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PROCESSO Nº: 0803436-31.2021.4.05.8500 - AÇÃO CIVIL PÚBLICA AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL RÉU: CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISA EM AVALIACAO E SELECAO E DE PROMOCAO DE EVENTOS - CEBRASPE e outro ADVOGADO: Fabiane Silva Araujo 3ª VARA FEDERAL - SE (JUIZ FEDERAL TITULAR) DECISÃO Trata-se de Ação Civil Pública, ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, em face da UNIÃO FEDERAL E DO CENTRO BRASILEIRO DE PESQUISA EM AVALIAÇÃO E SELEÇÃO E DE PROMOÇÃO DE EVENTOS - CEBRASPE, requerendo o seguinte: a) o recebimento da presente petição inicial ; b) a juntada dos documentos que instruem a inicial; c) a concessão de tutela de urgência ou de medida liminar, inaudita altera pars, com fundamento no art. 12 da Lei nº 7.347/85 c/c art. 300 do Código de Processo Civil, para determinar: c.1) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos - CEBRASPE que, na condução do concurso regido pelo Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, respeitem a reserva de vagas destinadas a candidatos negros estabelecida no §1º do art. 3º da Lei 12.990/2014 em todas as fases do concurso e não apenas no momento da apuração do resultado final; c.2) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos - CEBRASPE que realizem a retificação do Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, para dele fazer constar expressamente que os candidatos autodeclarados negros aprovados nas provas objetivas que tiverem direito à correção de suas provas discursivas com base nas suas classificações na ampla concorrência não serão contabilizados no quantitativo de correções das provas discursivas de candidatos autodeclarados negros, constando tanto da listagem de candidatos da ampla concorrência com direito à correção de suas provas discursivas, quanto da listagem dos candidatos autodeclarados negros que têm direito à correção de suas provas discursivas; c.3) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos - CEBRASPE, de acordo com os itens anteriores, que não considerem, no número de correções de provas discursivas para vagas reservadas para candidatos negros, aqueles candidatos negros que obtiveram nota suficiente para estarem no número de correções de provas discursivas para vagas de ampla concorrência, na primeira etapa do concurso público em andamento (mantendo-os, porém, tanto na lista dos aprovados para as vagas destinadas à ampla concorrência quanto na lista dos aprovados para as vagas reservadas a candidatos negros), devendo realizar, ainda, a correção das provas discursivas de candidatos autodeclarados negros aprovados e classificados dentro das vagas reservadas, tantos quantos bastem para completar o limite previsto no edital (ou seja, em número equivalente ao de candidatos autodeclarados negros classificados ou aprovados dentro do número de vagas oferecido para ampla concorrência); c.4) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos - CEBRASPE, que retifiquem o Edital de Concurso PRF nº 11, de 27 de maio de 2021, de forma a que sejam incluídos, na lista dos candidatos que se autodeclararam negros, outros eventuais candidatos que atendam ao item "c.3" acima, devendo ser oportunizado a esses candidatos o direito de interposição de recurso contra o resultado provisório da prova discursiva; c.5) à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos - CEBRASPE que, analisados os eventuais recursos, publiquem o resultado final da prova discursiva relativamente a esses candidatos e façam a convocação para a prova de capacidade física dos que forem aprovados na prova discursiva (item 11.1 do edital), bem como das demais fases do certame (itens 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20 do edital), caso venham a obter aprovação, retificando-se os correspondentes editais de resultados já publicados; c.6) a suspensão do andamento do concurso público até que os candidatos que venham a ter suas provas discursivas corrigidas, nos termos das alíneas anteriores, e sejam submetidos às demais fases do certame (caso venham a obter aprovação), até que alcancem a fase em que se encontram os demais candidatos já aprovados. d) a citação da UNIÃO e do Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos - CEBRASPE, na forma da lei, para, querendo, contestarem a presente ação, sob pena de decretação da revelia e aplicação de seus efeitos; e) por se tratar de questão unicamente de direito, o julgamento antecipado do mérito, conforme disposto no artigo 355, inciso I, do Código de Processo Civil, e, caso Vossa Excelência entenda necessária dilação probatória, pugna pela produção de todas as provas em direito admitidas, em especial juntada de novos documentos e oitiva de testemunhas; Relata que: A presente ação tem por objetivo determinar à UNIÃO e ao Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos - CEBRASPE, que, no concurso público para provimento de vagas no cargo de Policial Rodoviário Federal - PRF, regido pelo Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, observem o disposto no art. 3º, §1º, da Lei nº 12.990/2014 em cada um das fases e etapas do concurso referido. Assim, pretende-se com esta ação obter provimento jurisdicional que imponha obrigação de fazer aos demandados, consistente na retificação do Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, a fim de que os candidatos autodeclarados negros aprovados nas provas objetivas que tiverem direito à correção de suas provas discursivas com base nas suas classificações na ampla concorrência não sejam contabilizados no quantitativo de correções das provas discursivas de candidatos autodeclarados negros, constando tanto da listagem de candidatos da ampla concorrência quanto da listagem dos candidatos autodeclarados negros que tem direito à correção de suas provas discursivas. Além disso, em sede definitiva, objetiva-se que a UNIÃO e o CEBRASPE sejam condenados adotar tais medidas sempre que realizem e organizem concursos públicos para provimento de cargos efetivos no âmbito da administração pública federal, assegurando-se, assim, efetividade da Lei nº 12.990/2014. Restou apurado, no âmbito do procedimento nº1.35.000.000717/2021-13 em anexo, que o CEBRASPE e a UNIÃO, no concurso para provimento de vagas no cargo de Policial Rodoviário Federal em andamento, adotaram critérios de classificação que desfiguram o disposto no art. 3º, caput, da Lei nº 12.990/2014. Dispõe o Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021: 4 DAS VAGAS Vagas para ampla concorrência Vagas reservadas para candidatos negros Vagas reservadas para candidatos com deficiência Total 1.125 300 75 1.500 (...) 6 DAS VAGAS DESTINADAS AOS CANDIDATOS NEGROS 6.1 Das vagas destinadas ao cargo e das que vierem a ser criadas/autorizadas durante o prazo de validade do concurso, 20% serão providas na forma da Lei nº 12.990, de 9 de junho de 2014, e da Portaria Normativa nº4, de 6 de abril de 2018. 10.6 DOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA PROVA DISCURSIVA 10.6.1 Respeitados os empates na última colocação, será corrigida a prova discursiva do candidato aprovado na prova objetiva e classificado até a posição especificada no quadro a seguir. Candidatos à ampla concorrência Candidatos que se autodeclararam negros Candidatos que solicitaram concorrer às vagas Total 4.500ª 1.200ª 300ª 6.000ª (..) 10.6.2 O candidato cuja prova discursiva não for corrigida na forma do subitem 10.6.1 deste edital estará automaticamente eliminado e não terá classificação alguma no concurso." Observa-se que o item 10.6 do Edital Concurso PRF nº 1, de 18/01/2021, prevê duas regras que impedem o candidato de prosseguir nocertame, as chamadas regras restritivas, que subdividem-se em eliminatórias e cláusulas de barreira. Quando o edital prevê que serão corrigidas as provas discursivas dos candidatos aprovados nas provas objetivas, está prevendo uma regra eliminatória (10.6.1), pois condiciona a correção das provas a um acerto mínimo de questões das provas objetivas. Destarte, as regras eliminatórias estão ligadas à noção de eliminação do candidato do certame público por insuficiência em seu desempenho. Por sua vez, quando limita o número de provas discursivas a serem corrigidas, estabelece uma cláusula de barreira (10.6.1). Dessa forma, no universo de candidatos que não forem excluídos pela regra eliminatória (aprovação na prova objetiva), participará da fase subsequente (correção da prova discursiva) apenas um número predeterminado de candidatos, contemplando-se somente os mais bem classificados. Salienta-se que a previsão das cláusulas de barreira foi declarada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal no Recurso Extraordinário nº 635.739, julgado em 19/02/2014, não sendo este o objeto do questionamento desta ação Entretanto, a problemática gira em torno da formação da lista de classificados para a correção das provas discursivas, elaborada em desconformidade com o previsto no art. 3º, caput e §1º, da Lei nº 12.990/2014 ("§ 1º Os candidatos negros aprovados dentro do número de vagas oferecido para ampla concorrência não serão computados para efeito do preenchimento das vagas reservadas") e com a Ação Declaratória de Inconstitucionalidade nº 41, julgada em 08/06/2017. Segundo o Edital Concurso PRF nº1, de 18/01/2021, serão elaboradas três listas de classificação, quais sejam: ampla concorrência, candidatos negros e candidatos com deficiência. Assim, de acordo com o ofício 1361/2021 (em anexo), encaminhado pelo CEBRASPE ao MPF: "Conforme se verifica no § 1.º do art. 3.ª da Lei n.º 12.990/2014, os candidatos negros, aprovados dentro do número de vagas da ampla concorrência, não serão computados para efeito de preenchimento das vagas reservadas. Veja-se: Art. 3º Os candidatos negros concorrerão concomitantemente às vagas reservadas e às vagas destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação no concurso. § 1º Os candidatos negros aprovados dentro do número de vagas oferecido para ampla concorrência não serão computados para efeito do preenchimento das vagas reservadas. (...) (Grifou-se) Tal dispositivo foi literalmente repetido no Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, para garantir que, ao final do concurso, quando da divulgação do resultado final, os candidatos negros, aprovados dentro do número de vagas previsto no edital de abertura para ampla concorrência, não sejam computados para provimento de vagas reservadas a candidatos negros, conforme transcrito a seguir: 6.3 Os candidatos negros concorrerão concomitantemente às vaga reservadas e às vagas destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação no concurso. 6.4 Os candidatos negros que se declararem com deficiência concorrerão concomitantemente às vagas reservadas a pessoas com deficiência e às vagas destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação no concurso. 6.5 Os candidatos negros aprovados dentro do número de vagas oferecido à ampla concorrência não preencherão as vagas reservadas a candidatos negros, sendo, dessa forma, automaticamente excluídos da lista de aprovados na lista de candidatos negros. Assim, o candidato negro aprovado dentro do número de vagas de ampla concorrência ocupará necessariamente uma dessas vagas, abrindo a possibilidade de que outro candidato negro, que tenha classificação suficiente ao final do concurso, seja aprovado para a vaga reservada por aquele não preenchida. Frisa-se que o estabelecido no § 1.º do art. 3.º da Lei 12.990/2014, somente deve ser implementado no momento do resultado final do concurso, pois tal regra refere-se a candidatos aprovados. Salienta-se que CANDIDATO APROVADO é aquele que foi submetido a todas as etapas do certame e obteve aprovação, figurando no resultado final do concurso e obtendo classificação final para fins de nomeação ou de permanência em cadastro de reserva. Ou seja, segundo o Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos - CEBRASPE, a regra contida no art. 3º, caput e §1º, da Lei nº 12.990/2014, deve ser implementada apenas no resultado final do concurso. Contudo, releva observar que, a se prevalecer a interpretação adotada pelo CEBRASPE, o objetivo da referida norma legal será esvaziado. Assim, o aludido dispositivo legal deve ser aplicado em todas as fases e etapas do certame, notadamente todas as vezes que houver formação de lista de classificação. Exemplifica-se: O edital em exame prevê que serão disponibilizadas 1.125 vagas para a ampla concorrência, serão reservadas 300 vagas para candidatos negros no concurso para o cargo de Policial Rodoviário Federal. Dessa forma, corrigidas 4.500 provas discursivas para vagas de ampla concorrência e 300 provas para vagas reservadas para candidatos negros. Aplicando-se o entendimento do CEBRASPE, se 300 candidatos negros obtiverem nota suficiente para correção das provas discursivas dentro das vagas de ampla concorrência, ainda assim eles serão computados no número de correções para as vagas reservadas para candidatos negros. Ou seja, nenhum candidato cotista terá sua prova discursiva corrigida. Nessa hipótese, se os 300 candidatos negros mantiverem seu desempenho, sendo aprovados dentro das vagas da ampla concorrência, a reserva de 20% de vagas aos candidatos cotistas terá sido meramente nominal e nenhuma será preenchida, pois aqueles que teriam sido beneficiados pela Lei nº 12.990/2014 terão sido todos eliminados anteriormente, de forma manifestamente indevida. Registre-se que, mesmo que apenas um candidato negro classificado na lista da ampla concorrência seja contabilizado no quantitativo de correções das provas discursivas de candidatos autodeclarados negros, isso importará em violação à Lei e ao Princípio da Igualdade, pois o percentual de provas discursivas dos candidatos cotistas a serem corrigidas será proporcionalmente menor que o dos demais candidatos. Por outro lado, caso se aplique o entendimento ora postulado na presente ação, os candidatos negros que obtivessem nota suficiente para a ampla concorrência, embora constem das duas listas, não devem ser considerados no número de correções de provas discursivas para as vagas reservadas para candidatos negros, de forma que mais candidatos negros teriam suas provas discursivas corrigidas, atingindo-se, assim, o real objetivo das cotas. A aplicação do citado art. 3º, caput e §1º, da Lei nº 12.990/2014 em todas as fases e etapas do certame é medida que se impõe para assegurar a eficácia da ação afirmativa instituída pelo mencionado diploma legal e cuja constitucionalidade foi declarada pelo STF na ADC 41 / DF. Caso contrário, ao final do certame, será mais provável que não tenham candidatos cotistas suficientes para o preenchimento de todas as vagas ou para o cadastro de reserva pois, entre aqueles que chegarem ao final do certame, estarão os candidatos com nota suficiente para ocupar as vagas da ampla concorrência e que, durante todo o concurso, foram considerados na contagem de cotistas, prejudicando os demais candidatos negros concorrentes. Desse modo, necessária a retificação do edital de forma a prever que, em cada uma das etapas e fases do concurso, não sejam computados, para efeito de preenchimento do percentual de vagas reservadas a candidatos negros, os candidatos autodeclarados negros classificados ou aprovados dentro do número de vagas oferecido para ampla concorrência. Além disso, devem esses candidatos constar também da lista dos aprovadospara as vagas destinadas à ampla concorrência e da lista dos aprovados para as vagas reservadas a candidatos negros em todas as etapas do concurso. Por fim, deverá ser realizada a correção das provas discursivas dos candidatos autodeclarados negros aprovados e classificados dentro das vagas reservadas, conforme o limite previsto no edital, no número correspondente ao de candidatos autodeclarados negros classificados ou aprovados dentro do número de vagas oferecidas para ampla concorrência. Este Juízo, em sede proemial, em homenagem ao princípio do contraditório, determinou as notificações dos requeridos para, em 72 (setenta e duas) horas, manifestarem-se sobre a postulação autoral. A União Federal, no id 4058500.4981749, impugna o pedido liminar nos seguintes termos: INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL. Há que se notar a inépcia da petição inicial, que não apresenta os fatos com necessárias clareza e objetividade. Resta dificultada a compreensão do objeto da demanda, a ampla defesa e o contraditório, de modo que a prestação jurisdicional fica prejudicada. Com efeito, a petição inicial precisa delimitar o fato e os fundamentos jurídicos, bem como apresentar pedido certo, conforme artigo 319, III e IV, c/c os arts. 322 e 330, I, do CPC. Há necessidade, portanto, que da narração dos fatos decorra a conclusão (art. 330, §1º, I e III; do CPC). DO DESCABIMENTO DO PEDIDO DE TUTELA PROVISÓRIA ANTECIPADA. CONCURSO DA POLÍCIA RODOVIÁRIA FEDERAL (Edital PRF n. 1, de 18.01.2021). LEGALIDADE ADMINISTRATIVA. No caso presente, não há probabilidade do direito, uma vez que o alegado direito não encontra guarida no ordenamento jurídico. Ademais, o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo, tampouco restou satisfeito; à mingua de qualquer comprovação. De início, as alegações são "genéricas, sem qualquer prova, de modo que revelam matéria controvertida. Inexiste a probabilidade do direito alegado. Também não provou o alegado perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo. O autor/recorrido não demonstrou qualquer "ilegalidade" da Administração Pública. Há de se considerar a presunção de legitimidade dos atos administrativos, e a indisponibilidade do interesse público. DO EFEITO "SATISFATIVO" (IRREVERSIBILIDADE) QUE INVIABILIZA A "TUTELA PROVISÓRIA". VEDAÇÃO LEGAL À CONCESSÃO DE LIMINAR EM FACE DA FAZENDA PÚBLICA. RISCO "INVERSO" EM DESFAVOR DO ESTADO Ademais, o pleito de "tutela provisória" tem viés satisfativo, pois seus efeitos serão irreversíveis, tendo em vista o impacto orçamento e administrativo que lhe é inerente. Em outras palavras, o pedido de tutela provisória acaba por esgotar o objeto da ação, com manifesto risco de irreversibilidade. Daí porque se deve observar a vedação que a legislação estabelece à concessão de liminar (tutela provisória) em desfavor da Administração Pública. Art. 1.059. À tutela provisória requerida contra a Fazenda Pública aplica- se o disposto nos arts. 1º a 4º da Lei nº 8.437, de 30 de junho de 1992, e no art. 7º, §2º, da Lei nº 12.016, de 7 de agosto de 2009. O pedido de "tutela provisória", portanto, acaba por esgotar o objeto da ação, com manifesto risco de irreversibilidade. DA EXISTÊNCIA DE RISCO INVERSO EM DESFAVOR DA UNIÃO Cumpre tecer algumas observações quanto aos impactos nocivos que o deferimento do pedido liminar traria ao certame e ao interesse público. Em primeiro lugar, a convocação dos candidatos segundo o critério impugnado já se exauriu, pelo que acolher a pretensão demandaria corrigir provas de indefinidos candidatos e refazer as provas já aplicadas, pondo em risco a própria efetividade do certame. Desse modo, o deferimento da tutela de urgência poderia gerar graves prejuízos ao andamento do concurso, à Polícia Rodoviária Federal - que já possui grave déficit em seu quadro de pessoal -, aos candidatos inscritos no concurso e à Administração Pública em geral. Para além dos transtornos em relação aos participantes do certame e possíveis ações indenizatórias, o eventual atraso do concurso, retardaria, consequentemente, a reposição de policiais rodoviários federais, em momento em que salta aos olhos a necessidade de pessoal do órgão. Tal situação causaria impacto direto nas atividades da Polícia Rodoviária Federal, notadamente em regiões estratégicas, na área de fronteira e em localidades de difícil provimento, de impacto imprevisível em toda a sociedade e com consequências imensuráveis. Ademais, como se informa no Ofício Cebraspe n.º 2.272/2019 (fl. 09), "o acolhimento do pleito além de não encontrar respaldo no edital que rege o certame e na legislação vigente, pode gerar precedente que inviabilizará a finalização do resultado desse certame e a realização de outros". O dano, como se vê, é inverso e milita em desfavor da União, recomendando não sejam impostos mais atrasos ao certame em tela, especialmente porque, como sobejamente se demonstrou acima, nenhuma mácula há no edital". O pedido de tutela antecipada deve ser indeferido por falta de respaldo jurídico. MÉRITO Convém mencionar que a chamada cláusula de barreira (quantidades de candidatos mais bem classificados para prosseguimento nas fases do concurso) teve sua legalidade reconhecida pelo STF-Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE n. 635.739/AL: Tema 376: É constitucional a regra inserida no edital de concurso público, denominada cláusula de barreira, com o intuito de selecionar apenas os candidatos mais bem classificados para prosseguir no certame. Recurso Extraordinário. Repercussão Geral. 2. Concurso Público. Edital. Cláusulas de Barreira. Alegação de violação aos arts. 5º, caput, e 37, inciso I, da Constituição Federal. 3. Regras restritivas em editais de concurso público, quando fundadas em critérios objetivos relacionados ao desempenho meritório do candidato, não ferem o princípio da isonomia. 4. As cláusulas de barreira em concurso público, para seleção dos candidatos mais bem classificados, têm amparo constitucional. 5. Recurso extraordinário provido. (RE 635739, Relator(a): GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 19/02/2014, ACÓRDÃO ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-193 DIVULG 02-10-2014 PUBLIC 03-10-2014) Ocorre que o concurso público em tela está respaldo na legalidade administrativa, de modo que está em consonância com a Lei n. 12.990/2014. A Lei n. 12.990/2014 estabelece a "reserva das vagas oferecidas" para os aprovados no certame; e não de "reserva de classificação" para "correção da prova discursiva" e prosseguimento no certame. Assim, com o resultado final do certamente, que determinará os candidatos aprovados, será efetivada a reserva de vagas em tela. A legislação estabeleceu duas regras para dois momentos distintos de um concurso público. O primeiro momento refere-se ao candidato que está concorrendo ("os candidatos negros concorrerão"), ou seja, está relacionado especificamente com o concurso em andamento. Tanto assim o é, que ao final da redação do caput do artigo 3º, o legislador determina que isso ocorrerá "...de acordo com sua classificação no concurso". O segundo momento, por sua vez, está especificado no parágrafo primeiro do dispositivo em testilha e refere-se ao momento final do certame, pois utilizou-se de expressão diferente das usadas na redação do caput, quais sejam: "candidatos negros aprovados". A "classificação" é termo empregado no curso do certame, ao passo que só é possível falar-se em candidato "aprovado", quando do resultado final. Assim, compreende-se que o legislador ditou regras a respeito de não serem computados os candidatos aprovados dentro do número de vagas para ampla concorrência para efeito do preenchimento de vagas reservadas. O edital de regência em seu item 6, disciplina na forma da Lei, a reserva e destinação das vagas aos candidatos que se declararem negros.O que deseja na verdade o MPF é o aumento de candidatos negros a serem aptos a prosseguirem nas demais fases do certame, independentemente de ter alcançado a pontuação mínima para tal feito. E deseja isto alargando o conceito de aprovação. Ora, aprovação significa obter sucesso em todas as fases do concurso, e não apenas em uma ou algumas fases. Se assim fosse, o classificado na primeira fase, poderia postular a sua nomeação, posto que foi aprovado! O que popularmente se chama "passei de fase", nada mais é do que obter classificação a fase seguinte do certame, posto que a aprovação somente se obterá após se lograr sucesso na última fase eliminatória do concurso. Ademais, vislumbra-se o perigo inverso. Isto porque, eventual deferimento do pedido de tutela provisória ensejaria, na prática, a eliminação de milhares de candidatos que já participaram das demais fases do certame, não sendo por demasiado lembrar, que o concurso em questão já está na fase de divulgação do resultado da avaliação psicológica, ou seja, quase no seu fim. Assim, não há atuação irregular da Administração Pública Federal apta a ensejar a alteração de interpretação desejada pelo autor. Pretende o autor ressarcir os milhares de candidatos em caso de improcedência da ação? Deseja, a suspensão da vida de todos os candidatos? Já não basta as arguiras causas pela pandemia, que já dura mais de ano e meio? Estamos aqui a cuidar de vidas que investiram tempo, dinheiro que muitas vezes não tem, em um sonho de alcançar um cargo público. Não se pode determinar a suspensão, anulação ou qualquer outra medida que prejudique o andamento do concurso por discordância interpretativa do autor de dispositivo legal. Não se está diante de ilegalidade, e sim de divergência interpretativa. Isto sem falar no prejuízo ao erário e a sociedade como um todo, uma vez que recursos foram vertidos para a realização do certame, e que os futuros servidores que estão sendo selecionados, são necessários a compor o quadro da instituição, a fim de uma melhor prestação de serviço a população, bem como melhorar a segurança viária e combater a criminalidade que passa pela malha viária federal. (...) O Edital nº 1 PRF/2021, de 18 de janeiro de 2021, por sua vez, ao tratar especificamente do tema, assim dispõe (grifos acrescidos): 6.10 Em cada uma das fases do concurso, não serão computados, para efeito de preenchimento do percentual de vagas reservadas a candidatos negros, nos termos da Lei nº 12.990/2014, os candidatos autodeclarados negros classificados ou aprovados dentro do número de vagas oferecido a ampla concorrência, sendo que esses candidatos constarão tanto da lista dos aprovados dentro do número de vagas da ampla concorrência como também da lista dos aprovados para as vagas reservadas aos candidatos negros, em todas as fases do concurso. Nesse contexto, como se infere de mera leitura do dispositivo legal em referência, para a adequada aplicação da norma prevista no art. 3º, § 1º, da Lei nº 12.990/2014, é indiferente o número de provas discursivas que seriam ou tenham sido corrigidas no certame - tema previsto no item 10.6.1 do edital de abertura -, porquanto, para fins de contagem de vagas reservadas, são excluídos apenas os candidatos autodenominados negros que tenham sido classificados dentro do número de vagas oferecidas para a ampla concorrência do certame. Logo, ao contrário do que assevera o autor e à luz do art. 3º, § 1º, da Lei nº 12.990/2014, o quantitativo disposto no item 10.6.1 do edital - que cuida do número de provas discursivas que seriam corrigidas em cada unidade da Federação e da concorrência -, simplesmente desimporta para o deslinde desta causa. O que se verifica, em verdade, é que o autor busca fazer prevalecer uma interpretação contra legem da disposição legal que invoca, sustentando, para tanto, e de maneira indevida, o entendimento manifestado pelo Supremo Tribunal Federal no julgamento da Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 41 - mais especificamente no item 3 daquele acórdão, assim redigido. Por fim, a administração pública deve atentar para os seguintes parâmetros: (i) os percentuais de reserva de vaga devem valer para todas as fases dos concursos; (ii) a reserva deve ser aplicada em todas as vagas oferecidas no concurso público (não apenas no edital de abertura); (iii) os concursos não podem fracionar as vagas de acordo com a especialização exigida para burlar a política de ação afirmativa, que só se aplica em concursos com mais de duas vagas; e (iv) a ordem classificatória obtida a partir da aplicação dos critérios de alternância e proporcionalidade na nomeação dos candidatos aprovados deve produzir efeitos durante toda a carreira funcional do beneficiário da reserva de vagas. Ademais, nos termos do Ofício Cebraspe n.º 1.287/2021, os candidatos autodeclarados negros aprovados dentro do número de vagas da ampla concorrência foram excluídos do cálculo da reserva de 20% na listagem de aprovação da prova objetiva e discursiva, convocação para a prova prática e serão excluídos no resultado da prova prática, resultado final e curso de formação, ou seja: em todas as fases do concurso, in verbis: (...) Nesse ponto, cabe esclarecer que a limitação estabelecida no quadro contido no subitem 10.6.1 do Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, para a correção de provas discursivas no certame, é conhecida como cláusula de barreira e já teve sua legalidade reconhecida pelo STF, quando do julgamento do RE n.º 635.739/AL, no qual se fixou a tese, segundo a qual: "É constitucional a regra inserida no edital de concurso público, denominada cláusula de barreira, com o intuito de selecionar apenas os candidatos mais bem classificados para prosseguir no certame" (Tema 376). Logo, longe de incorrer em qualquer violação ao percentual disposto na Lei nº 12.990/2014, o Edital nº 1 PRF/2021, de 18 de janeiro de 2021, atendeu integralmente à previsão legal e ao comando fixado pelo Supremo Tribunal Federal. O incorreto uso da decisão proferida na ADC 41 pretendido pelo autor para a situação em comento fica ainda mais evidente quando se analisa o voto do Ministro Relator, Roberto Barroso, no trecho específico que tratou do que viria a ser o item 3.2 do respectivo acórdão - por diversas vezes invocado pelo autor como fundamento para sustentar sua pretensão. [...]. Por outro lado, se o candidato não obteve nota para passar à fase seguinte do certame, não pode ele ser considerado aprovado nem obter classificação no concurso. O mesmo raciocínio vale para os candidatos que concorrem às vagas reservadas que, apesar de terem obtido nota suficiente para avançar da prova objetiva para a prova discursiva pela lista dos candidatos reservados, não obtiveram nota para figurar na listagem geral. Logo, apenas os candidatos que atingiram a nota mínima já na prova objetiva podem figurar em ambas as listas. Aqueles que não atingiram a nota mínima da ampla concorrência na primeira fase, ao contrário, ainda que venham a obter notas elevadas na prova discursiva, não podem migrar para a lista geral porque dela já haviam sido eliminados na primeira fase, a partir de quando passaram a concorrer apenas na lista dos candidatos às vagas reservadas. Entendimento contrário, como defende o autor, implicaria em verdadeira retroação indevida, fazendo com que candidatos que não obtiveram nota para figurar na lista ampla - e, assim, foram dela eliminados, passando a concorrer apenas na lista destinada às vagas reservadas -, fossem indevidamente "ressuscitados" na ampla concorrência, passando a nela figurar a partir de fase posterior àquela em que haviam sido eliminados. Tudo sem previsão legal e por meio de interpretação subjetivista que contraria disposição expressa e literal do 6.12 do edital de abertura do certame. Demais disso,o acolhimento da pretensão autoral importaria em sérios prejuízos ao andamento de todo e qualquer concurso público que possuísse mais de uma fase, incorrendo, ainda, em evidente desrespeito à cláusula de barreira regularmente instituída pelo edital do certame. Isso porque, ainda que já respeitado o percentual legal de 20%, a Administração teria sempre o dever de corrigir as provas discursivas de candidatos cotistas que, apesar de eliminados do concurso já na fase objetiva - tanto da lista geral quanto das vagas reservadas -, passassem a ostentar posteriormente o direito de ter suas provas discursivas corrigidas como decorrência do entendimento buscado pelo autor - pelo qual, como dito, candidatos que haviam avançado de fase apenas pela lista reservada, por não terem obtido nota suficiente à ampla concorrência, passariam a constar da lista geral e, assim, abririam, neste momento, novas vagas na lista reservada, trazendo de volta ao certame candidatos que sequer haviam avançado para a prova discursiva. Ante o exposto, requer, preliminarmente, que seja indeferida a petição inicial e extinto o feito sem julgamento do mérito; no mérito, que o pedido liminar seja indeferido. ANTONIO CLAUDIO KOZIKOSKI JUNIOR, RENAN PEREIRA FREITAS CAMILA POLVERO E GUILHERME JACINTO LOPES no id 4058500.4982612, requerem a admissão no feito como terceiros interessados. Relatam que: Conforme documentos anexados, os Terceiros Interessados acima nominados ajuizaram Ação Popular no Foro de Curitiba/PR objetivando o dever de a União e a Cebraspe - também Requeridas nestes autos - de corrigirem o quantitativo de redações indicadas no item 10.6.1 do edital de abertura do Concurso para Provimento do Cargo de Policial Rodoviário Federal (Edital 1/2021), ou seja, 4.500 redações da ampla concorrência, respeitando-se os empates na última colocação, fazendo publicar o resultado em edital complementar com a definição de nova data para o TAF - Teste de Aptidão Física, tudo em nome da moralidade administrativa e do patrimônio público. Os fundamentos daquela ação popular tangenciam os fundamentos desta Ação Civil Pública. Enquanto na presente ação o Ministério Público reclama a correção de um quantitativo maior de redações para os cotistas, naquela ação o pedido é a correção do número mínimo de redações para a os candidatos inscritos na ampla concorrência e, consequentemente, o quantitativo global de redações previsto no Edital. Ambas as pretensões têm em comum um ponto: a interpretação da Lei de Cotas. Nesta ação o Ministério Público pede a aplicação da Lei de Cotas em todas as etapas do concurso, com base na Lei 12.990/2014. Naquela ação os Autores sustentam que as provas objetivas e discursivas do Concurso para Provimento de Cargo de Policial Rodoviário Federal não representavam fases distintas, mas sim fases de uma mesma etapa, de modo que não caberia - ao menos naquele momento - a aplicação da Lei de Cotas. Ou seja, atualmente pendem (ao menos) três ações sobre o assunto. Ação Popular n. 1001879-41.2021.4.01.4004 - Juízo da Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de São Raimundo Nonato-PI - Distribuição em 05/06/2021): pretende o aumento do quantitativo de redações corrigidas para os candidatos cotistas. Houve pedido de desistência da ação, mas até agora não houve trânsito em julgado. Ademais, considerando o que dispõe o artigo 9º da Lei da Ação Popular veda a desistência, caberá ao Juízo naqueles autos determinar a publicação de editais para que outros cidadãos assumam a causa, ou então seja ela tocada pelo próprio Ministério Público. Ação Popular n. 50401189520214047000 - Juízo Federal da 1ª VF de Curitiba - Distribuição em 21/06/2021: pretende o aumento do quantitativo de redações corrigidas para os candidatos da ampla concorrência. O Juízo declinou a competência para o foro da Ação Popular acima mencionada. Ação Civil Pública 0803436-31.2021.4.05.8500 - Tramite perante este Digníssimo Juízo - Distribuição em 09/07/2021: pretende o aumento do quantitativo de redações corrigidas para os candidatos cotistas. As três ações, como mencionado, decorrem de uma mesma problemática: a aplicação - certa ou errada - da Lei de Cotas. Nesse contexto, manter as três ações em curso de forma apartada pode representar um verdadeiro caos e agravar ainda mais a situação dos candidatos (sejam eles cotistas, sejam eles da ampla concorrência, ambos castigados por uma má-condução do concurso pela Banca Cebraspe). Dessa forma, é imperioso que se reúnam as ações para julgamento no Foro Prevento, pois a ação popular e a ação civil pública integram um microssistema de defesa de interesses difusos que, por si só, enseja a reunião de ações com pedidos ou causas de pedir idênticos. O CEBRASPE, no prazo de 72 horas, apresentou, de logo, a peça de resistência, no id 4058500.4985760, embasado nos fundamentos fáticos e jurídicos expendidos na sequência: O concurso público está em andamento e já teve o resultado provisório no exame de aptidão física, na avaliação psicológica e na apresentação de documentos e preenchimento da Ficha de Informações Pessoais (FIP), divulgados por meio do Edital Concurso PRF n.º 17, de 7 de julho de 2021. Nesse ponto, é importante ressaltar que, conforme previsão legal e editalícia, os candidatos negros concorrem concomitantemente às vagas reservadas e às vagas destinadas à ampla concorrência, de acordo com a sua classificação no concurso, bem como em cada uma das fases do concurso, não sendo computados, para efeito de preenchimento do percentual de vagas reservadas a candidatos negros, os candidatos autodeclarados negros classificados ou aprovados dentro do número de vagas oferecido a ampla concorrência, sendo que esses candidatos constarão tanto da lista dos aprovados dentro do número de vagas da ampla concorrência, como também da lista dos aprovados para as vagas reservadas aos candidatos negros, em todas as fases do concurso. Assim, em cumprimento à regra legal e à editalícia, os candidatos negros, aprovados, na prova objetiva e provisoriamente aprovados na prova discursiva, dentro do número de vagas oferecido no Edital de abertura, figuraram nas duas listas de concorrência, sendo, contudo, computados somente na lista dos candidatos aprovados na ampla concorrência. Destaca-se, também, que o número de vagas de ampla concorrência não pode ser confundido com a posição definida como corte na classificação da prova objetiva para se prosseguir no certame mediante a correção da prova discursiva, cláusula de barreira. Assim, a pretensão do MPF viola o § 1.º do art. 3.º da Lei 12.990/2014, pois nem todos os candidatos negros que estão dentro do quantitativo de provas discursivas corrigidas em ampla concorrência (4.500.ª) estão dentro do número de vagas ofertadas para ampla concorrência (1.125). Destaque-se que, conforme será demonstrado, apenas 183 candidatos negros aprovados na prova objetiva e que tiveram a prova discursiva corrigida estão dentro do número de vagas ofertadas em edital para ampla concorrência (1.125) e esses candidatos não foram computados na lista de candidatos negros. Os demais candidatos negros que não ficaram posicionados dentro do número das vagas ofertadas em ampla concorrência, mas ficaram dentro da cláusula de barreira da correção da discursiva em ampla concorrência (4.500) foram computados nas duas listas, conforme exigência legal. Ademais, o percentual de reserva está sendo observado em todas as fases do certame, na medida em que a correção das provas discursivas de candidatos que concorrem às vagas reservadas aos negros é proporcional ao número de vagas reservadas estabelecido em edital, como restará demonstrado. Assim, conforme se demonstrará na sequência, a pretensão do MPF não deve prosperar, uma vez que não se coaduna com a legislação pátriaregente. Ademais, a contabilização dos candidatos negros na ampla concorrência, bem como a correção das provas discursivas e a manutenção dos candidatos nas duas listas de concorrência obedeceram à legislação pátria, às regras editalícias e ao entendimento exarado pelo C. STF, conforme será demonstrado. DO LITISCONSORTE PASSIVO NECESSÁRIO Caso venha a lograr êxito em sua pretensão, a regra estabelecida no subitem 6.10 do edital de abertura deverá ser retificada, alterando-se critério de avaliação e seleção que foi efetivamente utilizado para a correção da prova objetiva dos candidatos que concorrem às vagas reservadas aos candidatos negros. Isso acarretará o retorno de candidatos negros eliminados ao certame, que podem, no decorrer da seleção, vir a ocupar a vaga de candidatos regularmente aprovados nos termos exigidos no edital de abertura do concurso. Por essa razão, é imprescindível a citação, na condição de litisconsortes passivos necessários, dos candidatos negros convocados para o exame de aptidão física, para que lhes seja dada a oportunidade de defesa de seus interesses, que serão, inequivocamente, afetados por eventual procedência do pedido dos Autores. DO MÉRITO Na preparação, na realização e no controle dos concursos públicos, deve a Administração primar pela absoluta boa-fé, vinculando-se estritamente às regras regentes do certame. Não se admite, portanto, que essas regras sejam desrespeitadas, estabelecendo-se uma coisa e executando outra. A confiança na atuação da Administração de acordo com o Direito posto, é o mínimo que esperam os cidadãos que concorrem a cargos ou empregos públicos. Também são vedados comportamentos que ofendam os padrões éticos exigidos do Poder Público. A publicação do edital torna explícitas as regras que norteiam o relacionamento entre a Administração e aqueles que concorrem a vagas a cargos públicos. Daí ser necessária a observância bilateral de tais regras, a exemplo do que ocorre com as licitações: o Poder Público exibe suas condições, e o candidato, inscrevendo-se, concorda com estas, estabelecendo- se o vínculo jurídico do qual decorrem direitos e obrigações. Qualquer discordância dos dispositivos editalícios, inclusive dos critérios de avaliação e seleção estabelecidos no certame e na aplicação da prova objetiva, deveria ter sido objeto de impugnação pela Autora em momento oportuno. Depreende-se da Lei nº 8.666/93, no artigo 41, § 1.º, por analogia, que qualquer cidadão é parte legítima para impugnar o edital, podendo protocolar o pedido de impugnação, no âmbito administrativo, até cinco dias antes do início do concurso. Os critérios de avaliação e seleção adotados no certame alcançam todo e qualquer candidato, são traçados em conformidade com os princípios do Direito Administrativo e primam pela forma igualitária de tratamento, não admitindo tratamento desigual aos candidatos ou em desacordo com as disposições editalícias. No concurso em comento foram ofertadas um total de 1.500 vagas, sendo 1.125 vagas para a ampla concorrência; 300 vagas reservadas aos candidatos negros e 75 vagas reservadas aos candidatos com deficiência, conforme se verifica no quadro de vagas contido no item 4 do Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, Nessa esteira, em seu subitem 10.6.1, o referido edital fixou que, respeitados os empates na última colocação, seriam corrigidas as provas discursivas dos candidatos aprovados e classificados até as posições especificadas no quadro a seguir, de forma que o percentual de reserva de vagas pudesse ser garantido nas demais fases do certame. Os candidatos não impugnaram o edital de abertura do certame e, por conseguinte, concordaram com os critérios de avaliação e seleção, inclusive com os critérios estabelecidos para aprovação na prova objetiva e discursiva. No entanto, somente agora MPF tenta, de maneira intempestiva, rever disposições editalícias, o que não pode ser admitido por esse nobre Juízo, sob pena de ferir o princípio da vinculação ao edital. O percentual de reserva de vagas deve valer para todas as etapas do certame. No concurso em foco, o percentual de reserva está sendo observado em todas as fases do certame, na medida em que a correção das provas discursivas de candidatos que concorrem às vagas reservadas aos negros é proporcional ao número de vagas reservadas estabelecido em edital, como restará demonstrado a seguir. Veja-se que, além das vagas disponibilizadas no certame (item 4), também o critério para a correção das provas discursivas (limite de classificação na prova objetiva) obedeceu ao referido percentual de 20%, na medida em que foram corrigidas as provas dos candidatos negros classificados até a posição 1.200ª. Nesse ponto, cabe esclarecer que a limitação estabelecida no quadro contido no subitem 10.6.1 do Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, para a correção de provas discursivas no certame, é conhecida como cláusula de barreira e já teve sua legalidade reconhecida pelo STF, quando do julgamento do RE n.º 635.739/AL, no qual se fixou a tese, segundo a qual: "É constitucional a regra inserida no edital de concurso público, denominada cláusula de barreira, com o intuito de selecionar apenas os candidatos mais bem classificados para prosseguir no certame" (Tema 376). É importante ressaltar que, também segundo o edital de abertura, em seus subitens 11.1 e 12.1, todos os candidatos aprovados nas provas discursivas serão convocados para as demais fases do concurso, de modo que a referida proporção se mantém, não sendo possível a eliminação de qualquer candidato a partir daí em função de nota, já que as referidas fases têm caráter exclusivamente eliminatório. Demonstrado está que a correção das provas discursivas guarda a devida proporcionalidade com o percentual de 20% reservado aos candidatos negros, passa-se a demonstrar que o MPF conferiu também interpretação equivocada ao subitem 10.6 do Edital de abertura, ou mesmo não percebeu a sua existência, e ao § 1.º do art. 3.º da Lei n.º 12.990/2014. Conforme ainda se verifica do caput do art. 3.º da referida lei, os candidatos negros concorrerão tanto às vagas reservadas quanto às vagas da ampla concorrência. Assim, o candidato negro aprovado dentro do número de vagas de ampla concorrência ocupará necessariamente uma dessas vagas, abrindo a possibilidade de que outro candidato negro, que tenha classificação suficiente ao final do concurso, seja aprovado para a vaga reservada por aquele não preenchida. Frisa-se que o estabelecido no § 1.º do art. 3.º da Lei 12.990/2014, somente deve ser implementado no momento do resultado final do concurso, pois tal regra refere-se a candidatos aprovados. Salienta-se que CANDIDATO APROVADO é aquele que foi submetido a todas as etapas do certame e obteve aprovação, figurando no resultado final do concurso e obtendo classificação final para fins de nomeação ou de permanência em cadastro de reserva. Portanto, em relação aos candidatos negros que obtiverem pontuação para figurar na lista de classificados na prova objetiva em ampla concorrência, dentro do número de vagas estabelecido no item 4 do edital, não resta dúvida de que, no resultado final do concurso e se aprovados em todas as fases, esses candidatos deverão figurar tão somente na relação dos candidatos aprovados na ampla concorrência, conforme preceitua o §1.º do art. 3.º da referida lei e o subitem 6.5 do edital de abertura. Destaca-se que o número de vagas de ampla concorrência não pode ser confundido com a posição definida como corte na classificação da prova objetiva para se prosseguir no certame mediante a correção da prova discursiva, cláusula de barreira acima demonstrada, isto é, 1.125 vagas de ampla concorrência é totalmente diferente de posição 4500ª. (...) Portanto, ausentes oselementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo ao MPF, deve ser indeferido o pedido de tutela de urgência formulado na inicial. Eis a manifestação do MPF, nos id´s 4058500.5008122 e 4058500.5018710 Analisadas as respostas prévias apresentadas pelos demandados (ID 4058500.4981749 e 4058500.4985760), inclusive o petitório de ID 4058500.4982656, passa-se, a seguir, tendo em conta o atual estágio processual da presente demanda (análise do requerimento de tutela de urgência), a apresentar breves considerações em complementação aos argumentos já exarados na petição inicial. Ora, nenhuma das hipóteses descritas são encontradas na inicial da presente Ação Civil Pública. Ademais, urge destacar que a petição inaugural está de acordo com as determinações dos artigos 319 e 320, do CPC, tanto assim que os demandados apresentaram manifestação nos autos rechaçando o pleito de tutela de urgência, de sorte que não merece acolhida a preliminar em causa. Em relação às demais alegações suscitadas pela UNIÃO (ausência dos requisitos para deferimento do pleito de tutela de urgência), o MPF, por questão de economia e celeridade processual (especialmente tendo em conta o atual estágio da demanda), faz remissão aos termos da inicial, especialmente no capítulo VII, a qual discorre sobre os requisitos para concessão da tutela de urgência de natureza antecipada, razão pela qual reitera, no ponto, os seus termos. O réu CEBRASPE pugna pelo indeferimento da petição inicial pela inobservância de litisconsórcio passivo necessário, eis que o eventual retificação do subitem 6.10 do edital de abertura "acarretará o retorno dos candidatos negros eliminados ao certame, que podem, no decorrer da seleção, vir a ocupar a vaga de candidatos regularmente aprovados nos termos exigidos no edital de abertura do concurso". Por fim, na linha do que restou descrito acima, em relação às demais matérias de mérito suscitadas pelo CEBRASPE, o MPF, por questão de economia e celeridade processual (especialmente tendo em conta o atual estágio da demanda), faz remissão aos termos da inicial, especialmente no capítulo VII, a qual discorre sobre os requisitos para concessão da tutela de urgência de natureza antecipada, razão pela qual reitera, no ponto, os seus termos. Por meio da manifestação protocolada em 16/07/2021 (ID 4058500.4982656), os postulantes ali qualificados pugnam para que sejam habilitados nos autos como terceiros interessados, "uma vez que autores de Ação Popular que discute a classificação de quantidade mínima de candidatos para a categoria de ampla concorrência". Citam, para amparar o seu pleito, a existência de ação popular por eles ajuizada perante a Seção Judiciária da Justiça Federal em Curitiba/PR, cuja matéria, no entender dos peticionantes, possuem em comum a interpretação da reserva de vagas estabelecida pela Lei nº 12.990/2014 (Lei de Cotas). Em resumo, pontuam que na referida ação popular os peticionantes suscitaram a tese de "que as provas objetivas e discursivas do Concurso para Provimento de Cargo de Policial Rodoviário Federal não representavam fases distintas, mas sim fases de uma mesma etapa, de modo que não caberia - ao menos naquele momento - a aplicação da Lei de Cotas". Destacam, ainda, que, após analisar o pleito, o Juízo Federal da 1ª Vara de Curitiba/PR (auto judicial nº 5040118-95.2021.4.04.7000, distribuído em 21/06/2021), remeteu os autos ao Juízo da Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de São Raimundo Nonato-PI por prevenção à ação popular 1001879- 41.2021.4.01.4004, uma vez que "ambas as ações populares, ainda que por pontos aparentemente antagônicos, têm como objeto a defesa da moralidade e do erário público no que toca o respeito ao procedimento correto na seleção pública". Requereu, assim, dada a existência de 03 (três) ações, incluída a presente ação civil pública, na qual se discute a aplicação da "Lei de Cotas", que "todos os feitos sejam reunidos para julgamento conjunto". Antes de adentrar no posicionamento a ser exarado pelo MPF sobre o pleito acima delimitado, necessário fazer breve digressão sobre a delimitação do conceito de parte e terceiro no processo civil brasileiro, bem como sobre as modalidades de inserção de terceiros em demandas (os quais passam, a partir de então, a figurar como partes no sentido processual ou amplo). A determinação dos casos em que o terceiro terá legitimidade para intervir (e em que modalidade) e dos casos em que não a terá parte da análise das seguintes situações de fato1: "a) há terceiros destinatários integrais dos efeitos diretos da sentença, mesmo sem haverem intervindo no processo, como os titulares de obrigações solidárias; b) há os que são legitimados a intervir pelos reflexos jurídicos da sentença em sua esfera de direitos, tais como o fiador, os co-titulares de direito etc; c) há os que, por não suportarem efeito algum ou suportarem meros reflexos econômicos ou de fato (não jurídicos), não teriam nenhuma legitimidade para intervir"2. Para participar do contraditório, a parte deve, portanto, demonstrar a razão da sua participação para a aferição da presença de interesse jurídico que justifique a intervenção no processo em curso. Assim, o Código de Processo Civil reúne todas essas modalidades de intervenção no processo de um sujeito estranho a ele sob o título de "intervenção de terceiros". Com seu ingresso, seja qual for a forma processual que o instrumentalize, tal sujeito passa a deter faculdades, https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5021433&idProcessoDoc=5008122#sdfootnote1sym https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5021433&idProcessoDoc=5008122#sdfootnote2sym deveres e ônus dentro da relação processual, ainda que limitadas - como no caso da assistência. Adquirem, assim, a condição de parte do processo5. Importante destacar, ainda, acerca dos efeitos que a participação no processo, através das modalidades de intervenção de terceiros, produzem no âmbito da coisa julgada: "Em todos os casos, as chamadas intervenções de terceiros ampliam os efeitos da sentença a ser proferida no processo, que atingirão também os sujeitos intervenientes. Seja alargando o objeto do processo (pedido, pretensão nele deduzida), seja deixando-o intacto, a intervenção tem o efeito de fazer com que as novas partes fiquem diretamente sujeitas aos resultados do processo e, mais que isso, vinculadas à autoridade da coisa julgada nele produzida. Afinal, é precisamente essa a utilidade das intervenções, quer coercitivas, quer voluntárias. Tendo o interveniente, na condição de parte, contribuído ativamente para a formação do provimento final, nenhuma razão constitucional há para negar-lhe a imposição da coisa julgada material"6. As intervenções de terceiros confirmam esse uso na medida em que servem exatamente para estender esses efeitos aos terceiros estranhos ao processo, depois de convertidos em partes processuais ou partes no sentido amplo, ao serem admitidos numa das modalidades de intervenção. Feita essa necessária digressão, não podemos deixar de observar que o pleito formulado no ID 4058500.4982656 não merece acolhida. Explica- se: Com efeito, trata-se de requerimento de intervenção no feito a título de "terceiro interessado" sem qualquer especificação sobre a que título se pretende o ingresso na demanda, dentre as diversas modalidades existentes no Direito Processual vigente. Ao mesmo tempo, formulam os requerentes pedido reunião dos autos judiciais acima listados no "Juízo Prevento para fins de julgamento único, evitando-se, com isso, as contradições nas decisões". O ingresso de um terceiro interessado, na qualidade de assistente simples, pressupõe a demonstração de efetivo interesse jurídico consubstanciadona possibilidade de que a esfera de seu direito seja atingida pela decisão judicial a ser proferida no processo. O mero interesse corporativo ou econômico, por exemplo, não autorizam o ingresso de terceiro na qualidade de assistente, haja vista a impossibilidade de vir a ser atingido por decisão judicial na relação da qual não faz parte. https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5021433&idProcessoDoc=5008122#sdfootnote5sym https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5021433&idProcessoDoc=5008122#sdfootnote6sym O Superior Tribunal de Justiça possui vasta jurisprudência sobre o tema, na qual assentou o entendimento de que, para o ingresso de terceiro nos autos, como assistente simples, é necessária a presença de interesse jurídico, ou seja, a demonstração da existência de relação jurídica integrada pelo assistente que será diretamente atingida pelo provimento jurisdicional, não bastando o mero interesse econômico, moral ou corporativo. Conforme pontuado pelos próprios peticionantes, que tais figuraram como parte autora de uma ação popular (5040118-95.2021.4.04.7000, distribuída ao Juízo Federal da 1ª VF de Curitiba) na qual discute e pode argumentar em profundidade perante aquele Juízo todos os fundamentos que entende subsidiar a tese ali sustentada. Ocorre que tal feito foi remetido ao Juízo diverso (Juízo da Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de São Raimundo Nonato-PI) por prevenção à ação popular 1001879-41.2021.4.01.4004, sendo este último, em seguida, extinto, sem julgamento do mérito (art. 485, VIII, do CPC), uma vez protocolado pedido de desistência pela parte autora, dela tomando ciência o MPF. Dessume-se, portanto, facilmente, que inexiste litispendência com as referidas ações populares (uma vez não verificada as hipóteses previstas no art. 337, §1º, do CPC) e tampouco conexão (art. 55, do CPC) dos citados feitos com esta ação civil pública, notadamente porque, da leitura da inicial desta ação civil pública, não é possível identificar qualquer semelhança entre a causa de pedir ou pedido em relação às ações sobreditas ações populares. Outro ponto importante é que diante da divergência, entre os objetos das ações, inexiste o risco de decisão conflitante ou contraditória, conforme prevê o art. 55, § 3º, do NCPC Sem embargo, o fato de integrar o polo ativo de ação popular, por si só, não lhe confere o direito de vir ingressar na presente lide, já que se trata de cidadão comum não legitimado em qualquer relação jurídica específica com a União que possa respaldar a caracterização de um interesse jurídico nesta lide. Excepcionalmente, o ordenamento jurídico permite que cidadãos comuns litiguem sobre interesses de caráter transindividual, através de ação popular, o que não pode ser extrapolado para o âmbito da Ação Civil Pública. Em razão do exposto, o MPF requer que seja indeferido o pedido de intervenção de terceiros formulado nos autos (ID 4058500.4982656), dando- se o posterior desentranhamento da aludida petição e documentos de IDs 4058500.4982614 a 4058500.4982633. Considerando que após pesquisa realizada no portal eletrônico https://www.cebraspe.org.br/concursos/prf_21, consta a publicação, em 21/07/2021, do Edital contendo os resultados finais no exame de aptidão física e avaliação psicológica e a convocação para a avaliação de saúde, para a avaliação de títulos, para a avaliação biopsicossocial e para o procedimento de heteroidentificação, o MPF reitera o pedido de apreciação dos requerimentos de tutela de urgência formulados na inicial, considerando a produção de danos atuais, progressivos e cumulativos, bem como que seja indeferido o pedido de intervenção de terceiros, conforme razões explicitadas no tópico anterior. (...) Verifica-se, especialmente da análise da manifestação apresentada pelo CEBRASPE (ID 4058500.4985759), que o réu deixa a clara a prática de conduta contrária ao entendimento do STF na ADC 41 (vinculante), no sentido de que a reserva de vagas para candidatos negros deve ser aplicada em todas as fases dos concursos públicos, uma vez que insiste na afirmação de o § 1.º do art. 3.º da Lei 12.990/2014 somente será implementado no momento do resultado final do concurso, pois segundo seu entendimento "tal regra refere-se a candidatos aprovados", após submissão a todas as etapas do certame. Observa-se da manifestação juntada pelo CEBRASPE, no item 4.3, que este afirma categoricamente que computa candidatos autodeclarados negros aprovados dentro da cláusula de barreira da ampla concorrência dentro das correções de provas discursivas dos candidatos cotistas (diminuindo, assim, necessariamente, a quantidade de provas corrigidas de candidatos autodeclarados negros). Vejamos: "Verificou-se que no concurso 183 candidatos negros se classificaram dentro do número de vagas oferecidas à ampla concorrência (1.125). Assim, foram corrigidas as provas dos candidatos negros em caráter complementar, na mesma quantidade de candidatos negros classificados dentro do número de vagas da ampla concorrência. Assim, deveriam ser corrigidas as provas discursivas dos candidatos classificados até a 1.200º posição. Ocorre que, considerando a necessidade de correção em caráter suplementar aos 183 candidatos que foram computados na ampla concorrência, foram corrigidas, no total, 1.407 provas discursivas de candidatos que concorrem às https://www.cebraspe.org.br/concursos/prf_21 vagas reservadas aos candidatos negros, sendo que 183 desses candidatos foram contabilizados na lista da ampla concorrência e 1224 candidatos, nas vagas reservadas aos candidatos negros, considerados os empates na última posição. () Desse modo, resta comprovado que, in casu, as regras editalícias foram devidamente observadas, em especial ao disposto no subitem 6.10 do edital, de modo que os candidatos negros classificados ou aprovados dentro do número de vagas oferecido a ampla concorrência, não foram computados, para efeito de preenchimento do percentual de vagas reservadas a candidatos negros (convocação de candidatos negros em caráter complementar em quantitativo equivalente aos candidatos negros aprovados e classificados dentro do número de vagas da ampla concorrência) para efeitos de correção das provas discursivas, e assim o será nas fases subsequentes do concurso." Observa-se que o CEBRASPE informa a esse Douto Juízo ter corrigido 1.407 provas discursivas de candidatos que concorrem às vagas reservadas aos candidatos negros, mas não tece maiores considerações para esclarecer a Vossa Excelência os números apresentados na tabela de fl. 23 de sua contestação, números esses que já havia apresentado ao MPF na fase extraprocessual, durante a tramitação do Inquérito Civil (anexado). Nota-se que em tal tabela o CEBRASPE discrimina, dentre outros dados, que: 558 candidatos foram aprovados na prova objetiva apenas nas vagas reservadas a candidatos negros 841 candidatos foram aprovados tanto na ampla concorrência quanto nas vagas reservadas a candidatos negros. 3 candidatos foram aprovados tanto nas vagas reservadas a PCD como nas vagas reservadas a candidatos negros. 3 candidatos foram aprovados tanto nas vagas reservadas à ampla concorrência, PCD e nas vagas reservadas a candidatos negros. O somatório de tais candidatos é de 1.406 única explicação possível para que a ré afirme ter corrigido 1.407 provas discursivas de candidatos que concorreram às vagas reservadas a candidatos negros. Excelência, observa-se de forma evidente nesses números que, em realidade, apenas 558 candidatos que tiveram suas provas discursivas corrigidas tinham logrado aprovação para essa fase apenas na condição de cotistas (vagas reservadas a candidatos negros). Os demais haviam sido aprovados também na ampla concorrência, de modo que nãopoderiam jamais ser computados, como foram, dentro do número de provas discursivas corrigidas dos candidatos negros, já que tinham nota suficiente para constar entre as 4.500 provas a serem corrigidas referentes às vagas da ampla concorrência. Com efeito, o subitem 10.6.1 do Edital do concurso fixou que, respeitados os empates na última colocação, seriam corrigidas as provas discursivas dos candidatos aprovados e classificados até as posições especificadas a seguir, de forma que o percentual de reserva de vagas pudesse ser garantido nas demais fases do certame: Ampla concorrência: até 4500ª colocação Candidatos que se autodeclararam negros: até a 1.200º colocação Candidatos que solicitaram concorrer às vagas reservadas a candidatos com deficiência: até a 300º colocação Total: 6000ª Verifica-se assim, que ao atuarem da forma como acima demonstrado, o CEBRASPE e a UNIÃO causam prejuízo real e efetivo à aplicação do sistema de cotas, pois reduzem deliberadamente a quantidade de provas discursivas de candidatos cotistas a serem corrigidas. Como restou evidenciado, ao computar como provas de candidatos cotistas aqueles que também foram aprovados para vagas da ampla concorrência, as rés não corrigiram efetivamente 1407 provas discursivas de cotistas e sim apenas 558, não atingindo sequer o número de correções fixadas no item 10.6.1 do edital, acima destacado (correção das provas discursivas dos candidatos autodeclarados negros aprovados e classificados até a 1200ª posição). Nota-se que apenas 558 candidatos autodeclarados negros e que não obtiveram nota para competir na ampla concorrência tiveram suas provas subjetivas corrigidas, portanto estão fazendo uso da reserva de vagas das cotas (as demais provas de candidatos negros corrigidas são daqueles que tiveram nota suficiente para serem corrigidas dentro da ampla concorrência, de modo que para alcançar o número de 1.200 provas de candidatos auto declarados negros a serem corrigidas faltam 642). Por fim, cumpre-nos mencionar que em concurso em andamento, realizado pela Secretaria de Estado da Administração do Estado de Sergipe (SEAD/SE), para o provimento de vagas nos cargos de Agente de Polícia Judiciária e de Escrivão de Polícia da Polícia Civil do Estado de Sergipe, organizado pelo CEBRASPE e regido pelo Edital nº 1 PCSE, de 1º de julho de 20211 (em anexo), foi adotada cláusula editalícia que estipula justamente o pleiteado nesta ação: 9.7 DOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA PROVA DISCURSIVA (...) 9.7.1.2 Não serão computados, para efeito de correção das provas discursivas dos candidatos com deficiência ou dos candidatos negros, os candidatos que se declararam com deficiência e os autodeclarados negros classificados ou aprovados dentro do número de correções previsto para a ampla concorrência, sendo que esses candidatos constarão tanto da lista dos candidatos que tiveram a prova discursiva corrigida da ampla concorrência como também da lista dos candidatos que tiveram a prova discursiva corrigida para as vagas reservadas aos candidatos que se declararam com deficiência ou aos candidatos negros2. É o relatório. Decido A) DA INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL Argui a União que, no presente caso, em relação à inicial, "da narração dos fatos não decorre logicamente a conclusão, de modo que a petição inicial não logrou definir, efetivamente, a causa de pedir e o pedido!" Considera a União que a exordial não está apta para provocar a jurisdição, nos termos do art. 330, §§ 1º e 2º, do Código de Processo Civil - CPC. Ao exame da exordial, não vislumbro os defeitos e imperfeições suscitadas pela ré, pois todos os requisitos legais foram cumpridos, inclusive constata-se que a peça pórtica atende as recomendações dos artigos 319 e 320 do CPC. Os fundamentos de fato, os fundamentos jurídicos e os pedidos estão claros, certos e determinados, o que é demonstrado quando os requeridos apresentam defesa preliminar e contestação rechaçando, os pedidos. Posto isso, rejeito a preliminar suscitada. https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5032043&idProcessoDoc=5018710#sdfootnote1sym https://pje.jfse.jus.br/pje/Painel/painel_usuario/documentoHTML.seam?idBin=5032043&idProcessoDoc=5018710#sdfootnote2sym B) LITISCONSÓRIO PASSIVO NECESSÁRIO. Salienta o O CEBRASPE que "é imprescindível a citação, na condição de litisconsortes passivos necessários, dos candidatos negros convocados para o exame de aptidão física, para que lhes seja dada a oportunidade de defesa de seus interesses, que serão, inequivocamente, afetados por eventual procedência do pedido dos Autores." A esse propósito e de acordo com a jurisprudência pátria, é dispensável a citação dos aludidos concursandos, como litisconsortes passivos necessários, porquanto os candidatos, mesmo aprovados, não titularizariam direito líquido e certo à nomeação, mas tão somente expectativa de direito, não se aplicando o artigo 114, do CPC atual. Além do mais, não formulou o MPF qualquer pedido em relação a esse candidatos, vez que ataca condutas praticadas pelos réus, que considera ilegais e, caso procedentes as postulações ministeriais, não terão esses atos eficácia alguma, sendo dispensável a citação desses pretensos litisconsortes. Nesse sentido, veja-se: PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. CONCURSO PÚBLICO. PRETERIÇÃO. FORMAÇÃO DE LITISCONSORTE PASSIVO. DESNECESSIDADE. PARECER DO MPF PELO DESPROVIMENTO DO RECURSO. AGRAVO INTERNO DO ESTADO DO PIAUÍ A QUE SE NEGA PROVIMENTO. 1. O acórdão combatido revela que o entendimento adotado pelo Tribunal de origem se alinha à diretriz desta Corte Superior de que é dispensável a citação dos demais concursados como litisconsortes necessários, porquanto os candidatos, mesmo aprovados, não titularizariam direito líquido e certo à nomeação, mas tão somente expectativa de direito, não se aplicando o disposto no artigo 47 do CPC/1973, atual 114 do Código Fux. Precedentes: AgInt no REsp.1.747.897/PI, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN, DJe 11.3.2019; AgInt na PET no RMS 45.477/AP, Rel. Min. GURGEL DE FARIA, DJe 8.8.2018. 2. Por fim, não merece acolhimento a alegação de que os Servidores temporários cujas contratações foram apontadas como ilegais deveriam ter sido citados para compor a lide como litisconsortes necessários, uma vez que a vaga a ser preenchida em decorrência de aprovação em concurso público não se confunde com aquela decorrente da contratação temporária, revelando-se dispensável a citação destes para comporem a lide. 3. Agravo Interno do ESTADO DO PIAUÍ a que se nega provimento.(AgInt no AREsp 1352369/PI, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, PRIMEIRA TURMA, julgado em 14/10/2019, DJe 21/10/2019) Posto isso, indefiro o litisconsórcio passivo necessário requerido. C) DO REQUERIMENTO DE INTERVENÇÃO COMO TERCEIROS INTERESSADOS. ANTONIO CLAUDIO KOZIKOSKI JUNIOR, RENAN PEREIRA FREITAS CAMILA POLVERO E GUILHERME JACINTO LOPES no id 4058500.4982612, requerem a admissão no feito como terceiros interessados, ao que se opõe o MPF: "Por meio da manifestação protocolada em 16/07/2021 (ID 4058500.4982656), os postulantes ali qualificados pugnam para que sejam habilitados nos autos como terceiros interessados, "uma vez que autores de Ação Popular que discute a classificação de quantidade mínima de candidatos para a categoria de ampla concorrência"." Citam, para amparar o seu pleito, a existência de ação popular por eles ajuizada perante a Seção Judiciária da Justiça Federal em Curitiba/PR, cuja matéria, no entender dos peticionantes, possuem em comum a interpretação da reserva de vagas estabelecida pela Lei nº 12.990/2014 (Lei de Cotas). Em resumo, pontuam que na referida ação popular os peticionantes suscitaram a tese de "que as provas objetivase discursivas do Concurso para Provimento de Cargo de Policial Rodoviário Federal não representavam fases distintas, mas sim fases de uma mesma etapa, de modo que não caberia - ao menos naquele momento - a aplicação da Lei de Cotas". Destacam, ainda, que, após analisar o pleito, o Juízo Federal da 1ª Vara de Curitiba/PR (auto judicial nº 5040118-95.2021.4.04.7000, distribuído em 21/06/2021), remeteu os autos ao Juízo da Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de São Raimundo Nonato-PI por prevenção à ação popular 1001879- 41.2021.4.01.4004, uma vez que "ambas as ações populares, ainda que por pontos aparentemente antagônicos, têm como objeto a defesa da moralidade e do erário público no que toca o respeito ao procedimento correto na seleção pública". Requereu, assim, dada a existência de 03 (três) ações, incluída a presente ação civil pública, na qual se discute a aplicação da "Lei de Cotas", que "todos os feitos sejam reunidos para julgamento conjunto"." Acrescenta o MPF que: "Sem embargo, o fato de integrar o polo ativo de ação popular, por si só, não lhe confere o direito de vir ingressar na presente lide, já que se trata de cidadão comum não legitimado em qualquer relação jurídica específica com a União que possa respaldar a caracterização de um interesse jurídico nesta lide. Excepcionalmente, o ordenamento jurídico permite que cidadãos comuns litiguem sobre interesses de caráter transindividual, através de ação popular, o que não pode ser extrapolado para o âmbito da Ação Civil Pública." Em razão do exposto, o MPF requer que seja indeferido o pedido de intervenção de terceiros formulado nos autos (ID 4058500.4982656), dando- se o posterior desentranhamento da aludida petição e documentos de IDs 4058500.4982614 a 4058500.4982633. Com razão o MPF, pois o fato de serem autores numa ação popular cujos pedidos são diversos dos contidos na ACP em tela, não autoriza o ingresso neste feito com terceiros interessados, pois sequer indicaram em que qualidade pretendem litigar, como terceiros. Além do mais, trata-se de uma ação civil pública, processo em que não pode figurar como parte o cidadão legitimado apenas para a ação popular. Posto isso, acolho as razões externadas pelo MPF, indeferindo o pedido de intervenção de terceiros em análise. D) DA CONEXÃO Argumenta o MPF: "Conforme pontuado pelos próprios peticionantes, que tais figuraram como parte autora de uma ação popular (5040118-95.2021.4.04.7000, distribuída ao Juízo Federal da 1ª VF de Curitiba) na qual discute e pode argumentar em profundidade perante aquele Juízo todos os fundamentos que entende subsidiar a tese ali sustentada. Ocorre que tal feito foi remetido ao Juízo diverso (Juízo da Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de São Raimundo Nonato-PI) por prevenção à ação popular 1001879-41.2021.4.01.4004, sendo este último, em seguida, extinto, sem julgamento do mérito (art. 485, VIII, do CPC), uma vez protocolado pedido de desistência pela parte autora, dela tomando ciência o MPF. Dessume-se, portanto, facilmente, que inexiste litispendência com as referidas ações populares (uma vez não verificada as hipóteses previstas no art. 337, §1º, do CPC) e tampouco conexão (art. 55, do CPC) dos citados feitos com esta ação civil pública, notadamente porque, da leitura da inicial desta ação civil pública, não é possível identificar qualquer semelhança entre a causa de pedir ou pedido em relação às ações sobreditas ações populares. Outro ponto importante é que diante da divergência, entre os objetos das ações, inexiste o risco de decisão conflitante ou contraditória, conforme prevê o art. 55, § 3º, do NCPC" Assim, cumpre observar que os requerentes figuraram como parte autora, de uma ação popular - Proc. 5040118-95.2021.4.04.7000, distribuída ao Juízo Federal da 1ª VF de Curitiba, e remetida, posteriormente, ao Juízo da Vara Federal Cível e Criminal da SSJ de São Raimundo Nonato-PI) por prevenção à ação popular 1001879-41.2021.4.01.4004, posteriormente extinta. Como bem demonstrou o MPF, "inexiste litispendência com as referidas ações populares (uma vez não verificada as hipóteses previstas no art. 337, §1º, do CPC) e tampouco conexão (art. 55, do CPC) dos citados feitos com esta ação civil pública, notadamente porque, da leitura da inicial desta ação civil pública, não é possível identificar qualquer semelhança entre a causa de pedir ou pedido em relação às ações sobreditas ações populares. Outro ponto importante é que diante da divergência, entre os objetos das ações, inexiste o risco de decisão conflitante ou contraditória, conforme prevê o art. 55, § 3º, do NCPC" Entendo, assim, que inexiste conexão entre as referidas ações, não havendo fundamento para a pretendida reunião dos processos em tela. E) DA ANTECIPAÇÃO DE TUTELA A antecipação dos efeitos da tutela pode ser concedida no bojo do processo de conhecimento ou de execução, quando se encontram presentes a probabilidade da existência do direito alegado - ou, em outros termos, a verossimilhança da alegação - e o perigo de morosidade para o direito substancial ou o manifesto intuito protelatório do requerido (CPC, art. 300). Trata-se de verdadeira antecipação, total ou parcial, do próprio direito material, desde que presentes os requisitos exigidos por lei: Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo. (...) § 3o A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão. Em um primeiro momento, cumpre-me analisar se o ordenamento jurídico pátrio vem agasalhar o direito invocado pela parte autora, para o fim de se aferir, em consonância com os elementos probatórios já acostados aos autos, a existência dos requisitos autorizadores da concessão da tutela ora requerida A presente ACP tem por objetivo determinar que a UNIÃO FEDERAL e o CEBRASPE, no concurso público para provimento de vagas no cargo de Policial Rodoviário Federal - PRF, regido pelo Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, observem o disposto no artigo 3º, §1º, da Lei nº 12.990/2014 em cada uma das fases e etapas do referido concurso. Pretende o MPF que seja editado provimento jurisdicional que imponha obrigação de fazer, à UNIÃO FEDERAL e ao CEBRASPE, no sentido de que retififiquem o Edital Concurso PRF nº 1, de 18 de janeiro de 2021, para que os candidatos autodeclarados negros aprovados nas provas objetivas que tiverem direito à correção de suas provas discursivas, com base nas suas classificações na ampla concorrência, não sejam contabilizados no quantitativo de correções das provas discursivas de candidatos autodeclarados negros, constando tanto da listagem de candidatos da ampla concorrência quanto da listagem dos candidatos autodeclarados negros que tem direito à correção de suas provas discursivas. Cabe destacar, de logo, que a ampla concorrência compreende as vagas destinadas aos candidatos que não se encaixam nas regras de cotas ou não precisam das ações afirmativas. Em geral, as vagas nos concursos públicos são: Ampla concorrência (AC) Pessoa preta ou parda (PPP) Pessoa com deficiência (PCD) Neste diapasão, cabe salientar que a Lei 12.990/2014 dispõe sobre a reserva de 20% das vagas, em concursos públicos, para os cotistas negros, considerando o provimento de cargos efetivos e empregos públicos, no âmbito da administração pública federal, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista controlada pela União. Cabe frisar que o STF, em sede de Ação Declaratória de Constitucionalidade nº 41, de relatoria do Ministro Luís Roberto Barroso, em julgamento realizado em 08/06/2017, afirmou a sua constitucionalidade: