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DOR, INFLAMAÇÃO E DISTÚRBIOS REUMÁTICOS

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Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
1
Paciente Pediátrico
Profª Fabiana Albanese
Farmacologia e farmacoterapia 
da dor, inflamação e distúrbios 
reumáticos
Prof. Msc. André Luiz de 
Moura
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
2
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
3
1 Introdução 4
1.1 Via de metabolismo do ácido araquidônico 7
1.2 Ação dos mediadores químicos derivados do metabolismo do ácido araquidônico 9
1.2.1 Prostanoides 9
2 Dor 10
3 Distúrbios reumáticos 12
3.1 Controle de distúrbios reumáticos 15
3.1.1 Artrite e osteoartrose 15
3.1.2 Osteoporose 15
3.1.3 Fibromialgia 17
4 Febre reumática 18
5 Lúpus eritematoso sistêmico 18
6 Gota 19
7 Fármacos utilizados no manejo da 
dor e dos processos inflamatórios 20
7.1 Analgésicos narcóticos 21
7.2 Morfina 21
7.3 Codeína 21
7.4 Analgésicos não opioides (não narcóticos) 22
7.5 Anti-inflamatórios não esteroides 23
7.6 Derivados do ácido salicílico 25
7.7 Derivados do ácido antranílico (fenamatos) 26
7.8 Derivados do ácido enólico (oxicam) 26
7.9 Derivados pirazolônicos (dipirona) 27
7.10 Derivados do ácido indolacético 28
7.11 Derivados do ácido fenilacético 28
7.12 Derivados do ácido propiônico 29
7.13 Derivados do aminofenol, para-aminofenol e anilina (paracetamol) 29
7.14 Derivados da sulfonanilida 30
7.15 Anti-inflamatórios seletivos para COX-2 31
7.16 Colchicina 32
7.17 Alopurinol 32
8 Referências 34
SUMÁRIO
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
4
1 INTRODUÇÃO
 
O processo inflamatório (do latim inflammatio, possui a 
conotação de atear fogo) é uma resposta dos organismos 
vivos homeotérmicos a uma agressão sofrida. Normalmente 
a agressão causadora do processo inflamatório pode ser 
considerada um processo responsável por promover uma 
lesão celular ou tecidual e, em resposta, os tecidos ou 
células afetadas produzem e liberam inúmeros mediadores 
químicos, que atuam tanto no tecido lesado (provocando 
ações responsáveis pelo reparo do tecido danificado) 
como também no sistema imunológico. Neste caso, 
cabe ao sistema imunológico combater todos os agentes 
responsáveis pela agressão, os quais podem ser de natureza 
física (radiações, químicos, ácidos), microbiológicos ou 
traumáticos (KUMAR et al., 2005).
Em virtude disso, outros autores descrevem o processo 
inflamatório como uma complexa rede de respostas à 
lesão tecidual e infecção, e que pode ser clinicamente 
caracterizada por cinco sinais clínicos, os quais são 
denominados de sinais cardinais, sendo eles: rubor 
(vermelhidão), calor, tumor (tumefação), dolor (dor) e 
functio laesa (perda da função) (GOLAN et al., 2009).
Kumar et al. (2005) descrevem que o processo 
inflamatório é fundamentalmente um mecanismo de 
defesa, cujo objetivo final está relacionado à eliminação 
da causa inicial da lesão celular e das consequências dessa 
agressão. De acordo com os autores, caso não ocorresse 
o processo inflamatório, possivelmente as infecções se 
desenvolveriam descontroladamente, as feridas não 
cicatrizariam e o processo destrutivo nos órgãos atacados 
seria permanente.
Entretanto, a inflamação pode ser potencialmente 
prejudicial quando as reações bioquímicas e fisiológicas 
geradas ocorrem de forma descontrolada e desorganizada, 
acarretando em dor, perda de função tecidual, significativo 
edema (que em algumas situações pode comprimir os 
vasos, impedindo o fluxo sanguíneo para o tecido, ação 
que pode contribuir com o processo de gangrena tecidual), 
entre outros. 
As manifestações clínicas do processo inflamatório – 
calor, rubor, tumor (ou edema) e dor – foram descritas por 
Cornelius Celsius no século I d.C., quando listou os sinais 
cardinais. Mais tarde, no século XIX, o médico alemão 
Rudolf Virchow adicionou um quinto sinal à lista: perda de 
função (Figura 1), (KUMAR et al., 2004; FANTONE et al., 
1990; VANE, BOTTING, 1987; RYAN, MAJNO, 1977).
Figura 1. Sinais cardinais do processo inflamatório: calor, rubor, tumor, 
dor e perda da função.
Fonte: http://www.icb.ufmg.br/pat/old/imagem/marca/inflamac.gif
Esses sinais são gerados devido a alterações 
morfológicas, funcionais e hemodinâmicas promovidas 
pela liberação de mediadores químicos responsáveis pela 
resposta inflamatória. Tal processo envolve uma série de 
eventos, que incluem extravasamento de fluidos, ativação 
enzimática, migração celular, liberação de mediadores, 
sensibilização e ativação de receptores e lise (rompimento 
da membrana celular) e reparo tecidual (CARVALHO, 
LEMÔNICA, 1998).
Dessa forma, quando o tecido sofre agressão, ocorre 
dilatação arteriolar, aumento de permeabilidade vascular, 
acúmulo de leucócitos e dor (Figura 2).
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
5
Figura 2. Esquematização dos eventos relacionados ao processo inflamatório.
Fonte: acervo pessoal. 
Independente do fator responsável pela ativação do 
processo inflamatório, este contribui para a estimulação 
do sistema nervoso (KRAYCHETE et al., 2006). 
Dentre os cinco sinais cardinais, a dor é a sintomatologia 
mais estudada devido à sua relevância clínica.
O primeiro passo na sequência dos eventos que 
originam o fenômeno doloroso é a transformação dos 
estímulos agressivos em potenciais de ação, que são 
transmitidos da periferia para o sistema nervoso central 
por meio da propagação de impulso elétrico, mediada 
pelas fibras nervosas periféricas (ROCHA et al., 2007).
Após uma lesão ou injúria em um tecido, distúrbios 
na membrana celular ativam receptores periféricos de 
forma a promover a liberação de mediadores químicos 
envolvidos com as alterações observadas ao longo do 
processo inflamatório.
Os principais mediadores químicos incluem 
prostaglandinas, peptídeos complementares da cascata de 
coagulação e citocinas (por exemplo, as interleucinas – em 
particular, IL-2 e IL-6 e fator de necrose tumoral (TNF)), 
além de importantes eicosanoides (prostaglandinas (PGE2, 
PGD2 e PGF2), prostaciclina (PGI2), lipoxinas (lipoxina A e 
B)) e leucotrienos. Os mediadores orquestram e amplificam 
as respostas de células inflamatórias (Figura 3).
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
6
Figura 3. Representação da produção de mediadores químicos pró-inflamatórios por meio do estímulo agressivo e ativação da PLA2. 
Fonte: Adaptado de Rang et al. (2006).
Conforme apresentado acima, o agente agressor é 
responsável por induzir ou liberar mediadores químicos 
como a serotonina, histamina, bradicinina e substância 
P, que estimulam a PLA2, inclusive diretamente. Tais 
componentes podem também induzir a ativação dos 
mastócitos, que degranulam os mesmos mediadores 
anteriores e também os leucotrienos (LT) e interleucinas 
(IL), além do fator de necrose tumoral (TNF) e óxido 
nítrico (NO).
Esses mediadores estão relacionados com o surgimento 
dos cinco sinais cardinais presentes em um processo 
inflamatório. 
• Histamina: substância degradulada 
pelos mastócitos mediante resposta imunológica 
gerada pelo agressor. Seus efeitos incluem 
vasodilatação (essa resposta se dá pela ação da 
histamina sobre os receptores H1 nas células 
endoteliais, estimulando a produção de NO), 
prurido, ardor, sensação de “quente”, ação 
permeabilizadora dos vasos.
• Serotonina: pouca ação vasodilatadora 
e baixo efeito sobre a permeabilidade vascular.
• Bradicinina: é um mediador peptídico 
relacionado à atividade do sistema cinina-
calicreína. Possui significativa ação vasodilatadora 
(ação relacionada à sua capacidade de estimular 
a produção de NO e PGI2), fraca ação sobre a 
permeabilidade vascular, sensibiliza as fibras 
nociceptoras (diminui o limiar doloroso) e estimula 
a PLA2.
• NO: molécula radicalar produzida pelas 
células endoteliais, mastócitos e macrófagos. 
Possui elevada ação vasodilatadorae pode ser 
utilizado para a formação de peroxinitrito, um 
agente eficiente no combate a micro-organismos. 
Além disso, pode sensibilizar as fibras nociceptoras.
• Eicosanoides: essas substâncias 
geralmente não se encontram prontas e estocadas 
nas células; na verdade, são imediatamente 
produzidas a partir do momento que a PLA2 é 
estimulada. São derivadas do metabolismo do 
ácido araquidônico, que é encontrado esterificado 
nos fosfolipídios de membrana. Os principais 
eicosanoides são: prostaglandinas (substâncias 
prostanoides), tromboxanos, leucotrienos e 
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
7
lipoxinas. As funções dessas substâncias estão 
relacionadas na Figura 3.
• Leucotrienos: submetabólitos derivados 
do ácido araquidônico por intermédio da ação 
das enzimas lipoxigenases. Essas enzimas são 
expressas em inúmeras células como mastócitos, 
plaquetas e tecido pulmonar. Os leucotrienos são 
considerados agonistas de receptores específicos 
(LTB4), que estão envolvidos com a ativação das 
células de defesa. 
A resposta gerada pela ativação desses receptores 
desencadeia aumento da concentração intracelular 
de inositol trifosfato (IP3) e diacilglicerol (DAG), com 
consequente elevação da atividade intracelular da proteína 
quinase dependente de cálcio (PKC). Além dessa resposta, 
os leucotrienos também induzem a suprarregulação das 
proteínas de adesão leucocitária nos vasos sanguíneos. 
Em muitos estudos foi descrito que o LTB4 encontra-se 
presente em exsudatos inflamatórios de muitos processos 
inflamatórios, que incluem artrite reumatoide, psoríase, 
colite ulcerativa, bronquite, rinite, entre outras.
Lipoxinas: as lipoxinas A e B também são derivadas do 
metabolismo do ácido araquidônico. Possuem a principal 
função no processo de quimiotaxia, indicando o local da 
agressão e atraindo as células de defesa até o local.
1.1 Via de metabolismo do ácido 
araquidônico 
Ao longo de um processo inflamatório, ocorre a 
ativação da enzima PLA2, a qual degrada o fosfolipídio da 
membrana promovendo a liberação do ácido araquidônico 
(AA). Esse ácido graxo é utilizado em toda via metabólica 
inflamatória como um substrato para a síntese de inúmeros 
metabólitos pró-inflamatórios.
Os metabólitos dessa via, denominados eicosanoides, 
são sintetizados por duas vias enzimáticas: a das 
enzimas lipoxigenases (LOX), que resulta na formação 
de leucotrienos e lipoxinas, e pela via das enzimas 
cicloxigenases (COX), que leva à formação de tromboxanos 
(TX), de prostaglandinas (PG) e seus subtipos, por meio 
da oxidação do AA.
Figura 4. Cascata do ácido araquidônico. Após lesão ou injúria ao 
tecido, a enzima catalisadora fosfolipase A2 promove a síntese de ácido 
araquidônico a partir da liberação de fosfolipases presentes na membrana 
celular. Quando metabolizado, o ácido araquidônico gera prostaglandinas, 
prostaciclinas e tromboxanos pela ação da enzima ciclo-oxigenase (COX-
1 e COX-2) e leucotrienos, pela ação da enzima lipoxigenase.
Fonte: acervo pessoal.
Atualmente, são descritas três isoformas da enzima 
COXs, a saber: a COX-1, a COX-2 e a COX-3, que 
determinam no organismo diferentes funções fisiológicas. 
• COX-1: está presente em quase todos 
os tipos de células, com exceção dos eritrócitos, 
sendo denominada de constitutiva ou fisiológica; 
é responsável pela síntese de PGs. Nas plaquetas, 
a COX-1 está relacionada à síntese de tromboxano 
A2 (TX-A2), um mediador que favorece a 
agregação e a adesão plaquetária. 
• COX-2: até pouco tempo essa isoforma 
era denominada de COX patológica ou induzida, 
pois, de acordo com estudos da época, essa 
enzima seria expressa apenas em resposta a 
estímulos inflamatórios e mitogênicos, e por 
isso seria a principal responsável pela formação 
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
8
das prostaglandinas associadas à resposta 
inflamatória. 
Porém, após os problemas detectados com o 
medicamento Vioxx®, ficou comprovado que a 
COX-2 é uma enzima de grande importância para 
funções fisiológicas, como manutenção do fluxo 
sanguíneo coronariano, renal, pulmonar, hepático, 
entre outros. Por essa razão, nos dias atuais essa 
enzima é denominada – assim como a COX-1 – de 
fisiológica.
• COX-3: mais recentemente descrita, essa 
isoforma é a responsável pelo controle térmico do 
organismo em situações clínicas como infecções. 
É expressa na região hipotalâmica denominada 
de centro termo-regulador. Produtos derivados do 
metabolismo microbiológico, fragmentos de micro-
organismos ou o próprio agente microbiológico 
são capazes de promover sua ativação. Quando 
estimulada, a COX-3 é responsável por promover 
elevação da temperatura corpórea (febre) em 
situações de infecção. Além dessas respostas, outra 
proposta para as ações dessa terceira isoforma 
seria que, ao contrário da COX-1 e COX-2, a COX-
3 não produz prostanoides pró-inflamatórios, mas 
substâncias anti-inflamatórias, o que explicaria os 
períodos de remissão característicos de algumas 
doenças inflamatórias crônicas. 
Na Figura 5 estão demonstradas as diferenças entre as 
isoformas COX-1 e COX-2. Conforme será demonstrado, 
a isoforma 1 possui um conduto de acesso ao AA mais 
estreito comparado ao conduto da isoforma 2. A diferença 
crucial entre as duas enzimas COX reside na posição 523: 
nesse ponto, a COX-1 apresenta um aminoácido isoleucina 
volumoso, enquanto a COX-2 possui uma valina. 
Tal alteração produz uma lacuna, dando acesso a 
uma bolsa lateral. Essa característica é utilizada no 
desenvolvimento de moléculas que sejam mais seletivas 
para cada uma das isoformas, portanto, ao se construir 
fármacos de tamanho molecular menor (como é o caso do 
AAS, ibuprofeno, acetominofeno, entre outros), ocorrerá o 
bloqueio não seletivo das isoformas, o que garante redução 
muito significativa da conversão de AA em endoperóxidos 
cíclicos. 
Por outro lado, ao se elaborar moléculas maiores – 
como é o caso da nimesulida, tenoxican, entre outros – 
poderá haver uma maior seletividade para a isoformas 
2 de ciclo-oxigenase. Por último, nas moléculas como as 
referentes aos coxibs (celecoxib, rofecoxib, lumiracoxib), 
haverá seletividade para a isoformas 2, ou seja, a COX-
1 permanecerá desbloqueada e, por isso, manterá sua 
atividade normal.
Todos os metabólitos gerados a partir do AA, em 
especial as PG do tipo E2 (PGE2), são capazes de promover 
diminuição do limiar de excitabilidade dos nociceptores 
(ROCHA et al., 2007). 
Além disso, as PG dilatam arteríolas, aumentando o fluxo 
sanguíneo para a área de lesão e agindo sinergicamente 
com outros mediadores, como a histamina e a bradicinina, 
que aumentam a permeabilidade vascular e estimulam 
nociceptores nos locais da inflamação, induzindo a dor e 
sensação de aquecimento (LEES, 2003).
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
9
Figura 5. Representação esquemática da comparação das isoformas ciclo-oxigenase 1 (COX-1) e ciclo-oxigenase 2 (COX-
2) em relação à ação de agentes anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) tradicionais (não seletivos para as isoformas 
de COX) e de AINEs seletivos para COX-2. A O ácido araquidônico penetra no canal da enzima COX, sendo inicialmente 
convertido em prostaglandina G2 (PGG2); em seguida, em prostaglandina H2 (PGH2). Estas últimas etapas não estão 
indicadas nesta figura e, finalmente, numa prostaglandina, cujo exemplo fornecido aqui é a prostaglandina E2. B O 
flurbiprofeno bloqueia ambos os canais de COX-1 e COX-2. C A base prevista da especificidade dos agentes COX-2-
seletivos; um agente COX-s-seletivo é eficaz no bloqueio do canal COX-2, não exercendo efeito sobre COX-1. 
Fonte: Rang et al. (2006).
1.2 Ação dos mediadores químicos 
derivados do metabolismo do ácido 
araquidônico
1.2.1 Prostanoides
Mediadores químicos obtidos a partir do metabolismo 
do AA, essas substânciasestão envolvidas com inúmeras 
desordens ocorridas ao longo da resposta orgânica ao 
processo inflamatório, e podem gerar ações diferenciadas.
• PGE2: conforme já mencionado, esse 
mediador é denominado prostaglandina do tipo 
E2, e promove ativação dos receptores EP1, EP2 
e EP3. O EP1 está relacionado com o aumento 
da contração do músculo liso que reveste os 
brônquios e TGI. O EP2, por sua vez, desencadeia 
a broncodilatação, vasodilatação, aumento da 
secreção de líquidos intestinais e o relaxamento 
do músculo liso intestinal. Já o EP3 provoca 
contração do músculo liso intestinal, inibição da 
secreção de HCl estomacal, aumento da secreção 
gástrica de muco, inibição da lipólise e da liberação 
de neurotransmissores pelo sistema nervoso 
autônomo, além de estimular a contração uterina.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
10
• PGD2: é um agente vasodilatador, inibe 
a agregação plaquetária, propicia o relaxamento 
uterino e do músculo gastrintestinal, modifica 
a liberação nos hormônios hipotalâmicos/
hipofisários. Seu efeito broncoconstritor decorre 
de uma ação sobre os receptores TP.
• PGF2: causa contração do miométrio 
nos seres humanos, luteólise em algumas espécies 
(em bovinos, por exemplo) e broncoconstrição em 
outras espécies (gatos e cães).
• PGI2: desencadeia vasodilatação, 
inibição da agregação plaquetária, liberação de 
renina e natriurese por meio de ações sobre a 
reabsorção tubular de íons de sódio.
• Tromboxano A2: é responsável por 
promover agregação plaquetária, vasoconstrição 
e broncoconstrição. Neste caso, o efeito é descrito 
como mais pronunciado em cobaias do que em 
humanos.
2 DOR
A maioria dos seres vivos vertebrados e constituídos por 
um sistema nervoso central já passou em algum momento 
de suas vidas por uma experiência desconfortável 
denominada dor, que surgiu em resposta a um estímulo 
intensamente nocivo ao organismo. 
Há várias formas de perceber a dor, podendo ser 
ela psíquica ou física. A primeira estaria relacionada a 
uma sensação emocional que é interpretada de forma 
dolorosa como, por exemplo, a dor de perder alguém 
muito próximo (Figura 6A), já esta última diz respeito à 
sensação dolorosa como uma agressão física, um corte, 
uma fratura, disfunção articular, entre outras, que podem 
potencialmente desencadear algum dano muito severo ao 
sistema orgânico (Figura 6B)
 
Fonte: http://receptaculo.blogspot.com.br/2008_02_01_archive.html
Fonte:http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG78140-
6009,00-HORROR+NO+VOO.html.
Figura 6. A Figura 6A está representando uma situação emocional (dor 
psicológica ou emocional), ao passo que a 6B mostra uma situação 
referente a trauma físico (dor física).
A luta para aliviar a dor começou com o início da 
humanidade. De acordo com a International Association 
for the Study of Pain (1994) (Associação Internacional para 
o Estudo da Dor), o termo “dor” pode ser definido como 
uma sensação ou experiência emocional desagradável, 
associada com dano tecidual real ou potencial, ou descrita 
nos termos de tal dano. 
Para outros autores (DIA JÚNIOR et al., 2004), 
“nocicepção” é uma terminologia utilizada para referir-se à 
sensação, enquanto o conceito de “dor” está relacionado à 
sensação e percepção do estímulo nociceptivo.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
11
A percepção de dor ocorre devido a um aumento na 
sensibilidade dos nociceptores e das fibras aferentes 
primárias (fibras A-delta III (fibra mielinizada) e fibras 
C-IV (desmielinizadas)), em decorrência de estímulos 
ambientais que sensibilizam esses receptores presentes 
na pele, nas vísceras, nos vasos sanguíneos e nas fibras 
do musculoesquelético. 
A modulação desses receptores é realizada por 
diversos moduladores bioquímicos, como a histamina, 
noradrenalina, bradicinina, prostaglandinas, purinas, 
citocinas, leucotrienos e neuropeptídeos (substância P 
e neurocinas), provenientes de processos inflamatórios, 
traumáticos e/ou isquêmicos, que são liberadas pelas 
células lesadas (Figura 7). Logo em seguida ao dano 
tecidual, devido ao acúmulo local de mediadores químicos 
pró-inflamatórios, ocorre a “sensibilização periférica” da 
dor, que se caracteriza por uma alteração no limiar de 
nociceptores, com consequente hiperalgia (sensibilidade 
exacerbada ao estímulo nóxico ou doloroso) e/ou 
alodinia (sensações não nocivas, mas que representam 
psiquicamente uma sensação de dor).
Tais nociceptores sensibilizados realizam sinapses com 
neurônios das lâminas I, II e V por sinais enviados para 
o corno posterior da medula, através das fibras nervosas 
aferentes primárias A-delta III e C-IV. A informação é 
então conduzida via sistema trato espinotalâmico para 
áreas centrais como tálamo e córtex cerebral, que são 
responsáveis pela interpretação e cognição da dor.
Figura 7. Esquematização de fatores mecânicos (traumáticos) capazes 
de promover lesão celular e a liberação de mediadores químicos pró-
inflamatórios responsáveis por promover ativação das fibras nociceptoras. 
Fonte: Lent (2004).
A dor pode ser caracterizada e classificada segundo 
critérios temporais (dor aguda ou crônica), patogênese 
(nociceptiva, neuropática ou psicogênica) e de intensidade 
(leve, moderada ou intensa).
A dor aguda ou de curta duração está, geralmente, 
relacionada à instalação de um processo patológico, seja 
ele de origem traumática ou inflamatória, enquanto a dor 
crônica é contínua e recorrente, de duração prolongada, 
que não cessa com a remoção do estímulo (Figura 8).
Tipos de dor
Aguda Nociceptiva Resultado da ação direta de nociceptores na pele ou 
tecidos moles em resposta à lesão tecidual geralmente 
acompanhada de inflamação
Neuropática Lesão direta em nervos do SNC ou periférico caracterizada 
por sensação de queimação ou choques elétricos
Crônica A dor não cessa com a ausência do agente lesivo
Figura 8. Representação esquemática da classificação da dor em conformidade com as causas.
Fonte: acervo pessoal.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
12
A classificação da dor de acordo com sua patogênese 
diferencia a dor em três tipos: nociceptiva, neuropática e 
psicogênica. A dor nociceptiva surge a partir da estimulação 
dos receptores da dor específicos, resultante de uma lesão. 
Esses receptores podem responder ao calor, frio, vibração, 
estiramento e a estímulos químicos liberados a partir de 
células lesionadas.
A dor aguda e a dor crônica diferem em sua etiologia, 
fisiopatologia, diagnóstico e tratamento. A dor aguda 
é autolimitada e funciona como uma função biológica 
protetora, agindo como um aviso de dano tecidual. 
Sintomas psicológicos associados a esse tipo de dor são 
mínimos e, normalmente, limitados a uma ansiedade leve. 
A dor crônica, por outro lado, não tem nenhuma função 
biológica protetora – sendo decorrente, mas não estando 
relacionada a nenhum processo de doença –, podendo 
persistir por anos e até mesmo décadas após a lesão inicial.
A dor neuropática ocorre quando há lesão direta 
(trauma, infecção, isquemia, doença degenerativa, invasão 
tumoral, injúria química ou radiação) em nervos do sistema 
nervoso central ou periférico, e não pela estimulação de 
receptores de dor. 
Já a dor psicogênica não possui causa conhecida. É 
uma dor pouco definida, mal situada e que, geralmente, 
não responde à terapia medicamentosa, sendo indicado, 
nesse caso, tratamentos alternativos não medicamentosos.
Com relação à intensidade, a dor pode ser classificada 
em leve, moderada e intensa. Esse é o tipo de classificação 
menos desejável, uma vez que a intensidade varia de 
acordo com a maioria dos pacientes ao longo do tempo e 
é exclusivamente subjetiva.
Não existe uma abordagem terapêutica única que 
gerencie todos os tipos de dor para todos os pacientes 
em todas as circunstâncias clínicas.O controle da dor 
deve ser baseado em avaliação criteriosa, identificando 
as possíveis causas e efeitos desse sintoma na vida do 
paciente e investigando os fatores psicossociais que 
possam influenciar seu impacto.
3 DISTÚRBIOS REUMÁTICOS
Há fortes indícios de que é inevitável o envelhecimento 
da população mundial, e com essa situação ocorre grande 
alteração das condições de saúde. A epidemiologia dos 
tempos atuais tem acompanhado esse fenômeno de 
transição demográfica, e vem revelando um novo panorama 
nos indicadores de saúde e nos perfis de morbidade e 
mortalidade. 
Alves et al. (2007) afirmam que “a tendência atual é 
termos um número crescente de indivíduos idosos, que 
apesar de viverem mais, apresentam maiores condições 
crônicas”. Assim, há uma tendência crescente no surgimento 
de patologias e distúrbios crônicos degenerativos, o 
que implica no agravamento da qualidade de vida dos 
indivíduos idosos. 
Do ponto de vista da saúde pública, o aumento nos 
índices de prevalência e incidência das incapacidades 
torna-se um desafio, tendo em vista o papel do Estado 
em promover saúde e qualidade de vida. Segundo 
Verbrugge e Jett (1994, p.1), o termo incapacidade pode 
ser definido como “uma dificuldade experimentada em 
realizar atividades em qualquer domínio da vida devido a 
um problema físico ou de saúde”.
Dentre os diferentes fatores desencadeadores de 
incapacidade relacionados a problemas crônicos na 
senescência, citamos os cardiovasculares, diabetes e, 
principalmente, os problemas reumatoides. 
Estes últimos são considerados problemas de saúde que 
acometem as articulações e estruturas osteomusculares 
adjacentes, associadas à dor e rigidez articular, além de 
tecido conjuntivo e de vasos sanguíneos, podendo ainda 
incluir as alterações dos tecidos moles periarticulares e as 
doenças de outros órgãos e/ou sistemas relacionados com 
as anteriores. 
As doenças reumáticas são uma das doenças crônicas 
com maior potencial de induzir um processo de limitação 
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
13
física e incapacidade, fenômeno que se acentua nos 
grupos etários mais avançados.
Os principais sintomas clínicos dessas patologias estão 
relacionados à dor, à tumefação e à limitação da mobilidade, 
e ocorrem de forma muito frequente na população em 
geral. A prevalência sintomatológica é predominante em 
pacientes do sexo feminino e nas pessoas de faixa etária 
elevada. 
Essa sintomatologia está intimamente relacionada a 
disfunções reumáticas, como a osteoartrose, raquialgias, 
doenças reumáticas periarticulares, incluindo as lesões 
musculoesqueléticas ligadas ao trabalho, osteoporose, 
fibromialgia, artropatias microcristalinas, artrite 
reumatoide, espondiloartropatias, doenças reumáticas 
sistêmicas e artrites idiopáticas juvenis. No quadro a seguir 
estão listados os principais tipos de doenças reumáticas. 
Quadro 1. Principais tipos de patologias reumáticas e suas principais características.
Tipo de reumatismo Principais características
Osteoartrose
É responsável por provocar incapacidade de pessoas idosas, associando-se 
frequentemente, neste grupo etário, a outras patologias incapacitantes, afetando as 
articulações importantes para a funcionalidade, como as das mãos, joelhos, quadril, 
coluna vertebral e pés.
Raquialgias
Está relacionada a dores na coluna vertebral, quer sejam de causa degenerativa, 
infecciosa, inflamatória, metabólica ou neoplásica. Frequentemente são relacionadas 
às queixas reumáticas, sendo um dos motivos de incapacidade antes dos 45 anos de 
idade.
Distúrbio reumático 
periarticular (também 
denominado de LER/DORT)
Com frequência, são resultados de lesões repetitivas, habitualmente provocadas 
por traumatismos relacionados com o trabalho. Representam mais da metade dos 
casos de doenças profissionais.
Osteoporose
Provoca diminuição da resistência óssea, estando normalmente relacionada com 
fraturas por traumatismos de baixa energia. As fraturas de fêmur proximal são as 
mais implicadas, sendo essas as principais causas de morbidade e mortalidade.
Fibromialgia
É uma síndrome musculoesquelética crônica, não inflamatória e de causa 
desconhecida. Está relacionada com o surgimento de dores generalizadas, fadiga, 
alterações quantitativas e qualitativas do sono e perturbações cognitivas. É uma 
causa de incapacidade física e emocional, muitas vezes grave.
A r t r o p a t i a s 
microcristalinas (gota)
É uma patologia inflamatória e metabólica, que geralmente está relacionada com 
excesso de ácido úrico no plasma (hiperuricemia). Este se deposita na forma de 
cristais de ácido úrico nas articulações e até mesmo em tecidos moles, causando 
inflamação aguda ou crônica, e promovendo desenvolvimento de degeneração 
articular. É uma doença relativamente comum e sua maior incidência é no final da 
terceira década de vida e início da quarta, sendo predominante em pacientes do sexo 
masculino, raramente em mulheres.
Artrite reumatoide
Doença crônica autoimune, de causa desconhecida, é normalmente caracteriza 
pelo surgimento de inflamação em articulações (uma ou mais), por pelo menos seis 
semanas seguidas, que se perpetua com uma resposta inflamatória persistente. Além 
disso, é responsável por promover morbidade e incapacidade em grupos etários 
jovens, reduzindo, nos casos mais graves, a esperança de vida em cerca de 10 anos.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
14
Espondiloartropatias
Esse tipo de reumatismo inclui a espondilite anquilosante, a artrite psoriática, 
a artrite reativa e as artropatias associadas às doenças inflamatórias crônicas do 
intestino. Atingem, preferencialmente, a coluna vertebral e as articulações sacroilíacas, 
causando incapacidade em jovens.
Doenças reumáticas 
sistêmicas
Englobam um conjunto heterogêneo de doenças e síndromes, como o lúpus 
eritematoso sistêmico, a síndrome de Sjögren, a esclerose sistêmica, a polimiosite/
dermatomiosite e o extenso grupo das vasculites. Acometem, sobretudo, adultos 
jovens.
Artrites idiopáticas juvenis
São doenças crônicas que acometem com mais frequência crianças e adolescentes, 
sendo uma causa importante de incapacidade, doença ocular e de insucesso escolar 
pelo absentismo que podem provocar.
Fonte: Adaptado de Direção... (2001).
Tanto em países desenvolvidos quanto nos em 
desenvolvimento os distúrbios reumáticos originam um 
grupo de enfermidades que afeta de forma significativa 
a vida cotidiana do ser humano. Essas patologias juntas 
promovem o aumento considerável da incapacidade 
funcional e laboral, que estão ligadas a um forte impacto 
econômico-social nesses países.
Cada um desses diferentes tipos de patologias possui 
o(s) principal(is) fatores de risco envolvidos com seu 
surgimento. Entretanto, fatores como idade, obesidade, 
tabagismo, alcoolismo, medicamentos e alterações 
hormonais representam risco comuns a todas elas. 
Para o diagnóstico correto, o paciente deve consultar 
um médico especialista da área, pois apenas com exames 
adequados e avaliação de um profissional capacitado e 
tecnicamente experiente poderá se detectar os fatores 
relacionados. Os sintomas apresentados por cada um dos 
pacientes são de suma importância para o diagnóstico da 
patologia.
De acordo com o guia da Direção-geral da Saúde e 
do Ministério da Saúde (2001), os principais sintomas dos 
distúrbios reumáticos incluem dor, rigidez, deformação das 
articulações e, em alguns casos, podem apresentar ou não 
rubor, calor ou inchaço, movimentos dolorosos e limitados 
das articulações e dificuldade na marcha, quando afetadas 
as articulações das pernas.
O fato é que, sem dúvida alguma, o sinal mais 
proeminente entre todos os tipos de reumatismo é a 
dor; essa pode ocorrer de modo generalizado (o paciente 
descreve: “dói o corpo todo”) ou de forma localizada em 
um dos membros ou articulação,tais como os quadris, 
junção iliossacral, joelhos ou as mãos. 
A origem da dor nem sempre é facilmente identificada. 
Em grande parte dos casos, quando a dor manifesta-se 
de forma localizada, ela pode ser decorrente de artrose 
ou, raramente, de artrite reumatoide ou outra forma de 
artrite. Essas patologias acometem comumente idosos, 
preferencialmente do sexo feminino (3 vezes mais chances 
do que os homens), mas também podem acometer jovens.
Outro fator importante é que, em geral, os 
problemas relacionados ao reumatismo apresentam 
inicialmente sintomas inespecíficos (fadiga, mal-estar, 
dor musculoesquelética difusa e rigidez matinal, além de 
febre). A progressão da patologia é muito variável; em 
cerca de um terço dos casos, os sintomas são discretos 
e podem desaparecer no decorrer de várias semanas ou 
alguns meses. 
Os pacientes podem permanecer assintomáticos por 
vários meses e, em seguida, apresentar sintomas mais 
graves do que aqueles observados anteriormente. Alguns 
indivíduos apresentam início súbito de sintomas, seguido 
de remissão clínica prolongada da patologia. Em outras 
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
15
situações, o paciente pode apresentar doença ininterrupta 
progressiva, com deformidades articulares e incapacidade.
A seguir, serão expostos alguns tipos de reumatismo e 
sugestões apresentadas por muitos órgãos de estudo para 
o manejo dessas disfunções.
3.1 Controle de distúrbios reumáticos
3.1.1 Artrite e osteoartrose
É uma patologia resultante de uma disfunção na 
formação, regeneração e na degeneração de cartilagens, 
sendo considerada atualmente uma disfunção de 
característica multifatorial. Alguns tipos da doença são 
reconhecidamente hereditários, sendo a forma mais 
comum a osteoartrose das falanges distais dos dedos 
das mãos e dos pés, que pode originar grande formação 
desses membros (veja na Figura 9).
Figura 9. Representação de um paciente adulto (esquerda) e um 
indivíduo jovem (direta) portadores de artrite reumatoide e artrite 
reumatoide juvenil, respectivamente.
Fonte:http://cynthiafurtado.blogspot.com.br/2010/11/o-que-e-
artrite.html
 O tratamento para esse tipo de reumatismo 
consiste basicamente em tratamento farmacológico 
(analgésicos, anti-inflamatórios, agentes restauradores da 
cartilagem) e não farmacológico (exercícios, fisioterapia, 
órteses) que visam não somente aliviar a dor, mas 
preservar a função da articulação acometida. A indicação 
de correções cirúrgicas de suas sequelas pode ocorrer 
mediante disfunção e prognóstico de cada paciente.
3.1.2 Osteoporose
A osteoporose é uma disfunção reumatoide cuja 
característica principal é a diminuição da massa óssea e 
consequente alteração de sua qualidade. 
O osso fica esponjoso e mais frágil em função da redução 
da concentração de cálcio e de outros componentes da 
matriz óssea, aumentando, por conseguinte, o risco de 
fraturas.
Essa alteração afeta todos os ossos do corpo, porém 
tem maior incidência de fraturas em vértebras da coluna, 
fêmur e ossos do punho. 
Os sintomas não aparecem até que grande quantidade 
de osso tenha sido perdida e que os ossos comecem a 
sofrer fraturas. 
Com certa frequência, essas alterações iniciais e sutis 
implicam em dor nas costas (coluna vertebral), diminuição 
da estatura, inclinação de parte do corpo originando uma 
posição corcunda, fraturas sem ocorrência de trauma (veja 
na Figura 10).
Normalmente, os principais fatores envolvidos são 
os hereditários, causas ambientais (como climatério, 
desnutrição, sedentarismo, pouca exposição ao sol, 
anorexia, excesso de exercícios), uso de medicamentos 
(por exemplo, anticonvulsivantes, anticoagulantes, 
corticoides, laxantes), alcoolismo, fumo e cafeína.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
16
Figura 10. Representação de sequência de eventos relacionados ao desenvolvimento de osteoporose. 
Fonte: http://www.herniadedisco.com.br/doencas-da-coluna/osteopenia-e-osteoporose/
A osteoporose é uma patologia que pode ser prevenida 
e tratada. A melhor estratégia ainda é a prevenção, porém, 
quando instalada e diagnosticada, essa disfunção pode 
ser tratada. O método preventivo ideal é a obtenção de 
maior massa óssea durante o crescimento, o que pode 
ser facilmente alcançado por meio de alimentação rica em 
cálcio e vitamina D, além da prática de exercícios físicos 
desde a infância e juventude.
Nesse sentido, é fundamental a ingestão de cálcio com 
alimentos lácteos, legumes de folha verde (espinafres 
e brócolis) e peixe com espinhas (sardinhas), sendo 
necessários de 800 a 1000 mg de cálcio por dia (veja 
quadro abaixo). 
Além disso, a regularidade do ciclo menstrual é 
importante na prevenção da osteoporose, haja vista 
que a ação do hormônio estrógeno está inversamente 
relacionada com a reabsorção óssea, comum em mulheres 
após a menopausa.
No tratamento com medicamentos, além da 
suplementação oral de cálcio e vitamina D, a atuação se 
faz principalmente sobre a reabsorção óssea, sendo a 
maioria dos agentes terapêuticos antiabsortivos. Contudo, 
já existem medicamentos que ajudam a produzir osso, 
como o paratormônio sintético. 
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
17
Quadro 2. Relação de alimentos e seu teor de cálcio.
Alimento Valor (mg de cálcio)
Um copo de leite (3% ou 1% de gordura) 200
Um iogurte 200
100 g de queijo branco (ou fresco) 110
100 g de sardinhas 345
100 g de brócolis ou espinafres cozidos 75
100 g de queijo amarelo (gordo) 800
Fonte: Direção... (2001).
Alimentos como amendoins, amêndoas e figos secos 
possuem grandes quantidades de cálcio, porém são ricos 
em calorias (como é o caso do queijo gordo). A ingestão 
de um suplemento de vitamina D e a exposição ao sol 
apresentam benefícios para quem possui falta de vitamina 
D, como acontece com algumas pessoas idosas, que não 
saem de casa ou habitam em regiões com pouco sol. 
A atividade física (andar a pé, dançar ou fazer ginástica) 
contribui para a prevenção da osteoporose. É conveniente 
evitar períodos longos de repouso ou de imobilização, uma 
vez que isso aumenta a incidência da doença.
Estudos demonstraram ainda que mulheres fumantes 
e que fazem constante uso de álcool, ou fazem ambas as 
coisas, são mais propensas a desenvolver osteoporose.
3.1.3 Fibromialgia
A fibromialgia refere-se ao surgimento de dor crônica 
e difusa, de causa não inflamatória, com pelo menos 
três meses de duração e que ao exame físico demonstra 
pontos dolorosos quando palpados em locais anatômicos 
predeterminados (tender points). 
Trata-se de uma patologia que se manifesta clinicamente 
por fadiga diurna, boca seca, sensação de mãos inchadas, 
tonturas, dor precordial, taquicardia, cefaleia, enxaqueca, 
cólon irritável, irritabilidade, depressão e ansiedade. 
A causa dessa patologia está associada à sensibilidade 
exagerada do indivíduo a estímulos dolorosos, normalmente 
originados de distúrbios bioquímicos do sistema nervoso. 
É predominante em pessoas do sexo feminino, e o pico de 
incidência ocorre na faixa etária entre 30 e 50 anos. 
Estima-se que cerca de 5% das consultas ambulatoriais 
de clínica geral e 30% da clínica especializada em 
reumatologia ocorrem em decorrência dos casos de 
fibromialgia.
O tratamento dessa disfunção merece certa atenção 
quanto a seu controle, exigindo grande contribuição do 
paciente. Como não existem exames complementares que 
por si só confirmem o diagnóstico, a experiência clínica 
do profissional, a disposição do paciente em submeter-
se fielmente à prescrição médica e a colaboração dos 
familiares e amigos são fundamentais para o sucesso do 
tratamento, mesmo porque este geralmente é realizado 
por um período relativamente longo. 
Normalmente, o tratamento está pautado em 
psicoterapia e terapias comportamentais, que estimulam 
a mudança noestilo de vida, de forma que o paciente 
pratique técnicas de relaxamento, passe a se ter hábitos 
de vida saudáveis, pratique exercícios físicos, faça 
uso de medicações para combate à dor e à depressão 
(antidepressivos, analgésicos, relaxantes musculares).
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
18
4 FEBRE REUMÁTICA
A febre reumática (FR) é uma doença que acomete 
principalmente pessoas em faixa etária escolar e 
adolescência, sendo considerada no Brasil como a principal 
causa de cardiopatia crônica adquirida em menores de 20 
anos e responsável por elevados índices de morbidade e 
mortalidade. 
A FR é referida como uma das principais patologias 
relacionadas com um número significativo de cirurgias 
cardíacas para tratamento de complicações valvulares, 
além de provocar o aparecimento de artrite, nódulos 
subcutâneos, lesões de pele e de graves quadros 
neurológicos de coreia de Sydenham (movimentos 
incontroláveis). 
Entre as doenças que repercutem na saúde das 
crianças, a FR assume proporções preocupantes, não só 
pelas sérias lesões cardíacas, como também pelo alto 
valor de seu tratamento imposto aos cofres do setor, por 
meio de delicadas e sofisticadas cirurgias cardíacas para o 
implante de válvulas artificiais.
A principal causa dessa patologia é, sem dúvida alguma, 
a contaminação do paciente pelo estreptococo beta 
hemolítico do grupo A, um micro-organismo relacionado 
com casos de infecção de garganta. É uma bactéria que 
causa amigdalite, principalmente nas regiões em que a 
situação de vida e saúde da população é mais precária. 
Porém, não é todo indivíduo afetado por tal agente que 
irá desenvolver FR; é preciso haver uma predisposição 
individual para a ocorrência da patologia. O tratamento 
correto das amigdalites com antibiótico adequado e pelo 
tempo certo pode ajudar a prevenir o aparecimento da 
febre reumática.
Para a prevenção da patologia, não há outra opção além 
do tratamento adequado das afecções das vias aéreas 
superiores (principalmente casos de infecção de garganta 
e amigdalite). Para os pacientes que já desenvolveram 
a febre reumática, o tratamento é realizado com auxílio 
de medicamentos específicos para o coração, repouso 
e anti-inflamatórios nas artrites, corticoides e drogas 
específicas para os distúrbios de movimento provocados 
pelo envolvimento do Sistema Nervoso Central. Decorrida 
a crise, é necessário que o paciente seja submetido a um 
esquema de prevenção da infecção pelo estreptococo 
com penicilina benzatina a cada 21 dias. Caso ocorra o 
envolvimento cardíaco, a profilaxia deve estender-se, se 
possível, por toda vida. Caso não haja acometimento do 
coração, fica determinado o uso do medicamento até os 
18 anos de idade.
5 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO
Trata-se de uma doença inflamatória, autoimune e 
geralmente crônica, que pode acometer múltiplos órgãos, 
de forma sucessiva ou simultânea. É uma patologia de 
etiologia multifatorial, em que a interação da predisposição 
genética e vários fatores hormonais (aumento da relação 
andrógeno/ estrógeno) e ambientais (luz ultravioleta, 
medicamentos e infecções) ocasionam um distúrbio do 
sistema imunológico, gerando uma produção inadequada 
de anticorpos, que, por sua vez, reconhecem os próprios 
constituintes do corpo como possíveis agressores, o que 
provoca lesões inflamatórias variadas. 
A doença tem um amplo espectro de apresentações 
clínicas, evoluindo cronicamente com períodos de 
exacerbações e remissões (veja na Figura 11).
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
19
Figura 11. Representações gráficas de pacientes acometidos pelo Lúpus 
Eritematoso Sistêmico. 
Fonte: http://www.mundoeducacao.com/doencas/lupus.htm
Mesmo havendo medidas internacionalmente aceitas 
para o tratamento do LES, cada paciente é tratado em 
conformidade com o próprio corpo. Na verdade, não existe 
um tratamento que seja capaz de promover a cura dessa 
doença; portanto, o tratamento não é um modelo definido 
e único para ser aplicado em todos os pacientes, uma vez 
que as características de cada caso mostrarão o que se 
deve fazer. 
Os medicamentos utilizados na terapêutica do lúpus 
podem promover importantes efeitos colaterais e devem 
ser manejados por profissionais experientes. 
Na fase aguda da doença, além de repouso, psicoterapia, 
dieta balanceada, prática regular de exercícios físicos, 
uso constante de protetor solar, controle da pressão 
arterial e da dislipidemia, a terapia medicamentosa 
consiste no emprego de anti-inflamatórios, corticoides e 
imunossupressores, como a ciclofosfamida. Recomenda-se 
o uso de drogas antimaláricas para o tratamento de lesões 
cutâneas difusas, como a cloroquina, podendo associá-la 
à prednisona, em baixa dosagem e por período limitado.
Em 2011 nos EUA, foi aprovado pelo FDA o uso de um 
anticorpo monoclonal humano capaz de inibir a ação dos 
mediadores químicos denominados de fator estimulador 
de linfócito B (nome comercial americano Benlysta, 
anteriormente conhecido como LymphoStat-B), para o 
tratamento de LES.
Vale ressaltar a necessidade de os pacientes portadores 
de LES conhecerem e reconhecerem os sintomas da 
doença, inclusive das complicações que, mesmo raras, 
podem aparecer. Dessa forma, na ocorrência de quaisquer 
complicações, elas poderão ser prontamente manejadas e 
facilmente solucionadas.
6 GOTA
É uma patologia de característica inflamatória 
relacionada a um distúrbio metabólico, que está associada 
geralmente a um quadro de hiperuricemia. Sua principal 
característica é a deposição de cristais de urato (ácido 
úrico) nas articulações e até mesmo em tecidos moles, 
causando inflamação aguda ou crônica, levando ao 
desenvolvimento de degeneração articular.
A manifestação clínica da gota está associada ao 
desenvolvimento de artrite, que pode acometer diversas 
articulações. Em pacientes que não realizam qualquer 
tratamento, as crises podem se prolongar por mais de 
sete dias, regredindo espontaneamente e podendo passar 
longos períodos sem reaparecer. 
Nestes casos, cristais de ácido úrico depositam-se 
nos tecidos – especialmente em cotovelos e pavilhões 
auriculares –, resultando na formação de tofos. Os tofos 
são comuns em pacientes não tratados ou naqueles que 
não aderiram corretamente ao tratamento (Figura 12).
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
20
Figura 12. Representação gráfica do desenvolvimento de processo 
inflamatório relacionado à crise de gota. 
Fonte: http://nutrir-se-by-nutri.blogspot.com.br/2012/08/acido-urico-
gota.html
O ácido úrico é uma substância derivada do 
metabolismo de proteínas (bases púricas). Quanto mais 
purina é ingerida, maior quantidade de ácido úrico 
é produzida. Alguns alimentos ricos em purinas são: 
carnes (bacon, porco, coração, rim); peixes e frutos do 
mar (salmão,sardinha, bacalhau, camarão); aves (peru 
e ganso); bebidas alcoólicas e leguminosas (feijão, grão-
de-bico, ervilha, lentilha). Entre os alimentos com pouca 
purina, citamos o leite, o chá, o chocolate, cereais, arroz, 
batata, vegetais, doces e frutas.
Além da alimentação, outros fatores que contribuem 
para o surgimento da doença são a obesidade, o uso de 
medicamentos diuréticos e longos períodos em jejum
O tratamento da gota está relacionado ao quadro 
clínico do paciente, devendo-se considerar, inicialmente, o 
número de crises que tenham apresentado. Normalmente, 
relaciona-se duas crises típicas ou realiza-se a análise 
bioquímica de sangue (concentração sérica de ácido úrico) 
e a presença de tofos. 
Para o tratamento de situações de crise e até mesmo 
para a prevenção de incapacidade relacionada à patologia, 
pode ser utilizada a colchicina, que possui grande eficiência 
na fase aguda. Para a prevenção de novas crises, são 
recomendados os anti-inflamatórios, inibidores da síntesede ácido úrico e os medicamentos que aumentam sua 
excreção renal. 
Além da terapia medicamentosa, é muito importante 
que haja controle da alimentação; portanto, o paciente 
deverá receber uma dieta com restrição de alimentos 
ou bebidas que apresentem relação clara com as crises. 
Nesse sentido, destaca-se a redução da ingestão de 
alimentos ricos em purinas (carne vermelha, alguns tipos 
de feijões), diminuição de bebidas que podem influenciar 
o pH sanguíneo (uma vez que este pode interferir com 
o pH urinário, dificultando a eliminação do ácido úrico), 
aumento da ingestão diária de líquidos e, em alguns casos, 
retirada cirúrgica dos tofos. 
O tratamento de crises renais deverá ser indicado para 
os pacientes, e o repouso na fase aguda e a redução 
do estresse físico e emocional são ações de fundamental 
importância para todos os pacientes que estejam passando 
por situação de crise, pois quanto mais se movimentarem, 
maior será a agressão (abrasão dos cristais às articulações).
Conforme discorrido anteriormente sobre alguns dos 
principais tipos de reumatismos encontrados no Brasil, é 
possível notar que o processo inflamatório e a dor são os 
principais sinais e sintomas apresentados pelos pacientes 
portadores dessas patologias. Em função desse fato, além 
da tentativa de prevenção que se dá principalmente com 
mudanças de hábito da vida cotidiana do paciente, são 
utilizados inúmeros medicamentos, os quais podem ser 
empregados para a profilaxia e para o alívio dos sintomas 
em situação de crise aguda ou crônica. A seguir, será 
apresentado um breve relato sobre as principais classes 
farmacológicas utilizadas para essas disfunções.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
21
7 FÁRMACOS UTILIZADOS NO 
MANEJO DA DOR E DOS PROCESSOS 
INFLAMATÓRIOS
Diversas classes de fármacos são utilizadas para 
o manejo da dor e, consequentemente, do processo 
inflamatório. Esses fármacos incluem, principalmente, 
agonistas dos receptores de opioides (analgésicos 
narcóticos), analgésicos não narcóticos ou anti-
inflamatórios (não esteroidais (AINEs) e/ou esteroidais 
(AEs)), anestésicos e antidepressivos.
7.1 Analgésicos narcóticos
Os analgésicos narcóticos, também denominados 
opiáceos, opioides ou agonistas de receptores opioides, 
constituem a principal classe de fármacos utilizada no 
manejo da dor moderada a intensa.
7.2 Morfina
A morfina é o principal alcaloide derivado da planta 
ópio (Papaver somniferum). Foi isolada pela primeira 
vez em 1833, por Pierre-Jean Robiquet, a partir de 
sementes verdes da papoula do ópio. Outros alcaloides 
são extraídos dessa planta e podem ser divididos em duas 
classes: fenantrenos e benzilisoquinolinas. Os principais 
representantes da primeira classe são a morfina (com 
concentração de 10%), codeína e tebaína, ao passo que a 
segunda classe é composta principalmente por papaverina 
e a noscapina.
Estrutura química da morfina. 
A morfina tem sido a mais importante droga para o 
alívio de dor ao longo de muitas décadas, aliviando tanto 
sua percepção quanto a resposta emocional a ela. Trata-
se de um agonista integral de receptores opioides, que 
age sobre receptores específicos das células nervosas, 
alterando a afinidade da membrana celular pelos íons de 
sódio e reduzindo a liberação de neurotransmissores pelos 
neurônios afetados, que, consequentemente, diminuem 
a transmissão do impulso doloroso ao nível da medula 
espinal e aumentam na região do SNC. A morfina também 
provoca vasodilatação, aumentando a capacitância venosa 
periférica e diminuindo o retorno venoso.
Essa substância possui uma potente ação analgésica e 
ansiolítica. Dentre os efeitos adversos apresentados pelos 
usuários de morfina, estão a euforia, disforia e alucinações, 
além de depressão respiratória e supressão do reflexo da 
tosse. Efeitos cardiovasculares raramente são observados; 
todavia, quando relatados, envolvem bradicardia e 
hipotensão. É comum o relato de náuseas e vômitos, 
assim como rash cutâneo, prurido e broncoespasmo. O uso 
frequente ou crônico da morfina pode causar tolerância à 
droga e dependência.
O mecanismo de ação da morfina é muito parecido 
com o dos demais opiáceos. De uma forma geral, é bem 
absorvida – independente da via de administração – e 
metabolizada no fígado, onde sofre efeito de primeira 
passagem e ocorre a formação dos metabólitos: morfina-3-
glucuronídeo (M3G, 70%), morfina-6-glucuronídeo (M6G, 
10%) e sulfatos conjugados. Os opioides são convertidos 
em metabólitos polares e eliminados pelos rins.
7.3 Codeína
A codeína, também denominada metilmorfina, é um 
opioide natural derivado do ópio, empregado no alívio 
de dor moderada, com mecanismo de ação semelhante 
à morfina, e 10% do seu potencial de ação desta. Devido 
a essa característica, há anos é utilizada como tratamento 
supressor de resfriados e diarreia.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
22
Estrutura química da codeína. 
A biodisponibilidade oral da codeína é de 50% e 
aproximadamente 10% é metabolizada em morfina por 
desmetilação, sendo o restante convertido em compostos 
conjugados inativos. Essa metabolização da codeína em 
morfina é realizada por uma isoforma do citocromo P450, 
que possui polimorfismo. Por isso, aproximadamente 10% 
da população não metaboliza adequadamente a codeína, o 
que resulta em um tratamento ineficaz da dor.
A codeína é absorvida rapidamente e metabolizada no 
fígado. O tempo de meia-vida varia de 2 a 4 horas, sendo 
eliminada pelas vias renais. Ao contrário da morfina, causa 
pouca ou nenhuma euforia e raramente produz vício, razão 
pela qual pode ser obtida sem prescrição. 
A codeína é uma droga amplamente empregada como 
antitussígena, devido à sua capacidade de promover a 
depressão do sistema nervoso central. Além disso, tal 
droga também apresenta ação nos receptores opioides 
nos neurônios do intestino, que promovem a redução 
da motilidade intestinal sendo, portanto, empregada no 
tratamento de diarreias.
Os efeitos colaterais mais comuns do uso da codeína 
são enjoos, náuseas, sedação e vômitos. Essa substância 
pode causar ainda letargia, sonolência, diminuição do 
rendimento físico e mental, temor, ansiedade, disforia, 
alteração de caráter e dependência física (em menor 
proporção do que a morfina). Seu uso crônico pode 
promover constipação e depressão respiratória dose-
dependente.
Em conformidade com Dia Júnior et al. (2006), a 
codeína é uma droga indutora de abuso. A dependência 
física e psíquica e a tolerância desenvolvem-se com 
doses repetidas. A dependência psíquica, que requer 
a administração contínua para prevenir a aparição da 
síndrome de abstinência, tem significado clínico somente 
após diversas semanas de doses orais continuadas. A 
tolerância, por sua vez, manifesta-se por uma duração 
de ação encurtada e pela diminuição da efetividade 
analgésica. 
A intoxicação por codeína caracteriza-se por promover 
a sedação, alteração de humor e miose. O tratamento 
inicial consiste no restabelecimento da função respiratória 
e cardiovascular e na observação da existência de 
hemorragia. Já o tratamento medicamentoso pode ser 
realizado com o uso de drogas antagonistas de receptores 
opioides, como a naloxona, muito utilizada para reverter 
quadros convulsivos gerados por superdosagem de 
codeína (ASSOCIAÇÃO..., 2012).
7.4 Analgésicos não opioides (não 
narcóticos)
Os analgésicos não opioides possuem propriedades 
analgésicas, antitérmicas e anti-inflamatórias, e podem ser 
classificados como anti-inflamatórios não esteroides (ácidos 
mefenâmico e etofenâmico, diclofenaco, ibuprofeno, etc.), 
drogas derivadas do ácido salicílico (aspirina), do para-
aminofenol (paracetamol) e da pirazolona (dipirona) 
ou em anti-inflamatórios esteroidais (hidrocortisona, 
dexametasona, betametasona, triancinolona, entre 
outras).Tais drogas são indicadas para o tratamento de dores 
leves ou moderadas, e seu mecanismo de ação está 
relacionado à inibição da atividade das cicloxigenases 
(COX-1 e COX-2), o que, por conseguinte, diminui 
acentuadamente a formação dos derivados do metabolismo 
do ácido araquidônico, além de inibir a formação de 
mediadores com IL, LT, lipoxinas e fatores de adesão 
leucocitário – ação promovida pelos corticoides. 
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
23
O efeito resultante dessas alterações é reconhecido pela 
redução da vasodilatação, diminuição da permeabilidade 
e infiltração leucocitária, além de aumento do limiar 
doloroso.
7.5 Anti-inflamatórios não esteroides
A finalidade dos anti-inflamatórios é conter ou reverter 
a inflamação local ou sistêmica, tendo segurança, rapidez 
de ação e potência analgésica. A ação dessas drogas foi 
descoberta em 1970, quando foi desvendado o mecanismo 
de ação da aspirina, da qual todas essas medicações são 
derivadas.
Tais drogas são denominadas anti-
inflamatórios não esteroidais (AINEs) a fim de 
diferenciar-se dos corticoides, que também 
possuem ação anti-inflamatória, porém, com 
distintos mecanismos de ação e toxicidade. Além 
disso, os AINEs não possuem nenhuma relação 
estrutural com os corticoides.
Os AINEs constituem um grupo terapêutico de grande 
interesse e integram a lista de fármacos mais comumente 
prescritos em todo o mundo devido às suas propriedades 
analgésicas, antipiréticas e anti-inflamatórias. Apesar de 
sua toxidade e efeitos adversos, cerca de 30 milhões de 
pessoas fazem uso dessas drogas diariamente. 
Sua ação anti-inflamatória é decorrente da inibição da 
síntese de prostaglandinas, gerada a partir da inativação 
das cicloxigenases constitutiva (COX-1) e induzível (COX-
2). 
Os anti-inflamatórios podem promover seu efeito 
central e periférico, pois na periferia inibem a COX (enzima 
responsável pela degradação de ácido araquidônico) dos 
tecidos, diminuindo a liberação de mediadores químicos 
responsáveis pela ativação das terminações nociceptoras.
Assim, os AINEs bloqueiam a conversão do AA em seus 
metabólitos (PG e leucotrienos) envolvidos na ativação 
da resposta inflamatória e na sensibilidade das vias de 
transmissão da dor.
O quadro a seguir mostra a classificação dos AINEs e 
de seus principais representantes, baseado nas estruturas 
químicas de fármacos convencionais de uso corrente.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
24
Quadro 3. Classificação dos anti-inflamatórios não esteroidais.
Derivados do ácido salicílico
ácido acetilsalicílico (Aspirina®, AAS®)
Derivados do ácido antranílico (fenamatos)
Ácido mefenâmico (Ponstan®), meclofenamato (Meclomen®), clonixinato de lisina (Dolamin®)
Derivados do ácido enólico (oxicam)
piroxicam (Feldene®), tenoxicam (Tilatil®), meloxicam (Meloxil®)
Derivados pirazolônicos
fenilbutazona (Butazolidina®, Butazona®), oxifenilbutazona, dipirona (Dipirona®, Anador®)
Derivados do ácido indolacético
indometacina (Agilisin®, Indocid®), benzidamina (Flogoral®, Benflogin®)
Derivados do ácido fenilacético
Diclofenaco (Biofenac®, Cataflan®, Voltaren®), fenclofenaco, aceclofenaco (Proflam®)
Derivados do ácido propiônico
ibuprofeno (Advil®, Alivium®), cetoprofeno (profenid®), fenoprofeno, flurbiprofeno 
(Targus®), naproxeno (Flanax®), oxaprozina, ácido tiaprofênico
Derivados do aminofenol, para-aminofenol e anilina
acetofenetidina, paracetamol (Tylenol®)
Derivados da sulfonanilida
nimesulida (Scaflam®, Nimesulida®, Nimesulide®)
Derivados das quinolonas
celecoxib (Celebra®), Rofecoxib (Vioxx®)
Derivados das naftilcanonas
nabumetona (Relifex®), proquazona
Derivados do ácido pirrolacético
tolmetino (Tolectin®), cetorolaco (Toragesic®), etodolaco
Derivados do ácido carbâmico
flupirtina (Katadolon®)
Outros coxibs
etoricoxib (Arcoxia®), valdecoxib (Bextra®)
Fonte: adaptado de Rang et al. (2006).
Uma nova classificação para os AINEs tem sido proposta levando em consideração o poten-
cial de ação das drogas. A potência da droga está relacionada com a concentração necessária para 
inibir em 50% a atividade das cicloxigenases (IC50). Ou seja, para o cálculo da seletividade de uma 
droga inibidora de COX-2, utiliza-se a razão entre o IC50 de COX-2 sobre a IC50 da COX-1. Nesse 
caso, valores menores que um indicam alta seletividade para COX-2, significando que a dose do 
medicamento a ser utilizada será menor para bloquear COX-2 do que para COX-1, ao passo que 
quando a razão for maior que um, este será seletivo para COX-1.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
25
Quadro 4. Classificação atual dos anti-inflamatórios não esteroidais de acordo com a seletividade.
Inibidores não seletivos para COX-1
AAS (em altas doses), Piroxicam, Indometacina, Diclofenaco, Ibuprofeno, Nabumetona
Inibidores com maior afinidade pela COX-2
Meloxicam, Etodolaco, Nimesulida, Salicilato
Inibidores altamente seletivos da COX-2
Celecoxib, Lumiracoxib (ambos de uso controlado no Brasil)
Fonte: adaptado de Rang et al. (2006).
7.6 Derivados do ácido salicílico
Com mais de cem anos de uso clínico, a aspirina 
continua sendo uma das drogas mais utilizadas do mundo, 
e tem sido empregada como analgésico para o tratamento 
de cefaleias, mialgias e artralgias, entre outras dores 
consideradas leves ou moderadas. 
Estrutura química da aspirina.
Após a administração oral, 50% do ácido acetilsalicílico 
é deacetilado em salicilato e imediatamente absorvido. A 
meia-vida da aspirina é de cerca de 15 minutos, enquanto 
a do salicilato está entre 2 e 30 horas, dependendo da 
concentração utilizada. O ácido acetilsalicílico e o ácido 
salicílico ligam-se amplamente às proteínas plasmáticas, e 
são rapidamente distribuídos por todo o organismo.
A aspirina e os salicilatos promovem seus efeitos 
farmacológicos pela inibição da síntese de prostaglandinas 
e de tromboxanos a partir da acetilação irreversível de 
COX-1 e COX-2, necessárias para a síntese dos metabólitos 
do ácido araquidônico.
O emprego da aspirina e dos salicilatos se dá no 
tratamento de cefaleia, mialgias, artralgias e dismenorreia. 
Em doses mais elevadas, é um analgésico eficaz no 
manejo da dor na artrite reumatoide. Possui, ainda, ação 
antipirética a partir da modulação da temperatura corporal 
pela interleucina-1, diminuindo os sintomas da febre. 
Além do mais, pode ser utilizada como antiagregante 
plaquetário, inibindo a síntese de tromboxanos.
Os efeitos adversos decorrentes da utilização 
terapêutica da aspirina ocorrem mesmo em dosagens 
mais baixas, principalmente em pacientes com mais de 60 
anos de idade. Dentre eles, o mais relatado são problemas 
envolvendo o trato gastrointestinal, como intolerância 
gástrica, náuseas vômitos, dor abdominal, flatulência, 
diarreia e, mais raramente, úlcera gástrica e duodenal.
O ácido acetilsalicílico pode provocar uma série de 
efeitos indesejáveis em pacientes hipersensíveis, como 
rinite vasomotora, broncoespasmo, hipotensão e choque. 
Tem sido relatada a associação à síndrome de Reye em 
crianças com doenças virais, mesmo em dosagens baixas.
Deve ser evitado o uso concomitante de aspirina 
com paracetamol, (devido ao possível efeito sinérgico); 
alcalinizantes e acidificantes urinários (como vitamina 
C, fosfato de sódio ou potássio, bicarbonato de sódio e 
antiácidos), uma vez que a aspirina e salicilatos podem 
acelerar a excreção destes; álcool, drogas anticoagulantes 
ou anti-inflamatórios não esteroidais, em virtude do risco 
de irritação e hemorragia gastrointestinal. 
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
26
Também se deve evitar drogas anti-convulsionantes 
(aumentos da concentração plasmática da fenitoína, da 
eficácia, e/ou da toxicidade), hipoglicemiantes (aumento 
do efeito hiperglicêmico), antieméticas e corticoides 
(ototoxicidade),inibidores da enzima conversora de 
angiotensina (diminuição da filtração glomerular e 
efeito anti-hipertensivo), laxativas (redução de efeito), 
furosemida (toxicidade aumentada), zidovudina (toxicidade 
aumentada), metotrexato (toxicidade aumentada), 
vancomicina (toxicidade aumentada), probenecida ou 
sulfinpirazona (efeito reduzido), niacina (rash cutâneo) e 
vitamina K (não absorção da vitamina).
Alguns estudos têm relacionado o uso da aspirina 
com a prevenção de diversos tipos de cânceres, em 
especial, ao câncer de mama. Tal ação se deve pelo fato 
de que a síntese final de estrogênios é dependente de 
uma enzima produzida pelo citocromo P450 que, por 
sua vez, é estimulado pela PGE2. Como a inibição da via 
do ácido araquidônico pela aspirina inibe a formação de 
PG e, consequentemente, não ocorre a síntese de PG2, 
a produção de estrogênios (que está relacionada com o 
desenvolvimento do câncer de mama) é inibida.
7.7 Derivados do ácido antranílico 
(fenamatos)
Os fenamatos são utilizados para o tratamento de 
dores leves e moderadas, como dismenorreia, osteoartrite 
e artrite reumatoide. Estudos revelam que essas drogas 
apresentam um breve período de ação e produzem graves 
efeitos colaterais. 
Estrutura química do ácido antranílico. 
As concentrações plasmáticas máximas do ácido 
mefenâmico, ácido meclofenâmico (e o seu sal de sódio) e 
do ácido tolfenâmico são atingidas em menos de 2 horas 
após a administração oral, enquanto o ácido flufenâmico 
parece ser absorvido mais lentamente.
A excreção dessas drogas se dá por via urinária e varia 
em cerca de 52% de uma dose de ácido mefenâmico, 51% 
para o ácido flufenâmico e 70% de ácido meclofenâmico. 
Os valores correspondentes para a excreção fecal são 20%, 
36% e 20 a 30%, respectivamente. A semivida do ácido 
mefenâmico é de 3 a 4 horas, do ácido meclofenâmico 
cerca de 3 horas e do ácido tolfenâmico cerca de 2,5 
horas. Já o ácido flufenâmico tem uma meia-vida de pouco 
mais de 9 horas.
A interação com a varfarina resulta em aumento da 
atividade anticoagulante quando administrada com ácido 
meclofenâmico e com ácido mefenâmico. Tal como acontece 
com outros AINEs, os derivados de ácido antranílico são 
contraindicados em pacientes que recebem anticoagulação 
oral, devido ao risco de hemorragia gastrointestinal. Seu 
uso concomitante à aspirina diminui o efeito de ambas as 
drogas.
Pacientes sensíveis aos salicilatos também podem 
apresentar reações adversas ao ibuprofeno e fármacos 
relacionados. Tem sido relatado a ocorrência de 
hipersensibilidade de pacientes com lúpus ao ibuprofeno. 
A superdosagem pode resultar em crises convulsivas.
7.8 Derivados do ácido enólico (oxicam)
Com propriedades analgésicas, antipiréticas e anti-
inflamatórias, os derivados de oxicam possuem meia-vida 
prolongada, o que facilita a adesão farmacoterapêutica 
pelo paciente, uma vez que somente uma dose diária é 
administrada. Seus efeitos colaterais são semelhantes 
aos de outros AINEs (irritação gástrica e cefaleia) e seu 
principal representante é o piroxicam.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
27
Estrutura química do piroxicam. 
7.9 Derivados pirazolônicos (dipirona)
Dipirona ou metamizol é um anti-inflamatório não 
esteroidal derivado da pirazolona, com atividade analgésica 
e antipirética. Seu mecanismo de ação ocorre pela inibição 
das enzimas COX que estão relacionadas à síntese dos 
precursores das PGs, mas o modo de ação ainda não foi 
completamente elucidado. 
Isso porque estudos demonstram que os metabólitos 
farmacologicamente ativos do metamizol não foram 
capazes de inibir a atividade da COX in vitro, como os 
inibidores da COX clássicos, mas redirecionaram a síntese 
de prostaglandinas, descartando a inibição da COX pela 
ligação ao seu sítio ativo. Existe, ainda, a suposição de 
que o metamizol pode ser um inibidor da isoenzima COX-
3, capaz de reduzir a síntese de prostaglandina no corno 
dorsal da medula espinhal.
Estrutura química da dipirona (metamizol). 
O mecanismo neuroquímico relacionado com o efeito 
antipirético do metamizol não é totalmente compreendido, 
mas há evidências de que ele atua no centro da regulação 
hipotalâmica para reduzir a febre ou a síntese de PGs no 
sistema nervoso central. Quanto à ação antinociceptiva, 
o efeito antipirético do metamizol ocorre por mecanismos 
ainda não identificados. A hipotermia severa pode 
ser desencadeada pela dipirona se administrada 
concomitantemente à cloropromazina.
O metamizol apresenta uma atividade anti-inflamatória 
fraca. A literatura relata que esse é mais potente como 
analgésico do que como um agente anti-inflamatório, 
indicando a redução de hiperalgesia e edema por 
mecanismo que não implica a liberação de substâncias do 
tipo PG. 
A atividade anti-inflamatória da dipirona é mais fraca, 
possivelmente porque tem uma baixa afinidade para COX 
em ambientes ricos em peróxido de hidrogênio, tais como 
tecidos inflamados.
A dipirona promove um efeito anticoagulante 
dependente da dose sobre a agregação plaquetária, por 
meio da inibição da síntese de TXA2 em plaquetas. 
Tem sido associado à dipirona o acometimento de 
agranulocitose (contagem de granulócitos no sangue 
abaixo de 1500/mm3) em alguns pacientes; porém, há 
controvérsias devido à baixa incidência na população (0,2 
a 2 casos por milhão de pessoas/dia de uso). Todavia, o 
uso da dipirona em alguns países da Europa e nos Estados 
Unidos da América foi banido por volta dos anos 1970.
Estudos relatam ainda náuseas, vômito, dor abdominal, 
deficiência/insuficiência aguda dos rins, nefrite instersticial 
aguda em pacientes com histórico de doença renal, 
hipotensão arterial, sintomas do SNC (vertigem, sonolência, 
coma, convulsões) e do sistema cardiovascular (queda 
da pressão arterial, choque, arritmia cardíaca), além de 
reações em pele e mucosa, incluindo síndrome de Steven-
Johnson e síndrome de Lyell.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
28
7.10 Derivados do ácido indolacético
A indometacina é o principal representante da classe 
dos indóis. É indicada para o tratamento de artrite 
reumatoide, osteoartrite, alterações musculoesqueléticas 
(bursite, tendinite, sinovite) e dismenorreicas. Possui 
meia-vida prolongada, sendo metabolizada no fígado, e 
excretando-se 60% da dose pela urina. Além disso, essa 
substância está presente também no leite materno.
Estrutura química da indometacina. 
Deve ser administrada após a alimentação, a fim de 
evitar irritação gástrica. Doses maiores do que 200 mg/
dia aumentam o risco de efeitos adversos. Devido a 
esses efeitos colaterais, como cefaleia, náuseas, vômito, 
efeitos hematológicos e vasoconstrição coronariana, essa 
substância não é útil para o manejo inicial da dor.
O ácido acetilsalicílico pode diminuir os níveis 
plasmáticos de indometacina, enquanto a probenecida 
os eleva, sendo necessária a diminuição da dose no 
tratamento concomitante. A indometacina pode diminuir 
a ação anti-hipertensiva de betabloqueadores, diuréticos 
tiazídicos, da furosemida e do captopril, além de aumentar 
a ação dos hipoglicemiantes orais.
7.11 Derivados do ácido fenilacético
O diclofenaco, um sal derivado da estrutura do 
ácido 2-aminofenilacético, é um inibidor não seletivo 
da cicloxigenase, que consequentemente diminui a 
biodisponibilidade do ácido araquidônico. É comercializado 
associado ao sódio (diclofenaco de sódio) ou ao potássio 
(diclofenaco potássico).
Estrutura química do diclofenaco de sódio.
Estrutura química do diclofenaco potássico.
O pico de concentração médio dessas substâncias 
ocorre nos primeiros 90 minutos após a ingestão de um 
comprimido de 50 mg, em que metade do diclofenaco é 
metabolizado durante sua passagem pelo fígado (efeito de 
primeira passagem). Alimentos não apresentam interação 
relevante na absorção e na disponibilidadesistêmica da 
droga. 
Sua biotransformação ocorre principalmente por 
hidroxilação e metoxilação simples e múltipla, resultando 
em vários metabólitos fenólicos, cuja maioria é convertida 
a conjugados glicurônicos.
Seus efeitos adversos acometem cerca de 20% dos 
pacientes, dada sua toxicidade sobre vários sistemas. 
Podem ocorrer distúrbios gastrointestinais, que podem 
ir do desconforto abdominal a úlceras, chegando ao 
sangramento, perfuração ou ao óbito, elevação dos níveis 
séricos de aminotransferases, que, por sua vez, elevam os 
índices de toxicidade, decorrentes da inibição da COX-1.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
29
Estima-se que 10 a 60% dos pacientes apresentam 
dispepsia, e que 5 a 10% interrompem o tratamento 
devido aos sintomas (dor abdominal, náusea e vômitos) 
ou, ainda, utilizam outros fármacos para alívio de tais 
sintomas, como os antagonistas de receptores H2 e 
os inibidores da bomba de prótons da célula parietal, 
que reduzem a secreção gástrica de ácidos, tais como 
omeprazol, ranitidina, cimetidina e lansoprazol. 
Os AINEs podem induzir ou agravar a hipertensão arterial 
ou provocar insuficiência renal, síndrome nefrótica, necrose 
papilar e outras formas de doença renal. São conhecidos 
os efeitos hematológicos, que incluem granulocitose, 
neutropenia, anemia hemolítica ou aplástica. Eles podem 
causar cefaleia, confusão, parestesia ou hepatotoxicidade. 
Os riscos são ainda maiores para pacientes acima do 60 
anos, pois esses são mais suscetíveis a complicações 
severas, uma vez que acompanham linearmente a idade.
7.12 Derivados do ácido propiônico
As drogas derivadas do ácido arilpropiônico possuem 
mecanismo de ação por meio da inibição das COX, com 
ação semelhante à da aspirina, devido aos seus efeitos 
analgésicos, antipiréticos e anti-inflamatórios, com a 
vantagem de não produzirem irritação gástrica.
Estrutura química do ácido arilpropiônico. 
Os derivados do ácido arilpropiônico são, geralmente, 
quase totalmente absorvidos pelo intestino delgado 
superior após a administração oral, e possuem alta 
biodisponibilidade. Trata-se de ácidos orgânicos fracos, 
com um pKa de cerca de 4 a 5.
No estômago, onde o pH é inferior a esse valor, as 
drogas são capazes de se difundir facilmente através das 
membranas biológicas, pois não ocorre ionização das 
moléculas. O resultado da elevação da concentração local 
contribui para o efeito colateral mais comum dos AINEs, 
a saber, o desconforto gastrointestinal. Essas drogas 
sofrem biotransformação hepática e apenas uma pequena 
percentagem da dose é excretada inalterada. 
Dentre seus derivados, somente o carprofen, o 
cetoprofeno e o ácido tiaprofênico sofrem circulação 
enterro-hepática, de forma que 30 a 40% da dose é 
excretada na bílis. 
A maior parte dos derivados de ácido arilpropiônico e 
os seus metabólitos são excretados quase inteiramente na 
urina, apesar de cerca de 20 a 40% de uma dose de ácido 
tiaprofênico carprofeno ser excretado nas fezes.
Poucas interações medicamentosas clinicamente 
significativas estão associadas com a administração 
concomitante de derivados do ácido arilpropiônico e 
outras drogas. A administração conjunta de naproxeno 
e hipoglicemiante pode resultar em aumento do efeito 
hipoglicemiante. Assim como os demais AINEs, estas 
substâncias são contraindicadas a pacientes que tomam 
anticoagulantes orais, pois há risco de hemorragia 
gastrointestinal.
7.13 Derivados do aminofenol, para-
aminofenol e anilina (paracetamol)
Assim como a aspirina, o paracetamol (acetaminofeno) 
é uma das drogas analgésicas e antipiréticas mais 
utilizadas. 
É indicado para aliviar dor ligeira a moderada e como 
antipirético. Entretanto, essa droga proporciona apenas 
alívio sintomático, sendo preciso terapia adicional para 
tratar a causa da dor ou febre, quando necessário, com 
a vantagem não apresentar efeito sobre a agregação 
plaquetária.
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
30
Estrutura química do paracetamol (acetaminofeno).
O mecanismo de ação dessa droga se dá pela inibição 
de COX periférica, e seus efeitos analgésicos ocorrem pela 
inibição da síntese de prostanoides no sistema nervoso 
central. Os efeitos antipiréticos são semelhantes ao da 
aspirina, reduzindo alterações na temperatura corporal por 
pirógenos ao inibir a síntese de PG.
Seu uso é indicado quando a terapia com aspirina é 
desaconselhável, como em pacientes que fazem uso 
de anticoagulantes ou agentes úricos, pacientes com 
hemofilia ou outros problemas de sangramento, e aqueles 
com doença gastrointestinal superior ou intolerância ou 
hipersensibilidade à aspirina.
O paracetamol é uma droga relativamente não tóxica 
quando utilizada em doses terapêuticas. Todavia, o 
uso combinado com outros medicamentos (como anti-
histamínicos, descongestionantes nasais e agonistas 
opiáceos) deve ser evitado ou realizado somente sob 
orientação médica.
Em muitos países, como Reino Unido, Índia, Dinamarca 
e Estados Unidos, o paracetamol é o agente farmacológico 
que mais causa intoxicações por superdosagem. Apesar de 
não apresentar os efeitos gastrointestinais que a aspirina 
provoca, é capaz de promover danos hepáticos e falência 
renal.
Trata-se de uma droga rapidamente absorvida pelo 
intestino, pois o pico de concentração sérica ocorre em 
1 a 2 horas após sua administração. Vinte por cento da 
droga ingerida é metabolizada no intestino e o restante 
sofre biotransformação hepática. A hepatotoxicidade pode 
ser resultante de ingestão excessiva única ou múltiplas. 
Indivíduos que fazem uso do álcool também apresentam 
hepatotoxicidade aumentada.
Algumas formulações disponíveis comercialmente de 
acetaminofeno contêm sulfitos que podem causar reações 
alérgicas, incluindo anafilaxia e episódios asmáticos 
menos graves ou com risco de vida, em indivíduos mais 
sensíveis. A prevalência global da sensibilidade ao sulfito 
é desconhecida, mas parece ocorrer mais frequentemente 
em indivíduos asmáticos do que em não asmáticos.
Erupções cutâneas (eritematosa ou urticária) e outras 
reações alérgicas podem ocorrer ocasionalmente. 
A administração concomitante de acetaminofeno com 
anticoagulantes orais (especialmente quando administrados 
em doses elevadas ou por períodos prolongados) pode 
potenciar os efeitos do anticoagulante oral, apesar de não 
exercer efeito direto sobre a agregação plaquetária. 
Com anticonvulsivantes (incluindo fenitoína, barbitúricos 
e carbamazepina), pode aumentar a toxicidade hepática 
induzida por acetaminofeno, devido ao aumento da 
conversão do fármaco para metabólitos hepatotóxicos.
7.14 Derivados da sulfonanilida
A principal droga anti-inflamatória derivada da 
sulfonanilida é a nimesulida, um fármaco anti-inflamatório 
não esteroide pertencente à classe das sulfonanilidas, 
com propriedades antipiréticas, anti-inflamatórias e 
analgésicas.
Estrutura química da nimesulida. 
Sua principal característica é a boa tolerabilidade 
gástrica, sendo utilizada no tratamento em curto prazo de 
doenças inflamatórias. Apresenta pKa em torno de 6,5 e 
pode se comportar como ácido ou base fraca em função 
Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos
31
do solvente, sendo praticamente insolúvel em água, o que 
confere a esse fármaco alta permeabilidade. 
É absorvida pelo trato gastrointestinal após 2 a 3 horas 
de sua administração, e sua concentração plasmática 
máxima é de 3 a 4 μg/mL para dose única de 100 mg. O 
tempo de meia-vida dessa droga varia de 2 a 5 horas.
A nimesulida é quase completamente metabolizada e 
50% da droga é eliminada pela urina. Apenas 1 a 3% da 
dose é eliminada na forma inalterada e cerca de 29% da 
dose é eliminada nas fezes.
É considerada um medicamento seguro, uma vez 
que não há relatos na literatura de riscos para humanos; 
entretanto,

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