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Controle de Constitucionalidade no Brasil

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DIREITO CONSTITUCIONAL 
CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
Parte I 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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1. CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE 
1.1. Introdução 
O controle de constitucionalidade somente é possível em países que adotam Constituição 
escrita e rígida. 
Constituição rígida, como sabemos, é aquela que prevê um processo de alteração de seu texto 
mais dificultoso e solene se comparado ao exigido para a alteração das demais normas 
infraconstitucionais. É o caso da CF de 1988, que, em seu art. 60, prevê um quórum 
qualificado e um processo legislativo mais rígido para as Emendas Constitucionais. 
 A rigidez é consequência do princípio da supremacia formal da Constituição, dela decorrendo 
a concepção de controle e de escalonamento normativo. 
Ora, sabemos que a CF ocupa o vértice do ordenamento jurídico, funcionando como norma 
de validade para os demais atos normativos. Exige-se, assim, que todo as normas (inclusive as 
emendas constitucionais) estejam formal e materialmente de acordo com o texto 
constitucional. 
Para aferir esta compatibilidade, faz-se necessária a previsão de órgãos de controle 
constitucional, bem como de mecanismos aptos à sua efetivação. 
1.2. Teoria da Nulidade 
A doutrina majoritária brasileira adotou a teoria da nulidade quando da declaração de 
inconstitucionalidade das leis, por influência do direito norte-americano. De acordo com tal 
teoria, a declaração de insconstitucionalidade é ato meramente declaratório, pois a lei já teria 
“nascido morta”. 
A lei inconstitucional, portanto, seria nula e de nenhum efeito (equiparação entre 
inconstitucionalidade e nulidade). Afirmava-se, em favor dessa tese, que o reconhecimento 
de qualquer efeito a uma lei inconstitucional importaria na suspensão provisória ou parcial da 
Constituição. 
Em sentido contrário a esta teoria, preconizava Kelsen que, em verdade, a decisão seria 
constitutiva, em clara defesa de uma teoria da anulabilidade da norma inconstitucional. 
Teoria da anulabilidade Teoria da nulidade 
Sistema austríaco (Kelsen) Sistema norte-americano (Marshall) 
Decisão constitutiva – efeitos ex nunc 
(prospectivos) 
Decisão declaratória – efeitos ex tunc 
(retroativos) 
Inconstitucionalidade é aferida, como regra, 
no plano da eficácia 
Inconstitucioanlidade é aferida, como regra, 
no plano da validade 
Lei inconstitucional é ato anulável Lei inconstitucional é ato nulo, ineficaz, 
írrito e, portanto desprovido de força 
vinculativa 
 
 
 
 
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Lei provisoriamente válida, produzindo 
efeitos até a sua anulação 
Lei natirmorta, com invalidação ab initio dos 
atos praticados com base na lei 
inconstitucional, atingindo-a no berço 
Preservam-se os efeitos até então produzidos Como a lei nasceu morta, sequer entrou no 
plano da eficácia, não produzindo efeitos 
 
Razões de segurança jurídica podem revelar-se, no entanto, aptas a justificar a não aplicação 
do princípio da nulidade da lei inconstitucional, modulando-se os efeitos da declaração de 
inconstitucionalidade. 
 [...] sem abandonar a doutrina tradicional da nulidade da lei 
inconstitucional, é possível e, muitas vezes, inevitável, com base no 
princípio da segurança jurídica, afastar a incidência do princípio da 
nulidade em determinadas situações. Não se nega o caráter de 
princípio constitucional ao princípio da nulidade da lei 
inconstitucional. Entende-se, porém, que tal princípio não poderá ser 
aplicado nos casos em que se revelar absolutamente inidôneo para a 
finalidade perseguida (casos de omissão ou de exclusão de benefício 
incompatível com o princípio da igualdade), bem como nas hipóteses 
em que a sua aplicação pudesse trazer danos para o próprio sistema 
jurídico constitucional (grave ameaça à segurança jurídica). (STF. RE 
364.304 AgR, voto do rel. min. Gilmar Mendes, j. 3-10-2006) 
 
1.2. Princípios Estruturantes da Ordem Constitucional Brasileira 
a) Rigidez constitucional: advém da classificação da estabilidade da Constituição, 
elaborada por Lord James Bryce (1901). Bryce reconheceu que a classificação 
tradicional entre constituição escrita e não escrita era muito falha, já que não 
representava a verdade. Nossa Constituição, por exemplo, está deixando de ser uma 
constituição escrita codificada para se tornar uma constituição escrita esparsa, já que 
boa parte dos textos das emendas não entra no texto consolidado, sem falar nos tratados 
internacionais que versam sobre direitos humanos aprovados pelo rito legislativo de 
emenda. 
A classificação é falha também pois sempre temos elementos não escritos que fazem 
parte da constituição (a exemplo do previsto no art. 5º, § 2º, que versa sobre a 
interpretação e extensão dos direitos fundamentais). 
Assim, a constituição escrita contém também elementos não escritos, enquanto a não 
escrita contém também elementos escritos. 
Bryce chamou de constituição rígida aquela que, para ser alterada, exige processo mais 
rígido do que o necessário para as leis ordinárias; enquanto que na flexível, o processo 
de alteração é igual para a CF e para as leis infraconstitucionais. 
http://www.stf.jus.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?SEQ=389712&processo=364304&classe=RE%2DAgR&cod_classe=539&origem=IT&recurso=0&tip_julgamento=&ementa=2254
http://www.stf.jus.br/jurisprudencia/IT/frame.asp?SEQ=389712&processo=364304&classe=RE%2DAgR&cod_classe=539&origem=IT&recurso=0&tip_julgamento=&ementa=2254
 
 
 
 
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A importância dessa classificação para o controle se dá porque, se o processo legislativo 
para alterar a CF e para as leis é o mesmo, não há qualquer diferença entre lei e norma 
constitucional. Logo, toda lei pode contrariar e alterar a constituição, sem que se possa 
falar em inconstitucionalidade. 
b) Supremacia da Constituição: a CF está situada em nível hierárquico superior a todas 
as demais normas sem caráter constitucional, não podendo estas contrariá-la. É o 
fundamento do ordenamento jurídico, aquilo que Kelsen chamava da gründnorm, 
encontrando-se no topo da pirâmide. 
c) Controle de constitucionalidade: é o mecanismo que serve para complementar nosso 
sistema constitucional, pois serve para retirar do ordenamento a lei incompatível com 
a constituição. O controle de constitucionalidade tem três funções: 
i. Política: controle do exercício do Poder manifestado pela elaboração de leis. 
ii. Legislativa negativa: quando o Poder Judiciário declara a inconstitucionalidade 
das normas, está causando a retirada de leis do ordenamento. 
iii. Contramajoritária: o exercício do controle se impõe contra a vontade da 
maioria, já que as leis foram elaboradas pela vontade indireta do povo, 
teoricamente. 
A ideia de controle de constitucionalidade nasceu com esses propósitos; adquiriu, entretanto, 
outras dimensões hoje em dia, já que pode ser feito o controle para reafirmar uma lei (ADC), 
para dar plena efetividade à Constituição, suprindo a omissão dos poderes constituídos (ADPO 
e MI) e para reafirmar os preceitos fundamentais (ADPF). 
 
1.3. Origens do Controle de Constitucionalidade da Lei 
1.3.1. Antecedentes Remotos 
a) Antecedentes gregos: séculos V a IV a.C. GRAPHÉ PARANOMÓN. Toda vez que 
a assembleia do povo aprovava uma moção ou decreto que contrariasse as leis 
fundamentais, qualquer um do povo poderia acusar o proponente da norma e os que 
a aprovaram. Isso porque as leis (nómos ou nomói) deveriam sempre prevalecer sobre 
o decreto (prefisma). Ademais, de acordo com Comparato, haviam leis não escritas, 
heranças dos antepassados, decorrentes da cultura, que tinham mais importância até 
do que as nomói, chamadas de AGRAPHÓI NOMÓI. A legitimidade daquelas 
consistia justamente em sua conformidade com estas, das quais eram simples 
especificações. 
b) Antecedentes romanos: as leis tinham que ser aprovadas pelo Senado, quando votadas 
em comício. O Senado podia vetar as leis caso não fossem obedecidasas formalidades 
legais exigidas. 
c) Antecedentes ingleses: tratava-se da anulação das leis do parlamento por contrariarem 
o direito natural que fundamentava a Common Law, ou por ferirem a equidade ou a 
razão. Menciona-se o caso Forbes VS Cochrane, de 1.624, no qual foi defendida a 
 
 
 
 
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tese que o direito inglês era natural e revelado por Deus, não podendo ser contrariado 
pelo homem, afirmando-se, assim, que todo homem é igual, não se podendo subsistir 
a escravidão em solo inglês. 
d) Antecedentes coloniais: colônias portuguesas regidas pelo Código Filipino, século 
XVII, o qual autorizava o administrador da colônia a ignorar as normas coloniais caso 
fossem contra uma ordenação do reino. Já nas colônias inglesas, várias leis coloniais 
foram consideradas nulas, pois contrariavam a ordenação inglesa. 
1.3.2. Antecedentes Próximos 
Eles têm como marcos o constitucionalismo francês e o norte-americano. As colônias norte-
americanas, após a independência, se tornaram uma confederação, com um tratado e com 
constituições próprias. 
a) Período confederativo norte-americano: em 1776, as colônias se tornaram 
independentes da Inglaterra, especialmente em função da questão tributária. A 
confederação foi formada em 1781, com a assinatura do tratado entre as 13 colônias. 
Nesse período, em 1780, o Poder Judiciário de Nova Jersey declarou nula uma lei que 
contrariava a sua constituição. A Suprema Corte da Carolina do Norte, em 1787, 
declarou inválida uma lei que contrariava o tratado internacional de formação da 
confederação. 
b) Período federativo: a federação foi formada em 1787, com a primeira constituição 
codificada mais antiga em vigor. A CF limitava os Poderes, resguardando as decisões 
raras do povo (constituição), quando em choque com as decisões cotidianas dos 
governantes, inclusive como proteção contra uma possível tirania contra a maioria. O 
processo de ratificação da constituição somente terminou em 1891, com 10 emendas 
que incluíram o Bill of Rights, emenda de proteção dos direitos fundamentais. A 
constituição não previu expressamente o controle de constitucionalidade das leis. 
Porém, previa que ela seria a lei suprema do país, estando os juízes de todos os estados 
a ela sujeitos, ficando sem efeito qualquer disposição em contrário. Houve forte debate 
entre a adoção ou não do federalismo. Foram escritos, então, o Artigos Federalistas, 
por Hamilton, entre outros, o qual disse que era dever do Judiciário declarar nulos 
todos os atos contrários à constituição. 
i. O caso Marbury Vs Madison: não foi o primeiro caso de controle de 
constitucionalidade (judicial review), porém é o mais famoso e foi o primeiro 
que tratou da constitucionalidade de uma lei federal face à constituição. Em 
1803, o partido federalista perdeu as eleições, tomando posse o novo 
presidente Thomas Jefferson. O partido federalista quis conseguir uma maneira 
de continuar no poder, manipulando Jefferson. Para isso, foi aprovada uma 
norma nomeando vários juízes, os quais teriam a função de apoiar o partido 
no âmbito Judiciário (chamados de “juízes da meia noite”, já que a norma foi 
aprovada na surdina), que tinha como principal expoente o então presidente 
John Marshall. Um dos juízes designados, William Marbury, não conseguiu 
ser nomeado a tempo por falta de documentação. Quando Jefferson assumiu, 
 
 
 
 
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nomeou como secretário James Madison, o qual não quis empossar Marbury. 
Este entrou com um writ of mandamus contra Madison na Suprema Corte, 
visando a obter a nomeação. Este remédio era previsto numa lei do congresso, 
o qual seria julgado pelo ex-presidente John Marshall, que tinha sido nomeado 
para presidente da Suprema Corte por Jefferson. Por ordem deste, John não 
poderia nomear Marbury. Assim, decidiu: Marbury tinha direito, porém a ação 
que ele utilizou foi criação de uma competência advinda de lei federal, 
enquanto somente uma emenda constitucional poderia atribuir nova 
competência à Suprema Corte. Logo, ele afirmou que a Corte é suprema, que 
a lei feria a constituição e que era, portanto, nula. 
A ideia de controle de constitucionalidade foi, então, ganhando força. Hans Kelsen colaborou 
em muito para tal, ao estabelecer o significado de constituição em sentido jurídico 
(ordenamento jurídico). Inclusive, foi ele quem previu a concentração do controle de 
constitucionalidade (controle abstrato e concentrado). 
 
1.3.3. Modelos de Controle no Direito Comparado 
Existem quatro grandes modelos no mundo Ocidental sobre o Controle de 
Constitucionalidade, sendo que em um deles não há Controle de Constitucionalidade 
formalmente estabelecido. São os modelos: inglês, francês, austríaco-alemão, e o modelo 
norte-americano. 
a) Modelo Inglês: 
No Reino Unido, como não existe uma Constituição escrita e rígida, não é possível 
estabelecer o Princípio da Supremacia Formal da Constituição, pressuposto para controle. 
O conceito de Constituição no Reino Unido é, nestes termos, apenas material, dado que não 
há uma Constituição organizada formalmente. Substitui-se, assim, o Princípio da Supremacia 
da Constituição, pelo da Supremacia do Parlamento. 
O Parlamento, no Reino Unido, deve ser bem compreendido, pelo fato de que os três órgãos 
de poder, tais como nós conhecemos, tem representação nesse Parlamento. Bem, para 
começar, o Parlamento congrega o Poder Legislativo em duas câmaras: a câmara baixa, que é 
a câmara dos comuns, e a câmara alta que é a câmara dos lordes. Então, o Poder Legislativo 
normalmente estabelecido no Parlamento Inglês. Como o Reino Unido adota o sistema de 
governo Parlamentarista, o gabinete, incluindo o Primeiro Ministro, é formado por 
parlamentares. Então, pode-se dizer, que o Poder Executivo tem representação na câmara dos 
comuns, uma vez que o Poder Executivo é integrado por parlamentares. 
O órgão de cúpula do Judiciário Inglês é formado por lordes, e tem assento na câmara dos 
lordes. Assim, considerando que os três órgãos de poder da formatação de Montesquieu 
encontram assento no Parlamento Inglês, isso seria suficiente para garantir que as leis estejam 
adequadas com o costume e a jurisprudência. 
 E se a lei não estiver adequada? 
http://www.suapesquisa.com/biografias/montesquieu.htm
 
 
 
 
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O instrumento é a revogação. Deve ser editada uma nova lei, revogando aquela que contraria 
o senso comum da sociedade inglesa. 
Vale registrar, no entanto, que desde 2008 os Tribunais Ingleses começaram a praticar o 
Controle de Validade, que não é propriamente um Controle de Constitucionalidade, porque 
o paradigma não é a Constituição, mas sim a Carta Europeia de Direitos Humanos. Tal 
mercanismo já resultou na invalidação de algumas leis promulgadas pelo Parlamento Inglês. 
Essa prática tem sido feita na avaliação de casos concretos, inserindo os Tribunais Ingleses em 
um tipo de jurisdição de Controle de Validade, não necessariamente de jurisdição 
constitucional. 
b) Modelo Francês: 
Por razões culturais e históricas, os franceses têm muita dificuldade de entender como pode o 
Juiz, que não é legitimado pelo voto, invalidar a vontade da maioria dos representantes do 
povo. Trata-se de um aspecto político muito forte na concepção francesa contra a 
possibilidade do Judiciário invalidar, formalmente, uma lei já aprovada pelo Congresso. 
Depois da Revolução Francesa, houve uma opção pelo sistema da Separação dos Poderes, 
radical, que impede que o Judiciário analise questões de natureza política. Essas questões, 
dizem os franceses, devem ser da atribuição do Poder Executivo e Poder Legislativo. Permitir 
que o judiciário invalide leis aprovadas pelo Congresso e sancionadas pelo Presidente seria 
uma invasão de atribuição, violando a separação de poderes. 
 Mas a lei francesa fica sem qualquer tipo de análise? 
Não, não fica. A constituição francesa prevê a possibilidade de um projeto de lei, antes de ser 
sancionado pelo Presidenteda República, ser analisado por um órgão político, que é o 
CONSELHO CONSTITUCIONAL, para que ele se pronuncie sobre a adequação daquele 
projeto em relação à Constituição Francesa. 
Não se trata, portanto, de um controle judicial. Mas sim de um Controle de 
Constitucionalidade Preventivo Político. É um controle político, porque não é exercido pelo 
Poder Judiciário. É um controle preventivo, porque é realizado antes do aperfeiçoamento da 
lei, enquanto ela ainda é um projeto. 
Destaque-se que a provocação do Conselho não pode ser feita por qualquer um, apenas pela 
Assembleia, pelo Senado e pelo Presidente da República. 
Se o Conselho Constitucional se pronunciar pela validade do projeto de lei, ele mesmo assim 
pode ser negado pelo Presidente da República, por motivo de falta de relevância do projeto. 
Mas, se o Conselho Constitucional se pronunciar pela inconstitucionalidade do projeto, o 
Presidente da República não pode sancionar. Em virtude disso, diz-se que o pronunciamento 
do Conselho é parcialmente vinculante. 
A partir da Reforma Constitucional 724/08, a França passou a contar com um sistema 
repressivo de controle de constitucionalidade. O conselho constitucional foi autorizado a 
declarar a inconstitucionalidade de normas que atentem contra direitos e liberdades garantidos 
pela Constituição francesa, mediante provocação do conselho de estado ou corte de cassação. 
 
 
 
 
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Ademais, incluiu-se um mecanismo análogo à modulação de efeitos da declaração de 
inconstitucionalidade. 
c) Modelo Norte-Americano: 
A principal característica do constitucionalismo norte-americano é a concepção de 
Supremacia da Constituição. A CF norteamericana é escrita, formalizada e bastante rígida. 
Diante do espírito prático dos americanos, o Controle de Constitucionalidade para eles, nada 
mais é do que uma atividade que qualquer Juiz pode exercer, quando se depara com um 
conflito normativo, e uma das normas é superior à outra. Então o que nós estudamos aqui, 
entre os mecanismos de solução de conflito aparente de normas, que é o conflito da hierarquia, 
os norte-americanos deságuam no Controle de Constitucionalidade com a maior naturalidade. 
Se o Juiz se depara, na solução de um fato ou conflito entre duas normas, e uma norma é 
constitucional, afasta-se a aplicação da outra norma legal que com ela é incompatível, pela 
aplicação do método positivista da hierarquia, e aplica-se a Constituição. 
Para os norte-americanos, como é da competência de qualquer Juiz aplicar a norma ao fato, 
qualquer Juiz pode fazer o Controle de Constitucionalidade. Daí a denominação: método 
difuso, competência difusa, competência difundida. Para os norteamericanos não há muito 
sentido em fazer isso em tese. Tem que haver algum motivo específico, um caso concreto 
subjacente. 
O Controle de Constitucionalidade, portanto, tem natureza subjetiva. Ele existe para a solução 
de casos. 
E aí, vocês poderiam perguntar: Isso é uma bagunça, não é? O Juiz acha que a lei é 
constitucional, o outro acha que a lei é inconstitucional. No primeiro momento sim, no 
primeiro momento o Juiz exerce a sua competência, e podem surgir entendimentos diferentes. 
Todavia, no modelo anglo-saxônico, os precedentes geram vinculação aos órgãos inferiores. 
Então, decidida a questão POR UM TRIBUNAL, todos os órgãos inferiores estão vinculados 
àquele precedente (sistema do stare decisis - precedentes de vinculação obrigatória), 
conferindo estabilidade ao sistema. 
Apesar de o controle ser feito tendo por base o caso concreto, somente é considerado 
precedente a RAZÃO DE DECIDIR. É a razão de decidir que vincula os inferiores, e não 
o resultado do julgamento. É a fórmula de raciocínio que foi seguida para se chegar àquela 
conclusão, não é a conclusão em si. É importante nós compreendermos isso, para depois 
entendermos qual é a diferença entre o efeito vinculante e o efeito erga omnes. O efeito 
vinculante, o precedente vinculante, conta com uma determinada forma de raciocínio, a razão 
de decidir é que vincula, não é o resultado, se houve uma condenação ou absolvição, uma 
declaração, ou modificação de direito. Então é isso que vincula (motivo), não é o resultado 
que vincula. 
Os EUA só se tornaram uma federação em 1787. De 1776 até 1787, durante 11 anos, eram 
uma confederação, uma união precária de estados soberanos. Nós poderíamos dizer que, 
durante esses onze anos, Nova Iorque era um país. Então, eram nações, eram estados que, 
através de um tratado, resolveram fazer defesa comum, e etc. Em 1787, quando fizeram um 
 
 
 
 
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congresso para discutir a alteração dessas cláusulas de tratado, acabaram saindo desse congresso 
com uma Constituição, criando um país: os Estados Unidos da América do Norte. E essa 
Constituição desse país novo, um Estado Federal, e não mais uma união confederada, teve 
que ser ratificada pelas Assembleias. 
Isso é importante dizer, porque como os Estado Unidos foram formados por agregação, as 
Cortes de cada estado eram Supremas Cortes. Então, o Controle de Constitucionalidade já 
era exercido em vários estados da federação norte-americana, quando os Estados Unidos foram 
criados. A Suprema Corte dos Estados Unidos, na realidade, ela nasce como uma Suprema 
Corte da União. E o que nós chamamos de Tribunal de Justiça aqui no Brasil, nos Estados 
Unidos tem a denominação de Suprema Corte do Estado da Flórida, Suprema Corte do 
Estado de Nova Iorque. Principalmente nesses estados tradicionais, a Flórida não é um estado 
tradicional, a Flórida é um estado que passou a integrar a federação norte-americana já no 
século XIX. Mas, aquelas treze ex colônias norteamericanas, os estados criadores dos Estados 
Unidos, tinham Supremas Cortes que são mais antigas do que a Suprema Corte Norte-
Americana. E essas Supremas Cortes já tinham experiência em Controle de 
Constitucionalidade, nesse modelo que foi colocado aqui no quadro. 
O primeiro caso da Suprema Corte da União é o caso Marbury v. Madison. Mas o caso 
Marbury v. Madison, não é o primeiro caso de Controle de Constitucionalidade dos Estados 
Unidos. Quando ocorre o caso Marbury v. Madison em 1801, as Supremas Cortes Estaduais, 
já praticavam há décadas o Controle de Constitucionalidade, não foi nenhuma novidade o 
Controle de Constitucionalidade no caso Marbury v. Madison. A importância que o caso 
Marbury v. Madison tem não é judicial. A importância é política. É o estabelecimento da 
Suprema Corte como órgão de poder, nos Estados Unidos, garantindo a supremacia da 
Constituição da República. 
Acho que vale a pena falar do caso Marbury v. Madison, rapidamente, até para que a gente 
entenda. Na virada do século XVIII para o XIX, foi eleito Thomas Jefferson como presidente 
norteamericano. Essa eleição do Thomas Jefferson foi uma eleição emblemática, porque o 
partido dele, além de ter conquistado a presidência da República, passando a ter o Poder 
Executivo, tinha a maioria, dois anos, na Câmara dos Representantes. Então, o partido passou 
a ter supremacia tanto no Executivo, quanto no Legislativo. E o partido perdedor, não era 
ainda democrata republicano, ele pressentiu que passaria por um determinado momento de 
atraso, e aproveitou para, através do Judiciário, manter algumas posições políticas. 
Esses últimos dias do governo que saía foram dias intensos para marcar essa posição política. 
Como os Juízes Federais não eram concursados, eram Juízes nomeados, nos últimos dias do 
governo foram nomeados setenta Juízes Federais, exatamente porque já se sabia que os Juízes 
iriam fazer Controle de Constitucionalidade. Então, nomeando-se Juízes simpáticos a um 
determinado partido, aqueles Juízes serviriam como contenção da legislação introduzida pelo 
partido que estava chegando ao poder. 
Esses Juízes foram nomeados, e alguns conseguiram tomar posse. Outros não tomaram posse. 
Um dos Juízes nomeados, que não tomou posse foi Marbury, que foi nomeado comoJuiz 
Federal em Washington. James Madison, que depois vem a ser Presidente norte-americano, 
http://en.wikipedia.org/wiki/William_Marbury
http://pt.wikipedia.org/wiki/James_Madison
 
 
 
 
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é nomeado por Thomas Jefferson como seu Secretário de Estado. Ele é nomeado como 
Secretário de Estado, a quem cabia dar posse aos Juízes. Marbury, então, impetra, através de 
uma ação muito parecida com o nosso Mandado de Segurança, ele apresenta uma demanda 
contra Madison que é o Secretário de Estado, encarregado de dar posse, sob o fundamento 
de que quem foi nomeado, tem o direito de ser empossado. 
Então, o caso Marbury v. Madison, tem como pano de fundo, o alegado direito à posse do 
cargo de Juiz. Uma lei dava competência à Suprema Corte Norte-Americana, para julgar esses 
mandados em que figurasse no polo passivo, um Secretário de Estado. Mas não havia previsão 
constitucional para isso. A questão do Controle de Constitucionalidade é se uma lei deve criar 
competência para a Suprema Corte. 
Bem, trazendo o caso para o Brasil. Uma lei poderia fixar competência para o Supremo 
Tribunal Federal? Uma lei pode criar competência? Lei número tal: o Supremo Tribunal 
Federal, a partir de agora, tem competência para... Não pode. Então, a questão que foi julgada 
no caso Marbury v. Madison, é se essa competência para julgar uma ação contra um ato do 
Secretário de Estado, se ela está adequada em relação à Constituição. Então, a questão do 
Controle de Constitucionalidade foi uma questão de verificação de validade de uma lei que 
criava competência específica para a Suprema Corte Norte-Americana. 
O que há de interessante aqui no caso, também, é que o Secretário de Estado que saiu do 
governo foi Jonh Marshall, que foi dando posse aos Juízes nomeados que ele conseguiu. No 
último dia de governo, Marshall foi nomeado Presidente da Suprema Corte, dentro dessa 
intenção política de aparelhar o Judiciário para resistir às investidas políticas. Então o Marshall, 
que era Secretário de Estado, foi nomeado Presidente da Suprema Corte, ele que estava 
envolvido nesses casos da posse. Na Suprema Corte Norte-Americana, até hoje, não há 
distribuição de processo. Todos os processos que chegam à Suprema Corte Norte-Americana, 
até hoje, são da competência do Presidente da Suprema Corte, não distribuição. Relator não 
existe. Então, esse processo foi distribuído para o Presidente da Suprema Corte, Jonh Marshall. 
Ele se deu por suspeito? Não, não se deu por suspeito. Em um raciocínio processual normal, 
o que se julga primeiro: preliminares ou mérito? Obviamente, as preliminares. A questão da 
fixação da competência da suprema Corte para julgar esse tipo de ação, é uma questão 
preliminar de competência. Então, a questão do Controle de Constitucionalidade, envolvia 
uma questão preliminar. O Thomas Jefferson avisou ao Marshall, que se ele determinasse a 
continuidade da posse daqueles Juízes, ele fecharia a Suprema Corte Norte-Americana. O 
Marshall, então, premido por isso, resolveu não enfrentar o Presidente Norte-Americano. O 
que ele fez? Ele preferiu perder a batalha do que perder a guerra. A guerra, para ele, era fixar 
que a Suprema Corte Norte-Americana fosse o órgão responsável para dar a última palavra 
sobre o que é a Constituição Norte-Americana, fazendo com que a Suprema Corte fosse um 
órgão do poder realmente, o que é hoje. 
O que ele fez? Ele inverte. No voto dele, ele começa a falar do mérito: quem foi nomeado, 
tem direito a tomar posse. No entanto, aí ele vai para a preliminar, não é da competência da 
Suprema Corte julgar a questão, uma vez que a lei não pode dar a competência à Suprema 
Corte. Como o Thomas Jefferson teve o resultado que queria, ele teve que cumprir a decisão 
http://pt.wikipedia.org/wiki/John_Marshall
 
 
 
 
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da Suprema Corte. Com isso, gerou um precedente de que até mesmo o Presidente Norte-
Americano, tem que cumprir as decisões da Suprema Corte. Esse que foi o lance genial do 
Jonh Marshall. Ao entregar aquela ação, e perder aquela batalha, ele fixou que a Suprema 
Corte Norte-Americana, das suas decisões, vincula até mesmo o Presidente da República que, 
até então, era tido como o super poder nos Estados Unidos. 
Então, esse que é o lance de genialidade dele. Ele aceita perder politicamente aquela questão, 
para fixar o que a Suprema Corte Norte-Americana passa a ser, a partir desse julgamento. É 
genial esse julgamento aí, mas as questões são birutas. Alguém que era Secretário de Estado se 
torna Presidente da Suprema corte, e não é considerado suspeito em uma questão dessas, 
enfim. Mas esse é o caso Marbury v. Madison. Esse é o primeiro caso de Controle de 
Constitucionalidade na Suprema Corte da União Norte-Americana. Sendo que nas supremas 
Cortes Estaduais já se praticava o Controle de Constitucionalidade, não era novidade fazer 
isso. 
 d) Modelo Austríaco-alemão: 
O quarto modelo de jurisdição constitucional é o modelo austríaco-alemão, uma criação da 
genialidade do Hans Kelsen, que conseguiu convencer a Assembleia Constituinte da Áustria 
em adotar esse mecanismo de controle da Constituição Austríaca de 1929, e passou a figurar 
na Constituição Alemã logo depois da Segunda Guerra Mundial, na Lei Fundamental de Bonn 
em 1949. 
Quando a Alemanha adota o mecanismo de Controle de Constitucionalidade idealizado por 
Kelsen, ele passa a ser replicado em outras Constituições, e hoje é adotado pela Constituição 
Espanhola, pela Constituição Portuguesa, pela Constituição Italiana, e também pela 
Constituição Brasileira, através de mecanismos de controle abstrato. 
Kelsen imagina esse sistema de controle, já no século XX. O caso Marbury v. Madison é de 
1801. Então, ele está observando mais de cem anos de funcionamento da jurisdição 
constitucional norte-americana. E ele sabia o seguinte: a jurisdição norte-americana só dava 
certo porque havia estabilidade dos precedentes vinculantes. Na Áustria não se adotava o 
precedente vinculante, é um sistema romano-germânico de Direito, como é o brasileiro. Se 
uma decisão do Tribunal não necessariamente vincula um órgão inferior, haveria uma crise 
de constitucionalidade, se fosse dada a qualquer Juiz a possibilidade de fazer o Controle de 
Constitucionalidade. 
Então Kelsen tem a perspicácia de verificar que a jurisdição constitucional norte-americana só 
dá certo por causa do sistema de precedentes vinculantes, que não seria adequado ao sistema 
jurídico romano-germânico. Ele então imagina que o Controle de Constitucionalidade deve 
ser de atribuição exclusiva de uma Corte, a chamada Corte Constitucional, e não ser da 
competência difundida de qualquer Juiz ou Tribunal. Para ele, então, a competência para 
dirimir as questões que envolvam a jurisdição constitucional é uma competência concentrada 
em uma Corte que não deve ser integrada por Juízes, é uma Corte que tem natureza política, 
cujos integrantes devem exercer mandato. Mandato longo, mas mandato. E realmente, na 
Europa, esse mandato varia de dez a doze anos, dependendo do país. Os integrantes, então, 
não devem ser vitalícios. 
 
 
 
 
13 
 
Como o sistema jurídico é um sistema romano-germânico, as decisões devem ter efeito erga 
omnes, isto é, sua conclusão deve ser vinculante para todo o Judiciário, para todo o 
Legislativo, para todo o Executivo, para toda a sociedade. PREOCUPADO COM A 
ESTABILIDADE DAS RELAÇÕES SOCIAIS, QUE PODIAM TER SIDO 
ESTABELECIDAS ANTES DA DECLARAÇÃO DA INCONSTITUCIONALIDADE, 
KELSEN SUSTENTA QUE A DECISÃO PELA INCONSTITUCIONALIDADE, DEVE 
TER EFEITO EX NUNC, dali em diante. Ele se opõe, portanto, à teoria norte-americana 
de que o ato inconstitucional é nulo desde o início. Para ele, a inconstitucionalidade surge 
com o pronunciamento da Corte. 
Portanto, há uma diferença em como a escola norte-americana encara a natureza do ato 
inconstitucional. Para os norte-americanos, a inconstitucionalidade gera uma nulidadecom 
efeito ex tunc, efeito para o passado. Para o Kelsen, a inconstitucionalidade gera efeito ex 
nunc, o efeito prospectivo, dali em diante. Para os norte-americanos, a decisão sobre 
inconstitucionalidade, como apenas ratifica algo que já existe, é uma decisão declaratória. O 
Judiciário declara a inconstitucionalidade. Para o Kelsen, como a própria decisão é 
fundamental para invalidar a lei, a decisão tem natureza constitutiva. 
Modelo norteamericano Ex tunc Natureza declaratória 
Modelo austríaco-alemão Ex 
nunc 
Natureza constitutiva 
 
E Kelsen afirma: enquanto o Congresso cria a lei positivamente, cabe à Corte Constitucional, 
retirar a lei do mundo jurídico. Portanto, diz Kelsen, ela deve atuar como legislador negativo. 
O legislador que não cria, mas que retira a lei do ordenamento. É o legislador ao contrário, 
mas cuja decisão produz efeito contra todos, abstrato, geral. Da mesma maneira que a lei 
produz efeito geral e abstrato, a decisão da Corte também deve produzir efeito geral e abstrato. 
Portanto ela é um legislador ao contrário, um legislador negativo. 
Para o Kelsen, os Juízes não devem ter competência para dirimir a questão do controle. Se o 
Juiz se depara com a impossibilidade de decidir diante de um conflito entre normas, ele deve 
suspender o caso e provocar a Corte Constitucional. 
O sistema brasileiro é um sistema híbrido: mistura o modelo norte-americano e o austríaco. 
E o presidente do supremo tribunal federal, ainda quer introduzir o modelo francês. 
 
1.4. Espécies de Inconstitucionalidades 
1.4.1. Quanto ao Objeto 
a) Por ação: atuação inconstitucional, modificação no mundo material, seja por um ato 
normativo, seja administrativo. 
b) Por omissão: é o não agir, a não legislação ou a não feitura de um ato administrativo. 
 
 
 
 
14 
 
1.4.2. Quanto à Natureza do Vício 
a) Material (ideal ou nomoestática): ato normativo cujo conteúdo viola os preceitos das 
normas de caráter constitucional. Ex.: lei discriminatória que afronta o princípio da 
igualdade. 
b) Formal (nomodinâmica): ocorre quando a lei ou o ato normativo infraconstitucional 
contiver vício em seu processo de formação, seja porque não seguiu o processo 
legislativo constitucionalmente previsto, seja porque não foi iniciado por um dos 
legitimados. Subdivide-se em: 
1. Subjetiva: vício de iniciativa. Ex: presidente tem iniciativa exclusiva nas matérias 
constantes do art. 61, § 1º, CF. Impende ressaltar que o vicio de iniciativa formal 
não pode ser convalidado pela sanção presidencial. Para o STF, o vício de 
iniciativa é insanável. 
O vício de iniciativa pode se manifestar de maneira autônoma ou incidental a 
eventual projeto de lei. Autonomamente, quando, por exemplo, a iniciativa 
legislativa originária desrespeita matérias reservadas a outros legitimados. 
Incidentalmente, quando, em matéria de iniciativa reservada, há emendas ao 
projeto de lei que amplie despesas ou inclua matéria sem estreita pertinência 
com a originalmente tratada. É o chamado “contrabando legislativo”. Sobre o 
tema, relevante o seguinte julgado: 
A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é firme no sentido de que o Poder 
Legislativo pode emendar projeto de iniciativa privativa do chefe do Poder Executivo, 
desde que não ocorra aumento de despesa e haja estreita pertinência das emendas com 
o objeto do projeto encaminhado ao Legislativo, mesmo que digam respeito à mesma 
matéria. (STF. ADI 3655, j. 03/03/2016) 
Ainda no que se refere a vício de iniciativa, deve-se destacar que, nos termos da 
jurisprudência do STF, não há imposição constitucional de reserva de iniciativa 
em relação à emendas à Constituição Federal. Assism, qualquer dos legitimados 
a deflagrar o processo legislativo especial pode propor emenda constitucional 
para tratar de qualquer tema, mesmo que, no âmbito infraconstitucional, tal 
matéria esteja reservada a algum legitimado específico. 
É possível que emenda à Constituição Federal proposta por iniciativa parlamentar trate 
sobre as matérias previstas no art. 61, § 1º da CF/88 (Iniciativa privativa do PR). As 
regras de reserva de iniciativa fixadas no art. 61, § 1º da CF/88 não são aplicáveis ao 
processo de emenda à Constituição Federal, que é disciplinado em seu art. 60. (STF. 
ADI 5296 MC/DF, j. 18/5/2016 - Info 826). 
Por outro lado, em se tratando de emenda à Constituição Estadual, a iniciativa 
reservada decorrente da Constituição Federal deve ser observada. Em outras 
palavras: “matéria restrita à iniciativa do Poder Executivo não pode ser regulada 
por emenda constitucional de origem parlamentar”. 
 
 
 
 
15 
 
[...] Incabível, por emenda constitucional, nos Estados-membros, que o Poder 
Legislativo disponha sobre espécie reservada à iniciativa privativa dos demais Poderes 
da República, sob pena de afronta ao art. 61 da Lei Maior. Precedentes. IV – O poder 
constituinte derivado decorrente tem por objetivo conformar as Constituições dos 
Estados-membros aos princípios e regras impostas pela Lei Maior. Necessidade de 
observância do princípio da simetria federativa. (STF. ADI 1521, j. 19/06/2013) 
 
A iniciativa de ato legislativo relativo ao regime jurídico dos servidores militares 
estaduais é reservada ao Chefe do Poder Executivo estadual por força no art. 61, § 1º, 
II, f, da Constituição Federal, ainda que se trate de emenda à Constituição estadual. 
4. Vício de iniciativa. (STF. ARE 657984 AgR-terceiro, j. 17/03/2015) 
 
CUIDADO PARA NÃO CONFUNDIR!1 
É possível emenda constitucional de iniciativa parlamentar tratando sobre os assuntos que, em 
caso de propositura de projeto de lei, seriam de iniciativa reservada ao chefe do Poder 
Executivo (art. 61, § 1º, da CF/88)? 
• Emenda à Constituição Federal proposta por parlamentares federais: SIM. 
• Emenda à Constituição Estadual proposta por parlamentares estaduais: NÃO. 
 
Por que existe essa diferença de tratamento entre emenda à Constituição Federal e emenda à 
Constituição Estadual? 
O poder constituinte estadual não é originário. É poder constituído, cercado por limites mais 
rígidos do que o poder constituinte federal. A regra da simetria é um exemplo dessa limitação. 
Por essa razão, as Assembleias Legislativas se submetem a limites mais rigorosos quando 
pretendem emendar as Constituições Estaduais. Assim, se os Deputados Estaduais apresentam 
emenda à Constituição Estadual tratando sobre os assuntos do art. 61, § 1º, da CF/88 eles 
estão, em última análise, violando a própria regra da Constituição Federal. 
2. Objetiva (ou inconstitucionalidade formal propriamente dita): inobservância do 
processo legislativo em si, nas fases posteriores à iniciativa legislativa. Trata-se, 
portanto, de vício no procedimento de elaboração da norma. Ex: desobediência 
ao quórum de aprovação de LC ou de EC; Projeto de Lei que não volta para a 
casa revisora após emenda que ocasione alteração substancial, ofendendo o 
princípio do bicameralismo federativo (do contrário, trata-se de mera emenda 
de redação). 
3. Por violação aos pressupostos objetivos do ato normativo: são vícios externos ao 
processo legislativo, mas vinculados a ele. Ex: não observância dos requisitos de 
urgência e relevância para a edição da MP; criação de município por lei estadual, 
 
1 Fonte: Dizer o Direito. 
 
 
 
 
16 
 
sem observar os requisitos previstos no art. 18, § 4º, da CF (plebiscito e estudo 
de viabilidade). 
4. Orgânica: decorre da inobservância da competência legislativa para a elaboração 
do ato. Ex.: Lei estadual que impõe a prestação de serviço de segurança em 
estacionamento a toda pessoa física ou jurídica que disponibilize local para 
estacionamento é inconstitucional, por violar a competência privativa da União 
para legislar sobre direito civil. 
c) Por vício de Decoro Parlamentar: nomenclatura utilizada por Pedro Lenza, por ofensa 
ao art. 55, § 1º CF, vez que macula a essênciado voto e o conceito de 
representatividade popular. Ex: compra de votos (mensalão). 
A violação formal somente ocorre depois de finalizado o processo legislativo, ou seja, depois 
de o projeto de lei se transformar em lei ou da aprovação da PEC. Depende, pois, o vício da 
existência do ato normativo. Segundo Gilmar Mendes, basta a conclusão definitiva do 
processo legislativo, podendo ser objeto de controle a norma perfeita, válida, ainda que não 
eficaz (ADI 466/91). Nesse sentido, posiciona-se Marcelo Alexandrino pelo cabimento do 
controle durante o período de vacatio legis, sendo suficiente que a norma já integre o 
ordenamento jurídico. 
Destaque-se, ainda, que a mera violação de Regimento Interno, não consubstancia 
irregularidade suficiente para detonar o controle de constitucionalidade. 
Nesse diapasão, importante ressaltar a ideia de NORMA CONSTITUCIONAL 
INTERPOSTA, de Gustavo Zagrebelsky, trazida por Gilmar Mendes em seu voto 
monocrático em sede de medida cautelar (MS 26.915 MC/DF). A questão diz respeito ao 
controle prévio de constitucionalidade exercido pelo Poder Judiciário sobre projetos de atos 
normativos. 
Como se sabe, o parlamentar, e somente este, tem o direito subjetivo de participar de um 
processo legislativo em conformidade com a CF, em decorrência prática do art. 60, § 4º, da 
CF, que veda a deliberação de emenda tendente a abolir os bens protegidos em seus incisos. 
Na hipótese de desrespeito ao devido processo legislativo, caberá o controle judicial, quando 
provocado, pela via da exceção - de modo incidental, portanto. 
Pois bem. 
Conforme aponta Lenza, Gilmar Mendes no indigitado voto afirmou que "se as normas 
constitucionais fizeram referência expressa a outras disposições normativas, a violação 
constitucional pode advir da violação dessas outras normas, que, muito embora não sejam 
formalmente constitucionais, vinculam os atos e procedimentos legislativos, constituindo-se 
normas constitucionais interpostas. Nesses termos, acolhendo-se a ideia de normas 
constitucionais interpostas, poderia o STF exercer controle preventivo de constitucionalidade 
por violação a regimento interno de alguma das Casas do Congresso Nacional. 
 
 
 
 
17 
 
 
1.4.3. Quanto à Extensão do Vício 
a) Total: todo o ato normativo ou administrativo é inconstitucional. A 
inconstitucionalidade formal sempre leva à inconstitucionalidade total, ao passo em 
que a inconstitucionalidade material possibilita a manutenção da lei ou ato normativo 
na parte em que compatível com a CF. 
b) Parcial: apenas partes dele o é. Diferentemente do veto presidencial, na 
inconstitucionalidade parcial poderá ser declarada inconstitucional apenas parte ou 
palavra do texto, desde que o Poder Judiciário não subverta o sentido da lei. É o 
chamado princípio da parcelaridade. Poderá haver declaração parcial de 
inconstitucionalidade nas seguintes formas: 
i. Declaração parcial de nulidade sem redução de texto: ocorre quando o Tribunal, 
ao declarar a inconstitucionalidade, não suprime qualquer parte do texto, mas 
apenas limita a sua aplicação a um grupo de situações ou pessoas diferentes das 
originalmente previstas. Ocorre quando, por exemplo, declara que determinada 
lei é inconstitucional para ser aplicada imediatamente, mas permite a sua 
aplicação a partir do próximo exercício, como ocorreu com a lei da ficha-limpa. 
ii. Interpretação conforme a Constituição: ocorre quando, em face das várias 
interpretações possíveis de um texto constitucional, o Tribunal relaciona aquela 
(ou aquelas) que poderão ser consideradas legítimas, declarando, reflexamente, 
ilegítimas as demais. Assim, a interpretação conforme a Constituição pode 
também levar a uma declaração de nulidade sem redução de texto. 
iii. Declaração parcial de nulidade com redução de texto: o nome é autoexplicativo. 
Quais as diferenças entre a declaração parcial de nulidade sem redução de texto e a 
interpretação conforme a Constituição? 
a) A interpretação conforme não precisa observar a reserva de plenário, enquanto a 
declaração de nulidade precisa; 
b) Na declaração de nulidade o tribunal declara especificamente alguma ou algumas 
interpretações como inconstitucionais, enquanto na interpretação conforme o tribunal 
não declara que todas as outras possíveis interpretações são inconstitucionais, apenas 
diz, dentre as apresentadas, quais as interpretações são as mais condizentes com o 
regime constitucional. 
c) Enquanto na interpretação conforme a Constituição se tem, dogmaticamente, a 
declaração de que uma lei é constitucional com a interpretação que lhe é conferida 
pelo órgão judicial, constata-se, na declaração de nulidade sem redução de texto, a 
expressa exclusão, por inconstitucionalidade, de determinadas hipóteses de aplicação 
do programa normativo sem que se produza alteração expressa do texto legal. Assim, 
se se pretende realçar que determinada aplicação do texto normativo é 
inconstitucional, dispõe o Tribunal da declaração de inconstitucionalidade sem 
 
 
 
 
18 
 
redução de texto, que, além de mostrar-se tecnicamente adequada para essas situações, 
tem a virtude de ser dotada de maior clareza e segurança jurídica, expressas na parte 
dispositiva da decisão (a lei X é inconstitucional se aplicável a tal hipótese; a lei Y é 
inconstitucional se autorizativa da cobrança do tributo em determinado exercício 
financeiro). (Gilmar Mendes). 
Segundo a jurisprudência do STF, a interpretação conforme a Constituição conhece limites. 
Eles resultam tanto da expressão literal da lei quanto da chamada vontade do legislador. Nestes 
termos, só é admissível se não configurar violência contra a expressão literal do texto e não 
alterar o significado do texto normativo, com mudança radical da própria concepção original 
do legislador. 
 
1.4.4. Quanto ao Momento do Vício 
a) Originário: se refere a um ato normativo cuja propositura já nasce em contrariedade 
às normas constitucionais, por ser flagrantemente contra cláusula pétrea ou por ter sido 
formalmente errôneo. 
b) Superveniente: o ato normativo nasce perfeito, tornando-se inconstitucional num 
momento posterior, por dois motivos: ou porque houve uma mudança da 
Constituição, tornando-a incompatível com o ato normativo (no Brasil, não há que 
se falar em declaração de inconstitucionalidade de tais normas, resolvendo o problema 
pelo fenômeno da não recepção ou revogação2); ou pela mudança da realidade fática 
ou pela evolução interpretativa (mutação constitucional). Ex.: representação da vítima 
pobre para cobrar indenização pelo MP. Será inconstitucional a representação no local 
onde há DP (inconstitucionalidade territorial superveniente)3. Outro exemplo é a 
proibição da utilização de qualquer forma de amianto no Brasil. Vejamos: 
O Plenário (...) julgou improcedente ação direta ajuizada contra a Lei 12.684/2007, 
do Estado de São Paulo, que proíbe o uso de produtos, materiais ou artefatos que 
contenham quaisquer tipos de amianto no território estadual. Além disso, declarou 
incidentalmente a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei 9.055/1995, que permite a 
extração, industrialização, comercialização e a distribuição do uso do amianto na 
 
2 CONSTITUIÇÃO. LEI ANTERIOR QUE A CONTRARIE. REVOGAÇÃO. 
INCONSTITUCIONALIDADE SUPERVENIENTE. IMPOSSIBILIDADE. 1. A lei ou é constitucional ou 
não é lei. Lei inconstitucional é uma contradição em si. A lei é constitucional quando fiel à Constituição; 
inconstitucional na medida em que a desrespeita, dispondo sobre o que lhe era vedado. O vício da 
inconstitucionalidade é congênito à lei e há de ser apurado em face da Constituição vigente ao tempo de sua 
elaboração. Lei anterior não pode ser inconstitucional em relação à Constituição superveniente; nem o legislador 
poderia infringir Constituição futura. A Constituição sobrevinda não torna inconstitucionais leis anteriores com 
ela conflitantes:revoga-as. Pelo fato de ser superior, a Constituição não deixa de produzir efeitos revogatórios. 
Seria ilógico que a lei fundamental, por ser suprema, não revogasse, ao ser promulgada, leis ordinárias. A lei 
maior valeria menos que a lei ordinária. 2. Reafirmação da antiga jurisprudência do STF, mais que 
cinqüentenária. 3. Ação direta de que se não conhece por impossibilidade jurídica do pedido. (STF. ADI 2) 
3 Nesse caso, o STF se valeu da chamada “norma ainda constitucional”. A lei em questão será constitucional 
enquanto a Defensoria Pública, concretamente, não estiver organizada com a estrutura que lhe possibilite atuar 
em posição de igualdade com o Ministério Público, tornando-se inconstitucional, porém, quando essa 
circunstância de fato não mais se verificar. (RE 147.776) 
 
 
 
 
19 
 
variedade crisotila no País (...). A Corte ressaltou que o processo de 
inconstitucionalização da Lei 9.055/1995 se operou em razão de mudança no 
substrato fático da norma. A discussão em torno da eventual necessidade de banimento 
do amianto é diferente da que havia quando da edição da norma geral. Se, antes, tinha-
se notícia de possíveis danos à saúde e ao meio ambiente ocasionados pela utilização 
da substância, hoje há consenso em torno da natureza altamente cancerígena do 
mineral e da inviabilidade de seu uso de forma segura. Além disso, atualmente, o 
amianto pode ser substituído por outros materiais (...), sem propriedade carcinogênica 
e recomendados pela Anvisa. Portanto, revela-se a inconstitucionalidade material 
superveniente da Lei 9.055/1995, por ofensa ao direito à saúde (...) ao dever estatal 
de redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de saúde, higiene e 
segurança (...) e à proteção do meio ambiente (...) Diante da invalidade da norma geral 
federal, os Estados-membros passam a ter competência legislativa plena sobre a 
matéria, até sobrevinda eventual de nova legislação federal. Como a lei estadual 
questionada proíbe a utilização do amianto, ela não incide no mesmo vício de 
inconstitucionalidade material da lei federal. (STF. ADI 3.937, j. 24-8-2017 - 
Informativo 874) 
 
1.4.4.1. Constitucionalidade Superveniente e Inconstitucionalidade Superveniente 
A constitucionalidade superveniente (também chamada de usucapião de legalidade) não é 
admitida no Brasil. Isso porque a (in)constitucionalidade da norma deve ser aferida com base 
no bloco de constitucionalidade vigente à época de sua promulgação. Se sobrevier 
modificação do bloco constitucional, a adequação da norma antiga ao novo bloco não tem o 
efeito de convalidar seu vício. 
Em nosso ordenamento jurídico, não se admite a figura da constitucionalidade 
superveniente. Mais relevante do que a atualidade do parâmetro de controle é a 
constatação de que a inconstitucionalidade persiste e é atual, ainda que se refira a 
dispositivos da Constituição Federal que não se encontram mais em vigor. Caso 
contrário, ficaria sensivelmente enfraquecida a própria regra que proíbe a 
convalidação. A jurisdição constitucional brasileira não deve deixar às instâncias 
ordinárias a solução de problemas que podem, de maneira mais eficiente, eficaz e 
segura, ser resolvidos em sede de controle concentrado de normas. A Lei estadual nº 
12.398/98, que criou a contribuição dos inativos no Estado do Paraná, por ser 
inconstitucional ao tempo de sua edição, não poderia ser convalidada pela Emenda 
Constitucional nº 41/03. E, se a norma não foi convalidada, isso significa que a sua 
inconstitucionalidade persiste e é atual, ainda que se refira a dispositivos da 
Constituição Federal que não se encontram mais em vigor, alterados que foram pela 
Emenda Constitucional nº 41/03. (STF. ADI 2.158 e ADI 2.189, j. 15-9-2010) 
 
 
 
 
20 
 
 
1.4.4.2. Escada Ponteana e Controle de Constitucionalidade 
A "Escada Ponteana", embora mais estudada no campo do negócio jurídico, pode ser 
relacionada à ideia de controle de constitucionalidade. De acordo com Pontes de Miranda 
(daí o nome escada ponteana), os atos jurídicos podem ser analisados sob três planos: plano da 
existência; plano da validade; plano da eficácia. 
Ensina o autor que "existir, valer e ser eficaz são conceitos tão inconfundíveis que o fato 
jurídico pode ser, valer e não ser eficaz, ou ser, não valer e ser eficaz. As próprias normas 
jurídicas podem ser, valer e não ter eficácia (H. Kelsen, Hauptprobleme, 14). O que se não 
pode dar é valer e ser eficaz, ou valer, ou ser eficaz, sem ser; porque não há validade, ou 
eficácia do que não é”. 
Em outras palavras: os planos da validade e da eficácia só podem ser analisados se o negócio 
existir (tiver completado o plano da existência). Via de regra, o terceiro degrau (eficácia) 
também só é preenchido se ultrapassados os outros dois estágios (existência e validade) – é 
dizer: para que o negócio seja legitimamente eficaz, deve ser existente e válido. 
Entretanto, nem sempre isso ocorre. É possível que o ato seja existente, inválido e eficaz, caso 
de um negócio jurídico anulável que esteja gerando efeitos ou mesmo uma lei marcada por 
vício de iniciativa. 
Embora o Supremo não trate expressamente do tema, a Corte tem entendimento no sentido 
de que a norma com vício de ineficácia ou mesmo a norma ineficaz não se submete a controle 
de constitucionalidade na via concentrada, ao menos pela via das ações diretas de 
inconstitucionalidade. Por outro lado, os vícios no plano da existência (imagine-se uma lei 
aprovada por órgão que não tem função legiferante, mesmo que por delegação) e da validade 
desafiam qualquer espécie de controle. 
Se o problema da norma reside em sua eficácia, tal circunstância é resolvida com a sua 
ineficácia, aguardando-se a ocorrência do evento que possibilitaria a sua efetiva aplicação. Ou 
seja, enquanto não ocorre a situação que possibilite o pleno exercício do comando normativo, 
a norma permanece sem aplicabilidade, sem que isso caracterize inconstitucionalidade. 
Caso bastante elucidativo diz respeito às leis que geram despesas, mas não apresentam as 
correspondentes dotações orçamentárias. Embora em manifesta ofensa a um dispositivo 
constitucional, como o problema está no campo da eficácia, incabível controle de 
constitucionalidade via ação direta. Veja-se o seguinte julgado: 
A ausência de dotação orçamentária prévia em legislação específica não autoriza a 
declaração de inconstitucionalidade da lei, impedindo tão-somente a sua aplicação 
naquele exercício financeiro. 8. Ação direta não conhecida pelo argumento da 
violação do art. 169, § 1º, da Carta Magna. (STF. ADI 3599/DF, j. 21/05/2007) 
A impossibilidade de controle em razão de ineficácia também pode ser observada nos casos de 
lei revogada antes do manejo da ação: 
 
 
 
 
21 
 
Não é cabível ação direta de inconstitucionalidade contra lei revogada ou contra 
norma temporária cuja vigência tenha se exaurido, ainda que remanesçam efeitos 
concretos dela decorrentes. (STF. ADI 5571 AgR, j. 19/06/2017) 
Da mesma forma, como regra, se a norma impugnada é revogada no curso da ação, haverá 
perda superveniente do objeto e a ADI não deverá ser conhecida (STF ADI 1203). 
Excepcionalmente, não ocorrerá a perda do objeto da ação nas hipóteses de: 
a) "Fraude processual", ou seja, que a norma foi revogada de forma proposital a fim de 
evitar que o STF a declarasse inconstitucional e anulasse os efeitos por ela produzidos 
(STF ADI 3306). 
b) “Continuidade normativa”, ou seja, se ficar demonstrado que o conteúdo do ato 
impugnado foi repetido, em sua essência, em outro diploma normativo. Neste caso, 
como não houve desatualização significativa no conteúdo do instituto, não há 
obstáculo para o conhecimento da ação (STF ADI 2418/DF, j. 4/5/2016 - Info 824). 
Faz-se necessário, contudo, o aditamento (emenda) da inicial. 
c) Ausência da comunicação, à Corte Constitucional, acerca da revogação de norma 
local; e, em caso de lei temporária, na hipótesede a ação ter sido incluída em pauta e 
seu julgamento ter se iniciado antes do exaurimento da eficácia. Nestas hipóteses, não 
será possível reconhecer, após o julgamento, a prejudicialidade da ADI já apreciada 
(STF. ADI 951 ED/SC, j. 27/10/2016 - Info 845). 
Se for editada MP revogando lei que está sendo questionada por meio de ADI, esta ação 
poderá ser julgada enquanto a MP não for votada (enquanto a MP não for votada, não há 
perda do objeto) 
Resumo do julgado – Dizer o Direito: 
Determinada lei foi impugnada por meio de ação direta de inconstitucionalidade. 
Foi editada medida provisória revogando essa lei. 
Enquanto esta medida provisória não for aprovada, será possível julgar esta ADI. 
Assim, se chegar o dia de julgamento da ADI, e a MP ainda não tiver sido votada, o STF 
poderá apreciar livremente a ação, não tendo havido perda do interesse de agir (perda do 
objeto). Isso, porque a edição de medida provisória não tem eficácia normativa imediata de 
revogação da legislação anterior com ela incompatível, mas apenas de suspensão, paralisação, 
das leis antecedentes até o término do prazo do processo legislativo de sua conversão. 
Embora seja espécie normativa com força de lei, a medida provisória precisa ser confirmada. 
A medida provisória é lei sob condição resolutiva. Se for aprovada, a lei de conversão resultará 
na revogação da norma. 
Dessa maneira, enquanto não aprovada a MP, não se pode falar em perda de interesse (perda 
do objeto). (STF. ADI’s 5717/DF, 5709/DF, 5716/DF e 5727/DF, j. 27/3/2019 - Info 935). 
Por fim, ainda relacionado ao tema, há decisão do STF em que reconheceu a impossibilidade 
de revogação de lei concessiva de aumento de remuneração de servidor público, mesmo que 
 
 
 
 
22 
 
essa revogação tenha se dado antes do implemento do termo fixado para fruição do aumento, 
ou seja, antes da efetiva eficácia da norma. 
Diferença entre vigência de lei e efeitos financeiros decorrentes de sua disposição. 
Vigentes as normas concessivas de aumentos de vencimentos dos servidores públicos 
de Tocantins, os novos valores passaram a compor o patrimônio de bens jurídicos 
tutelados, na forma legal diferida a ser observada. 3. O aumento de vencimento 
legalmente concedido e incorporado ao patrimônio dos servidores teve no mês de 
janeiro de 2008 o prazo inicial para início de sua eficácia financeira. O termo fixado, 
a que se refere o § 2° do art. 6° da Lei de Introdução ao Código Civil, caracteriza a 
aquisição do direito e a proteção jurídica que lhe concede a Constituição da 
República. 4. Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente para declarar 
a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei tocantinense n. 1.866/2007 e do art. 2º da 
Lei tocantinense n. 1.868/2007. (STF. ADI 4013, j. 31/03/2016) 
 
1.5. Tipos de controle 
1.5.1. Quanto ao Momento/Oportunidade 
a) Controle preventivo: ocorre antes da norma ganhar existência jurídica. É feito durante 
a formação legislativa, via CCJ ou por MS impetrado por parlamentar, ou pelo veto 
jurídico. Segundo a doutrina, esse controle nem sempre ocorre sobre todos os atos 
normativos, tendo em vista que não se dá diante de, por exemplo, projetos de medidas 
provisórias, resoluções dos tribunais e decretos. 
Em regra, não é admitido o controle prévio no âmbito do Poder Judiciário. São duas 
as exceções: 
I. Caso a proposta de emenda à Constituição seja manifestamente ofensiva à 
cláusula pétrea, situação em que o controle se dá em razão de vício material; e 
II. Na hipótese em que a tramitação do projeto de lei ou de emenda à 
Constituição violar regra constitucional que discipline o processo legislativo, 
situação em que o controle se justifica em razão de vício formal. 
OBSERVE: A primeira exceção (violação de cláusula pétrea) está relacionalda a 
aspecto material e é possvíel apenas para PEC; já a segunda (violação de processo 
legislativo) é de ordem procecedimental e é possível tanto para PEC como para PL. 
Assim, o parlamentar tem legitimidade para o manejo de mandado de segurança 
preventivo em qualquer vício relativo à Proposta de Emenda Constitucional, seja 
formal ou material; já para Projeto de Lei, só será possível o questionamento de 
aspectos formais (arts. 59 a 69 da CF - disposições constitucionais que tratam sobre o 
processo legislativo), ficando a possibilidade de controle, diante de ofensa material, 
condicionada à aprovação do ato normativo. 
b) Controle repressivo: ocorre quando lei já está em vigor, sendo forma de retirada da 
norma do mundo jurídico. Ele se dá principalmente por via judicial, ante o controle 
concentrado. Possível, também, pela via política, quando o Congresso revoga uma 
 
 
 
 
23 
 
norma. Ocorre, também, no Poder Executivo, quando esse anula atos administrativos 
inconstitucionais pela autotutela. 
c) Controle misto/híbrido: ocorre com a medida provisória. Ela já produz efeitos com 
sua promulgação; porém, será controlada politicamente com a sua conversão em lei, 
e judicialmente, com a análise de sua constitucionalidade. 
Tabela retirada do livro “Direito Constitucional Esquematizado” – Pedro Lenza, 2019 
1.5.2. Quanto à Concentração 
a) Difuso: feito por todos os magistrados; fundamento no modelo norteamericano. 
b) Concentrado: feito apenas pelo STF e pelos TJ´s, no caso das Constituições Estaduais 
e Lei Orgânica do DF. Fundamento no modelo austríaco. 
1.5.3. Quanto à Natureza 
a) Concreto: aferição da constitucionalidade dentro de uma lide. A questão da 
constitucionalidade vem como fundamento do pedido, numa ação de índole subjetiva. 
b) Abstrato: não há lide. A aferição da constitucionalidade independe de um caso 
concreto, visa-se a preservar a supremacia constitucional e a higidez do ordenamento 
jurídico. A constitucionalidade da norma é o próprio objeto da ação. 
1.5.4. Quanto à Via de ação 
Por sua vez, são vias de ação: 
a) Incidental ou via de exceção: ocorre diante de uma controvérsia concreta, submetida 
à apreciação do Poder Judiciário, em que uma das partes requer o reconhecimento da 
inconstitucionalidade de uma lei com o fim de afastar a sua aplicação do caso concreto 
de seu interesse. 
Poderá ser exercido por qualquer juiz ou tribunal, sendo a inconstitucionalidade mero 
fundamento da demanda. 
 
 
 
 
24 
 
Há também controle por via de exceção no controle repressivo/reparatório político. 
b) Via direta ou principal: aqui, o pedido do autor da ação é a própria questão da 
constitucionalidade do ato normativo. Não se discute qualquer direito subjetivo. 
1.5.5 Quanto à Ofensa à Constituição 
a) Direta: ocorre quando a desconformidade verificada dá-se entre leis e atos normativos 
primários e a Constituição, sem norma de interposição. 
b) Indireta, reflexa ou reflexiva: foi equiparada pelo STF à mera ilegalidade. Ocorre 
quando um ato normativo secundário é contrário a determinada norma infralegal. 
Aqui, não há que se falar em controle de constitucionalidade, mas sim em controle de 
legalidade. O STF constantemente rejeita iniciais de ADI´s com base nesse 
fundamento. 
Vale ressaltar que, no conflito de competências federativas normativas, haverá ofensa direta à 
Constituição Federal e não mera ofensa reflexa. É o que ocorre, por exemplo, em relação à 
competência para legislar acerca de normas gerais pertinentes à responsabilidade fiscal, cuja 
competência é da União, não podendo o estado-membro tratar do tema em lei própria. Em 
tal caso, o tratamento diferenciado do tema no âmbito do estado-membro, em desrespeito ao 
disposto em lei complementar federal, leva à crise de inconstitucionalidade. 
CONSTITUCIONAL E FINANCEIRO. ART. 50, DA LEI 1.005/15, DO 
ESTADO DE RORAIMA. FIXAÇÃO DE DIRETRIZES ORÇAMENTÁRIAS 
LOCAIS PARA O EXERCÍCIO DE 2016. MODIFICAÇÃO DOS LIMITES DE 
GASTOS COM PESSOAL DOS PODERES EXECUTIVO E LEGISLATIVO. 
SUPERAÇÃO DO TETO PREVISTO NA LEGISLAÇÃO FEDERAL, NESTE 
ÚLTIMO CASO. PLAUSÍVEL USURPAÇÃO DA COMPETÊNCIAPRIVATIVA DA UNIÃO (ART. 169, DA CF). RISCO DE PREJUÍZO AO 
ERÁRIO LOCAL COM A VIGÊNCIA DA NORMA. CAUTELAR 
PARCIALMENTE CONCEDIDA. 1. Leis orçamentárias que materializem atos de 
aplicação primária da Constituição Federal podem ser submetidas a controle de 
constitucionalidade em processos objetivos. Precedentes. 2. A incompatibilidade entre 
os termos do dispositivo impugnado e os padrões da lei de responsabilidade fiscal (Lei 
Federal Complementar 101/00) não se resume a uma crise de legalidade. Traduz, em 
verdade, um problema de envergadura maior, a envolver a indevida apropriação de 
competências da União, em especial a de conceber limites de despesas com pessoal 
ativo e inativo (art. 169, caput, da CF), controvérsia que comporta solução na via da 
ação direta de inconstitucionalidade. 3. Os limites traçados pela lei de responsabilidade 
para os gastos com pessoal ativo e inativo nos Estados, Distrito Federal e Municípios 
valem como referência nacional a ser respeitada por todos os entes federativos, que 
ficam incontornavelmente vinculados aos parâmetros máximos de valor nela previstos. 
4. Ao contemplar um limite de gastos mais generoso para o Poder Legislativo local, o 
dispositivo impugnado se indispôs abertamente com os parâmetros normativos da lei 
de responsabilidade fiscal, e com isso, se sobrepôs à autoridade da União para dispor 
 
 
 
 
25 
 
no tema, pelo que fica caracterizada a lesão ao art. 169, caput, da CF. (STF. ADI 5449 
MC-Ref/RR, j. 10/03/2016) 
Não confunda inconstitucionalidade indireta com inconstitucionalidade derivada (ou por 
arrastamento): esta ocorre quando a declaração de inconstitucionalidade de uma norma 
primária gera o efeito de tornar inconstitucionais todas aquelas que vieram a regulamentá-la 
ou que dela sejam dependentes. 
 
1.5.6. O Controle de Constitucionalidade das Medidas Provisórias 
Há um debate, sem muita consequência prática, sobre qual é a natureza do controle de 
constitucionalidade que o órgão legislativo faz em uma MP. Isso porque a MP já produz 
efeitos desde que publicada pelo Presidente da República, sendo um ato acabado, perfeito. 
Mas quando ela entra no CN, ela como MP é um projeto de lei a ser apreciado para conversão 
em lei. Então, quando a CCJ aprecia uma MP, este controle político é preventivo ou é 
repressivo? 
Na realidade ninguém está certo ou errado, depende de como se vê a MP naquele momento. 
Ela como MP perfeita, acabada, produzindo os seus efeitos por 60 dias, podendo ser 
prorrogada por mais 60 dias, ensejaria a avaliação do que seria um controle político repressivo. 
É o posicionamento do Luiz Roberto Barroso. Agora, a MP não é um projeto de lei de 
conversão? É. Então, seria um controle preventivo político. Por isso que alguns autores 
classificam esse controle como misto. 
ASSIM, SERIA CONTROLE POLÍTICO REPRESSIVO EM RELAÇÃO AO 
CONTEÚDO JÁ VIGENTE DA MEDIDA PROVISÓRIA, MAS POLÍTICO 
PREVENTIVO QUANTO AO PROJETO DE LEI DE CONVERSÃO PELO QUAL 
ELA É ANALISADA NO CONGRESSO. 
 
1.6. Sistemas de Controle 
1.6.1. Sistema Político 
Trata-se de fiscalização sem caráter jurisdicional, porém com evidentes efeitos jurídicos. 
Ocorre da seguinte forma: 
a) Poder Legislativo: se manifesta pelo controle preventivo da CCJ e MS impetrado por 
congressistas para defender o processo legislativo; pelo veto legislativo sobre os atos do 
Poder Executivo que exorbitem os limites de seu poder regulamentar ou da delegação 
legislativa, o que é feito mediante decreto legislativo; pelo controle repressivo de 
revogação de leis do ordenamento jurídico. 
b) Poder Executivo: pode realizar o controle preventivo ou repressivo. O preventivo 
ocorrerá com o veto jurídico a projeto de lei fundamentado na inconstitucionalidade; 
o repressivo ocorrerá quando o Chefe do Executivo revogar um ato administrativo 
inconstitucional ou deixar de obedecer a uma lei por considerá-la inconstitucional. 
 
 
 
 
26 
 
OBS.: Doutrina e jurisprudência não são pacíficas quanto à possibilidade de descumprimento 
de lei por chefe do Poder Executivo. Isso porque, ao menos em âmbito federal e estadual, o 
Presidente da República e o Governador figuram como legitimados para deflagrar o controle 
concentrado de constitucionalidade. Assim, caso entendessem que determinada lei ou ato 
normativo violava a CF, deveriam impuganá-lo judicialmente, afim de que o Judiciário 
declare a inconstitucionalidade. 
Historicamente, apesar de não haver posição defitivia a respeito do tema, tanto o STF quanto 
o STJ têm se posicionado favoravelmente à possibilidade de o Chefe do Executivo ordenar a 
seus subordinados que não cumpram uma lei pretensamente inconstitucional. 
Em sentido contrário, tem-se os seguintes argumentos: prestígio à Constituição e sua 
supremacia, indicando que o Executivo não pode deixar de cumprir uma lei sob o argumento 
da inconstitucionalidade; presunção de constitucionalidade dos atos infraconstitucionais; 
legitimação para provocação do controle concentrado; separação de poderes; segurança 
jurídica. 
Para a doutrina, o controle repressivo pelo Executivo também se realiza com a 
intervenção, quando pautada na inobservância da CF, quando anular ato 
administrativo ilegal ou revogar, por exemplo, decreto que atente diretamente contra 
a Constituição. 
c) Tribunais de Contas: a Súmula 347 do STF preconiza que “O Tribunal de Contas, 
no exercício de suas atribuições, pode apreciar a constitucionalidade das leis e dos atos 
do Poder Público”. Este enunciado sumular, contudo, foi aprovado em 1963, 
havendo polêmica se permanece ou não válido. Conforme salienta Pedro Lenza, os 
tribunais de contas não exercem controle de constitucionalidade (STF – Pet 4.656), 
sendo-lhes facultado, apenas deixar de aplicar o ato por considerá-lo inconstitucional, 
bem como sustar outros atos praticados com base em leis vulneradoras da CF (art. 71, 
X). Não se trata, portanto, de controle de constitucionalidade, mas sim de não 
aplicação da lei no caso concreto. 
SISTEMA MISTO DE 
CONTROLE 
Poder Legislativo 
CCJ 
MS 
Veto legislativo 
Revogação de leis 
Anulação de atos administrativos próprios 
Poder Executivo 
Anulação de atos administrativos próprios 
Intervenção por inobservância à Constituição 
Revogação de atos normativos 
Veto jurídico 
Poder Judiciário Anulação de atos administrativos próprios 
 
 
 
 
27 
 
Tribunal de 
Contas 
Prevalece que, a despeito do disposto na Súmula 
347 do STF, não realiza controle de 
constitucionalidade, podendo apenas afastar a 
aplicação da lei no caso concreto. 
 
1.6.2. Sistema Judicial 
Trata-se do Judicial Review. 
1.6.3. Sistema Misto 
É aquele em que se admite tanto o controle político quanto o judicial, caso do Brasil. Nós 
adotamos o modelo Português de 1.976. 
 
1.7. Evolução Histórica do Controle no Brasil 
1.7.1. Constituição do Império de 1824 
Não estabeleceu nenhum sistema de controle de constitucionalidade, consagrando o dogma 
da soberania do Parlamento, por influência do direito francês e do inglês. 
Tal Constituição previa a existência de um quarto poder, o Poder moderador, exercido pelo 
monarca, a quem incumbia harmonizar os demais poderes. 
Além da inexistência de um sistema de controle, a aferição da compatibilidade das normas 
com a CF também era inviabilizada pela adoção de um modelo constitucional semirrígido, 
em que nem todas as matérias previstas na Carta eram tidas como materialmente 
constitucionais. 
O Poder Legislativo era delegado à Assembleia-Geral. Cabia a ela não somente fazer, 
suspender e revogar as leis, como também interpretá-las. O órgão judicial máximo era o 
Supremo Tribunal de Justiça, sem qualquer função expressa de controle de 
constitucionalidade. Tampouco formulou qualquer contribuição jurisprudencial nesse 
sentido. 
O guardião da Constituição era o Senado, todavia, nunca exerceu essa atribuição, nem criou 
nenhum mecanismo institucional para exercê-lo.1.8.2. Constituição da República de 1891 
Apesar de se propagar isso, não foi com essa Constituição que surgiu o controle difuso de 
constitucionalidade. Nasceu, pois, com a Constituição Provisória, Decreto nº 510 de 1890. 
Na Constituição provisória foi previsto o surgimento do atual STF, porém, era da 
competência do congresso a guarda da constituição e das leis, mas não mais a competência de 
interpretar. 
Além disso, previu a organização da Justiça Federal, com o Decreto nº 848. 
A CF/1891, porém, consagrou definitivamente o controle difuso. Previu que o Congresso 
teria a incumbência não privativa de velar pela guarda da Constituição e das leis. Também 
 
 
 
 
28 
 
previu recurso para o STF das sentenças que julgassem válidas leis locais em face da 
Constituição. A Lei nº 221/1894 previu que os juízes e tribunais apreciariam a validade das 
leis e regulamentos e deixariam de aplicar aos casos correntes as leis manifestamente 
inconstitucionais e os regulamentos manifestamente incompatíveis com as leis ou com a 
Constituição (consagração categórica e expressa do Judicial Review no Brasil). 
 Criação do Supremo Tribunal Federal 
Destaques: Transferência para o Judiciário do papel de interpretar as leis 
 Consagração definitiva do Judicial Review no Brasil. 
1.8.3. Constituição da República de 1934 
Previu o Mandado de Segurança para a defesa do direito certo e incontestável ameaçado por 
ato manifestamente ilegal ou inconstitucional das autoridades. Trouxe também o recurso 
extraordinário como hoje o conhecemos. Consagrou, ainda, a cláusula de reserva de plenário 
(necessidade da maioria absoluta de voto para que os Tribunais pudessem declarar a 
inconstitucionalidade de lei ou ato do Poder Público). 
Surgiu a participação do Senado para dar efeitos erga omnes das leis declaradas 
inconstitucionais pelo Poder Judiciário no controle difuso. 
Foi também aqui que se previu a possibilidade dos Estados adotarem constituições próprias e 
leis próprias, respeitados os seguintes princípios sensíveis: 
a) Forma republicana representativa de governo; 
b) Independência e coordenação dos Poderes; 
c) Temporariedade das funções eletivas; 
d) Prestação de contas da Administração. 
A Constituição de 34 traz o primeiro mecanismo de controle concentrado do Supremo 
Tribunal Federal, que é a ação de inconstitucionalidade interventiva, a representação de 
inconstitucionalidade interventiva. Mas essa Representação de Inconstitucionalidade 
Interventiva, não é igual a que existe hoje no art. 36 da Constituição4, ela é diferente. 
 Criação do Recurso Extraordinário 
 Criação do Mandado de Segurança 
Destaques: Permissão de criação de Constituição e leis próprias pelos Estados 
 Criação da Ação de Inconstitucionalidade Interventiva Controle 
concentrado 
 
4 Art. 36 - A decretação da intervenção dependerá: 
I - no caso do Art. 34, IV, de solicitação do Poder Legislativo ou do Poder Executivo coacto ou impedido, ou 
de requisição do Supremo Tribunal Federal, se a coação for exercida contra o Poder Judiciário; 
II - no caso de desobediência a ordem ou decisão judiciária, de requisição do Supremo Tribunal Federal, do 
Superior Tribunal de Justiça ou do Tribunal Superior Eleitoral; 
III - de provimento, pelo Supremo Tribunal Federal, de representação do Procurador-Geral da República, na 
hipótese do Art. 34, VII, e no caso de recusa à execução de lei federal. 
 
 
 
 
29 
 
 Criação da regra da reserva de plenário 
 Participação do Senado no controle de constitucionalidade incidental. 
1.8.4. Constituição da República de 1937 
Representou um retrocesso. A Constituição Polaca, como era chamada, suprimiu o mandado 
de segurança. Apesar de ter mantido o sistema de controle difuso de constitucionalidade, 
estabeleceu a possibilidade de o Presidente, de modo discricionário, submeter as decisões ao 
reexame pelo Parlamento. Poderia o Legislativo, mediante voto de 2/3 de ambas as casas, 
tornar sem efeito a declaração de inconstitucionalidade. 
Esse mecanismo é chamado pela doutrina de “recall constitucional”. 
1.8.4. Constituição da República de 1946 
Trouxe de volta o MS, previu o controle difuso, com a participação do Senado para conferir 
efeitos erga omnes. 
Introduziu a ADIN genérica (controle abstrato concentrado) com a EC nº 16/1965. Porém, 
a única autoridade que poderia originalmente propor a ADIN era o PGR. Previu também a 
ADI Interventiva, tal qual é hoje. 
1.8.5. Constituições de 1967 e 1969 
Não trouxeram inovações significativas em sede de controle de constitucionalidade. 
1.8.6. Constituição da República de 1988 
Ampliou os legitimados para propor ADI. Estabeleceu a possibilidade de controle das omissões 
legislativas, criando a ADPO. Criou, ainda, a ADPF, o Mandado de Injunção e o Mandado 
de Segurança Coletivo. 
Previu a participação do PGR nas ações de inconstitucionalidade perante o STF e estabeleceu 
que o AGU deveria fazer a defesa, salvo na ADC. 
A EC nº 03/1993 criou a ADC para ato normativo federal, dando-lhe força vinculante, com 
legitimidade inicial menor do que a ADI. Por meio da EC nº 45/2004, estendeu-se 
expressamente o efeito vinculante da ADC para a ADIN, igualando, ainda, a legitimidade de 
ambas. 
A mesma emenda (45/2004) introduziu a exigência da repercussão geral e a Súmula 
Vinculante. 
1.8.7. Evolução – Tabela Síntese 
1824 1891 1934 1937 1946 1967/69 1988 
Previa o 
Supremo 
Tribunal 
de 
Justiça, 
mas sem 
Criou o 
STF; 
Consagro
u o 
judicial 
Criou o MS; 
Introduziu a 
reserva de 
plenário; 
Suprimiu o 
MS; 
Permitiu que 
presidente 
reintroduzisse 
Trouxe de 
volta MS; 
Representaçã
o de inconst. 
Interventiva 
Nada de 
muito 
significant
e. 
Ampliou 
legitimados 
ADI; 
Criou 
ADINPO, 
 
 
 
 
30 
 
a função 
de 
exercer 
controle 
de 
constitu.
.. 
review, 
pelo 
controle 
difuso por 
meio de 
recurso. 
Transferi
u par ao 
Judiciário 
a tarefa de 
interpreta
r as leis. 
Participação 
do Senado 
no caso de 
declaração de 
inconstitu. 
no caso 
concreto; 
criou a 1ª 
ação de 
controle 
concentrado 
(representaçã
o 
Interventiva) 
norma 
declarada 
inconstitucion
al 
nos moldes 
atuais; 
Criação da 
ADIN 
genérica (EC 
16/65) 
MI e MS 
coletivo; 
Criou 
ADC (EC 
03) 
Criou 
ADPF; 
Repercussã
o geral (EC 
45); 
Súmula 
vinculante 
(EC 45).

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