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Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 1 Paciente Pediátrico Profª Fabiana Albanese Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos Prof. Msc. André Luiz de Moura Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 2 Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 3 1 Introdução 4 1.1 Via de metabolismo do ácido araquidônico 7 1.2 Ação dos mediadores químicos derivados do metabolismo do ácido araquidônico 9 1.2.1 Prostanoides 9 2 Dor 10 3 Distúrbios reumáticos 12 3.1 Controle de distúrbios reumáticos 15 3.1.1 Artrite e osteoartrose 15 3.1.2 Osteoporose 15 3.1.3 Fibromialgia 17 4 Febre reumática 18 5 Lúpus eritematoso sistêmico 18 6 Gota 19 7 Fármacos utilizados no manejo da dor e dos processos inflamatórios 20 7.1 Analgésicos narcóticos 21 7.2 Morfina 21 7.3 Codeína 21 7.4 Analgésicos não opioides (não narcóticos) 22 7.5 Anti-inflamatórios não esteroides 23 7.6 Derivados do ácido salicílico 25 7.7 Derivados do ácido antranílico (fenamatos) 26 7.8 Derivados do ácido enólico (oxicam) 26 7.9 Derivados pirazolônicos (dipirona) 27 7.10 Derivados do ácido indolacético 28 7.11 Derivados do ácido fenilacético 28 7.12 Derivados do ácido propiônico 29 7.13 Derivados do aminofenol, para-aminofenol e anilina (paracetamol) 29 7.14 Derivados da sulfonanilida 30 7.15 Anti-inflamatórios seletivos para COX-2 31 7.16 Colchicina 32 7.17 Alopurinol 32 8 Referências 34 SUMÁRIO Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 4 1 INTRODUÇÃO O processo inflamatório (do latim inflammatio, possui a conotação de atear fogo) é uma resposta dos organismos vivos homeotérmicos a uma agressão sofrida. Normalmente a agressão causadora do processo inflamatório pode ser considerada um processo responsável por promover uma lesão celular ou tecidual e, em resposta, os tecidos ou células afetadas produzem e liberam inúmeros mediadores químicos, que atuam tanto no tecido lesado (provocando ações responsáveis pelo reparo do tecido danificado) como também no sistema imunológico. Neste caso, cabe ao sistema imunológico combater todos os agentes responsáveis pela agressão, os quais podem ser de natureza física (radiações, químicos, ácidos), microbiológicos ou traumáticos (KUMAR et al., 2005). Em virtude disso, outros autores descrevem o processo inflamatório como uma complexa rede de respostas à lesão tecidual e infecção, e que pode ser clinicamente caracterizada por cinco sinais clínicos, os quais são denominados de sinais cardinais, sendo eles: rubor (vermelhidão), calor, tumor (tumefação), dolor (dor) e functio laesa (perda da função) (GOLAN et al., 2009). Kumar et al. (2005) descrevem que o processo inflamatório é fundamentalmente um mecanismo de defesa, cujo objetivo final está relacionado à eliminação da causa inicial da lesão celular e das consequências dessa agressão. De acordo com os autores, caso não ocorresse o processo inflamatório, possivelmente as infecções se desenvolveriam descontroladamente, as feridas não cicatrizariam e o processo destrutivo nos órgãos atacados seria permanente. Entretanto, a inflamação pode ser potencialmente prejudicial quando as reações bioquímicas e fisiológicas geradas ocorrem de forma descontrolada e desorganizada, acarretando em dor, perda de função tecidual, significativo edema (que em algumas situações pode comprimir os vasos, impedindo o fluxo sanguíneo para o tecido, ação que pode contribuir com o processo de gangrena tecidual), entre outros. As manifestações clínicas do processo inflamatório – calor, rubor, tumor (ou edema) e dor – foram descritas por Cornelius Celsius no século I d.C., quando listou os sinais cardinais. Mais tarde, no século XIX, o médico alemão Rudolf Virchow adicionou um quinto sinal à lista: perda de função (Figura 1), (KUMAR et al., 2004; FANTONE et al., 1990; VANE, BOTTING, 1987; RYAN, MAJNO, 1977). Figura 1. Sinais cardinais do processo inflamatório: calor, rubor, tumor, dor e perda da função. Fonte: http://www.icb.ufmg.br/pat/old/imagem/marca/inflamac.gif Esses sinais são gerados devido a alterações morfológicas, funcionais e hemodinâmicas promovidas pela liberação de mediadores químicos responsáveis pela resposta inflamatória. Tal processo envolve uma série de eventos, que incluem extravasamento de fluidos, ativação enzimática, migração celular, liberação de mediadores, sensibilização e ativação de receptores e lise (rompimento da membrana celular) e reparo tecidual (CARVALHO, LEMÔNICA, 1998). Dessa forma, quando o tecido sofre agressão, ocorre dilatação arteriolar, aumento de permeabilidade vascular, acúmulo de leucócitos e dor (Figura 2). Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 5 Figura 2. Esquematização dos eventos relacionados ao processo inflamatório. Fonte: acervo pessoal. Independente do fator responsável pela ativação do processo inflamatório, este contribui para a estimulação do sistema nervoso (KRAYCHETE et al., 2006). Dentre os cinco sinais cardinais, a dor é a sintomatologia mais estudada devido à sua relevância clínica. O primeiro passo na sequência dos eventos que originam o fenômeno doloroso é a transformação dos estímulos agressivos em potenciais de ação, que são transmitidos da periferia para o sistema nervoso central por meio da propagação de impulso elétrico, mediada pelas fibras nervosas periféricas (ROCHA et al., 2007). Após uma lesão ou injúria em um tecido, distúrbios na membrana celular ativam receptores periféricos de forma a promover a liberação de mediadores químicos envolvidos com as alterações observadas ao longo do processo inflamatório. Os principais mediadores químicos incluem prostaglandinas, peptídeos complementares da cascata de coagulação e citocinas (por exemplo, as interleucinas – em particular, IL-2 e IL-6 e fator de necrose tumoral (TNF)), além de importantes eicosanoides (prostaglandinas (PGE2, PGD2 e PGF2), prostaciclina (PGI2), lipoxinas (lipoxina A e B)) e leucotrienos. Os mediadores orquestram e amplificam as respostas de células inflamatórias (Figura 3). Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 6 Figura 3. Representação da produção de mediadores químicos pró-inflamatórios por meio do estímulo agressivo e ativação da PLA2. Fonte: Adaptado de Rang et al. (2006). Conforme apresentado acima, o agente agressor é responsável por induzir ou liberar mediadores químicos como a serotonina, histamina, bradicinina e substância P, que estimulam a PLA2, inclusive diretamente. Tais componentes podem também induzir a ativação dos mastócitos, que degranulam os mesmos mediadores anteriores e também os leucotrienos (LT) e interleucinas (IL), além do fator de necrose tumoral (TNF) e óxido nítrico (NO). Esses mediadores estão relacionados com o surgimento dos cinco sinais cardinais presentes em um processo inflamatório. • Histamina: substância degradulada pelos mastócitos mediante resposta imunológica gerada pelo agressor. Seus efeitos incluem vasodilatação (essa resposta se dá pela ação da histamina sobre os receptores H1 nas células endoteliais, estimulando a produção de NO), prurido, ardor, sensação de “quente”, ação permeabilizadora dos vasos. • Serotonina: pouca ação vasodilatadora e baixo efeito sobre a permeabilidade vascular. • Bradicinina: é um mediador peptídico relacionado à atividade do sistema cinina- calicreína. Possui significativa ação vasodilatadora (ação relacionada à sua capacidade de estimular a produção de NO e PGI2), fraca ação sobre a permeabilidade vascular, sensibiliza as fibras nociceptoras (diminui o limiar doloroso) e estimula a PLA2. • NO: molécula radicalar produzida pelas células endoteliais, mastócitos e macrófagos. Possui elevada ação vasodilatadorae pode ser utilizado para a formação de peroxinitrito, um agente eficiente no combate a micro-organismos. Além disso, pode sensibilizar as fibras nociceptoras. • Eicosanoides: essas substâncias geralmente não se encontram prontas e estocadas nas células; na verdade, são imediatamente produzidas a partir do momento que a PLA2 é estimulada. São derivadas do metabolismo do ácido araquidônico, que é encontrado esterificado nos fosfolipídios de membrana. Os principais eicosanoides são: prostaglandinas (substâncias prostanoides), tromboxanos, leucotrienos e Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 7 lipoxinas. As funções dessas substâncias estão relacionadas na Figura 3. • Leucotrienos: submetabólitos derivados do ácido araquidônico por intermédio da ação das enzimas lipoxigenases. Essas enzimas são expressas em inúmeras células como mastócitos, plaquetas e tecido pulmonar. Os leucotrienos são considerados agonistas de receptores específicos (LTB4), que estão envolvidos com a ativação das células de defesa. A resposta gerada pela ativação desses receptores desencadeia aumento da concentração intracelular de inositol trifosfato (IP3) e diacilglicerol (DAG), com consequente elevação da atividade intracelular da proteína quinase dependente de cálcio (PKC). Além dessa resposta, os leucotrienos também induzem a suprarregulação das proteínas de adesão leucocitária nos vasos sanguíneos. Em muitos estudos foi descrito que o LTB4 encontra-se presente em exsudatos inflamatórios de muitos processos inflamatórios, que incluem artrite reumatoide, psoríase, colite ulcerativa, bronquite, rinite, entre outras. Lipoxinas: as lipoxinas A e B também são derivadas do metabolismo do ácido araquidônico. Possuem a principal função no processo de quimiotaxia, indicando o local da agressão e atraindo as células de defesa até o local. 1.1 Via de metabolismo do ácido araquidônico Ao longo de um processo inflamatório, ocorre a ativação da enzima PLA2, a qual degrada o fosfolipídio da membrana promovendo a liberação do ácido araquidônico (AA). Esse ácido graxo é utilizado em toda via metabólica inflamatória como um substrato para a síntese de inúmeros metabólitos pró-inflamatórios. Os metabólitos dessa via, denominados eicosanoides, são sintetizados por duas vias enzimáticas: a das enzimas lipoxigenases (LOX), que resulta na formação de leucotrienos e lipoxinas, e pela via das enzimas cicloxigenases (COX), que leva à formação de tromboxanos (TX), de prostaglandinas (PG) e seus subtipos, por meio da oxidação do AA. Figura 4. Cascata do ácido araquidônico. Após lesão ou injúria ao tecido, a enzima catalisadora fosfolipase A2 promove a síntese de ácido araquidônico a partir da liberação de fosfolipases presentes na membrana celular. Quando metabolizado, o ácido araquidônico gera prostaglandinas, prostaciclinas e tromboxanos pela ação da enzima ciclo-oxigenase (COX- 1 e COX-2) e leucotrienos, pela ação da enzima lipoxigenase. Fonte: acervo pessoal. Atualmente, são descritas três isoformas da enzima COXs, a saber: a COX-1, a COX-2 e a COX-3, que determinam no organismo diferentes funções fisiológicas. • COX-1: está presente em quase todos os tipos de células, com exceção dos eritrócitos, sendo denominada de constitutiva ou fisiológica; é responsável pela síntese de PGs. Nas plaquetas, a COX-1 está relacionada à síntese de tromboxano A2 (TX-A2), um mediador que favorece a agregação e a adesão plaquetária. • COX-2: até pouco tempo essa isoforma era denominada de COX patológica ou induzida, pois, de acordo com estudos da época, essa enzima seria expressa apenas em resposta a estímulos inflamatórios e mitogênicos, e por isso seria a principal responsável pela formação Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 8 das prostaglandinas associadas à resposta inflamatória. Porém, após os problemas detectados com o medicamento Vioxx®, ficou comprovado que a COX-2 é uma enzima de grande importância para funções fisiológicas, como manutenção do fluxo sanguíneo coronariano, renal, pulmonar, hepático, entre outros. Por essa razão, nos dias atuais essa enzima é denominada – assim como a COX-1 – de fisiológica. • COX-3: mais recentemente descrita, essa isoforma é a responsável pelo controle térmico do organismo em situações clínicas como infecções. É expressa na região hipotalâmica denominada de centro termo-regulador. Produtos derivados do metabolismo microbiológico, fragmentos de micro- organismos ou o próprio agente microbiológico são capazes de promover sua ativação. Quando estimulada, a COX-3 é responsável por promover elevação da temperatura corpórea (febre) em situações de infecção. Além dessas respostas, outra proposta para as ações dessa terceira isoforma seria que, ao contrário da COX-1 e COX-2, a COX- 3 não produz prostanoides pró-inflamatórios, mas substâncias anti-inflamatórias, o que explicaria os períodos de remissão característicos de algumas doenças inflamatórias crônicas. Na Figura 5 estão demonstradas as diferenças entre as isoformas COX-1 e COX-2. Conforme será demonstrado, a isoforma 1 possui um conduto de acesso ao AA mais estreito comparado ao conduto da isoforma 2. A diferença crucial entre as duas enzimas COX reside na posição 523: nesse ponto, a COX-1 apresenta um aminoácido isoleucina volumoso, enquanto a COX-2 possui uma valina. Tal alteração produz uma lacuna, dando acesso a uma bolsa lateral. Essa característica é utilizada no desenvolvimento de moléculas que sejam mais seletivas para cada uma das isoformas, portanto, ao se construir fármacos de tamanho molecular menor (como é o caso do AAS, ibuprofeno, acetominofeno, entre outros), ocorrerá o bloqueio não seletivo das isoformas, o que garante redução muito significativa da conversão de AA em endoperóxidos cíclicos. Por outro lado, ao se elaborar moléculas maiores – como é o caso da nimesulida, tenoxican, entre outros – poderá haver uma maior seletividade para a isoformas 2 de ciclo-oxigenase. Por último, nas moléculas como as referentes aos coxibs (celecoxib, rofecoxib, lumiracoxib), haverá seletividade para a isoformas 2, ou seja, a COX- 1 permanecerá desbloqueada e, por isso, manterá sua atividade normal. Todos os metabólitos gerados a partir do AA, em especial as PG do tipo E2 (PGE2), são capazes de promover diminuição do limiar de excitabilidade dos nociceptores (ROCHA et al., 2007). Além disso, as PG dilatam arteríolas, aumentando o fluxo sanguíneo para a área de lesão e agindo sinergicamente com outros mediadores, como a histamina e a bradicinina, que aumentam a permeabilidade vascular e estimulam nociceptores nos locais da inflamação, induzindo a dor e sensação de aquecimento (LEES, 2003). Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 9 Figura 5. Representação esquemática da comparação das isoformas ciclo-oxigenase 1 (COX-1) e ciclo-oxigenase 2 (COX- 2) em relação à ação de agentes anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) tradicionais (não seletivos para as isoformas de COX) e de AINEs seletivos para COX-2. A O ácido araquidônico penetra no canal da enzima COX, sendo inicialmente convertido em prostaglandina G2 (PGG2); em seguida, em prostaglandina H2 (PGH2). Estas últimas etapas não estão indicadas nesta figura e, finalmente, numa prostaglandina, cujo exemplo fornecido aqui é a prostaglandina E2. B O flurbiprofeno bloqueia ambos os canais de COX-1 e COX-2. C A base prevista da especificidade dos agentes COX-2- seletivos; um agente COX-s-seletivo é eficaz no bloqueio do canal COX-2, não exercendo efeito sobre COX-1. Fonte: Rang et al. (2006). 1.2 Ação dos mediadores químicos derivados do metabolismo do ácido araquidônico 1.2.1 Prostanoides Mediadores químicos obtidos a partir do metabolismo do AA, essas substânciasestão envolvidas com inúmeras desordens ocorridas ao longo da resposta orgânica ao processo inflamatório, e podem gerar ações diferenciadas. • PGE2: conforme já mencionado, esse mediador é denominado prostaglandina do tipo E2, e promove ativação dos receptores EP1, EP2 e EP3. O EP1 está relacionado com o aumento da contração do músculo liso que reveste os brônquios e TGI. O EP2, por sua vez, desencadeia a broncodilatação, vasodilatação, aumento da secreção de líquidos intestinais e o relaxamento do músculo liso intestinal. Já o EP3 provoca contração do músculo liso intestinal, inibição da secreção de HCl estomacal, aumento da secreção gástrica de muco, inibição da lipólise e da liberação de neurotransmissores pelo sistema nervoso autônomo, além de estimular a contração uterina. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 10 • PGD2: é um agente vasodilatador, inibe a agregação plaquetária, propicia o relaxamento uterino e do músculo gastrintestinal, modifica a liberação nos hormônios hipotalâmicos/ hipofisários. Seu efeito broncoconstritor decorre de uma ação sobre os receptores TP. • PGF2: causa contração do miométrio nos seres humanos, luteólise em algumas espécies (em bovinos, por exemplo) e broncoconstrição em outras espécies (gatos e cães). • PGI2: desencadeia vasodilatação, inibição da agregação plaquetária, liberação de renina e natriurese por meio de ações sobre a reabsorção tubular de íons de sódio. • Tromboxano A2: é responsável por promover agregação plaquetária, vasoconstrição e broncoconstrição. Neste caso, o efeito é descrito como mais pronunciado em cobaias do que em humanos. 2 DOR A maioria dos seres vivos vertebrados e constituídos por um sistema nervoso central já passou em algum momento de suas vidas por uma experiência desconfortável denominada dor, que surgiu em resposta a um estímulo intensamente nocivo ao organismo. Há várias formas de perceber a dor, podendo ser ela psíquica ou física. A primeira estaria relacionada a uma sensação emocional que é interpretada de forma dolorosa como, por exemplo, a dor de perder alguém muito próximo (Figura 6A), já esta última diz respeito à sensação dolorosa como uma agressão física, um corte, uma fratura, disfunção articular, entre outras, que podem potencialmente desencadear algum dano muito severo ao sistema orgânico (Figura 6B) Fonte: http://receptaculo.blogspot.com.br/2008_02_01_archive.html Fonte:http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG78140- 6009,00-HORROR+NO+VOO.html. Figura 6. A Figura 6A está representando uma situação emocional (dor psicológica ou emocional), ao passo que a 6B mostra uma situação referente a trauma físico (dor física). A luta para aliviar a dor começou com o início da humanidade. De acordo com a International Association for the Study of Pain (1994) (Associação Internacional para o Estudo da Dor), o termo “dor” pode ser definido como uma sensação ou experiência emocional desagradável, associada com dano tecidual real ou potencial, ou descrita nos termos de tal dano. Para outros autores (DIA JÚNIOR et al., 2004), “nocicepção” é uma terminologia utilizada para referir-se à sensação, enquanto o conceito de “dor” está relacionado à sensação e percepção do estímulo nociceptivo. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 11 A percepção de dor ocorre devido a um aumento na sensibilidade dos nociceptores e das fibras aferentes primárias (fibras A-delta III (fibra mielinizada) e fibras C-IV (desmielinizadas)), em decorrência de estímulos ambientais que sensibilizam esses receptores presentes na pele, nas vísceras, nos vasos sanguíneos e nas fibras do musculoesquelético. A modulação desses receptores é realizada por diversos moduladores bioquímicos, como a histamina, noradrenalina, bradicinina, prostaglandinas, purinas, citocinas, leucotrienos e neuropeptídeos (substância P e neurocinas), provenientes de processos inflamatórios, traumáticos e/ou isquêmicos, que são liberadas pelas células lesadas (Figura 7). Logo em seguida ao dano tecidual, devido ao acúmulo local de mediadores químicos pró-inflamatórios, ocorre a “sensibilização periférica” da dor, que se caracteriza por uma alteração no limiar de nociceptores, com consequente hiperalgia (sensibilidade exacerbada ao estímulo nóxico ou doloroso) e/ou alodinia (sensações não nocivas, mas que representam psiquicamente uma sensação de dor). Tais nociceptores sensibilizados realizam sinapses com neurônios das lâminas I, II e V por sinais enviados para o corno posterior da medula, através das fibras nervosas aferentes primárias A-delta III e C-IV. A informação é então conduzida via sistema trato espinotalâmico para áreas centrais como tálamo e córtex cerebral, que são responsáveis pela interpretação e cognição da dor. Figura 7. Esquematização de fatores mecânicos (traumáticos) capazes de promover lesão celular e a liberação de mediadores químicos pró- inflamatórios responsáveis por promover ativação das fibras nociceptoras. Fonte: Lent (2004). A dor pode ser caracterizada e classificada segundo critérios temporais (dor aguda ou crônica), patogênese (nociceptiva, neuropática ou psicogênica) e de intensidade (leve, moderada ou intensa). A dor aguda ou de curta duração está, geralmente, relacionada à instalação de um processo patológico, seja ele de origem traumática ou inflamatória, enquanto a dor crônica é contínua e recorrente, de duração prolongada, que não cessa com a remoção do estímulo (Figura 8). Tipos de dor Aguda Nociceptiva Resultado da ação direta de nociceptores na pele ou tecidos moles em resposta à lesão tecidual geralmente acompanhada de inflamação Neuropática Lesão direta em nervos do SNC ou periférico caracterizada por sensação de queimação ou choques elétricos Crônica A dor não cessa com a ausência do agente lesivo Figura 8. Representação esquemática da classificação da dor em conformidade com as causas. Fonte: acervo pessoal. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 12 A classificação da dor de acordo com sua patogênese diferencia a dor em três tipos: nociceptiva, neuropática e psicogênica. A dor nociceptiva surge a partir da estimulação dos receptores da dor específicos, resultante de uma lesão. Esses receptores podem responder ao calor, frio, vibração, estiramento e a estímulos químicos liberados a partir de células lesionadas. A dor aguda e a dor crônica diferem em sua etiologia, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento. A dor aguda é autolimitada e funciona como uma função biológica protetora, agindo como um aviso de dano tecidual. Sintomas psicológicos associados a esse tipo de dor são mínimos e, normalmente, limitados a uma ansiedade leve. A dor crônica, por outro lado, não tem nenhuma função biológica protetora – sendo decorrente, mas não estando relacionada a nenhum processo de doença –, podendo persistir por anos e até mesmo décadas após a lesão inicial. A dor neuropática ocorre quando há lesão direta (trauma, infecção, isquemia, doença degenerativa, invasão tumoral, injúria química ou radiação) em nervos do sistema nervoso central ou periférico, e não pela estimulação de receptores de dor. Já a dor psicogênica não possui causa conhecida. É uma dor pouco definida, mal situada e que, geralmente, não responde à terapia medicamentosa, sendo indicado, nesse caso, tratamentos alternativos não medicamentosos. Com relação à intensidade, a dor pode ser classificada em leve, moderada e intensa. Esse é o tipo de classificação menos desejável, uma vez que a intensidade varia de acordo com a maioria dos pacientes ao longo do tempo e é exclusivamente subjetiva. Não existe uma abordagem terapêutica única que gerencie todos os tipos de dor para todos os pacientes em todas as circunstâncias clínicas.O controle da dor deve ser baseado em avaliação criteriosa, identificando as possíveis causas e efeitos desse sintoma na vida do paciente e investigando os fatores psicossociais que possam influenciar seu impacto. 3 DISTÚRBIOS REUMÁTICOS Há fortes indícios de que é inevitável o envelhecimento da população mundial, e com essa situação ocorre grande alteração das condições de saúde. A epidemiologia dos tempos atuais tem acompanhado esse fenômeno de transição demográfica, e vem revelando um novo panorama nos indicadores de saúde e nos perfis de morbidade e mortalidade. Alves et al. (2007) afirmam que “a tendência atual é termos um número crescente de indivíduos idosos, que apesar de viverem mais, apresentam maiores condições crônicas”. Assim, há uma tendência crescente no surgimento de patologias e distúrbios crônicos degenerativos, o que implica no agravamento da qualidade de vida dos indivíduos idosos. Do ponto de vista da saúde pública, o aumento nos índices de prevalência e incidência das incapacidades torna-se um desafio, tendo em vista o papel do Estado em promover saúde e qualidade de vida. Segundo Verbrugge e Jett (1994, p.1), o termo incapacidade pode ser definido como “uma dificuldade experimentada em realizar atividades em qualquer domínio da vida devido a um problema físico ou de saúde”. Dentre os diferentes fatores desencadeadores de incapacidade relacionados a problemas crônicos na senescência, citamos os cardiovasculares, diabetes e, principalmente, os problemas reumatoides. Estes últimos são considerados problemas de saúde que acometem as articulações e estruturas osteomusculares adjacentes, associadas à dor e rigidez articular, além de tecido conjuntivo e de vasos sanguíneos, podendo ainda incluir as alterações dos tecidos moles periarticulares e as doenças de outros órgãos e/ou sistemas relacionados com as anteriores. As doenças reumáticas são uma das doenças crônicas com maior potencial de induzir um processo de limitação Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 13 física e incapacidade, fenômeno que se acentua nos grupos etários mais avançados. Os principais sintomas clínicos dessas patologias estão relacionados à dor, à tumefação e à limitação da mobilidade, e ocorrem de forma muito frequente na população em geral. A prevalência sintomatológica é predominante em pacientes do sexo feminino e nas pessoas de faixa etária elevada. Essa sintomatologia está intimamente relacionada a disfunções reumáticas, como a osteoartrose, raquialgias, doenças reumáticas periarticulares, incluindo as lesões musculoesqueléticas ligadas ao trabalho, osteoporose, fibromialgia, artropatias microcristalinas, artrite reumatoide, espondiloartropatias, doenças reumáticas sistêmicas e artrites idiopáticas juvenis. No quadro a seguir estão listados os principais tipos de doenças reumáticas. Quadro 1. Principais tipos de patologias reumáticas e suas principais características. Tipo de reumatismo Principais características Osteoartrose É responsável por provocar incapacidade de pessoas idosas, associando-se frequentemente, neste grupo etário, a outras patologias incapacitantes, afetando as articulações importantes para a funcionalidade, como as das mãos, joelhos, quadril, coluna vertebral e pés. Raquialgias Está relacionada a dores na coluna vertebral, quer sejam de causa degenerativa, infecciosa, inflamatória, metabólica ou neoplásica. Frequentemente são relacionadas às queixas reumáticas, sendo um dos motivos de incapacidade antes dos 45 anos de idade. Distúrbio reumático periarticular (também denominado de LER/DORT) Com frequência, são resultados de lesões repetitivas, habitualmente provocadas por traumatismos relacionados com o trabalho. Representam mais da metade dos casos de doenças profissionais. Osteoporose Provoca diminuição da resistência óssea, estando normalmente relacionada com fraturas por traumatismos de baixa energia. As fraturas de fêmur proximal são as mais implicadas, sendo essas as principais causas de morbidade e mortalidade. Fibromialgia É uma síndrome musculoesquelética crônica, não inflamatória e de causa desconhecida. Está relacionada com o surgimento de dores generalizadas, fadiga, alterações quantitativas e qualitativas do sono e perturbações cognitivas. É uma causa de incapacidade física e emocional, muitas vezes grave. A r t r o p a t i a s microcristalinas (gota) É uma patologia inflamatória e metabólica, que geralmente está relacionada com excesso de ácido úrico no plasma (hiperuricemia). Este se deposita na forma de cristais de ácido úrico nas articulações e até mesmo em tecidos moles, causando inflamação aguda ou crônica, e promovendo desenvolvimento de degeneração articular. É uma doença relativamente comum e sua maior incidência é no final da terceira década de vida e início da quarta, sendo predominante em pacientes do sexo masculino, raramente em mulheres. Artrite reumatoide Doença crônica autoimune, de causa desconhecida, é normalmente caracteriza pelo surgimento de inflamação em articulações (uma ou mais), por pelo menos seis semanas seguidas, que se perpetua com uma resposta inflamatória persistente. Além disso, é responsável por promover morbidade e incapacidade em grupos etários jovens, reduzindo, nos casos mais graves, a esperança de vida em cerca de 10 anos. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 14 Espondiloartropatias Esse tipo de reumatismo inclui a espondilite anquilosante, a artrite psoriática, a artrite reativa e as artropatias associadas às doenças inflamatórias crônicas do intestino. Atingem, preferencialmente, a coluna vertebral e as articulações sacroilíacas, causando incapacidade em jovens. Doenças reumáticas sistêmicas Englobam um conjunto heterogêneo de doenças e síndromes, como o lúpus eritematoso sistêmico, a síndrome de Sjögren, a esclerose sistêmica, a polimiosite/ dermatomiosite e o extenso grupo das vasculites. Acometem, sobretudo, adultos jovens. Artrites idiopáticas juvenis São doenças crônicas que acometem com mais frequência crianças e adolescentes, sendo uma causa importante de incapacidade, doença ocular e de insucesso escolar pelo absentismo que podem provocar. Fonte: Adaptado de Direção... (2001). Tanto em países desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento os distúrbios reumáticos originam um grupo de enfermidades que afeta de forma significativa a vida cotidiana do ser humano. Essas patologias juntas promovem o aumento considerável da incapacidade funcional e laboral, que estão ligadas a um forte impacto econômico-social nesses países. Cada um desses diferentes tipos de patologias possui o(s) principal(is) fatores de risco envolvidos com seu surgimento. Entretanto, fatores como idade, obesidade, tabagismo, alcoolismo, medicamentos e alterações hormonais representam risco comuns a todas elas. Para o diagnóstico correto, o paciente deve consultar um médico especialista da área, pois apenas com exames adequados e avaliação de um profissional capacitado e tecnicamente experiente poderá se detectar os fatores relacionados. Os sintomas apresentados por cada um dos pacientes são de suma importância para o diagnóstico da patologia. De acordo com o guia da Direção-geral da Saúde e do Ministério da Saúde (2001), os principais sintomas dos distúrbios reumáticos incluem dor, rigidez, deformação das articulações e, em alguns casos, podem apresentar ou não rubor, calor ou inchaço, movimentos dolorosos e limitados das articulações e dificuldade na marcha, quando afetadas as articulações das pernas. O fato é que, sem dúvida alguma, o sinal mais proeminente entre todos os tipos de reumatismo é a dor; essa pode ocorrer de modo generalizado (o paciente descreve: “dói o corpo todo”) ou de forma localizada em um dos membros ou articulação,tais como os quadris, junção iliossacral, joelhos ou as mãos. A origem da dor nem sempre é facilmente identificada. Em grande parte dos casos, quando a dor manifesta-se de forma localizada, ela pode ser decorrente de artrose ou, raramente, de artrite reumatoide ou outra forma de artrite. Essas patologias acometem comumente idosos, preferencialmente do sexo feminino (3 vezes mais chances do que os homens), mas também podem acometer jovens. Outro fator importante é que, em geral, os problemas relacionados ao reumatismo apresentam inicialmente sintomas inespecíficos (fadiga, mal-estar, dor musculoesquelética difusa e rigidez matinal, além de febre). A progressão da patologia é muito variável; em cerca de um terço dos casos, os sintomas são discretos e podem desaparecer no decorrer de várias semanas ou alguns meses. Os pacientes podem permanecer assintomáticos por vários meses e, em seguida, apresentar sintomas mais graves do que aqueles observados anteriormente. Alguns indivíduos apresentam início súbito de sintomas, seguido de remissão clínica prolongada da patologia. Em outras Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 15 situações, o paciente pode apresentar doença ininterrupta progressiva, com deformidades articulares e incapacidade. A seguir, serão expostos alguns tipos de reumatismo e sugestões apresentadas por muitos órgãos de estudo para o manejo dessas disfunções. 3.1 Controle de distúrbios reumáticos 3.1.1 Artrite e osteoartrose É uma patologia resultante de uma disfunção na formação, regeneração e na degeneração de cartilagens, sendo considerada atualmente uma disfunção de característica multifatorial. Alguns tipos da doença são reconhecidamente hereditários, sendo a forma mais comum a osteoartrose das falanges distais dos dedos das mãos e dos pés, que pode originar grande formação desses membros (veja na Figura 9). Figura 9. Representação de um paciente adulto (esquerda) e um indivíduo jovem (direta) portadores de artrite reumatoide e artrite reumatoide juvenil, respectivamente. Fonte:http://cynthiafurtado.blogspot.com.br/2010/11/o-que-e- artrite.html O tratamento para esse tipo de reumatismo consiste basicamente em tratamento farmacológico (analgésicos, anti-inflamatórios, agentes restauradores da cartilagem) e não farmacológico (exercícios, fisioterapia, órteses) que visam não somente aliviar a dor, mas preservar a função da articulação acometida. A indicação de correções cirúrgicas de suas sequelas pode ocorrer mediante disfunção e prognóstico de cada paciente. 3.1.2 Osteoporose A osteoporose é uma disfunção reumatoide cuja característica principal é a diminuição da massa óssea e consequente alteração de sua qualidade. O osso fica esponjoso e mais frágil em função da redução da concentração de cálcio e de outros componentes da matriz óssea, aumentando, por conseguinte, o risco de fraturas. Essa alteração afeta todos os ossos do corpo, porém tem maior incidência de fraturas em vértebras da coluna, fêmur e ossos do punho. Os sintomas não aparecem até que grande quantidade de osso tenha sido perdida e que os ossos comecem a sofrer fraturas. Com certa frequência, essas alterações iniciais e sutis implicam em dor nas costas (coluna vertebral), diminuição da estatura, inclinação de parte do corpo originando uma posição corcunda, fraturas sem ocorrência de trauma (veja na Figura 10). Normalmente, os principais fatores envolvidos são os hereditários, causas ambientais (como climatério, desnutrição, sedentarismo, pouca exposição ao sol, anorexia, excesso de exercícios), uso de medicamentos (por exemplo, anticonvulsivantes, anticoagulantes, corticoides, laxantes), alcoolismo, fumo e cafeína. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 16 Figura 10. Representação de sequência de eventos relacionados ao desenvolvimento de osteoporose. Fonte: http://www.herniadedisco.com.br/doencas-da-coluna/osteopenia-e-osteoporose/ A osteoporose é uma patologia que pode ser prevenida e tratada. A melhor estratégia ainda é a prevenção, porém, quando instalada e diagnosticada, essa disfunção pode ser tratada. O método preventivo ideal é a obtenção de maior massa óssea durante o crescimento, o que pode ser facilmente alcançado por meio de alimentação rica em cálcio e vitamina D, além da prática de exercícios físicos desde a infância e juventude. Nesse sentido, é fundamental a ingestão de cálcio com alimentos lácteos, legumes de folha verde (espinafres e brócolis) e peixe com espinhas (sardinhas), sendo necessários de 800 a 1000 mg de cálcio por dia (veja quadro abaixo). Além disso, a regularidade do ciclo menstrual é importante na prevenção da osteoporose, haja vista que a ação do hormônio estrógeno está inversamente relacionada com a reabsorção óssea, comum em mulheres após a menopausa. No tratamento com medicamentos, além da suplementação oral de cálcio e vitamina D, a atuação se faz principalmente sobre a reabsorção óssea, sendo a maioria dos agentes terapêuticos antiabsortivos. Contudo, já existem medicamentos que ajudam a produzir osso, como o paratormônio sintético. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 17 Quadro 2. Relação de alimentos e seu teor de cálcio. Alimento Valor (mg de cálcio) Um copo de leite (3% ou 1% de gordura) 200 Um iogurte 200 100 g de queijo branco (ou fresco) 110 100 g de sardinhas 345 100 g de brócolis ou espinafres cozidos 75 100 g de queijo amarelo (gordo) 800 Fonte: Direção... (2001). Alimentos como amendoins, amêndoas e figos secos possuem grandes quantidades de cálcio, porém são ricos em calorias (como é o caso do queijo gordo). A ingestão de um suplemento de vitamina D e a exposição ao sol apresentam benefícios para quem possui falta de vitamina D, como acontece com algumas pessoas idosas, que não saem de casa ou habitam em regiões com pouco sol. A atividade física (andar a pé, dançar ou fazer ginástica) contribui para a prevenção da osteoporose. É conveniente evitar períodos longos de repouso ou de imobilização, uma vez que isso aumenta a incidência da doença. Estudos demonstraram ainda que mulheres fumantes e que fazem constante uso de álcool, ou fazem ambas as coisas, são mais propensas a desenvolver osteoporose. 3.1.3 Fibromialgia A fibromialgia refere-se ao surgimento de dor crônica e difusa, de causa não inflamatória, com pelo menos três meses de duração e que ao exame físico demonstra pontos dolorosos quando palpados em locais anatômicos predeterminados (tender points). Trata-se de uma patologia que se manifesta clinicamente por fadiga diurna, boca seca, sensação de mãos inchadas, tonturas, dor precordial, taquicardia, cefaleia, enxaqueca, cólon irritável, irritabilidade, depressão e ansiedade. A causa dessa patologia está associada à sensibilidade exagerada do indivíduo a estímulos dolorosos, normalmente originados de distúrbios bioquímicos do sistema nervoso. É predominante em pessoas do sexo feminino, e o pico de incidência ocorre na faixa etária entre 30 e 50 anos. Estima-se que cerca de 5% das consultas ambulatoriais de clínica geral e 30% da clínica especializada em reumatologia ocorrem em decorrência dos casos de fibromialgia. O tratamento dessa disfunção merece certa atenção quanto a seu controle, exigindo grande contribuição do paciente. Como não existem exames complementares que por si só confirmem o diagnóstico, a experiência clínica do profissional, a disposição do paciente em submeter- se fielmente à prescrição médica e a colaboração dos familiares e amigos são fundamentais para o sucesso do tratamento, mesmo porque este geralmente é realizado por um período relativamente longo. Normalmente, o tratamento está pautado em psicoterapia e terapias comportamentais, que estimulam a mudança noestilo de vida, de forma que o paciente pratique técnicas de relaxamento, passe a se ter hábitos de vida saudáveis, pratique exercícios físicos, faça uso de medicações para combate à dor e à depressão (antidepressivos, analgésicos, relaxantes musculares). Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 18 4 FEBRE REUMÁTICA A febre reumática (FR) é uma doença que acomete principalmente pessoas em faixa etária escolar e adolescência, sendo considerada no Brasil como a principal causa de cardiopatia crônica adquirida em menores de 20 anos e responsável por elevados índices de morbidade e mortalidade. A FR é referida como uma das principais patologias relacionadas com um número significativo de cirurgias cardíacas para tratamento de complicações valvulares, além de provocar o aparecimento de artrite, nódulos subcutâneos, lesões de pele e de graves quadros neurológicos de coreia de Sydenham (movimentos incontroláveis). Entre as doenças que repercutem na saúde das crianças, a FR assume proporções preocupantes, não só pelas sérias lesões cardíacas, como também pelo alto valor de seu tratamento imposto aos cofres do setor, por meio de delicadas e sofisticadas cirurgias cardíacas para o implante de válvulas artificiais. A principal causa dessa patologia é, sem dúvida alguma, a contaminação do paciente pelo estreptococo beta hemolítico do grupo A, um micro-organismo relacionado com casos de infecção de garganta. É uma bactéria que causa amigdalite, principalmente nas regiões em que a situação de vida e saúde da população é mais precária. Porém, não é todo indivíduo afetado por tal agente que irá desenvolver FR; é preciso haver uma predisposição individual para a ocorrência da patologia. O tratamento correto das amigdalites com antibiótico adequado e pelo tempo certo pode ajudar a prevenir o aparecimento da febre reumática. Para a prevenção da patologia, não há outra opção além do tratamento adequado das afecções das vias aéreas superiores (principalmente casos de infecção de garganta e amigdalite). Para os pacientes que já desenvolveram a febre reumática, o tratamento é realizado com auxílio de medicamentos específicos para o coração, repouso e anti-inflamatórios nas artrites, corticoides e drogas específicas para os distúrbios de movimento provocados pelo envolvimento do Sistema Nervoso Central. Decorrida a crise, é necessário que o paciente seja submetido a um esquema de prevenção da infecção pelo estreptococo com penicilina benzatina a cada 21 dias. Caso ocorra o envolvimento cardíaco, a profilaxia deve estender-se, se possível, por toda vida. Caso não haja acometimento do coração, fica determinado o uso do medicamento até os 18 anos de idade. 5 LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO Trata-se de uma doença inflamatória, autoimune e geralmente crônica, que pode acometer múltiplos órgãos, de forma sucessiva ou simultânea. É uma patologia de etiologia multifatorial, em que a interação da predisposição genética e vários fatores hormonais (aumento da relação andrógeno/ estrógeno) e ambientais (luz ultravioleta, medicamentos e infecções) ocasionam um distúrbio do sistema imunológico, gerando uma produção inadequada de anticorpos, que, por sua vez, reconhecem os próprios constituintes do corpo como possíveis agressores, o que provoca lesões inflamatórias variadas. A doença tem um amplo espectro de apresentações clínicas, evoluindo cronicamente com períodos de exacerbações e remissões (veja na Figura 11). Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 19 Figura 11. Representações gráficas de pacientes acometidos pelo Lúpus Eritematoso Sistêmico. Fonte: http://www.mundoeducacao.com/doencas/lupus.htm Mesmo havendo medidas internacionalmente aceitas para o tratamento do LES, cada paciente é tratado em conformidade com o próprio corpo. Na verdade, não existe um tratamento que seja capaz de promover a cura dessa doença; portanto, o tratamento não é um modelo definido e único para ser aplicado em todos os pacientes, uma vez que as características de cada caso mostrarão o que se deve fazer. Os medicamentos utilizados na terapêutica do lúpus podem promover importantes efeitos colaterais e devem ser manejados por profissionais experientes. Na fase aguda da doença, além de repouso, psicoterapia, dieta balanceada, prática regular de exercícios físicos, uso constante de protetor solar, controle da pressão arterial e da dislipidemia, a terapia medicamentosa consiste no emprego de anti-inflamatórios, corticoides e imunossupressores, como a ciclofosfamida. Recomenda-se o uso de drogas antimaláricas para o tratamento de lesões cutâneas difusas, como a cloroquina, podendo associá-la à prednisona, em baixa dosagem e por período limitado. Em 2011 nos EUA, foi aprovado pelo FDA o uso de um anticorpo monoclonal humano capaz de inibir a ação dos mediadores químicos denominados de fator estimulador de linfócito B (nome comercial americano Benlysta, anteriormente conhecido como LymphoStat-B), para o tratamento de LES. Vale ressaltar a necessidade de os pacientes portadores de LES conhecerem e reconhecerem os sintomas da doença, inclusive das complicações que, mesmo raras, podem aparecer. Dessa forma, na ocorrência de quaisquer complicações, elas poderão ser prontamente manejadas e facilmente solucionadas. 6 GOTA É uma patologia de característica inflamatória relacionada a um distúrbio metabólico, que está associada geralmente a um quadro de hiperuricemia. Sua principal característica é a deposição de cristais de urato (ácido úrico) nas articulações e até mesmo em tecidos moles, causando inflamação aguda ou crônica, levando ao desenvolvimento de degeneração articular. A manifestação clínica da gota está associada ao desenvolvimento de artrite, que pode acometer diversas articulações. Em pacientes que não realizam qualquer tratamento, as crises podem se prolongar por mais de sete dias, regredindo espontaneamente e podendo passar longos períodos sem reaparecer. Nestes casos, cristais de ácido úrico depositam-se nos tecidos – especialmente em cotovelos e pavilhões auriculares –, resultando na formação de tofos. Os tofos são comuns em pacientes não tratados ou naqueles que não aderiram corretamente ao tratamento (Figura 12). Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 20 Figura 12. Representação gráfica do desenvolvimento de processo inflamatório relacionado à crise de gota. Fonte: http://nutrir-se-by-nutri.blogspot.com.br/2012/08/acido-urico- gota.html O ácido úrico é uma substância derivada do metabolismo de proteínas (bases púricas). Quanto mais purina é ingerida, maior quantidade de ácido úrico é produzida. Alguns alimentos ricos em purinas são: carnes (bacon, porco, coração, rim); peixes e frutos do mar (salmão,sardinha, bacalhau, camarão); aves (peru e ganso); bebidas alcoólicas e leguminosas (feijão, grão- de-bico, ervilha, lentilha). Entre os alimentos com pouca purina, citamos o leite, o chá, o chocolate, cereais, arroz, batata, vegetais, doces e frutas. Além da alimentação, outros fatores que contribuem para o surgimento da doença são a obesidade, o uso de medicamentos diuréticos e longos períodos em jejum O tratamento da gota está relacionado ao quadro clínico do paciente, devendo-se considerar, inicialmente, o número de crises que tenham apresentado. Normalmente, relaciona-se duas crises típicas ou realiza-se a análise bioquímica de sangue (concentração sérica de ácido úrico) e a presença de tofos. Para o tratamento de situações de crise e até mesmo para a prevenção de incapacidade relacionada à patologia, pode ser utilizada a colchicina, que possui grande eficiência na fase aguda. Para a prevenção de novas crises, são recomendados os anti-inflamatórios, inibidores da síntesede ácido úrico e os medicamentos que aumentam sua excreção renal. Além da terapia medicamentosa, é muito importante que haja controle da alimentação; portanto, o paciente deverá receber uma dieta com restrição de alimentos ou bebidas que apresentem relação clara com as crises. Nesse sentido, destaca-se a redução da ingestão de alimentos ricos em purinas (carne vermelha, alguns tipos de feijões), diminuição de bebidas que podem influenciar o pH sanguíneo (uma vez que este pode interferir com o pH urinário, dificultando a eliminação do ácido úrico), aumento da ingestão diária de líquidos e, em alguns casos, retirada cirúrgica dos tofos. O tratamento de crises renais deverá ser indicado para os pacientes, e o repouso na fase aguda e a redução do estresse físico e emocional são ações de fundamental importância para todos os pacientes que estejam passando por situação de crise, pois quanto mais se movimentarem, maior será a agressão (abrasão dos cristais às articulações). Conforme discorrido anteriormente sobre alguns dos principais tipos de reumatismos encontrados no Brasil, é possível notar que o processo inflamatório e a dor são os principais sinais e sintomas apresentados pelos pacientes portadores dessas patologias. Em função desse fato, além da tentativa de prevenção que se dá principalmente com mudanças de hábito da vida cotidiana do paciente, são utilizados inúmeros medicamentos, os quais podem ser empregados para a profilaxia e para o alívio dos sintomas em situação de crise aguda ou crônica. A seguir, será apresentado um breve relato sobre as principais classes farmacológicas utilizadas para essas disfunções. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 21 7 FÁRMACOS UTILIZADOS NO MANEJO DA DOR E DOS PROCESSOS INFLAMATÓRIOS Diversas classes de fármacos são utilizadas para o manejo da dor e, consequentemente, do processo inflamatório. Esses fármacos incluem, principalmente, agonistas dos receptores de opioides (analgésicos narcóticos), analgésicos não narcóticos ou anti- inflamatórios (não esteroidais (AINEs) e/ou esteroidais (AEs)), anestésicos e antidepressivos. 7.1 Analgésicos narcóticos Os analgésicos narcóticos, também denominados opiáceos, opioides ou agonistas de receptores opioides, constituem a principal classe de fármacos utilizada no manejo da dor moderada a intensa. 7.2 Morfina A morfina é o principal alcaloide derivado da planta ópio (Papaver somniferum). Foi isolada pela primeira vez em 1833, por Pierre-Jean Robiquet, a partir de sementes verdes da papoula do ópio. Outros alcaloides são extraídos dessa planta e podem ser divididos em duas classes: fenantrenos e benzilisoquinolinas. Os principais representantes da primeira classe são a morfina (com concentração de 10%), codeína e tebaína, ao passo que a segunda classe é composta principalmente por papaverina e a noscapina. Estrutura química da morfina. A morfina tem sido a mais importante droga para o alívio de dor ao longo de muitas décadas, aliviando tanto sua percepção quanto a resposta emocional a ela. Trata- se de um agonista integral de receptores opioides, que age sobre receptores específicos das células nervosas, alterando a afinidade da membrana celular pelos íons de sódio e reduzindo a liberação de neurotransmissores pelos neurônios afetados, que, consequentemente, diminuem a transmissão do impulso doloroso ao nível da medula espinal e aumentam na região do SNC. A morfina também provoca vasodilatação, aumentando a capacitância venosa periférica e diminuindo o retorno venoso. Essa substância possui uma potente ação analgésica e ansiolítica. Dentre os efeitos adversos apresentados pelos usuários de morfina, estão a euforia, disforia e alucinações, além de depressão respiratória e supressão do reflexo da tosse. Efeitos cardiovasculares raramente são observados; todavia, quando relatados, envolvem bradicardia e hipotensão. É comum o relato de náuseas e vômitos, assim como rash cutâneo, prurido e broncoespasmo. O uso frequente ou crônico da morfina pode causar tolerância à droga e dependência. O mecanismo de ação da morfina é muito parecido com o dos demais opiáceos. De uma forma geral, é bem absorvida – independente da via de administração – e metabolizada no fígado, onde sofre efeito de primeira passagem e ocorre a formação dos metabólitos: morfina-3- glucuronídeo (M3G, 70%), morfina-6-glucuronídeo (M6G, 10%) e sulfatos conjugados. Os opioides são convertidos em metabólitos polares e eliminados pelos rins. 7.3 Codeína A codeína, também denominada metilmorfina, é um opioide natural derivado do ópio, empregado no alívio de dor moderada, com mecanismo de ação semelhante à morfina, e 10% do seu potencial de ação desta. Devido a essa característica, há anos é utilizada como tratamento supressor de resfriados e diarreia. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 22 Estrutura química da codeína. A biodisponibilidade oral da codeína é de 50% e aproximadamente 10% é metabolizada em morfina por desmetilação, sendo o restante convertido em compostos conjugados inativos. Essa metabolização da codeína em morfina é realizada por uma isoforma do citocromo P450, que possui polimorfismo. Por isso, aproximadamente 10% da população não metaboliza adequadamente a codeína, o que resulta em um tratamento ineficaz da dor. A codeína é absorvida rapidamente e metabolizada no fígado. O tempo de meia-vida varia de 2 a 4 horas, sendo eliminada pelas vias renais. Ao contrário da morfina, causa pouca ou nenhuma euforia e raramente produz vício, razão pela qual pode ser obtida sem prescrição. A codeína é uma droga amplamente empregada como antitussígena, devido à sua capacidade de promover a depressão do sistema nervoso central. Além disso, tal droga também apresenta ação nos receptores opioides nos neurônios do intestino, que promovem a redução da motilidade intestinal sendo, portanto, empregada no tratamento de diarreias. Os efeitos colaterais mais comuns do uso da codeína são enjoos, náuseas, sedação e vômitos. Essa substância pode causar ainda letargia, sonolência, diminuição do rendimento físico e mental, temor, ansiedade, disforia, alteração de caráter e dependência física (em menor proporção do que a morfina). Seu uso crônico pode promover constipação e depressão respiratória dose- dependente. Em conformidade com Dia Júnior et al. (2006), a codeína é uma droga indutora de abuso. A dependência física e psíquica e a tolerância desenvolvem-se com doses repetidas. A dependência psíquica, que requer a administração contínua para prevenir a aparição da síndrome de abstinência, tem significado clínico somente após diversas semanas de doses orais continuadas. A tolerância, por sua vez, manifesta-se por uma duração de ação encurtada e pela diminuição da efetividade analgésica. A intoxicação por codeína caracteriza-se por promover a sedação, alteração de humor e miose. O tratamento inicial consiste no restabelecimento da função respiratória e cardiovascular e na observação da existência de hemorragia. Já o tratamento medicamentoso pode ser realizado com o uso de drogas antagonistas de receptores opioides, como a naloxona, muito utilizada para reverter quadros convulsivos gerados por superdosagem de codeína (ASSOCIAÇÃO..., 2012). 7.4 Analgésicos não opioides (não narcóticos) Os analgésicos não opioides possuem propriedades analgésicas, antitérmicas e anti-inflamatórias, e podem ser classificados como anti-inflamatórios não esteroides (ácidos mefenâmico e etofenâmico, diclofenaco, ibuprofeno, etc.), drogas derivadas do ácido salicílico (aspirina), do para- aminofenol (paracetamol) e da pirazolona (dipirona) ou em anti-inflamatórios esteroidais (hidrocortisona, dexametasona, betametasona, triancinolona, entre outras).Tais drogas são indicadas para o tratamento de dores leves ou moderadas, e seu mecanismo de ação está relacionado à inibição da atividade das cicloxigenases (COX-1 e COX-2), o que, por conseguinte, diminui acentuadamente a formação dos derivados do metabolismo do ácido araquidônico, além de inibir a formação de mediadores com IL, LT, lipoxinas e fatores de adesão leucocitário – ação promovida pelos corticoides. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 23 O efeito resultante dessas alterações é reconhecido pela redução da vasodilatação, diminuição da permeabilidade e infiltração leucocitária, além de aumento do limiar doloroso. 7.5 Anti-inflamatórios não esteroides A finalidade dos anti-inflamatórios é conter ou reverter a inflamação local ou sistêmica, tendo segurança, rapidez de ação e potência analgésica. A ação dessas drogas foi descoberta em 1970, quando foi desvendado o mecanismo de ação da aspirina, da qual todas essas medicações são derivadas. Tais drogas são denominadas anti- inflamatórios não esteroidais (AINEs) a fim de diferenciar-se dos corticoides, que também possuem ação anti-inflamatória, porém, com distintos mecanismos de ação e toxicidade. Além disso, os AINEs não possuem nenhuma relação estrutural com os corticoides. Os AINEs constituem um grupo terapêutico de grande interesse e integram a lista de fármacos mais comumente prescritos em todo o mundo devido às suas propriedades analgésicas, antipiréticas e anti-inflamatórias. Apesar de sua toxidade e efeitos adversos, cerca de 30 milhões de pessoas fazem uso dessas drogas diariamente. Sua ação anti-inflamatória é decorrente da inibição da síntese de prostaglandinas, gerada a partir da inativação das cicloxigenases constitutiva (COX-1) e induzível (COX- 2). Os anti-inflamatórios podem promover seu efeito central e periférico, pois na periferia inibem a COX (enzima responsável pela degradação de ácido araquidônico) dos tecidos, diminuindo a liberação de mediadores químicos responsáveis pela ativação das terminações nociceptoras. Assim, os AINEs bloqueiam a conversão do AA em seus metabólitos (PG e leucotrienos) envolvidos na ativação da resposta inflamatória e na sensibilidade das vias de transmissão da dor. O quadro a seguir mostra a classificação dos AINEs e de seus principais representantes, baseado nas estruturas químicas de fármacos convencionais de uso corrente. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 24 Quadro 3. Classificação dos anti-inflamatórios não esteroidais. Derivados do ácido salicílico ácido acetilsalicílico (Aspirina®, AAS®) Derivados do ácido antranílico (fenamatos) Ácido mefenâmico (Ponstan®), meclofenamato (Meclomen®), clonixinato de lisina (Dolamin®) Derivados do ácido enólico (oxicam) piroxicam (Feldene®), tenoxicam (Tilatil®), meloxicam (Meloxil®) Derivados pirazolônicos fenilbutazona (Butazolidina®, Butazona®), oxifenilbutazona, dipirona (Dipirona®, Anador®) Derivados do ácido indolacético indometacina (Agilisin®, Indocid®), benzidamina (Flogoral®, Benflogin®) Derivados do ácido fenilacético Diclofenaco (Biofenac®, Cataflan®, Voltaren®), fenclofenaco, aceclofenaco (Proflam®) Derivados do ácido propiônico ibuprofeno (Advil®, Alivium®), cetoprofeno (profenid®), fenoprofeno, flurbiprofeno (Targus®), naproxeno (Flanax®), oxaprozina, ácido tiaprofênico Derivados do aminofenol, para-aminofenol e anilina acetofenetidina, paracetamol (Tylenol®) Derivados da sulfonanilida nimesulida (Scaflam®, Nimesulida®, Nimesulide®) Derivados das quinolonas celecoxib (Celebra®), Rofecoxib (Vioxx®) Derivados das naftilcanonas nabumetona (Relifex®), proquazona Derivados do ácido pirrolacético tolmetino (Tolectin®), cetorolaco (Toragesic®), etodolaco Derivados do ácido carbâmico flupirtina (Katadolon®) Outros coxibs etoricoxib (Arcoxia®), valdecoxib (Bextra®) Fonte: adaptado de Rang et al. (2006). Uma nova classificação para os AINEs tem sido proposta levando em consideração o poten- cial de ação das drogas. A potência da droga está relacionada com a concentração necessária para inibir em 50% a atividade das cicloxigenases (IC50). Ou seja, para o cálculo da seletividade de uma droga inibidora de COX-2, utiliza-se a razão entre o IC50 de COX-2 sobre a IC50 da COX-1. Nesse caso, valores menores que um indicam alta seletividade para COX-2, significando que a dose do medicamento a ser utilizada será menor para bloquear COX-2 do que para COX-1, ao passo que quando a razão for maior que um, este será seletivo para COX-1. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 25 Quadro 4. Classificação atual dos anti-inflamatórios não esteroidais de acordo com a seletividade. Inibidores não seletivos para COX-1 AAS (em altas doses), Piroxicam, Indometacina, Diclofenaco, Ibuprofeno, Nabumetona Inibidores com maior afinidade pela COX-2 Meloxicam, Etodolaco, Nimesulida, Salicilato Inibidores altamente seletivos da COX-2 Celecoxib, Lumiracoxib (ambos de uso controlado no Brasil) Fonte: adaptado de Rang et al. (2006). 7.6 Derivados do ácido salicílico Com mais de cem anos de uso clínico, a aspirina continua sendo uma das drogas mais utilizadas do mundo, e tem sido empregada como analgésico para o tratamento de cefaleias, mialgias e artralgias, entre outras dores consideradas leves ou moderadas. Estrutura química da aspirina. Após a administração oral, 50% do ácido acetilsalicílico é deacetilado em salicilato e imediatamente absorvido. A meia-vida da aspirina é de cerca de 15 minutos, enquanto a do salicilato está entre 2 e 30 horas, dependendo da concentração utilizada. O ácido acetilsalicílico e o ácido salicílico ligam-se amplamente às proteínas plasmáticas, e são rapidamente distribuídos por todo o organismo. A aspirina e os salicilatos promovem seus efeitos farmacológicos pela inibição da síntese de prostaglandinas e de tromboxanos a partir da acetilação irreversível de COX-1 e COX-2, necessárias para a síntese dos metabólitos do ácido araquidônico. O emprego da aspirina e dos salicilatos se dá no tratamento de cefaleia, mialgias, artralgias e dismenorreia. Em doses mais elevadas, é um analgésico eficaz no manejo da dor na artrite reumatoide. Possui, ainda, ação antipirética a partir da modulação da temperatura corporal pela interleucina-1, diminuindo os sintomas da febre. Além do mais, pode ser utilizada como antiagregante plaquetário, inibindo a síntese de tromboxanos. Os efeitos adversos decorrentes da utilização terapêutica da aspirina ocorrem mesmo em dosagens mais baixas, principalmente em pacientes com mais de 60 anos de idade. Dentre eles, o mais relatado são problemas envolvendo o trato gastrointestinal, como intolerância gástrica, náuseas vômitos, dor abdominal, flatulência, diarreia e, mais raramente, úlcera gástrica e duodenal. O ácido acetilsalicílico pode provocar uma série de efeitos indesejáveis em pacientes hipersensíveis, como rinite vasomotora, broncoespasmo, hipotensão e choque. Tem sido relatada a associação à síndrome de Reye em crianças com doenças virais, mesmo em dosagens baixas. Deve ser evitado o uso concomitante de aspirina com paracetamol, (devido ao possível efeito sinérgico); alcalinizantes e acidificantes urinários (como vitamina C, fosfato de sódio ou potássio, bicarbonato de sódio e antiácidos), uma vez que a aspirina e salicilatos podem acelerar a excreção destes; álcool, drogas anticoagulantes ou anti-inflamatórios não esteroidais, em virtude do risco de irritação e hemorragia gastrointestinal. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 26 Também se deve evitar drogas anti-convulsionantes (aumentos da concentração plasmática da fenitoína, da eficácia, e/ou da toxicidade), hipoglicemiantes (aumento do efeito hiperglicêmico), antieméticas e corticoides (ototoxicidade),inibidores da enzima conversora de angiotensina (diminuição da filtração glomerular e efeito anti-hipertensivo), laxativas (redução de efeito), furosemida (toxicidade aumentada), zidovudina (toxicidade aumentada), metotrexato (toxicidade aumentada), vancomicina (toxicidade aumentada), probenecida ou sulfinpirazona (efeito reduzido), niacina (rash cutâneo) e vitamina K (não absorção da vitamina). Alguns estudos têm relacionado o uso da aspirina com a prevenção de diversos tipos de cânceres, em especial, ao câncer de mama. Tal ação se deve pelo fato de que a síntese final de estrogênios é dependente de uma enzima produzida pelo citocromo P450 que, por sua vez, é estimulado pela PGE2. Como a inibição da via do ácido araquidônico pela aspirina inibe a formação de PG e, consequentemente, não ocorre a síntese de PG2, a produção de estrogênios (que está relacionada com o desenvolvimento do câncer de mama) é inibida. 7.7 Derivados do ácido antranílico (fenamatos) Os fenamatos são utilizados para o tratamento de dores leves e moderadas, como dismenorreia, osteoartrite e artrite reumatoide. Estudos revelam que essas drogas apresentam um breve período de ação e produzem graves efeitos colaterais. Estrutura química do ácido antranílico. As concentrações plasmáticas máximas do ácido mefenâmico, ácido meclofenâmico (e o seu sal de sódio) e do ácido tolfenâmico são atingidas em menos de 2 horas após a administração oral, enquanto o ácido flufenâmico parece ser absorvido mais lentamente. A excreção dessas drogas se dá por via urinária e varia em cerca de 52% de uma dose de ácido mefenâmico, 51% para o ácido flufenâmico e 70% de ácido meclofenâmico. Os valores correspondentes para a excreção fecal são 20%, 36% e 20 a 30%, respectivamente. A semivida do ácido mefenâmico é de 3 a 4 horas, do ácido meclofenâmico cerca de 3 horas e do ácido tolfenâmico cerca de 2,5 horas. Já o ácido flufenâmico tem uma meia-vida de pouco mais de 9 horas. A interação com a varfarina resulta em aumento da atividade anticoagulante quando administrada com ácido meclofenâmico e com ácido mefenâmico. Tal como acontece com outros AINEs, os derivados de ácido antranílico são contraindicados em pacientes que recebem anticoagulação oral, devido ao risco de hemorragia gastrointestinal. Seu uso concomitante à aspirina diminui o efeito de ambas as drogas. Pacientes sensíveis aos salicilatos também podem apresentar reações adversas ao ibuprofeno e fármacos relacionados. Tem sido relatado a ocorrência de hipersensibilidade de pacientes com lúpus ao ibuprofeno. A superdosagem pode resultar em crises convulsivas. 7.8 Derivados do ácido enólico (oxicam) Com propriedades analgésicas, antipiréticas e anti- inflamatórias, os derivados de oxicam possuem meia-vida prolongada, o que facilita a adesão farmacoterapêutica pelo paciente, uma vez que somente uma dose diária é administrada. Seus efeitos colaterais são semelhantes aos de outros AINEs (irritação gástrica e cefaleia) e seu principal representante é o piroxicam. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 27 Estrutura química do piroxicam. 7.9 Derivados pirazolônicos (dipirona) Dipirona ou metamizol é um anti-inflamatório não esteroidal derivado da pirazolona, com atividade analgésica e antipirética. Seu mecanismo de ação ocorre pela inibição das enzimas COX que estão relacionadas à síntese dos precursores das PGs, mas o modo de ação ainda não foi completamente elucidado. Isso porque estudos demonstram que os metabólitos farmacologicamente ativos do metamizol não foram capazes de inibir a atividade da COX in vitro, como os inibidores da COX clássicos, mas redirecionaram a síntese de prostaglandinas, descartando a inibição da COX pela ligação ao seu sítio ativo. Existe, ainda, a suposição de que o metamizol pode ser um inibidor da isoenzima COX- 3, capaz de reduzir a síntese de prostaglandina no corno dorsal da medula espinhal. Estrutura química da dipirona (metamizol). O mecanismo neuroquímico relacionado com o efeito antipirético do metamizol não é totalmente compreendido, mas há evidências de que ele atua no centro da regulação hipotalâmica para reduzir a febre ou a síntese de PGs no sistema nervoso central. Quanto à ação antinociceptiva, o efeito antipirético do metamizol ocorre por mecanismos ainda não identificados. A hipotermia severa pode ser desencadeada pela dipirona se administrada concomitantemente à cloropromazina. O metamizol apresenta uma atividade anti-inflamatória fraca. A literatura relata que esse é mais potente como analgésico do que como um agente anti-inflamatório, indicando a redução de hiperalgesia e edema por mecanismo que não implica a liberação de substâncias do tipo PG. A atividade anti-inflamatória da dipirona é mais fraca, possivelmente porque tem uma baixa afinidade para COX em ambientes ricos em peróxido de hidrogênio, tais como tecidos inflamados. A dipirona promove um efeito anticoagulante dependente da dose sobre a agregação plaquetária, por meio da inibição da síntese de TXA2 em plaquetas. Tem sido associado à dipirona o acometimento de agranulocitose (contagem de granulócitos no sangue abaixo de 1500/mm3) em alguns pacientes; porém, há controvérsias devido à baixa incidência na população (0,2 a 2 casos por milhão de pessoas/dia de uso). Todavia, o uso da dipirona em alguns países da Europa e nos Estados Unidos da América foi banido por volta dos anos 1970. Estudos relatam ainda náuseas, vômito, dor abdominal, deficiência/insuficiência aguda dos rins, nefrite instersticial aguda em pacientes com histórico de doença renal, hipotensão arterial, sintomas do SNC (vertigem, sonolência, coma, convulsões) e do sistema cardiovascular (queda da pressão arterial, choque, arritmia cardíaca), além de reações em pele e mucosa, incluindo síndrome de Steven- Johnson e síndrome de Lyell. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 28 7.10 Derivados do ácido indolacético A indometacina é o principal representante da classe dos indóis. É indicada para o tratamento de artrite reumatoide, osteoartrite, alterações musculoesqueléticas (bursite, tendinite, sinovite) e dismenorreicas. Possui meia-vida prolongada, sendo metabolizada no fígado, e excretando-se 60% da dose pela urina. Além disso, essa substância está presente também no leite materno. Estrutura química da indometacina. Deve ser administrada após a alimentação, a fim de evitar irritação gástrica. Doses maiores do que 200 mg/ dia aumentam o risco de efeitos adversos. Devido a esses efeitos colaterais, como cefaleia, náuseas, vômito, efeitos hematológicos e vasoconstrição coronariana, essa substância não é útil para o manejo inicial da dor. O ácido acetilsalicílico pode diminuir os níveis plasmáticos de indometacina, enquanto a probenecida os eleva, sendo necessária a diminuição da dose no tratamento concomitante. A indometacina pode diminuir a ação anti-hipertensiva de betabloqueadores, diuréticos tiazídicos, da furosemida e do captopril, além de aumentar a ação dos hipoglicemiantes orais. 7.11 Derivados do ácido fenilacético O diclofenaco, um sal derivado da estrutura do ácido 2-aminofenilacético, é um inibidor não seletivo da cicloxigenase, que consequentemente diminui a biodisponibilidade do ácido araquidônico. É comercializado associado ao sódio (diclofenaco de sódio) ou ao potássio (diclofenaco potássico). Estrutura química do diclofenaco de sódio. Estrutura química do diclofenaco potássico. O pico de concentração médio dessas substâncias ocorre nos primeiros 90 minutos após a ingestão de um comprimido de 50 mg, em que metade do diclofenaco é metabolizado durante sua passagem pelo fígado (efeito de primeira passagem). Alimentos não apresentam interação relevante na absorção e na disponibilidadesistêmica da droga. Sua biotransformação ocorre principalmente por hidroxilação e metoxilação simples e múltipla, resultando em vários metabólitos fenólicos, cuja maioria é convertida a conjugados glicurônicos. Seus efeitos adversos acometem cerca de 20% dos pacientes, dada sua toxicidade sobre vários sistemas. Podem ocorrer distúrbios gastrointestinais, que podem ir do desconforto abdominal a úlceras, chegando ao sangramento, perfuração ou ao óbito, elevação dos níveis séricos de aminotransferases, que, por sua vez, elevam os índices de toxicidade, decorrentes da inibição da COX-1. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 29 Estima-se que 10 a 60% dos pacientes apresentam dispepsia, e que 5 a 10% interrompem o tratamento devido aos sintomas (dor abdominal, náusea e vômitos) ou, ainda, utilizam outros fármacos para alívio de tais sintomas, como os antagonistas de receptores H2 e os inibidores da bomba de prótons da célula parietal, que reduzem a secreção gástrica de ácidos, tais como omeprazol, ranitidina, cimetidina e lansoprazol. Os AINEs podem induzir ou agravar a hipertensão arterial ou provocar insuficiência renal, síndrome nefrótica, necrose papilar e outras formas de doença renal. São conhecidos os efeitos hematológicos, que incluem granulocitose, neutropenia, anemia hemolítica ou aplástica. Eles podem causar cefaleia, confusão, parestesia ou hepatotoxicidade. Os riscos são ainda maiores para pacientes acima do 60 anos, pois esses são mais suscetíveis a complicações severas, uma vez que acompanham linearmente a idade. 7.12 Derivados do ácido propiônico As drogas derivadas do ácido arilpropiônico possuem mecanismo de ação por meio da inibição das COX, com ação semelhante à da aspirina, devido aos seus efeitos analgésicos, antipiréticos e anti-inflamatórios, com a vantagem de não produzirem irritação gástrica. Estrutura química do ácido arilpropiônico. Os derivados do ácido arilpropiônico são, geralmente, quase totalmente absorvidos pelo intestino delgado superior após a administração oral, e possuem alta biodisponibilidade. Trata-se de ácidos orgânicos fracos, com um pKa de cerca de 4 a 5. No estômago, onde o pH é inferior a esse valor, as drogas são capazes de se difundir facilmente através das membranas biológicas, pois não ocorre ionização das moléculas. O resultado da elevação da concentração local contribui para o efeito colateral mais comum dos AINEs, a saber, o desconforto gastrointestinal. Essas drogas sofrem biotransformação hepática e apenas uma pequena percentagem da dose é excretada inalterada. Dentre seus derivados, somente o carprofen, o cetoprofeno e o ácido tiaprofênico sofrem circulação enterro-hepática, de forma que 30 a 40% da dose é excretada na bílis. A maior parte dos derivados de ácido arilpropiônico e os seus metabólitos são excretados quase inteiramente na urina, apesar de cerca de 20 a 40% de uma dose de ácido tiaprofênico carprofeno ser excretado nas fezes. Poucas interações medicamentosas clinicamente significativas estão associadas com a administração concomitante de derivados do ácido arilpropiônico e outras drogas. A administração conjunta de naproxeno e hipoglicemiante pode resultar em aumento do efeito hipoglicemiante. Assim como os demais AINEs, estas substâncias são contraindicadas a pacientes que tomam anticoagulantes orais, pois há risco de hemorragia gastrointestinal. 7.13 Derivados do aminofenol, para- aminofenol e anilina (paracetamol) Assim como a aspirina, o paracetamol (acetaminofeno) é uma das drogas analgésicas e antipiréticas mais utilizadas. É indicado para aliviar dor ligeira a moderada e como antipirético. Entretanto, essa droga proporciona apenas alívio sintomático, sendo preciso terapia adicional para tratar a causa da dor ou febre, quando necessário, com a vantagem não apresentar efeito sobre a agregação plaquetária. Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 30 Estrutura química do paracetamol (acetaminofeno). O mecanismo de ação dessa droga se dá pela inibição de COX periférica, e seus efeitos analgésicos ocorrem pela inibição da síntese de prostanoides no sistema nervoso central. Os efeitos antipiréticos são semelhantes ao da aspirina, reduzindo alterações na temperatura corporal por pirógenos ao inibir a síntese de PG. Seu uso é indicado quando a terapia com aspirina é desaconselhável, como em pacientes que fazem uso de anticoagulantes ou agentes úricos, pacientes com hemofilia ou outros problemas de sangramento, e aqueles com doença gastrointestinal superior ou intolerância ou hipersensibilidade à aspirina. O paracetamol é uma droga relativamente não tóxica quando utilizada em doses terapêuticas. Todavia, o uso combinado com outros medicamentos (como anti- histamínicos, descongestionantes nasais e agonistas opiáceos) deve ser evitado ou realizado somente sob orientação médica. Em muitos países, como Reino Unido, Índia, Dinamarca e Estados Unidos, o paracetamol é o agente farmacológico que mais causa intoxicações por superdosagem. Apesar de não apresentar os efeitos gastrointestinais que a aspirina provoca, é capaz de promover danos hepáticos e falência renal. Trata-se de uma droga rapidamente absorvida pelo intestino, pois o pico de concentração sérica ocorre em 1 a 2 horas após sua administração. Vinte por cento da droga ingerida é metabolizada no intestino e o restante sofre biotransformação hepática. A hepatotoxicidade pode ser resultante de ingestão excessiva única ou múltiplas. Indivíduos que fazem uso do álcool também apresentam hepatotoxicidade aumentada. Algumas formulações disponíveis comercialmente de acetaminofeno contêm sulfitos que podem causar reações alérgicas, incluindo anafilaxia e episódios asmáticos menos graves ou com risco de vida, em indivíduos mais sensíveis. A prevalência global da sensibilidade ao sulfito é desconhecida, mas parece ocorrer mais frequentemente em indivíduos asmáticos do que em não asmáticos. Erupções cutâneas (eritematosa ou urticária) e outras reações alérgicas podem ocorrer ocasionalmente. A administração concomitante de acetaminofeno com anticoagulantes orais (especialmente quando administrados em doses elevadas ou por períodos prolongados) pode potenciar os efeitos do anticoagulante oral, apesar de não exercer efeito direto sobre a agregação plaquetária. Com anticonvulsivantes (incluindo fenitoína, barbitúricos e carbamazepina), pode aumentar a toxicidade hepática induzida por acetaminofeno, devido ao aumento da conversão do fármaco para metabólitos hepatotóxicos. 7.14 Derivados da sulfonanilida A principal droga anti-inflamatória derivada da sulfonanilida é a nimesulida, um fármaco anti-inflamatório não esteroide pertencente à classe das sulfonanilidas, com propriedades antipiréticas, anti-inflamatórias e analgésicas. Estrutura química da nimesulida. Sua principal característica é a boa tolerabilidade gástrica, sendo utilizada no tratamento em curto prazo de doenças inflamatórias. Apresenta pKa em torno de 6,5 e pode se comportar como ácido ou base fraca em função Farmacologia e farmacoterapia da dor, inflamação e distúrbios reumáticos 31 do solvente, sendo praticamente insolúvel em água, o que confere a esse fármaco alta permeabilidade. É absorvida pelo trato gastrointestinal após 2 a 3 horas de sua administração, e sua concentração plasmática máxima é de 3 a 4 μg/mL para dose única de 100 mg. O tempo de meia-vida dessa droga varia de 2 a 5 horas. A nimesulida é quase completamente metabolizada e 50% da droga é eliminada pela urina. Apenas 1 a 3% da dose é eliminada na forma inalterada e cerca de 29% da dose é eliminada nas fezes. É considerada um medicamento seguro, uma vez que não há relatos na literatura de riscos para humanos; entretanto,
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