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Medicina PUCPR ANA LETICIA CECY SPONHOLZ, T16 PROMOÇÃO DE SAÚDE, PREVENÇÃO DE DOENÇA E RASTREAMENTO PROMOÇÃO DE SAÚDE Henry Sigerist – 4 funções da medicina: promoção de saúde, prevenção das doenças, tratamento e reabilitação. Promoção de saúde – são medidas que não se dirigem a uma determinada doença ou desordem, mas servem para aumentar a saúde e o bem-estar geral. Então, o cuidado é multidirecional, participativo, não apenas envolvendo profissionais da saúde, e possui como alvo a população e o ambiente. Prevenção em saúde – exige ação antecipada, baseada no conhecimento da história natural da doença, a fim de tornar improvável o progresso posterior da doença. Ocorre ausência de doença, é feita apenas por profissionais de saúde para grupos de alto risco. MARCOS HISTÓRICOS PARA A PROMOÇÃO DE SAÚDE ** 1978 – I conferência internacional sobre cuidados primários de saúde, cuja meta era promover saúde para todos até o ano de 2000. 1986 – I conferência internacional sobre promoção de saúde – Ottawa. Na carta de Ottawa, é enfatizado que a saúde deve ser vista como recurso para a vida, e não como um objetivo de viver, sendo assim, vai em direção a um bem estar global. Carta de Ottawa: “a Promoção da Saúde é o nome dado ao processo de capacitação da comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, incluindo uma maior participação no controle deste processo”. “A saúde deve ser vista como um recurso para a vida e não como o objetivo de viver. Nesse sentido, a saúde é um conceito positivo, que enfatiza os recursos sociais e pessoais, bem como as capacidades físicas. Assim, a promoção da saúde não é responsabilidade exclusiva do setor saúde, e vai para além de um estilo de vida saudável, na direção de um bem-estar global”. Política Nacional de Promoção da Saúde: 2006 – objetivo de promoção da qualidade de vida e redução da vulnerabilidade e dos riscos à saúde relacionados aos seus determinantes e condicionantes (como o modo de viver, condição de trabalho, habitação, ambiente, educação, lazer, cultura, acesso a bens e serviços essenciais.) Ações propostas: • Divulgação e implementação da política nacional de promoção da saúde; • Alimentação saudável; • Prática corporal/atividade física; • Prevenção e controle do tabagismo; • Redução da morbi-mortalidade em decorrência do uso abusivo de álcool e outras drogas; • Redução da morbi-mortalidade por acidentes de trânsito; • Prevenção da violência e estímulo à cultura de paz; • Promoção do desenvolvimento sustentável Uma cidade saudável, segundo a OMS, deve ter: • Meio físico limpo e seguro • Necessidades básicas asseguradas para todos • Comunidade forte, integra, sem exploração e com apoio mútuo • Alto grau de participação pública, na administração local • Acesso a diferentes experiências, à interação e à comunicação • Promoção e celebração das tradições históricas e culturais PREVENÇÃO DE DOENÇAS Doenças crônicas não transmissíveis: Início gradual, de prognostico usualmente incerto, com longa ou indefinida duração. Apresentam curso clínico que muda ao longo do tempo, com possíveis períodos de agudização, podendo gerar incapacidades. Constituem problema de saúde de grande magnitude, correspondendo a 72% das causas de mortes. OMS: em 2003 e 2020 – doenças crônicas não transmissíveis foram as principais causas de morte (80%) em países em desenvolvimento, como DVC, HS, DM, asma, canceres e dislipidemia. História natural da doença – progressão da doença em um indivíduo ao longo do tempo. Período pré patogênico – representa as relações suscetível-ambiente, onde ocorrem pré-condições. Ocorrem fatores sociais, ambientais e próprios do susceptível. o Sociais: fatores econômicos, políticos, culturais, psicossociais o Ambientais: vetores, poluentes, estrutura sanitária, ocupação desordenada de ambientes naturais (clima, geografia, hidrografia, desastres naturais, etc) o Próprios do suscetível: biológicos. Genéticos. Imunológicos Período patogênico – modificações que se passam no organismo vivo, onde se processaria, de forma progressiva, uma série de modificações bioquímicas, fisiológicas e histológicas, próprias de uma determinada enfermidade. Existem 4 estágios comuns: estágio de suscetibilidade; doença subclínica/ fase pré- clínica; doença clínica; recuperação/incapacidade ou morte. NÍVEIS DE PREVENÇÃO 1967 – Clark D.W. – prevenção em um senso estrito significa evitar o desenvolvimento de um estado patológico e em um senso amplo, inclui todas as medidas que limitam a progressão da doença em qualquer um dos estágios. Pode ter: Enfoque individual – pouco impacto na saúde pública, sendo mais direcionada, principalmente para indivíduos com alto risco de adoecer. Enfoque populacional – o foco é a população, devendo ser o mínimo invasivo, de baixo custo, evitar desconforto, dor e ser socialmente aceita (exemplo uso de cinto de segurança, orientação para mudanças nos vários estilos de vida) Essa tabela representa que, embora mulheres acima de 45 anos possuem alto risco de ter crianças com síndrome de Down, elas possuem bem menos filhos do que mulheres mais jovens, por isso, crianças com Down nascem mais de mulheres mais jovens. Há 4 níveis de prevenção: Prevenção primária: promoção de saúde e proteção específica. Promoção de saúde: refere-se a ações que incidem sobre melhorias gerais nas condições de vida de indivíduos, famílias e comunidades, beneficiando a saúde e a qualidade de vida de modo geral Exemplo de promoção de saúde pode-se citar saneamento básico, água potável, coleta de lixo, boas condições de moradia, nutrição, trabalho e transporte, acesso a lazer, cultura, educação, informação, entre outras coisas. A proteção específica se refere às ações que incidem sobre o período pré-patogênico, significando o conjunto de ações que visam evitar a doença na população. É dirigida a grupos específicos de processos saúde-doença, com enfoque, por exemplo, no hospedeiro da doença, no meio, ou ao agente transmissor. Exemplos clássicos são a vacinação, combate de criadores de mosquito Aedes, entre outras coisas. Prevenção secundária: o objetivo principal é reduzir o agravo da doença, tentando realizar o diagnóstico precoce e o tratamento. Sendo assim, o exame de Papanicolau, mamografia em mulheres acima de 50 anos, para rastrear possíveis casos novos. Este nível de prevenção é extremamente importante para a saúde pública. Limitar a incapacidade: ações com indivíduos doentes ou acidentados com diagnostico confirmado, para que se curem ou mantenham-se funcionalmente sadios, evitando complicações e mortes prematuras. Rastreamentos: dosagem da glicemia e do colesterol em indivíduos obesos ou com histórico de risco aumentado para doenças cardiovasculares e DM tipo 2, aferição da pressão arterial em adultos, etc. Este nível de prevenção é extremamente importante para a saúde publica. Prevenção terciária: esse nível contempla a terapêutica e reabilitação, para integrar novamente o indivíduo na sociedade. Dessa forma, visa aplicar medidas orientadas e reduzir sequelas e deficiências, minimizar sofrimento e facilitar a adaptação dos pacientes a seu ambiente. Exemplo é reabilitar pacientes pós infarto e pós AVC, pós fratura de quadril, retardar complicações clínicas de doenças crônicas. Prevenção quaternária: esse tipo de intervenção surgiu para tentar evitar o excesso de intervenções médicas que pode causar mais risco ao paciente (os prejuízos maiores que os benefícios), pois algumas vezes o médico pode trazer malefícios ao tentar intervir no curso de determinada doença. Exemplo é a solicitação de muitos exames complementares, de medicação. • Marc Jamoulle e Michael Roland: “Iniciativa para identificar pacientes em risco de sobremedicalização, para os proteger de novas invasões médicas e para lhes sugerir intervenções eticamente aceitáveis”.• Destaca-se então o cuidado paliativo RASTREAMENTO Para que uma doença tenha um programa de rastreamento, ela deve ser um importante problema de saúde pública, relevante para a população. Deve ter um estágio pré-clínico (assintomático) bem definido, para que a doença seja diagnosticada, e o benefício da detecção e tratamento precoce deve ser maior do que o benefício quando é diagnosticada mais tardiamente. Então, o rastreamento é a realização de testes/exames diagnósticos em pessoas assintomática para realizar o diagnostico precoce (prevenção secundária)ou de identificação e controle de riscos, com o objetivo de reduzir a morbidade, mortalidade, agravo ou risco. Permite a identificação de indivíduos que tem a doença, mas que ainda não apresentam sintomas. Um exame positivo não implica fechar o diagnostico, por geralmente são exames que selecionam as pessoas com maior probabilidade de apresentar uma doença em questão. Outro teste confirmatório (com maior especificidade para a doença em questão) é necessário depois de um rastreamento positivo, para que se possa estabelecer um diagnostico definitivo. O exame de rastreamento deve ter ótima sensibilidade e especificidade, para que resulte em pequenas taxas de falso-positivo e segurança de que o negativo realmente é negativo. Sensibilidade: é a capacidade de um teste positivar entre os que estão realmente doentes. -> discriminar entre os suspeitos aqueles que apresentam a doença. / POSITIVIDADE NA DOENÇA Especificidade: é a capacidade de um teste ser negativo, em pessoas que realmente não tem a doença. / NEGATIVIDADE NA SAÚDE Para o rastreamento, o melhor a se analisar é a sensibilidade (devendo ser muito alta, a fim de termos uma baixa taxa de falsos-negativos) Teste de triagem neonatal – teste do pezinho, que possui grau de recomendação A, servindo para detectar fenilcetonúria, deficiência de bitinidade, hipotiroidismo congênito, fibrose cística, anemia falciforme e outras hemoglobinopatias. Teste do olhinho: grau de recomendação B Teste da orelhinha: grau de recomendação B AULA 2 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA TRASIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA E TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA – corresponde às mudanças ocorridas no tempo, nos padrões de morte, na morbidade e na invalidez que caracterizam uma população específica e que, em geral, ocorrem em conjunto com outras transformações demográficas, sociais e econômicas. Pode ser dividida em 4 estágios: 1. Primeiro estágio: período de praga, fome, doenças infecciosas, parasitárias, desnutrição, alta mortalidade e natalidade. Nesse período ocorre crescimento populacional lento, demarcado pela esperança de vida oscilando entre 20 e 40 anos e por taxas de natalidade e mortalidade elevadas. 2. Segundo estágio: desaparecimento das pandemias de doenças infectocontagiosas, com mortalidade em declínio, acompanhada por queda de fecundidade. 3. Terceiro estágio: período das doenças crônico-degenerativas e causas externas provocadas pelo homem, com mortalidade e fecundidade baixa. 4. Quarto estágio: período de declínio da mortalidade por doenças cardiovasculares, envelhecimento da população, modificação no estilo de vida, ocorrência de doenças emergentes e ressurgimento de doenças. Na primeira metade do século 20 as doenças infecciosas transmissíveis eram as causas mais frequentes de morte. A partir de 1960, as Doenças e Agravos Não Transmissiveis (DANTs), como as doenças como cardiovasculares, neoplasias, diabetes tipo 2 se tornaram a maior causa de morte e gastos com a saúde no Brasil. No Brasil, a transição epidemiológica não tem ocorrido de acordo com modelo experimentado pela maioria dos países industrializados. O Brasil não possui caráter unidirecional de transição epidemiológica, devido a reintrodução de doenças como cólera, dengue, entre outas. (embora haja o predomínio das doenças transmissíveis e crônico-degenerativas, a reintrodução de doenças como dengue e cólera ou o recrudescimento de outras como a malária, a hanseníase e a leishmaniose, indicam uma natureza não unidirecional denominada contratransição) TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA: A revolução industrial e o desenvolvimento educacional, científico e tecnológico produziram o efeito de redução das taxas de mortalidade, com o aumento da expectativa de vida, as taxas de fecundidade caíram também, diminuindo o tamanho das famílias. A) Pirâmide populacional em 1980: B) pirâmide populacional em 2015: C) Pirâmide populacional em 2050: Processo saúde-doença representa o conjunto de relações e variáveis que produzem e condicionam o estado de saúde e doença de uma população, que variam em diversos momentos históricos e do desenvolvimento científico da humanidade. HISTÓRICO DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA Saúde – de acordo com a OMS, saúde é o estado de completo bem-estar físico, menta e social, e não simplesmente a ausência de doença ou enfermidade. – é um direito fundamental, e que a consecução do mais alto nível de saúde é a mais importante meta social mundial, cuja realização requer a ação de muitos outros setores sociais e econômicos, além do setor da saúde Constituição federal de 1988, pelo art. 196: diz que a saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças e outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação. VIII Conferência Nacional de Saúde: “... em seu sentido mais abrangente, a saúde é resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso a serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida.” A desigualdade nas condições sociais, de trabalho, acesso a educação entre outras coisas influenciam na manifestação de doenças. Determinantes sociais – modelo de Dahlgren e Whitehead: Se o país como um todo melhorar as condições de vida da população, a distribuição de renda, a politica ambiental, a educação, etc., a saúde de todos melhoraria concomitantemente. Alguns grupos da população são mais saudáveis que outros, e as desigualdades decorrentes das condições sociais em que as pessoas vivem e trabalham (iniquidades), vão influenciar na manifestação ou não de doenças. ex.: o A probabilidade 5 x maior de uma criança morrer antes de alcançar o primeiro ano de vida pelo fato de ter nascido no Nordeste e não no Sudeste. o A desintegração social e frustração econômica nos territórios pós-soviéticos parecem ter produzido um grande aumento no consumo de álcool gerando um aumento da mortalidade prematura masculina e, com isso, uma acentuada diminuição da esperança de vida. O exame dessas tendências históricas na doença destaca a importância dos macro- determinantes da saúde e dos riscos de adoecer nas populações, bem como a necessidade de levá-los em conta ao planejar intervenções de controle e prevenção em saúde pública. O que é doença? Historicamente, a ideia de doença é muito anterior à concepção de saúde, estando presente em todas as organizações sociais conhecidas. è Conceito médico-clínico: a doença é vista como um processo biológico do individuo è Ecologicamente: a doença é vista como um desequilíbrio na interação entre homem e o ambiente. Já do ponto de vista médico-clínico, é um processo biológico do indivíduo. è Doença é a interrupção, parada ou desordem das funções corporais ou de um órgão è Fatores que podem estar associados ao desenvolvimento de doenças: agentes infecciosos, suscetibilidade genética, estilo de vida, fatores ambientais, ... HISTÓRICO DAS DOENÇAS – mais antigoe preocupante do que estar saudável Doenças já existiam. Antiguidade: Uma parte da antiguidade, como a Grécia: A doença era algo que entrava no corpo por conta de magia. Assim, nesse período, quem ficava doente estava sendo punido. A doença era um castigo, pois o homem não abraçou o que a igreja falava, deuses e almas de antepassados Os gregos acreditavam que Apolo mandava as doenças, tendo apenas ele, o poder de cura. Esculápio ou Asclépio – filho de Apolo com Corônios (mortal) – esposa manda matar Coronis, mas Apolo tira do seu ventre o filho, dando-o ao Centauro Quiron, que educou o menino para a medicina, curando pessoas que já morreram. Uma parte da medicina tentou explicar a doença e a saúde de outra forma – tentando entender uma forma natural e não sobrenatural, usando plantas medicinais. Corresponde ao período de Hipócrates, apresentando um conceito mais científico. As doenças estavam relacionadas aos determinantes e condicionantes da época. As pessoas não conheciam a epilepsia, ficando assustadas pela ‘’doença divina’’, determinando que esta é uma doença verdadeira e não sobrenatural Hipócrates determinou 4 fluidos no corpo – quando os humores estavam em equilíbrio, as pessoas tinham saúde; mas quando uma sobressaia, as pessoas adoeciam Doenças endêmicas à ocorriam em número regular e contínuo de casos estando sempre presentes Epidemias à aparição de muitos casos na população espontaneamente As doenças ocorriam em uma população dependendo do clima, do solo, da água e dos comportamentos de vida. Tinha-se uma semelhança, na medicina Grega, com a semiologia à ausculta e exploração do corpo. Assim, a base da semiologia é a Grécia Antiga Galeno – na idade média, todos os seus conhecimentos foram passados aos médicos ao longo dos séculos Seria importante saber o estado sadio do paciente antes do adoecimento, para determinar as mudanças que ocorreria caso doenças acometessem ao paciente. Roma – implementaram a engenharia sanitária, construindo aquedutos com água. Assim, havia maior facilidade para higiene corporal e banho Idade média: Na idade média, com regime feudal, houve decadência com relação à saúde publica. As instalações sanitárias dos romanos formam destruídas, sem manutenção ou reparo Houve muito sofrimento, com doenças e pragas. A cura estava relacionada à fé. Havia uma relação entre doença e castigo, novamente A idade média seria o período dos primeiros hospitais. Porém o conceito de hospitais era diferente – era um local de assistência aos pobres. Se o pobre tem doenças, este precisa ser colocado em um hospital, com o objetivo de proteger as demais pessoas. Assim, o hospital era um isolamento para que o doente não transmitisse para as demais pessoas. Suiço Paracelsus – falava em uma transição de Galeno com o modelo biológico, dizendo que as doenças eram causadas por um agente externo ao organismo. Nessa época ocorria o desenvolvimento da química, com influência significativa na medicina – os medicamentos, assim, seriam melhores caso fossem quimicamente complexos (como o mercúrio para o tratamento de sífilis). Havia epidemias e sífilis. Idade moderna – sec. XV a XVIII: Na idade moderna as pessoas não tomavam banho pois seria perigoso à saúde. Em contrapartida, eram usados fortes perfumes para afastar os odores e mal cheiros. Renascimento: Teoria da miastenia – séc. XVIII e início do século XIX: Muitos operários sem condições de habitação boa, com muitas pessoas vivendo juntas à houve o surgimento de muitas doenças infecciosas. Nesse período houve a teoria miasmática. As epidemias seriam por conta de impurezas / miasmas no ar (seriam compostos gerados por conta de organismos em putrefação) Bastava limpar tudo, podre e insalubre, que as pessoas não ficariam doentes. A prevenção dos maus odores estaria relacionados à prevenção de epidemias Os miasmas não eram os causadores das doenças, mas a melhora do saneamento básico por conta dessa tese determinou melhoras na saúde (embora fosse uma teoria errada). Idade moderna (séc. XV e XVIII) Os antissépticos à acabava com o miasma e purificava os ambientes Século XIX: Havia agentes responsáveis por causar doenças; não estando relacionado a teoria miasmática. Houve então a possibilidade da criação de soros e vacinas. A doença então poderia ser prevenida e curada Com a descoberta dos microrganismos, as doenças infectocontagiosas estavam sendo solucionadas. Porém as doenças que surgiam sem que houvesse contato com um adoecido gerou dúvida. Assim, as doenças não são apenas adquiridas pela transmissão pessoa-pessoa. Há doenças com vetor ou hospedeiro intermediário que transmite as doenças (como a dengue – que é adquirida pela picada do Aedes). Século XX: Doenças são multicausais – vários fatores influenciam o agente / o hospedeiro / e o meio ambiente. Os fatores psíquicos também impulsionam o desenvolvimento de doenças. Resumindo: è Antiguidade – medicina mágico-religiosa, sendo a doença uma coisa misteriosa, uma punição, um feitiço. è Hipócrates – medicina científica, doenças eram devido a fatores climáticos, alimentares e hábitos de vida. è Galeno (idade média) – doença causada por fatores internos, externos ou conjuntos. è Império romano – saúde pública, devido aos banhos (aquedutos) è Teoria miasmática (idade moderna) – associava epidemias a impurezas existentes no ar. Origina movimento higienista è Louis Pasteur (século XIX) – descoberta de microrganismos, esclareceu muita coisa no processo de doença è Século XX – homem começa a ser visto como ser bio-psico-social. AULA 3 EPIDEMIOLOGIA É o estudo do que ocorre em uma população. A epidemiologia se preocupa em como ocorre o processo da doença, morte, agravos, situações de risco à saúde na comunidade, com o objetivo de propor estratégias que melhorem o nível de saúde das pessoas que compõem essa comunidade. Conceito: epidemiologia é a ciência que estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, analisando a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou erradicação de doenças, e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planejamento, administração e avaliação das ações de saúde. Objetivos da epidemiologia: è Epidemiologia à ferramenta para melhorar a saúde • Identificar o agente causal ou fatores relacionados a doenças • Definir modo de transmissão • Definir e determinar os fatores contribuintes aos agravos à saúde • Identificar e explicar os padrões de distribuição geográfica das doenças • Estabelecer os métodos e estratégias de controle dos agravos • Estabelecer medidas preventivas • Auxiliar o planejamento e desenvolvimento de serviços de saúde • Prover dados para administração e avaliação de serviços de saúde. HISTORICO: o Hipócrates: há mais de 2000 anos: fatores ambientais influenciam a ocorrência de doenças o 1839: William Farr – pai da estatística vital e da vigilância. Lei de Farr – descreve as leis das epidemias -> ascensão rápida de início, elevação lenta até o ápice e queda mais rápida. o 1854 – John Snow – pai da epidemiologia: maneira de transmissão da cólera – verificou que a mortalidade por essa doença era diferente nos diversos pontos da cidade o Pasteur – pai da bacteriologia – influenciou a história da epidemiologia pois introduziu as bases biológicas para o estudo das doenças infecciosas, determinando o agente etiológico das doenças e possibilitando o estabelecimento futuro de medidas de prevenção e tratamento o 1796: Edward Jenner: pai da imunologia – primeiro a utilizar, cientificamente, uma vacina contra a varíola. 1.915: Goldberg: “Estudos sobre a Pelagra” (raciocínio epidemiológico). • Criançasde dois orfanatos no Mississipi e presos na Georgia. • Voluntários que comeram a dieta a base de milho – 6/7 tiveram pelagra dentro de 5 meses. • Portanto, pelagra é desordem dietética e não infecciosa. • Aqueles que se alimentaram de carne fresca, leite e vegetais ao invés de dieta baseada em milho se recuperaram da pelagra, e não contraíram pelagra. • Doença por falta de niacina (vitaminaD3) = Dermatite, demência e diarréia. o 1990 – Panorama Nacional – em nível federal, a FUNASA era responsável por saneamento, rede de esgoto, malária, Chagas e saúde indígena. Em nível estadual, ocorria vigilância epidemiológica e programas de imunização e controle de doenças. Em nível municipal, a epidemiologia tendia a ser residual, graças à própria insignificância que a lei 6.259/75 reservava para o município no então Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica (fragilidade institucional das secretarias municipais de saúde) 1998 – Criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) – falsificação de medicamentos envolvendo epresas farmacêuticas multinacionais 1999 – Criação da Agência Nacional de Saúde Suplementar – depois de um conjunto de denuncias sobre os chamados ‘’planos de saúde’’, vinculados ao sistema de assistência médica suplementar (SAMS). o Século XXI: inicia a era da ECO-EPIDEMIOLOGIA o Objetivos de estudo: doenças infecciosas / doenças crônico-degenerativas / doenças por carências nutricionais / acidentes / uso de drogas / outros agravos à saúde o Conceito moderno de saúde à perfeita e continua adaptação do organismo ao seu meio ambiente CONCEITO EM EPIDEMIOLOGIA ENDEMIA – presença habitual de uma doença, dentro dos limites esperados, em uma determinada área geográfica, por um período ilimitado (como malária / febre amarela / dengue). Se ocorrer mudanças nas condições do hospedeiro, do agente ou ambiente, uma doença endêmica pode virar epidêmica. Exemplo de doenças endêmicas: malária, febre amarela, dengue. EPIDEMIA – é a ocorrência de casos de doenças ou outros eventos de saúde com uma incidência maior que a esperada para uma área geográfica e período determinado. O número de casos de uma epidemia varia com o agente, tipo e tamanho da população, período e local de ocorrência. Þ A ocorrência de um único caso autóctone em uma região onde nunca tenha ocorrido ou que esteja há muitos anos livre de uma determinada doença, representa uma epidemia, pois demonstra uma alteração substantiva na estrutura epidemiológica relacionada à doença. Þ CASO ÍNDICE: Þ SURTO – tipo de EPIDEMIA em que os casos se restringem a uma área geográfica pequena e bem delimitada ou a uma população institucionalizada (creche, asilo, escola). Ex.: ocorrência de inúmeros casos de intoxicação alimentar em asilos, após ingestão de alimentos contaminados. Þ PANDEMIA – é uma EPIDEMIA de grandes proporções geográficas, atingindo vários países/continentes. Ex.: H1N1 – ano de 2009 – doença influenza A DOENÇA EMERGENTE – é o surgimento ou identificação de um novo problema de saúde ou um novo agente infeccioso, por exemplo o HIV na década de 80, o vírus Ebola quando surgiu na África, o corona vírus, em 2020. DOENÇA REEMERGENTE – é quando ocorre uma mudança no comportamento epidemiológico de doenças já conhecidas e controladas, mas que voltam a representar ameaça à saúde humana. Þ Inclui-se a introdução de agentes já conhecidos em novas populações de hospedeiros suscetíveis. Por exemplo: retorno da dengue e da cólera e a expansão da leishmaniose visceral Incidência e prevalência: Para fazer essas mensurações, utilizamos de incidência e prevalência. A incidência diz respeito à frequência com que surgem novos casos de uma doença num intervalo de tempo, como se fosse um “filme” sobre a ocorrência da doença, no qual cada quadro pode conter um novo caso ou novos casos. É, assim, uma medida dinâmica. Os casos novos, ou incidentes, são aqueles que não estavam doentes no início do período de observação, mas que adoeceram no decorrer desse período. Para que possam ser detectados, é necessário que cada indivíduo seja observado no mínimo duas vezes, ou que se conheça a data do diagnóstico. Já a prevalência se refere ao número de casos existentes de uma doença em um dado momento (tanto os antigos quanto os novos); é uma “fotografia” sobre a sua ocorrência, sendo assim uma medida estática. Os casos existentes são daqueles que adoeceram em algum momento do passado, somados aos casos novos dos que ainda estão vivos e doentes. Existem três tipos de medidas de prevalência: a. Prevalência pontual ou instantânea: Frequência de casos existentes em um dado instante no tempo (ex.: em determinado dia, como primeiro dia ou último dia do ano). b. Prevalência de período: Frequência de casos existentes em um período de tempo (ex.: durante um ano). c. Prevalência na vida: Frequência de pessoas que apresentaram pelo menos um episódio da doença ao longo da vida. Ao contrário da incidência, para medir a prevalência os indivíduos são observados uma única vez. CADEIA DE INFECÇÃO DE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS Þ Epidemiologia à importante nas doenças transmissíveis para esclarecer o processo de infecção a fim de desenvolver, implementar e avaliar medidas de controle. Þ Enfoque epidemiológico considera que a doença na população: - não ocorre por acaso - não está distribuída de forma homogênea - tem fatores associados Þ Doenças transmissíveis – epidemiologia ajuda a estabelecer o processo de infecção. As doenças transmissíveis ocorrem por meio da interação de fatores: - agente infeccioso - processo de transmissão - hospedeiro - ambiente 1. Agente infeccioso: • Patogenicidade do agente – capacidade de produzir doença; • Virulência – gravidade da doença, podendo variar de muito baixa a muito alta; • Dose infectante – quantidade requerida para causar infecção em um indivíduo suscetível. • Fonte de infecção – pessoa, objeto, portador – de onde o hospedeiro adquire a doença • Infectividade – capacidade do agente infeccioso de poder alojar-se e multiplicar- se dentro de um hospedeiro e transmitir-se deste para um novo hospedeiro. - ex.: infectividade máxima (sarampo e varicela) / infectividade intermediaria (rubéola) / infectividade relativamente baixa (hanseníase) 2. Processo de transmissão: 3. Hospedeiro: pessoa ou animal que proporcione um ambiente para o agente infeccioso crescer e se multiplicar e, condições naturais. O ponto de entrada no hospedeiro varia de acordo com o agente e inclui a pele, mucosa, e tratos respiratório e gastrointestinal 4. Ambiente: O ambiente influencia no desenvolvimento de doenças transmissíveis. Sendo assim, condições sanitárias, temperatura, poluição aérea, qualidade da água podem influenciar estágios da cadeia de infecção. Além disso, há também fatores socioeconômicos, densidade populacional, aglomeração e pobreza. EPIDEMIOLOGIA DAS DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS CADEIA EPIDEMIOLÓGICA 1. Agentes causais: podem ser microrganismos (biológicos) / químicos (pesticidas / aditivos de alimentos / fármacos / industriais) / físicos (forca mecanisca / calor / luz / radiação / ruídos) 2. Reservatório de agentes infecciosos: qualquer ser humano, animal, artrópode, planta, solo ou matéria inanimada, onde normalmente vive e se multiplica um agente infeccioso e do qual depende para a sua sobrevivência, reproduzindo-se de forma que possa ser transmitido a um hospedeiro suscetível 3. Vetor: um inseto ou qualquer portador vivo que transporta um agente infeccioso até um individuo suscetível, sua comida ou seu ambiente imediato. O agente pode ou não se desenvolver, propagar ou multiplicar dentro do vetor. 4. Fonte de infecção: é a pessoa, animal, objeto ou substância de onde o agente infeccioso passa a um hospedeiro 5. Portador: individuo ou animal infectado, que abriga um agente específico de uma doença, sem apresentarsintomas ou sinais clínicos desta e constitui uma fonte potencial de infecção para o ser humano. 6. Suscetibilidade: situação de uma pessoa ou animal que se caracteriza pela ausência de resistência suficiente contra um determinado agente patogênico, que a proteja da enfermidade, na eventualidade de entrar em contato com esse agente. Período de incubação: intervalo de tempo que transcorre entre a exposição a um agente infeccioso e o surgimento do primeiro sinal ou sintoma da doença Período de transmissibilidade ou infeccioso: intervalo de tempo durante o qual o agente infeccioso pode ser transferido direta ou indiretamente de uma pessoa infectada a outra pessoa, de um animal infectado ao ser humano ou de um ser humano infectado a um animal Período prodrômico – é o período que abrange o intervalo entre os primeiros sintomas da doença e o início dos sinais ou sintomas que lhe são característicos e, portanto, com os quais o diagnóstico clínico pode ser estabelecido. (pródromos são os sintomas indicativos do início da doença) Resistência: conjunto de mecanismos específicos e inespecíficos do organismo que servem de defesa contra a invasão ou multiplicação de agentes infecciosos, ou contra os efeitos nocivos de seus produtos tóxicos. - O mecanismo específico constitui a imunidade humoral e os inespecíficos abrangem os desempenhados por vários mecanismos, como pele, mucosa, ácidos gástricos, cílios do trato respiratório, reflexo de tosse. Imunidade: é o estado de resistência geralmente associado à presença de anticorpos e citocinas que possuem ação específica sobre o micro-organismo responsável por uma doença infecciosa especifica ou sobre suas toxinas. Erradicação – é a extinção do agente etiológico de uma doença, ou de seu vetor, sendo impossível sua reintrodução. Com isso, torna desnecessário a manutenção de medidas de prevenção. Exemplo é a varíola. Eliminação – é atingida quando se obtém a cessação da transmissão em grande área demográfica, porém ainda há o risco de reintrodução, sendo necessária a manutenção das medidas de prevenção. Exemplo é a poliomielite. Controle – redução da incidência e prevalência de determinada doença a níveis muito baixos, deixando de ser considerado um problema de saúde pública. EPIDEMIOLOGIA DESCRITIVA Objetivo: determinar a distribuição de doenças ou condições relacionadas à saúde, segundo o tempo, o lugar e/ou as características dos indivíduos à detalhamento do perfil epidemiológico, com vistas à promoção da saúde Leva em conta 3 princípios: • TEMPO – quando? – determinação de um intervalo cronológico, podendo algumas doenças serem sazonais, por exemplo. As doenças infecciosas costumam ser agudas e algumas como a influenza tem sazonalidade e permite antecipar sua ocorrência e adotar medidas preventivas. A identificação dos eventos que ocorrem antes e depois de em aumento na taxa de doenças permite identificar fatores de risco. • LUGAR – onde? – localização geográfica daquele problema de saúde (domicílio / rua / bairro / município / Estado), para determinar sua extensão e velocidade de disseminação. A análise do lugar quanto a suas características físicas. E biológicas permitem gerar hipóteses sobre possíveis fatores de risco e de transmissão. • PESSOA – quem? – características inerentes ou adquiridas do hospedeiro, atividade e exposição, condições de vida.
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