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DIREITO DO TRABALHO I Eduardo Zaffari Suspensão e interrupção do contrato de trabalho Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Diferenciar suspensão de interrupção do contrato de trabalho. Analisar os casos de suspensão e interrupção do contrato de trabalho. Descrever os efeitos da suspensão e da interrupção do contrato de trabalho. Introdução O contrato de trabalho é uma das mais importantes relações contratuais de uma sociedade. Afinal, ele une o capital ao trabalho, possibilitando a produção de bens e serviços e o desenvolvimento de recursos financeiros e sociais. A relação trabalhista também está vinculada à dignidade do trabalhador e à sua inserção social, já que determina que sejam respeitados os períodos de descanso e o convívio familiar e social. A regra da relação contratual trabalhista é a sua continuidade. Mas a legislação reconhece uma série de hipóteses em que alguns efeitos do contrato de trabalho são temporariamente sustados, havendo suspensão ou interrupção. A distinção entre os institutos varia de acordo com os seus efeitos sobre a relação contratual. Neste capítulo, você vai estudar a suspensão e a interrupção dos efeitos do contrato de trabalho, verificando as hipóteses previstas em lei e os efeitos de cada instituto. 1 Conceitos básicos A relação de emprego possui uma série de características que a distinguem de outras relações jurídicas. Nos termos do art. 3º da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), “Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário” (BRASIL, 1943, documento on-line). Diversos princípios orientam o direito individual do trabalho. Entre eles, está o princípio da con- tinuidade da relação de emprego. Nesse sentido, “[...] é de interesse do Direito do Trabalho a permanência do vínculo empregatício, com a integração do trabalhador na estrutura e dinâmica empresariais” (DELGADO, 2017, p. 224). A primeira consequência da aplicação do princípio da continuidade da relação de emprego consiste na evolução do patrimônio e das condições de trabalho do empregado, pois o transcurso do tempo (de serviço) permite que se agreguem vantagens individuais (quinquênios, por exemplo) ou coletivas (decorrentes de negociações coletivas). A continuidade da relação trabalhista melhora as condições do empregado na relação contratual, razão da impor- tância do tempo de serviço. A segunda grande consequência do princípio da continuidade da relação de emprego é o interesse do empregador em investir na formação do empregado, considerando o tempo em que este está na empresa e a possibilidade de ele contribuir para o aumento dos ganhos organizacionais. Uma terceira consequência é a melhoria do status social do empregado, que, ao possuir um emprego, não está precarizado e tem a sensação de contribuir econômica e socialmente. Isto é, ser útil e economicamente produtivo é um status (DELGADO, 2017). Nesse sentido, o Direito do Trabalho valoriza a continuidade da relação de trabalho. Logo, qualquer forma de suspensão dos efeitos dessa relação cons- titui exceção que deve ser sempre examinada restritivamente pelo intérprete. Entretanto, há casos específicos em que a legislação permite a suspensão e a interrupção do contrato de trabalho, como você vai ver adiante. Primeiro, é necessário diferenciar a suspensão da interrupção do contrato de trabalho. Os princípios informadores do Direito do Trabalho, como o princípio da primazia da realidade e o da irredutibilidade salarial, devem ser sempre interpretados favoravelmente ao empregado, hipossuficiente na relação juslaboral. Delgado (2017, p. 1.202) afirma que “A suspensão contratual é a sustação temporária dos principais efeitos do contrato de trabalho no tocante às par- tes, em virtude de um fato juridicamente relevante, sem ruptura, contudo, do vínculo contratual formado”. Ele ainda complementa: “[...] é a sustação Suspensão e interrupção do contrato de trabalho2 ampliada e recíproca dos efeitos contratuais, preservado, porém, o vínculo entre as partes” (DELGADO, 2017, p. 1.202). Bezerra Leite (2017, p. 489) não destoa da primeira definição; ele afirma que “[...] dá-se a suspensão (suspensão total) quando inexistir obrigatoriedade da prestação de serviço e pagamento de salário, sendo certo que o tempo de serviço, em regra, não é computado para efeitos legais”. Nascimento (2015, p. 272), por sua vez, chega a afirmar que “[...] melhor seria uma só figura, a suspensão, em vez de duas figuras, suspensão e interrupção”. Observe que as duas primeiras definições descrevem a suspensão como a dispensa transitória do cumprimento das obrigações estabelecidas no contrato de trabalho firmado entre empregado e empregador. Por essa razão, parte dos doutrinadores, como Bezerra Leite (2017), afirma que o melhor seria não falar em “suspensão do contrato de trabalho”, e sim em “suspensão dos efeitos do contrato de trabalho”, ainda que o contrato permaneça surtindo alguns efeitos. Não obstante, correntemente a doutrina tem usado a expressão “suspensão do contrato de trabalho”. Além disso, é costume encarar a suspensão do contrato de trabalho como suspensão total, em contraposição à suspensão parcial (que seria a interrupção). Aqui, contudo, serão utilizados os termos “suspensão” e “interrupção”. Em suma, a interrupção é “[...] a sustação temporária da principal obrigação do empregado no contrato de trabalho (prestação do trabalho e disponibili- dade perante o empregador), em virtude de um fato juridicamente relevante, mantidas em vigor todas as demais cláusulas contratuais” (DELGADO, 2017, p. 1.202). Sem descurar da ressalva feita anteriormente sobre as denominações “suspensão parcial” e “suspensão total”, vale mencionar um comentário feito por Delgado (2017, p. 1.203): “[...] a expressão interrupção contratual merece, de fato, críticas [...], já que ela escapa ao sentido clássico que a palavra inter- rupção tende a assumir no direito em geral”. Afinal, o termo “interrupção”, no Direito em geral, costuma ser usado relativamente ao instituto do prazo, que é sustado por certo período e recomeça a partir de determinado fato. Todavia, é o próprio doutrinador que afirma que “não parece prático, hoje, atribuir-se exagerado valor a tais questionamentos: é que, afinal, a expressão consta, há décadas, de texto de lei (ver capítulo da CLT que trata ‘Da suspensão e da Interrupção’ — arts. 471 a 476) — o que lhe confere certa consistência operacional no Direito dispositivo” (DELGADO, 2017, p. 1.203). Não se deve esquecer, entretanto, da necessidade de discussão doutrinária; é exatamente o estudo rigoroso dos termos que permite o aperfeiçoamento da linguagem e da legislação. Neste estudo, como antes se adiantou, utilizam-se os termos usualmente empregados pela doutrina e pela CLT. 3Suspensão e interrupção do contrato de trabalho Verifica-se, assim, que a interrupção e a suspensão do contrato de trabalho não são institutos iguais, embora sejam semelhantes. A distinção entre ambos se dá pelos seus efeitos, e a legislação trabalhista optou por diferenciá-los na nomen- clatura. Na próxima seção, você vai conferir exemplos de interrupção e suspensão do contrato de trabalho. Assim, vai compreender melhor a distinção conceitual. O afastamento do empregado para o exercício de um cargo público e as férias são exemplos, respectivamente, de suspensão e interrupção dos efeitos do contrato de trabalho. 2 Casos de suspensão e interrupção do contrato de trabalho As hipóteses de suspensão previstas são: suspensão disciplinar; afastamento do empregado por motivo de doença ou acidente do traba- lho, a partir do 16º dia (Lei nº. 8.213, de 24 de julho de 1991); licença não remunerada; aposentadoria por invalidez (art. 475 da CLT); exercício de cargo público não obrigatório (art. 472 da CLT); empregado eleito paracargo de administração sindical ou de representa- ção profissional (art. 543, § 2º, salvo se permanecer recebendo salário); greve (Lei nº. 7.783, de 28 de junho de 1989, art. 7º); empregado eleito para ocupar cargo de diretor, salvo se permanecer a subordinação jurídica (Súmula nº. 269 do Tribunal Superior do Traba- lho — TST); participação em curso de qualificação profissional. A suspensão disciplinar se fundamenta no art. 474 da CLT e ocorre em decorrência de ato ilícito perpetrado pelo empregado (BRASIL, 1943). Essa possibilidade encontra respaldo no poder disciplinar do empregador. Tal poder se caracteriza como um conjunto “[...] de prerrogativas concentradas no em- pregador dirigidas a propiciar a imposição de sanções aos empregados em face Suspensão e interrupção do contrato de trabalho4 do descumprimento por esses de suas obrigações contratuais” (DELGADO, 2017, p. 756). Evidentemente, a suspensão disciplinar deve ser motivada, e o empregado pode reverter judicialmente a penalidade, mas a aplicação de sanção disciplinar está entre as prerrogativas patronais. O empregado estável ou com garantia especial de emprego (um sindicalista, por exemplo) terá seu contrato de trabalho suspenso enquanto durar o inquérito para a apuração de eventual falta grave, conforme o art. 494 da CLT e a Súmula nº. 197 do Su- premo Tribunal Federal (STF) (BRASIL, 1943; 1963). Tratam-se de hipóteses de suspensão do contrato de trabalho. A CLT (BRASIL, 1943) prescreve, no art. 476 e no art. 4º, parágrafo único, que o empregado será afastado de seu trabalho nos casos de doença ou acidente do trabalho, considerando-se suspenso o contrato de trabalho nesse período. A Lei nº. 8.213 (BRASIL, 1991), que institui os planos de benefícios da Previdên- cia Social, determina que o empregado afastado receberá auxílio previdenciário acidentário ou por motivo de doença. Os primeiros 15 dias de afastamento serão pagos pelo empregador, nos termos do art. 60, § 3º, da Lei Previdenciária. Em outras palavras, o empregado acometido de doença não relacionada ao trabalho, doença ou acidente profissional terá o seu contrato de trabalho suspenso a partir da constatação da doença ou do acidente, com o pagamento dos primeiros 15 dias de afastamento pelos empregadores e com o pagamento de benefício previdenciário a partir do 16º dia pela Previdência Social. O TST, na previsão constante na Súmula nº 440, garante a manutenção do plano de saúde e da assistência médica nos casos de suspensão do contrato de trabalho (BRASIL, 2012). Outra possibilidade de suspensão do contrato de trabalho consiste na licença não remunerada concedida pelo empregador ao empregado por motivos particulares deste. Trata-se de uma convenção bilateral entre empregado e empregador que poderá, eventualmente, estar prevista nas normas regulamen- tares da empresa. Um exemplo é o afastamento do empregado que pretende realizar determinado curso e, durante esse período, não recebe remuneração. A pactuação realizada pelo empregador irá vinculá-lo, nos termos da Súmula nº. 51, I, do TST (BRASIL, 2005). 5Suspensão e interrupção do contrato de trabalho A suspensão do contrato de trabalho por invalidez está prevista no art. 475 da CLT (BRASIL, 1943). A Lei nº. 8.213 (BRASIL, 1991) prescreve que os primeiros 15 dias de afastamento do empregado inválido serão pagos pelo empregador, conforme o art. 43, § 2º. Nos mesmos termos do auxílio aciden- tário e doença, a partir do 16º dia, o empregado passa a receber benefício previdenciário. O contrato estará suspenso enquanto perdurar a invalidez (caso ela seja temporária) (BRASIL, 1991). O art. 472 da CLT prescreve a possibilidade de suspensão do contrato de trabalho quando o empregado exercer um cargo público não obrigatório (BRASIL, 1943). Costuma-se utilizar como exemplo o exercício de mandato público (como na qualidade de vereador). Por sua vez, o empregado eleito para representação sindical ou profissional, ou seja, designado pelos seus pares ou empregador para fazer a intermediação de interesses patronais e profissio- nais, tem o seu contrato de trabalho suspenso enquanto perdurar o respectivo mandato. Tratar-se de suspensão do contrato de trabalho, previsão constante no art. 543, § 2º, da CLT — salvo se o empregado permanecer remunerado, o que descaracteriza a suspensão (BRASIL, 1943). O exercício da resistência obreira está disposto no art. 7º da Lei nº. 7.783 (BRASIL, 1989), que trata do exercício do direito de greve. O exercício de greve implica a suspensão do contrato de trabalho, salvo se for considerado ilegal pelo Poder Judiciário (sem a prévia notificação da greve em 48 horas, por exemplo). A Súmula nº 269 do TST (BRASIL, 2003a) prescreve outra possibilidade de suspensão do contrato de trabalho, que consiste na eleição de empregado para cargo de diretor de sociedade anônima. A súmula afirma o seguinte: “O em- pregado eleito para ocupar cargo de diretor tem o respectivo contrato de trabalho suspenso, não se computando o tempo de serviço desse período, salvo se perma- necer a subordinação jurídica inerente à relação de emprego” (BRASIL, 2003a, documento on-line). Isso significa que o diretor não deve, durante esse período, estar subordinado ao seu empregador, sob pena de inexistência da suspensão. O art. 476–A da CLT prescreve uma nova forma de suspensão do contrato de trabalho, destinada à qualificação profissional do empregado oferecida pelo seu empregador (BRASIL, 1943). Essa suspensão, que deve ser precedida de acordo coletivo, pode durar de dois a cinco meses: O contrato de trabalho poderá ser suspenso, por um período de dois a cinco meses, para participação do empregado em curso ou programa de qualificação profissional oferecido pelo empregador, com duração equivalente à suspensão contratual, mediante previsão em convenção ou acordo coletivo de trabalho e aquiescência formal do empregado, observado o disposto no art. 471 desta Consolidação (BRASIL, 1943, documento on-line). Suspensão e interrupção do contrato de trabalho6 O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), componente do chamado Sistema S (Sesi, Sebrae, Sesc, etc.), tem uma série de cursos de qualificação que são oferecidos aos empregados da indústria. A participação do empregado nesses cursos poderá ensejar a suspensão de seu contrato de trabalho. As hipóteses de interrupção do contrato de trabalho estão prescritas no art. 473 da CLT, que prevê casos em que “[...] o empregado poderá deixar de comparecer ao serviço sem prejuízo do salário” (BRASIL, 1943, documento on-line). Além do extensivo rol apresentado na legislação celetista, há diver- sos outros casos que constam em leis esparsas e não estão no capítulo sobre suspensão e interrupção. A seguir, você vai conhecer as hipóteses: Os casos de interrupção do contrato de trabalho constantes na CLT são os seguintes: até dois dias consecutivos em caso de falecimento de cônjuge, ascen- dente, descendente, irmão ou pessoa que, declarada em sua carteira de trabalho e previdência social, viva sob sua dependência econômica; até três dias consecutivos em virtude de casamento; até cinco dias em caso de nascimento de filho (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias — ADCT —, art. 10, § 1º); por um dia a cada 12 meses de trabalho em caso de doação voluntária de sangue devidamente comprovada; até dois dias, consecutivos ou não, para o fim de se alistar eleitor, nos termos da lei respectiva; no período de tempo em que tiver de cumprir as exigências do serviço militar referidas na letra “c” do art. 65 da Lei nº. 4.375, de 17 de agosto de 1964 (Lei do Serviço Militar); nos dias em que estiver comprovadamente realizando prova de exame vestibular para ingresso em estabelecimento de ensino superior; pelo tempo que se fizer necessário quando tiver de comparecer a juízo; pelo tempo que se fizer necessário quando, na qualidade de represen- tante de entidade sindical, estiver participandode reunião oficial de organismo internacional do qual o Brasil seja membro; 7Suspensão e interrupção do contrato de trabalho até dois dias para acompanhar consultas médicas e exames comple- mentares durante o período de gravidez de sua esposa ou companheira (incluído pela Lei nº. 13.257, de 8 de março de 2016); por um dia por ano para acompanhar filho de até 6 anos em consulta médica (incluído pela Lei nº. 13.257/2016). Observe que diversas prescrições de interrupção do contrato de trabalho estão relacionadas ao atendimento de compromissos e fatos sociais do em- pregado que requeiram o afastamento momentâneo. A licença nojo, que é o afastamento em virtude do falecimento de parentes próximos, a participação em consultas médicas de filho e a interrupção em virtude de casamento repre- sentam a necessidade de integração do empregado à vida social. O empregador não pode — daí a existência de algumas espécies de adicional, como o noturno — alijar o empregado do convívio social. Um empregado saudável fisiológica e mentalmente está muito mais apto a produzir e contribuir socialmente. A Lei nº. 13.979 (BRASIL, 2020), que dispõe sobre as medidas para o enfrentamento do coronavírus, prescreve uma nova forma de interrupção dos efeitos do contrato de trabalho: a ausência dos funcionários em razão da COVID-19. Assim, os empregadores não podem caracterizar tal ausência como “falta ao trabalho”. O art. 473 da CLT (BRASIL, 1943) não apresenta todas as hipóteses de interrupção dos efeitos do contrato de trabalho. Outras hipóteses constam em outros capítulos da própria CLT e em leis esparsas. A doutrina diverge muito pouco sobre as hipóteses (ora alguns as classificam como suspensão, ora como interrupção). Não obstante, é mais adequada a classificação de tais hipóteses como interrupções dos efeitos do contrato de trabalho. As hipóteses são as seguintes: domingos e feriados, se o empregado trabalhou durante a semana (Lei nº. 605, de 5 de janeiro de 1949); férias; licença-maternidade (Constituição Federal, art. 7º, XVIII) de, no mínimo,120 dias; Suspensão e interrupção do contrato de trabalho8 empregado que colabora com a Justiça, na condição de testemunha (CLT, art. 822); empregado que atua como parte em processo trabalhista (CLT, art. 473, VIII; Súmula nº. 155 do TST); ausências do empregado ao serviço, desde que o empregador efetue o pagamento salarial respectivo; doença ou acidente do trabalho (nos primeiros 15 dias); afastamento para inquérito judicial para apuração de falta grave julgado improcedente (CLT, art. 495); greve (se houver pagamento de salários durante a paralisação e assim dispuser a decisão judicial); comparecimento de empregado como jurado ou testemunha em sessão do júri (Código de Processo Penal — CPP —, arts. 441 e 459); afastamento do representante dos empregados para prestar serviços como conciliador nas Comissões de Conciliação Prévia (CLT, art. 625–B, § 2º). Além disso, de acordo com a Lei nº. 13.257/2016, caso o empregador tenha aderido ao Programa da Empresa Cidadã e a empregada o requeira até o final do primeiro mês após o parto, a licença-maternidade será prorrogada por mais 60 dias, totalizando 180 dias (BRASIL, 2016). No que diz respeito ao empregado, a licença-paternidade terá, além dos cinco dias estabelecidos no § 1º do art. 10 do ADCT, mais 15 dias, totalizando 20, desde que ele requeira o benefício no prazo de dois dias úteis após o parto (BRASIL, 1988). Observe que alguns casos, como a greve e o inquérito para a apuração de falta grave julgado improcedente, constam também como suspensão do contrato de trabalho. A distinção está precisamente na possibilidade de pagamento dos salários durante a suspensão, que pode ser opção do empregador ou decorrer de decisão judicial. Nesse sentido, a correta classificação desses casos apenas será possível quando do seu desfecho: no exemplo da greve, se ela for consi- derada ilegal, haverá a falta pelo empregado; quando o pagamento do salário for determinado pelo Poder Judiciário, será uma interrupção; quando a greve for lícita e os salários, impagos, haverá uma suspensão. 3 Efeitos da suspensão e da interrupção do contrato de trabalho Nascimento (2015, p. 275) diferencia os dois institutos a partir de seus efeitos: “[...] suspensão do contrato de trabalho é a paralisação temporária dos seus 9Suspensão e interrupção do contrato de trabalho principais efeitos, e interrupção do contrato é a paralisação durante a qual a empresa paga salários e conta o tempo de serviço do empregado”. Note, portanto, que para determinar o instituto deve-se verifi car como a sustação do labor repercutirá no contrato de trabalho. No caso da suspensão do contrato de trabalho, praticamente todas as cláu- sulas contratuais não se aplicam; vigoram apenas as cláusulas contratuais expressamente dispostas em lei ou pactuadas. Não se presta o serviço, não se paga o salário, não se computa o tempo de serviço, não se produzem os recolhimentos inerentes ao contrato de trabalho, entre outras obrigações e deveres. Apenas surtirão efeitos as cláusulas expressamente previstas em lei ou pactuadas entre empregado e empregador. Todavia, algumas regras impositivas de condutas omissivas permanecem válidas, como os deveres de lealdade e fidelidade (por exemplo, as condutas de não violação de segredo de empresa ou de não concorrência — art. 482, “c” e “g”, da CLT) (BRASIL, 1943). O empregador deve respeitar a integri- dade física e moral do empregado, nos termos do art. 483, “e” e “f”, da CLT (BRASIL, 1943). Igualmente, não pode fazer a “denúncia vazia” do contrato de trabalho (chamada de “dispensa sem justa causa”), conforme o art. 471 da CLT (BRASIL, 1943). Poderá, entretanto, dispensar por justa causa o empre- gado, nos casos previstos no art. 482 da legislação celetista (BRASIL, 1943). A suspensão ou interrupção do contrato de trabalho não impede, todavia, a rescisão do contrato em face de dispensa motivada, nos termos do art. 482 da CLT (BRASIL, 1943). Algumas hipóteses desse artigo ainda se aplicam ao contrato suspenso ou interrompido: ato de improbidade; negociação habitual por conta própria ou alheia sem permissão do empregador, e quando constituir ato de concorrência à empresa para a qual trabalha o empregado ou for prejudicial ao serviço; e violação de segredo da empresa. Apesar da suspensão de muitos dos efeitos do contrato de trabalho por força do instituto, alguns permanecem em vigor, como a impossibilidade de concorrência ou revelação de segredos comerciais e industriais. Há ainda efeitos que decorrem diretamente da suspensão. O primeiro deles é o direito de o empregado retornar ao trabalho após desaparecida a causa que levou à Suspensão e interrupção do contrato de trabalho10 suspensão do contrato de trabalho (BRASIL, 1943). Nos termos do art. 471 da CLT, o empregado tem o direito de retornar ao trabalho com todas as vantagens, patamar salarial e benefícios que tinha quando do início da suspensão de seu contrato de trabalho (BRASIL, 1943). O empregado terá o prazo de 30 dias para retornar ao trabalho após a cessação da causa suspensiva, posição esta que não consta em lei, mas se subsume da doutrina, a exemplo de Delgado (2017) e da jurisprudência (por exemplo, a Súmula nº 32 do TST (BRASIL, 2003b), que externa o entendimento de abandono de emprego após o prazo de 30 dias). O segundo efeito é que o pedido de demissão realizado pelo obreiro precisa ser devidamente documentado e comprovado para que não haja qualquer burla à legislação trabalhista. Assegurado ao empregado o retorno ao trabalho, está vedada ao empregador a sua dispensa por denúncia vazia, como você já viu. Entretanto, considerando que não se pode vedar a liberdade de escolha do ser humano quanto ao trabalho, o empregador deve aceitar o seu pedido de demissão, mas este deve ser devidamente fundamentado para que haja validade. Desde a Reforma Trabalhista e aalteração do § 1º do art. 477 da CLT, a lei não exige mais a homologação da rescisão do contrato de trabalho no sindicato da categoria profissional para empregados com mais de um ano de serviço (BRASIL, 1943). Entretanto, no caso de pedido de demissão feito por alguém com contrato de trabalho suspenso ou interrompido, o acompanhamento pelo sindicato dá maior garantia ao empregador e ao empregado (auxiliando na elaboração do pedido de demissão, por exemplo). Diferentemente do que ocorre na suspensão, na interrupção, “O contrato continua em plena execução, exceto pela prestação e disponibilidade dos servi- ços obreiros” (DELGADO, 2017, p. 1.207). Nessa modalidade de sustação dos efeitos do contrato de trabalho, apenas a cláusula que se refere à prestação de serviços é atingida, computando-se o tempo de serviço e pagando-se o salário ao empregado. As obrigações e deveres do empregador permanecem válidos e eficazes; o empregador não pode dispensar o empregado pela denúncia vazia, conforme o art. 471 da CLT (BRASIL, 1943). Nessa forma de sustação dos efeitos contratuais, há a garantia de retorno do trabalhador ao fim da situação que gerou a interrupção, nos termos do art. 471 da CLT (BRASIL, 1943). No retorno, deve estar garantido ao trabalhador 11Suspensão e interrupção do contrato de trabalho o mesmo patamar salarial e vantagens anteriores; não se pode retroagir as cláusulas sociais e econômicas incorporadas ao contrato de trabalho. Con- trariamente ao que ocorre nos casos de suspensão do contrato de trabalho, o retorno do empregado nos casos de interrupção é imediato (no dia seguinte), ou seja, o empregado deve retornar imediatamente ao seu posto de trabalho quando cessada a causa interruptiva. Imagine que um empregado saiu em férias e, ao término do período de fruição, tem ainda até 30 dias para o seu retorno: isso não é viável. Da mesma forma que ocorre na suspensão do contrato de trabalho, na interrupção, o empregado pode pedir a sua demissão, e o empregador não pode recusar o pedido. Entretanto, o empregador deve adotar redobrado cuidado ao aceitá-lo, sob pena de a demissão ser convertida em juízo, eventualmente, em dispensa sem justa causa, acarretando a complementação das verbas rescisórias. Preferencialmente, o pedido de dispensa deve ser acompanhado pelo sindicato da categoria profissional, de modo a assegurar a livre vontade do trabalhador. BRASIL. [Constituição (1988)]. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Se- nado Federal, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicao.htm#adct. Acesso em: 4 maio 2020. BRASIL. Decreto-lei n. 5.452, de 1º de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Brasília, 1943. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto- -lei/del5452.htm. Acesso em: 4 maio 2020. BRASIL. Lei n. 8.213, de 24 de julho de 1991. Dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social e dá outras providências. Brasília, 1991. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8213cons.htm. Acesso em: 4 maio 2020. BRASIL. Lei n. 7.783, de 28 de junho de 1989. Dispõe sobre o exercício do direito de greve, define as atividades essenciais, regula o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade, e dá outras providências. Brasília, 1989. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.HTM. Acesso em: 4 maio 2020. BRASIL. Lei n. 13.257, de 8 de março de 2016. Dispõe sobre as políticas públicas para a primeira infância e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), o Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Pro- cesso Penal), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, a Lei nº 11.770, de 9 de setembro de 2008, e a Lei nº 12.662, de 5 de junho de 2012. Brasília, 2016. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13257.htm. Acesso em: 4 maio 2020. Suspensão e interrupção do contrato de trabalho12 Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos testados, e seu fun- cionamento foi comprovado no momento da publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou integralidade das informações referidas em tais links. BRASIL. Lei n. 13.979, de 6 de fevereiro de 2020. Dispõe sobre as medidas para enfrenta- mento da emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus responsável pelo surto de 2019. Brasília, 2020. Disponível em: http://www. planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-2022/2020/lei/L13979.htm. Acesso em: 4 maio 2020. BRASIL. Superior Tribunal Federal. Súmula n. 197. O empregado com representação sindical só pode ser despedido mediante inquérito em que se apure falta grave. DJ, 13 dez. 1963. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSuma- rioSumulas.asp?sumula=2208. Acesso em: 4 maio 2020. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 51. Norma regulamentar. vantagens e opção pelo novo regulamento. art. 468 da CLT (incorporada a Orientação Jurisprudencial nº 163 da SBDI-1). DJ, 25 abr. 2005. Disponível em: http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/ Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_51_100.html. Acesso em: 4 maio 2020. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 269. Diretor eleito. cômputo do período como tempo de serviço (mantida). DJ, 21 nov. 2003a. Disponível em: http://www3.tst. jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_251_300.html#SUM-269. Acesso em: 4 maio 2020. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 440. Assegura-se o direito à manu- tenção de plano de saúde ou de assistência médica oferecido pela empresa ao em- pregado, não obstante suspenso o contrato de trabalho em virtude de auxílio-doença acidentário ou de aposentadoria por invalidez. DEJT, 25 set. 2012. Disponível em: http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_401_450. html#SUM-440. Acesso em: 4 maio 2020. BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula n. 32. Abandono de emprego (nova redação). DJ, 21 nov. 2003b. 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