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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 12 OBJETIVOS PRINCIPAIS • Discutir os tipos de taquiarritmias na infância; • Como abordar as taquiarritmias sintomáticas da criança na emergência; • Reconhecer as drogas utilizadas nas taquiarritmias; • Discutir manobras vagais e cardioversão elétrica e química. SISTEMA DE CONDUÇÃO ELÉTRICA É importante conhecer o sistema de condução elétrica no coração, saber a correspondência eletrocardiográfica de cada manifestação e cada passagem, como por exemplo, a despolarização dos átrios, contração ventricular, despolarização dos ventrículos para representação a nível de eletrocardiograma. TAQUICARDIAS • Frequência cardíaca aumentada para a faixa etária; • Normalmente o PALS faz uns pontos de corte, mais ou menos, por 2 DP para a idade. Então, por exemplo, tem uma frequência cardíaca basal de 100 em uma criança de 2-4 anos, 2DP daquela frequência cardíaca, vai dar cerca de 140, seria uma frequência cardíaca aumentada para a idade. • Enchimento ventricular inadequado → fração de ejeção reduzida (se não faz diástole da forma correta, tem uma fração de ejeção baixa) → compromete perfusão tissular → Reduz o débito cardíaco → Perfusão miocárdica comprometida. A taquicardia pode ser de diversas causas. A taquicardia sinusal pode ser por dor, estresse, quadros infecciosos, pós operatório, drogas, e não costuma ultrapassar o limite (lactente – 220; acima de 220 → pensar em uma taquiarritmia. Criança maior - ponto de corte 180; a partir daí → suspeitar de taquiarritmia). É bem raro que taquicardias sinusais cheguem a esses valores. A principal manifestação a nível de tecido é o choque e a hipoperfusão tissular. Diante disso, a preocupação significativa é com os órgãos nobres (cérebro e coração). Se não enche adequadamente esse ventrículo, a preocupação é a respeito da isquemia miocárdica e o enchimento e a perfusão tissular a nível de sistema nervoso central. O rim, o intestino e os outros órgãos são também muito importantes, principalmente o rim que pode ter uma necrose tubular aguda quando se tem baixo volume circulante ou um comprometimento dessa perfusão, mas o que vai matar mais rápido é caso se tenha uma isquemia miocárdica ou uma lesão cerebral. O problema deve ser tratado assim que identificado, seja uma taquicardia sinusal ou uma taquiarritmia de outra causa. QUADRO CLÍNICO • Redução débito urinário, choque, falência cardiorrespiratória, edema pulmonar e comprometimento SNC. • Pulso rápido, fino, dor torácica, palpitação. O quadro clinico é bem parecido com o da bradiarritmia. O que muda aqui é o pulso rápido e fino, que é aquela coisa da palpitação, sensação de angústia na taquicardia, enquanto que na bradi temos aquela sensação de desfalecimento, baixo débito, síncope, sudorese, hipoatividade. Baixo enchimento ventricular e baixo débito → pulso rápido e fino, dor torácica e palpitação. À medida que progride essa taquicardia, teremos a redução do débito cardíaco, o choque, a falência cardiorrespiratória, o edema agudo pulmonar (desenvolvimento da taquicardiomiopatia – miopatia decorrente de uma taquiarritmia). Se fizer uma cardiopatia dilatada vou também ter aquele sangue represado, que pode ter uma cardiomegalia. Na criança maior pode ver uma estase de jugular e edema de membros inferiores, enquanto que na criança menor se vê muita sudorese, dispneia, baixo apetite, irritabilidade. SAVP 3 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 12 Hipoperfusão a nível do SNC → comprometimento do sistema nervoso central. DISRRITMIAS Fazer 4 perguntas: • Tem pulso? 10 segundos para reconhecer se esse paciente tem pulso ou não, se ele está em parada ou não. • FC normal, baixa ou elevada para idade? Caso seja elevada para idade, ver se ela atinge aquele ponto de corte (220 para os lactentes e 180 para os maiores) que já começa a suspeitar de uma taquiarritmia. • QRS largo ou estreito? • Paciente está instável ou estável? (isso define a repercussão da taquiarritmia). CLASSIFICAÇÃO • QRS estreito (<= 0,09s) → Flutter atrial, taquicardia sinusal, taquicardia supraventricular (TSV). Fibrilação é muito raro nas crianças, sendo muito mais frequente nos adultos, nas 3º idade, nos pacientes idosos cardiopatas. • QRS largo (>0,09s) → taquicardia ventricular, TSV não usual (condição aberrante). Nestes casos, quem está assumindo o ritmo do coração é o ventrículo, o nó atrioventricular para baixo. Existem determinadas situações em que a taquicardia supraventricular se comporta de forma não usual - taqui supraventricular de condução aberrante – quando temos uma taquisupra gerando um QRS largo (raro). No geral, as taquicardias com QRS largo são taquicardias ventriculares, o que é importante, pois vai diferenciar e conduzir o tratamento de formas diferentes. QRS ESTREITO: • Taquicardia sinusal: ❖ <220 bpm (lactentes) e < 180 crianças maiores. ❖ Onda P visível. ❖ Início progressivo e lento. ❖ Febre, hipovolemia, dor, estresse, hipóxia, choque. Geralmente a criança vem com um motivo que já está se instalando. Não tem a manifestação de edema pulmonar. ❖ FC varia com o estímulo: oscila muito ao longo do tempo. Exemplo: a FC sinusal aumenta, mas quando o paciente relaxa, ela começa a reduzir. • TSV (taquicardia supraventricular): ❖ >220 bpm (lactentes) e >180 crianças maiores. ❖ Onda P ausente. ❖ Início abrupto, súbito. Normalmente a criança, principalmente o lactente, fica desconfortável,p pálido, irritado, sudoreico, não para de chorar, não quer mamar. Quando a criança é maior ela geralmente nos relata um desconforto, palpitação, coração acelerado, aquela sensação de abafamento. Esse evento acontece subitamente, a criança vinha bem e do nada ele se sente assim. ❖ Causa edema pulmonar. ❖ Ritmo rápido e constante. A taquisupra causa muito mais rapidamente a miocardiopatia do que a taquisinusal que não dá tanto comprometimento de fibra cardíaca. A taquisupra, principalmente quando ela é sustentada, quando não é tratada de forma rápida pode-se ter uma cardiopatia dilatada se instalando. Geralmente, em 24 horas já podemos ter essa manifestação de formação de edema pulmonar, cardiomegalia, fração de ejeção baixa e essa cardiopatia se instalar. TAQUICARDIA SINUSAL • Onda P sempre precede QRS; • Intervalo PR e complexo QRS duração normais; • RR regular. Aqui percebemos um QRS estreitinho, ele não está de 0,09 e temos sempre uma P precedendo QRS (pontos em azul na imagem abaixo). Além disso, o RR é regular; A derivação da imagem é a DII, sendo que serão analisadas a DII, DIII e aVF. A onda P é positiva, o intervalo PR também é regular, o complexo QRS tem duração normal. 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 12 TAQUICARDIA SUPRAVENTRICULAR • Causada por: via acessória atrial, de reentrada nodal (na hora que chega no nó atrioventricular ele volta para o próprio átrio e faz o circuito de reentrada) ou foco ectópico (fora daquela região do átrio direito onde está presente o nó sinoatrial). • Mais comuns na infância (após a taquicardia sinusal); • Início súbito → lactentes com irritabilidade, palidez, vômitos, taquidispneia; • Podem tolerar bem por 24h → após 48h (sinais de miocardiopatia); • Sinais de choque depende da duração da taquicardia. Quando se tem um foco que vai de via acessória, o coração começa a ter um local de estímulo extra, tanto passando para um átrio, como descendo para o nó atrioventricular. Então, o ectópico pode, p. ex., surgir no próprio átrio esquerdo, ou em outra posição saindo da região septal interatrial. Na imagem, é possível observar um ECG em que a onda P não pode ser visualizada. Vem onda T e logo depois o QRS. A principaldiferença da taquicardia sinusal é porque não se consegue ver onda P, sendo um ritmo rápido, súbito, acelerado e que se tem um QRS estreito. FLUTTER ATRIAL • Padrão no ECG de dente de serra; • Via acessória atrial; • FC pode ultrapassar 300 bpm; • Nem todos os batimentos acessam o NAV (nó atrioventricular). Quando acessam o NAV, terão frequências cardíacas bem elevadas. Assim como a taquicardia supraventricular, o Flutter atrial também é uma taquicardia atrial, o que difere é a característica de dente de serra. Na imagem, ele tem duas ondas P’s para um QRS (marcado com círculos azuis). Esse traçado 2:1 é também conhecido como padrão no ECG de dente de serra. As frequências cardíacas podem ser muito altas, porque, p. ex., pode-se ter conduções de 3:1 (ou até mais), tendo 3 ondas P’s. Às vezes quando começa a conduzir muito rápido essa via acessória, pode ultrapassar 300 bpm, pois quanto mais se consegue conduzir dessa via acessória, maior a frequência cardíaca e o pulso vão ficar. TAQUICARDIA VENTRICULAR • Incomum, mas rapidamente fatal; • Onda P ausente ou dentro do complexo QRS; pode ser que aconteça alguma onda P precedendo, mas de forma geral, não é vista porque quem assume o ritmo é o nó atrioventricular. • Ritmo constante, mas não tão rápido quanto TSV. ECG: TV monomórfica. Lembrete: Diferente do nó sinoatrial, o nó atrioventricular não consegue assumir frequências cardíacas muito elevadas, por isso que se tem frequências cardíacas mais lentas, com 170-180 bpm. Na criança não costuma passar de 180 bpm na TV. ECG: TV polimórfica. É como se tivesse a torção com mudança do traçado (vem um padrão e depois muda o traçado, tem um polimorfismo). É ainda mais rara que a monomórfica, mas pode acontecer. 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 12 ALGORITMO DO TRATAMENTO O primeiro passo é avaliar os primeiros 10 segundos e depois ABCDE (abrir via aérea, oxigenar, monitorizar, GARANTIR ACESSO VENOSO). O acesso venoso (ou intraósseo) é o mais importante para que se possa fazer a intervenção de uma cardioversão química – se já for indicado – ou elétrica, que também vai ser necessário sedar o paciente. A solicitação do ECG com 12 derivações não deve atrasar a condução. Se o paciente tiver instável, pode-se ligar direto no monitor cardíaco, mas também se deve fazer o ECG; existem hoje monitores, desfibriladores e cardioversores que são ECG, sendo fácil de fazer esse exame, inclusive pode fazer a intervenção rodando o ECG. Ex.: decidiu por cardioverter → roda o ECG, tem taquicardia supraventricular, faz adenosina e vê o paciente entrando em ritmo sinusal. Primeiramente, o paciente continua com a via aérea, assistir ventilação sempre, oxigenação, monitorização, oximetria, acesso venoso (lembrando que se sabe que o paciente não era em PCR, pois se tivesse, iria entrar no algoritmo de PCR) e viu que o paciente está taquicárdico. Sendo assim, é solicitado um ECG sem fazer com que esse exame atrase a terapia. Se tiver um QRS estreito (etapa número 3) deve-se definir se é uma provável taquicardia sinusal (número 4) ou se é uma provável taquicardia supraventricular. A taquicardia sinusal tem uma história bem compatível, porque normalmente o paciente tem uma causa. A família relata “ah, ele está doentinho, gripado, vomitou, teve uma diarreia, teve um quadro febril, teve uma cirurgia, pós-operatório”. A onda P no ECG está presente, o RR é constante e a frequência cardíaca não costuma passar daqueles pontos de corte. Já a taquicardia supraventricular, a história é compatível, porém meio vaga; a mãe não sabe pontualmente quando iniciou, a criança estava bem e começou a ficar ruim mais ou menos a partir desse momento, já que é aquele início abrupto. A FC normalmente não oscila muito, fica naquele ritmo constante, a onda P não é possível visualizar, as crianças atingem aquela FC que é maior que 220 nos lactentes e maior que 180 nas crianças. Pensando que estamos diante de uma taquisinusal, temos que identificar a causa e tratar. Supraventricular: Se o paciente está estável clinicamente, ele não tem um comprometimento tão importante a nível sistêmico, de alteração do estado mental (visualizado no quadro vermelho), normalmente se tenta a manobra vagal. Os RNs (vemos muito taquisupra), por exemplo, costumam responder muito bem a manobra vagal (gelo na testa). Nessa faixa etária não se costuma massagear seio carotídeo porque o pescoço é bem curto. Enquanto isso, pegamos acesso, porque o principal tratamento para taquisupra é a adenosina (deve ser 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 12 feita rápida, 0,1mg/kg em bolus, com o máximo de dose de 6mg e a segunda dose, o valor é dobrado, é feito com uma torneirinha, com infusão de adenosina de um lado e soro do outro e mão para cima, é o flush para fazer rapidamente, fazendo com que essa droga atinja o nó sinoatrial). Caso o acesso venoso ou intraósseo não esteja acessível, ou se a adenosina não foi efetiva mesmo após a segunda dose, pode ser feita então a cardioversão sincronizada. Então, a primeira opção é manobra vagal sem adiar outras ações caso o paciente esteja instável, sendo a adenosina a principal escolha assim que acesso, podendo repetir duas vezes e caso não resolva, partiremos para cardioversão. A amiodarona não entra na taquisupra e sim na taquiventricular. A cardioversão é feita com 0,5-1 J/kg, podendo dobrar na segunda dose (2 J/kg), seda o paciente, sem alongar muito. Na criança faz midazolam e cetamina, conjugados, para poder sedar, sincroniza no monitor (sincroniza com o pico do QRS na hora de chocar). Na parada não cardioverte, desfibrila (1ª dose com 2J, 2º dose com 4J). Na taquicardia ventricular (QRS largo - taquiventricular ou taquisupra de condução aberrante): se o paciente tem comprometimento (hipotensão, alteração aguda do estado mental ou sinais de choque), a primeira escolha será a cardioversão sincronizada, não se perde tempo, porque se não tratar rapidamente, o paciente pode vir a se tornar uma taquiventricular sem pulso ou fibrilar. Considera-se a adenosina toda vez que o paciente está estável (sem hipotensão, alteração do estado mental e sinais de choque), porque podemos estar diante de uma taquisupra de condução aberrante, considerando adenosina em ritmo regular, se o QRS for monomórfico. Se for polimórfico é realmente uma taquiventricular. Se for uma taquiventricular monomórfica e o QRS alargado, mas nem tanto, desconfiamos de uma taquisupra de condução aberrante, podemos tentar adenosina. Se o paciente não reverter com adenosina, partimos para amiodarona ou procainamida que são as drogas de escolha na taquiventricular, compondo a cardioversão química ou parte diretamente para cardioversão sincronizada. A taquiventricular é muito mais fatal e ela facilmente se transforma em uma fibrilação. Então, pegou o paciente taquicárdico, olhou o traçado, tem um QRS largo, a 4º pergunta é como está o paciente (chocado, hipotenso, sonolento, letárgico? cardioverte). Se não tiver nenhum desses sinais, o paciente está bem, estável, sem sinais de choque, parte para droga, inicialmente a adenosina, se não responder, parte para amiodarona. MANOBRAS VAGAIS A massagem do seio carotídeo é muito pouco utilizada, é mais utilizada em crianças maiores, adolescentes, é bem comum em adultos. É muito utilizada a manobra de Valsalva e um gelo na testa, principalmente em RN. CARDIOVERSÃO ELÉTRICA Cardioversor/desfibrilador. Sincronizar. Primeiro abre a adenosina, seguida do soro. Pode ser até uma torneira de via dupla. Acima temos uma torneira de 3 entradas. Pode ser até a duas mãos, uma pessoa injeta adenosina e a outra injeta o soro. A amiodarona,diferente da PCR, não é em bolus e sim de 20-60min. Não dá para administrar a procainamida e a amiodarona em conjunto, porque faz muita depressão miocárdica, ou faz uma ou a outra, normalmente a amiodarona é muito mais disponível do que a procainamida. 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências pediátricas – Aula 12 CARDIOVERSÃO QUÍMICA Aqui é o paciente que recebeu uma dose de adenosina, então, ele vinha com uma taquisupra, não via a onda P, após a cardioversão, o paciente fez uma leve lentificação do nó e depois identifica o ritmo, ele sai um pouco bradicárdico desse processo. CASOS CLÍNICOS CASO CLÍNICO 1 Paciente do sexo masculino, 10 meses, deu entrada na emergência com história de palidez, dificuldade pra respirar e vômitos hoje. Ao exame, encontra-se em REG, pálido, taquidispnéico gemente com FR 78 ipm FC220 bpm Sat 88%. Pulsos centrais palpáveis • ACV: BRNF em 2T taquicárdicas sem sopros. • AR: MVBD sem RA. • Extremidades frias e pulsos finos. Questão 1: Qual a conduta terapêutica imediata a ser instituída pra o paciente? a) Posição de conforto, abrir via aérea, oxigenação, monitor e expansão volêmica. b) Abertura de via aérea, ventilação por bolsa valva máscara e intubação. c) Manobras de reanimação e intubação. d) Posição de conforto, abertura de via aérea, O2 suplementar, monitorizar e realizar ECG 12 derivações. ECG realizado constatou: Questão 2: Qual a conduta terapêutica adequada? a) Manobra vagal. b) Adenosina. c) Cardioversão elétrica. d) Amiodarona. e) Iniciar RCP. CASO CLÍNICO 2 Paciente do sexo masculino, 10 anos, passado de cirurgia cardíaca, deu entrada na emergência com história de dor torácica e dispneia hoje. Ao exame, encontra-se em BEG, responsivo, leve palidez, leve taquipneia com FC 180 bpm, pulsos presentes PA 110X60 mmHg. • ACV: BRNF em 2T taquicárdicas sem sopros. • AR: MVBD sem RA. • Extremidades bem perfundidas. ECG realizado constatou: Questão 3: Qual a conduta terapêutica adequada? a) Manobra vagal. b) Adenosina. c) Cardioversão elétrica. d) Amiodarona. e) Iniciar RCP.
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