigo de dano ou risco ao resultado útil do 
processo. 
O autor/recorrido não demonstrou qualquer "ilegalidade" da 
Administração Pública. 
Há de se considerar a presunção de legitimidade dos atos administrativos, e 
a indisponibilidade do interesse público. 
 
DO EFEITO "SATISFATIVO" (IRREVERSIBILIDADE) QUE 
INVIABILIZA A "TUTELA PROVISÓRIA". VEDAÇÃO LEGAL À 
CONCESSÃO DE LIMINAR EM FACE DA FAZENDA PÚBLICA. 
RISCO "INVERSO" EM DESFAVOR DO ESTADO 
Ademais, o pleito de "tutela provisória" tem viés satisfativo, pois seus efeitos 
serão irreversíveis, tendo em vista o impacto orçamento e administrativo que 
lhe é inerente. 
Em outras palavras, o pedido de tutela provisória acaba por esgotar o objeto 
da ação, com manifesto risco de irreversibilidade. 
Daí porque se deve observar a vedação que a legislação estabelece à 
concessão de liminar (tutela provisória) em desfavor da Administração 
Pública. 
Art. 1.059. À tutela provisória requerida contra a Fazenda Pública aplica-
se o disposto nos arts. 1º a 4º da Lei nº 8.437, de 30 de junho de 1992, e 
no art. 7º, §2º, da Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009. 
O pedido de "tutela provisória", portanto, acaba por esgotar o objeto da ação, 
com manifesto risco de irreversibilidade. 
DA EXISTÊNCIA DE RISCO INVERSO EM DESFAVOR DA UNIÃO 
Cumpre tecer algumas observações quanto aos impactos nocivos que o 
deferimento do pedido liminar traria ao certame e ao interesse público. 
Em primeiro lugar, a convocação dos candidatos segundo o critério 
impugnado já se exauriu, pelo que acolher a pretensão demandaria corrigir 
provas de indefinidos candidatos e refazer as provas já aplicadas, pondo em 
risco a própria efetividade do certame. Desse modo, o deferimento da tutela de 
urgência poderia gerar graves prejuízos ao andamento do concurso, à Polícia 
Rodoviária Federal - que já possui grave déficit em seu quadro de pessoal -, 
aos candidatos inscritos no concurso e à Administração Pública em geral. 
Para além dos transtornos em relação aos participantes do certame e possíveis 
ações indenizatórias, o eventual atraso do concurso, retardaria, 
consequentemente, a reposição de policiais rodoviários federais, em momento 
em que salta aos olhos a necessidade de pessoal do órgão. Tal situação 
causaria impacto direto nas atividades da Polícia Rodoviária Federal, 
notadamente em regiões estratégicas, na área de fronteira e em localidades de 
difícil provimento, de impacto imprevisível em toda a sociedade e com 
consequências imensuráveis. 
Ademais, como se informa no Ofício Cebraspe n.º 2.272/2019 (fl. 09), "o 
acolhimento do pleito além de não encontrar respaldo no edital que rege o 
certame e na legislação vigente, pode gerar precedente que inviabilizará a 
finalização do resultado desse certame e a realização de outros". O dano, 
como se vê, é inverso e milita em desfavor da União, recomendando não 
sejam impostos mais atrasos ao certame em tela, especialmente porque, como 
sobejamente se demonstrou acima, nenhuma mácula há no edital". 
O pedido de tutela antecipada deve ser indeferido por falta de respaldo 
jurídico. 
 
MÉRITO 
Convém mencionar que a chamada cláusula de barreira (quantidades de 
candidatos mais bem classificados para prosseguimento nas fases do 
concurso) teve sua legalidade reconhecida pelo STF-Supremo Tribunal 
Federal, no julgamento do RE n. 635.739/AL: 
Tema 376: É constitucional a regra inserida no edital de concurso público, 
denominada cláusula de barreira, com o intuito de selecionar apenas os 
candidatos mais bem classificados para prosseguir no certame. 
Recurso Extraordinário. Repercussão Geral. 2. Concurso Público. Edital. 
Cláusulas de Barreira. Alegação de violação aos arts. 5º, caput, e 37, inciso I, 
da Constituição Federal. 3. Regras restritivas em editais de concurso público, 
quando fundadas em critérios objetivos relacionados ao desempenho meritório 
do candidato, não ferem o princípio da isonomia. 4. As cláusulas de barreira 
em concurso público, para seleção dos candidatos mais bem classificados, têm 
amparo constitucional. 5. Recurso extraordinário provido. 
(RE 635739, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 
19/02/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - 
MÉRITO DJe-193 DIVULG 02-10-2014 PUBLIC 03-10-2014) 
Ocorre que o concurso público em tela está respaldo na legalidade 
administrativa, de modo que está em consonância com a Lei n. 
12.990/2014. 
A Lei n. 12.990/2014 estabelece a "reserva das vagas oferecidas" para 
os aprovados no certame; e não de "reserva de classificação" para "correção 
da prova discursiva" e prosseguimento no certame. Assim, com o resultado 
final do certamente, que determinará os candidatos aprovados, será efetivada a 
reserva de vagas em tela. 
A legislação estabeleceu duas regras para dois momentos distintos de um 
concurso público. O primeiro momento refere-se ao candidato que está 
concorrendo ("os candidatos negros concorrerão"), ou seja, está relacionado 
especificamente com o concurso em andamento. Tanto assim o é, que ao final 
da redação do caput do artigo 3º, o legislador determina que isso ocorrerá 
"...de acordo com sua classificação no concurso". O segundo momento, por 
sua vez, está especificado no parágrafo primeiro do dispositivo em testilha e 
refere-se ao momento final do certame, pois utilizou-se de expressão diferente 
das usadas na redação do caput, quais sejam: "candidatos negros aprovados". 
A "classificação" é termo empregado no curso do certame, ao passo que só é 
possível falar-se em candidato "aprovado", quando do resultado final. 
Assim, compreende-se que o legislador ditou regras a respeito de não serem 
computados os candidatos aprovados dentro do número de vagas para ampla 
concorrência para efeito do preenchimento de vagas reservadas. 
O edital de regência em seu item 6, disciplina na forma da Lei, a reserva e 
destinação das vagas aos candidatos que se declararem negros.O que deseja na verdade o MPF é o aumento de candidatos negros a serem 
aptos a prosseguirem nas demais fases do certame, independentemente de 
ter alcançado a pontuação mínima para tal feito. 
E deseja isto alargando o conceito de aprovação. Ora, aprovação significa 
obter sucesso em todas as fases do concurso, e não apenas em uma ou 
algumas fases. Se assim fosse, o classificado na primeira fase, poderia 
postular a sua nomeação, posto que foi aprovado! 
O que popularmente se chama "passei de fase", nada mais é do que obter 
classificação a fase seguinte do certame, posto que a aprovação somente se 
obterá após se lograr sucesso na última fase eliminatória do concurso. 
Ademais, vislumbra-se o perigo inverso. Isto porque, eventual deferimento 
do pedido de tutela provisória ensejaria, na prática, a eliminação de 
milhares de candidatos que já participaram das demais fases do certame, 
não sendo por demasiado lembrar, que o concurso em questão já está na 
fase de divulgação do resultado da avaliação psicológica, ou seja, quase 
no seu fim. 
 Assim, não há atuação irregular da Administração Pública Federal apta 
a ensejar a alteração de interpretação desejada pelo autor. 
Pretende o autor ressarcir os milhares de candidatos em caso de 
improcedência da ação? Deseja, a suspensão da vida de todos os candidatos? 
Já não basta as arguiras causas pela pandemia, que já dura mais de ano e 
meio? 
Estamos aqui a cuidar de vidas que investiram tempo, dinheiro que muitas 
vezes não tem, em um sonho de alcançar um cargo público. Não se pode 
determinar a suspensão, anulação ou qualquer outra medida que 
prejudique o andamento do concurso por discordância interpretativa do 
autor de dispositivo legal. Não se está diante de ilegalidade, e sim de 
divergência interpretativa. 
Isto sem falar no prejuízo ao erário e a sociedade como um todo, uma vez 
que recursos foram vertidos para a realização do certame, e que os 
futuros servidores que estão sendo selecionados, são necessários a compor 
o quadro da instituição, a fim de uma melhor prestação de serviço a 
população, bem como melhorar a segurança viária e combater a 
criminalidade que passa pela malha viária federal. 
(...) 
O Edital nº 1 PRF/2021, de 18 de janeiro de 2021, por sua vez, ao tratar 
especificamente do tema, assim dispõe (grifos acrescidos): 
6.10 Em cada uma das fases do concurso, não serão computados, para 
efeito de preenchimento do percentual de vagas reservadas a candidatos 
negros, nos termos da Lei nº 12.990/2014, os candidatos autodeclarados 
negros classificados ou aprovados dentro do número de vagas oferecido a 
ampla concorrência, sendo que esses candidatos constarão tanto da lista dos 
aprovados dentro do número de vagas da ampla concorrência como também 
da lista dos aprovados para as vagas reservadas aos candidatos negros, em 
todas as fases do concurso. 
Nesse contexto, como se infere de mera leitura do dispositivo legal em 
referência, para a adequada aplicação da norma prevista no art. 3º, § 1º, 
da Lei nº 12.990/2014, é indiferente o número de provas discursivas que 
seriam ou tenham sido corrigidas no certame - tema previsto no item 
10.6.1 do edital de abertura -, porquanto, para fins de contagem de vagas 
reservadas, são excluídos apenas os candidatos autodenominados negros 
que tenham sido classificados dentro do número de vagas oferecidas para 
a ampla concorrência do certame. 
Logo, ao contrário do que assevera o autor e à luz do art. 3º, § 1º, da Lei 
nº 12.990/2014, o quantitativo disposto no item 10.6.1 do edital - que 
cuida do número de provas discursivas que seriam corrigidas em cada 
unidade da Federação e da concorrência -, simplesmente desimporta para 
o deslinde desta causa. 
O que se verifica, em verdade, é que o autor busca fazer prevalecer uma 
interpretação contra legem da disposição legal que invoca, sustentando, para 
tanto, e de maneira indevida, o entendimento manifestado pelo Supremo 
Tribunal Federal no julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade 
nº 41 - mais especificamente no item 3 daquele acórdão, assim redigido. 
Por fim, a administração pública deve atentar para os seguintes parâmetros: (i) 
os percentuais de reserva de vaga devem valer para todas as fases dos 
concursos; (ii) a reserva deve ser aplicada em todas as vagas oferecidas no 
concurso público (não apenas no edital de abertura); (iii) os concursos não 
podem fracionar as vagas de acordo com a especialização exigida para burlar 
a política de ação afirmativa, que só se aplica em concursos com mais de duas 
vagas; e (iv) a ordem classificatória obtida a partir da aplicação dos critérios 
de alternância e proporcionalidade na nomeação dos candidatos aprovados 
deve produzir efeitos durante toda a carreira funcional do beneficiário da 
reserva de vagas. 
Ademais, nos termos do Ofício Cebraspe n.º 1.287/2021, os candidatos 
autodeclarados negros aprovados dentro do número de vagas da ampla 
concorrência foram excluídos do cálculo da reserva de 20% na listagem de 
aprovação da prova objetiva e discursiva, convocação para a prova prática e 
serão excluídos no resultado da prova prática, resultado final e curso de 
formação, ou seja: em todas as fases do concurso, in verbis: 
(...) 
Nesse ponto, cabe esclarecer que a limitação estabelecida no quadro contido 
no subitem 10.6.1 do Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 
2021, para a correção de provas discursivas no certame, é conhecida 
como cláusula de barreira e já teve sua legalidade reconhecida pelo STF, 
quando do julgamento do RE n.º 635.739/AL, no qual se fixou a tese, 
segundo a qual: "É constitucional a regra inserida no edital de concurso 
público, denominada cláusula de barreira, com o intuito de selecionar 
apenas os candidatos mais bem classificados para prosseguir no certame" 
(Tema 376). 
Logo, longe de incorrer em qualquer violação ao percentual disposto na 
Lei nº 12.990/2014, o Edital nº 1 PRF/2021, de 18 de janeiro de 2021, 
atendeu integralmente à previsão legal e ao comando fixado pelo 
Supremo Tribunal Federal. 
O incorreto uso da decisão proferida na ADC 41 pretendido pelo autor para a 
situação em comento fica ainda mais evidente quando se analisa o voto do 
Ministro Relator, Roberto Barroso, no trecho específico que tratou do que 
viria a ser o item 3.2 do respectivo acórdão - por diversas vezes invocado pelo 
autor como fundamento para sustentar sua pretensão. 
[...]. 
Por outro lado, se o candidato não obteve nota para passar à fase seguinte 
do certame, não pode ele ser considerado aprovado nem obter 
classificação no concurso. O mesmo raciocínio vale para os candidatos 
que concorrem às vagas reservadas que, apesar de terem obtido nota 
suficiente para avançar da prova objetiva para a prova discursiva pela 
lista dos candidatos reservados, não obtiveram nota para figurar na 
listagem geral. 
Logo, apenas os candidatos que atingiram a nota mínima já na prova 
objetiva podem figurar em ambas as listas. Aqueles que não atingiram a 
nota mínima da ampla concorrência na primeira fase, ao contrário, ainda que 
venham a obter notas elevadas na prova discursiva, não podem migrar para a 
lista geral porque dela já haviam sido eliminados na primeira fase, a partir de 
quando passaram a concorrer apenas na lista dos candidatos às vagas 
reservadas. 
Entendimento contrário, como defende o autor, implicaria em verdadeira 
retroação indevida, fazendo com que candidatos que não obtiveram nota 
para figurar na lista ampla - e, assim, foram dela eliminados, passando a 
concorrer apenas na lista destinada às vagas reservadas -, fossem 
indevidamente "ressuscitados" na ampla concorrência, passando a nela 
figurar a partir de fase posterior àquela em que haviam sido 
eliminados. Tudo sem previsão legal e por meio de interpretação subjetivista 
que contraria disposição expressa e literal do 6.12 do edital de abertura do 
certame. 
Demais disso,o acolhimento da pretensão autoral importaria em sérios 
prejuízos ao andamento de todo e qualquer concurso público que 
possuísse mais de uma fase, incorrendo, ainda, em evidente desrespeito à 
cláusula de barreira regularmente instituída pelo edital do certame. 
Isso porque, ainda que já respeitado o percentual legal de 20%, a 
Administração teria sempre o dever de corrigir as provas discursivas de 
candidatos cotistas que, apesar de eliminados do concurso já na fase 
objetiva - tanto da lista geral quanto das vagas reservadas -, passassem a 
ostentar posteriormente o direito de ter suas provas discursivas 
corrigidas como decorrência do entendimento buscado pelo autor - pelo qual, 
como dito, candidatos que haviam avançado de fase apenas pela lista 
reservada, por não terem obtido nota suficiente à ampla concorrência, 
passariam a constar da lista geral e, assim, abririam, neste momento, novas 
vagas na lista reservada, trazendo de volta ao certame candidatos que sequer 
haviam avançado para a prova discursiva. 
Ante o exposto, requer, preliminarmente, que seja indeferida a petição inicial 
e extinto o feito sem julgamento do mérito; no mérito, que o pedido liminar 
seja indeferido. 
 
ANTONIO CLAUDIO KOZIKOSKI JUNIOR, RENAN PEREIRA 
FREITAS CAMILA POLVERO E GUILHERME JACINTO LOPES no 
id 4058500.4982612, requerem a admissão no feito como terceiros 
interessados. Relatam que: 
Conforme documentos anexados, os Terceiros Interessados acima nominados 
ajuizaram Ação Popular no Foro de Curitiba/PR objetivando o dever de a 
União e a Cebraspe - também Requeridas nestes autos - de corrigirem o 
quantitativo de redações indicadas no item 10.6.1 do edital de abertura do 
Concurso para Provimento do Cargo de Policial Rodoviário Federal (Edital 
1/2021), ou seja, 4.500 redações da ampla concorrência, respeitando-se os 
empates na última colocação, fazendo publicar o resultado em edital 
complementar com a definição de nova data para o TAF - Teste de Aptidão 
Física, tudo em nome da moralidade administrativa e do patrimônio público. 
Os fundamentos daquela ação popular tangenciam os fundamentos desta Ação 
Civil Pública. Enquanto na presente ação o Ministério Público reclama a 
correção de um quantitativo maior de redações para os cotistas, naquela ação 
o pedido é a correção do número mínimo de redações para a os candidatos 
inscritos na ampla concorrência e, consequentemente, o quantitativo global de 
redações previsto no Edital. 
Ambas as pretensões têm em comum um ponto: a interpretação da Lei de 
Cotas. Nesta ação o Ministério Público pede a aplicação da Lei de Cotas em 
todas as etapas do concurso, com base na Lei 12.990/2014. Naquela ação os 
Autores sustentam que as provas objetivas e discursivas do Concurso para 
Provimento de Cargo de Policial Rodoviário Federal não representavam fases 
distintas, mas sim fases de uma mesma etapa, de modo que não caberia - ao 
menos naquele momento - a aplicação da Lei de Cotas. 
Ou seja, atualmente pendem (ao menos) três ações sobre o assunto. 
Ação Popular n. 1001879-41.2021.4.01.4004 - Juízo da Vara Federal Cível e 
Criminal da SSJ de São Raimundo Nonato-PI - Distribuição em 05/06/2021): 
pretende o aumento do quantitativo de redações corrigidas para os candidatos 
cotistas. Houve pedido de desistência da ação, mas até agora não houve 
trânsito em julgado. Ademais, considerando o que dispõe o artigo 9º da Lei da 
Ação Popular veda a desistência, caberá ao Juízo naqueles autos determinar a 
publicação de editais para que outros cidadãos assumam a causa, ou então seja 
ela tocada pelo próprio Ministério Público. 
Ação Popular n. 50401189520214047000 - Juízo Federal da 1ª VF de Curitiba 
- Distribuição em 21/06/2021: pretende o aumento do quantitativo de redações 
corrigidas para os candidatos da ampla concorrência. O Juízo declinou a 
competência para o foro da Ação Popular acima mencionada. 
Ação Civil Pública 0803436-31.2021.4.05.8500 - Tramite perante este 
Digníssimo Juízo - Distribuição em 09/07/2021: pretende o aumento do 
quantitativo de redações corrigidas para os candidatos cotistas. 
As três ações, como mencionado, decorrem de uma mesma problemática: a 
aplicação - certa ou errada - da Lei de Cotas. Nesse contexto, manter as três 
ações em curso de forma apartada pode representar um verdadeiro caos e 
agravar ainda mais a situação dos candidatos (sejam eles cotistas, sejam eles 
da ampla concorrência, ambos castigados por uma má-condução do concurso 
pela Banca Cebraspe). 
Dessa forma, é imperioso que se reúnam as ações para julgamento no Foro 
Prevento, pois a ação popular e a ação civil pública integram um 
microssistema de defesa de interesses difusos que, por si só, enseja a reunião 
de ações com pedidos ou causas de pedir idênticos. 
 
 
O CEBRASPE, no prazo de 72 horas, apresentou, de logo, a peça de 
resistência, no id 4058500.4985760, embasado nos fundamentos fáticos e 
jurídicos expendidos na sequência: 
O concurso público está em andamento e já teve o resultado provisório no 
exame de aptidão física, na avaliação psicológica e na apresentação de 
documentos e preenchimento da Ficha de Informações Pessoais (FIP), 
divulgados por meio do Edital Concurso PRF n.º 17, de 7 de julho de 2021. 
 
Nesse ponto, é importante ressaltar que, conforme previsão legal e editalícia, 
os candidatos negros concorrem concomitantemente às vagas reservadas e às 
vagas destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação no 
concurso, bem como em cada uma das fases do concurso, não sendo 
computados, para efeito de preenchimento do percentual de vagas reservadas 
a candidatos negros, os candidatos autodeclarados negros classificados ou 
aprovados dentro do número de vagas oferecido a ampla concorrência, sendo 
que esses candidatos constarão tanto da lista dos aprovados dentro do número 
de vagas da ampla concorrência, como também da lista dos aprovados para as 
vagas reservadas aos candidatos negros, em todas as fases do concurso. 
 
Assim, em cumprimento à regra legal e à editalícia, os candidatos negros, 
aprovados, na prova objetiva e provisoriamente aprovados na prova 
discursiva, dentro do número de vagas oferecido no Edital de 
abertura, figuraram nas duas listas de concorrência, sendo, contudo, 
computados somente na lista dos candidatos aprovados na ampla 
concorrência. 
 
Destaca-se, também, que o número de vagas de ampla concorrência não pode 
ser confundido com a posição definida como corte na classificação da prova 
objetiva para se prosseguir no certame mediante a correção da prova 
discursiva, cláusula de barreira. 
 
Assim, a pretensão do MPF viola o § 1.º do art. 3.º da Lei 12.990/2014, pois 
nem todos os candidatos negros que estão dentro do quantitativo de provas 
discursivas corrigidas em ampla concorrência (4.500.ª) estão dentro do 
número de vagas ofertadas para ampla concorrência (1.125). 
 
Destaque-se que, conforme será demonstrado, apenas 183 candidatos negros 
aprovados na prova objetiva e que tiveram a prova discursiva corrigida estão 
dentro do número de vagas ofertadas em edital para ampla concorrência 
(1.125) e esses candidatos não foram computados na lista de candidatos 
negros. Os demais candidatos negros que não ficaram posicionados dentro do 
número das vagas ofertadas em ampla concorrência, mas ficaram dentro da 
cláusula de barreira da correção da discursiva em ampla concorrência (4.500) 
foram computados nas duas listas, conforme exigência legal. 
 
Ademais, o percentual de reserva está sendo observado em todas as fases do 
certame, na medida em que a correção das provas discursivas de candidatos 
que concorrem às vagas reservadas aos negros é proporcional ao número de 
vagas reservadas estabelecido em edital, como restará demonstrado. 
 
Assim, conforme se demonstrará na sequência, a pretensão do MPF não deve 
prosperar, uma vez que não se coaduna com a legislação pátriaregente. 
Ademais, a contabilização dos candidatos negros na ampla concorrência, bem 
como a correção das provas discursivas e a manutenção dos candidatos nas 
duas listas de concorrência obedeceram à legislação pátria, às regras 
editalícias e ao entendimento exarado pelo C. STF, conforme será 
demonstrado. 
DO LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO 
 
Caso venha a lograr êxito em sua pretensão, a regra estabelecida no subitem 
6.10 do edital de abertura deverá ser retificada, alterando-se critério de 
avaliação e seleção que foi efetivamente utilizado para a correção da prova 
objetiva dos candidatos que concorrem às vagas reservadas aos candidatos 
negros. Isso acarretará o retorno de candidatos negros eliminados ao certame, 
que podem, no decorrer da seleção, vir a ocupar a vaga de candidatos 
regularmente aprovados nos termos exigidos no edital de abertura do 
concurso. 
 
Por essa razão, é imprescindível a citação, na condição de litisconsortes 
passivos necessários, dos candidatos negros convocados para o exame de 
aptidão física, para que lhes seja dada a oportunidade de defesa de seus 
interesses, que serão, inequivocamente, afetados por eventual procedência do 
pedido dos Autores. 
 
DO MÉRITO 
Na preparação, na realização e no controle dos concursos públicos, deve a 
Administração primar pela absoluta boa-fé, vinculando-se estritamente às 
regras regentes do certame. Não se admite, portanto, que essas regras sejam 
desrespeitadas, estabelecendo-se uma coisa e executando outra. A confiança 
na atuação da Administração de acordo com o Direito posto, é o mínimo que 
esperam os cidadãos que concorrem a cargos ou empregos públicos. Também 
são vedados comportamentos que ofendam os padrões éticos exigidos do 
Poder Público. 
 
A publicação do edital torna explícitas as regras que norteiam o 
relacionamento entre a Administração e aqueles que concorrem a vagas a 
cargos públicos. Daí ser necessária a observância bilateral de tais regras, a 
exemplo do que ocorre com as licitações: o Poder Público exibe suas 
condições, e o candidato, inscrevendo-se, concorda com estas, estabelecendo-
se o vínculo jurídico do qual decorrem direitos e obrigações. 
 
Qualquer discordância dos dispositivos editalícios, inclusive dos critérios de 
avaliação e seleção estabelecidos no certame e na aplicação da prova objetiva, 
deveria ter sido objeto de impugnação pela Autora em momento oportuno. 
Depreende-se da Lei nº 8.666/93, no artigo 41, § 1.º, por analogia, que 
qualquer cidadão é parte legítima para impugnar o edital, podendo protocolar 
o pedido de impugnação, no âmbito administrativo, até cinco dias antes do 
início do concurso. 
Os critérios de avaliação e seleção adotados no certame alcançam todo e 
qualquer candidato, são traçados em conformidade com os princípios do 
Direito Administrativo e primam pela forma igualitária de tratamento, não 
admitindo tratamento desigual aos candidatos ou em desacordo com as 
disposições editalícias. 
 
No concurso em comento foram ofertadas um total de 1.500 vagas, sendo 
1.125 vagas para a ampla concorrência; 300 vagas reservadas aos candidatos 
negros e 75 vagas reservadas aos candidatos com deficiência, conforme se 
verifica no quadro de vagas contido no item 4 do Edital Concurso PRF nº 1, 
de 18 de janeiro de 2021, Nessa esteira, em seu subitem 10.6.1, o referido 
edital fixou que, respeitados os empates na última colocação, seriam 
corrigidas as provas discursivas dos candidatos aprovados e classificados até 
as posições especificadas no quadro a seguir, de forma que o percentual de 
reserva de vagas pudesse ser garantido nas demais fases do certame. 
Os candidatos não impugnaram o edital de abertura do certame e, por 
conseguinte, concordaram com os critérios de avaliação e seleção, inclusive 
com os critérios estabelecidos para aprovação na prova objetiva e discursiva. 
No entanto, somente agora MPF tenta, de maneira intempestiva, rever 
disposições editalícias, o que não pode ser admitido por esse nobre Juízo, sob 
pena de ferir o princípio da vinculação ao edital. 
O percentual de reserva de vagas deve valer para todas as etapas do certame. 
No concurso em foco, o percentual de reserva está sendo observado em todas 
as fases do certame, na medida em que a correção das provas discursivas de 
candidatos que concorrem às vagas reservadas aos negros é proporcional ao 
número de vagas reservadas estabelecido em edital, como restará demonstrado 
a seguir. 
Veja-se que, além das vagas disponibilizadas no certame (item 4), também o 
critério para a correção das provas discursivas (limite de classificação na 
prova objetiva) obedeceu ao referido percentual de 20%, na medida em que 
foram corrigidas as provas dos candidatos negros classificados até a posição 
1.200ª. 
Nesse ponto, cabe esclarecer que a limitação estabelecida no quadro contido 
no subitem 10.6.1 do Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, 
para a correção de provas discursivas no certame, é conhecida como cláusula 
de barreira e já teve sua legalidade reconhecida pelo STF, quando do 
julgamento do RE n.º 635.739/AL, no qual se fixou a tese, segundo a qual: "É 
constitucional a regra inserida no edital de concurso público, denominada 
cláusula de barreira, com o intuito de selecionar apenas os candidatos mais 
bem classificados para prosseguir no certame" (Tema 376). 
É importante ressaltar que, também segundo o edital de abertura, em seus 
subitens 11.1 e 12.1, todos os candidatos aprovados nas provas discursivas 
serão convocados para as demais fases do concurso, de modo que a referida 
proporção se mantém, não sendo possível a eliminação de qualquer candidato 
a partir daí em função de nota, já que as referidas fases têm caráter 
exclusivamente eliminatório. 
Demonstrado está que a correção das provas discursivas guarda a devida 
proporcionalidade com o percentual de 20% reservado aos candidatos negros, 
passa-se a demonstrar que o MPF conferiu também interpretação equivocada 
ao subitem 10.6 do Edital de abertura, ou mesmo não percebeu a sua 
existência, e ao § 1.º do art. 3.º da Lei n.º 12.990/2014. 
Conforme ainda se verifica do caput do art. 3.º da referida lei, os candidatos 
negros concorrerão tanto às vagas reservadas quanto às vagas da ampla 
concorrência. 
Assim, o candidato negro aprovado dentro do número de vagas de ampla 
concorrência ocupará necessariamente uma dessas vagas, abrindo a 
possibilidade de que outro candidato negro, que tenha classificação suficiente 
ao final do concurso, seja aprovado para a vaga reservada por aquele não 
preenchida. 
Frisa-se que o estabelecido no § 1.º do art. 3.º da Lei 12.990/2014, somente 
deve ser implementado no momento do resultado final do concurso, pois tal 
regra refere-se a candidatos aprovados. Salienta-se que CANDIDATO 
APROVADO é aquele que foi submetido a todas as etapas do certame e 
obteve aprovação, figurando no resultado final do concurso e obtendo 
classificação final para fins de nomeação ou de permanência em cadastro de 
reserva. 
Portanto, em relação aos candidatos negros que obtiverem pontuação para 
figurar na lista de classificados na prova objetiva em ampla concorrência, 
dentro do número de vagas estabelecido no item 4 do edital, não resta dúvida 
de que, no resultado final do concurso e se aprovados em todas as fases, esses 
candidatos deverão figurar tão somente na relação dos candidatos aprovados 
na ampla concorrência, conforme preceitua o §1.º do art. 3.º da referida lei e o 
subitem 6.5 do edital de abertura. 
Destaca-se que o número de vagas de ampla concorrência não pode ser 
confundido com a posição definida como corte na classificação da prova 
objetiva para se prosseguir no certame mediante a correção da prova 
discursiva, cláusula de barreira acima demonstrada, isto é, 1.125 vagas de 
ampla concorrência é totalmente diferente de posição 4500ª. 
(...) 
Portanto, ausentes oselementos que evidenciem a probabilidade do direito e o 
perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo ao MPF, deve ser 
indeferido o pedido de tutela de urgência formulado na inicial. 
 
 
Eis a manifestação do MPF, nos id´s 4058500.5008122 e 4058500.5018710 
Analisadas as respostas prévias apresentadas pelos demandados (ID 
4058500.4981749 e 4058500.4985760), inclusive o petitório de ID 
4058500.4982656, passa-se, a seguir, tendo em conta o atual estágio 
processual da presente demanda (análise do requerimento de tutela de 
urgência), a apresentar breves considerações em complementação aos 
argumentos já exarados na petição inicial. 
Ora, nenhuma das hipóteses descritas são encontradas na inicial da presente 
Ação Civil Pública. Ademais, urge destacar que a petição inaugural está de 
acordo com as determinações dos artigos 319 e 320, do CPC, tanto assim que 
os demandados apresentaram manifestação nos autos rechaçando o pleito de 
tutela de urgência, de sorte que não merece acolhida a preliminar em causa. 
Em relação às demais alegações suscitadas pela UNIÃO (ausência dos 
requisitos para deferimento do pleito de tutela de urgência), o MPF, por 
questão de economia e celeridade processual (especialmente tendo em conta o 
atual estágio da demanda), faz remissão aos termos da inicial, especialmente 
no capítulo VII, a qual discorre sobre os requisitos para concessão da tutela de 
urgência de natureza antecipada, razão pela qual reitera, no ponto, os seus 
termos. 
O réu CEBRASPE pugna pelo indeferimento da petição inicial pela 
inobservância de litisconsórcio passivo necessário, eis que o eventual 
retificação do subitem 6.10 do edital de abertura "acarretará o retorno dos 
candidatos negros eliminados ao certame, que podem, no decorrer da seleção, 
vir a ocupar a vaga de candidatos regularmente aprovados nos termos exigidos 
no edital de abertura do concurso". 
 Por fim, na linha do que restou descrito acima, em relação às demais matérias 
de mérito suscitadas pelo CEBRASPE, o MPF, por questão de economia e 
celeridade processual (especialmente tendo em conta o atual estágio da 
demanda), faz remissão aos termos da inicial, especialmente no capítulo VII, a 
qual discorre sobre os requisitos para concessão da tutela de urgência de 
natureza antecipada, razão pela qual reitera, no ponto, os seus termos. 
Por meio da manifestação protocolada em 16/07/2021 (ID 4058500.4982656), 
os postulantes ali qualificados pugnam para que sejam habilitados nos autos 
como terceiros interessados, "uma vez que autores de Ação Popular que 
discute a classificação de quantidade mínima de candidatos para a categoria 
de ampla concorrência". 
 Citam, para amparar o seu pleito, a existência de ação popular por eles 
ajuizada perante a Seção Judiciária da Justiça Federal em Curitiba/PR, cuja 
matéria, no entender dos peticionantes, possuem em comum a interpretação da 
reserva de vagas estabelecida pela Lei nº 12.990/2014 (Lei de Cotas). 
 Em resumo, pontuam que na referida ação popular os peticionantes 
suscitaram a tese de "que as provas objetivas e discursivas do Concurso para 
Provimento de Cargo de Policial Rodoviário Federal não representavam fases 
distintas, mas sim fases de uma mesma etapa, de modo que não caberia - ao 
menos naquele momento - a aplicação da Lei de Cotas". 
Destacam, ainda, que, após analisar o pleito, o Juízo Federal da 1ª Vara de 
Curitiba/PR (auto judicial nº 5040118-95.2021.4.04.7000, distribuído em 
21/06/2021), remeteu os autos ao Juízo da Vara Federal Cível e Criminal da 
SSJ de São Raimundo Nonato-PI por prevenção à ação popular 1001879-
41.2021.4.01.4004, uma vez que "ambas as ações populares, ainda que por 
pontos aparentemente antagônicos, têm como objeto a defesa da moralidade e 
do erário público no que toca o respeito ao procedimento correto na seleção 
pública". 
Requereu, assim, dada a existência de 03 (três) ações, incluída a presente ação 
civil pública, na qual se discute a aplicação da "Lei de Cotas", que "todos os 
feitos sejam reunidos para julgamento conjunto". 
Antes de adentrar no posicionamento a ser exarado pelo MPF sobre o 
pleito acima delimitado, necessário fazer breve digressão sobre a 
delimitação do conceito de parte e terceiro no processo civil brasileiro, 
bem como sobre as modalidades de inserção de terceiros em demandas 
(os quais passam, a partir de então, a figurar como partes no sentido 
processual ou amplo). 
 A determinação dos casos em que o terceiro terá legitimidade para 
intervir (e em que modalidade) e dos casos em que não a terá parte da 
análise das seguintes situações de fato1: "a) há terceiros destinatários 
integrais dos efeitos diretos da sentença, mesmo sem haverem intervindo 
no processo, como os titulares de obrigações solidárias; b) há os que são 
legitimados a intervir pelos reflexos jurídicos da sentença em sua esfera 
de direitos, tais como o fiador, os co-titulares de direito etc; c) há os que, 
por não suportarem efeito algum ou suportarem meros reflexos 
econômicos ou de fato (não jurídicos), não teriam nenhuma legitimidade 
para intervir"2. 
 Para participar do contraditório, a parte deve, portanto, demonstrar a 
razão da sua participação para a aferição da presença de interesse 
jurídico que justifique a intervenção no processo em curso. 
Assim, o Código de Processo Civil reúne todas essas modalidades de 
intervenção no processo de um sujeito estranho a ele sob o título de 
"intervenção de terceiros". Com seu ingresso, seja qual for a forma 
processual que o instrumentalize, tal sujeito passa a deter faculdades, 
https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5021433&idProcessoDoc=5008122#sdfootnote1sym
https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5021433&idProcessoDoc=5008122#sdfootnote2sym
deveres e ônus dentro da relação processual, ainda que limitadas - como 
no caso da assistência. Adquirem, assim, a condição de parte do 
processo5. 
 Importante destacar, ainda, acerca dos efeitos que a participação no 
processo, através das modalidades de intervenção de terceiros, produzem 
no âmbito da coisa julgada: 
"Em todos os casos, as chamadas intervenções de terceiros ampliam os 
efeitos da sentença a ser proferida no processo, que atingirão também os 
sujeitos intervenientes. Seja alargando o objeto do processo (pedido, 
pretensão nele deduzida), seja deixando-o intacto, a intervenção tem o efeito 
de fazer com que as novas partes fiquem diretamente sujeitas aos resultados 
do processo e, mais que isso, vinculadas à autoridade da coisa julgada nele 
produzida. Afinal, é precisamente essa a utilidade das intervenções, quer 
coercitivas, quer voluntárias. Tendo o interveniente, na condição de parte, 
contribuído ativamente para a formação do provimento final, nenhuma razão 
constitucional há para negar-lhe a imposição da coisa julgada material"6. 
As intervenções de terceiros confirmam esse uso na medida em que 
servem exatamente para estender esses efeitos aos terceiros estranhos ao 
processo, depois de convertidos em partes processuais ou partes no 
sentido amplo, ao serem admitidos numa das modalidades de 
intervenção. 
Feita essa necessária digressão, não podemos deixar de observar que o 
pleito formulado no ID 4058500.4982656 não merece acolhida. Explica-
se: 
Com efeito, trata-se de requerimento de intervenção no feito a título de 
"terceiro interessado" sem qualquer especificação sobre a que título se 
pretende o ingresso na demanda, dentre as diversas modalidades 
existentes no Direito Processual vigente. Ao mesmo tempo, formulam os 
requerentes pedido reunião dos autos judiciais acima listados no "Juízo 
Prevento para fins de julgamento único, evitando-se, com isso, as 
contradições nas decisões". 
O ingresso de um terceiro interessado, na qualidade de assistente simples, 
pressupõe a demonstração de efetivo interesse jurídico consubstanciadona possibilidade de que a esfera de seu direito seja atingida pela decisão 
judicial a ser proferida no processo. O mero interesse corporativo ou 
econômico, por exemplo, não autorizam o ingresso de terceiro na 
qualidade de assistente, haja vista a impossibilidade de vir a ser atingido 
por decisão judicial na relação da qual não faz parte. 
https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5021433&idProcessoDoc=5008122#sdfootnote5sym
https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5021433&idProcessoDoc=5008122#sdfootnote6sym
O Superior Tribunal de Justiça possui vasta jurisprudência sobre o tema, 
na qual assentou o entendimento de que, para o ingresso de terceiro nos 
autos, como assistente simples, é necessária a presença de interesse 
jurídico, ou seja, a demonstração da existência de relação jurídica 
integrada pelo assistente que será diretamente atingida pelo provimento 
jurisdicional, não bastando o mero interesse econômico, moral ou 
corporativo. 
Conforme pontuado pelos próprios peticionantes, que tais figuraram 
como parte autora de uma ação popular (5040118-95.2021.4.04.7000, 
distribuída ao Juízo Federal da 1ª VF de Curitiba) na qual discute e pode 
argumentar em profundidade perante aquele Juízo todos os fundamentos 
que entende subsidiar a tese ali sustentada. 
Ocorre que tal feito foi remetido ao Juízo diverso (Juízo da Vara Federal 
Cível e Criminal da SSJ de São Raimundo Nonato-PI) por prevenção à 
ação popular 1001879-41.2021.4.01.4004, sendo este último, em seguida, 
extinto, sem julgamento do mérito (art. 485, VIII, do CPC), uma vez 
protocolado pedido de desistência pela parte autora, dela tomando 
ciência o MPF. 
Dessume-se, portanto, facilmente, que inexiste litispendência com as 
referidas ações populares (uma vez não verificada as hipóteses previstas 
no art. 337, §1º, do CPC) e tampouco conexão (art. 55, do CPC) dos 
citados feitos com esta ação civil pública, notadamente porque, da leitura 
da inicial desta ação civil pública, não é possível identificar qualquer 
semelhança entre a causa de pedir ou pedido em relação às ações 
sobreditas ações populares. Outro ponto importante é que diante da 
divergência, entre os objetos das ações, inexiste o risco de decisão 
conflitante ou contraditória, conforme prevê o art. 55, § 3º, do NCPC 
 Sem embargo, o fato de integrar o polo ativo de ação popular, por si só, 
não lhe confere o direito de vir ingressar na presente lide, já que se trata 
de cidadão comum não legitimado em qualquer relação jurídica 
específica com a União que possa respaldar a caracterização de um 
interesse jurídico nesta lide. Excepcionalmente, o ordenamento jurídico 
permite que cidadãos comuns litiguem sobre interesses de caráter 
transindividual, através de ação popular, o que não pode ser extrapolado 
para o âmbito da Ação Civil Pública. 
Em razão do exposto, o MPF requer que seja indeferido o pedido de 
intervenção de terceiros formulado nos autos (ID 4058500.4982656), dando-
se o posterior desentranhamento da aludida petição e documentos de IDs 
4058500.4982614 a 4058500.4982633. 
Considerando que após pesquisa realizada no portal 
eletrônico https://www.cebraspe.org.br/concursos/prf_21, consta a 
publicação, em 21/07/2021, do Edital contendo os resultados finais no exame 
de aptidão física e avaliação psicológica e a convocação para a avaliação de 
saúde, para a avaliação de títulos, para a avaliação biopsicossocial e para o 
procedimento de heteroidentificação, o MPF reitera o pedido de apreciação 
dos requerimentos de tutela de urgência formulados na inicial, 
considerando a produção de danos atuais, progressivos e cumulativos, 
bem como que seja indeferido o pedido de intervenção de terceiros, 
conforme razões explicitadas no tópico anterior. 
 
(...) 
Verifica-se, especialmente da análise da manifestação apresentada pelo 
CEBRASPE (ID 4058500.4985759), que o réu deixa a clara a prática de 
conduta contrária ao entendimento do STF na ADC 41 (vinculante), no 
sentido de que a reserva de vagas para candidatos negros deve ser 
aplicada em todas as fases dos concursos públicos, uma vez que insiste na 
afirmação de o § 1.º do art. 3.º da Lei 12.990/2014 somente será 
implementado no momento do resultado final do concurso, pois segundo seu 
entendimento "tal regra refere-se a candidatos aprovados", após submissão a 
todas as etapas do certame. 
Observa-se da manifestação juntada pelo CEBRASPE, no item 4.3, que este 
afirma categoricamente que computa candidatos autodeclarados negros 
aprovados dentro da cláusula de barreira da ampla concorrência dentro das 
correções de provas discursivas dos candidatos cotistas (diminuindo, assim, 
necessariamente, a quantidade de provas corrigidas de candidatos 
autodeclarados negros). Vejamos: 
"Verificou-se que no concurso 183 candidatos negros se classificaram dentro 
do número de vagas oferecidas à ampla concorrência (1.125). 
Assim, foram corrigidas as provas dos candidatos negros em caráter 
complementar, na mesma quantidade de candidatos negros 
classificados dentro do número de vagas da ampla concorrência. 
Assim, deveriam ser corrigidas as provas discursivas dos candidatos 
classificados até a 1.200º posição. 
Ocorre que, considerando a necessidade de correção em caráter suplementar 
aos 183 candidatos que foram computados na ampla concorrência, foram 
corrigidas, no total, 1.407 provas discursivas de candidatos que concorrem às 
https://www.cebraspe.org.br/concursos/prf_21
vagas reservadas aos candidatos negros, sendo que 183 desses candidatos 
foram contabilizados na lista da ampla concorrência e 1224 candidatos, nas 
vagas reservadas aos candidatos negros, considerados os empates na última 
posição. 
() 
Desse modo, resta comprovado que, in casu, as regras editalícias foram 
devidamente observadas, em especial ao disposto no subitem 6.10 do edital, 
de modo que os candidatos negros classificados ou aprovados dentro do 
número de vagas oferecido a ampla concorrência, não foram computados, 
para efeito de preenchimento do percentual de vagas reservadas a candidatos 
negros (convocação de candidatos negros em caráter complementar em 
quantitativo equivalente aos candidatos negros aprovados e classificados 
dentro do número de vagas da ampla concorrência) para efeitos de correção 
das provas discursivas, e assim o será nas fases subsequentes do concurso." 
Observa-se que o CEBRASPE informa a esse Douto Juízo ter corrigido 
1.407 provas discursivas de candidatos que concorrem às vagas 
reservadas aos candidatos negros, mas não tece maiores considerações 
para esclarecer a Vossa Excelência os números apresentados na tabela de 
fl. 23 de sua contestação, números esses que já havia apresentado ao MPF 
na fase extraprocessual, durante a tramitação do Inquérito Civil 
(anexado). 
Nota-se que em tal tabela o CEBRASPE discrimina, dentre outros dados, que: 
 
 558 candidatos foram aprovados na prova objetiva apenas nas 
vagas reservadas a candidatos negros 
 841 candidatos foram aprovados tanto na ampla 
concorrência quanto nas vagas reservadas a candidatos negros. 
 3 candidatos foram aprovados tanto nas vagas reservadas a PCD 
como nas vagas reservadas a candidatos negros. 
 3 candidatos foram aprovados tanto nas vagas reservadas 
à ampla concorrência, PCD e nas vagas reservadas a 
candidatos negros. 
 
O somatório de tais candidatos é de 1.406 única explicação possível para que 
a ré afirme ter corrigido 1.407 provas discursivas de candidatos que 
concorreram às vagas reservadas a candidatos negros. 
Excelência, observa-se de forma evidente nesses números que, em 
realidade, apenas 558 candidatos que tiveram suas provas discursivas 
corrigidas tinham logrado aprovação para essa fase apenas na condição de 
cotistas (vagas reservadas a candidatos negros). Os demais haviam sido 
aprovados também na ampla concorrência, de modo que nãopoderiam 
jamais ser computados, como foram, dentro do número de provas 
discursivas corrigidas dos candidatos negros, já que tinham nota 
suficiente para constar entre as 4.500 provas a serem corrigidas 
referentes às vagas da ampla concorrência. 
Com efeito, o subitem 10.6.1 do Edital do concurso fixou que, respeitados os 
empates na última colocação, seriam corrigidas as provas discursivas dos 
candidatos aprovados e classificados até as posições especificadas a seguir, de 
forma que o percentual de reserva de vagas pudesse ser garantido nas demais 
fases do certame: 
 Ampla concorrência: até 4500ª colocação 
 Candidatos que se autodeclararam negros: até a 1.200º colocação 
 Candidatos que solicitaram concorrer às vagas reservadas a 
candidatos com deficiência: até a 300º colocação 
 Total: 6000ª 
Verifica-se assim, que ao atuarem da forma como acima demonstrado, o 
CEBRASPE e a UNIÃO causam prejuízo real e efetivo à aplicação do 
sistema de cotas, pois reduzem deliberadamente a quantidade de provas 
discursivas de candidatos cotistas a serem corrigidas. Como restou 
evidenciado, ao computar como provas de candidatos cotistas aqueles que 
também foram aprovados para vagas da ampla concorrência, as rés não 
corrigiram efetivamente 1407 provas discursivas de cotistas e sim apenas 
558, não atingindo sequer o número de correções fixadas no item 10.6.1 do 
edital, acima destacado (correção das provas discursivas dos candidatos 
autodeclarados negros aprovados e classificados até a 1200ª posição). 
Nota-se que apenas 558 candidatos autodeclarados negros e 
que não obtiveram nota para competir na ampla concorrência tiveram suas 
provas subjetivas corrigidas, portanto estão fazendo uso da reserva de vagas 
das cotas (as demais provas de candidatos negros corrigidas são daqueles que 
tiveram nota suficiente para serem corrigidas dentro da ampla concorrência, 
de modo que para alcançar o número de 1.200 provas de candidatos auto 
declarados negros a serem corrigidas faltam 642). 
Por fim, cumpre-nos mencionar que em concurso em andamento, realizado 
pela Secretaria de Estado da Administração do Estado de Sergipe (SEAD/SE), 
para o provimento de vagas nos cargos de Agente de Polícia Judiciária e de 
Escrivão de Polícia da Polícia Civil do Estado de Sergipe, organizado pelo 
CEBRASPE e regido pelo Edital nº 1 PCSE, de 1º de julho de 20211 (em 
anexo), foi adotada cláusula editalícia que estipula justamente o pleiteado 
nesta ação: 
9.7 DOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA PROVA DISCURSIVA 
(...) 
9.7.1.2 Não serão computados, para efeito de correção das provas 
discursivas dos candidatos com deficiência ou dos candidatos negros, os 
candidatos que se declararam com deficiência e os autodeclarados negros 
classificados ou aprovados dentro do número de correções previsto para 
a ampla concorrência, sendo que esses candidatos constarão tanto da lista 
dos candidatos que tiveram a prova discursiva corrigida da ampla 
concorrência como também da lista dos candidatos que tiveram a prova 
discursiva corrigida para as vagas reservadas aos candidatos que se 
declararam com deficiência ou aos candidatos negros2. 
 
É o relatório. 
Decido 
 
 
A) DA INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL 
Argui a União que, no presente caso, em relação à inicial, "da narração dos 
fatos não decorre logicamente a conclusão, de modo que a petição inicial não 
logrou definir, efetivamente, a causa de pedir e o pedido!" 
Considera a União que a exordial não está apta para provocar a jurisdição, nos 
termos do art. 330, §§ 1º e 2º, do Código de Processo Civil - CPC. 
Ao exame da exordial, não vislumbro os defeitos e imperfeições suscitadas 
pela ré, pois todos os requisitos legais foram cumpridos, inclusive constata-se 
que a peça pórtica atende as recomendações dos artigos 319 e 320 do CPC. 
Os fundamentos de fato, os fundamentos jurídicos e os pedidos estão claros, 
certos e determinados, o que é demonstrado quando os requeridos apresentam 
defesa preliminar e contestação rechaçando, os pedidos. 
Posto isso, rejeito a preliminar suscitada. 
https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5032043&idProcessoDoc=5018710#sdfootnote1sym
https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5032043&idProcessoDoc=5018710#sdfootnote2sym
 
B) LITISCONSÓRIO PASSIVO NECESSÁRIO. 
 
Salienta o O CEBRASPE que "é imprescindível a citação, na condição 
de litisconsortes passivos necessários, dos candidatos negros convocados para 
o exame de aptidão física, para que lhes seja dada a oportunidade de defesa de 
seus interesses, que serão, inequivocamente, afetados por eventual 
procedência do pedido dos Autores." 
A esse propósito e de acordo com a jurisprudência pátria, é dispensável a 
citação dos aludidos concursandos, como litisconsortes passivos necessários, 
porquanto os candidatos, mesmo aprovados, não titularizariam direito líquido 
e certo à nomeação, mas tão somente expectativa de direito, não se aplicando 
o artigo 114, do CPC atual. 
Além do mais, não formulou o MPF qualquer pedido em relação a esse 
candidatos, vez que ataca condutas praticadas pelos réus, que considera ilegais 
e, caso procedentes as postulações ministeriais, não terão esses atos eficácia 
alguma, sendo dispensável a citação desses pretensos litisconsortes. 
Nesse sentido, veja-se: 
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO 
NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONCURSO PÚBLICO. 
PRETERIÇÃO. FORMAÇÃO DE LITISCONSORTE PASSIVO. 
DESNECESSIDADE. PARECER DO MPF PELO DESPROVIMENTO DO 
RECURSO. AGRAVO INTERNO DO ESTADO DO PIAUÍ A QUE SE NEGA 
PROVIMENTO. 1. O acórdão combatido revela que o entendimento adotado 
pelo Tribunal de origem se alinha à diretriz desta Corte Superior de que é 
dispensável a citação dos demais concursados como litisconsortes 
necessários, porquanto os candidatos, mesmo aprovados, não titularizariam 
direito líquido e certo à nomeação, mas tão somente expectativa de direito, 
não se aplicando o disposto no artigo 47 do CPC/1973, atual 114 do Código 
Fux. Precedentes: AgInt no REsp.1.747.897/PI, Rel. Min. HERMAN 
BENJAMIN, DJe 11.3.2019; AgInt na PET no RMS 45.477/AP, Rel. Min. 
GURGEL DE FARIA, DJe 8.8.2018. 2. Por fim, não merece acolhimento a 
alegação de que os Servidores temporários cujas contratações foram 
apontadas como ilegais deveriam ter sido citados para compor a lide como 
litisconsortes necessários, uma vez que a vaga a ser preenchida em 
decorrência de aprovação em concurso público não se confunde com aquela 
decorrente da contratação temporária, revelando-se dispensável a citação 
destes para comporem a lide. 3. Agravo Interno do ESTADO DO PIAUÍ a que 
se nega provimento.(AgInt no AREsp 1352369/PI, Rel. Ministro NAPOLEÃO 
NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 14/10/2019, DJe 
21/10/2019) 
 
Posto isso, indefiro o litisconsórcio passivo necessário requerido. 
 
C) DO REQUERIMENTO DE INTERVENÇÃO COMO TERCEIROS 
INTERESSADOS. 
ANTONIO CLAUDIO KOZIKOSKI JUNIOR, RENAN PEREIRA 
FREITAS CAMILA POLVERO E GUILHERME JACINTO LOPES no 
id 4058500.4982612, requerem a admissão no feito como terceiros 
interessados, ao que se opõe o MPF: 
"Por meio da manifestação protocolada em 16/07/2021 (ID 
4058500.4982656), os postulantes ali qualificados pugnam para que sejam 
habilitados nos autos como terceiros interessados, "uma vez que autores de 
Ação Popular que discute a classificação de quantidade mínima de candidatos 
para a categoria de ampla concorrência"." 
 Citam, para amparar o seu pleito, a existência de ação popular por eles 
ajuizada perante a Seção Judiciária da Justiça Federal em Curitiba/PR, cuja 
matéria, no entender dos peticionantes, possuem em comum a interpretação da 
reserva de vagas estabelecida pela Lei nº 12.990/2014 (Lei de Cotas). 
 Em resumo, pontuam que na referida ação popular os peticionantes 
suscitaram a tese de "que as provas objetivase discursivas do Concurso para 
Provimento de Cargo de Policial Rodoviário Federal não representavam fases 
distintas, mas sim fases de uma mesma etapa, de modo que não caberia - ao 
menos naquele momento - a aplicação da Lei de Cotas". 
Destacam, ainda, que, após analisar o pleito, o Juízo Federal da 1ª Vara de 
Curitiba/PR (auto judicial nº 5040118-95.2021.4.04.7000, distribuído em 
21/06/2021), remeteu os autos ao Juízo da Vara Federal Cível e Criminal da 
SSJ de São Raimundo Nonato-PI por prevenção à ação popular 1001879-
41.2021.4.01.4004, uma vez que "ambas as ações populares, ainda que por 
pontos aparentemente antagônicos, têm como objeto a defesa da moralidade e 
do erário público no que toca o respeito ao procedimento correto na seleção 
pública". 
Requereu, assim, dada a existência de 03 (três) ações, incluída a presente ação 
civil pública, na qual se discute a aplicação da "Lei de Cotas", que "todos os 
feitos sejam reunidos para julgamento conjunto"." 
Acrescenta o MPF que: 
 "Sem embargo, o fato de integrar o polo ativo de ação popular, por si só, 
não lhe confere o direito de vir ingressar na presente lide, já que se trata 
de cidadão comum não legitimado em qualquer relação jurídica 
específica com a União que possa respaldar a caracterização de um 
interesse jurídico nesta lide. Excepcionalmente, o ordenamento jurídico 
permite que cidadãos comuns litiguem sobre interesses de caráter 
transindividual, através de ação popular, o que não pode ser extrapolado 
para o âmbito da Ação Civil Pública." 
Em razão do exposto, o MPF requer que seja indeferido o pedido de 
intervenção de terceiros formulado nos autos (ID 4058500.4982656), dando-
se o posterior desentranhamento da aludida petição e documentos de IDs 
4058500.4982614 a 4058500.4982633. 
Com razão o MPF, pois o fato de serem autores numa ação popular cujos 
pedidos são diversos dos contidos na ACP em tela, não autoriza o ingresso 
neste feito com terceiros interessados, pois sequer indicaram em que 
qualidade pretendem litigar, como terceiros. 
Além do mais, trata-se de uma ação civil pública, processo em que não pode 
figurar como parte o cidadão legitimado apenas para a ação popular. 
Posto isso, acolho as razões externadas pelo MPF, indeferindo o pedido de 
intervenção de terceiros em análise. 
D) DA CONEXÃO 
Argumenta o MPF: 
"Conforme pontuado pelos próprios peticionantes, que tais figuraram 
como parte autora de uma ação popular (5040118-95.2021.4.04.7000, 
distribuída ao Juízo Federal da 1ª VF de Curitiba) na qual discute e pode 
argumentar em profundidade perante aquele Juízo todos os fundamentos 
que entende subsidiar a tese ali sustentada. 
Ocorre que tal feito foi remetido ao Juízo diverso (Juízo da Vara Federal 
Cível e Criminal da SSJ de São Raimundo Nonato-PI) por prevenção à 
ação popular 1001879-41.2021.4.01.4004, sendo este último, em seguida, 
extinto, sem julgamento do mérito (art. 485, VIII, do CPC), uma vez 
protocolado pedido de desistência pela parte autora, dela tomando 
ciência o MPF. 
Dessume-se, portanto, facilmente, que inexiste litispendência com as 
referidas ações populares (uma vez não verificada as hipóteses previstas 
no art. 337, §1º, do CPC) e tampouco conexão (art. 55, do CPC) dos 
citados feitos com esta ação civil pública, notadamente porque, da leitura 
da inicial desta ação civil pública, não é possível identificar qualquer 
semelhança entre a causa de pedir ou pedido em relação às ações 
sobreditas ações populares. Outro ponto importante é que diante da 
divergência, entre os objetos das ações, inexiste o risco de decisão 
conflitante ou contraditória, conforme prevê o art. 55, § 3º, do NCPC" 
 
Assim, cumpre observar que os requerentes figuraram como parte autora, de 
uma ação popular - Proc. 5040118-95.2021.4.04.7000, distribuída ao Juízo 
Federal da 1ª VF de Curitiba, e remetida, posteriormente, ao Juízo da Vara 
Federal Cível e Criminal da SSJ de São Raimundo Nonato-PI) por 
prevenção à ação popular 1001879-41.2021.4.01.4004, posteriormente 
extinta. 
Como bem demonstrou o MPF, "inexiste litispendência com as referidas 
ações populares (uma vez não verificada as hipóteses previstas no art. 
337, §1º, do CPC) e tampouco conexão (art. 55, do CPC) dos citados feitos 
com esta ação civil pública, notadamente porque, da leitura da inicial 
desta ação civil pública, não é possível identificar qualquer semelhança 
entre a causa de pedir ou pedido em relação às ações sobreditas ações 
populares. Outro ponto importante é que diante da divergência, entre os 
objetos das ações, inexiste o risco de decisão conflitante ou contraditória, 
conforme prevê o art. 55, § 3º, do NCPC" 
Entendo, assim, que inexiste conexão entre as referidas ações, não havendo 
fundamento para a pretendida reunião dos processos em tela. 
 
 
E) DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA 
A antecipação dos efeitos da tutela pode ser concedida no bojo do processo de 
conhecimento ou de execução, quando se encontram presentes a probabilidade 
da existência do direito alegado - ou, em outros termos, a verossimilhança da 
alegação - e o perigo de morosidade para o direito substancial ou o manifesto 
intuito protelatório do requerido (CPC, art. 300). 
Trata-se de verdadeira antecipação, total ou parcial, do próprio direito 
material, desde que presentes os requisitos exigidos por lei: 
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que 
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao 
resultado útil do processo. 
(...) 
§ 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando 
houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão. 
 
Em um primeiro momento, cumpre-me analisar se o ordenamento jurídico 
pátrio vem agasalhar o direito invocado pela parte autora, para o fim de se 
aferir, em consonância com os elementos probatórios já acostados aos autos, a 
existência dos requisitos autorizadores da concessão da tutela ora requerida 
A presente ACP tem por objetivo determinar que a UNIÃO FEDERAL e o 
CEBRASPE, no concurso público para provimento de vagas no cargo de 
Policial Rodoviário Federal - PRF, regido pelo Edital Concurso PRF nº 1, de 
18 de janeiro de 2021, observem o disposto no artigo 3º, §1º, da Lei nº 
12.990/2014 em cada uma das fases e etapas do referido concurso. 
Pretende o MPF que seja editado provimento jurisdicional que imponha 
obrigação de fazer, à UNIÃO FEDERAL e ao CEBRASPE, no sentido de 
que retififiquem o Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, para 
que os candidatos autodeclarados negros aprovados nas provas objetivas 
que tiverem direito à correção de suas provas discursivas, com base nas suas 
classificações na ampla concorrência, não sejam contabilizados no 
quantitativo de correções das provas discursivas de candidatos 
autodeclarados negros, constando tanto da listagem de candidatos da 
ampla concorrência quanto da listagem dos candidatos autodeclarados 
negros que tem direito à correção de suas provas discursivas. 
Cabe destacar, de logo, que a ampla concorrência compreende as vagas 
destinadas aos candidatos que não se encaixam nas regras de cotas ou não 
precisam das ações afirmativas. 
Em geral, as vagas nos concursos públicos são: 
 Ampla concorrência (AC) 
 Pessoa preta ou parda (PPP) 
 Pessoa com deficiência (PCD) 
 
Neste diapasão, cabe salientar que a Lei 12.990/2014 dispõe sobre a reserva 
de 20% das vagas, em concursos públicos, para os cotistas negros, 
considerando o provimento de cargos efetivos e empregos públicos, no âmbito 
da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das 
empresas públicas e das sociedades de economia mista controlada pela União. 
Cabe frisar que o STF, em sede de Ação Declaratória de Constitucionalidade 
nº 41, de relatoria do Ministro Luís Roberto Barroso, em julgamento realizado 
em 08/06/2017, afirmou a sua constitucionalidade:

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