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15/04/2020 1 Direito Constitucional II A Teoria de Separação dos Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário 15/04/2020 2 Princípio da Separação dos Poderes •A separação de poderes é um princípio cujo objetivo é evitar arbitrariedades e o desrespeito aos direitos fundamentais. •A separação de poderes tem como premissa de que quando o poder político está concentrado nas mãos de uma só pessoa, há uma tendência ao abuso do poder. Sob essa perspectiva, a separação de poderes é verdadeira técnica de limitação do poder estatal. Origens da Separação de Poderes As origens da separação de poderes remontam a Aristóteles, com a obra “A Política”. Posteriormente, o tema também foi trabalhado por João Locke e, finalmente, por Montesquieu, em sua célebre obra “O espírito das leis”. 15/04/2020 3 Do Espírito das Leis (em francês: De l'esprit des lois), publicado em 1748, é o livro no qual Montesquieu elabora conceitos sobre formas de governo e exercícios da autoridade política que se tornaram pontos doutrinários básicos da ciência política. Suas teorias exerceram profunda influência no pensamento político moderno. Elas inspiram a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, elaborada em 1789, durante a Revolução Francesa. •Modernamente, a separação de poderes não é vista como algo rígido. Com efeito, o poder político é uno, indivisível; assim, o que pode ser objeto de separação são as funções estatais (e não o poder político). •Assim, apesar de a Constituição falar em três Poderes, na verdade ela está se referindo a funções distintas de um mesmo Poder: a legislativa, a executiva e a judiciária. 15/04/2020 4 •A Constituição Federal de 1988 adotou, assim, uma separação de Poderes flexível. • Isso significa que eles não exercem exclusivamente suas funções típicas, mas também outras, denominadas atípicas. •Um exemplo disso é o exercício da função administrativa (típica do Executivo) pelo Judiciário e pelo Legislativo, quando dispõem sobre sua organização interna e sobre seus servidores, nomeando-os ou exonerando-os. •Ou, então, quando o Poder Executivo exerce função legislativa (típica do Poder Legislativo), ao editar medidas provisórias ou leis delegadas. 15/04/2020 5 •A Constituição Federal de 1988, em seu art. 2º, trata da separação de poderes, dispondo que “são poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.” •A Constituição explicita que os três Poderes são “independentes e harmônicos”. • Independência é a ausência de subordinação, de hierarquia entre os Poderes; cada um deles é livre para se organizar e não pode intervir indevidamente (fora dos limites constitucionais) na atuação do outro. • Harmonia, por sua vez, significa colaboração, cooperação; visa garantir que os Poderes expressem uniformemente a vontade da União. 15/04/2020 6 Funções ou Poderes Estatais •Visto de maneira orgânica, o Estado é composto por três poderes ou funções: Legislativo, Executivo e o Judiciário. 15/04/2020 7 Aristóteles, em sua obra “A Política”, na Grécia Antiga, lançou as bases para a teoria da separação dos poderes, ao propor a existência de um poder soberano que se dividia em três partes distintas: a) que deliberaria acerca dos negócios públicos; b) a que exerceria a magistratura (aqui a ideia se aproxima mais do exercício da função executiva, apesar da terminologia empregada); c) e a terceira que administra a justiça. •Posteriormente, John Locke, em sua obra “Ensaio sobre o Governo Civil”, defendeu a existência de um Estado em que houvesse a condição de igualdade entre a autoridade real e a do Parlamento, ao mesmo tempo em que entendia necessária a independência dos magistrados. Um dos objetivos de Locke é a reafirmação da necessidade do Estado e do contrato social e outras bases. Opondo-se à Hobbes, Locke acreditava que se tratando de Estado-natureza, os homens não vivem de forma bárbara ou primitiva. Para ele, há uma vida pacífica explicada pelo reconhecimento dos homens por serem livres e iguais. 15/04/2020 8 •A evolução das proposições lançadas por Aristóteles acabou desembocando na teoria da separação ou tripartição dos poderes, proposta por Montesquieu no século XVIII. • Em linhas gerais, Montesquieu apregoava a coexistência harmônica, independente e cooperativa entre os poderes que estruturam o Estado e que não poderiam ser exercidas pelo mesmo órgão, possibilitando-se uma espécie de limitação do poder pelo próprio poder. • Este foi o modelo adotado como base pelos principais regimes democráticos, inclusive o Brasil, que também considera a separação entre os Poderes como uma cláusula pétrea (art. 60, § 4.º, III da CF/88). Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta: § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir: III - a separação dos Poderes; 15/04/2020 9 Sistema de Freios e Contrapesos •Os Estados modernos se fundam em um sistema de freios e contrapesos (check and balances), no qual se observa um controle recíproco entre os Poderes que o compõem, sem que exista uma indesejada preponderância de um sobre outro. Assim, tem-se admitido que a cada um dos Poderes foi atribuída uma função típica ou precípua: a) o Poder Legislativo exerce a função legislativa (possibilidade de elaboração de normas, ou seja, de inovar no ordenamento jurídico); b) o Poder Judiciário exerce a função jurisdicional (aplicação da norma a um caso concreto, com caráter de definitividade); c) o Poder Executivo exerce a chamada função executiva, que alguns autores subdividem em função administrativa e função política. 15/04/2020 10 •Por outro lado, de modo atípico ou acessório, é possível que um Poder exerça uma função atribuída a outro, como, por exemplo, o julgamento do chefe do Executivo pelo Legislativo nos crimes de responsabilidade (art. 52, I da CF/88); quando o poder Executivo exerce o poder regulamentar (art. 84, CF/88) etc. Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: I - processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 02/09/99) Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis, bem como expedir decretos e regulamentos para sua fiel execução; VI - dispor, mediante decreto, sobre: a) organização e funcionamento da administração federal, quando não implicar aumento de despesa nem criação ou extinção de órgãos públicos; b) extinção de funções ou cargos públicos, quando vagos; 15/04/2020 11 •Da mesma forma, a função administrativa pode ser exercida atipicamente pelos Poderes Legislativo e Judiciário como, por exemplo, quando realizam licitação, promovem concursos públicos, concedem licenças a seus servidores etc. •Ainda, pode-se falar da função política, que pode ser exercida de forma atípica pelo legislativo (cassação de um parlamentar) e pelo judiciário (algumas decisões internas). • Pode-se dizer, assim, que não há exercício exclusivo de uma determinada função. Poder Função Típica Funções Atípicas Executivo Executiva a) Legislativa: elaboração de leis delega- das (art. 59, IV da CF/88); expedição de decretos e regulamentos (art. 84, IV e VI da CF/88); edição de medidas provi- sórias com força de lei (art. 84, XXVI da CF/88); b) Jurisdicional: concessão de indulto e comutação de penas (art. 84, XII, CF/88). O tema é, todavia, polêmico. Legislativo Legislativa ou Normativa a) Executiva: elaboração do plano pluria- nual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual (art. 48, II); fixação do montante da dívida mobiliá- ria federal (art. 48, XIV); realização de concursos públicos para provimento de seus cargos vagos etc. b) Jurisdicional: julgamento de determi- nadasautoridades nos crimes de res- ponsabilidade (arts. 52, I e II da CF/88). Judiciário Jurisdicional a) Executiva: eleger órgãos diretivos (art. 96, I, “a” da CF/88); conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores (art. 96, I, “f” da CF/88); b) Legislativa: elaboração dos regimentos internos dos tribunais (art. 96, I, “a”); estabelecimento de normas trabalhis- tas nos chamados dissídios coletivos (art. 114, § 2.º da CF). 15/04/2020 12 Poder Função Típica Funções Atípicas Executivo Executiva a) Legislativa: elaboração de leis delega- das (art. 59, IV da CF/88); expedição de decretos e regulamentos (art. 84, IV e VI da CF/88); edição de medidas provi- sórias com força de lei (art. 84, XXVI da CF/88); b) Jurisdicional: concessão de indulto e comutação de penas (art. 84, XII, CF/88). O tema é, todavia, polêmico. Legislativo Legislativa ou Normativa a) Executiva: elaboração do plano pluria- nual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual (art. 48, II); fixação do montante da dívida mobiliá- ria federal (art. 48, XIV); realização de concursos públicos para provimento de seus cargos vagos etc. b) Jurisdicional: julgamento de determi- nadas autoridades nos crimes de res- ponsabilidade (arts. 52, I e II da CF/88). Judiciário Jurisdicional a) Executiva: eleger órgãos diretivos (art. 96, I, “a” da CF/88); conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores (art. 96, I, “f” da CF/88); b) Legislativa: elaboração dos regimentos internos dos tribunais (art. 96, I, “a”); estabelecimento de normas trabalhis- tas nos chamados dissídios coletivos (art. 114, § 2.º da CF). Poder Função Típica Função Atípica Poder Função Típica Funções Atípicas Executivo Executiva a) Legislativa: elaboração de leis delega- das (art. 59, IV da CF/88); expedição de decretos e regulamentos (art. 84, IV e VI da CF/88); edição de medidas provi- sórias com força de lei (art. 84, XXVI da CF/88); b) Jurisdicional: concessão de indulto e comutação de penas (art. 84, XII, CF/88). O tema é, todavia, polêmico. Legislativo Legislativa ou Normativa a) Executiva: elaboração do plano pluria- nual, da lei de diretrizes orçamentárias e da lei orçamentária anual (art. 48, II); fixação do montante da dívida mobiliá- ria federal (art. 48, XIV); realização de concursos públicos para provimento de seus cargos vagos etc. b) Jurisdicional: julgamento de determi- nadas autoridades nos crimes de res- ponsabilidade (arts. 52, I e II da CF/88). Judiciário Jurisdicional a) Executiva: eleger órgãos diretivos (art. 96, I, “a” da CF/88); conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores (art. 96, I, “f” da CF/88); b) Legislativa: elaboração dos regimentos internos dos tribunais (art. 96, I, “a”); estabelecimento de normas trabalhis- tas nos chamados dissídios coletivos (art. 114, § 2.º da CF). Poder Função Típica Função Atípica 15/04/2020 13 É importante ressaltar que: •A independência entre os Poderes não é absoluta. •Ela é limitada pelo sistema de freios e contrapesos, de origem norte-americana. •Esse sistema prevê a interferência legítima de um Poder sobre o outro, nos limites estabelecidos constitucionalmente. 15/04/2020 14 • É o que acontece, por exemplo, quando o Congresso Nacional (Poder Legislativo) fiscaliza os atos do Poder Executivo (art. 49, X, CF/88). Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: X - fiscalizar e controlar, diretamente, ou por qualquer de suas Casas, os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta; •Ou, então, quando o Poder Judiciário controla a constitucionalidade de leis elaboradas pelo Poder Legislativo. 15/04/2020 15 Alguns entendimentos importantes do STF sobre o sistema de freios e contrapesos: Os mecanismos de controle recíprocos entre os Poderes (os freios e contrapesos) previstos nas Constituições Estaduais somente se legitimam quando guardarem estreita similaridade com os previstos na Constituição Federal (ADI 1.905-MC) 15/04/2020 16 Os mecanismos de freios e contrapesos estão previstos na Constituição Federal, sendo vedado à Constituição Estadual criar outras formas de interferência de um Poder sobre o outro. (ADI 3046) É inconstitucional, por ofensa ao princípio da independência e harmonia entre os Poderes, norma que subordina acordos, convênios, contratos e atos de Secretários de Estado à aprovação da Assembleia Legislativa. (ADI 476). 15/04/2020 17 O processo de indicação dos ministros do Supremo Tribunal Federal pelo Chefe do Executivo da União é compatível com a Teoria da Separação dos Poderes? Responda de forma fundamentada. Resposta: Sim. Trata-se de um mecanismo inerente a técnica dos freios e contrapesos, ferramenta de fiscalização e responsabilização reciproca dos poderes estatais. Os controles recíprocos entre os Poderes são de fundamental importância para evitar abusos de poder. A previsão constitucional está localizada nos artigos 101, parágrafo único; artigo 52, III, alínea “a” e artigo 84, XIV, da Constituição Federal de 1988. Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal: III - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha de: a) Magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição ; b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República; c) Governador de Território; d) Presidente e diretores do banco central; e) Procurador-Geral da República; f) titulares de outros cargos que a lei determinar; Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: XIV - nomear, após aprovação pelo Senado Federal, os Ministros do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, os Governadores de Territórios, o Procurador-Geral da República, o presidente e os diretores do banco central e outros servidores, quando determinado em lei;
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