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Proteção Adm e Penal do Consumidor

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TÍTULO DO DOCUMENTO 1 
 
 
PROTEÇÃO ADMINISTRATIVA E PENAL DO 
CONSUMIDOR 
 Daniela de Oliveira Duque-Estrada de La Peña 
 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 2 
Parte I. Proteção administrativa do consumidor 
1. A Política Nacional das Relações de Consumo e a Defesa do 
Consumidor 
Da transformação da sociedade liberal individualista do final do Séc. XIX, em 
uma sociedade de massa, na segunda metade do Séc. XX, a consequente 
expansão de mercados consumidores face à necessidade de produção nos 
momentos pós-guerra, bem como do surgimento de complexos industriais 
militares emergiu a denominada sociedade de consumo, na qual prevalece o 
consumo de bens e serviços. 
No atual contexto socioeconômico, político e globalizado, o Código de Defesa 
do Consumidor forma um microssistema de normas, composto por uma 
interdisciplinaridade de matérias, tendo o legislador inserido no texto normativo 
um rol de sanções de natureza administrativa, sem prejuízo das de natureza 
civil, penal e das definidas em normas específicas. Tal assertiva decorre do fato 
de que a proteção do consumidor se configura como uma das diretrizes da 
ordem econômica. Neste sentido, assevera Cristiane Derani que “as normas de 
defesa do consumidor estão vinculadas à construção de políticas econômicas” 
(DERANI, Cristiane. Política nacional das relações de consumo e o código de 
defesa do consumidor. In: Doutrinas Essenciais de Direito do 
Consumidor. v. 1, p. 1359-1372, abr. 2011). 
Mister relembrarmos alguns temas de suma importância para a compreensão 
da tutela administrativa e penal do consumidor, dentre eles, a noção de ordem 
econômica. 
A partir da premissa de que a expressão “ordem”, para nós, significará o 
conjunto de valores e diretrizes voltado a uma mesma finalidade ou objetivo, 
podemos definir a “ordem econômica” como conjunto de normas, diretrizes e 
medidas de política pública voltado à organização das relações econômicas. 
Neste sentido, afirma Pasini que ordem econômica seja: 
 A distribuição de poder de disposição efetiva sobre bens e 
serviços econômicos que se produz consensualmente, 
segundo o modo de equilíbrio dos interesses, e à maneira 
como esses bens e serviços se empregam segundo o 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 3 
sentido desse poder fático de disposição que repousa 
sobre o consenso (PASINI, Apud GRAU, Eros Roberto. A 
Ordem Econômica na Constituição de 1988 
(Interpretação e Crítica). 3. e. São Paulo: Saraiva, 1997, 
p. 41). 
Dentre os princípios da Política Nacional das Relações de Consumo, podemos 
citar a educação e a informação de fornecedores e consumidores, quanto aos 
seus direitos e deveres, com vistas à melhoria do mercado de consumo de 
modo a garantir que a ação governamental, no sentido de proteger o 
consumidor pela presença do Estado no mercado de consumo, seja efetiva face 
ao reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo. 
Sob este prisma cabe salientar que, o Código de Defesa e Proteção do 
Consumidor categoriza-se precipuamente por tratar-se de norma de ordem 
pública e principiológica, o que significa que ele prevalece sobre as normas 
gerais e especiais anteriores. Consoante expõe expressamente o art.4º, da lei 
n.8078/1990, a Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o 
atendimento das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, 
saúde e segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da 
sua qualidade de vida, bem como a transparência e a harmonia das relações de 
consumo. 
 
2. O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor e as agências 
reguladoras na proteção do consumidor. 
2.1. O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor. 
O Sistema Nacional de Defesa do Consumidor reúne o conjunto dos órgãos administrativos 
ocupados da proteção do consumidor, consoante disposto no art.106, da lei n.8078/90 de 
modo a normativizar internamente o disposto na Recomendação da ONU n. 39/248, de 1985. 
 
O SNDC visa a articular a atuação dos órgãos administrativos de todos os entes federados e 
é coordenado pela União, através do DPDC/Ministério da Justiça. 
 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 4 
Acerca de suas competências, sustenta Bruno Nubens Barbosa Miragem de que não apenas 
os órgãos administrativos integrantes do SNDC têm competência para fiscalização das 
relações de consumo de que tratam a Lei 8.078/90, mas também os órgãos administrativos 
de controle e regulação setorial da atividade econômica privada, no âmbito de suas 
competências, devem aplicar as normas da Lei n.8078/90 quando da realização de atividades 
caracterizadas por relações de consumo, tais como as do Banco Central em relação à 
atividade bancária e financeira, na medida em que os contratantes nestas relações assumem 
a condição de consumidores. (MIRAGEM, Bruno Nubens Barbosa. A defesa administrativa do 
consumidor no Brasil. In: Doutrinas essenciais de Direito do Consumidor. v. 6, p. 935-
986, abr. 2011). 
Com relação à atribuição para aplicação de sanções administrativas pelo PROCON, na 
medida em que este configura autarquia integrante do Sistema Nacional de Defesa 
do Consumidor, vide ementa de decisão proferida pelo Tribunal de Justiça do Distrito 
Federal, in verbi: 
 DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO. PRÁTICA INFRATIVA. MULTA 
APLICADA PELO PROCON. PROCEDIMENTO ADMINISTRATIVO 
INSTAURADO. LEGALIDADE. APELO IMPROVIDO. 
 1. O Instituto de Defesa do Consumidor – PROCON/DF, como 
autarquia integrante do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, 
tem atribuição, autonomia e competência para processar, julgar e 
impor sanção ao fornecedor ou prestador de serviços que pratica 
conduta em afronta às normas de defesa do consumidor (art. 5º, XXXII 
da Constituição Federal). 
 2. O Decreto nº 2.181, de 20 de junho de 1997, que dispõe sobre a 
organização do Sistema Nacional de Defesa do Consumidor e 
estabelece as normas gerais de aplicação das sanções administrativas, 
prevê que é considerada prática infrativa a violação aos art. 39, V, e 
art. 42 da Lei nº 8.078/90. 
 3. O procedimento administrativo formal que gerou a aplicação da 
penalidade foi absolutamente respeitado, sem ofensa alguma aos 
princípios constitucionais do devido processo legal, da ampla defesa e 
do contraditório, razão pela qual não há que se falar em nulidade. 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 5 
 4. O valor da multa imposta afigura-se adequado, proporcional à 
capacidade econômica do apelante, atendendo ainda à finalidade 
pedagógica e inibidora, no sentido de desestimular a prática de tais 
atos. 
 5. Apelo improvido. (TJDF, Apelação Cível 20130111857420, Rel. JOÃO 
EGMONT, Segunda Turma Cível, julgado em: 10/06/2015) 
 ► Ainda, de acordo com o Sistema Nacional de Defesa do Consumidor, pode a 
Secretaria Nacional do Consumidor- SENACON, do Ministério da Justiça, celebrar convênios e 
termos de ajustamento de conduta. 
 
 
2.2. As Agências Reguladoras 
 
No que concerne às Agências Reguladoras, criadas sob a influência de um modelo norte-
americano descentralizador das funções inerentes à Administração Pública para a prestação 
de serviços públicos, estes são delegados mediante concessões e permissões de serviços 
públicos a setores da atividade privada. Podemos citar, à guisa de exemplo, Agência Nacional 
de Energia Elétrica (ANEEL), Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) e Agência 
Nacional de Telecomunicações (ANATEL). 
 
Interessante destacar a visão apresentada por Bruno Nubens Barbosa Miragem acerca da 
finalidade do poder de polícia administrativo exercido pelas Agências Reguladoras. Segundo 
o autor, esta reside, em apertada síntese, em evitar que um mal se produzisse a partir da 
ação de particulares. Desta forma, ele parte do confronto entrea “expressão do poder de 
polícia administrativo e a defesa do consumidor” de modo a comparar as atividades de 
controle exercidas pelas Agências Reguladoras sobre a atividade de prestação de serviço 
público e o poder de polícia, sendo aquelas, eminentemente, de caráter positivo por parte da 
Administração Pública, ao contrário, do poder de polícia, cujo caráter é negativo, na medida 
em que visa a limitar e a restringir as atividades. (MIRAGEM, Bruno Nubens Barbosa. A 
defesa administrativa do consumidor no Brasil. In: Doutrinas essenciais de Direito do 
Consumidor. v. 6, p. 935-986, abr. 2011). 
 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 6 
Podemos destacar, à guisa de exemplificação, sobre a atuação destas Agências Reguladoras, 
a fiscalização exercida acerca da incidência do princípio da boa-fé e consectárias 
características – transparência, lisura e idoneidade. 
 
 PROCESSUAL CIVIL ADMINISTRATIVO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. 
NEGATIVA DE SEGUIMENTO. ART. 557, CAPUT DO CPC. REJEIÇÃO. 
PRELIMINARES. REJEIÇÃO. MÉRITO. SISTEMA DE TELEFONIA MÓVEL 
TIPO PRÉ-PAGO. VALIDADE DOS CRÉDITOS DE ACORDO COM A 
LEGISLAÇÃO DO SETOR. INOCORRÊNCIA DE OFENSA A PRINCÍPIOS 
CONSTITUCIONAIS E AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. 
RECURSO DE APELAÇÃO PROVIDO. RECURSO ADESIVO. MAJORAÇÃO 
DE HONORÁRIOS. PREJUDCIADO. 
 1. Se a controvérsia posta nos autos não se encontra sumulada pelos 
Tribunais Superiores, havendo, em verdade, posicionamento 
jurisprudencial contrário ao entendimento firmado na r. sentença 
recorrida, não há como ser aplicada a regra inserta no artigo 557, 
caput, do Código de Processo Civil. 
 2. Reiteradas as preliminares de ilegitimidade passiva, de ilegitimidade ativa 
da proponente e inadequação da via eleita. Rejeição. 
 3. A Lei n° 9.472/97, atendendo ao disposto no artigo 21, inciso XI, da Carta 
Política, organizou os serviços de telecomunicações e criou o ente 
regulador do sistema, a ANATEL, autarquia federal que se tornou 
responsável pela regulamentação e fiscalização das atividades de 
telecomunicações em todo o país. É, portanto, da exclusiva 
competência das agências reguladoras estabelecer as estruturas 
tarifárias que melhor se adequem aos serviços de telefonia oferecidos 
ao consumidor. 
 4. Há um prévio ajuste estabelecido entre as operadoras e os consumidores 
do serviço de telefonia móvel pré-paga, pautando-se o contrato, nestes 
termos, pela transparência, lisura e idoneidade exigidas pelo princípio 
da boa-fé, o qual, por força do disposto no artigo 4°, inciso III, da Lei 
nº 8.078/90, deve orientar as relações de consumo. Assim, a cláusula 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 7 
contratual que institui a validade dos créditos não importa em violação 
às normas consumeristas ou a princípios constitucionais. 
 5. Recurso de apelação provido. 
 6. Recurso adesivo prejudicado. (TJDF, Apelação Cível 20020110790423, 
Primeira Turma Cível, Rel. Lécio Resende, julgado em 26/05/2010) 
 
3. Proteção administrativa do consumidor. Sanções Administrativas 
na proteção do consumidor. 
Nos itens anteriores, identificamos o Sistema Nacional de Defesa do 
Consumidor e as agências reguladoras na proteção do consumidor, logo 
descreveremos as sanções administrativas previstas nos art.55 a 60, da lei n. 
8078/1990. 
As sanções decorrentes do processo administrativo têm seu elenco estabelecido 
no art. 56, da lei n. 8078/1990, e são classificadas em pecuniárias, objetivas e 
subjetivas. 
 3.1. As sanções pecuniárias correspondem à imposição de multa, prevista 
no inciso I, do art. 56. 
O art.57, por sua vez, estabelece diretrizes para a aplicação da sanção de 
multa, quais sejam: gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição 
econômica do fornecedor de produtos ou serviços e será revertida ao Fundo de 
que trata a Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985, os valores cabíveis à União, 
ou para os Fundos estaduais ou municipais de proteção ao consumidor nos 
demais casos. A adoção dos referidos critérios é objeto de grande celeuma, nos 
procedimentos administrativos, nos quais é aplicada a multa face à 
“necessidade de fundamentação, embora reste evidenciado o caráter em boa 
parte das vezes discricionário desta avaliação” (MARQUES, Cláudia Lima, coord. 
Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2003, p. 771). 
Neste sentido, vide ementa de decisão proferida pelo Tribunal de Justiça de 
Minas Gerais, in verbi: 
 Ementa: APELAÇÃO CÍVEL - EMBARGOS À EXECUÇÃO 
FISCAL - INFRAÇÃO ÀS NORMAS CONSUMERISTAS - 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 8 
MULTA ADMINISTRATIVA (PROCON) - FALTA DE 
RESTITUIÇÃO DA QUANTIA PAGA POR PRODUTO 
VICIADO - ART. 18, DO CDC - POSSIBILIDADE DE 
APLICAÇÃO DA MULTA - CRITÉRIO DE APURAÇÃO - ART. 
57, DO CDC E ART. 22, XXIII e 26, I e VI, DO DECRETO 
Nº 2.181/97 - PRINCÍPIO DE LEGALIDADE - OFENSA - 
INEXISTÊNCIA - RECURSO DESPROVIDO. Estando viciado 
o produto adquirido pelo consumidor e não tendo a 
fornecedora sanado o vício, substituído o produto, 
restituído a quantia paga, devidamente corrigida ou feito o 
abatimento proporcional do preço, a sanção administrativa 
aplicada está amparada por norma legal prevista no 
Código de Defesa do Consumidor e no Decreto nº 2.181 
/97, não havendo que se falar em insubsistência da multa. 
A fixação do valor da multa às infrações ao Código de 
Defesa do Consumidor, nos limites legais (art. 57, 
parágrafo único, da Lei nº 8.078 /90, de 11.08.90), e de 
acordo com a gravidade da infração, vantagem auferida e 
condição econômica do fornecedor, deve ser mantida. 
(TJMG. Apelação Cível AC 10713120028673001. Data de 
publicação: 06/03/2015) 
 
► Sobre a obrigatoriedade da subsunção aos princípios da razoabilidade e 
proporcionalidade na aplicação da referida sanção, vide ementa de decisão 
proferida pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, in verbi: 
 Ementa: ADMINISTRATIVO. PROCON. MULTA. DEVIDO 
PROCESSO LEGAL. AMPLA DEFESA E CONTRADITÓRIO 
ASSEGURADOS. FORNECEDOR DE SERVIÇOS E 
INFRAÇÃO. PROVA SATISFATÓRIA. MULTA. ART. 56, I, 
CDC. PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA 
RAZOABILIDADE. REDIMENSIONAMENTO. Nenhuma 
nulidade há no procedimento administrativo em que 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 9 
observadas regras constitucionais e legais quanto às 
formalidades essenciais, assegurados ampla defesa, bem 
como contraditório, o que se evidencia na oferta de 
defesa e recurso administrativo, apresentando-se as 
decisões lançadas pela autoridade processante com 
minuciosa apreciação dos fatos e correta invocação dos 
dispositivos normativos pertinentes. Praticamente 
confessada a falta do banco fornecedor de serviços, em 
detrimento da consumidora, inobstante a atuação do 
PROCON, inafastável a imposição de penalidade. Na 
quantificação da multa, há de se observar o art. 56, I, 
CDC, preferencialmente não se atrelando a um único fator 
ou dele quedando-se como escravo, especialmente 
quando tal levar a afastamento dos ditames dos princípios 
da proporcionalidade e da razoabilidade, o que, no caso 
dos autos, justifica redução da multa. (TJRS, Apelação 
Cível Nº 70058743634, Vigésima Primeira Câmara Cível, 
Relator: Armínio José Abreu Lima da Rosa, Julgado em 
16/04/2014) 
3.2. As sanções objetivas relacionam-se a produtos e serviços e estão 
previstas nos incisos II a VI, do art. 56, e são as seguintes: apreensão do 
produto; inutilização do produto; cassação do registro do produto junto ao 
órgão competente; proibição de fabricação do produto e suspensão de 
fornecimento de produtos ou serviço. 
3.3. As sanções subjetivas relacionam-se à atividade do fornecedor, 
previstas nos incisos VII a XII, do art.56, são as seguintes: suspensão 
temporária de atividade; revogação de concessão ou permissãode uso; 
cassação de licença do estabelecimento ou de atividade; interdição, total ou 
parcial, de estabelecimento, de obra ou de atividade; intervenção administrativa 
e imposição de contrapropaganda. 
Com relação às sanções decorrentes da prática de publicidade enganosa da 
qual adveio o dever ao prestador de serviço de veicular contrapropaganda, na 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 10 
forma do art. 56, XII, vide ementa de decisão proferida pelo Tribunal de Justiça 
do Rio de Janeiro, in verbi: 
 CURSO SUPERIOR A DISTÂNCIA. CURSO NÃO 
RECONHECIDO PELO M.E.C. PROPAGANDA ENGANOSA. 
FALTA DE INFORMAÇÃO ADEQUADA. DEVOLUÇÃO DA 
QUANTIA PAGA. DANO MORAL. ORDINÁRIA. 
PUBLICIDADE ENGANOSA. OFERTA DE CURSO 
UNIVERSITÁRIO A DISTÂNCIA, SEM AVISO DE QUE A 
INSTITUIÇÃO NÃO SE ENCONTRAVA CREDENCIADA 
JUNTO AO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA - 
MEC. DEVER IMPOSTO AO PRESTADOR DE SERVIÇO DE 
VEICULAR CONTRAPROPAGANDA, NA FORMA DO ART. 
56, XII, DA LEI Nº 8.078/90. INFORMAÇÕES QUE HÃO DE 
OBSERVAR A MESMA AMPLITUDE E ÊNFASE, DE MODO A 
PERMITIR O CONHECIMENTO, PELOS CONSUMIDORES, 
TAL COMO A OFERTA ANUNCIADA. DESCUMPRIMENTO. 
RÉ QUE NÃO SE DESINCUMBIU DO ÔNUS QUE LHE 
COMPETIA, NO SENTIDO DE COMUNICAR AOS ALUNOS A 
AUSÊNCIA DO COMPETENTE RECONHECIMENTO DO 
CURSO MINISTRADO. CONDENAÇÃO NA DEVOLUÇÃO DO 
VALOR PAGO, CORRIGIDO MONETARIAMENTE E COM 
INCIDÊNCIA DE JUROS DE MORA, ALÉM DO PAGAMENTO 
DE INDENIZAÇÃO A TÍTULO DE DANO MORAL. 
IRRESIGNAÇÃO. RÉ QUE EM MOMENTO ALGUM NEGOU 
HAVER OFERECIDO CURSO UNIVERSITÁRIO A 
DISTÂNCIA, NÃO LOGRANDO AFASTAR SUA 
LEGITIMIDADE PASSIVA. DEVER DE INFORMAÇÃO 
INOBSERVADO. RESPONSABILIDADE IN RE IPSA. DANOS 
MORAIS. MONTANTE QUE NÃO MERECE REPARO, EIS 
QUE, ATENTO AOS PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E DA 
PROPORCIONALIDADE. RECURSOS CONHECIDOS, AOS 
QUAIS SE NEGA SEGUIMENTO, NA FORMA DO ART. 557, 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 11 
CAPUT, DO CPC (TJRJ, Apelação 0007376-
89.2009.8.19.0075, Decima Sexta Câmara Cível, Rel. Des. 
Mauro Dickstein, julgado em: 22/05/2013). 
► Insta salientar que o parágrafo único do respectivo dispositivo legal 
estabelece que estas sanções serão aplicadas pela autoridade administrativa, 
no âmbito de sua atribuição, podendo, ainda, serem aplicadas 
cumulativamente, inclusive por medida cautelar, antecedente ou incidente de 
procedimento administrativo. 
 
Parte II. A Tutela penal econômica nas relações de consumo 
1. A Tutela penal econômica nas relações de consumo 
A legislação brasileira dava ao consumidor, até 1990, um mero esboço de 
proteção contra os abusos praticados no mercado. Em decorrência deste fato, 
ao consumidor que desejasse se proteger das condutas dos fornecedores 
restava, frequentemente, apenas o recurso ao direito penal tradicional, 
igualmente moldado para reger relações pessoais e não relações de massa. 
Não que as normas penais, per se, conferissem ao consumidor as respostas 
esperadas, especialmente no âmbito de ressarcimento. Mas pelo menos 
serviam como resposta social – já que este é o valor principal da sanção penal - 
aos comportamentos ilícitos praticados no mercado e, não poucas vezes, 
funcionavam como instrumento de pressão para a solução do conflito no plano 
privado. 
Ademais, o Direito Penal, comum ou especial - antes mesmo do surgimento do 
movimento consumerista, e ainda sem reconhecer, expressamente, a figura do 
consumidor - já oferecia proteção a certos bens jurídicos próximos daqueles 
que hoje integram o Direito do Consumidor. O Código Penal, desde 1940, por 
exemplo, tutela a "saúde pública" com os crimes, entre outros, de alteração de 
substância alimentícia (art. 273), emprego de processo proibido ou de 
substância não permitida (art. 274), invólucro ou recipiente com falsa indicação 
(art. 275), substância avariada (art. 279) e medicamento em desacordo com 
receita médica (art. 280). A sua vez, a Lei 1.521, a partir de 1951, passou a 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 12 
proteger a "economia popular". 
Inicialmente, o Direito Penal não reconhecia sequer a existência da categoria 
“consumidor” denominando-o das mais variadas formas, como "comprador", 
"freguês", "público", "povo", "indivíduo" ou "parte" (Lei n. 1.521/51, arts. 2.º, 
II, VI, IX, parágrafo único e 4.º, "b"). 
► O Direito Penal “clássico” voltado até então a assegurar as garantias 
individuais referentes à vida, ao patrimônio e à liberdade de contratar, os 
“consumidores” viam-se isolados em frente aos demais agentes do mercado. 
Por desconhecer o consumidor como sujeito próprio, as normas penais se 
apresentavam de maneira assistemática, sem harmonia, deixando enormes 
lacunas onde o consumidor encontrava-se absolutamente desprotegido. 
►Entretanto, no bojo do desenvolvimento do Direito Penal Econômico, 
formou-se o Direito Penal do Consumidor. Direito ainda em formação e 
nascido antes do movimento consumerista, mas moldado e aperfeiçoado como 
uma de suas consequências, o direito penal do consumidor - ao oposto do que 
sucedia anteriormente com o Direito Penal clássico quando utilizado pelo 
consumidor - não tem uma natureza meramente supletiva em relação às 
normas privadas de proteção do consumidor. 
Atenção: Diferentemente do Direito Penal Clássico, o Direito Penal do 
Consumidor quando utilizado pelo consumidor, não possui apenas traço 
de subsidiariedade das normas de Direito Privado, mas sim a 
instrumentalidade. 
Daí que o direito penal do consumidor não pode ser estudado de maneira 
isolada, como mais um componente novo do Direito Penal. Sua análise há que 
ser feita no contexto sistemático do Direito do Consumidor, ambiente este que 
lhe cede fundamentos conceituais (a própria noção de consumidor e de 
fornecedor) e funcionais. 
1.1. O direito penal do consumidor: capítulo do direito penal 
econômico 
O direito penal do consumidor surge, em tempos recentes, como um capítulo 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 13 
do direito penal econômico. Sua existência se deve ao reconhecimento feito 
pelo legislador de que os abusos contra as relações jurídicas entre 
fornecedores, como agentes (sujeitos ativos), e os consumidores, como vítimas 
(sujeitos passivos), apresentam características particulares que exigem normas 
especiais, caracterizadas pelo "estabelecimento de deveres derivados da 
condição pessoal do autor". (TIEDEMANN, Klaus. Poder Económico y Delito. 
Barcelona: Ariel, 1998, p. 9). 
►Direito Penal Econômico 
Imperioso destacarmos algumas conceituações e a autonomia do Direito Penal 
Econômico. A definição de Direito Penal Econômico, ciência autônoma do 
Direito Penal, é objeto de controvérsia, pois não só visa a regular as relações 
jurídicas entre o Estado e os agentes econômicos de modo a fomentar a 
intervenção mínima estatal penal na ordem econômica vindo a tutelar não 
somente direitos supraindividuais, mas, também, direitos individuais 
decorrentes das relações econômicas e de mercado. 
Além da ausência de individualização das condutas e resultados lesivos, a 
criminalidade econômica, na sociedade globalizada, caracteriza-se como a 
criminalidade praticada pelos “econômica e politicamente poderosos” e que, 
portanto, tem o condão de desestabilizar toda a ordem econômica e, 
consequentemente, todo mercado de um Estado. 
Diferentemente da criminalidade clássica, na qual é possível a individualização 
das condutas e, precipuamente são lesionados bens individuais, a criminalidade 
econômica encontra-se inserida na denominada criminalidade moderna, 
segundo a qual, são tutelados bens jurídicos supraindividuais, sendo, 
consequentemente, impossível a delimitação da extensão de seus danos. 
Desta forma, nos crimes econômicos, o bem jurídico tutelado é a ordem 
econômica, ou seja, o conjunto de relações econômicas, que devem ser 
entendidas como um conjunto de regras e princípios relativos à produção, à 
distribuição e ao fornecimento de bens materiais suscetíveisde apreciação 
monetária e negociação, é evidentemente composta por bens jurídicos coletivos 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 14 
ou supraindividuais. 
Neste sentido, assevera Sandra Gomes Esteves que “As infrações penais 
econômicas são constituídas por violações à organização econômica do Estado, 
tipificadas criminalmente”. (ESTEVES, Sandra Gomes. Direito Empresarial – 
questões contemporâneas em coletânea. São Paulo: Singular, 2007) 
► Etapas do direito penal do consumidor 
A ideia de direito penal do consumidor como um conjunto de normas penais 
que visam a proteger o consumidor, no seu relacionamento com o fornecedor, 
já não é nenhuma novidade no Brasil, desde 1990, com a edição da Lei 
8.078/90. Em verdade, a história do direito penal do consumidor se confunde 
com a do próprio Direito do Consumidor. 
Durante muito tempo, era ao direito penal que o consumidor - ainda não 
batizado como tal – que recorria para fazer frente aos abusos dos fornecedores 
- também não identificados como tal. Sua trajetória mais recente, pelo prisma 
qualitativo, não vem acompanhando a revolução verificada no regramento 
jurídico privado das relações de consumo. 
1.2. O conceito de direito penal do consumidor 
► Pode-se genericamente definir o direito penal do consumidor como o 
ramo do direito penal econômico que, ao sancionar certas condutas 
praticadas no mercado, visa a garantir aos consumidores o respeito 
aos seus direitos que ajuda a orientar as relações com os 
fornecedores. 
► Seu objetivo principal, pois, é sancionar, como alavanca instrumental, 
certas condutas desconformes que ocorrem no relacionamento entre o 
consumidor e o fornecedor. 
► Entretanto, o direito penal do consumidor, protege não apenas o 
consumidor em si, mas a relação jurídica de consumo (CDC, art. 61), 
identificada como um bem jurídico autônomo (em relação a outros bens 
jurídicos), supraindividual e imaterial (não tem realidade material-naturalística). 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 15 
 
1.3. O objeto jurídico protegido nos crimes de relação de 
consumo 
► O objeto mediato de proteção jurídica nas relações de consumo é a 
coletividade, sendo clara a Constituição Brasileira de 1988 ao afirmar que o 
Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor (art. 5.º, XXXII, da 
CF/1988), sendo também princípio atrelado à ordem econômica enunciado no 
art. 170, V, da CF/1988. 
O objeto protegido figura-se, assim, destinado a um número 
indeterminado de pessoas - denominados consumidores -, que, no caso da 
relação de consumo, constitui imediata e obrigatoriamente o destinatário final 
do produto ou do serviço prestado, representando ser essa a razão essencial de 
distinção entre os bens jurídicos denominados de coletivos e os chamados 
difusos ou metaindividuais que não possuem categorização de tutela às vitimas. 
Inúmeros são os tipos penais atentatórios às relações de consumo, conduzindo 
à falsa sensação de que será pela via criminal que se resolverão os problemas 
atinentes às relações de consumo, figurando tal mensagem errônea. 
Atenção: Desta forma, o objeto jurídico protegido é a relação de 
consumo figurando como seu bem secundário a proteção ao 
patrimônio, à vida, à integridade física, que compõem a objetividade 
jurídica secundária. 
► Os tipos penais de relação de consumo protegem diretamente a relação 
jurídica de consumo, bem autônomo e imaterial, mas destinado à coletividade 
dos consumidores. 
► Os tipos penais de relação de consumo protegem indiretamente a 
interesses primários do indivíduo consumidor, tal como a vida, a integridade, 
psíquico-física, o patrimônio, entre outros. 
 
Há assim um interesse coletivo e um interesse do lesado 
particularmente com a atuação fruto da relação consumerista. 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 16 
Do exposto, verifica-se, portanto, que a essência dos delitos contra as relações 
de consumo deve estar na lesão ao interesse jurídico da coletividade, não 
pertencendo, necessariamente, ao tipo incriminador à lesão ou perigo de dano 
a eventual objeto material individualizado dos consumidores, sabedor que o 
sujeito ativo dos crimes contra as relações de consumo constitui o fornecedor 
ou o prestador de serviços, figurando como vítima primordialmente a 
coletividade e secundariamente o consumidor final. 
► Relativamente ao objeto material, consiste em ser o produto ou o serviço 
prestado. 
► Já o seu elemento subjetivo constitui-se no dolo de perigo, ou seja, na 
vontade livremente dirigida no sentido de expor o objeto jurídico a perigo de 
dano, cabendo-nos agora analisar os princípios constitucionais penais e a 
questão do direito administrativo sancionador como solução para o âmbito da 
relação de consumo, descriminalizando-se as condutas penais hoje existentes, 
restringindo-as à área do direito administrativo, reformulando sua estrutura 
visando conferir-lhe eficácia. 
2. Princípios constitucionais penais e sua relação com o direito do 
consumidor 
2.1. A Proteção Constitucional 
 Artigo 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de 
qualquer natureza, garantindo se aos brasileiros e aos 
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito 
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à 
propriedade, nos termos seguintes: 
 [...] 
 XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do 
consumidor; 
 Art. 170 A ordem econômica, fundada na valorização do 
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim 
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 17 
da justiça social, observados os seguintes princípios: 
 [...] 
 V defesa do consumidor; 
 [...] 
 Art. 48 - O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte 
dias da promulgação da Constituição, elaborará código de 
defesa do consumidor. 
O aumento da complexidade das relações sociais, característicos da sociedade 
contemporânea, somados ao aumento dos riscos que a sociedade de risco 
envolve fez com que surgisse a necessidade de proteger, pela via jurídica, bens 
jurídicos supraindividuais, dos quais se destacou para o legislador de alguns 
países, como o Brasil, a legislação penal garantista e dirigida ao consumidor. 
No Brasil, passados mais de 20 anos da edição da legislação criminal na seara 
do consumidor, constata-se que a lei criminal não garantiu proteção efetiva e 
real às relações de consumo, bem como dos direitos dos consumidores, não 
tendo havido qualquer repercussão criminal preventiva que justificasse a 
intervenção penal, sugerindo-se, com base nos princípios constitucionais 
consolidados pelos próprios pactos internacionais, pela enunciação de novos 
instrumentos para a defesa dos consumidores, primando por uma concepção 
minimalista atrelada a interferência punitiva apenas quando necessária e 
carente de sancionamento, de preferência administrativa, pregando pela 
dicotomia "menor intervenção e menor sofrimento individual", respeitando-se o 
princípio da dignidade da pessoa humana, fonte de todos os valores. 
►Em uma sociedade democrática, a criminalização ou a descriminalização de 
condutas atua conforme a compreensão e a presença dos conceitos de 
dignidade criminal e carência de proteção criminal. 
De acordo com o princípio da intervenção mínima, o preceito primário e a 
sanção penal somente serão impostos se presentes fatos que tenham 
ressonância e repercussão social, não fazendo sentido a incidência de qualquer 
sanção, quando ausente a necessidade de proteção à tutela penal. 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 18 
Carência de proteção penal, por outro lado, significa correspondência ao 
princípio da subsidiariedade do Direito Penal, da ultima ratio; do controle 
social, impondo-se sanção penal apenas quando impossívela eficácia à 
proteção social, por intermédio de outros ramos do Direito. 
► Como destaca Santiago Mir Puig, para proteger os interesses sociais, o 
Estado deve esgotar todos os meios menos lesivos que aqueles inseridos no 
Direito Penal, incidindo-se tão somente quando se constituir arma subsidiária. 
Quando nenhum outro instrumento for suficiente, legítima será a incidência da 
sanção penal. (PUIG. Santiago Mir. Derecho Penal. Barcelona: Bosch, 1979. 
p. 74). 
 
 A interferência do Direito Penal no campo das relações de 
consumo, diante do princípio da proporcionalidade, em sentido amplo, 
deve condicionar-se à sua necessidade, adequação e limitação de seus 
objetivos. 
Além dos aspectos de obediência formal - dos quais se destacam, em especial, 
os princípios da legalidade e tipicidade - imprescindível consiste a aferição dos 
três subprincípios da proporcionalidade em sentido amplo, classificados pela 
doutrina, como bem assevera Teresa Aguado Correa (CORREA, Teresa Aguado. 
El principio de proporcionalidad en derecho penal. Madrid: Edersa, s/d. 
p. 67-70). 
a) princípio da necessidade cuja consequência constitui o princípio da 
subsidiariedade; 
b) princípio da adequação, idoneidade ou suficiência; 
 c) princípio da proporcionalidade em sentido estrito. 
Dentre os instrumentos para a execução da política nacional das relações de 
consumo, sob o aspecto jurídico-penal, podemos citar, dentre outros, a criação 
de delegacias de polícia especializadas, no atendimento de consumidores, 
vítimas de infrações penais de consumo, e a manutenção de assistência 
jurídica, integral e gratuita para o consumidor carente paralelamente à criação 
e ao desenvolvimento das Associações de Defesa do Consumidor. 
3. Crimes de consumo. Origens na legislação Brasileira 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 19 
3.1. Origens na legislação brasileira 
 
Os primeiros crimes de consumo afloraram no Brasil com o advento do Dec.-lei 
n. 869/38, que resultou de projeto de Nélson Hungria, como dito no início deste 
trabalho, havendo ele remanescido no mais importante diploma penal que 
àquele sobreveio, qual seja, a Lei n./51 (LGL\1951\3), que ainda vigora, 
embora com diversos dispositivos revogados pela Lei n. 8.137/90. 
 ► A denominação que lhes emprestava o precitado Dec.-lei 869, 
mantida pela Lei 1.521, não era a de crimes contra as relações de consumo, 
mas, sim, a de crimes contra a economia popular. 
 ► A denominação era diferente da atual, mas o bem jurídico tutelado já era 
supraindividual, pois que se traduzia na economia popular entendida esta como 
“resultante do complexo de interesses econômicos domésticos, familiares e 
individuais, embora como fictio juris, constituindo-se, in abstracto, um 
patrimônio do povo, isto é, de um indefinido número de indivíduos, na vida em 
sociedade.” (OLIVEIRA, Elias de. Crimes contra a economia popular e o 
júri tradicional. Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1952. p. 9) 
► A Lei de Economia Popular, como sucede com os diplomas que definem 
crimes de consumo, tem em mira a proteção de interesses ideais, coletivos, que 
a quase todos pertencem, como membros da coletividade. Assim, protegendo 
diretamente o interesse metaindividual, acaba por proteger, obliquamente, os 
interesses individuais dos consumidores, seus naturais destinatários. 
A designação "crimes contra as relações de consumo" foi criada pelos autores * 
do Anteprojeto do Código de Defesa do Consumidor, aos quais tivemos a honra 
de emprestar subsídios na formulação dos crimes definidos no Código, 
resultando consagrada no art. 61, do CDC, e na Lei n. 8.137/90 (Autores do 
Anteprojeto do CDC: Ada Pellegrini Grinover, José Geraldo Brito Filomeno, 
Kazuo Watanabe, Zelmo Denari, Daniel Roberto Fink, Antônio Herman de V. 
Benjamin e Nélson Nery Júnior). 
Assim, sucintamente, podemos descrever a criminalização das condutas contra 
as relações de consumo no Brasil da seguinte forma: 
 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 20 
 
 
 
 
►Precedentes fraudes no comércio e estelionato; 
 crimes contra as marcas; 
 concorrência desleal e economia popular; 
 crimes contra a saúde pública. 
 
 
► Legislação Atual Lei n.8078/1990 – art. 61 a 80; 
 Lei n.8137/1990 – art.7º. 
 
3.2. Conceitos 
A proteção dos consumidores envolve as práticas que atentam contra a 
integridade das relações de consumo, as quais se estabelecem entre 
consumidores e fornecedores. 
► Os conceitos de consumidor e fornecedor, sujeitos da relação de 
consumo, estão previstos no Código de Defesa do Consumidor - Lei n. 
8.078/90. 
Lei n. 8.078/90. 
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que 
adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário 
final. 
Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a 
coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que 
haja intervindo nas relações de consumo. 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 21 
[...] 
 Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, 
pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os 
entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de 
produção, montagem, criação, construção, transformação, 
importação, exportação, distribuição ou comercialização 
de produtos ou prestação de serviços. 
 
3.3. Localização 
 
Devemos ter atenção a respeito da sistematização dos delitos contra as 
relações de consumo, pois estes estão previstos tanto no Código de Defesa do 
Consumidor quanto no rol de crimes contra a ordem tributária, econômica e 
contra as relações de consumo previstos na Lei n. 8137/90: 
● arts. 63 a 71 da Lei n.8.07890 
● art. 7.º da Lei n.8.137/90. 
Para fins de exemplificação acerca da descrição típica pelos dois 
microssistemas, seguem algumas decisões proferidas pelo Tribunal de Justiça 
do Rio de Janeiro: 
EMENTA. APELAÇÃO. PENAL E PROCESSUAL PENAL. 
Crimes contra as relações de consumo. Artigo 7.º, 
inciso IX da Lei n.º 8.137/90 c/c artigo 18, 
parágrafo 6.º da Lei n.º 8.078/90. Produtos 
impróprios ao consumo. Restaurante. Denunciada a 
gerente. Sentença de absolvição sumária com fulcro no 
artigo 397, inciso III, do Código de Processo Penal. 
Recurso do Ministério Público que visa ao recebimento da 
denúncia e ao prosseguimento do feito. Tipicidade que 
estaria comprovada no laudo de exame de material 
realizado por peritos criminais do Instituto de 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 22 
Criminalística Carlos Éboli. Produtos com rotulagem e 
embalagens impróprias, prazo de validade extrapolado e 
características organolépticas alteradas. Perigo iminente à 
saúde do consumidor configurado. Relevância penal do 
fato. Conduta típica. Indícios de autoria presentes, não 
sendo hipótese de responsabilidade penal objetiva. 
Materialidade delitiva caracterizada. Suporte probatório 
mínimo apto para a deflagração da ação penal. Recurso 
provido. (TJRJ, Apelação Crime n. 0414676-
94.2011.8.19.0001; PRIMEIRA CÂMARA CRIMINAL; Rel. 
DES. ANTONIO JAYME BOENTE; Julgamento: 19/12/2012) 
 
3.4. A lógica normativa da inserção de tipos penais no CDC 
Da mesma forma que nos demais casos de legislações extravagantes que 
versem sobre a proteção de bens jurídicos difusos e coletivos, não somente sob 
o aspecto penal, podemos questionar os critérios de política criminal adotados 
pelo legislador para fins de inserção de tipos penais no Código de Defesa e 
Proteção do Consumidor. 
 ► Segundo José de Faria Costa, autor português, a finalidade das penas, em 
se tratando do Direito Penal Econômico, é bem diferente daquela que dá 
sentido ao Direito Penal comum, pois: (Costa, José de Faria; Andrade, Manuel 
da Costa. Sobre a concepção e os princípios do Direito Penal Económico. In: 
Podval, Roberto (org.). Temas de Direito Penal Econômico. São Paulo: RT, 
2001, p. 99-120). 
 não se aplica o efeito ressocializador ao agente,na medida em que este 
é visto pela sociedade como símbolos do próprio sistema; 
 as penas pecuniárias não possuem eficácia, face ao contexto econômico 
no qual se encontra inserido o agente; 
 necessária a publicidade da decisão condenatória como pena acessória 
para fins de estigmatização. 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 23 
► Critérios norteadores da tipificação de condutas no CDC 
Para José Geraldo Brito Filomeno, tais critérios foram pautados nos seguintes 
parâmetros: (BRITO FILOMENO, José Geraldo. Código Brasileiro de Defesa 
do Consumidor Comentado pelos Autores do Anteprojeto. Rio de 
Janeiro: Forense Universitária, 1991, p. 417 e 418). 
1) Especialização, ou seja, a tipificação de condutas que dizem respeito à 
defesa do consumidor dentro das obrigações fixadas pelo Código de 
Defesa do Consumidor. 
2) Harmonização delas com as normas penais já existentes. 
3) Punição de comportamentos considerados de tal forma, graves, que 
seriam insuficientes meras sanções administrativas ou indenizações civis. 
4) Prevenção de novos delitos contra "as relações de consumo" (punitur 
ut ne pecetur). 
5) Efetividade das normas de natureza civil e administrativa do próprio 
Código, bem como de outras normas de proteção/defesa indireta e 
direta das "relações de consumo". 
 
► A função preventiva e a abstração do perigo de dano 
O direito penal do consumidor - assim como o próprio Direito do Consumidor - 
cumpre, idealmente, ao lado de seu caráter repressivo, uma função 
eminentemente preventiva. 
É por isso que o Direito Penal do consumidor busca, como todas as normas 
jurídicas de consumo, a prevenção das desconformidades mercadológicas. Não 
se contenta com a mera repressão. Reprimir, sim, mas, se possível, a tempo de 
evitar o dano. 
O interesse sancionatório manifesta-se em momento anterior ao aparecimento 
do dano, como demonstração de pavor extremado do sistema à ocorrência do 
resultado. E, em sede penal, como se sabe, tal só é exequível através da 
formulação de tipos de perigo, para cuja consumação não se exige, ou não se 
espera, a ocorrência do dano efetivo. A ilicitude da conduta decorre de sua 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 24 
mera manifestação, independentemente da produção de qualquer resultado 
danoso na realidade. 
► Os tipos penais de proteção ao consumidor, como regra e, em razão da 
presunção de perigo que carreiam, não exigem, para sua consumação, a 
realização de qualquer dano físico, mental ou econômico ao indivíduo-
consumidor. Todavia, no caso brasileiro, uma vez presente qualquer destas 
consequências gravosas, impõe-se, como derivação da autonomia do bem 
jurídico de consumo (CDC, art. 61), o concurso com tipos comuns (os arts. 121, 
129 e 171, p. ex.). 
As infrações de perigo abstrato - a regra absoluta nos crimes de consumo 
próprios - só mediatamente visam a resguardar bens jurídicos individuais e 
materiais como a vida, o patrimônio e a liberdade, pois, não há dúvida, 
protegendo o supraindividual tutelam o individual. 
Conclusão 
A abstração adotada através da utilização das normas de perigo, que visam a 
ampliar o sentido de bem jurídico protegido, permite classificar os delitos contra 
as relações de consumo como de perigo concreto ou de dano, relativamente à 
própria integridade da relação de consumo. 
Desta forma, as novas técnicas da normativização de conceitos, através da 
adoção de um funcionalismo e, portanto, menos subjetiva, buscam dotar o 
Direito Penal de mais previsibilidade e, consequentemente, permitir uma 
interpretação restritiva por parte do órgão julgador, na medida em visa à 
criação de padrões de comportamento, menos focados no animus do agente e 
sim, nas capacidades, deveres e conhecimento do agente (OLIVEIRA, Ana 
Carolina Carlos de. Hassemer e o Direito Penal Brasileiro. Direito de 
Intervenção, sanção penal e administrativa. 1. ed. São Paulo: IBCCRIM, 2013, 
p. 180 -181). 
► Ainda, no que concerne à prevenção de riscos e consequente tutela 
antecipada de determinados riscos que, no Direito Penal, configuram a adoção 
de normas penais de perigo, podemos falar em regras penais com conteúdo e 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 25 
racionalidade administrativas (idem, p 183-184). 
4. Crimes contra as relações de consumo. Crimes em espécie 
Especificamente em relação aos crimes de consumo, o legislador houve por 
bem estabelecer sanções penais, ao lado das civis e administrativas, não só 
para melhor garantir o cumprimento das regras que impõem deveres aos 
fornecedores, em contrapartida aos direitos básicos do consumidor, mas 
também em razão das consequências deletérias gravíssimas que podem 
resultar do descumprimento de certos deveres estatuídos no CDC, como, 
exempli gratia, o dever de informar o consumidor sobre a nocividade ou 
periculosidade de produtos ou serviços (art. 9.º, CDC), cuja inobservância pode 
gerar os chamados acidentes de consumo. 
Lei n.8078/90. Art. 9° O fornecedor de produtos e 
serviços potencialmente nocivos ou perigosos à saúde ou 
à segurança deverá informar, de maneira ostensiva e 
adequada, a respeito da sua nocividade ou periculosidade, 
sem prejuízo da adoção de outras medidas cabíveis em 
cada caso concreto. 
 
4.1. Os crimes do CDC e sua relação com o dever de informar 
(caveat venditor) 
 
Lei n.8078/90. Art. 6º São direitos básicos do 
consumidor: 
[...] 
 III - a informação adequada e clara sobre os diferentes 
produtos e serviços, com especificação correta de 
quantidade, características, composição, qualidade, 
tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos que 
apresentem; 
 ► Quase todos os tipos penais do CDC estão relacionados, sob os mais 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 26 
variados ângulos, com o tema da informação do consumidor. 
► Isso ocorre porque o direito à informação é, talvez, o mais importante dos 
direitos do consumidor. O Código do Consumidor, de forma expressa, estatui 
que é direito básico do consumidor "a informação adequada e clara sobre os 
diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, 
características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que 
apresentem" (art. 6.º, III, CDC). 
É assim com os delitos de oferta não publicitária enganosa (art. 66, CDC), 
de oferta publicitária enganosa ou abusiva (arts. 67 e 68, CDC), de 
cobrança irregular de dívidas (art. 71, CDC), de perturbação do acesso 
do consumidor aos arquivos de consumo (art. 72, CDC) e de não 
entrega de termo de garantia adequadamente preenchido (art. 74, 
CDC). 
Para tanto, vejamos a seguir, algumas decisões sobre o tema para fins de 
esclarecimentos: 
► Art. 66, Lei n. 8078/90 - oferta não publicitária enganosa 
Ementa: NULIDADE - ALEGAÇÕES FINAIS - INTIMAÇÃO 
DE DEFENSOR CONSTITUÍDO - PUBLICIDADE ENGANOSA 
- PROVA DEFICIENTE DA AFIRMAÇÃO FALSA OU DA 
OMISSÃO. 1. Não há qualquer nulidade pela falta de 
intimação de defensor, para apresentar alegações finais, 
quando o defensor é constituído pelo réu depois de mais 
de trinta dias da intimação deste, oportunidade em que as 
alegações já haviam sido oferecidas por defensor dativo 
nomeado pelo juiz, estando os autos já conclusos para 
sentença. 2. Anúncio confuso e de difícil interpretação não 
configura publicidade falsa ou enganosa. O tipo do art. 
66, da lei de proteção ao consumidor, objetiva 
punir os anunciantes comprovadamente 
mentirosos e de má-fé, que fazem afirmação 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 27 
claramente falsa ou omitem informação relevante. 
Preliminares rejeitadas e apelo provido no mérito, à 
unanimidade. (Apelação Crime Nº 70006020747, Quarta 
Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: 
Gaspar Marques Batista, Julgado em 26/06/2003). 
 
► Art. 67, Lei n.8078/90 – oferta publicitária enganosa. 
 
Ementa: HC - CONSTITUCIONAL - PROCESSUAL PENAL - 
CONSUMIDOR - DENÚNCIA -CONSÓRCIO - PUBLICIDADE 
ENGANOSA - A EXIGÊNCIA DO ART. 41, CPP SIGNIFICA 
DESCRIÇÃO DO FATOCOM TODAS AS SUAS 
CIRCUNSTÂNCIAS. A DENÚNCIA DEVE SER FORMAL E 
MATERIALMENTE HOMOGÊNEA. FORMAL, QUANDO 
AJUSTA A DESCRIÇÃO AOS FATOS; MATERIAL, DESDE 
QUE EXISTA UM MÍNIMO DE INDÍCIO, NO SENTIDO 
TÉCNICO DA PALAVRA, QUAL SEJA, FATO DO QUAL 
POSSA DECORRER A DEMONSTRAÇÃO OU A BUSCA DA 
EVIDÊNCIA DE OUTRO FATO. CONSÓRCIO E REUNIÃO DE 
PESSOAS QUE FORMAM POUPANÇA A FIM DE ADQUIRIR, 
COM PAGAMENTOS PARCELADOS, DETERMINADO BEM, 
CUJO PREÇO SERA UNIFORME PARA TODOS OS 
CONSORCIADOS, INDEPENDENTEMENTE DA DATA DE 
RECEBIMENTO DO BEM OBTIDO POR SORTEIO, OU 
LANCE. PUBLICIDADE ENGANOSA OU ABUSIVA E 
INDUZIMENTO DE TERCEIROS A ERRO PARA 
REALIZAR ALGUM NEGÓCIO JURÍDICO. COMO 
INFRAÇÃO PENAL, E FIM EM SI MESMA. ASSIM, NÃO 
RESTA CONFIGURADA QUANDO SE DESTINA A ATRAIR 
PESSOAS PARA ADERIR A CONSÓRCIO. ESTE E 
CONTRATO FORMAL. A PESSOA ATRAÍDA, ANTES DE 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 28 
FIRMAR A AVENÇA, TEM CONHECIMENTO DAS 
RESPECTIVAS CLÁUSULAS. EM SENDO ESTAS LEGAIS, 
NENHUM ILÍCITO SE CARACTERIZA. (STJ, HC 2553 / MG; 
SEXTA TURMA; Relator Ministro ANSELMO SANTIAGO; 
Relator P/ Acórdão. Ministro LUIZ VICENTE 
CERNICCHIARO. SEXTA TURMA. Julgamento em: 
29/08/1994) 
 
►Destarte, na linha do princípio jurídico de que a todo direito corresponde um 
dever, ao fornecedor incumbe o dever de informar sobre os produtos e 
os serviços que introduz no mercado de consumo. Passou-se da antiga 
regra do caveat emptor, segundo a qual incumbia ao consumidor informar-se 
sobre os produtos e os serviços, de sorte a resguardar-se quanto a eventuais 
riscos de erro sobre sua qualidade, quantidade, preço e outros aspectos, para a 
regra oposta do caveat venditor, em virtude da qual cabe ao fornecedor o 
dever de informar. 
E não podia ser diferente, pois ninguém conhece melhor o produto ou o serviço 
que o seu fornecedor, uma vez que é ele quem o produz ou executa. 
 
4.2. Conclusão 
O Direito do Consumidor não se sustenta sem um suporte implementador. De 
nada vale enunciar direitos para o consumidor se, ao mesmo tempo, não forem 
criadas formas eficazes de fazê-los respeitados. 
Cabe principalmente ao direito penal do consumidor, como capítulo do direito 
penal econômico, instrumentalizar esses novos direitos que o consumidor, 
universalmente, vem conquistando para que de forma racional e preventiva 
haja previsibilidade acerca do conteúdo das relações jurídicas bem como da 
adequação das necessárias informações acerca dos produtos e dos serviços 
colocados a cargo dos consumidores. 
► A criminalidade de consumo, não há dúvida, é danosa para ao ambiente 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 29 
socioeconômico e precisa ser severamente reprimida. Mas, para tanto, podem 
não ser suficientes os tipos tradicionais que, como decorrência do momento em 
que foram elaborados, não reconhecem o consumidor como sujeito com 
identidade própria. 
► A proteção eficiente do consumidor, no âmbito penal, só é possível através 
da formulação de crimes de consumo próprios. 
Foi esse o caminho adotado pelo Código Brasileiro de Defesa do Consumidor. 
Um primeiro passo que, entretanto, nada significa sem que os agentes do 
mercado e seus respectivos fiscais naturalizem a importância, a gravidade e a 
atualidade do problema. 
 
Parte III. A responsabilidade penal da pessoa jurídica 
 1. A responsabilidade penal da pessoa jurídica. Análise da 
jurisprudência dos Tribunais Regionais e Superiores 
 
A celeuma acerca da possibilidade da responsabilidade penal da Pessoa Jurídica tem 
por elemento nodal o disposto nos art. 225§3º e 173, §5º, ambos da Constituição da 
República de 1988, todavia, o entendimento predominante, a partir da adoção da 
Teoria da ficção jurídica de Savigny, é pela impossibilidade de se qualificar a pessoa 
jurídica como sujeito ativo de delito. 
TÍTULO VII 
Da Ordem Econômica e Financeira 
CAPÍTULO I 
DOS PRINCÍPIOS GERAIS DA ATIVIDADE ECONÔMICA 
 Art. 173. Ressalvados os casos previstos nesta Constituição, a 
exploração direta de atividade econômica pelo Estado só será 
permitida quando necessária aos imperativos da segurança 
nacional ou a relevante interesse coletivo, conforme definidos 
em lei. 
 [...] 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 30 
 § 5º - A lei, sem prejuízo da responsabilidade individual dos 
dirigentes da pessoa jurídica, estabelecerá a responsabilidade 
desta, sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, 
nos atos praticados contra a ordem econômica e financeira e 
contra a economia popular. 
 
CAPÍTULO VI 
DO MEIO AMBIENTE 
 Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente 
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia 
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à 
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as 
presentes e futuras gerações. 
 [...] 
 § 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio 
ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a 
sanções penais e administrativas, independentemente da 
obrigação de reparar os danos causados. 
 
Saliente-se que, pelo fato de o Direito Penal ser informado pelos princípios da 
responsabilidade penal subjetiva, da pessoalidade da pena e da culpabilidade, serão 
sujeitos ativos o empresário individual ou sócios integrantes da empresa comercial; 
jamais esta, por lhe faltar a consciência e vontade de atuar. 
 
Como bem assevera Luiz Regis Prado “não há que se confundir sujeito da ação e 
sujeito da imputação” [...], bem como [...] “a pessoa jurídica não possui capacidade 
de ação em sentido estrito; capacidade de culpabilidade; capacidade de pena” 
(PRADO, Luiz Regis. Direito Penal do Ambiente. 2 ed., 2009; p 120 e 121), razão 
pela qual não há que se falar em responsabilidade jurídico-penal da pessoa jurídica, 
ou seja, a responsabilidade pessoal dos dirigentes não se confunde com a 
responsabilidade da pessoa jurídica. 
 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 31 
No mesmo sentido, não há que se confundir incriminalização da pessoa jurídica pela 
prática de conduta típica, ilícita e culpável - que no nosso ordenamento jurídico não 
é possível -, com a responsabilização jurídico-penal, que é a nossa realidade 
denominada pela doutrina como responsabilidade ricochete, de origem francesa, ou 
responsabilidade indireta. 
 
 ► “A Constituição não dotou a pessoa jurídica de responsabilidade penal. Ao 
contrário, condicionou a sua responsabilidade à aplicação de sanções compatíveis 
com a sua natureza”. (BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. 
Parte I. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p 274-275). 
 
►Outra questão relevante a ser suscitada decorre da dimensão supraindividual dos 
bens jurídicos tutelados e, portanto, da própria política econômica do Estado, qual 
seja, a infração à ordem econômica exige que o sujeito ativo da infração detenha 
poder de mercado, isto é, o poder econômico capaz de, por seu abuso, restringir ou 
limitar a livre concorrência no mercado relevante (Neste sentido, vide PRADO, Luiz 
Regis. Direito Penal Econômico. São Paulo: Revista dos tribunais, 2004, p. 36 e 
37) 
 
► Luiz Regis Prado ainda discute acerca da incriminalização e responsabilização 
jurídico-penal - responsabilidade indireta, ou seja, não há que se confundir 
incriminalização da pessoa jurídica pela prática de conduta típica, ilícita e culpável – 
que, no nosso ordenamento jurídico não é possível, com a responsabilização jurídico-
penal, que é a nossa realidade denominada pela doutrina como responsabilidade 
ricochete, de origem francesa, ou responsabilidade indireta. 
 
Para Luiz Regis Prado a responsabilidade indireta, decorrente da responsabilidade 
penal atribuída ao agente que tenha praticado a conduta típica, ilícita e culpável 
configura-se como verdadeira responsabilidade penal objetiva.O referido autor 
explica a teoria da responsabilidade penal por ricochete: 
[...] através do mecanismo denominado emprunt de criminalité, feito à pessoa física 
pela pessoa jurídica, e que tem como suporte obrigatório a intervenção humana. 
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 32 
Noutro dizer: a responsabilidade penal da pessoa moral está condicionada à prática 
de um fato punível suscetível de ser reprovado a uma pessoa física. PRADO, Luiz 
Regis (Org.). Responsabilidade Penal das Pessoas Jurídicas: em defesa do 
princípio da imputação penal subjetiva. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p. 
123/124. 
 
Significa que a pessoa jurídica é uma realidade no mundo simbólico e não interfere 
na vontade do agente, seu representante, pois não possui o domínio final sobre o 
fato, logo é indispensável que a responsabilidade penal individual seja atribuída para 
fins de consequente imputação da responsabilidade penal do ente coletivo. 
 
 
Referências Bibliográficas: 
BENJAMIN, Antonio Herman de Vasconcellos, Claudia Lima Marques, Leonardo Roscoe Bessa. 
Manual de Direito do Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. 
MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no Código de Defesa dos Consumidores: o novo 
regime das relações contratuais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. 
MARQUES, Cláudia Lima, coord. Diálogo das fontes: do conflito à coordenação de normas no 
Direito Brasileiro. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. 
 
Ainda, sobre o tema vide ementas de decisões proferidas pelos Tribunais 
Estaduais e Superiores: 
 
STJ, HC 2553 / MG; SEXTA TURMA; Relator Ministro ANSELMO SANTIAGO; Relator P/ 
Acórdão. Ministro LUIZ VICENTE CERNICCHIARO. SEXTA TURMA. Julgamento em: 
29/08/1994, Disponível em: http://www.stj.jus.br 
 
TJRS, Apelação Cível Nº 70058743634, Vigésima Primeira Câmara Cível, Relator: 
Armínio José Abreu Lima da Rosa, Julgado em 16/04/2014, Disponível em: 
http://www.tjrs.jus.br. 
 
http://www.tjrs.jus.br/
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 33 
TJMG. Apelação Cível AC 10713120028673001. Data de publicação: 06/03/2015, 
Disponível em: http://www.tjmg.jus.br. 
 
TJDF, Apelação Cível 20130111857420, Rel. JOÃO EGMONT, Segunda Turma Cível, 
julgado em: 10/06/2015, Disponível em: http://www.tjdf.jus.br. 
 
TJRJ, Apelação 0007376-89.2009.8.19.0075, Decima Sexta Câmara Cível, Rel. Des. 
Mauro Dickstein, julgado em: 22/05/2013, Disponível em: http://www.tjrj.jus.br. 
 
 
BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR 
BENJAMIN. Antônio Herman V. Crimes de consumo no Código de Defesa do Consumidor. 
In: Revista de Direito do Consumidor 3/89 (DTR\1992\416). São Paulo: RT, 
dezembro/92. 
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de Direito Penal. Parte I. 16. ed. São Paulo: 
Saraiva, 2011, p 274-275. 
BRITO FILOMENO, José Geraldo. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor 
Comentado pelos Autores do Anteprojeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 
1991. 
CORREA, Teresa Aguado. El principio de proporcionalidad en derecho penal. 
Madrid: Edersa, s/d, p. 67-70. 
COSTA, José de Faria; ANDRADE, Manuel da Costa. Sobre a concepção e os princípios 
do Direito Penal Económico. In: PODVAL, Roberto (org.). Temas de Direito Penal 
Econômico. São Paulo: RT, 2001, p. 99-120. 
DERANI, Cristiane. Política nacional das relações de consumo e o código de defesa do 
consumidor. In: Doutrinas Essenciais de Direito do Consumidor. v. 1, p. 1359-
1372, abr. 2011. 
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. 6. ed. Lisboa: Editorial 
Presença, 1995, p. 23. 
ESTEVES, Sandra Gomes. Direito Empresarial – questões contemporâneas em 
coletânea. São Paulo: Singular, 2007. 
http://www.tjmg.jus.br/
http://www.tjdf.jus.br/
 
 TÍTULO DO DOCUMENTO 34 
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Revista de Direito do Consumidor, n. 7, p. 59-73, São Paulo, jul.-set./1993. 
LECEY, Eládio. “A tutela penal do consumidor e a criminalização da pessoa jurídica”. 
In: Revista AJURIS, p. 613-620, Porto Alegre, mar./1998, ed. esp., t. II. 
MARQUES, Cláudia Lima, coord. Comentários ao Código de Defesa do 
Consumidor. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003, p. 771. 
OLIVEIRA, Ana Carolina Carlos de. Hassemer e o Direito Penal Brasileiro. Direito 
de Intervenção, sanção penal e administrativa. 1. ed. São Paulo: IBCCRIM, 2013, p. 
180-181. 
OLIVEIRA, Elias de. Crimes contra a economia popular e o júri tradicional. Rio 
de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1952. 
PASINI, Apud GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na Constituição de 1988 
(Interpretação e Crítica). 3. ed. São Paulo: Saraiva, 1997, p. 41. 
PRADO, Luiz Regis. Direito Penal Econômico. São Paulo: Revista dos Tribunais, 
2004. 
PUIG. Santiago Mir. Derecho Penal. Barcelona: Bosch, 1979. 
RIZZATO NUNES, Luiz Antonio. Comentários ao Código de Defesa do 
Consumidor. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2012. 
STRECK, Lênio Luiz. Do garantismo negativo ao garantismo positivo: a dupla face do 
princípio da proporcionalidade. In: Juris Poesis. Revista do Curso de Direito da 
Universidade Estácio de Sá, ano 8, n. 7, Rio de Janeiro, jan. 2005, ISSN 1516-6635-
225, p. 256 
TIEDEMANN, Klaus. Poder Económico y Delito. Barcelona: Ariel, 1998.

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