Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
71 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA Unidade III 5 ANÁLISE DA INSOLVÊNCIA TÉCNICA Existe uma relação entre o retorno e o risco de uma organização. O retorno, nesse contexto, é medido pelas receitas menos os custos, enquanto o risco é medido pela possibilidade de a organização contrair o grau de insolvência técnica, que é a incapacidade de honrar com seus compromissos no prazo de vencimento. Uma organização pode elevar seu lucro por intermédio de um aumento nas receitas ou por meio da redução dos custos. A redução dos custos pode ocorrer pagando-se menos por um item, por um serviço ou usando eficiência no emprego dos recursos. Qualquer redução nos custos deve provocar um aumento no lucro da organização. Outra forma de aumentar o lucro é por meio de investimento em ativos mais rentáveis, que possam gerar níveis mais elevados de receitas. O risco de insolvência técnica pode ser medido por meio do montante do capital circulante líquido (CCL) ou do índice de liquidez corrente. Assim, quanto maior o soma de CCL possuído pela empresa, menor é a probabilidade de insolvência técnica. Da mesma forma, o contrario é verdadeiro: quanto menor for o CCL, maior será a probabilidade de a empresa contrair o grau de insolvência técnica. 5.1 Relação entre risco e retorno Caso uma organização queira aumentar seu retorno, é necessário também aumentar seu risco. Se quiser reduzir o risco, vai precisar diminuir o retorno. A relação entre essas variáveis é de tal natureza que, independentemente de como a organização aumenta seu retorno por meio da manipulação do capital de giro, a consequência é um acréscimo correspondente no risco, medido pelo nível de CCL. 5.1.1 Estudo da alavancagem Existe uma ligação entre a alavancagem, a estrutura de capital e o custo de capital e as decisões relacionadas ao orçamento de capital. A alavancagem é definida pelo uso de ativos ou recursos com um custo fixo com o objetivo de aumentar os retornos dos acionistas da empresa. A relação de empréstimos de longo prazo e capital próprio da organização pode afetar sua valorização devido variações no risco e no retorno. Os gestores têm controle completo sobre o risco introduzido por meio do uso da alavancagem, ao contrário de algumas causas de risco, mesmo porque os níveis de ativos e recursos de custo fixo que a direção da empresa seleciona afetam a variabilidade dos retornos. Uma vez que a alavancagem afeta o valor da organização, o gestor financeiro deve saber como avaliá-la e como medi-la, sobretudo no momento da definição da melhor estrutura de capital para a empresa. 72 Unidade III Saiba mais Entenda o que é rating ou nota de risco no endereço: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u317159.shtml>. Segundo a BBC Brasil, em reportagem publicada no jornal O Estado de S. Paulo, “Outrora economicamente instável, o Brasil conseguiu estabilizar sua economia, e tem desfrutado de crescimento econômico previsível com cada vez menos interferência política”, avalia o Wall Street Journal, para quem a mudança “deve atrair mais recursos para a maior economia latino- americana. [...] Muitos no Brasil veem o grau de investimento como o sinal mais claro de que o país entrou no mapa mundial” (BBC BRASIL, 2008). A reportagem lembra que o Brasil deu início às reformas econômicas para “pôr a casa em ordem” ainda nos 1990. Nas palavras do repórter, a “divisão de águas” foi a eleição do então Presidente da Republica, em 2002. O país também foi impulsionado pela elevação dos preços das commodities, como soja, carnes, café e açúcar. Segundo a reportagem, “alguns investidores temem que o avanço do Brasil amparado pelas commodities acabará por desacelerar”. “Entretanto, desta vez o Brasil tem mais a oferecer, incluindo uma crescente demanda por todo tipo de mercadoria, incluindo carros, roupas e educação.” Observação Commodities são produtos básicos, homogêneos e de amplo consumo, que podem ser produzidos e negociados por uma ampla gama de empresas. (boi gordo, soja, café, ouro, prata, petróleo, platina etc.) 5.2 Microeconomia e macroeconomia Vamos iniciar esse tópico diferenciando esses dois conceitos, utilizando, a princípio, o Dicionário Houaiss (2009). Microeconomia é o ramo da economia que trata do modo como as entidades individuais que compõem a economia – consumidores privados, empresas comerciais, trabalhadores, grandes proprietários de terras, produtores de bens ou serviços particulares etc. – atuam reciprocamente. Já a Macroeconomia é o ramo da economia que estuda, em escala global e por meios estatísticos e matemáticos, os fenômenos econômicos e sua distribuição em uma estrutura ou em um setor, verificando as relações entre elementos como a renda nacional, o nível dos preços, a taxa de juros, o nível da poupança e dos investimentos, a balança de pagamentos e o nível de desemprego. 73 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA Por meio desses conceitos, percebemos que a Gestão Financeira está estreitamente ligada à Economia e baseia-se amplamente em conceitos econômicos. Para entender melhor os conceitos, é necessário ver algumas definições relacionadas ao funcionamento do mercado, que é a procura ou demanda individual, definida como a quantidade de um determinado bem ou serviço que o consumidor estaria disposto a consumir dentro de um determinado espaço de tempo. Demanda está relacionada com o desejo de comprar e consumir e não efetivamente com a realização do consumo. É importante notar, nesse ponto, que a demanda é um desejo de consumir e não sua realização. A origem da Teoria da Demanda vem da hipótese da escolha do consumidor entre o que seu orçamento permite adquirir e os diversos bens. Essa procura individual seria motivada pelo preço do bem, pelo preço de outros bens, pela renda e pelo gosto ou preferência do consumidor. Assim, a demanda pode ser definida pela relação que define a quantidade de bens ou serviço que o consumidor está disposto a adquirir em diferentes quantidades e diferentes preços no mercado. A relação entre o preço de um bem e a quantidade procurada define a “Função Procura”, tudo o mais permanecendo-se constantes. Vale ressaltar que quase todas as mercadorias obedecem à “lei da procura decrescente”, em que a quantidade procurada diminui à medida que o preço aumenta, visto que o consumidor está mais disposto a consumir quando os preços estão mais baixos. 5.2.1 Instrumentos de política macroeconômica Para atingir as metas citadas anteriormente, a política macroeconômica possui alguns instrumentos, como as políticas fiscal, monetária, cambial e comercial e política de rendas, que envolvem a atuação do governo. O quadro a seguir apresenta cada uma delas. Quadro 21 – Instrumentos de política macroeconômica Política Fiscal Diz respeito aos instrumentos disponíveis pelo governo para a arrecadação de impostos, contribuições e o controle de suas despesas. Ela também é utilizada para estimular ou inibir os gastos do setor privado. Assim, se o objetivo é reduzir a taxa de inflação, as medidas fiscais empregadas são a redução dos gastos da coletividade ou o aumento da carga tributária, o que inibe o consumo. Porém, se a meta é o crescimento do emprego, aumentam-se os gastos públicos e diminuem-se os tributos, elevando, assim, a demanda. Se o objetivo a atingir é a melhor distribuição da renda, então os recursos utilizados devem se dar em benefício dos menos favorecidos. O governo passa, então, a gastar em regiões mais atrasadas, impor impostos progressivos, ou seja, quanto maior o nível de renda, maior a proporção paga do imposto em relação à renda etc. Política Monetária O governo atua sobre a quantidade de moeda e títulos públicos, sendo os recursos disponíveis a sua emissão, compra e venda de títulos, regulamentação sobre crédito e taxas de juros, entre outros. Se o objetivo é controlar a inflação, por exemplo, compra-se títulos públicos, diminuindo o estoque monetário da economia. Quando se anseia o crescimento econômico,o meio seria aumentar o estoque de moedas. Política Cambial e Comercial Ambas atuam sobre o setor externo da economia. A política Cambial diz respeito à ação do governo sobre a taxa de câmbio. O governo fixa ou permite que a taxa de câmbio seja flexível, através do Banco Central. A política Comercial refere-se aos instrumentos que estimulam as exportações – estímulos fiscais e taxas de juros subsidiadas – e ao controle das importações – tarifas e barreiras maiores. Política de Rendas Refere-se à interferência do governo na formação de renda, através do controle e congelamento dos preços. Esse controle sobre os preços e salários é obtido através do combate ao aumento persistente e generalizado nos preços, que é a inflação. As políticas anti-inflacionárias brasileiras são o salário mínimo, o congelamento de preços e salários etc. 74 Unidade III 5.2.2 Estrutura de análise macroeconômica De acordo com Lemke e Silva (2004), a estrutura básica macroeconômica constitui-se de cinco mercados, que através de suas ofertas e demandas determinam os agregados macroeconômicos. São eles: Quadro 22 – Estrutura macroeconômica Mercado de bens e Serviços Determina o nível de produção agregada, bem como o nível geral de preços. O nível geral dos preços e do agregado da produção depende da demanda agregada – consumidores, organizações, governo, setor externo – e da oferta agregada de bens e serviços. Para que ao menos houvesse um equilíbrio de mercado, seria necessário que a oferta agregada de bens e serviços fosse igual à demanda. O mercado de bens e serviços define as variáveis de: nível de renda, produto nacional e de preços, consumo, poupança e investimentos agregados e exportações e importações globais. Mercado de trabalho Nesse mercado admite-se um único tipo de mão de obra, independente do grau de qualificação, escolaridade, sexo etc. Ele determina os salários e o nível de emprego. A oferta de mão de obra dá-se pelo salário e pela evolução da população economicamente ativa. E a procura de mão de obra ocorre pelo seu custo à organização e pelo nível de produção desejada por ela. O equilíbrio nesse mercado dá-se pela igualdade entre a oferta e a demanda de mão de obra. Esse mercado determina o nível de emprego e a taxa de salário. Mercado monetário Existe em função de que todas as operações comerciais da economia são realizadas através da moeda. Nele existe uma demanda e também uma oferta de moeda – através do Banco Central –, que juntas determinam uma taxa de juros. Aqui, a igualdade entre a oferta e a demanda de moeda é que dá a condição de equilíbrio no mercado monetário. E é ele que impõe, além da taxa de juros, o estoque de moeda. Mercado de títulos Determina o preço dos títulos, por exemplo, do título público federal. Ele analisa o papel dos agentes econômicos superavitários – que gastam menos e ganham mais, podendo efetuar empréstimos – e dos agentes econômicos deficitários – que gastam mais que ganham, que geralmente recorrem à empréstimos dos superavitários. Quando a oferta de títulos se iguala à sua demanda, ocorre o equilíbrio desse mercado. Mercado de divisas Divisas são moedas estrangeiras; por isso, ele também é chamado de mercado de moeda estrangeira e cuida das transações da economia com o resto do mundo. Para que ocorra um equilíbrio nesse mercado a oferta de divisas – gerada pelas exportações e entrada de capital – seja igual à sua demanda – gerada pelas importações e saída de capital financeiro. A taxa de câmbio é a variável determinada nesse mercado que possui interferência do Banco Central, que fixa ou deixa a taxa de câmbio flutuar. 5.3 Estrutura de mercado As diferentes estruturas de mercado são condicionadas por três variáveis: • número de firmas produtoras no mercado; • diferenciação do produto; • existência de barreiras à entrada de novas empresas. No mercado de bens e serviços, as formas e mercado são as seguintes: concorrência pura ou perfeita, monopólio, oligopólio e concorrência monopolística ou imperfeita. Já no mercado de mercado de fatores de produção, é definido as formas de mercado em concorrência perfeita, concorrência imperfeita, monopólio e oligopólio no fornecimento de insumos. 75 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA Observação Fatores de produção são os bens necessários à realização de um dado produto final (matéria-prima, mão de obra e capital). 5.3.1 Formação de preços Existe uma série de modelos sobre o comportamento das empresas na formação de preços de seus produtos. A diferença maior entre esses modelos está condicionada ao objetivo a que a firma se propõe: maximizar lucros, maximizar participação no mercado, maximizar margem de rentabilidade sobre os cursos etc. Quanto aos seus objetivos, as empresas defrontam-se com duas possibilidades principais: maximizar lucro e maximizar margem sobre os custos diretos ou mark-up. Dentro da teoria marginalista ou neoclássica, o objetivo da firma é sempre maximizar o lucro total. Se a empresa aumenta a produção e a receita adicional for maior que o custo adicional, o lucro fica aumentando e a empresa, neste caso, não encontra seu ponto ideal de equilíbrio. Se a receita adicional for menor que o custo adicional, o lucro estará caindo e o prejuízo aumentando. A receita marginal deve ser igualada ao custo marginal. O quadro abaixo apresenta as hipóteses de mercado: Quadro 23 – Hipóteses de mercado Hipótese do modelo Reflete o funcionamento de um mercado completamente livre, sem barreiras e totalmente transparente. Hipótese da atomicidade É um mercado com infinitos vendedores e compradores, de forma que um agente isolado não tem condições de afetar o preço no mercado. Assim, o preço no mercado é um dado fixado para empresas e consumidores. Hipótese da homogeneidade Todas as firmas oferecem produto semelhante, homogêneo. Não há diferenças de embalagem, qualidade nesse mercado. Hipótese da mobilidade de firmas Mercado sem barreiras a entrada e saída, tanto de compradores como de vendedores. Hipótese da racionalidade Os empresários sempre maximizam lucro e os consumidores maximizam satisfação ou utilidade derivada do consumo de um bem, ou seja, os agentes atuam racionalmente. Transparência de mercado Consumidores e vendedores têm acesso a toda informação relevante, sem custos, isto é, conhecem os preços, a qualidade, os custos, as receitas e os lucros dos concorrentes. Hipótese da mobilidade de bens Existe completa mobilidade de produtos entre regiões, ou seja, não existem transporte; não considera a localização espacial de vendedores e consumidores. Inexistência de externalidades Representa influências de fatores externos nos cursos das firmas e na satisfação dos consumidores. No modelo de concorrência perfeita, supõe-se ainda que não existam externalidades, ou seja, nenhuma firma influi no custo das demais e nenhum consumidor afeta o consumo dos demais. Hipótese da divisibilidade É uma hipótese matemática, não essencial, que objetiva auxiliar a compreensão do funcionamento do modelo, trabalhando com curvas contínuas e diferenciáveis, facilitando a utilização dos conceitos marginalistas por meio de técnicas matemáticas de diferenciação e derivação. Mercado de fatores de produção também em concorrência perfeita Todas as hipóteses apresentadas no quadro acima valem também para o mercado de fatores de produção. 76 Unidade III Para determinar o ponto de produção ideal para uma empresa em concorrência perfeita que mostra o ponto em que o lucro é máximo, é preciso determinar o comportamento da demanda desse mercado, que permite uma previsão das receitas da firma e o comportamento de seus custos. Todos os custos são variáveis, não existindo custos fixos a longo prazo. O lucro normal reflete o custo real de oportunidade do capital empregado na atividade de gestão. É o valor que o mantém na atividade; se o lucro fosse mais baixo, o proprietário abandonaria o mercado, pois seguramente iria ganhar mais em outraatividade. É possível associar o lucro normal a uma taxa de ganho médio do mercado. O que ultrapassar o lucro normal denomina-se lucro extraordinário, no qual o proprietário recebe além do que deveria receber em relação ao seu custo de oportunidade em concorrência perfeita; a longo prazo, só existem lucros normais, supondo-se que os lucros extraordinários de curto prazo seduzem outras organizações para esse tipo de mercado. Dessa forma, em concorrência perfeita, em longo prazo, com a atração de novas firmas, a oferta de mercado altera-se, e a perspectiva é de que os lucros extraordinários tendam a zerar, permanecendo somente os lucros normais. 5.3.2 Monopólio Uma estrutura de mercado monopolista apresenta três características principais: não há produtos substitutos próximos, uma única empresa é produtora do bem ou serviço, existem barreiras à entrada de empresas concorrentes. As barreiras ao acesso de novas companhias nesse mercado podem ocorrer de três formas: monopólio puro ou natural, devido à alta escola de produção requerida, exige um montante de investimentos, proteção de patentes ou direito único de produzir o bem, acompanhamento sobre o fornecimento de matérias-primas chaves e tradição no mercado. Para o monopolista, existe a hipótese implícita em sua atitude no sentido de que ele não crê que os elevados lucros que consegue em curto prazo atraiam concorrentes, ou ao contrário, que os altos preços possam espantar os consumidores. Enfim, o monopolista acredita que, mesmo em longo prazo, continuará sempre como monopolista. Um grupo diferenciado de monopólio é o institucional ou estatal, amparado pela legislação, habitualmente em setores infraestrutura ou estratégicos. Da mesma forma como acontece em uma concorrência perfeita, o ponto em que o monopolista atinge o equilíbrio no qual ele maximiza o lucro ocorre também no momento em que a receita marginal e o custo marginal igualam-se. A empresa monopolista não apresenta curva de oferta, pois não possui uma curva que demonstre uma ligação estável no meio de determinados preços de venda apropriados a determinadas quantidades produzidas, pois pode-se haver diversos preços para somente uma quantidade comercializada. Em tese, a oferta é um ponto único sobre a curva de demanda. Assim, a existência de impedimento ao ingresso de novas corporações permite a insistência de lucros extraordinários também em longo prazo, sendo hipotético que o monopólio não será afetado no longo prazo. 77 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA 5.3.3 Oligopólio O oligopólio é uma espécie de composição de mercado que pode ser definido de duas maneiras: • Oligopólio concentrado: pequeno número de companhias no setor. • Oligopólio competitivo: pequeno número de companhias que domina um setor com muitas organizações. O oligopólio, devido à existência de organizações dominantes, possui o poder de fixar preços de venda em seus termos, defrontando-se normalmente com demandas relativamente inelásticas, em que os consumidores têm baixo poder de reação a alteração de preços. Acontece fundamentalmente pela à existência de impedimento ao ingresso de novas companhias no setor, tal como a proteção de patentes, tradição, controle de matérias-primas chaves, oligopólio puro ou natural. Diversamente da composição voltada a concorrência, e de maneira igual ao monopólio, os lucros extraordinários permanecem em longo prazo, pois as barreiras ao ingresso de novas empresas continuam, especialmente no oligopólio natural, em que a alta escala de operações da condições de uma produção a custos relativamente não muito caros, dificultando o ingresso de empresas concorrentes. No oligopólio, é possível encontrar duas maneiras de funcionamento das organizações: traçam concorrência entre si por meio da guerra de preços ou de promoções e formação de cartéis. Observação Cartel pode ser definido por uma organização formal ou informal de produtores dentro de um setor, que define a política de todas as organizações do cartel, fixando preços e a repartição (cota) do mercado entre empresas. As cotas podem ser: • Perfeitas (cartel perfeito): todas as organizações possuem a mesma participação. A administração do cartel fixa um preço comum e reparte de maneira igual o mercado, atuando como um bloco monopolista. É a conhecida “solução de monopólio”. • Imperfeitas (cartel imperfeito): existem companhias líderes que fixam os preços, permanecendo com a maior cota. As outras companhias aceitam seguir os preços do líder. O modelo clássico é o modelo econômico do oligopólio, que tem o escopo de maximização dos lucros, necessitando ter um conhecimento apropriado de suas receitas e de seus custos. O preço é definido somente pela oferta, enquanto que na teoria marginalista, o preço é determinado pelo cruzamento entre demanda e oferta de mercado. 78 Unidade III • Concorrência Imperfeita Já a concorrência imperfeita pode ser definida como uma forma de mercado com as seguintes peculiaridades principais: — diversas organizações, produzindo um dado bem ou serviço; — cada organização produz um produto diferenciado, mas com substitutos próximos; — cada organização possui poder sobre os preços, uma vez que os produtos são diferenciados; — consumidor tem opções de acordo com sua preferência. A diferenciação dos produtos acontece por meio de: — características físicas; — embalagens; — promoção de vendas; — manutenção; — atendimento pós-venda etc. Visto que não existem restrições para o ingresso de empresas, em longo prazo há intenção somente para lucros normais, como em concorrências perfeitas. Os lucros extraordinários atraem em curto prazo novas companhias para o mercado, aumentando a oferta do produto, chegando a um ponto em que continuaram os lucros normais, quando então interromper a entrada de competidores. 5.3.4 Teoria dos Jogos A Teoria dos Jogos objetiva a análise de situações em que existe uma influência mútua dos agentes, em que as decisões de uma firma, um sujeito, ou governo influenciam e são influenciados pelas deliberações dos outros agentes ou jogadores. É a análise das decisões em circunstância interativa. A empresa em concorrência perfeita demonstra uma conduta baseada nos preços de mercado de produtos e insumos, sendo que essas informações não podem ser modificadas. No desempenho estratégico, o agente entende que possui a capacidade de comprometer variáveis importantes para sua determinação e que essas variáveis podem também ser afetadas pela decisão de outros agentes. Portanto, é possível caracterizar um jogo como um conjunto de normas em que estão presentes os seguintes elementos: • o conjunto de ações disponíveis para cada jogador; • as informações que são disponíveis para cada jogador; • os jogadores ou agentes econômicos; 79 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA • as informações que são disponíveis são relevantes ao resultado do jogo e os próprios resultados (payoffs). Uma das situações mais formidáveis quando se opera com jogo diz respeito à identificação dos resultados prováveis. O equilíbrio é a ideia de que cada companhia utilize táticas ótimas dadas as estratégias utilizadas pelo outro jogador. 5.3.5 Economia da informação Trabalha-se com a expectativa de que alguns agentes detêm informações mais que outros, dando a eles uma posição de destaque no mercado, algo que pode fazer que seja impossível achar uma condição de equilíbrio igual nos modelos convencionais. Todos os acordos econômicos são operados utilizando contratos que, formal ou informalmente, têm como escopo garantir que a transação prossiga, garantindo que os benefícios usufruam pelas duas partes contratantes. No entanto, existem circunstâncias nas quais a relação contratual em que uma delas possui informação privilegiada. Não notada pela outra parte, a não ser por meio do custo e tempo, essa informação sendo de suma importância para o resultado a transação. Esse fator é qualificado como problema de informação assimétrica, em que umadas partes se aproveita da transação em prejuízo à outra. A situação marcada como seleção antagônica, decorrente das informações assimétricas, é passível de ser considerada uma dificuldade pré-contratual, diferente do problema de risco moral que pode ser visto como um problema pós-contratual. Assim, tanto a Teoria dos Jogos quanto a Economia da Informação mantêm algumas hipóteses básicas da Teoria Neoclássica, do comportamento maximizador, em que o agente decide com o objetivo de maximizar suas metas e através do princípio da racionalidade. 5.3.6 Mark-up Os mark-up são as variantes de receita de vendas subtraindo-se os custos diretos de produção. A alíquota mark-up deve ser suficiente para assumir todos os cursos fixos e a margem de ganho desejada pela companhia. O nível de mark-up vai depender sobretudo da força dos oligopolistas de evitar o ingresso de novas organizações, o que vai depender do nível de monopólio de cada setor. Assim, quanto maior a capacidade do monopólio, mais restrita será a entrada de novas companhias e, consequentemente, maior a taxa de mark-up que as companhias oligopolistas podem receber. A demanda de um empreendimento pelos fatores de produção é uma demanda derivada, depende da demanda pelo produto dessa companhia. É possível que o mercado de fatores de produção atue tanto em concorrência monopolista perfeita, monopólio ou oligopólio quanto mercado de bens e serviços. Em geral, a regra para a empresa demandar fatores de produção é que a receita marginal deve ser propiciada pela compra, necessitando ser igual ao custo marginal para se ter esses fatores. Monopsônio/oligopsônio é o monopólio/oligopólio na aquisição de fatores de produção. Monopólio bilateral é um mercado onde um monopsonista, na compra de insumo, depara-se com um monopolista 80 Unidade III na negociação do insumo. O comprador exclusivo depara-se unicamente com um vendedor de insumo no mercado. Saiba mais Um bom exemplo para compreensão do tema é o filme A fraude, do diretor James Dearden (1998). Baseado em fatos reais, o filme conta a história de Nick Leeson, responsável pelas operações na bolsa de valores de Singapura do banco inglês Barings. Sozinho, ele conseguiu, devido a problemas pessoais, levar a instituição bancária à falência, em 1995. 6 FUNCIONAMENTO E ESTRUTURA DO MERCADO O mercado de capitais pode ser definido pelo conjunto de instituições, mercados, e ativos cujo objetivo é o de viabilizar a transferência de recursos financeiros entre tomadores, ou seja, companhias abertas e aplicadores (investidores). Essa transferência acontece através de operações financeiras que podem funcionar diretamente entre intermediários financeiros ou através de empresas e investidores. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) é quem regula as transações que acontecem no mercado de capitais, bem como seus participantes. As empresas de capital aberto precisam de financiamentos para realizar investimentos produtivos como: • aquisição de outras empresas; • inovação tecnológica; • construção de novas plantas industriais; • expansão da capacidade; • alongamento do prazo de suas dívidas. Os acionistas possuem, por outro lado, recursos financeiros excedentes, que necessitam ser investidos de forma a produzir rentabilidade e buscar valorização ao longo do tempo, colaborando para o acréscimo de capital de quem está investindo. Existem empresas de diversos tamanhos com necessidades financeiras variadas. Ao mesmo tempo, é possível que investidores apliquem com o intuito de obter retorno financeiro no curto, médio ou longo prazo, logicamente com diferentes níveis de risco. Buscando ajustar os diferentes interesses entre empresas e investidores, os acionistas recorrem aos intermediários financeiros, que desenvolvem o papel de colocar em contato os investidores e as corporações, propiciando a alocação eficiente dos recursos financeiros na economia. A competência dos intermediários financeiros é criar harmonia entre as necessidades dos investidores e as necessidades das companhias abertas. 81 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA Assim, uma empresa que quer captar recursos para investimentos, se almejar fazê-lo por meio do mercado de capitais, precisa buscar os intermediários financeiros que irão disseminar seus títulos, que poderão ser oferecidos à vários investidores, dando possibilidade de mobilização do montante de recursos solicitado pela empresa. Isso acontece com um intermediário financeiro que busca orientar a empresas quanto a melhor forma de financiamento, pois diversas práticas administrativas e jurídicas serão indispensáveis para a abertura do capital se a companhia optar pelo mercado de capitais. A primeira ação deve ser o registro de companhia aberta na junto à Comissão de Valores Mobiliários. Após a obtenção do registro, a organização pode emitir títulos representativos de suas ações de empréstimos tomados por meio de mercado de capitais, como notas comerciais (commercial papers) e debêntures. Outros intermediários financeiros, por sua vez, oferecem aos investidores os valores mobiliários dados pela companhia aberta. Esses intermediários organizam-se em consórcios, com o intuito de negociar todos os títulos ou valores mobiliários fornecidos pela organização. Inicialmente, a colocação desses títulos ou valores mobiliários ocorre no mercado primário, lugar em que as ações e/ou debêntures são negociadas pela primeira vez, e os recursos financeiros obtidos são direcionados para a relativa empresa. Ao final dessa etapa, os investidores que compraram esses valores mobiliários e títulos podem comercializá-los no mercado secundário, onde acontece a sua transação entre os investidores. A fim de promover a transação dos títulos no mercado secundário, foram criadas empresas que administram sistemas regulados, centralizados e seguros para a comercialização desses títulos. O papel básico dessas instituições é simplesmente promover a liquidez dos valores de emissão de companhias abertas a fim de possibilitar ao investidor que comprou os títulos vendê-los de forma segura e eficiente. Como exemplos, podemos citar as entidades administradoras do mercado de balcão organizado e as instituições das bolsas de valores. O desempenho nos mercados de balcão e nas bolsas de valores, organizado e não organizado, é limitado aos participantes do sistema de distribuição de valores mobiliários. Entre eles estão as distribuidoras e as instituições financeiras e sociedades corretoras devidamente autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil e pela CVM, que operam representando seus clientes, os investidores, comercializando debêntures e outros títulos e valores mobiliários emitidos pelas companhias abertas. As entidades do mercado de balcão organizado e as bolsas de valores têm o status de autorreguladores porque são responsáveis por definir várias regras relacionadas ao funcionamento dos mercados por elas gerenciados e à atuação dos intermediários que operam neles. Ao mesmo tempo, os mercados de balcão organizado e as bolsas de valores e são supervisionados pela CVM. 6.1 Capital de Giro (CG) ou Capital Circulante (CC) Capital de giro é composto basicamente por três importantes contas do ativo circulante: caixa, Contas a Receber e Estoque. Consiste no conjunto de recursos necessários para que uma organização desenvolva suas atividades e engloba desde aquisição de bens e matéria-prima até a contratação de pessoal. 82 Unidade III 6.1.1 Capital de Giro Líquido (CGL) ou Capital Circulante Líquido (CCL) Esse capital corresponde à diferença entre o Ativo Circulante e o Passivo Circulante. CGL ou CCL = AC – PC Em que: • CGL: Capital de Giro Líquido; • CCL: Capital Circulante Líquido; • AC: Ativo circulante; • PC: Passivo Circulante. Quadro 24 – Exemplo Ativo Circulante Passivo Circulante R$ 200.000,00 R$ 180.000,00 Realizável de Longo Prazo Exigível de Longo Prazo R$ 70.000,00 R$ 90.000,00 Ativo Permanente Passivo PermanenteR$ 150.000,00 R$ 105.000,00 De acordo com os valores acima indicado, o valor do Capital de Giro Líquido seria calculado da seguinte forma: CGL = AC – PC CGL= R$ 200.000,00 – R$ 180.000,00 CGL= R$ 20.000,00 Assim, o total de R$ 20.000,00 representa o Capital de Giro Líquido que o gestor tem a disposição para reinvestir na organização. Entretanto, o CCL pode apresentar-se negativo ou ainda nulo. É negativo quando o passivo não circulante somado com o patrimônio líquido que forma o passivo permanente não conseguem financiar as atividades de investimento da organização, tendo então que utilizar fundos de curto prazo (passivo circulante). E é nulo quando, na igualdade entre os prazos e valores e os valores, mostra que a empresa não utiliza recursos de longo prazo para financiar seus ativos circulantes. Suas atividades de curto prazo são financiadas por recursos de curto prazo. 83 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA 6.1.2 Alterações do Capital Circulante Líquido O quadro abaixo demonstra as principais transações que alteram o CCL. Quadro 25 – Transações que alteram o CCL Transações que elevam o CCL • Novos empréstimos e financiamentos de longo prazo; • aumento de capital por integralização de novas ações; • geração de lucro líquido; • reduções (venda) de ativos permanentes; • recebimentos de realizável a longo prazo. Transações que reduzem o CCL • Reduções (amortizações) nas dívidas de longo prazo; • reduções do patrimônio líquido através de ocorrência de prejuízos e compra das próprias ações da companhia, pagamentos de dividendos etc.; • aumentos de ativos permanentes (aquisições) com pagamentos à vista. Transações que não afetam o CCL • Pagamentos de dívidas de curto prazo reduzem o ativo circulante e passivo circulante no mesmo volume não alterando o CCL; • a aquisição de bens fixos através de financiamento de longo prazo. Os valores não transitam pelo circulante; • compras de estoques à vista reduzem e levam o ativo circulante no mesmo montante. 6.2 Ciclos operacionais O capital de giro, também conhecido como capital circulante, identifica os recursos que circulam várias vezes em determinado período. Um capital alocado no disponível pode ser aplicado inicialmente em estoque, assumindo posteriormente a venda, realizado a forma de realizável ou novamente disponível. O ciclo operacional indica o tempo decorrido entre o momento em que a empresa adquire as matérias-primas ou mercadorias e o momento em que recebe o dinheiro relativo às vendas. Trata-se, portanto, de um período (médio) em que são investidos recursos nas operações sem que ocorram as entradas de caixa correspondentes. Parte desse capital de giro é financiada pelos fornecedores que concederam prazo para pagamento. CO = PMRE (Prazo de Renovação Estoque) + PMR (Prazo Médio para Recebimento) O ciclo operacional completo compreende: • PMEMP = prazo médio de estocagem da matéria-prima; • PMF = prazo médio de fabricação dos produtos; • PMEPT/PMV = prazo médio de estocagem dos produtos terminados/prazo médio de venda; • PMC = prazo médio de cobrança; • PMPF = prazo médio para pagamento dos fornecedores. 84 Unidade III Assim, o ciclo operacional apresenta várias fases operacionais que passam pela aquisição da matéria- prima, processamento e transformação em produto, estocagem, comercialização, venda do produto e recebimento. O Ciclo Operacional Total é dado pela fórmula: COT = PMEMP + PMF + PMV + PMC O ciclo operacional total é composto por todas a fase operacionais da empresa, desde o momento da aquisição da matéria-prima até a conversão da matéria-prima em dinheiro. 6.2.1 Ciclo econômico É o período entre a entrada das compras e as vendas correspondentes, medido pelo Prazo Médio de Renovação de Estoques (PMRE). CE = PMEMP + PMF + PMV 6.2.2 Ciclo Financeiro (CF) ou Ciclo de Caixa É o período entre o pagamento aos fornecedores pelas mercadorias adquiridas e o recebimento pelas vendas efetuadas. Nesse período, a empresa necessita ou não de financiamento complementar do seu ciclo operacional. Quanto maior o ciclo financeiro, mais recursos próprios e de terceiros (exceto fornecedores) estão temporariamente aplicados nas operações, provocando custos financeiros e afetando a rentabilidade (despesas financeiras = redução no lucro). CF = (PMEMP + PMV) + PMPF Normalmente, o ciclo financeiro é financiado pelo capital próprio ou por recursos de terceiros onerosos. • Gerenciamento do ciclo financeiro Como o ciclo financeiro é uma importante fase dentro do ciclo operacional, é importante que o gestor acompanhe-o de maneira minuciosa a fim de não comprometer todas as outras fases do processo. Assim, o gestor pode utilizar algumas estratégias como: a) girar com bastante intensidade os estoques, reduzindo o máximo os investimentos; b) diminuir o prazo para recebimento dos clientes; c) negociar o aumento do prazo para pagamento aos fornecedores; 85 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA d) gerenciar o processo de produção para diminuir os custos; e) controlar o contas a receber para evitar a inadimplência. • Praticando Admita uma empresa industrial que tem apresentado, ao final dos exercícios de x6 e x7, o seguintes prazos operacionais: Quadro 26 – Exemplo ano x6 ano x7 PME ( Matéria-prima) 15 dias 20 dias PMF 10 dias 15 dias PMV 20 dias 30 dias PMC 30 dias 30 dias Ciclo Operacional 75 dias 95 dias PMPF 20 dias 50 dias Ciclo Financeiro 55 dias 45 dias No ano de x6, a empresa tardava 75 dias para completar todo o seu ciclo operacional, cobrindo o período de compra da matéria-prima (e insumos) até a cobrança da venda do produto acabado. Esse período aumentou no ano seguinte, passando para 95 dias. As causas desse aumento são explicadas no processo de estocagem-produção-vendas, que se apresentou 20 dias mais longo do ano de x7. Apesar dessa elevação dos prazos operacionais, as melhores condições de pagamento concedidas pelos fornecedores permitiram uma redução do ciclo financeiro em dez dias (55 dias em x6 para 45 dias em x7). Em outras palavras, maiores investimentos nos ativos operacionais foram pensados, com folga, pelos prazos mais longos concedidos pelos fornecedores. É importante registrar que o aumento do ciclo operacional pode indicar maior dificuldade da empresa em vender seus produtos ou maior morosidade no processo de fabricação. Como o prazo de cobrança (PMC) manteve-se inalterado em 30 dias no exemplo ilustrativo, destacam se, em princípio, possíveis problemas de cobrança (inadimplência). O analista financeiro não deve deixar que esses possíveis problemas operacionais sejam encobertos pela forte elevação verificada nos prazos de pagamento a fornecedores. Seu objetivo deve ser o de identificar as causas que determinaram esse aumento nos prazos operacionais. As expressões de cálculo de cada fase operacional são apresentadas no quadro a seguir. Esses indicadores são dinâmicos e permitem melhor avaliação do desempenho operacional da empresa. 86 Unidade III Quadro 27 – Expressões de cálculo Índice Fórmula O que identifica PMEMP [Saldo médio de materiais/consumo total] x 360 Prazo médio (em dias) em que os materiais permanecem estocados a espera de ingressar no processo de produção. PMF Saldo médio dos produtos em [elaboração/custo de produção anual] x 360 Prazo médio (em dias) que a empresa despendeu em fabricar o produto final. PMV [Valor médio dos produtos acabados/ custo dos produtos vendidos] x 360 Prazo médio (em dias) que o produto acabado permanece estocados a espera de ser vendido, isto é, prazo médio de estocagem do produto acabado. Prazo médio de estocagem total (PMAT) PMEMP + PMF+PMV Prazo médio (em dias) em que os estoques totais (materiais, produtos e transformação de produtos acabados) permanecem armazenados à espera de serem consumidos, produzidos e vendidos. Se for impossível calcular os prazos para cada fase operacional, utiliza- se esse índice com valor aproximado dos 3 primeiros apresentados. Prazomédio de armazenagem de mercadoria (PMA) [Custo médio dos estoques de mercadorias/custo total da mercadoria vendia] x 360 Prazo médio (em dias), para empresas comerciais, em que as mercadorias permanecem armazenadas à espera de serem vendidas. De outra forma, é o prazo médio de venda de empresas comerciais. PMC [Valor médio das duplicatas a receber/vendas anuais a prazo] x 360 Prazo médio (em dias) em que a empresa recebe as vendas realizadas a prazo. PMPF [Valor médio das duplicatas a pagar/compras anuais a prazo] x 360 Prazo médio (em dias) em que a empresa paga seus fornecedores Vamos ver as informações dos relatórios financeiros de uma empresa comercial, referentes aos dois últimos exercícios, para cálculo de seus índices operacionais: Quadro 28 – Exemplo Ano x6 Ano x7 Duplicatas a Receber R$ 25.000 R$ 30.000 Estoque de Mercadorias R$ 45.000 R$ 65.000 Fornecedores a Pagar R$ 24.000 R$ 28.000 Custo da Mercadoria Vendida (CMV) R$ 330.000 Venda Anual (total) R$ 900.000 Duplicatas a Receber R$ 30.000 R$ 60.000 Venda Anual a Prazo (média) 80% • Calculo do Ciclo Operacional PMAM significa prazo médio de armazenagem (estocagem) de mercadoria. Sua fórmula é: PMAM = (R$ 65.000 + 45.000/2) / R$ 330.000 X 360 = 60 dias No nosso exemplo, as mercadorias tardam, em média, 60 dias para serem vendidas. Ou seja, o PMAM revela que as mercadorias permanecem, em média, dois meses estocadas antes de serem negociadas. 87 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA Ao gastar R$ 330.000 nas mercadorias e manter um estoque médio de mais de R$ 55.000, significa que a empresa gerou seus estoques 6,0 X no exercício, ou seja: Giro dos estoques = 360 / PMAM = 360 / 20 = 6 vezes O giro dos estoques é o inverso do prazo médio de estocagem. Indica quantas vezes os estoques (mercadorias) foram comprados e vendidos no exercício, ou seja, quantas vezes ele girou: PMC significa prazo médio de cobrança. A fórmula para se chegar a ele é: PMC = [(R$ 30.000 + 50.000 / 2) / 80% X 900.000] X 360 = 20 dias Giro das duplicatas a receber = 360/20 = 18 vezes. Ou seja, os clientes da empresa tardam, em média, 20 dias para pagar suas compras a prazo, determinando giro das duplicatas a receber de 18 vezes no exercício. O ciclo operacional da empresa atinge 80 dias, ou seja: Ciclo operacional = PMAM + PMC. Ciclo Operacional = 60 dias + 20 dias = 80 dias. A empresa gasta, em média, 80 dias desde a aquisição das mercadorias até o recebimento das vendas realizadas. • Calculo do Ciclo financeiro (caixa) (24.000 + 28.000 / 2 / 330.000) X 360 = 28,4 dias. 6.2.3 Ciclo Operacional e Ciclo Financeiro Uma empresa revela que o período médio ponderado de pagamento a fornecedores de matérias-primas e outros insumos, como mão de obra, é igual a 28 dias. A empresa gira seus estoques cinco vezes no ano, e seus clientes pagam as duplicatas de um prazo médio de 35 dias. Ciclo Operacional = Prazo Médio dos Estoques + Prazo Médio de Cobrança PME = 360 dias / 5 = 72 dias Ciclo Operacional = 72 dias + 35 dias = 107 dias O ciclo operacional indica o intervalo de tempo entre aquisição e (pedido) das matérias-primas até o recebimento da venda do produto acabado, que resulta em 107 dias. 88 Unidade III Ciclo de Caixa (Financiamento) = Ciclo Operacional – Prazo Médio de Pagamento Ciclo de caixa = 107 – 28 = 79. Este é o tempo que leva desde o pagamento das matérias-primas até o momento do recebimento das vendas. A empresa necessita de recursos em seu ciclo de caixa para financiar seu ciclo operacional. 6.3 Necessidade de Capital de Giro Vimos que o capital de giro representa o saldo correspondente à diferença entre os saldos das contas do ativo e passivo circulantes, e a necessidade de capital de giro, à diferença entre o total do ativo circulante menos o total do passivo circulante. O Efeito Tesoura O empresário, em geral, é bastante intuitivo com relação aos riscos envolvendo seu negócio. Em todas as suas decisões há sempre, em algum grau, considerações sobre as probabilidades de acerto ou de erro de seus resultados. Logicamente, os resultados esperados são traduzidos pelo lucro das operações em cada período medido, que, em última análise, representa o autofinanciamento da sobrevivência de sua empresa. A relação do lucro com os investimentos realizados dá a medida do retorno pelo qual o empresário assumiu tantos riscos. Tanto em termos absolutos quanto relativos, o retorno guarda relação direta com os riscos assumidos. No sentido mais amplo, risco pode ser definido como a possibilidade de perda financeira. Toda decisão, portanto, exige do empresário considerações sobre o risco esperado para um retorno esperado. O risco do negócio pode ser definido como a incapacidade para cobrir os custos operacionais. Corre-se o risco financeiro quando o lucro não é suficiente para cobrir os custos financeiros. A alavancagem combinada pode ser considerada como o impacto total dos custos fixos na estrutura operacional e financeira da empresa. Nesse sentido, toda a empresa é alavancada em algum grau e disso dependem os níveis de risco e retorno para seus proprietários. É interessante notar que muitos empresários que se declaram avessos ao risco e que são caracteristicamente conservadores e defensivos em suas decisões conduzem os seus negócios através da constituição e manutenção de pesadas estruturas organizacionais, com elevada incidência de custos fixos. Sua aversão é, na verdade, apenas ao risco financeiro. Isso é explicado porque esses mesmos empresários costumam compensar quedas de vendas com uma substancial redução de custos fixos, principalmente com expressivos cortes de pessoal. E muitas vezes chamam isso de downsizing. Uma das armadilhas mais intrigantes atende pelo nome de “efeito tesoura” e teve seu conceito desenvolvido por Michel Fleuriet e equipe, publicado no livro A 89 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA dinâmica financeira das empresas brasileiras, em coedição da Consultoria Editorial Ltda. e da Fundação Dom Cabral, Belo Horizonte, 1980. O conceito de “efeito tesoura” traz em seu bojo outros conceitos revolucionários para uma adequada sistematização da alavancagem financeira de uma empresa, principalmente levando-se em conta os empréstimos de curto prazo. Fleuriet acrescentou ao clássico conceito de Capital de Giro Líquido (CGL) os conceitos de Necessidade de Capital de Giro (NCG) e Saldo de Tesouraria (T). Para tanto, reclassificou os grupos de contas do passivo (fontes) e do ativo (aplicações) conforme a realidade dinâmica das empresas, em que as contas relacionam-se ao mesmo tempo, o que lhes confere estado de permanente movimentação. Algumas contas, quando analisadas isoladamente ou em relação ao conjunto de outras contas, apresentam movimentação tão lenta que podem ser consideradas como “permanentes ou não cíclicas”. Outras, em contrapartida, apresentam movimento “contínuo e cíclico”, bem de acordo com o ciclo operacional da empresa. Existem outras, finalmente, que apresentam movimento “descontínuo ou errático”, em nada ou quase nada se relacionando com o ciclo operacional. No sentido financeiro clássico, o Capital de Giro Líquido (CGL) define-se como: CGL = ativo circulante – passivo circulante. Já a Necessidade de Capital de Giro (NCG) é definida pela expressão: NCG = ativo cíclico – passivo cíclico. Na maioria das empresas, as saídas de caixa ocorrem antes das entradas de caixa. Essa situação cria uma necessidade de aplicação permanente de fundos, que se evidencia no balanço por uma diferença positiva entre o valor das contas cíclicas do ativo e das contas do passivo. Essa diferença entre as contas cíclicas é que se denomina NCG. Importante ressaltar que a Necessidade de Capital de Giro (NCG) depende, basicamente, da natureza e do nível de atividades dos negócios da empresa e, portanto, é muito sensível às modificações que ocorrem no ambiente econômico. A natureza dos negócios da empresa determina seu ciclo financeiro enquanto o nível deatividade é função das vendas. Em alguns raros casos, é possível que a NCG seja negativa. As saídas de caixa, nesses casos, ocorrem depois das entradas de caixa. O passivo cíclico é maior do que o ativo cíclico, tornando-se uma fonte de fundos para a empresa. Esse, pelo menos, era o caso de muitos supermercados, que recebiam o valor de suas vendas antes de ter que pagar a seus fornecedores de mercadorias. O Saldo de Tesouraria (T) é definido como a diferença entre o ativo e o passivo erráticos, conforme expressão a seguir: T = ativo errático – passivo errático. 90 Unidade III Se o Capital de Giro for insuficiente para financiar a Necessidade de Capital de Giro, o Saldo de Tesouraria será negativo, com o passivo errático maior do que o ativo errático. Essa condição indica que a empresa está financiando parte de sua Necessidade de Capital de Giro e/ou ativo permanente com fundos de curto prazo, aumentando, portanto, seu risco de insolvência. Por outro lado, quando T é positivo, a empresa dispõe de fundos de curto prazo que poderão ser aplicados em títulos de liquidez imediata. No entanto, um Saldo de Tesouraria positivo em níveis elevados não significa, necessariamente, uma condição desejável para a empresa. Na verdade, isto pode significar que seus dirigentes não estão aproveitando as oportunidades de investimento propiciadas por sua estrutura financeira. Sinal de que a empresa ainda não tem uma estratégia dinâmica de investimentos. É de suma importância acompanhar a evolução do Saldo de Tesouraria, a fim de evitar que permaneça constantemente negativo e crescente. Caso o autofinanciamento (lucros) de uma empresa não seja suficiente para financiar o aumento de sua Necessidade de Capital de Giro, seus dirigentes serão forçados a recorrer a fundos externos, que podem ser empréstimos de curto ou longo prazos e/ou aumento de capital social em dinheiro. Caso esses fundos não possam ser obtidos, essa empresa terá sua própria sobrevivência ameaçada. A Necessidade de Capital de Giro, como já vimos, é função do nível de atividade de uma empresa. Seu aumento tanto pode ocorrer em períodos de rápido crescimento como também em períodos de queda nas vendas. O Saldo de Tesouraria torna-se cada vez mais negativo com o crescimento das vendas, caso a empresa não consiga que seu autofinanciamento cresça nas mesmas proporções do seu crescimento da Necessidade de Capital de Giro. Esse crescimento negativo do Saldo de Tesouraria é que Fleuriet denominou “efeito tesoura”. O “efeito tesoura” ocorre quando a empresa financia a maior parte da NCG através de créditos de curto prazo. Nesse caso, o Saldo de Tesouraria (T) apresenta-se negativo e crescendo, em valor absoluto, proporcionalmente mais do que a NCG. ANTUNES, 2005 (adaptado). Para análise e reflexão: O “efeito tesoura”, conforme exposto por Fleuriet, é uma visão bem moderna da administração financeira. No texto acima, comenta-se que: “a Necessidade de Capital de Giro (NCG) depende, basicamente, da natureza e do nível de atividades dos negócios da empresa e, portanto, é muito sensível às modificações que ocorrem no ambiente econômico. A natureza dos negócios da empresa determina seu ciclo financeiro enquanto o nível de atividade é função das vendas.” Isso é razoável? Sendo assim, proponho a você uma atividade: 91 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA Lembre-se do último alimento que você consumiu e que lhe deu grande satisfação? Foi um doce, um salgado? E onde você consumiu esse bem? Em um restaurante, em sua casa? Agora, tente imaginar como o “efeito tesoura” poderia ocorrer na empresa que produz ou fabrica esse produto! Observação O “efeito tesoura” é um ótimo assunto a tratar em seu PIM! 6.3.1 O retorno realizável do acionista O detentor de uma ação provavelmente tem a expectativa de receber seu retorno através de valorizações no preço da ação, ou sob a forma de pagamentos periódicos de dividendos. O valor de uma ação no mercado vai refletir um valor de dividendos futuros esperados assim como de dividendos correntes; o patrimônio do acionista na organização é medido pelo valor de mercado de suas ações. Ou seja, se um acionista numa organização pretender liquidar sua participação na empresa, venderá sua ação pelo valor atual no mercado, uma vez que não é o lucro que reflete a riqueza do acionista dentro da organização, mas sim o valor de mercado da ação. Eis porque mais uma vez o papel do gestor é o de maximizar as riquezas dos acionistas. Vamos ver esse conceito através de um exemplo: Quatro anos atrás, o Sr. Haroldo comprou uma ação da Companhia Alfa e uma ação da Companhia Beta, cada uma ao preço de $ 100. Ambas as Companhias operam no mesmo ramo de negócio. Embora seus lucros tenham diferido durante o período de quatro anos, cada uma das empresas pagou um dividendo anual de $ 1 por ação. A Alfa obteve um lucro anual de $ 2 por ação, ao passo que o lucro anual da Beta foi $ 3 por ação. Atribui- se a diferença nos lucros ao fato de que a Alfa despendeu uma grande importância para desenvolver um produto inovador, portanto baixando seus lucros. A ação da Alfa está atualmente sendo vendida por $ 130, enquanto a da Beta está sendo negociada por $ 110. Esta situação não é incomum. Reflete o fato de que, apesar dos maiores lucros da Beta, a ação da Alfa tem preço maior. O maior preço das ações da Alfa pode ser atribuído à expectativa de que a venda bem-sucedida do novo produto gerará maiores lucros futuros, o que mais do que compensará os baixos lucros experimentados durante o período de desenvolvimento. A riqueza do Sr. Haroldo na Companhia Alfa é maior do que sua riqueza na Beta, apesar dos lucros da Beta serem maiores. (GITMAN, 1997, p. 8-9). Com este exemplo, fica claro que não existe uma relação entre a maximização do lucro e a maximização da riqueza. A condição financeira dos acionistas numa empresa está ligada ao valor pelo qual a ação pode ser negociada. Assim, o administrador financeiro deverá tentar maximizar a riqueza dos proprietários referenciada no preço da ação. 92 Unidade III 6.3.2 Perspectiva de longo prazo A maximização da riqueza considera o longo prazo, já a maximização do lucro é uma abordagem de curto prazo. Do exemplo anterior, deve-se depreender que o maior preço da ação da companhia Alfa resultou do fato de que suas decisões de curto prazo relacionadas com o desenvolvimento de novo produto, embora baixando os lucros em curto prazo, produzam maiores retornos futuros. Uma empresa que deseja maximizar lucros poderia comprar maquinaria de baixa qualidade e usar materiais de baixa qualidade, ao mesmo tempo em que faria um tremendo esforço para vender seus produtos por um preço que rendesse um elevado lucro por unidade. Essa estratégia de curto prazo poderia resultar em lucros elevados para o corrente ano; porém, em anos subsequentes, os lucros declinariam significativamente, pois os compradores constatariam a baixa qualidade do produto e o alto custo de manutenção associado à maquinaria de baixa qualidade. O impacto de vendas decrescentes e custos crescentes tenderiam a reduzir os lucros em longo prazo e, se não houvesse cuidado, poderia resultar na eventual falência da empresa. As consequências potenciais de maximização do lucro em curto prazo provavelmente estejam refletidas no preço corrente da ação, que talvez seja menor do que se a empresa tivesse perseguindo uma estratégia de prazo mais longo. 6.3.3 Época de ocorrência dos retornos A abordagem de maximização do lucro não consegue refletir diferenças na época de ocorrência de retornos, ao passo que a maximização da riqueza tende a considerar tais diferenças. O objetivo de maximização do lucro dá maior importância a um investimento que ofereça os maiores retornos totais, enquanto a abordagem da maximização da riqueza considera explicitamente a época de ocorrência dos retornos e seu impacto no preço da ação. • Risco Enquanto a maximização das riquezas leva em consideraçãoo risco, a maximização do lucro não. Assim, uma questão básica na administração financeira é a relação que existe entre o risco e o retorno: quanto maior o risco, maior tenderá ser o retorno. Isso os acionistas têm claro, eles esperam perceber maiores retornos nos investimento de maior risco. Os gestores financeiros precisam, portanto, levar em conta o risco ao analisar potenciais investimentos. • Distribuição de retornos O uso da meta de maximizar o lucro não permite considerar que os acionistas desejem receber uma parte dos retornos da organização em forma de dividendos periódicos. Não havendo nenhuma preferência por dividendos, a empresa poderia maximizar lucros de um período a outro, reinvestindo todos os lucros, utilizando-os para a aquisição de novos ativos que aumentarão os lucros futuros. A tática da maximização da riqueza leva em conta o fato de que muitos proprietários dão preferência a receber o dividendo regular, independente do seu valor. Os administradores financeiros precisam levar em consideração que a política de dividendos da organização influencia a atratividade de sua ação para cada característica de investidores. 93 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA Esse efeito cliente é usado para esclarecer o efeito de uma política de dividendos com relação ao valor de mercado de ação. Acredita-se que, se o retorno que os proprietários desejam receber for contemplado, isto acarretará uma consequência positiva sobre o valor das ações. Isso porque a riqueza de cada acionista, em qualquer momento, é similar ao preço de mercado de todos os seus ativos, diminuído o valor de suas obrigações, um acréscimo no preço de mercado da ação da organização deve provocar um aumento na riqueza do acionista. Uma organização com interesse em maximizar a riqueza do proprietário poderá pagar-lhe dividendos dentro de uma base regular, já uma organização que tem o intuito de maximizar lucros pode optar por não pagar dividendos. Contudo, os acionistas certamente optariam por um aumento na sua riqueza em longo prazo em vez de optar pela geração de um fluxo crescente de lucros, sem ter que se preocupar com o valor de mercado das suas ações. O preço da ação mostra de maneira explícita o retorno realizável dos acionistas, leva em consideração as perspectivas de longo prazo da companhia, reflete diferenças no momento de ocorrência dos retornos, reconhece o risco e considera o valor da distribuição de retornos. A maximização da riqueza refletida no preço da ação é levada em consideração como meta da Administração Financeira. A maximização do lucro pode fazer parte de uma tática de maximizar as riquezas. Os dois escopos podem ser alcançados de maneira simultânea, mas não se deve jamais admitir que a maximização dos lucros ofusque as metas mais amplas de maximização da riqueza. 6.3.4 Recursos não onerosos Recursos onerosos são recursos de terceiros, tipicamente créditos prestados por fornecedores. Diversos novos negócios são iniciados sem nenhum financiamento dos fornecedores. No momento em que as coisas vão prosperando e os gestores vão honrando com seus compromissos de maneira regular, os fornecedores vão abrindo “limites de crédito” para a organização. Dessa forma, uma parte dos recursos próprios podem ser trocados por crédito dos fornecedores. Esses créditos possuem o benefício de, no limite dos prazos habituais de venda do mercado, não ocorrer juros ou ônus. Porém, têm uma desvantagem em comparação com os recursos próprios: têm limite certo para a devolução. No caso de empresas comerciais, essa é uma respeitável fonte de recursos. Outra fonte de recursos são os empréstimos ou financiamentos comumente concedidos por instituições financeiras. Aqui se encontra o maior risco aos negócios. Os recursos por empréstimos possuem duas peculiaridades que aumentam o risco da companhia: têm prazo certo para a devolução e ordenam o pagamento de acréscimos (juros). Assim, tomando recursos por empréstimo, o gestor deve aplicá-los em algo que vá gerar novos negócios, o que, por sua vez, gerará novos recursos até o instante de restituição do empréstimo e em quantia superior aos contratados, pois terá de quitar inclusive os juros. Para minimizar o risco do negócio, o gestor deve buscar empréstimos que possuam o prazo para evolução superior ao prazo de conversão de caixa, que é o prazo para retorno dos investimentos. 94 Unidade III Saiba mais Assista ao filme Homens de honra, de George Tillman Jr (2000). O filme conta a história de Carl Brashear, vindo de uma humilde família negra início dos anos 40. Como adorava mergulhar, alistou-se na Marinha esperando tornar-se um mergulhador. Inicialmente Carl trabalha como cozinheiro, que era uma das poucas tarefas permitidas a um negro na época, mas, mesmo com muitas adversidades, o jovem não desiste do seu sonho. Planejamento e perseverança são conceitos fundamentais para atingir o sucesso. 6.4 Planejamento financeiro O ambiente empresarial está em constante modificação, pois trata-se de um ambiente de competição. Existem informações sendo transmitidas em uma velocidade extraordinária, mas isso não quer dizer necessariamente o entendimento da situação econômica e seus desdobramentos em negócios. No clima organizacional, seu desempenho é influenciado por diversos fatores, acontecendo o mesmo nas empresas familiares. Com isso, o planejamento financeiro é importante para o desempenho da organização, tornando-se um instrumento vital para seu crescimento. As mudanças polarizando expectativas, a rapidez com que as coisas acontecem e mudam, tornam o contexto menos imprevisível. As empresas, bem-sucedidas ou não, apresentam um quadro de incerteza quanto ao que vem no futuro, permanecendo num cenário de necessidades e expectativas, uma vez que atuam no mesmo espaço socioeconômico, lidando com impactos dos mesmos fatores estruturais ou de variáveis de conjuntura. No entanto, embora todas possam dividir as situações, detêm condições diversas de reagir, evidenciando diferenças expressivas de comportamento. É possível levantar por meio de pesquisa por amostragem parte dessas condições, enquanto outras, que mostram a capacidade de a empresa superar situações de mercado a que está contida, precisam, para serem notadas e levantadas, de um acompanhamento das citadas condições e ações da organização delas. Nesse panorama competitivo globalizado na atualidade, as empresas possuem vasta responsabilidade e objetivos, destacando sua capacidade de mobilizar e atrair os recursos direcionando investimentos ao desenvolvimento socioeconômico do meio em que estão inseridas. As falhas da relação das variáveis do mundo econômico-financeiro vêm provocando imperfeições sérias no processo de tomada de decisão do ponto de vista empresarial, muitas vezes provocando resultados desastrosos. O panorama das organizações muda de maneira constante. De acordo com Drucker (1999), a globalização, em suas últimas consequências, traz consigo efeitos muito fortes sobre as organizações: terceirização, descentralização, atuação em pontos geográficos distantes, diminuição de níveis hierárquicos e vínculos de trabalho muito diferentes são um pouco dos fatores dinâmicos que obrigam as organizações a cuidarem dos seus verdadeiros ativos reais com muito mais comprometimento no 95 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA futuro. É por essas causas principais que, atualmente, gerenciar de maneira correta as capacidades existentes é de suma importância para o desempenho da organização. O problema e a dinâmica da sobrevivência determinam que as companhias entendam, aceitam e introduzam novas tecnologias nas áreas de marketing das técnicas contábeis e financeiras. Quando se mergulha no estudo das empresas, nota-se uma estrutura complicada de relações diferenciadas e dinâmicas. Ainda que as informações quantitativas mostrem-se necessárias para a comparação de certos aspectos, precisa-se igualmente buscar informações que complementam do ponto deanálise qualitativa e que exigem estudos minuciosos. O anseio de qualquer investimento econômico é o de maximizar as riquezas dos proprietários. Num ambiente de profundas modificações, apenas permanecerão as organizações que souberem preparar-se para o futuro. O aprendizado contínuo dentro da organização é tanto o impulso quanto o motor que leva à mudança. Como impulso para a mudança, aprendizado quer dizer analisar o ambiente para colher oportunidades. É perceber mudanças que ameaçam aumentar a distância entre as exigências ambientais e o fundamento atual de uma empresa. Através do exemplo a seguir, vamos ver como o planejamento financeiro de longo prazo é importante. A operadora e franqueadora dos restaurantes Boston Market foi uma das grandes histórias de sucesso no começo dos anos de 1990. A empresa adicionou restaurantes a uma taxa incrível resultando num acréscimo nas vendas de $ 42,5 milhões em 1993 (o primeiro ano em que ela se tornou uma corporação negociada publicamente) para $ 462,4 milhões em 1997, numa taxa de crescimento média de 82% ao ano. Infelizmente, a receita da empresa para o crescimento foi revelada como um desastre em 1998 porque a empresa crescia muito rápido para manter a qualidade que os seus clientes esperavam. Ainda mais, a Boston Chicken fez empréstimos aos seus franqueadores para construírem lojas, mas as lojas deparavam-se progressivamente com dificuldades financeiras por causa do aumento da concorrência. Como resultado, o nível total de dívidas no sistema tornou-se muito grande para suportar, e a empresa perdeu o jogo de asas de galinha para seus credores. Efetivamente faltando de dinheiro, a empresa foi entregue formalmente à falência em outubro de 1998 e fechou 178 das suas 1.143 lojas. A companhia não emergiu da falência até 2000, quando ela foi adquirida pelo McDonald’s (BERTOLO, 2012). O caso exemplificado não é único. Frequentemente empresas que crescem a um ritmo fenomenal deparam-se com problemas de fluxo de caixa e subsequentemente dificuldades financeiras. Em outras palavras, é literalmente possível “crescer quebrado”. O planejamento financeiro estabelece um guia para mudança e crescimento de uma empresa. Ele normalmente focaliza no que é importante. Isto significa que ele está envolvido com os elementos principais das políticas de investimento e financeiras de uma empresa sem examinar os componentes individuais daquelas políticas em detalhes. 96 Unidade III O planejamento financeiro estabelece o modo pelo qual os objetivos financeiros podem ser alcançados. Um plano financeiro é, portanto, uma declaração do que deve ser feito no futuro. Em sua maioria, as decisões numa empresa demoram bastante para ser implantadas. Numa situação de incerteza, devem ser analisadas com grande antecedência. Definindo os planos financeiros e orçamentos, o administrador fornece roteiros para atingir objetivos da empresa. Além disso, esses instrumentos oferecem uma estrutura para coordenar as diversas atividades da empresa e atuam como mecanismos de controle, estabelecendo um padrão de desempenho contra o qual é possível avaliar os eventos reais. Os modelos gerenciais mais adequados aos dias de hoje já vêm sendo utilizados por grandes empresas e caracterizam-se, na maioria das vezes, pela prática do planejamento de longo prazo, que permite fixar realisticamente os objetivos da empresa e, ainda, traçar as grandes linhas da estratégia que conduz ao alcance de tais objetivos. Além disso, implicam, também, a elaboração de orçamentos que, na prática, constituem um verdadeiro quadro de referências para o futuro imediato, em termos dos custos e proventos a atingir. Finalmente, contemplam controles gerenciais que permitem, de forma confiável, apurar os desvios (diferenças) entre o que a empresa se propõe alcançar e os resultados efetivamente obtidos. O planejamento financeiro é desenvolvido fundamentalmente por meio de projeções, como estimativa mais aproximada possível da posição econômico-financeira esperada. Compreende a programação avançada de todos os planos da administração financeira e a integração e coordenação desses planos com os planos operacionais de todas as áreas da empresa. Trata-se de uma forma de garantir que os objetivos e planos elaborados em relação a áreas específicas de operação da empresa sejam viáveis e internamente coerentes. O fato de o planejamento obrigar a administração a refletir sobre os objetivos e fixar prioridades talvez seja o mais importante resultado do processo. No desenvolvimento de um plano, deve-se enunciar explicitamente o ambiente econômico em que a empresa espera viver durante o período por ele coberto. Em curto prazo, o plano financeiro preocupa-se principalmente com a análise de decisões que afetam os ativos e passivos circulantes. O uso eficiente de um plano financeiro está estreitamente associado com a aquisição eficiente de fundos e seu uso adequado está o planejamento da função financeira. O planejamento financeiro ajuda a garantir a disponibilidade de fundos suficientes quando necessários, informa com antecedência as necessidades de fundos de maneira que as negociações sejam eficientes e aumentem as possibilidades de rendimento. Em sua maioria, os modelos de planejamento financeiro exigem que seu usuário especifique algumas hipóteses a respeito do futuro. Os modelos podem ser muito diferentes em termos de complexidade, mas quase todos possuem previsão de vendas, também conhecido como elemento gerador, projeções de balanço, demonstração de resultado e fluxo de caixa, necessidades de ativos, necessidades de financiamentos e premissas econômicas. O futuro é, por definição, desconhecido. A empresa, mediante ao planejamento financeiro, poderá ter diferentes oportunidades de desenvolvimento, além da possibilidade de analisar e comparar diversos cenários. Uma das finalidades do planejamento financeiro é evitar surpresas e desenvolver planos alternativos de providências a serem tomadas caso ocorram imprevistos. 97 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA Para Alfredo de Oliveira Roxo e Marcos Poggi de Araújo, O objetivo precípuo perseguido numa projeção financeira não é acertar com precisão o valor futuro da variável projetada; antes, o verdadeiro propósito dos instrumentos de análise prospectiva é fornecer elementos válidos de convicção para a tomada de decisão, no momento em que se tem que decidir (ROXO; ARAÚJO, 1985, p. 71). Nesse sentido, de acordo com Teló (2001), se planejar é estabelecer com antecedência as opções a serem executadas, justifica-se a elaboração de orçamentos que devem resultar em benefícios definidos e tangíveis, diretamente relacionados com as funções básicas da administração. Um programa orçamentário apropriadamente formulado e executado possui um longo caminho a seguir até a realização das funções básicas de planejamento e controle. O plano financeiro é uma tentativa de quantificar os resultados financeiros prováveis da agregação de objetivos, estratégias, planos e políticas da administração para um período específico, partindo, portanto, de um planejamento orçamentário. Se as previsões e estimativas indicarem que os níveis de desempenhos considerados desejáveis não poderão ser alcançados devido a limitações de recursos, então será preciso examinar a possibilidade de apelar para outras fontes de recursos ou rever os planos e orçamentos de desempenho para refletir o que poderá ser conseguido com os meios disponíveis. Alguns dos problemas mais complicados em toda a área de orçamento de capital são aqueles que lidam com estimação de riscos e preferência de risco. Por causa das dificuldades de prever e tornar explícitas as preferências, os administradores têm contado com maneiras práticas e grosseiras de proceder ou deixado o manejo desses problemas para as regiões implícitas da mente – julgamento, pressentimento, intuição e instinto. A avaliação da magnitude, da distribuição no tempo e do risco dos fluxos de caixa futuros éa essência do orçamento de capital. Na verdade, sempre que se avalia uma decisão numa empresa, a magnitude, a distribuição temporal e o risco dos fluxos de caixa representarão, de longe, as coisas mais importantes a serem consideradas. A importância dessas decisões requer um processo específico para determinar onde, quando e quanto investir. Este processo está compreendido no orçamento de capital, cujo escopo é a seleção de um conjunto de investimentos que seja vantajoso em termos de retorno e risco. Ainda de acordo com Teló (2001), a administração do capital de giro é uma atividade diária que visa a assegurar que a empresa tenha recursos suficientes para continuar suas operações e evitar interrupções muito caras. Em qualquer tipo de empresa, é preciso aprofundar-se no acompanhamento e na análise de capital de giro, que é um princípio básico da administração de finanças. Lembrete Capital de giro diz respeito aos ativos de curto prazo da empresa (tais como estoques, duplicatas a receber) bem como a seus passivos de curto prazo (como quantias devidas a fornecedores). 98 Unidade III O capital de giro alavanca ou impede o crescimento da empresa, conforme sua composição e os prazos de realização das contas. Examinar detidamente cada um dos itens que o compõem de forma contínua (e não esporádica) é prioritário para o administrador. O ideal é que seja composto por itens a receber de rápida conversão em moeda; quanto aos itens a pagar, o raciocínio é inverso, ou seja, é preciso que os prazos sejam os maiores, começando por fornecedores e terminando com bancos. O instrumento mais utilizado dentro das empresas para gerenciar o capital de giro é o fluxo de caixa, tanto estrategicamente, quando suporta tomada de decisões, quanto taticamente, quando ligado ao horizonte mais restrito. As despesas associadas à captação de financiamento de longo prazo podem ser consideráveis, o que significa que possibilidades diferentes devem ser avaliadas cuidadosamente. Além disso, as empresas tomam recursos emprestados de uma variedade de fontes e de uma série de maneiras distintas. A escolha da fonte e do tipo apropriado de recurso deve estar sempre vinculada ao planejamento financeiro. Provavelmente, o campo que gera mais controvérsia dentro da administração financeira é o estudo de custo e estrutura de capital. Observação A melhor estrutura de capital é aquela que equilibra os fatores de retorno e risco num contexto que maximiza a riqueza do proprietário. Esse equilíbrio, por sua vez, afeta o desempenho organizacional e é afetado por ele. A seguir, serão apresentados alguns estudos de caso. Neles, você, aluno, terá a oportunidade de analisar situações reais em que a criatividade e o empreendedorismo puderam superar crises. E por falar em crise, os primeiros textos tratam desse assunto: a crise econômica mundial, a interferência do governo nas taxas de juros e capital de giro. 6.4.1 Estudo de caso: Tentando explicar a crise financeira Quem não estiver entendendo bem toda esta crise financeira, levante a mão. Ela já se desenrola há sete meses, e muitas pessoas provavelmente sentem que deveriam compreender o que se passa. Mas, na verdade, não estão entendendo. A parte relativa à crise imobiliária parece suficientemente simples. Com os bancos sussurrando palavras açucaradas de encorajamento, as pessoas compraram casas que não podiam pagar, e agora estão atrasando as prestações hipotecárias. Mas a grande maioria dos proprietários de imóveis ainda está em boa situação. Sendo assim, por que uma bagunça centrada em uma parte do setor de hipotecas – os empréstimos subprime – congelou os mercados de crédito, deixou os mercados de ações desgovernados, colocou a economia à beira da pior recessão em uma geração e obrigou o Federal Reserve (Fed, o banco Central dos EUA) a tomar a sua medida mais drástica desde a Grande Depressão? Não estou aqui para exigir que você se sinta envergonhado da sua ignorância. Isso pode não ser inteiramente reconfortante, mas a sua confusão é compartilhada por muitas pessoas que se encontram 99 FUNDAMENTOS DA GESTÃO FINANCEIRA em meio à crise. “Estamos expondo setores dos mercados de capital sobre os quais muitos de nós jamais tínhamos ouvido falar”, disse na semana passada Ethan Harris, economista do Lehman Brothers. Robert Rubin, ex-secretário do Tesouro e atualmente executivo do Citigroup, admitiu que nunca ouvira falar de liquidity puts, obscuros contratos financeiros, antes que eles começassem a causar grandes problemas ao Citigroup. “Passei grande parte dos últimos dias ligando para pessoas em Wall Street e no governo para fazer uma pergunta: ‘Você poderia tentar me explicar isso?’ Quando eles terminavam, eu com frequência tinha uma questão seguinte altamente sofisticada: ‘Dá para tentar me explicar de novo?’ Saí dessa experiência achando que toda essa incerteza criou um pânico que é só parcialmente racional.” Dito isso, a crise não está próxima ao fim. Ben Bernake, o presidente do Fed, não será capaz de sacudir uma varinha de condão e fazer com que a situação toda melhore, não importando quantas vezes mais ele reduza as taxas de juros e encoraje Wall Street. Como sugeriu o próprio Bernanke, a única coisa que acabará com a crise será o fim da crise imobiliária. Portanto, voltemos ao início do boom. Ele, na verdade começou em 1998, quando um grande número de pessoas decidiu que os imóveis, que ainda não haviam se recuperado da crise anterior do início da década de 1990, haviam se tornado uma pechincha. Ao mesmo tempo, Wall Street fez com que os compradores contassem com mais facilidades para conseguir empréstimos. Wall Street estava transformando o setor de hipotecas de um negócio local, centrado nos bancos, em uma atividade global, na qual investidores de quase todas as partes poderiam injetar dinheiro para empréstimos. A nova competição derrubou o valor das hipotecas e estimulou inovações, grande parte das quais inegavelmente boa. Por que, afinal, alguém que sabe que se mudará após apenas alguns anos não deveria dispor de outra opção a não ser a de um contrato hipotecário de 30 anos com taxa de juros fixa? No entanto, como ocorre frequentemente com as inovações, logo havia excesso de uma coisa positiva. Aqueles mesmos investidores globais, cheios de dinheiro oriundo do boom asiático ou do aumento do preço do petróleo, exigiram bons retornos para os seus investimentos. Wall Street tinha uma resposta para esta demanda: as hipotecas subprime. Como esses empréstimos são destinados a pessoas que lutam para comprar uma casa, eles trazem taxas de juros mais elevadas – mesmo que sejam camufladas por baixas taxas iniciais – e proporcionam lucros mais elevados. Essas hipotecas eram então divididas em pedaços e empacotadas em investimentos, frequentemente conhecidos como obrigações de dívidas colateralizadas, ou CDOs. Assim que eram empacotadas, diferentes tipos de hipotecas podiam ser vendidas a grupos distintos de investidores. Os investidores a seguir aumentaram ainda mais os seus retornos por meio da alavancagem financeira, a mais antiga estratégia da área. Eles fizeram apostas de US$ 100 milhões com apenas US$ 1 milhão do seu próprio capital e os restantes US$ 99 milhões em dívidas. Se o valor do investimento aumentasse para apenas US$ 101 milhões, os investidores terminariam dobrando o seu capital. Os compradores de imóveis fizeram o mesmo, dando entradas pequenas nas novas casas, observa Mark Zandi, do Moody’s Economic.com. Sob a presidência de Alan Greenspan, o Fed contribuiu para tornar isso tudo possível, reduzindo drasticamente as taxas de juros, a fim de prevenir uma recessão de duas frentes após a quebradeira do setor tecnológico de 2000, e a seguir mantendo-as reduzidas durante vários anos. É claro que todos esses investimentos eram extremamente arriscados. Altos retornos financeiros quase sempre estão 100 Unidade III conjugados a um risco maior. Mas as pessoas – e por “pessoas” estou
Compartilhar