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Patologia EspecialPatologia Especial ENDOCARDIOPATIAS DEGENERAÇÃO MIXOMATOSA VALVAR – ENDOCARDIOSE. Também conhecida como degeneração mixomatosa ou mucoide das válvulas, é uma importante doença valvular, frequentemente diagnosticada em cães. Sua etiopatogenia é desconhecida, mas, aparentemente, ocorre deposição de glicosaminoglicanos concomitantemente à degeneração do colágeno da válvula, decorrente de herança poligênica. Todas as válvulas cardíacas podem ser acometidas, contudo, sua ocorrência é mais elevada na válvula atrioventricular esquerda (mitral) e menos frequente na atrioventricular direita (tricúspide) e nas semilunares das artérias aorta e pulmonar. Por sua incidência aumentar com a idade, também é conhecida como doença do cão velho. Macroscopicamente, observa -se espessamento nodular, de consistência firme, de coloração brancacenta ou amarelada, com superfície lisa e brilhante, localizado nas bordas livres das válvulas. Histologicamente, observa -se substituição da camada esponjosa da válvula por um tecido conjuntivo mixomatoso. Não há evidências da ocorrência de um processo inflamatório. Quando o processo degenerativo envolve as válvulas atrioventriculares, este pode estender -se para as cordas tendíneas, predispondo- as à ruptura. As consequências da endocardiose valvular irão depender da intensidade do processo. Quando discreta, não ocorre alteração funcional significativa da válvula, sendo considerada um achado acidental de necropsia. D A T A 1 5 - 1 0 - 2 0 2 1 Endocardiose Contudo, se o processo degenerativo for intenso, alterações funcionais da válvula ocorrem, levando a um quadro de insuficiência valvular que possibilita refluxo sanguíneo para dentro do ventrículo ou do átrio. A sobrecarga de volume à qual o ventrículo estará submetido desencadeia um quadro de hipertrofia excêntrica do ventrículo esquerdo, quando é a válvula mitral que está acometida, ou hipertrofia excêntrica do ventrículo direito, quando a acometida é a válvula tricúspide. Associada a essas alterações tem - se também a dilatação do átrio. A progressão do processo pode desencadear insuficiência cardíaca, com todas as suas manifestações clínicas e macroscópicas. Acontece basicamente no cão. Não é uma lesão que vemos em gatos. É uma Endocardiopatia canina. Pode acometer qualquer valva cardíaca, mas a maioria das vezes ocorre na mitral. Com isso, mais provável de ICC esquerda – com manifestações clínicas do lado esquerdo (dificuldades respiratórias, posição ortopneica, etc.). Achados epidemiológicos: Espécie: apenas canídeos. Porte: principalmente mini, pequeno e médio. Raças: principalmente Poodle, Yorkie, Pinscher, Shih-tzu e Spitz, principalmente Dachshund, Cocker Spaniel e Schnauzer. Muito frequente em SRD e mestiços mini e pequenos. Idade: início dos sinais a partir de 6 anos em machos a 8 anos nas fêmeas – óbito sem terapia entre 9 anos em machos e 10 anos em fêmeas. Acomete mais de 75% dos cães com mais de 16 anos de idade. Sexo: principalmente machos. Patologia EspecialPatologia Especial Mais comum em cães pequenos. Mais frequente em cães em denominações mini. O que causa? Doença genética. Relacionada ao envelhecimento e Predisposição. Começam a demonstrar sinais clínicos aos 6 anos (machos) e 8 anos (fêmeas). Primeiro sinal geralmente – devido a algum grau de regurgitação de sangue – na auscultação percebe-se um sopro. TUM FFFF TA ou TUM TA FFF, dependendo de qual válvula está afetada. Indica que a valva não está fechando de maneira correta. Diagnóstico até descompensar (sem terapia) – morrer 9 anos macho e 10 nas fêmeas. 2 a 3 anos para que da primeira manifestação clínica até ele ficar muito doente. Coração normal: D A T A 1 5 - 1 0 - 2 0 2 1 Mitral cortada. Parte superior – lúmen atrial Parte inferior – lúmen ventricular. Camada atrial – mais superior – tecido conjuntivo denso, mais fina. Camada fibrosa ou ventricular – mais inferior - mais grossa, mais tecido colagenoso e conjuntivo firme. Camada central – esponjosa. Colorações – coram bem essas camadas inferiores e superiores devido ao Colágeno e quantidade variável de elastina. Porção fibrosa mais inferior tem bastante colágeno. Camada central não cora nada – camada esponjosa. Nessa camada que deveria ser fina começa haver um acúmulo de grande quantidade de tecido conjuntivo frouxo – chamado tecido mixomatoso. Não é colágeno, nem elastina. É basicamente glicosaminoglicano e proteoglicano que são produzidos por miofibroblastos. São células que não existem na válvula normal. Valva normal – células intersticiais que produzem pequena quantidade dessa matriz mixoide. Lesão ocorre por acúmulo de miofibroblastos – que começam a produzir muito desse material e começa a se acumular nesse espaço deixando a válvula mais espessa – começa a lesar a camada fibrosa e atrial e desorganizar as fibras colágenas/elásticas. Desse modo a Válvula fica espessa e sem funcionar direito – não fechando corretamente. Então, o Processo degenerativo ocorre por um espessamento muito marcante progressivo da camada esponjosa. Começam a proliferar proteoglicanos e glicosaminoglianos. Lado esquerdo do coração. Superfície atrial de uma das cúspides da mitral. Prolongamentos – cordas tendíneas que ligam aos músculos papilares, e a medida que o coração bate, os músculos papilares se contraem, controlando o fechamento e abertura desse orifício do átrio para o ventrículo. Histologia de valva normal: Na parte central esponjosa - Células intersticiais valvulares – em verde. Produzem pequena quantidade de glicosaminoglicanos. Certa idade – começa a ter estímulo aumentado dessas células endoteliais – começam a reagir de maneira diferente produzindo muito algumas interleucinas, principalmente TGF beta, que age na própria célula, fazendo com que se multiplique e migre da porção mais externa da valva para a mais central. Quando ela chega na camada esponjosa, ela se desdiferencia (vira imatura). Células endoteliais transitam do endotélio, se internalizam e se desdiferenciam para formar as células intersticiais valvares. Sob ação de determinadas interleucinas, as células intersticiais valvares vão produzir colágeno, elastina, glicosaminoglicanos, muco polissacarídeos, nas quantidades necessárias para formar cada uma daquelas camadas. Processo durante período fetal e embrionário em que vai havendo essa migração e transformação das células endoteliais, produzindo essa matriz que irá formar cada camada. Na imagem inferior, temos um indivíduo adulto já com as camadas formadas. Patologia EspecialPatologia Especial Vão deformando a válvula e destruindo o colágeno principalmente da camada fibrosa. É um processo de transformação do microambiente com acúmulo progressivo de uma matriz mixomatosa e aumento gradual das células que sintetizam essa matriz que vão passo a passo destruindo as demais camadas. D A T A 1 5 - 1 0 - 2 0 2 1 Camada esponjosa rica em células intersticiais valvares imersas em uma matriz mixomatoide, e é essa matriz que se amplifica muito no processo degenerativo e acaba destruindo a válvula. Componentes da valva normal: Endotélio atrial. Camada atrial: colágenos (I, III, IV, e VI), laminina, fibronectina e elastina, sulfato heparan. Camada esponjosa: a menor em quantidade de colágenos (fibras finas) e elastina. Glicosaminoglicanos e proteoglicanos. Camada fibrosa: a maior em quantidade de colágenos (fibras grossas). Endotélio ventricular. Grau 1 de Endocardiose mitral leve: A primeira diferença que a gente vê, é que começam a se formar pequenos nódulos (percebidos quando estão do tamanho de uma ervilha) que vão se formando aleatoriamente na válvula, geralmente na porção livre da cúspide e próximo às cordas tendíneas. Em comparação ao coração normal, mudou a cor, espessura e formato. Grau 2 de Endocardiose mitral leve: Já há uma certa tumefação na válvula que deforma Patologia EspecialPatologia Especial e não permite que ela feche normalmente. Mas ainda há espaços normais entre as lesões valvares. D AT A 1 5 - 1 0 - 2 0 2 1 Válvula mitral pela visão do átrio. Foi contraído manualmente o ventrículo e nota-se que a válvula não fecha completamente. Grau 3 de endocardiose valvar mitral moderada: Nódulos grandes a ponto de um encostar no outro. Começa a ter nenhuma área da borda livre afetada. Grau 4 de endocardiose valvar mitral acentuada: Além das tumefações e nodulações, a válvula começa a sofrer uma lesão tão grave a ponto de romper as cordas tendíneas e consequentemente a válvula vai ficando distorcida, muitas vezes ficando evertida, pois boa parte não consegue mais fechar corretamente, e ficando endurecida e muito mais gravemente afetada. Diagnóstico diferencial para o tumor de válvula mais comum, o mixoma, que é microscopicamente muito parecido, porém macroscopicamente é um único nódulo distorcido na válvula. Quando ocorre esse grau mais elevado da lesão valvar, essa distorção associada a lesão das cordas tendíneas, vão dando um aspecto à válvula como se ela fosse um balão, balonamento valvar. Dependendo do ângulo que se observa, pode- se comparar a uma touca de banho, chamada de lesão em touca de banho. Lâmina histológica: Átrio – musculatura – fibras musculares. Válvula a direita – extremamente espessada. Parte ventricular continua com a camada fibrosa e com porção central celular (células pequenas e alongadas) imersa em matriz que Dilatação atrial - (miocardiopatia dilatada secundária) Dilatação ventricular - (miocardiopatia dilatada secundária) Hipertrofia ventricular – (miocardiopatia hipertrófica secundária). Hipertrofia dos músculos papilares. Coágulos intraluminais no ventrículo esquerdo. Necrose dos músculos papilares. Fibrose subendocárdica atrial (“lesões de jato”). Ruptura da parede atrial. Hemopericárdio. Tamponamento cardíaco. Ruptura de cordas tendíneas. Calcificação da valva e das cordas tendíneas. Metaplasia osteocartilagenosa da valva e das cordas tendíneas. Trombose valvar em placa. na HE, cora basofilicamente. Matriz mixoide. Proliferação das células miofibroblastos que estão produzindo quantidade grande de glicosaminoglicanos. Cada vez mais produzido e acumulado, válvula cada vez mais espessada e incapacitada de executar suas funções normais. Processo crônico degenerativo de proliferação celular, mais especificamente dessas células intersticiais, que se desdiferenciam em miofibroblastos e passam a produzir grande quantidade de matriz frouxa (proteoglicanos e glicosaminoglicanos). Pequenas células vistas com núcleo em preto e maior parte constituída pela matriz que essas células estão produzindo. Complicações anatomopatológicas da endocardiose: Patologia EspecialPatologia Especial D A T A 1 5 - 1 0 - 2 0 2 1 Lesões valvares de grau I, geralmente não tem complicações. Complicações decorrentes muitas vezes dos processos de compensação. Regurgitação atrial – formação de coágulos dentro do átrio. Dilatação bi-atrial acentuada: Dilatação atrial ocorre na maioria das vezes, mas geralmente ocorre junto a dilatação ventricular. Se a lesão é na mitral, por que vejo muitos cães com fígado de noz-moscada ou ascite? Cor pulmonare. Problema primário na mitral, com isso dilata-se o átrio esquerdo por aumento de pressão. Com o tempo, vai fazendo congestão e hipertensão pulmonar, o sangue vai ter dificuldade de sair do ventrículo direito e ir para o pulmão. Com o tempo a hipertensão pulmonar leva a dilatação do ventrículo direito (hipertrofia excêntrica), que por sua vez leva a dilatação do átrio direito por aumento de pressão. Dilatação bi-atrial é secundária a dilatação do ventrículo direito, que é secundária a hipertensão pulmonar. Cor pulmonare. Dilatação atrioventricular esquerda acentuada: Coração em cima do pulmão esquerdo. Dilatação que afeta muito mais o lado esquerdo – cardiomegalia esquerda. Patologia EspecialPatologia Especial D A T A 1 5 - 1 0 - 2 0 2 1 concêntrica eventualmente. O átrio dilata por aumento da carga (pressão), o ventrículo hipertrofia para fora (excêntrica) pelo aumento do número de batimentos. Falsa hipertrofia, que faz haver um leve espessamento, mas que aumenta a luz – cardiomegalia. Coração vai ficando sólido e com formato cilíndrico. Dilatação atrioventricular bilateral moderada: Moderadamente aumentado e globoso – arredondamento. Pulmão não colapsou quando a cavidade foi aberta – edema pulmonar. Fígado com padrão irregular – noz-moscada. Lesão Primária na mitral. Dilatação atrioventricular bilateral acentuada: Coração muito grande, ocupando todo o tórax. Dilatação ventricular esquerda acentuada com coágulos intraluminais: Os últimos batimentos cardíacos de morte, removem o sangue do lado esquerdo do coração e das artérias. Luz ventricular muito ampla, que indica que o animal tem dilatação do ventrículo esquerdo e presença de grande coágulo de sangue dentro do ventrículo esquerdo, o que não é normal. Hipertrofia ventricular na endocardiose na maioria das vezes é excêntrica, mas pode ser Hipertrofia verdadeira esquerda moderada: Hipertrofia verdadeira com diminuição do lúmen e espessamento acentuado do miocárdio, mimetizando uma miocardiopatia hipertrófica primária de cão/gato. Não era algo visto com frequência até uns 2 anos atrás. Hipótese: associada a terapia medicamentosa. Hipertrofia dos músculos papilares: não necessariamente relacionado a hipertrofia concêntrica. Ainda com certo grau de lúmen ventricular. Lesões associadas a descompensação cardíaca grave aguda: Necrose dos músculos papilares Processo isquêmico, infarto associado com lesões da parede das artérias que irrigam os músculos papilares. Alguns autores associam a Deposição de amilóide nas paredes dos ramos das coronárias – enrijecimento arterioloesclerose – vasoconstrição, diminuindo o fluxo para o músculo papilar. Lesão extremamente frequente que acontece no átrio de animais que tem uma endocardiose não tratada e descompensada, crônica: Fibrose logo abaixo do endocárdio do átrio esquerdo. Fibrose subendocárdica atrial esquerda: Patologia EspecialPatologia Especial D A T A 1 5 - 1 0 - 2 0 2 1 (hemopericárdio), esse mesmo sangue comprime o coração não permitindo que ele bata normalmente – tamponamento cardíaco – parada cardíaca e morte. Aspecto globoso, tom azulado no saco pericárdico. Nas primeiras horas pós morte, dependendo da temperatura fica em sua forma líquida. Depois vai coagular completamente e fica 24h assim, até que descoagula. Enquanto o animal estiver vivo, a própria temperatura corporal e atividade do coração mantém em sua forma líquida – isso permite fazer pericardiocentese. Ruptura de cordas tendíneas: Geralmente Rompe logo aonde ela emerge no músculo papilar. Mudança no padrão do sopro ao auscultar. Menos comuns: Calcificação da valva e das cordas tendíneas: A medida que o cálcio for se depositando no tecido, o cálcio presente por muito tempo leva a uma desdiferenciação dos fibroblastos/miofibroblastos e estes sofrem um processo de metaplasia (transformação de um tecido em outro; tecido conjuntivo em um tecido inicialmente cartilaginoso e posteriormente em um tecido ósseo). Metaplasia osteocartilaenosa da valva e das cordas tendíneas. Isso vai levar a um enrijecimento da valva, a deixando ainda mais comprometida. Conformação de touca de banho. Ao cortar, nota-se que isso quebra ao invés de rasgar – tecido ósseo que se desenvolver por uma cartilagem e processo de calcificação. Na lâmina histológica é mais colágeno. No momento em que ocorre a regurgitação do sangue, esse sangue “raspa” e arranca parte do endotélio de revestimento, ocorrendo regeneração e deixando fibroses debaixo desse endotélio. Enfraquece a parede do átrio e gradualmente esse átrio com fibrose vai ficando mais sujeito a desenvolver rupturas e consequentemente sangramentos para dentro do saco pericárdico. Na linguagem coloquial, chamamos de lesões de jato. Ruptura da parede atrial esquerda: Quando ocorre esse extravasamento de sangue para dentro do saco pericárdico Além disso: Pontinhos vermelhos – área de produçãode medula óssea – dentro da valva ossificada. Nos lugares em que ocorrem a metaplasia óssea, ficam aprisionadas nessas lacunas algumas células tronco que por sua vez entendem que ali é um ambiente para proliferação de elementos do sangue. Patologia EspecialPatologia Especial D A T A 1 5 - 1 0 - 2 0 2 1 Trombose valvar em placa: Ocorre em cima dessas valvas degeneradas. Acúmulo de fibrina com um pouco de hemáceas. É uma das complicações da endocardite também. Se for feito uma lâmina, se observará que existe um processo degenerativo com lesões qualificadas como endocardiose, e a alteração mixomatosa por si só (sem nenhum agente infeccioso envolvido) pode acabar levando a uma solução de continuidade endotelial e consequentemente esse material mixomatoso quando exposto acaba desencadeando a cascata de coagulação e adesão plaquetária, desenvolvendo um pequeno trombo. Ocorre em 3% dos adultos nos USA, principalmente mulheres. Principal doença valvar em humanos no Ocidente. Associada a: Síndrome de Marfan, Síndrome de Ehlers-Danlos, Osteogênese imperfeita e distrofias musculares. Causa insuficiência mitral em apenas 3% dos afetados. Predispõe ao desenvolvimento de endocardite infecciosa (risco 3-8 vezes maior), acidente vascular cerebral e outros infartos, e arritmias. Humanos afetados dificilmente desenvolvem sinais clínicos. Acontece geralmente em pessoas que tem doenças do colágeno – doenças genéticas em que há alteração na produção de colágeno – certas apresentações clínicas e doença da valva mitral mixomatosa. Em outras espécies: Macacos (macaco- rhesus), avestruz, peixes (peixe-zebra ou paulistinha, tetra-neon, rodóstomo ou cabeça de fogo). Doenças semelhantes em outras espécies: Doença da valva mitral mixomatosa: Síndrome da valva mitral prolapsada em humanos.
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