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1 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 4 INTRODUÇÃO Para laudar qualquer taquiarritmia basta responder 04 perguntas básicas: • FC > 100bmp*? Se eu estou diante de uma taquiarritmia, possivelmente a frequência cardíaca vai estar maior do que 100bpm. Isso não é em 100% dos casos, mas em geral, isso é válido para os taquiarrítmicos. Vale lembrar como calcular FC = 1500/ distância (quantidade de quadradinhos) entre dois QRS em milímetros. • QRS alargado (ventricular) ou estreito (supra ventricular)?* Reforça-se que não é necessário contar quadradinhos para definir se é largo ou estreito, basta olhar e ver se palita o dente (estreito) ou não. Em taquiarritmias, em geral, tudo que é largo é ventricular, tudo que é estreito, supraventricular, porém existem exceções, como por exemplo, a taquicardia supraventricular aberrante (aberrância de QRS), em que o QRS é largo. Obs. Ser supraventricular, não quer dizer que é atrial. Não tem relação. • Onda P é facilmente visível? Viu onda P → Tem onda P, pronto e acabou. Se pergunta: É fácil ou difícil de ver a onda P? Na imensa maioria das taquiarritmias, a onda P não é facilmente visível, sendo imprescindível para diferenciar uma taquiarritmia de uma taquicardia sinusal. • RR regular ou irregular? Ver se os intervalos entre os QRS (intervalos RR) são regulares. Avaliado pela distância dos QRS no traçado. É preciso reconhecer o que é normal, pois nem tudo que é taquicárdico é taquiarrítmico!! Taquicardia sinusal Taquicardia sinusal é uma taquicardia que não é arrítmica. Características clássicas: • FC > 100bpm; • QRS estreito; • RR regular; • Onda P é facilmente visível: característica mais clássica da taquicardia sinusal. Ritmo taquicárdico + onda P → Taquicardia sinusal. Existe a possibilidade de ter um bloqueio de ramo (QRS largo) com taquicardia sinusal (FC >100, regularidade do QRS, onda P fácil de ver). Pode ser TAM (taquicardia atrial multifocal) que também tem onda P, mas é mais rara e então, para fins didáticos, considere que FC >100 com onda P visível = taqui sinusal e ponto final. Obs. DII longo é a melhor derivação para olhar taqui e bradiarritmias! ANÁLISE DO ELETRO Percebe-se, ao olhar para DII longo, QRS estreito, regularidade do intervalo RR, FC de 113 bpm e onda P presente em todas as ondas. Logo, se tem FC > 100bpm com onda P facilmente visível, caracteriza- se o eletro acima como taquiarritmia sinusal. É importante começar a ver o eletro sempre pela largura do QRS (largo ou estreito). Depois, analisar a regularidade do QRS. Taquiarritmias 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 4 Causas de taquicardias sinusais • Febre, pânico, exercício físico, uso de drogas (cocaína), hipertireoidismo, dor e choque. Normalmente é uma resposta a algo que está ocorrendo no corpo, podendo ser algo fisiológico (Ex. atividade física) ou patológico (pânico, drogas ilícitas, febre). OBSERVAÇÕES 1. Hipertireoidismo é a principal causa crônica de taquicardia sinusal. 2. A única dor que não é taquicardizante → Dor do aneurisma dissecante de aorta tipo A, que é uma dor bradicardizante. Isso ocorre porque quando disseca a parede da aorta torácica, porção ascendente, a parede se alarga, e na porção ascendente da Ao temos barorreceptores, que quando distendido ele entende como aumento de pressão, enviando sinal para abaixar a FC. 3. Choque que não é taquicardizante → Neurogênico. Taquicardizantes → séptico, hipovolêmico, cardiogênico (diminuição do débito → aumento da frequência cardíaca). O tratamento tem que ser da causa da taquicardia sinusal e não da taquicardia em si. Fibrilação atrial É a taquiarritmia mais frequente do mundo! Pode se apresentar como bradicardizante. Essa é a estrela das taquiarritmias, representando a maioria delas, sendo responsável por 1/3 dos AVCi (cardioembólicos por FA). Não é comum de fazer instabilidade hemodinâmica, mas quando vem com BRE ou BRD as chances aumentam. • FC > 100 bpm no menor eixo entre os QRS: A FA pode vim com FC <100bpm e até mesmo bradicardia, mas a maioria delas é taquicardizante (se encaixa nas taquiarritmias). • QRS comumente estreito*; Na FA. o QRS é comumente estreito, mas pode vir alargado quando tem bloqueio de ramo (BRE ou BRD), sendo esse um fator de pior prognóstico (FA + BRE / BRD). Vale ressaltar que o BRE e o BRD sozinhos não têm nenhuma implicância clínica, mas quando associadas a outras patologias pode piorar e muito a condição do doente, a exemplo de quando associado a FA. • RR irregular; • Onda P de difícil visualização: principal característica; ausência da onda P. AS FA SÃO DIVIDIDAS EM 03: • Baixa resposta ventricular → FC baixa – FC< 60 bpm. • Resposta controlada → FC controlada – FC entre 60 e 120 batimentos por minuto. • Alta resposta ventricular → FC elevada – ultrapassa 120bom no menor eixo. Se quiser diagnosticar fibrilação atrial, os 2 primeiros critérios (FC >100bpm no menor eixo entre os QRS e QRS comumente estreito) não são muito ideias. No entanto, os 2 últimos critérios (Onda P de difícil visualização ou ausência de onda P e RR – intervalos entre QRS irregulares) vão definir FA. ANÁLISE DO ELETRO Vejam no exemplo que a FC está até normal (FC de 97bpm), mas quando você olha o intervalo RR é irregular, e ao olhar a menor distância entre os intervalos QRS, nesse exemplo visto em DII longo, tem-se 1500/10 = 150bpm. Logo, FC>100 no menor eixo/ menor distância entre os QRS. Então, aí é uma FA de alta resposta ventricular. 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 4 Tem-se uma máxima de Dr. Enéas, que diz que na FA o QRS é irregularmente irregular (é o ápice da irregularidade). Outra coisa a se notar é a dificuldade de visualizar a onda P no eletro. Perceba que depois do QRS obrigatoriamente tem que vir a onda T, pois se despolarizou ventrículo (representada pelo QRS), tem que repolarizar (representada pela onda T). Logo, no traçado acima só é visto QRS – onda T – QRS – onda T [...]. É possível ter um eletro sem onda P, mas em indivíduos vivos não é possível eletro sem onda T, pois se tiver vida tem QRS, logo, terá onda T. A despolarização é algo crucial para se ter batimento. A FA é a única patologia em que o átrio não vai despolarizar. Ele não vai contrair e sim fibrilar/tremer. Quando o paciente está internado em monitoramento e tem FA, vê-se no monitor uma variação da FC (134-145-132) segundo a segundo, o que reflete a irregularidade do intervalo QRS. Fibrilação Atrial: É a arritmia cardíaca sustentada mais frequente (corresponde a cerca de 33% dos internamentos por arritmias). TRATAMENTO DA FA O tratamento da FA depende do tempo de sintomatologia daquele paciente. O tempo é fundamental para determinação do tratamento! Perguntar: Quanto tempo o paciente tem de sintomas? Tem <48 horas ou >48 horas? Na FA, como o átrio está fibrilando, e não contraindo, essa fibrilação tá fazendo trombos intramurais, que podem se soltar e fazer AVC isquêmico, isquemia mesentérica. 1/3 dos AVCS isquêmicos são cardiogênicos por conta de FA. Se algo que tá fibrilando, é colocado pra contrair, o trombo é ejetado. → Clássico AVC cardioembólico (Artéria cerebral, média normalmente). No paciente com FA e >48 horas de sintomas (maior risco de formar trombos), evita a cardioversão na hora/momento. Primeiro anticoagula pra poder dissolver qualquer tipo de trombo, pra depois cardioverter. O paciente jovem e virgem de FA talvez seja o único que necessita de cardioversão imediato. Existem 4 tipos de FA: • FA aguda: <48 horas do primeiro episódio; é a única em que é feita a cardioversão de imediato. • FA paroxística: vai e volta, mais de 1 episódio; 3,4,5 episódios deFA na vida. • FA persistente: refratária a cardioversão, seja elétrica ou química – medicamentosa. Todo paciente que tem qualquer taquiarritmia instável, a cardioversão elétrica é obrigatória! Em qualquer taquiarritmia, é necessário definir se é instável ou estável. Se for instável, o paciente deve ter 1 desses 4 critérios (precordialgia anginosa – dor torácica, dispneia verdadeira, hipotensão e rebaixamento do nível de consciência). Isso define se o tratamento vai ser conservador – medicamentoso ou invasivo – choque. Se tiver 1 desses 4 sinais de instabilidade hemodinâmica, ele já tem indicação ABSOLUTA de cardioversão elétrica, independente do tempo ou cenário. Cardioversão (tem que chocar no pico de um QRS – auge da despolarização ventricular) é diferente de desfibrilação (pode chocar em qualquer momento do ciclo cardíaco). É muito melhor zerar a atividade elétrica a partir de uma despolarização ventricular do que em uma linha de base ou de uma repolarização ventricular. Qualquer taquiarritmia (exceto uma) com critérios de instabilidade hemodinâmica, é OBRIGATÓRIO fazer a cardioversão elétrica. Se não for cardioverter eletricamente (instabilidade), tem que ir pro tratamento medicamentoso, que na FA é dividido em 3: FA AGUDA → CARDIOVERSÃO QUÍMICA 1º episódio da vida com FA <48 horas CLASSE I Antiarritímicos bloqueadores dos canais de potássio e sódio, agindo na fase do ciclo de despolarização cardíaca, denominada ¨Despolarização rápida e repolarização precoce¨. • Classe IA: propafenona – ritmonorm (ação em 1 hora) 600mg em dose única VO. Além de 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 4 cardioverter, controla a frequência. Nesse caso, o betabloq é opcional. Contraindicada em pacientes com disfunção de ventrículo esquerdo. O prof só usa propafenona em jovem. A maioria dos antiarrítmicos (exceto adenosina) não reverte da noite pro dia. Tem que saber segurar um pouquinho aquela taquiarritmia até reverter, até dar o efeito das drogas. Quando a taquicardia está incomodando muito, o betabloq vai ser uma solução imediata. Betabloqueador venoso tem tempo de ação curtíssimo. • Classe IB: lidocaína e procainamida. Os antiarrítmicos da classe I fecham os canais de sódio e potássio, retardando assim a ocorrência das fases 0 (influxo de sódio para dentro da célula – aumento do potencial de membrana) e 1 (efluxo de potássio), que são as fases dependentes de Na+ e K+. Se o influxo é reduzido, você tem uma despolarização mais lenta e uma repolarização mais retardada. Isso faz com que dê tempo CLASSE II • Classe IIa: Labetalol e sotalol. São os betabloqueadores cardioversores verdadeiros. Não tem no Brasil. • Classe IIb: Metoprolol – Selosok (5mg IV em bolus lento) e esmolol (0,5 mg/kg IV em bolus lento) - bredbok São antiarrítmicos que só fazem controle da frequência cardíaca, não agem como cardioversores. O esmolol tem 2 apresentações: 1 – Ampola 10mg/ml; 2 – ampola de 250mg/ml (só é feita pra solução padrão – correr contínuo). Paciente chegou com FA, aguda, nunca teve na vida, chega parecendo que vai morrer, vale a pena fazer o esmolol (betabloq venoso em bolus lento – 1-2min). O esmolol é ainda melhor que o metoprolol, pois o metoprolol fica mais tempo agindo no sangue e tem um tempo de ação maior (5 minutos mais ou menos). Observação: a droga mais utilizada na FA é a amiodarona (ação em 1 hora). Adenosina só na taquisupra. Droga boa pra emergência é aquele que tem tempo de ação curto e tempo de meia vida curta. Cada fase dessa é determinada por um fluxo de íons. CLASSE III • Bloqueadores dos canais de potássio. • Amiodarona: 150-300mg (1-2 ampolas) diluído em 100 ml de soro fisiológico 0,9% IV em bomba de infusão correr em 10-30minutos. PROVA: 150mg de amiodarona – ATLS. Na prática, é 300. Se for o primeiro episódio, não faz manutenção, fazendo apenas a dose de ataque (não precisa impregnar nem manter). Nas FA persistentes-paroxísticas, que não revertem com a dose de ataque, faz se a dose de impregnação e depois de manutenção. A amiodarona (ancoron) tem 3 etapas: ataque (150-300mg), impregnação (900mg – 6 ampolas diluídas em 250ml de soro fisiológico, correr em 16ml/h nas primeiras 6 horas e 8ml/h nas próximas 18 horas) e manutenção. Mesmo com a dose de impregnação, mantem mais 3 dias com a dose de manutenção (200mg VO de 08/08h). Uma das indicações de impregnar e manter é quando o paciente não tem cardioversão imediata com a dose de ataque. 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 4 CLASSE IV • Bloqueadores de canais de cálcio não di- hidropiridínicos. • Diltiazen – mais utilizado (30mg VO 08/08h) e verapamil. • Não fazem cardioversão: assim como os betabloqueadores classe IIb. • Fazem controle de ritmo. O melhor remédio pra controlar frequência cardíaca é o betabloqueador. Alguns pacientes não podem usar, por exemplo, os asmáticos e DPOCíticos. Nesses casos, os betabloq devem ser usados com ressalvas ou não devem ser usados, sendo substituídos pelos bloqueadores dos canais de cálcio. Não cardiovertem o paciente e não transformam a FA em ritmo sinusal. Quem faz isso é a propafenona, amiodarona. O Diltiazen, o metoprolol e o esmolol vão apenas controlar a frequência cardíaca. Classe I e classe III são antiarrítmicos de verdade (poder de reverter arritmia). Exemplo: FA primeiro episódio em um paciente de 40 anos, <48h de sintomas → amiodarona 150- 300mg diluído em 100ml de soro fisiológico 0,9% em BI, correr 10-30 minutos OU propafenona 600mg VO. A propafenona, embora seja mais simples, não tem no SUS. Por isso, a mais usada é a amiodarona. Exemplo 2: paciente com FA paroxística (fica indo e voltando). Avaliar o tempo que ele está em FA: Se tiver >48 horas e não tiver critérios de instabilidade → não faz cardioversão de imediato. Se quiser cardioverter, tem que fazer um ECO transesofágico (não é fácil de conseguir) que prove que ele não tem trombo. Se o paciente tiver FA com alta resposta ventricular, com >48h, sem ECO → anticoagulação por 4 semanas (OBRIGATÓRIO. O que depende do Chadvasc é quanto tempo depois o paciente vai ficar anticoagulado). Depois disso, ele pode ficar de 2 formas (usando Noac ou cumarínico). Mesmo que seja o 1º episódio da vida, se tiver >48h, não pode cardioverter de imediato. FA >48h → controle de frequência cardíaca com betabloq + anticoagulação (NOAC – mais fácil e mais cara ou cumarínico – mais difícil e mais barata) por 4 semanas. Metoprolol (o prof faz assim que o paciente chega na unidade) ou esmolol na hora - emergência. O succinato de metoprolol é passado para o paciente usar em casa. 50mg de 12/12h ou 100mg (dose máxima – usada em casos brutais) de 12/12h NOAC X CUMARÍNICO • Anticoagulantes orais. • NOACS (novos anticoagulantes orais): ❖ Rivaroxaban (xarelto): Mais usado. 220-240 reais. Começa com 15mg VO de 12/12h por 21 dias, seguido de 20mg VO 1 vez ao dia. ❖ Enoxaban (lixiana); ❖ Apixaban (eliquis): Inibidores do fator 10A (via final da cascata de coagulação). ❖ Dabigatrana (pradaxa): inibidor do fator 2A – trombina (via final-comum da cascata). • Cumarínicos: toda semana tem que dosar RNI. ❖ Varfarina (marevan): 5mg – comprimido. É inibidora da via extrínseca da cascata de coagulação. Inibe a via dependente da vitamina K. Sempre começa com 5mg 1X/dia, e a cada semana vai dosando o RNI – tempo de protrombina (mede a atividade de coagulação da via extrínseca da cascata). O ideal é que um paciente com FA esteja com RNI entre 2 e 3 (alargamento de RNI entre 2 e 3). A partir da avaliação, vai aumentando (não pode aumentar de vez) ou diminuindo a dose. Uma série de coisas influenciam da absorção e na ação do marevan. O ideal é que o RNI fique entre 2 e 3 por 4 semanasseguidas. Exemplo: paciente com queixa de taquicardia, bulhas arrítmicas, eletro com FA, frequência entre o menor eixo > 120, sintomas há 5-6 dias. É raríssimo uma FA instabilizar. Quando instabiliza, faz o choque com 120 a 200joules. A FA que instabiliza, normalmente vem com bloqueio de ramo associado. Se o paciente for renal crônico, o melhor pra se usar é o apixaban (tolera o índice de creatinina até 30, enquanto que os outros tem que estar acima de 45). Se o paciente tem risco de sangramento, o melhor pra se usar é o dabigratana, porque tem reversor rápido (20 minutos). 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 4 CONTINUAÇÃO TRATAMENTO FIBRILAÇÃO ATRIAL O tratamento de taquiarritmias é dividido basicamente em instáveis e estáveis. A arritmia mais difícil de tratar é a fibrilação atrial. INSTÁVEL Se trata daquele paciente que tem 1 dos 4 critérios de instabilidade (precordialgia anginosa – dor torácica, dispneia, hipotensão e RNC). Neste caso, necessita de cardioversão elétrica, com exceção da TV polimórfica (no lugar da cardioversão, faz a desfibrilação). Lembrete: Cardioverter (chocar no pico do QRS; o choque precisa ser SINCRONIZADO com a atividade elétrica cardíaca) X desfibrilar (chocar em qualquer momento do traçado). • 1º passo: Antes de cardioverter eletricamente, é necessário explicar para o paciente e para seus familiares o que será feito. • 2º passo: sedar e analgesiar o paciente. É feito normalmente com propofol (0,5 mg/kg – metade da dose de ataque) e morfina (4mg IV). Se o paciente tiver hipotenso, é preferível fazer etomidato (0,2mg/kg) no lugar do propofol. A ketamina seria uma escolha, mas é uma droga taquicardizante, aumentando ainda mais a frequência cardíaca. Em relação a anticoagulação, se tem >48 de sintomatologia, é feita com clexane venoso antes da cardioversão. FA dificilmente instabiliza!!! Quando ver um paciente com FA instável, procurar outros motivos, como sepse e insuficiência cardíaca, por exemplo. Quando a FA instabiliza, normalmente ela vem associada a bloqueio de ramo esquerdo ou direito. Dificilmente será preciso cardioverter eletricamente uma FA. • 3º passo: cardioverter eletricamente com 120- 200j de energia. ESTÁVEL FA COM MENOS DE 48HORAS DE SINTOMAS – 1º EPISÓDIO DA VIDA Exemplo: Paciente que nunca teve FA chega na emergência relatando palpitação, FA<48 horas de sintomas → tratamentos: ❖ Controle de frequência cardíaca: normalmente é feito com betabloq → metoprolol (5mg IV em bolus lento) ou esmolol (0,5 mg/kg IV em bolus lento; 2 ampolas – 10mg/ml e 250mg/ml – tomar cuidado) + ❖ Cardioversão química: amiodarona – antiarrítmico classe III (150-300mg diluída em 100ml de soro fisiológico 0,9% IV em BI, correr em 10-30 minutos) ou propafenona – antiarrítmico classe Ia (600mg VO dose única). Lembrar que a propafenona é contraindicada em pacientes com disfunção de ventrículo esquerdo. 30% dos pacientes com ICC tem ou terão FA. Quem tem ICC, na maioria das vezes tem disfunção de VE associada. A propafenona piora bastante a função. Na maioria das vezes, o paciente que chega na emergência com FA relata uma palpitação do peito desde o dia anterior, ou seja, os sintomas da FA normalmente não incomodam tanto o paciente. Lembrar que amiodarona não só reverte o ritmo, como controla frequência. Se o paciente não estiver muito incomodado coma FC aumentada causada pela FA, não precisa de betabloqueador (risco a mais), fazendo apenas amiodarona (começa a fazer um bom controle de frequência nos primeiros 10 minutos, e depois cardioverte o ritmo). No caso de paciente que chega ansioso (¨meu coração vai sair pela boca¨), se não fizer alguma coisa naquele momento, ele vai quebrar tudo. Amiodarona vai demorar 1 hora pra controlar ritmo e cardioverter, enquanto que o betabloq metoprolol vai demorar 2 minutos. Então, o paciente que está incomodado merece o betabloqueador (5mg metoprolol em bolus lento para fazer controle de frequência). FA >48 HORAS DE SINTOMAS O paciente precisa ser submetido a controle de frequência (OBRIGATÓRIO) e anticoagulação plena por 3 a 4 semanas, seguido de cardioversão química ou elétrica (vantagens e desvantagens de uma em relação a outra). A FA com >48 horas, quando o coração fibrila, ele tende a formar mais trombos. Se o átrio que está fibrilando for colocado pra contrair, possivelmente 7 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 4 os trombos vão se soltar e chuveirar no cérebro ou no mesentério, lugares que tem mais embolia. Não pode cardioverter um paciente com FA que tenha trombo, pois isso pode provocar um AVC isquêmico (1/3 dos AVCs isquêmicos são cardioembólicos por FA) ou isquemia mesentérica. Nesses casos, ou se tem um eco transesofágico (não é realidade na maioria das vezes) pra olhar o átrio na hora pra análise de trombo OU o paciente precisa de anticoagulação por 3-4 semanas antes da cardioversão química ou elétrica. Esse paciente, obrigatoriamente, precisa ter controle de frequência cardíaca, pois ele não vai ser cardiovertido imediatamente, ou seja, não vai controlar o ritmo, não vai ter amiodarona. Nesses casos, a FC é controlada por metoprolol (5mg IV em bolus lento) assim que chega na emergência, e o paciente vai pra casa fazer anticoagulação e betabloqueador. A depender do anticoagulante, o tempo muda. É necessário um RNI entre 2 e 3 se for marevan OU 3-4 semanas se for NOAC (novo anticoagulante oral). Quando o paciente tem condições, normalmente faz um NOAC (xarelto - 15mg de 12/12 h nos primeiros 21 dias seguido de 20mg 1X/dia depois) por 3-4 semanas. Se for usar só 3 semanas, faz 15mg de 12/12h. Se for usar 4 semanas, faz 15mg 12/12h por 21 dias, e nos 7 próximos dias, faz 20mg 1X/dia. Depois disso, a depender da função do ventrículo esquerdo, vai escolher amiodarona (maioria das vezes) ou propafenona OU analgesia, sedação cardioversão elétrica (chocar). A cardioversão elétrica é mais efetiva que a amiodarona, porém apresenta maior risco. Se o paciente não tiver condições de usar o xarelto, ele vai ter que usar marevan - varfarina (cumarínico). A ideia deles é inibir os fatores dependentes de vitamina K (fator 2,7,9, 10, proteína C, proteína S), sendo inibidores da via extrínseca da cascata. Ao inibir tal via, ela simplesmente vai fazer uma alteração no exame do tempo de protrombina (pode ser analisada pelo tempo em si em segundos). Existe um subproduto da protrombina chamado RNI (usado para avaliar a via extrínseca da cascata). A meta de RNI para considerar um paciente plenamente coagulado quando com FA é entre 2 e 3. Então, o paciente precisa ficar 3 a 4 semanas com o RNI entre 2 e 3 pra poder voltar e fazer a cardioversão química (preferível pelo professor) ou elétrica. Esse RNI nem sempre é atingido facilmente. O marevan - varfarina é iniciado com 5mg VO 1x /dia e pode ir aumentando caso o RNI não alcance a faixa. Então, o paciente foi pra casa com marevan na dose citada + metoprolol – selosok (50mg VO de 12/12h). O selosok tem comprimido de 25mg, 50mg e 100mg, podendo ser usado qualquer posologia de 12/12horas (lembrar de sempre usar a dose maior pela manhã). A cada 7 dias o paciente precisa dosar o RNI e mandar pro médico. Exemplo: paciente foi liberado com marevan e selosok, ao dosar RNI, deu 1,2 ... aumenta o marevan (no lugar de 1 comprido ao dia, faz 1,5 comprimido ao dia) ... 1 semana depois o RNI tá 1.8 ... aumenta a dose (1,5 comprimidos → 2) ... na 3º semana já está em 2.7 (a faixa de segurança é entre 2 e 3; quanto mais acima de 2, mais anticogulado). Uma vez que o paciente entra nessa faixa, o tempo de anticoagulação plena (3-4 semanas) começa a contar a partir daí. Se em algum momento o RNI cair pra abaixo de 2, a contagemtem que ser reiniciada. Então, são 3-4 semanas de anticoagulação plena e não de uso de anticoagulante. Lembrar de ir aumentado a quantidade de comprimidos aos poucos, pois quanto maior o RNI maior a chance de sangramento, principalmente quando maior que 4,5. Não ultrapassar 2,5 comprimidos de marevan por dia! Quando o paciente faz uso de xarelto (age na via final da cascata de coagulação, inibindo o fator 10a), a primeira dose já é considerada anticogulação plena. Poderia internar o paciente pra fazer clexane 1mg/kg 12/12h por 3-4 semanas, mas não tem lógica deixar um paciente praticamente assintomático ou oligoassintomático apenas pra fazer anticoagulação. Lembrar que os betabloq cardioversores são: amiodarona, propafenona, procainamida, labetalol 8 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 4 e sotalol. O selosok pura e simplesmente controla frequência. Em relação a anticoagulação e RNI, o paciente com válvula metálica, o RNI tem que ser entre 2,5 e 3,5; pacientes com SAAF (síndrome do anticoropo fosfolípide) entre 2,5 e 4,5 (risco de sangramento muito maior) pra ser considerado anticoagulação plena. O xarelto é mais seguro e eficiente em relação ao Marevan (sangra mais – maior poder de anticoagulação). Depois que o paciente volta pra fazer a cardioversão (química ou elétrica), ele ainda fica mais 4 semanas anticoagulado, não necessitando de betabloq (isso porque teoricamente já cardioverteu). FA PAROXÍSTICA É aquela que fica indo e voltando. Esse é o caso mais comum. Na FA paroxística, o paciente já teve mais de 5 episódios ao longo do ano. FA, cardioversão, FA ... Exemplo: paciente com FA, frequência cardíaca controlada, não sente que tá em FA, sofre algum trauma/processo fisiológico, infecção, aumenta a FC e vai pra emergência com queixa de palpitação há menos de 48 horas. Porém, neste caso, o paciente pode estar há meses com FA e não sente. Lembrar que FA é uma doença que não costuma incomodar muito. • Cardioversão pra sempre: Amiodarona 200mg VO OU Propafenona 300 mg VO (em pacientes jovens, sem disfunção de ventrículo esquerdo). • Anticoagulação (Xarelto 20mg VO 1x/dia) + controle de frequência cardíaca (betabloq – Selosok – metoprolol oral 25mg VO de 12/12, talvez tenha que aumentar) pra sempre. O médico pode oferecer as duas opções para o paciente, porque na verdade, tanto faz. Em termos de expectativa de vida, risco de mortalidade, prognóstico e qualidade de vida, as duas tem o mesmo efeito. O professor escolheria anticoagulação. O xarelto é uma droga segura, que tem reversor, mas também tem risco de sangramento. Amiodarona tem risco de tireoidite, neurite óptica, pneumonite, prolongamento do intervalo QT, aumento do risco de torsades. Se a paciente já tiver AVC hemorrágico, não deve ser oferecida a opção de anticoagulação, só restando a cardioversão eterna. Um policial também não será anticoagulado, necessitando ser cardiovertido. Então, é necessário analisar o perfil do paciente. Em caso de cirurgia eletiva, o Clexane (tempo de meia vida de 12 horas) e o Xarelto (tempo de meia vida de 24 horas) devem ser suspensos 48h antes ou até 24h antes. Dois estudos (RACE e AFIRM) analisaram dois pacientes com perfis de FA diferentes: Um que cardioverteu pra sempre e outro que anticoagulou e controlou a frequência pra sempre. Foi perceptível que não houve diferença de mortalidade, expectativa de vida, qualidade de vida e prognóstico. Em relação ao sexo, a mulher tem mais tendência de formar trombo do que o homem. É uma tendência mundial fazer anticogulação mais do que cardioversão pra sempre. A cardioversão é deixada para policiais, caminhoneiros, taxistas, profissões que tem mais chance de se acidentar. Lembrar de INDIVIDUALIZAR! Uma coisa que ajuda na tomada de decisão é o uso de 2 escores: 1 - CHADSVASC (calcula a probabilidade de fenômenos cardioembólicos); 2 – HASBLED (calcula a probabilidade de sangramento). Se o HASBLED for muito maior que o CHADSVASC, cardioversão no lugar de anticoagulação. Se o CHADSVASC for maior que o HASBLED, anticoagule no lugar de cardioverter. Se os dois estiverem alto, tem que pesar o risco e o benefício. FA é difícil de tratar! Isso porque são vários casos, cada um com um tratamento diferente, abordagem diferente, necessidade do cálculo de CHADSVASC e HASBLED, risco de evento cardioembólico X risco de sangramento. Se pegar um paciente e não souber nada dele, a tendência mundial é anticoagular. No caso, xarelto junto com selosok (doses citadas anteriormente). Em relação ao uso de varfarina – marevan, a qualidade de vida do paciente cai, o risco de efeitos adversos (exemplo: sangramento) aumenta. 9 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – Aula 4 PERSISTENTE Paciente que não reverte com cardioversão química, elétrica. Nesse caso, a única opção é anticoagular pra sempre. Se o paciente tiver alguma complicação da anticoagulação, como por exemplo, AVC hemorrágico, sangramento digestivo alto ou baixo, no caso, evento hemorrágico maior, ele tem contraindicação para ser anticoagulado. Nesse caso, só resta 1 opção, que é a ablação atrial (estudo eletrofisiológico do coração, mapeamento de múltiplas reentradas modais - mecanismo, pontos de gatilhos da FA, ablação dos pontos). Atualmente, só se cardioverte FA naquele paciente com 1º episódio com menos de 48 horas. Se tem mais de 48 horas, já não cardioverte mais, fazendo anticoagulação. Lembrar que não adianta só anticoagular, sendo necessário controlar a frequência cardíaca. Na FA persistente é preferível a anticoagulação, porém se o paciente tiver alguma contraindicação (exemplo. Evento hemorrágico maior) ou complicação, só resta a ablação. No jovem, ablação (procedimento invasivo) é a primeira escolha, porém o problema é que tem 35% de chance de falha. Exemplo: se pegar um FA em que o paciente já teve vários episódios na vida, não pense em fazer anticoagulação por 3-4 semanas e mandar voltar pra cardioverter. Nesses casos, pode-se pensar em manter o paciente anticoagulado pra sempre.
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