Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre EMERGÊNCIAS CLÍNICAS PROFESSOR - MURILO MEDICINA – 8º SEMESTRE 2 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre INTRODUÇÃO Saber: indicações, quais drogas devem ser administradas, raciocínio clínico, preparação do material. É importante saber sair de situações inusitadas que a intubação pode ocasionar. A técnica vem com o treinamento. INDICAÇÕES ABSOLUTAS GLASGOW <9 Não é todo paciente Glasgow menor ou igual a 8 que deve ser entubado. • Proteção da via aérea. A necessidade de entubar um paciente com Glasgow de 8 é para proteção da via aérea pelo risco de broncoaspiração (a glote não fecha) e para impedir que a queda de base de língua tampe a via aérea do paciente. Um Glasgow < 8 não tem como diferenciar o que vai para o estômago e o que vai para traqueia. A glote não fecha, acaba tendo um aspirado salivar, aspirado de via aérea, o paciente vai microbroncoaspirando, até que faz uma pneumonite. Por conta dessas múltiplas microbroncoaspirações esse Glasgow <8 merece entubar, ou há chance de o paciente vomitar e estar com a glote desprotegida e acabar broncoaspirando aquele vômito, fazendo assim uma pneumonite aguda. A proteção de via aérea trás consigo esses dois conceitos: impedir a broncoaspiração e impedir que a queda de base de língua tampe a via aérea. UM PACIENTE COM GLASGOW <= 8 PRECISA SER INTUBADO DE URGÊNCIA? Exemplo: paciente chegou rebaixado com AVC hemorrágico extenso; Glasgow 6. Nesse caso, entuba ou espera? Paciente Glasgow <= 8 pura e simplesmente (se não for pneumopata, por exemplo) tem drive respiratório (incursão respiratória) e saturação boa. Se ele não tiver drive, ele está em parada respiratória (apneia). Se a saturação e a frequência respiratória estiverem boas, não há necessidade de entubar de imediato. No caso de insuficiência respiratória, saturação baixa, deve entubar de imediato, pois ele pode parar por hipoxemia. Exemplo: paciente com Glasgow <8 e saturação 98%: Lembrar que a broncoaspiração não acontece da noite para o dia. Quando ele tiver com essa saturação, pode colocar uma cânula de Guedel para proteger a queda de base de língua, proteger a via aérea, porém não precisa pressa para entubar. Outra coisa que precisa de intubação com maior rapidez, mesmo com a saturação boa, é vômito. Se o paciente estiver rebaixado e vomitar, é preciso impedir que o vômito caia no pulmão, necessitando de maior pressa na intubação, para assim, impedir uma pneumonite. Não tem nada pior do que conteúdo gástrico em via aérea (pneumonite química). Caso o paciente broncoaspire, se foi muito conteúdo, é necessária uma broncoscopia; quando pouco conteúdo, fazer antibiótico. Se ficar muito tempo em coma alcóolico, tem que intubar (dá pra esperar um pouco), principalmente se o paciente estiver vomitando. PS: No caso de via aérea difícil, pode passar uma máscara laríngea, quando risco de broncoaspiração. 3 PRINCIPAIS CENÁRIOS DE GLASGOW <9 ONDE NÃO INTUBA Status neurológico prévio (Alzheimer avançado, Parkinson avançado, demência, sequela do AVC). A maioria dos idosos tem uma gastrostomia, ou seja, uma sonda que leva o líquido direto pro estômago, burlando o circuito oral, pra evitar a broncoaspiração. Os pacientes com demência avançada normalmente morrem por pneumonia broncoaspirativa. Observação: se o paciente tinha um Glasgow basal de 6-7 e caiu pra 3-4, ele precisa ser intubado. HGT <70mg/dl (RNC por hipoglicemia): hipoglicemia faz tríade de Whipple - tremores, sudorese, rebaixamento. Se foi resolvido Intubação Orotraqueal - IOT 3 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre (flush de glicose) o HGT e o rebaixamento permanece, deve intubar, pois o rebaixamento não foi pela hipoglicemia. Estado pós ictal – espera pra intubar: geralmente demora 5 minutos no máximo e a gente espera até 10. Mais do que 5 minutos, já pensa em intubar, e mais do que 15, intuba. Status de mal epiléptico = intubação. Pacientes com insuficiência respiratória necessitam de intubação mais rápida. QUEIMADURA DE VIAS AÉREAS • Qualquer queimadura de via aérea (elétrica, térmica, química – maioria) é considerada indicação absoluta, pois a chance da queimadura irritar a via aérea é muito grande. Se a via aérea fechar, não tem como colocar um tubo ali, sendo necessário fazer uma cricotireoidostomia de urgência. Exemplo: paciente queimou a região cervical. Se a queimadura for de 2º grau em diante e queimou a cervical, é indicação de intubação, pois pode irritar a via aérea de alguma forma, e ela pode fechar. ❖ Normalmente, as queimaduras de via aérea são químicas, exemplo de um paciente que engole ácido muriático, tenta engolir soda caústica. ❖ Em alguns casos, inalação de fumaça pode ser considerada queimadura. DESATURAÇÃO • Desaturação <90% ou PO2 < 60mmHg refratário a FiO2 mínima de 50% e/ou VNI → intubação. ❖ Neste caso, mesmo com toda essa oferta de oxigênio, o paciente não consegue manter uma saturação e uma pressão de oxigênio boa. ❖ Isso é caracterizado como insuficiência respiratória refratária ao O2 suplementar. ❖ Exceção: DPOC - tolera até 88% de saturação; o ideal é que fique entre 90-92%. Se ultrapassa 92% faz carbonarcose (depressão respiratória com sintomas neurológicos). ❖ Inalação de fumaça pode ser considerada queimadura, dependendo do tipo de fumaça (exemplo. Fumaça de produto químico). EDEMA AGUDO DE GLOTE • Exemplo: paciente com alergia a camarão, dipirona → edema agudo de glote. No ar ambiente, a FiO2 é 21 (21% do ar que respira é oxigênio). Ar = O2 (21%) + CO2 + nitrogênio (70%). A máscara de venture pode aumentar de 28 a 50% a FiO2, a depender do diâmetro da bitola da máscara. A máscara não reinalante, a qual tem uma bolsa de oxigênio, você tem 86-87% de oxigênio (teoricamente 100%). O ambu ligado ao fluxo de 15l/min tem 100% de oxigênio. A distribuição de gases na atmosfera é igual em qualquer lugar da terra. Quanto maior a altitude, menor a pressão de oxigênio. Pra você respirar, é necessário deslocar um volume de ar ambiente para o pulmão. Pra encher bem o pulmão de ar, é preciso deslocar mais ou menos 360-480 ml de oxigênio (depende do peso). A lei que rege o movimento dos fluídos é a equação de Picelli, que fala que todo fluido só pode ser deslocado se houver diferença de pressão entre os 2 pontos de deslocamento. Quanto mais você negativa a sua pressão intratorácica, maior é a quantidade de ar que você desloca. Para saber quanto de FiO2 o paciente está naquele momento, deve-se observar a máscara que ele utiliza. Exemplo: ar ambiente → 21% de FiO2; máscara venture 45 → 45% de FiO2; máscara não reinalante → 100% de FiO2. INDICAÇÕES RELATIVAS • Quando é possível manejar sem necessariamente intubar, ou no caso de uma intubação temporariamente naquele determinado momento; PCR ❖ Paciente PCR não é obrigatório intubar, desde que você esteja oferecendo uma fração de oxigênio (FiO2) de 100% com o ambu e o paciente esteja com a expansibilidade torácica adequada. ❖ Na prática, todo mundo intuba. Começou a comprimir, já prepara o material de tubo. 4 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre PROCEDIMENTO ANESTÉSICOS ❖ Exemplos: cirurgia de remoção de vesícula, apêndice. Eletiva. USO DE SURFACTANTE ❖ Neonato prematuro que necessita de surfactante para maturação dos pneumócitos. Intuba, coloca o surfactante na boca do tubo, dá uma ambuzada pra chegar no pulmão e tira o tubo. REALIZAÇÃO DE EDA EM PACIENTES REBAIXADOS ❖ Necessidade de endoscopia em pacientes rebaixados (por conta da analgesia e sedação). Ao colocar o tubo no esôfago, pode induzirvômito. Intuba para proteger a via aérea. MATERIAIS LARINGOSCÓPIO O laringo é composto por 1 cabo e lâminas (divididas em retas e curvas). • Retas: pediatria (00 - neonato, 0 e 1) e grandes obesos (3 e 4). O obeso, por ter um pescoço maior, tem a tendência de ter a valécula mais funda, e a lâmina reta consegue ir mais fundo do que a curva. • A maioria dos pacientes são intubados bem com a lâmina curva 4-5. A dica da intubação é: Não entre com a lâmina toda!! O ideal é entrar um pouco, rebater a língua e ver se localiza a valécula. Se você entrar com a lâmina toda, você vai perder em 90% dos casos a via aérea do paciente, caindo direto no esôfago. TUBO OROTRAQUEAL • Mulher: de 7 a 7,5mm (diâmetro da boca do tubo). • Homem: de 7,5 a 8,0mm. Não é uma regra! Na prática, utiliza-se 8,0 para todo mundo, exceto quando a pessoa é muito baixinha (<1,50m). • DPOC: geralmente utiliza-se o tubo de maior diâmetro que couber, inserindo até 22 cm (distância da parte proximal do tubo na rima labial à altura inserida). Coloca o maior tubo (8,0 – 9,5) para evitar resistência adicional da via aérea com um tubo fino e nesse caso, não ventila bem o paciente. • Regra: Tamanho do tubo X 3: tamanho do tubo que se deve introduzir. Se o tubo é 7, introduz até 21 cm. Se o tubo é 8, introduz até 24 cm. Não é regra! Na prática, é comum inserir 22 cm em todo mundo, não há erro! Se colocar o tubo todo ou inserir além da conta, o tubo pode se dirigir ao brônquio menos angulado, seletivando a respiração e atelectasiando o pulmão contralateral. Todo tubo (com exceção do tubo neonato) tem um CUFF (balão), que serve para vedar via aérea e impedir o escape, além de impedir que secreções caiam no pulmão. O CUFF deve ser insuflado com pressão aproximada de 20-30cm de água, ou seja, você pega uma seringa de 20 ml e insufla com 10- 15mL de ar. Se hiperinsuflar o CUFF, tem risco de necrose de parede de traqueia devido a um esmagamento de vascularização. Deve ter de 6 a 8 ml/kg de peso predito (peso pela altura) de ar deslocado. TIPOS DE INTUBAÇÃO • Ideal → Intubação antes da bifurcação da carina, da traqueia. • Seletivação brônquica → intubação com tubo localizado em um dos brônquios. • Intubação do esôfago → inadequado (não intubou). AMBU, ESTETO, SERINGA E MONITOR • Esteto: VOLTANDO A PARTE DOS MATERIAIS: se você auscultou o epigástrio e ouviu bulha de ar gástrica, você entubou o 5 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre esôfago, sendo necessário retirar o tubo e tentar outra vez. Se não auscultar nenhuma bulha de ar gástrica no epigástrico, você ausculta as bases direita e esquerda (sempre paralelas) do tórax, e depois os ápices direito e esquerdo. Não pode auscultar só 1 lado, isso porque, o tubo pode tá seletivo pra aquele lado e você pode ouvir só daquele lado e não ouvir do outro OU o tubo pode estar só do outro lado e você não ouvir e achar que não entubou. • Seringa de 20ml: pra insuflar o cuff. Lembrar de insuflar com 10 a 15cm de ar, que equivale a 20-30cm de água (pressão ideal). • Monitor: monitorização (FC, PA, saturação e eletro – QRS). • Ambu: material imprescindível para testar o tubo (saber se está no estômago ou pulmão) e para a pré-oxigenação (geralmente até ele permanecer com saturação de 94%, tempo no máximo de 10min, mas varia de acordo com o caso). O ambu é formado por bolsa + máscara + balão. Se conecta esse ambu a uma fonte de oxigênio a 15L por minuto, será fornecido na máscara SOMENTE oxigênio (nenhum outro gás) - 100% de FiO2. A pressão de oxigênio (pO2) normal é entre 80 e 100 mmHg. A cada passagem do sangue pelos órgãos, a pO2 reduz de 15 a 20 mmHg. Pra manter a pressão fica em 80, é preciso necessariamente estar respirando, porque se o paciente parar de respirar, no 1º ciclo cai pra 80, no 2º ciclo cai pra 60, no 3º ciclo cai pra 40. Quando passa de 60, já tem hipoperfusão grave de órgãos. Se eu quintuplicar a oferta e o paciente mantiver o mesmo padrão respiratório (20ipm) com a mesma quantidade de negativação intratorácica, ele vai deslocar 5 vezes mais oxigênio para o seu pulmão, e a pressão vai aumentar 5 vezes mais (diretamente proporcional). Ao necessitar ser intubado, o paciente recebe 400-500 de pO2, pois ele vai ser sedado, ou seja, invariavelmente o drive vai ser tirado, e o bulbo, desligado. Neste caso, ele vai apresentar uma bradipneia monstruosa (FR 20 → 5), não vai ventilar bem, mas vai ter muito oxigênio pra consumir. Se tiver pouco oxigênio circulando no sangue enquanto o paciente estiver sedado, ele vai acabar parando por hipóxia. Isso porque sedado o paciente não respira, entrando em apneia ou bradipneia intensa. Já se for oferecido muito O2 antes, ele tende a tolerar o procedimento por muito mais tempo. Então, para você tirar o drive respiratório, necessita pré-oxigenar o paciente. Exemplo: Na UTI, um paciente HIV +, com neurotoxoplasmose, rebaixou com Sat 97%. O interno ficou segurando o ambu (não precisa ambuzar), com FiO2 em 100%, por 10 minutos (pré- oxigenação). Isso é importante, pois, quando a pré- oxigenação é feito adequadamente, o paciente tolera algumas tentativas falhas de IOT, pois sustenta uma boa SatO2 sem cair rapidamente. Contudo, não é todo paciente que vai ficar 10 minutos pré-oxigenando, a exemplo da insuficiência respiratória que às vezes não dá tempo de pré- oxigenar ou o faz enquanto monta o tubo. Montou? Intuba! O ideal é que você fique até ele estabelecer uma saturação de 94%. O mesmo acontece em casos de respiração anárquica, gasping respiratório, edema agudo de glote. Principalmente se for observado que com a pré-oxigenação não está conseguindo elevar a saturação do paciente, sugerindo uma insuficiência respiratória grave, já que nem com pressão positiva (apertando o balão do ambu) ele melhorou SatO2. Mas mesmo que se consiga melhorar O2, não pré-oxigene por muito tempo, pois é insuficiência respiratório. O que dá pra pré-oxigenar por 10 minutos é o rebaixamento do nível de consciência (RNC), paciente sem pneumopatia, sem obstrução, intubando para proteger via aérea. A exceção do que você vai pré-oxigenar é na DPOC, que se pré-oxigena o suficiente para o paciente alcançar SatO2 > 92%. Isso porque, na DPOC se colocar muito O2 para dentro, fizer hiperóxia, ele vai dessensibilizar o bulbo e fazer uma carbonarcose cerebral, vai reter mais que o normal. O bulbo entenderá que está tudo bem, que tem muito O2 e vai para de tentar lavar. Logo, vai acumular mais CO2 ainda, vai fazer acidose respiratória mais grave ainda e vai rebaixar. Exemplo: um colega quis intubar um paciente com DPOC, saturando 100%, confortável, mas rebaixado. Esclareceu que nesse caso, o paciente estava 6 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre rebaixando devido a ampla oferta de O2. Foi colhida a gasometria, que veio com pO2 de 193mmHg, saturação de 100%, com pCO2 de 65mmHg, evidenciando assim a carbonarcose. Foi diminuída a oferta de oxigênio, da máscara não reinalante (FiO2 100%) para o cateter 2L (FiO2 de 28%) e em 2 horas, o paciente que estava prestes a ser intubado, voltou ao normal. • Saturação de oxigênio (SatO2): É a quantidade de O2 ligada a hemoglobina. Indica transporte, carreamento de O2. O transporte pode estar deficiente por dois motivos: 1. Não tem hemácia para transportar; 2. Não tem substrato (O2) para transporte; • Pressão de oxigênio (pO2): A pO2 sozinha é a arte pela arte, não quer me dizer nada. Depende da FiO2. Quando se diz que em ar ambiente, Fi02 de 21%, a pO2 é de 80mmHg, e agora no ventilador coloca a FiO2 para 100%, significa dizer que agora a pO2 tem que ir pra 400mmHG (5x mais). Agora se eu tenho no ventilador uma FiO2 de 50% e uma pO2 de 90mmHg,isso é adequado? Você calcula a relação pO2/FiO2 → 90/0,5 = 180. Quando se pede na gasometria, por exemplo, deve-se pegar o valor da pO2, saber qual a FiO2 está sendo ofertada e calcular, não apenas considerar a Po2 isolada, mas sim sua relação com a FiO2. A relação pO2/FiO2 é que é importante, pois indica troca gasosa, avaliando se está baixa ou não. O COVID é a doença que mais faz troca gasosa deficitária, você tem pO2 50 com FiO2 de 100%. Com isso, fica inviável a sobrevivência, o paciente com uma hipoxemia severa, gravíssima, mesmo ofertando o máximo de FiO2. Troca gasosa (pO2/FiO2) Valor de referência Excelente >400 Boa >300 Aceitável >200 Ruim 100-200 Péssimo <100 Incompatível com a vida, se persistir <50 • Pressão de dióxido de carbono (pCO2): Pensar em pCO2 é pensar em ventilação, capacidade que o paciente tem em lavar CO2. Quanto mais o paciente consegue lavar CO2, mais ele ventila bem. Valor de referência do pCO2: 35-45mmHg. RESUMO: Saturação é transporte, pO2/FiO2 é troca gasosa e pCO2 é ventilação!!! Quanto mais ele consegue trocar oxigênio, melhor a relação pO2/FiO2. Quanto mais ele consegue transportar O2, melhor a saturação. Pergunta: Como se lava CO2? No ser humano normal (hígido), aumentando a FR. Quanto maior a FR, mais se joga CO2 para fora. Mas no DPOC não. Um paciente que chega com uma FR de 40ipm, ele está exigindo 2x mais do diafragma. O diafragma é responsável por 70-75% do mecanismo de negativação da pressão intratorácica na inspiração, para que se tenha o deslocamento de ar. Os outros 20-25% são de responsabilidade dos serráteis, peitoral maior, peitoral menor, intercostais. Acontece que nossa musculatura torácica foi condicionada para respirar em 20ipm, no fisiológico. Quando começa a se exigir mais do que o fisiológico, acontece fadiga muscular. O diafragma não fadiga contraindo 20x/minuto, mas se colocar para ele contrair 40x/min ou cada vez mais intenso, ele fadiga, por exemplo devido a uma DPOC, TEP, asma, pneumonia, que exigem uma contração mais intensa para deslocar mais ar. Assim, está aumentando o peso e o número de contrações do diafragma, que não descansa e fadiga, caindo o volume de ar deslocado. Então ele que deslocava 360-480mL de ar, passa a deslocar só 100mL, o que não perfunde nem 25% do pulmão, começando a hipoxemia. Logo, quanto mais hipoxemia, mais o diafragma se esforça para contrair muito e mais fadiga, gerando assim um ciclo, culminando em uma insuficiência respiratória grave → apneia → óbito. Esse caso, por exemplo, não dá para ficar 10 minutos pré- oxigenando. Por essas razões, o sofrimento respiratório é uma indicação de IOT! PREPARO MONITORIZAÇÃO • Oximetria de pulso; 7 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre • Monitor cardíaco; • HGT; • Dois acessos periféricos calibrosos: na prática, 1 já é difícil e 2 é demais! • Pré-oxigenar com dispositivo Bolsa-máscara- reservatório; • Objetivar SATO2 >94%, porém em DPOC entre 90 e 92% é aceitável; • Testar luz do laringoscópio e cuff; • Paramentação: capas, luvas estéreis, máscaras, óculos, gorro. N95, face shield e capa impermeável em casos de COVID. • Posicionamento do paciente: alinhamento do eixo laríngeo com o eixo faríngeo e com o eixo oral. Sniff position = eixos alinhados. ❖ Extensão: ir até onde o paciente não oferece resistência. Se oferecer resistência já é hiperextensão. ❖ Colocar coxim occipital. Lembrar: todos esses testes devem ser feitos antes de sedar a analgesiar, para evitar problemas durante o procedimento que façam com que o paciente fique mais tempo do que o necessário em apneia. Para intubar, é preciso visualizar o que está atrás da glote, que é a corda vocal. Visualizar só a glote é o mesmo que nada. Em situações de trauma raquimedular (TRM), não é pra estender a cabeça do paciente, podendo ser feita a manobra jaw thrust (deslocamento da mandíbula) pra facilitar o acesso a corda vocal. INDUÇÃO Em 70% dos casos, é usado apenas analgesia e sedação. O bloqueio é utilizado em casos específicos (exemplos: paciente com estômago cheio pra não fazer reflexo de vômito, pacientes com COVID pra não fazer reflexo de tosse, pacientes muito jovens em que a analgesia e sedação ainda não estão funcionando bem). Analgesia e sedação normalmente tem o tempo de meia vida e a ação curta, ou seja, entra rápido e sai rápido. A ordem da administração das drogas é: 1º - Analgésico; 2º – Sedativo; 3º Bloqueio muscular. Nunca fazer o bloqueio antes de sedar e analgesiar, pois causa uma sensação ruim. ANALGESIA FENTANIL Ampola 50mcg/ml // 3mcg/kg IV em bolus lento!!! 100X mais potente que a morfina. Urgência e emergência. Pode diluir! Exemplo: paciente com 70 Kg: 70 X 3mcg → 210 mcg → 3-4ml. • Ramifentanil: mais caro, difícil acesso. Droga de centro cirúrgico. Quando o fentanil é dado em bolus rápido ocasiona rigidez torácica. Pra reverter essa situação, é preciso fazer bloqueador neuromuscular. Naloxone é pra reverter os efeitos opiáceos do fentanil, por exemplo, nos casos de intoxicação. SEDAÇÃO PROPOFOL 1% 10 mg/ml // 1 mg/kg IV em bolus → dose de indução (faz bradicardia e parada respiratória). Sem diluir. A dose recreativa é 0,5mg/Kg. A dose recreativa é a metade da dose de indução. ❖ Características: meia vida curta – cerca de 5 minutos (sai tão rápido quanto entrou), tempo de ação rápida, anticonvulsivante (neuroproteção), hipnótico e sedativo (gaba agonista), amnésico, hipotensor. A depender do contexto, a característica hipotensora pode ser uma vantagem ou uma desvantagem. ❖ Concentração quase que pura no cérebro. ❖ É a droga do neurocrítico (HSA, AVC hemorrágico, crise convulsiva, mal epiléptico, TCE grave). ❖ Não fazer em pacientes hipotensos; até 13X8 pode usar, mas abaixo disso, não usa. ❖ Se for para indução, pode ser feita em acesso periférico, mas se for de infusão contínua faz em 8 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre acesso central, pela característica concentrada dele. É importante ter meia vida curta porque eles provocam hipotensão, bradipneia, depressão respiratória. Em 5 minutos o propofol para de fazer efeito e o paciente começa a acordar. Exemplo: paciente com 70 Kg: 70 X 1 → 70 mg → 7ml. 32:00 ETOMIDATO • Ampola 20 mg/10ml - DOSE: 0,3mg/KG IV em bolus, sem diluir. Características do etomidato: a principal é a inércia hemodinâmica, ou seja, ele não muda a hemodinâmica do paciente; além disso, de todos, ele tem o tempo de ação (20-30 segundos) e o tempo de permanência (meia vida - 2 minutos) mais curtos (tempo de ação curtíssimo e o tempo de meia vida mais curto ainda). “Se o médico quer intubar com o etomidato, que ele saiba intubar”. Essa afirmação ocorre porque caso o médico erre uma vez, ele não vai ter segunda chance, não com o etomidato, porque logo mais o paciente está acordando de novo (é bater, derrubar, e dois min depois o paciente acordar). Normalmente, após a maioria das IOT´s, é feita solução de manutenção, com algumas drogas, entretanto, etomidato não faz manutenção, Drogas para manutenção: propofol, midazolan, quetamina e fentanil. • Etomidato é EXCLUSIVAMENTE PARA INDUÇÃO; • O propofol e o fentanil podem fazer indução e manutenção; • O dormonid (midazolan) normalmente só faz de manutenção, não sendo muito bom para induzir; • A quetamina é usada tanto para indução, quanto para manutenção. É importante salientar que é possível fazer indução com uma droga e manutenção com outra. Logo após a indução começa a manutenção, porque senão o efeito do indutor acaba, o paciente acorda, e é capaz até dele mesmo tirar o tubo. Normalmente, quando vai intubar o paciente, já deixa as drogas de manutenção prontas. Induz → intuba→ manutenção. Sem esperar o tempo de meia vida acabar. KETAMINA • 50mg/ml - DOSE: 1–2 mg/KG em bolus, sem diluir. A ketamina foi descoberta em 1942 por um médico nazista experimentalista, que fazia experiências com drogas em judeus. Esse médico foi quem mais estudou esta droga em específico, estudando o seu efeito quando usada em alta vasão, em grandes quantidades, em baixa vasão e em alíquotas. Ele descobriu que quando essa droga era aliquotada, ou seja, dada em pequenos bolus, os judeus começavam a ficar logorreicos e polilálicos, ficando conhecida como “soro da verdade”. • A ketamina tem um efeito dissociativo, que quando é dado em alíquotas, em pequenos bolus, faz esse efeito de logorreia e polilalia descontrolada. O efeito dissociativo é uma desvantagem. Pra induzir (em bolus) não tem efeito dissociativo, mas pra manter (alíquota), é necessário associar com outro sedativo, como propofol, dexmetonidina (Precedex), para poder equilibrar. • Efeito broncodilatador: bom medicamento para usar, por exemplo, em pacientes com asma, DPOC. • Efeito hipertensivo e taquicárdico: não pode ser utilizada em pacientes que tenham ou estejam com pressão alta, assim como em pacientes com taquiarritmia (FA, taquisupra). A ketamina é contraindicada para neurocrítico (HSA, AVC hemorrágico, crises convulsivas), pois aumenta a pressão intracraniana devido ao efeito hipertensivo. • É sedativa e analgésica, embora a analgesia não seja uma das melhores, sendo associada comumente com o fentanil. Se for infundir a ketamina em dose contínua, em tempo contínuo, deve-se lembrar de associar ao propofol, ou ao Precedex (chama de quetafol ou quetadex essa associação). O efeito sedativo do propofol e da dexmetonidina devem superar o 9 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre efeito dissociativo da ketamina, ou seja, você vai equilibrar o efeito dissociativo do paciente; seda o paciente com o propofol, por exemplo, mas ao mesmo tempo tem também os efeitos positivos da ketamina. SEMPRE deve associar um dos medicamentos de sedação a um analgésico e um bloqueador. • De todas as drogas sedativas, a ketamina é quem menos reduz o drive respiratório, sendo costume dizer que preserva o drive. Importante: a ketamina não deve ser feita para uma crise hipertensiva, edema agudo hipertensivo ou neurocrítico. BLOQUEIO NEUROMUSCULAR O bloqueio faz parte do tripé, mas não é obrigatório. Se o bloqueio neuromuscular for usado, vai facilitar bastante a vida. O bloqueio muscular tira completamente a capacidade do paciente respirar, pois bloqueia a placa motora e o estímulo não vai passar para o músculo. Se não for possível intubar com o paciente bloqueado, tem que fazer crico de urgência, porque na maioria das vezes não responde bem aos antídotos e demora 20-30 minutos pra passar o efeito. Existem 3 classes: 1) despolarizantes; 2) não despolarizantes; 3) de infusão contínua (curare; curarizantes). O bloqueador neuromuscular não é usado de rotina em infusão continua. As únicas hipóteses de utilização de BNM de rotina em infusão contínua são COVID e SARA, sendo o único permitido cisatracúrio. Importante: pra induzir, o ideal é analgesia, sedação e bloqueio. Pra manter, analgesia e sedação apenas. Não utiliza o BNM de rotina na manutenção. DESPOLARIZANTES • Succinil-colina, DOSE: 1,5 mg/kg. Vai induzir despolarização celular, jogando potássio para fora da célula, que vai para corrente sanguínea. Então, a principal contraindicação da Succinil-colina é hipercalemia, sendo também contraindicada em caso de hipertermia, pois eleva temperatura do paciente. Se o paciente já tiver febre, não pode fazer succinil, pois pode induzir hipertermia maligna. NÃO-DESPOLARIZANTES • Rocurônio, DOSE 50mg IV (dose única para todos). • Não precisa pensar se o paciente tem hipercalemia, hipertermia. Dá certo pra todo mundo. Vai usar o succinil e o rocurônio em caso de COVID (obrigatório, para evitar reflexo de tosse) ou quando o paciente está com estômago cheio (para evitar reflexo de vômito). Vai usar também no paciente no qual já fez sedativo e analgésico, mas ele ainda está tendo resistência (contração maxilar, tentativa de fechar boca). Importante: O índice de mortalidade é altíssimo em pneumonite química alimentar. Só reverte, em parte, o succinil. O rocurônio não reverte. Na verdade, BNM só reverte, de fato, com o tempo (15 – succinil a 30 min - rocurônio). Por isso, quando faz BNM tem que continuar a intubação. • Contraindicação absoluta em pacientes com via aérea difícil, pois se não conseguir intubar, o paciente não ventila até o tempo de reverter. TÉCNICA 1. Introdução do laringoscópio: com a mão esquerda. Rebate a língua para a esquerda. 2. Visualização da região glótica: só intuba quando visualizar a abertura da valécula. Tem que ver as cordas vocais!!!!! 3. Introdução do tubo: entra com o tubo com a mão direita. 4. Insuflar o cuff: 20-30cm de água. Menos que isso, pode ter escape e vir secreção bronquial. 10 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre PÓS IMEDIATO DE IOT CONFIRMAÇÃO DA TÉCNICA 1. Ausculta dos campos pulmonares → conectar o AMBU ao tubo e auscultar: epigástrio, base de HTXs e ápices do HTXs. 2. Raio X de tórax. CAPNOGRAFIA DE CURVAS PROVA: É o método mais acurado de comprovação que o tubo está no pulmão. É o método que utiliza para dosar o CO2 do paciente, ou seja, identificar a pressão de CO2 exalado. Se tiver exalando CO2, vai fazer curva (imagem 2), confirmando que o tubo está na traqueia. Se estiver no esôfago, o gráfico será uma linha, pois não sairá CO2. MÉTODOS COM MENOS ACURÁCIA • Tubo embaçado: pior método de confirmação de todos. • Elevação do tórax a cada insuflação do AMBU. • Melhora da saturação de O2 pelo oxímetro de pulso. FIXAÇÃO DO TUBO 11 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre INTRODUÇÃO • Parada cardiorrespiratória é a expressão de máxima gravidade em qualquer situação patológica. 1.0 - RECONHECENDO UMA PCR O primeiro passo é saber reconhecer uma parada cardiorrespiratória. • 1.1 - Paciente não responsivo: pega o paciente pelo ombro, dá uma sacolejada e fala ¨senhor, senhor, o senhor está bem?¨. Se o paciente não responde, ele já está com 50% do diagnóstico da parada, sendo os outros 50% dado por: • 1.2 - Ausência de pulso central (carotídeo – melhor ou femoral) por 5-10 segundos. Paciente com hipotireoidismo, betabloqueado, com bradicardia sinusal prévia, atletas de alta performance podem ter o pulso mais fraco. Paciente não responsivo + ausência de pulso central → PCR (parada cardiorrespiratória). 2.0 - CONDUTAS INICIAIS A primeira coisa a se fazer é a análise de ritmo. • 2.1 - Solicitar um carrinho de parada: deve ser o mais brevemente possível trazido até o paciente. • 2.2 - Compressões torácicas: devem ser iniciadas assim que diagnosticar a parada. a) Posicione o corpo perpendicular a vítima e mantenha os braços em extensão; a ideia é que a vítima esteja na altura dos seus joelhos. Mão dominante na frente e a não dominante entrelaçando os dedos da mão dominante. Encaixar a região hipotênar na linha intermamilar, no esterno do paciente. Braço esticado e cotovelo reto, usando o peso do tronco pra comprimir, porque assim cansa menos. Quanto menor a área, maior a pressão. b) Profundidade – 5-6 cm permitindo o retorno completo do tórax após cada compressão; comprima rápido e forte. Ritmo de acordo com a música ¨Staying alive¨. c) Comprima a uma velocidade de 100-120 compressões/min. Se opaciente não tiver intubado, inicia com 30 compressões, e em seguida, 2 ventilações, por 2 minutos. (30 compressões: 2ventilações durante 2 minutos). É quase uma regra que o paciente em PCR seja intubado. Lembrar de estender um pouco a cabeça do paciente. Assim que consegue a via aérea avançada (intubação do paciente), não precisa mais contar até 30. As compressões são feitas 100- 120/min e a ventilação é feita a cada 6 segundos. • 2.3 – Abrir vias aéreas e iniciar ventilação com dispositivo bolsa máscara; a) Realize 2 ventilações a cada 30 compressões; certifique-se que o tórax do paciente está expandindo adequadamente; b) Se o paciente não tiver intubado, ao final do 5º ciclo 30 compressões 2 respirações (30:2) verifique o pulso e pratique revezamento das compressões X ventilações. ATENÇÃO - IOT • Tempo de procedimento <30 segundos; • Obrigatoriedade do procedimento; • Hiperventilação: malefícios do aumento da pressão intra-abdominal e intratorácica, aumenta retorno venoso, piora déficit de VD; • Intervalo de tempo para cada ventilação – 6 segundos. Parada Cardiorrespiratória 12 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre ACESSO PARA ADMINISTRAÇÃO DE DROGAS • Acesso intravenoso: preferível. • Acesso intraósseo – Quais das medicações abaixo podem ser realizadas? a) Volume. b) Hemoconcentrados. c) Drogas. d) Todas as afirmativas acima. Pode ser feito adrenalina, amiodarona. Se não tiver conseguindo o intravenoso, pega o intraósseo. 3.0 - CHEGADA DO CARRINHO DE PARADA 3. Chegada do carrinho de parada. • 3.1 Posicione as pás do desfibrilador; 1 pá na região infraclavicular direita e outra no ictus (mais ou menos abaixo da linha mamilar). ❖ Ritmo chocável → Choca e volta a compressão. Você só vai saber se o paciente voltou ou não no próximo ciclo. Cada ciclo dura 2 minutos. Se a parada teve 5 ciclos, o paciente teve 10 minutos de parada. Enquanto esses 2 minutos está passando, ou você tá fazendo 30 compressões:2 ventilações (paciente não intubado) ou você tá fazendo 100-120 compressões/min e ventilação a cada 6 segundos (paciente intubado). Quando mais rápido você intuba e checa o ritmo, mais organizada fica a parada. ❖ Ritmo não chocável → continua a manobra de ressuscitação. A primeira avaliação de ritmo é imediata, assim que o carrinho de parada chega. A cada 2 minutos se analisa o ritmo novamente. 20 minutos de tentativa é uma média boa. No DEA não dá pra checar ritmo, mas dá pra saber se é chocável ou não chocável. No suporte avançado, quem checa o ritmo é o médico. • 3.2 Tipos de desfibrilador: bifásico – choque dado por 200 joules; monofásico – choque dado com 320-360 joules. Na prática, bifásico pra todo mundo. • 3.3 Situações especiais: ❖ Uso do marcapasso: não pode dar o choque em cima do marcapasso, sendo necessário ser do lado ❖ Corpo molhado: tem que enxugar. ❖ Excesso de pelos: fazer uma tricotomia pelo menos nos locais em que as pás serão colocadas. Observação: Se a parada for por hipoxemia ou afogamento, é obrigatória intubar!!! O mais importante na parada é a análise do ritmo. Nada nem ninguém pode atrasar a análise do ritmo (30-45s no máximo). RITMOS CHOCÁVEIS • Fibrilação ventricular (FV) – Critérios diagnósticos: ❖ Ausência de ondas que representam atividade cardíaca correta; ❖ QRS sinusoidais; ❖ Ausência de pulso no exame físico. FV é ritmo exclusivo de parada. É o famoso ¨treme treme¨ cardíaco. Tudo bagunçado = FV. • Taquicardia ventricular: Critérios diagnósticos. ❖ FC >100bpm com atividade elétrica anárquica; ❖ QRS alargado (QRS >120ms); ❖ Ausência de pulso. 13 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre Existem 2 tipos de TV: com pulso (monomórfica e polimórfica) e sem pulso. TV sem pulso é a mesma coisa que TV monomórfica com pulso, sendo a diferença que um tem pulso e o outro não, um vai cardioverter se precisar (se tiver instabilidade) e o outro vai desfibrilar (sem pulso). A diferença entre cardioverter e desfibrilar, é que a cardioversão é dada no pico do QRS, enquanto a desfibrilação é dada em qualquer período. Seleção de carga – carregamento de carga – choque Os ritmos chocáveis tem 35% a mais de chance de saírem de uma parada do que os não chocáveis. RITMOS NÃO CHOCÁVEIS • Assistolia: linha de base eletrocardiográfica isoelétrica em todos os planos eletrocardiográficos. • Atividade elétrica sem pulso (AESP): presença de atividade eletrocardiográfica organizada (presença de onda P, QRS e onda T) na ausência de pulso. Na maioria das vezes o QRS vai estar largo, simulando um BRD ou BRE, porque já é um miocárdio sofrido. É raro AESP com QRS fino. • PSEUDOAESP é um dos casos em que o soco precordial está indicado. Dicas: dificilmente se tem AESP com QRS fino; dificilmente tem AESP com mais de 40 batimentos. AVALIAR CAUSAS DE RITMOS NÃO CHOCÁVEIS Tem que pensar nisso durante a parada. • Intoxicações: é complicado resolver intra-PCR, mas assim que ele sair, faz lavagem gástrica, antídoto e carvão. • Tamponamento cardíaco: tríade de Beck: hipofonese de bulhas, hipotensão arterial e turgência de jugular. Precisa ser identificada antes da parada. Não dá pra fazer punção pericárdica com o paciente sendo comprimido. Tem que esperar o paciente sair da parada pra fazer a pericardiocentese de alívio. • TEP (tromboembolismo pulmonar): fibrinólise. • IAM (infarto agudo do miocárdio): fibrinólise. Nas primeiras 2 horas para por FV e TV e nas próximas horas para por AESP e assistolia. • Hipovolemia: soro. Dá pra resolver durante a PCR. • Hipóxia: intubação. • Hipercalemia: mais difícil de resolver na PCR. Solução polarizante e bicarbonato podem ser feitos durante a PCR. Assim que terminar, dialisar. 14 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre • Hipotermia: aquecimento. Dá pra resolver durante a PCR. • Acidose sanguínea: bicarbonato durante a parada. Assim que voltar, dialisa (correção da desordem do sangue). • Pneumotórax: Tem que esperar voltar da parada. Punção do tórax. 5Hs (hipovolemia, hipoxemia, hipercalemia, hipotermia e H+ - acidose sanguínea). 5Ts (tóxicos, tamponamento, tromboembolismo pulmonar, trombo cardíaco e tensão pulmonar). Observação: Não se punciona subclávia esquerda, pois isso aumenta o risco de pneumotórax. Ritmo clássico de fibrilação ventricular (completa desorganização da atividade cardíaca). Paciente em cuidados paliativos sem orientação de reanimar. DROGAS UTILIZADAS DURANTE A PCR ADRENALINA • Adrenalina: 1mg a cada 3 a 5 minutos. Se cada ciclo dura 2 minutos, ciclo sim e ciclo não pra fazer adrenalina. ❖ A adrenalina se faz tanto em ritmo chocável quanto não chocável. A ACLS preconiza que no ritmo chocável seja feita a 1º dose de adrenalina após a 2º checagem de ritmo. Exemplo: chequei o 1º ritmo agora, é chocável, fiz o choque, fiz compressões, 2 minutos depois chequei o ritmo de novo, é chocável, faço a primeira adrenalina. • Ou seja, quando você tem a segunda checagem de ritmo e o paciente ainda continua em PCR, é feita a primeira adrenalina em ritmos chocáveis. • Nos ritmos não chocáveis, já faz adrenalina assim que se percebe a PCR. Na prática, entrou em PCR, já faz adrenalina. AMIODARONA • Amiodarona: 1º dose – 300mg/ 2º dose – 150mg. Depois não faz mais. A amiodarona só faz em ritmo chocável (FV e TV). ❖ 300mg 2 minutos após a primeira dose de adrenalina. Em teoria, fica assim: adrenalina entrou agora. 2 minutos depois chequei o ritmo e continua chocável → choque, amiodarona (300mg). 2 minutos depois chequei o ritmo, é chocável → choque, adrenalina. 2 minutos depois, chequei o ritmo, é chocável → choque, amiodarona (150mg). Depois disso, fica só com adrenalina,ciclo adrenalina, ciclo nada, ciclo adrenalina, ciclo nada. Paciente desacordado → checar pulso e responsividade. Sem pulso e sem resposta → solicitar carrinho de parada (iniciar RCP 30:2). Chegada do carrinho de parada → parar RCP e analisar o ritmo: • CHOCÁVEL (FV /TV) → adrenalina a cada 3-5 min → chocar e RCP → reavaliar o ritmo em 2 minutos → Chocável (FV/TV) → amiodarona. • NÃO CHOCÁVEL (AESP/ASSISTOLIA) → Reinicia RCP – adrenalina a cada 3-5 min → reavalia o ritmo em 2 minutos. CUIDADOS PÓS PCR • Aferir TA: Monitorização de oximetria, pressão. a) Avaliar hidratação – ausculta pulmonar; 15 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre b) Noradrenalina – 0,1 – 0,5 mcg/kg/min: se a pressão tiver baixa e não puder hidratar (ex. pulmão congesto). • ECG de 12 derivações: obrigatório. • Unidade de terapia intensiva; • Hipotermia terapêutica – 1 a 2l de ringer lactato IV resfriado a 4ºC (?): era feita antigamente. IMPORTANTE: As primeiras 24 horas pós PCR, temperatura de 36º pra cima é considerada febre, necessitando de resfriamento, dipirona. O ideal é que a temperatura se mantenha entre 34-36ºC. • Pupilometria: medir a dilatação pupilar. CONSIDERAÇÕES FINAIS • Não discuta se o ritmo é FV ou TV, AESP ou assistolia. A dúvida deve ser se o ritmo é chocável ou não. • Ritmo chocável → Choque. • Após chocar, não cheque pulso ou volte a analisar o ritmo → INICIE IMEDIATAMENTE a RCP. • Assistolia → Checagem de cabos e aumento do ganho do monitor. Quando é que checa pulso durante a PCR? Quando o ritmo estiver organizado. Na hora da checagem, que acontece a cada 2 minutos, se tiver QRS e ritmo organizado, é pra checar o pulso. Se você ver um ritmo organizado, ou é AESP (na maioria das vezes tem a FC<40bpm e o QRS largo) ou o paciente voltou da parada cardiorrespiratória. 16 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre DEFINIÇÕES IMPORTANTES • Isquemia: Oclusão parcial de um vaso coronariano com diminuição do aporte de O2 para o miocárdio, porém sem ocasionar lesão ao músculo. É um fenômeno potencialmente reversível. • Infarto: Oclusão de um vaso a ponto de ocasionar lesão ao músculo cardíaco. • Necrose: Processo irreversível que representa morte do tecido miocárdico. ESTATÍSTICA EPIDEMIOLÓGICA • IAM mata nas primeiras 2 horas por FV e TV, e nas próximas horas, por AESP e assistolia; • Nos primeiros 30 minutos de obstrução ao fluxo pela coronária a lesão pode ser completamente reversível. • Avaliar critérios de Framinghan. SINTOMATOLOGIA A coleta da história clínica (anamnese) é muito mais importante do que o exame físico. Em uma emergência, o exame físico precisa ser direcionado. • Clássico: Dor ou desconforto retroesternal que irradia para MSE (membro superior esquerdo), ângulo da mandíbula ou dorso (escápula); Lembrar que o infarto que irradia para a região dorsal tem que se fazer diagnóstico diferencial com dissecção de aorta/ruptura de aorta/aneurisma dissecante de aorta. Isso porque a conduta é diametralmente oposta. Você jamais pode fibrinolisar/anticoagular uma dissecção de aorta, porque se sangrar já era. Um exame simples que leva o médico a tendenciar mas pra um aneurisma de aorta do que pra um infarto é o raio X, sendo o alargamento mediastinal o achado radiográfico. O diagnóstico é dado, de fato, pela angio TC de tórax e abdome, a depender do lugar do aneurisma. Tipo A - do cajado para baixo (tórax) → cirurgia cardíaca; Tipo B - do cajado para cima (abdômen) – mais comum e menos grave → cirurgia vascular. O ECO só consegue ver a porção A da aorta, do cajado até a válvula. • Sinal de Levine: sinal clássico que o paciente vem com o punho cerrado no peito, postura paradoxal. O paciente reclama de dor no peito. • Dispneia, náuseas e sudorese: equivalentes isquêmicos/anginosos. IMPORTANTE • Em alguns perfis de paciente, o infarto pode vir como dor abdominal. • Pacientes diabéticos podem sentir menos dor do que o comum. • Pacientes do sexo feminino podem ter dor abdominal equivalendo a um infarto. • Na maioria das vezes vai ser uma dor retroesternal, em abafamento, em pontada. EXAME FÍSICO • Presença de B3 (galope): é uma das coisas mais características. Classifica o paciente de uma forma diferente no Killip. • Hipofonese de B1 e desdobramento de B2: não são muito levados em consideração. • Hipotensão – choque cardiogênico. • Fazer ausculta respiratória para pesquisa de crépitos, edema agudo. CLASSIFICAÇÃO KILLIP Classificação de mortalidade. Quando maior o killip, maior a mortalidade. Os dados são, basicamente, do exame físico. É importante porque muda a conduta, direcionando melhor. • Killip I: sem sinais de congestão pulmonar. 60% dos casos; imensa maioria dos infartos. O paciente chega com uma dor precordial e sem nenhum achado no exame físico. • Killip II: presença de B3 e estertores crepitantes: estertores em base, ritmo em galope, alguns sinais de congestão pulmonar. Infarto Agudo no Miocárdio 17 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre • Killip III: Edema agudo de pulmão: crépitos difusos de ápice a base. • Killip IV: Choque cardiogênico. É o mais grave de todos e tem uma mortalidade altíssima. Se tiver em um lugar que não tem hemodinâmica, na maioria das vezes, o paciente não sobrevive. BIOMARCADORES CARDÍACOS Eletro (1º exame a ser solicitado) + enzimas cardíacas (CK-MB e troponina). • CPK: é uma enzima extremamente inespecífica. • CK-MB; • Troponina; • BNP. CPK, CK-MB e troponina não devem ser levados em consideração para adotar terapia de reperfusão. Normalmente, o diagnóstico de infarto é feito por elevação de troponina (1 só não quer dizer nada; 2 ou mais em ascensão tem importância). INFARTO COM SUPRA O eletro é analisando buscando as paredes que representam o coração. Então, cada derivação vai mapear uma parece cardíaca. • Significado clínico: fechamento agudo de coronárias; • Características no ECG: ❖ Supra desnivelamento de ST nos seguintes pares derivacionais: ▪ DA: descendente anterior. V1 e V2 → parede septal; V3 e V4 → parede anterior; V5 e V6 → parede lateral; ▪ CD: coronária direita. V7 e V8 → parede posterior; DII, DIII e AVF → parede inferior. V3R e V4R: nada mais é do que V3 e V4 lançados para o outro lado. Mapeiam o ventrículo direito. • CX: circunflexa. ▪ DI e AVL → parede lateral alta. Cada um desses pares derivacionais vai estar relacionados a uma parede. Uma coisa importante na anamnese é procurar fatores de risco, principalmente se for jovem. É muito comum uma pericardite pós covid em jovens. Se tiver na dúvida se é infarto ou não, nunca fibrinolise. Mande pra angioplastia. REVISANDO AS PAREDES Os dois pontinhos acima são V1 (localizado no septo interventricular - exatamente no 4º espaço intercostal). Na foto da direita tem o coração, os dois pontos e o septo interventricular. • V1 e V2: estão exatamente entre o septo interventricular, formando a parede septal. • V3 e V4: estão na região anterior, formando a parede anterior (principais paredes cardíacas). • V5 e V6: parede lateral. • V7 e V8: V7 é na linha axilar posterior e V8 na cintura infraescapular → parede posterior. • DI e AVL: lateral alta. • DII, DIII e AVF: inferior. • V3R e V4R: ventrículo direito. É preciso decorar DI e AVL, DII, DIII e AVF. V3R e V4R são derivações do LD (ventrículo direito). EXEMPLOS Posso suprar V1 e não suprar V2 e ser parede septal? Não! Se suprar V1 tem que suprar V2; Posso suprar V3 e não suprar V4 e ser parede anterior? Não! Se quiser parede ser anterior tem que suprar V3 eV4. 18 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre Algumas paredes são contíguas, por exemplo, a anterior e septal. Essas paredes que fazem continuidade podem suprar por contiguidade, por exemplo, suprar V2 e V3 e não suprar V1 e V4 e ainda assim ser septoanterior. ELETRO O eletro acima, na primeira linha, tem uma parede inferior – DII, DIII e AVF – com supra. Quem irriga a parede inferior é a coronária direita (CD). Tem que suprar as 3 (DII, DIII e AVF) para ser parede inferior? Não! Só DII e AVF está valendo, só DIII e AVF está valendo. O que não pode é suprar DII e DIII e não suprar AVF, porque vetorialmente falando AVF está entre DII e DIII e tudo que acontece em DII e em DIII acaba pegando em AVF. A corrente de lesão não é saltatória. Eletro com supra em V2 (em azul). Um supradesnivelamento é uma elevação do ponto J (ponto que termina todo QRS). Exemplo: um ponto J era para estar lá embaixo (como no círculo em vermelho), tendo que estar alinhado com a linha de base, com o eixo isoelétrico eletrocardiográfico. Se o ponto J está muito acima desse eixo se tem um supradesnivelamento. Quanto maior o supra maior a isquemia. V2, V3, V4, V5, V6, DI e AVL tem supra. Então eu tenho supra de parede anterolateral e septal porque V2 com V3 forma par contíguo. Uma coisa importante é que o supra pode aumentar ou aparecer novos supras em outras derivações se o caso continuar se estendendo. Então, temos um supra de parede anteroseptolateral V2, V3, V4, V5 e V6). Essa parede é denominada anterior extensa é o pior de todos os infartos, sendo o mais associado a choque cardiogênico. DI e AVL formam a parede lateral alta, que é irrigada pela circunflexa. V1 e V2 é irrigada pela descendente anterior. A aVR é a única derivação que pode suprar sozinha. Então o supra de aVR é um supra que indica lesão na via de saída da coronária esquerda, antes da bifurcação ou muito proximal a bifurcação da coronária esquerda. Lembrar que a coronária esquerda se bifurca em descendente anterior e circunflexa. Então um supra de aVR sozinha indica uma lesão nessa localização, de trombo de coronária esquerda ou de equivalente de trombo, isto é, muito proximal a bifurcação da coronária esquerda. Por fim, temos um infradesnivelamente em D2 (laranja). O que tiver de infradesnivelamento na presença de um supra, eu chamo de espelho. Então, em um supra, o que estiver para baixo (abaixo da linha) – DII, DIII e aVF (nesse caso) – chamamos de espelho. Importante: esse infra não é um infra de lesão e sim de uma forma como uma parede enxergou uma lesão que está ocorrendo em outra parede, ou seja, não necessariamente essa parede do infra está sendo lesionada. 19 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre Nesse ECG, temos DII, DIII e aVF suprado (60- 70% dos infartos são de parede inferior). Além disso, DI e AVL estão espelhados. Resumo: infarto de parede inferior com espelho em lateral alta. Ademais, bem pormenorizado V5 e V6 também estão suprados (só consegue enxergar se tive um olho clinico BEM apurado, mas não muda nada na conduta ver o V5 e V6 suprados). A partir de quantos mm do ponto J é infarto? Depende! A partir de 0,5mm nas derivações precordiais (V1 até V6) e a partir de 1mm nas periféricas. Isso não é usado! Uma das dicas mais cruciais é não contar quadradinho. O principal é ver o alargamento do QRS antes de tudo, mas isso pode variar de pessoa para pessoa. Destaque para DII, DIII e aVF. De início poderia até achar que isso era uma alteração de repolarização precoce, mas quando se vê infra, a certeza de que é realmente um infarto é maior, pois só tem espelho quando tem corrente de lesão (V1, V2, V3, V4, DI e AVL espelhados → corrente de lesão). Todo infra na presença de um supra vai reforçar a possibilidade de aquele supra ser de infarto. Supra de V2, V3 e V4 (infarto de parede ânteroseptal). Supra de V2, V3 e V4 (V2 e V3 formam um par por contiguidade). Além disso, tem um supra modesto em DI e AVL. Dessa forma, tem-se um supra ânteroseptal, um supra de parede lateral alta e um espelho lateral e de parede inferior. É importante lembrar que o ECG é um exame que tem que sair em 10 minutos da entrada do paciente no pronto atendimento (tempo porta-ECG), sendo o primeiro exame a ser pedido. Nos grandes serviços, qualquer paciente com dor precordial, a enfermeira já leva para o médico com o ECG feito durante a triagem. *O atraso de repolarização normalmente está mais associado a uma onda T maior e um intervalo QT 20 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre maior. O alargamento de QRS está associado a um atraso de despolarização (e não de repolarização), pois o QRS é o conjunto de ondas que representa a despolarização ventricular; normalmente atrasos de QRS sinalizam bloqueio de ramo. Supra de DII, DIII e AVF (envolvimento de parede inferior), com possível acometimento de coronária direita. Tem também um espelho em anteroseptolateral (V2, V3, V4 e V5 espelhado). Supra de DII, DIII e AVF (acometimento de parede inferior – mais comum). Além disso, tem um supra em V3, V4, V5 e V6 (acometimento de parede anterolateral). Existe um espelho em DI e AVL. Outro ECG de parede inferior. Supra em V1 e supra de AVR (é o que mais chama atenção). Lembrar que AVR suprado sozinho indica infarto de tronco ou equivalente de tronco. Supra de V1 e supra de aVR (é o que chama atenção). Apesar do QRS estar um pouco alargado, não chega a fazer um bloqueio de terceiro grau; em AVL mesmo chega a ficar um pouco mais curto. Então, talvez tenha um bloqueio de ramo esquerdo de segundo grau, algo que não impede o laudo de supra, porque o que impede o laudo de supra é o bloqueio de terceiro grau. Sempre que tiver supra de V1 se deve pedir V3R e V4R. 21 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre Supras que se pede V3R e V4R são supras de DII, DIII e aVF (parede inferior – coronária direita), pois a mesma coronária que irriga a parede inferior irriga o ventrículo direito (pensando em infarto de VD). É importante saber se o ventrículo direito está infartado ou não, pois isso muda a conduta. O mesmo acontece com supra de V1; a depender de onde quem fez o eletro tenha colocado a derivação de V1, se colocou muito para a direita, o V1 vai estar mapeando muito mais VD do que o septo. Nesse caso, o supra de V1 vai funcionar como V2R; se o V3R tiver suprado também, o V4R nem precisa estar, pois o V1 se torna V2R e o V3R vai estar suprado (par V2R e V3R por continuidade). Supra de AVR (lesão de tronco ou equivalente de tronco de CE) = lesão circunferencial. OUTRAS CAUSAS DE SUPRA QUE NÃO SIGNIFICAM INFARTO AGUDO DO MIOCÁRDIO – IAM • Pericardite; • Alteração precoce de repolarização; • BRE (bloqueio de ramo esquerdo); • Aumento da PIC (pressão intracraniana); • Síndrome de Brugada. PERICARDITE É um supra difuso que poupa AVR e V1. Então, supra difuso, paciente jovem, se for pós-COVID → fecha diagnóstico. Importante lembrar que COVID complica muito com pericardite. Infartou todas as coronárias ao mesmo tempo? Não, pois não é infarto, e sim pericardite (característica – pupa AVR e V1). Anda junto com miocardite. O tratamento (anti-inflamatório e colchicina por 2 meses) não tem nada a ver com tratamento de infarto. BLOQUEIO DE RAMO ESQUERDO Todo BRE tem supra, tanto que a American Heart diz que se o bloqueio for novo ou presumivelmente novo, trata como se fosse infarto. Acontece que no caso acima essa supra não é do infarto e sim do bloqueio, pois faz uma alteração de repolarização precoce, um atraso de repolarização. Diante de um BRE, uma coisa interessante a se fazer é procurar os critérios de Sgarbosa:Critérios de Sgarbosa Pontuação Supra de ST >= 1 mm concordante com o QRS em qualquer derivação 5 pontos Intra de ST >= 1mm concordante com o QRS em V1, V2 ou V3 3 pontos Supra se ST >5 mm discordante do complexo QRS em qualquer derivação 2 pontos Em V1 o QRS está para baixo e o supra está para cima (“supra para cima” é pleonasmo, pois todo supra é para cima, pois se for para baixo é infra). Em V2 o QRS também está discordante do supra, assim como em V3 e V4. Dessa forma, como não são concordantes, já não possui os 5 primeiros pontos dos Critérios de Sgarbosa. O segundo critério diz que em V1, V2 e V3 o infra concordante com o QRS; 22 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre no exemplo acima não existe nenhum infra. Em V1, V2 e V3 só tem supra; só tem infra V5, V6, DII, DIII, aVF, ou seja, já não tem os 3 pontos do segundo critério. Para finalizar, os supras do exemplo acima tem 3,5 quadradinhos no máximo, não chegando a 5 mm, não preenchendo o 3º critério. 5 pontos ou mais, deve-se tratar como se fosse infarto. 3 pontos é duvidoso; abaixo de 3 pontos, possivelmente, não é infarto. Para ser infarto, tinha que ser como esse primeiro exemplo acima: QRS largo com supra concordante (os dois pra cima). Os outros critérios seriam um supra gigante (>5mm) em qualquer QRS, independente do que seja, se é concordante ou não (exemplo 2), ou é um infra ≥ 1 mm em V1, V2 e V3 concordante com o QRS, ou seja, o QRS está para baixo e o infra também (exemplo 3). ALTERAÇÃO DE REPOLARIZAÇÃO PRECOCE Quando isso acontece significa que não se tem nem tempo do QRS fazer um seguimento ST, já emendando direto → faz um RS e já vai direto para a T. A regra é: onda P, QRS e T (exemplo desenhado). Já na repolarização precoce, não existe nenhum espaço entre o QRS e a onda T, sem nenhum seguimento ST, a onda T emenda no QRS. Quando a onda T emenda desse jeito no QRS, o seguimento ST fica elevado, ele eleva o ponto J, mas nem por isso é um infarto. O exemplo acima só não é uma alteração de repolarização precoce por conta dos infras presentes. Os infras denunciam que os pontos J (supradesnivelamento) é de infarto. SÍNDROME DE BRUGADA Apenas em V1 e V2 existe um supradesnivelamento de seguimento ST, o ponto J fica lá em cima, além da presença de uma deflexão intrinsecóide do seguimento ST, uma descida em plano inclinado do seguimento ST, tanto em V1 quanto em V2. Neste caso é síndrome de Brugada tipo 1, mas existe a T2. 23 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre Esse ECG, muita gente acha que tem um supra em DIII e em AVF, dando laudo de parede inferior, mas não é. Olhando mais de perto se percebe um QRS largo, com seguimento ST bem alinhado com a onda T, caracterizando um BRD (bloqueio de ramo direito). DI positivo, orelha do Batman. Acharam que tinha um supra de AVR, mas é um BRD (bloqueio de ramo). Alargamento gigantesco de QRS. Esse é um caso de um paciente que chegou com dor precordial atípica, mais parecida com gastrite do que com infarto. Não fibrinolisa. BIOMARCADORES CARDÍACOS Prática do professor: CK-MB e Troponina. O BNP e o pró-BNP é solicitado mais no contexto de diferenciação de dispneia, de insuficiência respiratória cardiogênica para insuficiência respiratória de outras causas. A CK-MB e a troponina são as maiores enzimas, sendo que de longe a troponina é a mais sensível e específica. O problema dessas enzimas, da troponina em si, é que demora muito (às vezes até 8 horas) para positivar. A CK-MB é uma enzima que começa a se elevar nas primeiras duas horas, mas também não é tão específica quando a troponina. No infarto, tempo é músculo!!! O melhor mesmo é uma elevação de troponina seriada. Então, o ideal é ter um kit quantitativo, não o qualitativo (positivo e negativo), para poder seriar e fechar o diagnóstico de infarto. Como as enzimas demoram para sair, não se pode esperar esse tempo todo. Nesses casos, deve-se tentar ao máximo dar o diagnóstico através do ECG (supra) e fibrinolisar ou fazer a angioplastia primária dentro do menor tempo possível. Para fazer isso, não é necessário enzima. QUESTÃO DE PROVA: a estratégia de reperfusão deve ser guiada pelo ECG, pela clínica do paciente e troponina em elevação → FALSO!. Ninguém em sã consciência vai esperar a troponina se elevar, pois o exame é solicitado a cada 6 horas, já passando do tempo de reperfusão. Lembrando que a cada 4-6 horas a CK-MB e a troponina são feitas com intenção de seriar. TRATAMENTO DO IAMCSST OU COM BRE NOVO OU PRESUMIVELMENTE NOVO MONACH • Morfina; • Oxigênio; • Nitrato; • AAS – ISIS 2; • Clopidogrel – CLARITY TIMI 28 e COMMIT – CCS; • Heparina – EXTRACT TIMI 25. AAS E CPOPIDROGREL O AAS e o Clopidogrel é a dupla de ataque. Não tem como entrar no infarto sem AAS e clopidogrel, é simples e faz muito bem ao paciente, reduzindo mortalidade em quase 20% (só o AAS reduz 10%). Ambos são antiagregantes plaquetários! O AAS age na COX inibindo a expressão plaquetária de tromboxano A2 (fator mais importante de agregação plaquetária), enquanto o clopidogral inibe a expressão plaquetária de P2Y12, receptor da adenosina difosfato da plaqueta, que também é responsável pela agregação plaquetária. • Dose do AAS: 200-300mg (160-325mg de forma mais precisa, fora do Brasil) na prática. O AAS aqui no Brasil só tem de 100mg. O professor disse que faz 200mg sempre, porque “less is more”. • Dose do clopidogrel: 300-600mg. No Brasil, o comprimido do clopidogrel tem 75mg. Então, a terapia varia de 4-8 comprimidos. Caso o paciente vá para angioplastia (ICP) – hemodinâmica é feita a dose máxima de clopidogrel (600mg), evitando trombose de stent. No entanto, se a estratégia for fibrinólise ou não for nenhuma estratégia de reperfusão por qualquer que seja o motivo é feito 300mg de clopidogrel. Se o paciente tiver > ou = a 75 anos, faz apenas 1 comprimido de 75mg. 24 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre OXIGÊNIO Normalmente faz com cateter nasal, porque o problema primário desse paciente não é pulmonar. Faz O2 se a SatO2 < 94%. Caso seja dado O2 para um paciente que está infartando e tem mais de 94% de saturação, aumenta a mortalidade, por estressar ainda mais o miocárdio, liberando ainda mais radicais livres. NITRATOS • Isordil 5mg sublingual – 1 comprimido. • Tridil solução padrão IV em BI ACM (bomba de infusão a critério médico). Ambos possuem tempo médio de ação rápido. O nitrato é um liberador de GMP cíclico. Libera NO → GMP cíclico → vasodilatação. Tridil: vasodilatador coronariano direcionado, específico. Por conta disso, dilata a periferia, mas não na mesma intensidade que o isordil dilataria. Lembrando que é uma ampola de tridil em 250mL de soro (solução padrão de tridil na maioria das unidades), coloca para correr IV na bomba de infusão a critério médico (ex: 10mL/h de tridil. Caso perceba que aquela dor do paciente não cedeu, vai aumentando até melhorar, para 15mL/h → 20mL/h...). Caso tenha infarto de VD não pode usar nitrato, principalmente o isordil. O tridil até que dá, caso o paciente esteja bem monitorizado, principalmente se precisar monitorizar o VD dele, ver o TAPS, grau de contratilidade, tamanho. Logo, caso seja possível monitorizar o VD, melhor ainda; avalia o diâmetro da veia cava superior, veia cava inferior, lembrar que o diâmetro de veia cava é determinado pelo VD. O eco beira leito torna muito mais segura a utilização do tridil em um paciente que está infartando o VD. O nitrato serve exclusivamente para melhorar a dor. O AAS e clopidrogrel não melhoram a dor. O ideal é evitar qualquer nitrato em infarto de VD, só abre mão, utilizando o tridil (mais vasodilatador coronarianopossível, dilata a periferia, mas dilata mais ainda a coronária) em pacientes que não conseguem esperar a fribrinólise com a dor. O isordil vasodilata tudo, piora a hemodinâmica do VD, porque o VD é a câmara mais dependente de pré-carga do coração. A vasodilatação aumenta a impedância do vaso, ou seja, aumenta a capacidade que o vaso tem de armazenar sangue, ou seja, deixa mais sangue dentro do vaso e menos sangue em outros lugares, incluindo o coração. Como o VD depende de pré- carga para contrair bem, quanto mais sangue dentro do vaso, menos sangue em VD, pior vai ser a contração de VD. Em resumo, já é uma musculatura que não está contraindo bem, porque tem parte da parede perdida devido ao infarto, e ainda não fornece o volume suficiente para ele, piora a situação, aumentando o risco de choque cardiogênico. VD é dependente de pré-carga, se ela é prejudicada, reduz ainda mais a contratilidade e a dinâmica desse ventrículo. Importante: TEP mata por sobrecarga de ventrículo direito, falência de VD. MORFINA Opiáceo. Não entra nessa situação de IAM devido ao seu poder opiáceo, e sim devido ao seu poder vasodilatador. Então, a mesma ressalva que é usada pra o isordil é utilizada para morfina, logo, não é utilizado tão quanto não é utilizado o isordil para infarto de VD. • 2-4mg IV em bolus, e avalia a cada 10min. Normalmente, é utilizada apenas 1 dose. O uso da estatina no momento do IAM não resolve. Ela reduz LDL e colesterol, mas só age em 2 semanas, sendo conduta pós infarto. No momento agudo só é utilizado o que muda a mortalidade naquele momento. Após 24 de resolvido o IAM (estabilização do paciente) fornece estatina. O betabloqueador reduz trabalho cardíaco, reduzindo consumo miocárdico de O2. Na fase inicial não apresenta benefício, podendo inclusive gerar malefício, como por exemplo, bradiarritmias graves, BAV de 2º mobitz 1, BAVT, entre outros. O IAM principalmente de parede inferior faz um reflexo chamado de Bezold Jarisch que abre com bradiarritmias. Essas complicações podem ser transitórias ou não, e o betabloqueador pode complicar ainda mais essas circunstâncias. Resumo: Infarto de parede inferior → não usa betabloq, pois a chance de BAV é maior. Infarto de 25 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre outras paredes → se quiser usar, usa, se não quiser, não usa. É aconselhável não usar! ESTRATÉGIA DE REPERFUSÃO (FIBRINÓLISE X ICP) Somente devemos pensar em uma estratégia de reperfusão se o tempo de início dos sintomas até o tempo de reperfusão for < 12h (idealmente <6h). O AAS e o clopidogrel não farão tanta diferença sem uma estratégia de reperfusão adequada. O que realmente vai salvar o paciente de ter uma insuficiência cardíaca isquêmica por aquele infarto ou ter uma parede perdida, necrosada é a estratégia de reperfusão que será adotada. Existem dois tipos de estratégia: 1: Momento imediato → ICP; 2: Momento posterior → Fibrinólise. ICP – INTERVENÇÃO CORONÁRIA PERCUTÂNEA É o método preferencial para reperfusão no infarto agudo do miocárdio com supradesnivelamento do segmento ST (IAMCSST). Estratégia para o momento imediato (ICP via hemodinâmica - entra com uma espécie de fio guia até a coronária obstruída, balona, abre a coronária e posteriormente coloca um stent - mola ensacada metálica - para fazer com que aquela área da coronária não feche mais). • Kilip >= 3; • Tempo para realização do exame <90 min; • Serviço de hemodinâmica disponível; • Contraindicação ao uso de trombolíticos; • Diagnóstico de IAM duvidoso. FIBRINÓLISE - QUÍMICA Estratégia para um momento mais posterior. É uma estratégia de reperfusão química, em que será dada uma substância que vai tocar no trombo e dissolvê- lo. • Killip <= 2; • Tempo para realização de ICP >90 minutos; • Serviço de hemodinâmica indisponível. A ICP sempre possui vantagens em cima da fibrinólise, sendo sempre melhor, porém, em alguns cenários, esse benefício da ICP em relação à fibrinólise é ínfimo, não possuindo boa estatística. Exemplo: IAM Killip 1 e 2 tanto faz fibrinolisar ou fazer ICP (leve benefício – não tem significância estatística, para o paciente vai dar no mesmo). Já no IAM Killip 3 e 4 a ICP possui um benefício muito maior em relação a fibrinólise. Neste último caso, é melhor tentar uma vaga na hemodinâmica do que fibrinolisar o paciente. O tempo de realização é algo muito importante, pode esperar até 90min para fazer ICP. Caso seja percebido que essa ICP vai demorar mais de 90min para ser feita, a fibrinólise deve ser feita, sendo mais vantajoso nesse caso, já que o tempo ideal para realização de ICP é de menos de 90min, independente do Killip. Lembrar que tempo é músculo. Caso tenha serviço de hemodinâmica, faz logo ICP. Onde tem serviço de hemodinâmica, não fibrinolisa ninguém. Cateterismo → angioplastia. Caso haja contraindicação para o uso do fibrinolítico, como por exemplo: paciente fez AVC hemorrágico, pressão elevada sem conseguir abaixar, HDA (hemorragia digestiva alta) → ICP. Caso o diagnóstico de IAM seja duvidoso, melhor fazer a ICP (manda para o cate que estuda e avalia se realiza ou não a angioplastia), porque as complicações da ICP são menos piores que as complicações da fibrinólise. Caso uma ICP complique, o máximo que ocorrerá é um sangramento no local da punção (radial ou femoral), caso seja uma fibrinólise que complique, terá um sangramento digestivo ou cerebral (intraparenquimatoso, AVC hemorrágico, HSA), sendo na maioria das vezes fatal ou deixando sequelas permanentes no paciente. Caso seja identificado que o paciente possui mais critérios para ICP e se tenha hemodinâmica em menos de 90min, será feita a dose de ataque de clopidogrel de 600mg e enviar o paciente apenas com isso, AAS, isordil se tiver dor e o VD permitir ou tridil. Morfina se a dor for refratária a isordil (usa isordil primeiro, se o isordil não melhorar a dor, faz morfina depois). DOSE DOS FIBRINOLÍTICOS • Ativador do plasminogênio tecidual (alteplase – actilise): ❖ 15mg IV em bolus; 26 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre ❖ 50 mg IV em 30 min pela BI; ❖ 35 mg IV em 60 min pela BI (bomba de infusão). • Tenecteplase (Metalise): muito mais fácil. É feita pelo peso e é uma dose em bolus única. Quando pode adotar uma ICP ou fibrinólise? Quando o paciente tiver dor torácica com menos de 12h, com supra de ST ou BRE novo ou presumivelmente novo. Caso o paciente tenha um ECG normal, não fibrinolisa, ele vai ser submetido depois a um cateterismo de investigação (cate eletivo). CUIDADOS: não administrar em acesso venoso central, só em acesso venoso periférico. Depois de administrar o fibrinolítico, nas 24h depois não puncionar nenhum acesso central, não passar sonda vesical de demora nem de alívio pelo risco de trauma uretral. Se a estratégia de reperfusão adotada for ICP, não faz heparina. O hemodinamicista faz heparina na hora da reperfusão. Se a estratégia for fibrinólise faz 30mg de clexane IV antes de realizar a fibrinólise. 27 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre INTRODUÇÃO Para laudar qualquer taquiarritmia basta responder 04 perguntas básicas: • FC > 100bmp*? Se eu estou diante de uma taquiarritmia, possivelmente a frequência cardíaca vai estar maior do que 100bpm. Isso não é em 100% dos casos, mas em geral, isso é válido para os taquiarrítmicos. Vale lembrar como calcular FC = 1500/ distância (quantidade de quadradinhos) entre dois QRS em milímetros. • QRS alargado (ventricular) ou estreito (supra ventricular)?* Reforça-se que não é necessário contarquadradinhos para definir se é largo ou estreito, basta olhar e ver se palita o dente (estreito) ou não. Em taquiarritmias, em geral, tudo que é largo é ventricular, tudo que é estreito, supraventricular, porém existem exceções, como por exemplo, a taquicardia supraventricular aberrante (aberrância de QRS), em que o QRS é largo. Obs. Ser supraventricular, não quer dizer que é atrial. Não tem relação. • Onda P é facilmente visível? Viu onda P → Tem onda P, pronto e acabou. Se pergunta: É fácil ou difícil de ver a onda P? Na imensa maioria das taquiarritmias, a onda P não é facilmente visível, sendo imprescindível para diferenciar uma taquiarritmia de uma taquicardia sinusal. • RR regular ou irregular? Ver se os intervalos entre os QRS (intervalos RR) são regulares. Avaliado pela distância dos QRS no traçado. É preciso reconhecer o que é normal, pois nem tudo que é taquicárdico é taquiarrítmico!! Taquicardia sinusal Taquicardia sinusal é uma taquicardia que não é arrítmica. Características clássicas: • FC > 100bpm; • QRS estreito; • RR regular; • Onda P é facilmente visível: característica mais clássica da taquicardia sinusal. Ritmo taquicárdico + onda P → Taquicardia sinusal. Existe a possibilidade de ter um bloqueio de ramo (QRS largo) com taquicardia sinusal (FC >100, regularidade do QRS, onda P fácil de ver). Pode ser TAM (taquicardia atrial multifocal) que também tem onda P, mas é mais rara e então, para fins didáticos, considere que FC >100 com onda P visível = taqui sinusal e ponto final. Obs. DII longo é a melhor derivação para olhar taqui e bradiarritmias! ANÁLISE DO ELETRO Percebe-se, ao olhar para DII longo, QRS estreito, regularidade do intervalo RR, FC de 113 bpm e onda P presente em todas as ondas. Logo, se tem FC > 100bpm com onda P facilmente visível, caracteriza- se o eletro acima como taquiarritmia sinusal. É importante começar a ver o eletro sempre pela largura do QRS (largo ou estreito). Depois, analisar a regularidade do QRS. Taquiarritmias 28 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre Causas de taquicardias sinusais • Febre, pânico, exercício físico, uso de drogas (cocaína), hipertireoidismo, dor e choque. Normalmente é uma resposta a algo que está ocorrendo no corpo, podendo ser algo fisiológico (Ex. atividade física) ou patológico (pânico, drogas ilícitas, febre). OBSERVAÇÕES 1. Hipertireoidismo é a principal causa crônica de taquicardia sinusal. 2. A única dor que não é taquicardizante → Dor do aneurisma dissecante de aorta tipo A, que é uma dor bradicardizante. Isso ocorre porque quando disseca a parede da aorta torácica, porção ascendente, a parede se alarga, e na porção ascendente da Ao temos barorreceptores, que quando distendido ele entende como aumento de pressão, enviando sinal para abaixar a FC. 3. Choque que não é taquicardizante → Neurogênico. Taquicardizantes → séptico, hipovolêmico, cardiogênico (diminuição do débito → aumento da frequência cardíaca). O tratamento tem que ser da causa da taquicardia sinusal e não da taquicardia em si. Fibrilação atrial É a taquiarritmia mais frequente do mundo! Pode se apresentar como bradicardizante. Essa é a estrela das taquiarritmias, representando a maioria delas, sendo responsável por 1/3 dos AVCi (cardioembólicos por FA). Não é comum de fazer instabilidade hemodinâmica, mas quando vem com BRE ou BRD as chances aumentam. • FC > 100 bpm no menor eixo entre os QRS: A FA pode vim com FC <100bpm e até mesmo bradicardia, mas a maioria delas é taquicardizante (se encaixa nas taquiarritmias). • QRS comumente estreito*; Na FA. o QRS é comumente estreito, mas pode vir alargado quando tem bloqueio de ramo (BRE ou BRD), sendo esse um fator de pior prognóstico (FA + BRE / BRD). Vale ressaltar que o BRE e o BRD sozinhos não têm nenhuma implicância clínica, mas quando associadas a outras patologias pode piorar e muito a condição do doente, a exemplo de quando associado a FA. • RR irregular; • Onda P de difícil visualização: principal característica; ausência da onda P. AS FA SÃO DIVIDIDAS EM 03: • Baixa resposta ventricular → FC baixa – FC< 60 bpm. • Resposta controlada → FC controlada – FC entre 60 e 120 batimentos por minuto. • Alta resposta ventricular → FC elevada – ultrapassa 120bom no menor eixo. Se quiser diagnosticar fibrilação atrial, os 2 primeiros critérios (FC >100bpm no menor eixo entre os QRS e QRS comumente estreito) não são muito ideias. No entanto, os 2 últimos critérios (Onda P de difícil visualização ou ausência de onda P e RR – intervalos entre QRS irregulares) vão definir FA. ANÁLISE DO ELETRO Vejam no exemplo que a FC está até normal (FC de 97bpm), mas quando você olha o intervalo RR é irregular, e ao olhar a menor distância entre os intervalos QRS, nesse exemplo visto em DII longo, tem-se 1500/10 = 150bpm. Logo, FC>100 no menor eixo/ menor distância entre os QRS. Então, aí é uma FA de alta resposta ventricular. 29 Beatriz Machado de Almeida Emergências clínicas – 8º semestre Tem-se uma máxima de Dr. Enéas, que diz que na FA o QRS é irregularmente irregular (é o ápice da irregularidade). Outra coisa a se notar é a dificuldade de visualizar a onda P no eletro. Perceba que depois do QRS obrigatoriamente tem que vir a onda T, pois se despolarizou ventrículo (representada pelo QRS), tem que repolarizar (representada pela onda T). Logo, no traçado acima só é visto QRS – onda T – QRS – onda T [...]. É possível ter um eletro sem onda P, mas em indivíduos vivos não é possível eletro sem onda T, pois se tiver vida tem QRS, logo, terá onda T. A despolarização é algo crucial para se ter batimento. A FA é a única patologia em que o átrio não vai despolarizar. Ele não vai contrair e sim fibrilar/tremer. Quando o paciente está internado em monitoramento e tem FA, vê-se no monitor uma variação da FC (134-145-132) segundo a segundo, o que reflete a irregularidade do intervalo QRS. Fibrilação Atrial: É a arritmia cardíaca sustentada mais frequente (corresponde a cerca de 33% dos internamentos por arritmias). TRATAMENTO DA FA O tratamento da FA depende do tempo de sintomatologia daquele paciente. O tempo é fundamental para determinação do tratamento! Perguntar: Quanto tempo o paciente tem de sintomas? Tem <48 horas ou >48 horas? Na FA, como o átrio está fibrilando, e não contraindo, essa fibrilação tá fazendo trombos intramurais, que podem se soltar e fazer AVC isquêmico, isquemia mesentérica. 1/3 dos AVCS isquêmicos são cardiogênicos por conta de FA. Se algo que tá fibrilando, é colocado pra contrair, o trombo é ejetado. → Clássico AVC cardioembólico (Artéria cerebral, média normalmente). No paciente com FA e >48 horas de sintomas (maior risco de formar trombos), evita a cardioversão na hora/momento. Primeiro anticoagula pra poder dissolver qualquer tipo de trombo, pra depois cardioverter. O paciente jovem e virgem de FA talvez seja o único que necessita de cardioversão imediato. Existem 4 tipos de FA: • FA aguda: <48 horas do primeiro episódio; é a única em que é feita a cardioversão de imediato. • FA paroxística: vai e volta, mais de 1 episódio; 3,4,5 episódios de FA na vida. • FA persistente: refratária a cardioversão, seja elétrica ou química – medicamentosa. Todo paciente que tem qualquer taquiarritmia instável, a cardioversão elétrica é obrigatória! Em qualquer taquiarritmia, é necessário definir se é instável ou estável. Se for instável, o paciente deve ter 1 desses 4 critérios (precordialgia anginosa – dor torácica, dispneia verdadeira, hipotensão e rebaixamento do nível de consciência). Isso define se o tratamento vai ser conservador – medicamentoso ou invasivo – choque. Se tiver 1 desses 4 sinais de instabilidade
Compartilhar