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FILOSOFIA FILOSOFIA MODERNA Miguel Henrique Teixeira Benetti Porfírio Amarilla Filho hhtp://unar.info/ead2 hhtp://unar.info/ead2 hhtp://unar.info/ead2 hhtp://unar.info/ead2 hhtp://unar.info/ead2 hhtp://unar.info/ead2 hhtp://unar.info/ead2 hhtp://unar.info/ead2 hhtp://unar.info/ead2 FILOSOFIA MODERNA APRESENTAÇÃO Porfírio Amarilla Filho 1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Prezado (a) aluno (a) Seja bem-vindo ao estudo da História da Filosofia Moderna! Ao longo das unidades faremos um pequeno percurso sobre os principais aspectos desse período filosófico e suas principais contribuições ao pensamento humano. Como disciplina do curso de Filosofia, a Filosofia Moderna se destaca como um período único que, desde a sua crítica ao período medieval como a construção de um novo paradigma de ciência, compartilhou junto à história da filosofia contemporânea a construção do pensamento humano, de quem hoje somos herdeiros. Por isso, procuraremos compreender, na Unidade 1, a ruptura com pensamento medieval e as fontes originárias do Renascimento que puseram em movimento a busca por uma nova compreensão de mundo e uma nova proposta da concepção de ciência. Na Unidade 2, percorreremos o pensamento racionalista de Descartes, Espinosa e Leibniz a fim de compreendermos essa vertente da teoria do conhecimento, assim como as implicações que tiveram as afirmações racionalistas à filosofia moderna. Do mesmo modo, percorremos, na Unidade 3, a outra vertente da teoria do conhecimento, o empirismo, formada por Hobbes, Locke e Hume com o intuito de compreender por que a filosofia empirista se tornou uma das mais férteis propostas de pensamento da Filosofia Moderna. Em seguida, dedicaremos a compreensão do criticismo kantiano e o racionalismo de uma filosofia idealista que fundamentou não somente as bases do conhecimento contemporâneo, mas também o entendimento da razão como objeto do conhecimento humano. Por último, na Unidade 5, percorremos o pensamento iluminista e os princípios que fizeram dessa corrente filosófica um dos ícones do pensamento moderno. FILOSOFIA MODERNA APRESENTAÇÃO Porfírio Amarilla Filho 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” O percurso, portanto, é um caminho fértil e imprescindível ao estudo da Filosofia. Por isso, intencionamos que, ao final dessa disciplina, você possa ter adquirido uma compreensão desse período filosófico. Que o estudo dessa disciplina seja um prazer para você! Bons estudos! FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 01 - O SURGIMENTO DO RENASCIMENTO Porfírio Amarilla Filho 1 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender o período histórico e filosófico do Renascimento é caracterizado por movimentos de transformações literárias, artísticas, filosóficas e sociais que se iniciaram ao final do século XIV e se estenderam até o fim do século XVI. ESTUDANDO E REFLETINDO No estudo da Filosofia, o Renascimento é um momento de singular importância, por sua semelhança, dentro de seus próprios aspectos, ao movimento ao da filosofia pressocrática, ou seja, o questionamento, a contestação e a construção de um pensamento caracteristicamente próprio. Segundo Marcondes (2008, p. 143), a tradição da história da filosofia tratou o Renascimento como um período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna. Todavia, há uma tendência, atualmente, de considerá-lo como um período de identidade própria, já que se desenvolve uma concepção filosófica que provocou o seu distanciamento das concepções medievais e não se confundiu com as concepções Modernas. O Renascimento é, portanto, fundamental como ponto de análise e de compreensão ao estudo da Filosofia, pois, trata-se de um momento influente e determinante ao estudo da Filosofia Moderna, sem o qual muito do sentido do conhecimento científico-filosófico se perderia se não entendêssemos este momento do pensamento humano. O pensamento renascentista O conceito Renascimento tem seu sentido semântico em “um segundo nascer”, o renascer. Por Renascimento, portanto, designa-se um período histórico e filosófico em que um novo espírito humano nasce para uma “nova ação”. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 01 - O SURGIMENTO DO RENASCIMENTO Porfírio Amarilla Filho 2 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Para Émile Bréhier, trata-se de um período da filosofia caracterizado: ∑ Por um desejo intenso do homem por outro modo de vida, novo e corajoso; ∑ Por um enorme crescimento das técnicas e do conhecimento; ∑ E por profundas transformações nas condições materiais e intelectuais da Europa (2005, p. 494). Essas aspirações por transformações sofreram grandes influências de outros tempos filosóficos, assim como se encontram influências próprias dos contextos que o homem renascentista produz o seu próprio tempo. Com efeito, percebe-se que, ao longo do pensamento renascentista, formam-se aspectos que vão caracterizando-se em linhas distintas uma das outras. Segundo Marilena Chaui, são três as grandes linhas de pensamento renascentista (2010, p. 60) que se formam, são elas: (i) Os pensamentos advindos dos clássicos gregos e do conjunto de livros do hermetismo ou magia natural, que compreendia o homem como agente sobre o mundo por meio de conhecimento e prática; (ii) O pensamento florentino que valoriza a vida ativa fundamentada na liberdade da ação humana na vida política; (iii) O pensamento que propunha o ideal humano como autor de seu próprio destino, seja por meio do conhecimento, seja por meio da política, seja por meio das técnicas. Para Marcondes, o lema proposto pelo filósofo sofista Protagóras: “o homem é a medida de todas as coisas”, tomado como exemplo e norte ao pensamento renascentista, é o que melhor exemplifica o ideal humano que se constrói nesse período (2008, p. 143). De fato, o humanismo se caracteriza pela produção de uma nova identidade cultural humana advindo de temas pagãos gregos contidos nas obras de artes e literárias, escapando, assim, da concepção filosófico-teológica medieval, da visão teocêntrica do mundo e de todas as teses morais e políticas ligadas a essa compreensão de mundo. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 01 - O SURGIMENTO DO RENASCIMENTO Porfírio Amarilla Filho 3 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” A segunda influência no pensamento renascentista repousa sobre Florença, na Itália do sec. XV, justamente por ser uma das cidades mais ricas e influentes da Europa. Parte dessa riqueza acabou se manifestando nas artes, na arquitetura, na literatura e na filosofia. Florença, em meio à sua riqueza e ao seu desenvolvimento cultural, social e político, buscou a construção de uma nova identidade e de um esplendor cultural, colaborando, principalmente, para o desenvolvimento do pensamento político e, consequentemente, para a crítica e a ruptura com o pensamento medieval. A última influencia no pensamento Renascentista se caracterizou pela importância da compreensão da natureza e dos conhecimentos de alquimia e astrologia. São representantes dessa corrente filosófica. ∑ Paracelso (1493-1541); ∑ Agripa (1486-1535); ∑ Telésio (1509-1589); O Renascimento é, portanto, um momento em que se percebe que há uma renovação do modo de pensar e agir humano, que influenciará o intelecto, a moral, a ciência, a política e outras áreas do conhecimento humano moderno. Para fins didáticos, examinaremos, nesse primeiro momento, alguns traços predominantes no pensamento renascentista que permitem defini-lo, em parte, também como um movimento humanista, em que o homem é valorizado e colocado como centro da ação sobre o mundo e defendido em sua liberdade, poder de criação e transformação.FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 01 - O SURGIMENTO DO RENASCIMENTO Porfírio Amarilla Filho 4 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” BUSCANDO CONHECIMENTO O movimento humanista, embora tenha sua ênfase nas questões artísticas e literárias, caracteriza-se, também, como um movimento filosófico. Por um lado, há de se considerar o Humanismo como um movimento concomitante ao Renascimento e detentor de algumas características próprias que o podem classificar como um movimento peculiar ao Renascimento. Por outro, não é difícil encontrar em alguns autores designando tal período como humanista-renascentista, caracterizando-o como um período do pensamento humano que buscou um novo sentido para o homem e seus problemas (o Humanismo) e fez renascer outra civilização e outra cultura (o Renascimento). De fato, não se tem, no conjunto das obras renascentistas, nenhum grande sistema filosófico do porte de Platão ou Aristóteles. Todavia, segundo Reali&Antiseri, trata-se de uma renovação de pensamento de modo gradativo e decorrente da revisita aos clássicos antigos gregos, como os textos platônicos, aristotélicos e neoplatônicos, bem como aos grandes autores e artistas romanos. Assim, é um período de críticas e conflitos entre paradigmas medievais e paradigmas que emergem de outras leituras do homem europeu sobre o mundo (2004, p. 12). Destacam-se alguns filósofos que se deixaram influenciar e influenciaram o novo olhar sobre o mundo: ∑ Marcílio Ficino (1443-1499) ∑ Pico Della Mirandola (1463-1494) ∑ Erasmos de Rotterdam (1466-1536) ∑ Martinho Lutero (1483-1546) ∑ Giordano Bruno (1548-1600) ∑ Tommaso Campanella (1568-1639) ∑ Nicolau Maquiavel (1469-1527) ∑ Tomás Morus (1478-1535) FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 02 - O HUMANISMO Porfírio Amarilla Filho 5 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender o humanismo desenvolvido no período do Renascimento. ESTUDANDO E REFLETINDO O Humanismo O termo Humanismo foi cunhado no início dos anos 1800 para designar o movimento filosófico que nasceu na Itália no século XIV, difundindo-se para os demais países da Europa. O homem vitruviano - Homem Vitruviano - é o famoso desenho que acompanhava as notas que Leonardo da Vinci fez ao redor do ano 1490 num dos seus diários. Descreve uma figura masculina desnuda separadamente e simultaneamente em duas posições sobrepostas com os braços inscritos num círculoe num quadrado. A cabeça é calculada como sendo um oitavo da altura total. Às vezes, o desenho e o texto são chamados de Cânone das Proporções. (HOMEM VITRUVIANO). Os pensadores humanistas são aqueles que se influenciaram pelos clássicos gregos e latinos e que acabaram por constituir alguns elementos para a origem da cultura moderna. No humanismo, a totalidade do homem é reconhecida em sua concepção plena, ou seja, o homem é formado por corpo e alma e determinado a viver em um mundo, que se apresenta por meio de leis naturais e serem conhecidas e dominadas pelo homem. Por isso, esse pensamento afirmou a importâncias dos estudos das ciências naturais, tendo o homem como centro da produção desse saber. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 02 - O HUMANISMO Porfírio Amarilla Filho 6 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Com efeito, no humanismo, o homem se constitui de uma naturalidade intrínseca da qual emana a necessidade de conhecer a si mesmo e a natureza que o cerca. Por isso, o humanismo reivindica para a humanidade a liberdade; o prazer; a racionalidade e a cientificidade do saber em detrimento de uma vida contemplativa e apenas teórica. Diferente do homem medieval, o homem humanista reconhece em si mesmo a sua historicidade como forma de ligá-lo, de modo distinto, ao seu presente. Se o homem medieval buscava na leitura dos clássicos gregos as justificativas da fé cristã, ao humanista, a releitura dos clássicos gregos foi o desafio para descobrir a verdadeira face da Antiguidade, libertando-a dos sedimentos acumulados ao longo da Idade Média. A partir da segunda metade do século XIV, tem-se uma tendência aos estudos das litterae hamanae (letras humanas) em que os paradigmas gregos e latinos são tomados como ponto de referência para as atividades culturais e espirituais humanas. Em geral, é na perspectiva platônica que as inspirações humanistas repousam. Embora seja Platão a fonte inspiradora dos pensamentos humanistas, cabe ressaltar a presença de Aristóteles em todo decorrer do período humanista, seja como fundamentos para a rejeição das ideias medievais; seja como fundamento para reavaliação das leituras clássicas. BUSCANDO CONHECIMENTO Petrarca e a nascente do pensamento humanista Considera-se o poeta florentino Francesco Petrarca (1304-1374) como o precursor do movimento humanista. Embora não fosse um filósofo, foi ele quem defendeu a necessidade da retomada dos clássicos gregos (1) O termo Idade das Trevas tornou-se ao longo do período renascentista um termo pejorativo para designar a Idade Media, entre os séculos IV e XV, como um período de flagelo e ruína. Porém, são os inúmeros os aspectos que fazem da Idade Média um período peculiar para o florescimento das artes, da ciência e da filosofia. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 02 - O HUMANISMO Porfírio Amarilla Filho 7 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” (2) Averróis – 1126-1198 – o mais célebre filósofo de língua árabe da Idade Média. Sua teoria da unicidade do intelecto subverteu as concepções e a rejeição das especulações metafísicas e teológicas do período medieval. É em Petrarca também que se originou a visão obscura da Idade Média, ficando conhecida, a partir dessa interpretação, como a “Idade das Trevas” (1). Tendo como contrapondo as teses medievais do naturalismo difundido por Averróis (2) e pelo domínio indiscriminado da dialética e da lógica, Petrarca argumentou que era preciso ao homem moderno objetivar o conhecimento de si mesmo, como movimento para conhecer a própria alma humana, assim como era preciso o abandono da dialética a favor da eloquência ciceroniana. Para Petrarca, os homens se encantaram com as coisas do mundo e se esqueceram de si mesmo: “Há muito tempo eu deveria ter aprendido, inclusive com os filósofos pagãos, que nada é digno de admiração além da alma, para a qual nada é grande demais” (APUD IN REALE & ANTISERI, p. 22). Esse movimento socrático de retornar ao interior de si mesmo, como fundamento para a compreensão do mundo, contrapõe-se à visão teocêntrica medieval, pois não se tem mais o sentido do mundo fora de si mesmo, e abre caminho para uma racionalidade que compreende primeiro a si para depois compreender aquilo que se produz como ideia de mundo. É a partir dessa retomada do olhar grego sobre o homem e a alma humana que Petrarca abre o caminho da renovação a outros filósofos, como se verá a seguir em Leonardo Bruni. A nova dimensão do pensamento humano segundo Leonardo Bruni FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 02 - O HUMANISMO Porfírio Amarilla Filho 8 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Leonardo Bruni (1370-1444) - http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_Bruni Leonardo Bruni (1370-1444) foi chanceler em Florença e ficou conhecido pelas traduções de A Política e Ética a Nicômaco de Aristóteles. O texto De recta interpretatione foi anexado à tradução de Ética a Nicômaco para relevar discussões acerca da tradução. Nesse trabalho, Bruni reavalia o pensamento aristotélico, considerando que a dimensão contemplativa que propunha Aristóteles ao homem estava distorcida pelo pensamento medieval. Para Bruni, o homem é o verdadeiro parâmetro para a construção do pensamento e dos juízos que advém de si mesmo,seja no conhecimento, seja na política, seja na ação moral. O homem assume valor maior por pensar o objeto e não o objeto pensado por ele, pois, quando o pensa, “pensa e age” sobre o objeto e sobre si mesmo. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 03 - NICOLAU DE CUSA Porfírio Amarilla Filho 9 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender o pensamento do filósofo renascentista Nicola de Cusa (1401 – 1464). ESTUDANDO E REFLETINDO A Douta Ignorância de Nicola de Cusa Nicolau de Cusa (1401-1464) foi um dos filósofos renascentistas que se influenciou pelo pensamento platônico. Um de seus trabalhos que ressaltou tal influência foi a doutrina da Douta Ignorância (docta ignorantia), fundamentada na reflexão socrática (3) da consciência dos limites do próprio saber. Segundo Cusa, tudo o que homem poderia fazer, em relação a Deus, era confessar a total impossibilidade de entendê-Lo. Com efeito, o conhecimento requer sempre uma passagem do conhecido ao desconhecido. Assim, quando se parte do infinito, ou seja, do desconhecido, não se tem proporção nenhuma para conhecê-lo, pois a infinitude escapa à compreensão humana. Afirma: Observa isto: o intelecto deseja saber. Todavia, o desejo natural não o leva a conhecer a quididade (essência) de um Deus que lhe é afim, mas a conhecer um Deus tão grande que não existe nenhum limite para a sua grandeza. Por isso, Deus é maior do que qualquer conceito e do que tudo o que a mente humana pode conhecer. O intelecto não ficaria satisfeito consigo mesmo se tivesse uma imagem do seu criador tão pequena e tão imperfeita que pudesse se tornar cada vez maior e cada vez mais perfeita. (CUSA APUD IN NICOLA, 2005, p, 161) (3) “Só sei que nada sei” expressão socrática que visa a demonstrar o movimento dialético entre o conhecido e o desconhecido. À medida que Sócrates busca encontrar o homem mais sábio da Grécia, depara-se com a ignorância de si mesmo e dos outros. Platão em Apologia de Sócrates afirma que, segundo seu mestre, o verdadeiro saber consiste em saber que não se sabe. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 03 - NICOLAU DE CUSA Porfírio Amarilla Filho 10 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Nessa concepção de intelecto, conhecer é fundamentar uma proporção entre o conhecido e o desconhecido cujo processo é lento, incompleto e gradativo. Ou seja, a verdade que se busca no conhecimento nunca se estabelece, senão por aproximação, assim como um polígono, por princípio, nunca poderá ser um círculo, por mais que multipliquemos os seus lados. Para Cusa, todos os esquemas cognitivos humanos têm caráter proporcional e relativo. Por não ser o intelecto a verdade, não coincide com ela e não sendo a mente a verdade absoluta, única e não relativa, acaba por não poder alcançá-la. Assim, a conclusão de Cusa é de que o intelecto nunca pode compreender a verdade de modo preciso, pois há uma desproporção estrutural entre a razão (finita) e o infinito que, todavia, ela deseja conhecer. Nessa perspectiva, a mente não é senão um polígono que deseja ser um círculo, mas que pela sua própria estrutura nunca o será. Todavia, isso não significa que não haja um caminho para a aproximação do conhecimento intelectual. Ao contrário, a mente pode superar o modo comum de racionar, especulando a distinção dos graus de conhecimento. Cusa destaca três graus de conhecimento que a razão pode percorrer: (i) a percepção sensorial, que é sempre positiva ou afirmativa; (ii) a razão (ratio), que é discursiva e mantém os opostos distintos, negando ou afirmando as coisas nos seres (princípio de não-contradição); (iii) e a intelectual (intellectus), que está acima de toda afirmação ou negação racional ao captar por um ato intuitivo a coincidência dos opostos. Cardeal Nicola de Cusa - Nicolau de Cusa fundou um asilo para idosos em Kues, hoje conhecida como Bernkastel-Kues, cidade localizada a cerca de 130 quilômetros ao sul de Bona, capital da Alemanha. Este edifício abriga hoje a biblioteca de Cusa, com mais de 310 manuscritos. (Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_de_Cusa ) Segundo Bréhier, a Douta Ignorância é o estado de espírito daquele que não se satisfaz com o conhecimento racional apenas, mas sabe o quanto está longe do conhecimento intelectual e busca se aproximar dele (2005, p. 498). Aqui, percebe-se, FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 03 - NICOLAU DE CUSA Porfírio Amarilla Filho 11 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” portanto, o espírito moderno que guia a filosofia de Cusa, pois busca propor um método, tentando extrair do platonismo uma explicação metafísica para compreender o universo do conhecimento humano. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_de_Cusa) BUSCANDO O CONHECIMENTO O Humanismo neoplatônico Tanto Petrarca como Bruni e Cusa serviram de contraponto para caracterizar e analisar os primeiros passos do pensamento humanista que se formava nesse período. Nota-se que enquanto Petrarca e Cusa afirmaram a filosofia socrática como fundamento para direcionar o olhar ao seu tempo, Bruni, por sua vez, inspirou-se na leitura de Aristóteles para afirmar a perspectiva humana e negar a visão medieval. Esse movimento de navegação entre um e outro filósofo da Antiguidade deve ser compreendido com particular cuidado. Reale&Anteseri comentam que as perspectivas de renovação do espírito humano são evidentes e provocam de fato uma contestação ao pensamento medieval. Contudo, se por um lado, o humanismo é uma renovação do espírito humano; por FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 03 - NICOLAU DE CUSA Porfírio Amarilla Filho 12 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” outro, há implícito uma continuidade do pensamento escolástico, visto que, alertados pela visão de Kristeller, eles afirmam que o aristotelismo renascentista seguiu os métodos vigentes até então (2004, p 8). Nessa perspectiva, percebe-se que existiu, em alguns movimentos, a rejeição óbvia ao aristotelismo-escolástico, mas não existiu o seu abandono. O Aristóteles lido pelos humanistas é um Aristóteles no original, distantes dos comentadores medievais e lido com novo olhar, à luz de um novo espírito. Por isso, cabe ao estudante de Filosofia perceber que o humanismo não se trata apenas da reprodução do pensamento platônico pura e simplesmente, nem da negação pontual dos textos aristotélicos, mas de uma leitura dos textos clássicos gregos a partir de perspectivas neoplatônicas (4), visando ao rompimento e até mesmo ao abandono da interpretação escolástica. Pode-se afirmar, com certa segurança, que a influência de Platão marcou a produção filosófica do período Renascentista. Marsílio Ficino, Pico Della Mirandolla, entre outros, foram alguns dos filósofos que repercutiram, em suas obras, o predomínio do neoplatonismo no modo de compor o pensamento filosófico humanista, cuja intenção era reviver um ambiente intelectual fértil a partir do olhar da Grécia Clássica Antiga. (4) Neoplatonismo: conjunto de doutrinas filosóficas que especialmente se intitularam como platônicas no século III FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 04 - A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA Porfírio Amarilla Filho 13 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Entender o início da revolução científica. ESTUDANDO E REFLETINDO O Renascimento e a revolução científica As transformações que se iniciariam nas artes e na literatura no período renascentista não poderiam deixar de se estender ao conhecimento científico. A idade Moderna pode ser considerada o período das revoluções: a reforma, a revolução científica, a revolução francesa, a revolução industrial são termos que buscam retrataro espírito inovador que deu margem à surgimento de um novo homem. Obras como Nova Atlântida e Novum Organum de Francis Bacon; Meditações de René Descartes; O Príncipe de Maquiavel e Utopia de Thomas Morus são alguns ícones da crítica aos dogmas medievais e a um velho conhecimento. Nesse contexto, a disputa entre as teses platônicas e aristotélicas pareciam ser inevitáveis. Enquanto a primeira ressurgia como a possibilidade de renovar os caminhos do pensamento humano, como já mencionado; a outra serviria ora de contrapondo às novas teses, ora como fundamento para surgimento de outras teses. É inspirado em Aristóteles, por exemplo, que Nicolau Copérnico deu ênfase às análises e as pesquisas experimentais e na importância da investigação da natureza. Todavia, é em Platão que o mesmo Copérnico valoriza a explicação do cosmo por intermédio da matemática. A Revolução Científica O termo Revolução Científica indica as profundas inovações ocorridas no campo da ciência, nas investigações inovadoras dos fenômenos naturais conhecidos, nas metodologias de pesquisas e na forma de admitir e validar os conhecimentos FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 04 - A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA Porfírio Amarilla Filho 14 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” adquiridos, em que a observação, a experimentação e a verificação de hipóteses constituem critérios à fundamentação do conhecimento. As contribuições de Nicolau Copérnico, Johannes Kepler e de Galileu Galilei são inestimáveis para a composição do panorama científico que se desenvolveu ao longo da modernidade. A eles, somam-se Francis Bacon, René Descartes e Isaac Newton que complementaram os princípios da ciência moderna. Assim, no estudo a seguir procurar-se-á abordar alguns movimentos da Filosofia Renascentista que compuseram o panorama científico da Idade Moderna. O Sistema Heliocêntrico de Copérnico Segundo Reale&Antiseri, a teoria heliocêntrica de Nicolau Copérnico (1473-1543) (5) constitui-se como marco da Revolução Científica por se apresentar como uma autêntica “revolução” no mundo das ideias do homem sobre o universo e sua relação com esse mesmo universo (2004, p. 167). A teoria heliocêntrica copernicana contrapõe-se à teoria geocêntrica de Aristóteles defendida por Claudio Ptolomeu (sec. II d.C), o último dos grandes astrônomos gregos. Nicolau Copérnico (1473-1543) - A teoria do modelo heliocêntrico, a maior teoria de Copérnico, foi publicada em seu livro, De revolutionibus orbium coelestium ("Da revolução de esferas celestes"), durante o ano de sua morte, 1543. Apesar disso, ele já havia desenvolvido sua teoria algumas décadas antes. (5) Nicolau Copérnico nasceu em Torum às margens do Vístula, Polônia. Estudou geometria, cálculos astronômicos e fundamentos da astronomia na Cracóvia, indo para Bolonha, Pádua e Ferrara complementar seus estudos em direito canônico. Retornando à Polônia, desenvolveu seus estudos de astronomia, onde, por volta de 1532, completou os estudos que culminaram na obra Sobre a revolução dos corpos celestes (1543). FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 04 - A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA Porfírio Amarilla Filho 15 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” O geocentrismo foi uma ideia dominante na astronomia durante toda a Antiguidade e Idade Média. O sistema ptolemaico explicou o movimento dos planetas por meio de uma combinação de círculos: o planeta se move ao longo de um epiciclo, cujo centro se move ao longo de um pequeno ciclo chamado deferente. A terra seria então o planeta que, afastada um pouco do centro do deferente, move-se distante desse para dar conta do movimento não uniforme dos planetas (OLIVEIRA; SARAIVA, 2000, p. 54). Fonte: http://www.mat.ibilce.unesp.br BUSCANDO CONHECIMENTO Em De revolutionibus, Copérnico propõe uma nova visão de cosmo. Os princípios que moveram a composição da teoria de Copérnico têm sua influência em duas fontes: a primeira são as hipóteses não aceitas de Aristarco de Samos (310-230 a.C.), que afirmou pela primeira vez o Sol, e não a Terra, ser o centro do universo, e a influência dos pitagóricos Filolau (séc. V a.C.) e Ecfanto (séc. IV a.C.) que também FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 04 - A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA Porfírio Amarilla Filho 16 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” afirmaram que seria a Terra quem orbitava em torno do Sol; a segunda, o neoplatonismo. A partir da primeira fonte, Copérnico opera o conceito de que a Terra é apenas um dos seis planetas (conhecidos) girando em torno do Sol, colocando cada um deles em ordem de distância do Sol (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno) e determinando as distâncias destes em relação ao Sol. Deduzindo, desse modo, que quanto mais perto do Sol maior será a sua velocidade orbital. Na segunda fonte, foram seus estudos com Domingos Maria Novara que o influenciou à leitura do pensamento neoplatônico a partir de Proclos Lício (412-485). Proclos propunha a matemática como instrumento para o entendimento do universo. Nessa concepção, são as propriedades matemáticas que formam as características verdadeiras e imutáveis das coisas. Em sua carta dedicatória a Paulo III encontram-se as fontes do seu pensamento: “Por isso assumi o trabalho de reunir os livros de todos os filósofos, que pudesse ter, com o fito de indagar se acaso algum tivesse opinado que os movimentos das esferas do mundo fossem diversos daqueles que são admitidos por aqueles que ensinam matemática nas escolas. E encontrei assim o primeiro em Cícero que Niceto pensara que a terra se movesse. Depois, também em Plutarco encontrei que outros ainda eram da mesma opinião (...)” (COPÉRNICO APUD IN REALE&ANTISERI, p. 186) Copérnico adota a concepção de um cosmo finito fundamentado na forma esférica, em que o movimento perfeito segue a mesma ordem. Sua teoria, com efeito, apenas rompe com a proposta aristotélico-ptolomaica por adotar o Sol como centro do cosmo e não a Terra. Embora seja um universo fechado tal qual o proposto por Ptolomeu. Contudo, tal proposta torna-se importante por revelar outro caminho à compreensão da realidade e ao conceber um paradigma alternativo em relação àquele de tradição milenar. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 05 - JOHANNES KEPLER E A ÓRBITA ELÍPTICA Porfírio Amarilla Filho 17 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender o pensamento de Johannes Kepler. ESTUDANDO E REFLETINDO A órbita elíptica dos planetas Johannes Kepler (1571-1630) é personagem fundamental ao entendimento da Revolução Científica. Nascido nas proximidades de Stuttgard, Alemanha, inicialmente se dedicou ao estudo de teologia, abandonando-o após quatro anos de seminário. Convidado a ser professor de matemática em Graz, na Áustria, permaneceu no cargo por apenas alguns anos, pois foi expulso da cidade por ser protestante, devido à pressão da Igreja Católica com a Contrarreforma. (Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Cop%C3%A9rnico) Johannes Kepler (1571-1630) - estudou inicialmente para seguir carreira teológica. Na Universidade, ele leu sobre os princípios de Copérnico FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 05 - JOHANNES KEPLER E A ÓRBITA ELÍPTICA Porfírio Amarilla Filho 18 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” (proeminente cônego católico) e logo se tornou um entusiástico defensor do heliocentrismo. Transferiu-se para Praga para trabalhar com o astrônomo Tycho Brahe, Como assistente de Brahe, Kepler teve a oportunidade de aprofundar seus estudos sobre os astros e, principalmente, seu interesse na teoria heliocêntrica de Copérnico. De influência platônica-pitagórica, Kepleracreditou que a natureza tinha sua ordem por regras matemáticas. Em sua obra Mysterium Cosmograficum, o sistema Copérnico vincula-se à concepção platônica de que uma razão matemática divina presidiu a criação do universo. Em Timeu, Platão propõe um modelo físico do universo que se constitui como um conjunto de axiomas cujas propriedades do universo são logicamente deduzidas, sendo a sua ordem constituída por relações matemáticas. Nessa proposta, os astros, assim como os sons, circulam de acordo como uma mesma relação matemática em espaço e tempo (no caso dos sons) que determina a harmonia do conjunto. A obra de Kepler consistiu em harmonizar a geometria e a matemática ao mundo. Deus é matemática, afirmou Kepler. Com essa inspiração, Kepler conseguiu determinar a órbita terrestre, em que, a partir de dados observados no planeta Marte, abandonou a ideia copernicana de uma órbita circular, adotando, em seus cálculos, uma órbita elíptica e de velocidade variável. Dadas as condições em que as observações se desenvolveram e os recursos matemáticos disponíveis até então, a descoberta de Kepler, além de fantástica, rompe com o dogma de que o movimento circular é natural e perfeito. Esses movimentos na filosofia da natureza, tanto de Copérnico como de Kepler, iniciam a cisão nas bases do pensamento e do conhecimento medieval. Se somarmos a isso, as transformações nas artes, na política, na cultura e na religião, o pensamento medieval sofre pela disposição que se encontra nos homens renascentistas em renovar o próprio tempo em que se encontram. Por isso, é sobre Galileu Galilei que repousará a admiração dos homens modernos e, por que não dizer, dos contemporâneos. O novo sistema cósmico, o novo instrumento, o novo método são aspectos de uma só intenção: fazer renascer uma nova interpretação do mundo, em seu sentido amplo. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 05 - JOHANNES KEPLER E A ÓRBITA ELÍPTICA Porfírio Amarilla Filho 19 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” O que se procura ressaltar aqui à compreensão do estudante de Filosofia, é que os filósofos vistos até aqui, e aqueles ainda não examinados, são apenas parte de um entrecruzamento do ocaso de um período que se sucumbe, não pela sua falta de engenhosidade nas explicações filosóficas, mas pela nascente de um período que viu naquelas explicações o esgotamento de um saber que impedia o progresso do conhecimento. BUSCANDO CONHECIMENTO Para refletir mais sobre o assunto, apresento um excerto sobre a nova astronomia desenvolvida por Kepler1 Uma Nova Astronomia Suas investigações se estenderam e culminaram em “Uma Nova Astronomia”, incluindo as primeiras duas leis dos movimentos planetários, que começaram com a analise dos dados de Tycho da órbita de Marte. Kepler calculou e recalculou várias aproximações da órbita de Marte usando uma equante (ferramenta matemática que Copérnico já havia eliminado de seu sistema), criando um modelo que usualmente entrava em acordo com as observações de Tycho dentro de um erro médio de dois minutos de arco (1/60 de grau). Mas ele não estava satisfeito com os resultados, pois alguns pontos do modelo eram diferentes dos dados em oito minutos de arco. O vasto conjunto de métodos matemáticos astronômicos parecia insuficiente para ele, até que conseguiu ajustar os dados em uma órbita ovóide. Na visão religiosa do cosmos de Kepler, o Sol (um símbolo de Deus Pai) fonte da força motora no sistema solar. Com embasamento físico, Kepler foi influenciado pela analogia que William Gilbert apresentou em sua teoria da alma magnética da Terra em De Magnete (1600) e em seus outros trabalhos em óptica. Kepler supôs que o poder de radiação do Sol diminuía com a distância, causando movimentos mais rápidos e mais lentos quando estes se moviam mais próximos ou 1 Disponível: < https://www.google.com.br/?gfe_rd=cr&ei=XFJaVIKXIcqU8Qev9oGwBA&gws_rd=ssl#q=johannes+kepler+pdf> , acesso em: 18/10/2014. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 05 - JOHANNES KEPLER E A ÓRBITA ELÍPTICA Porfírio Amarilla Filho 20 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” mais distantes do Sol. Talvez essa suposição acarretasse em uma relação matemática que recuperasse a ordem astronômica. Baseado em medidas de afélios e periélios da Terra e Marte, ele criou uma equação que relacionava os raios dos movimentos dos planetas ao redor do Sol com o inverso de suas distâncias até o Sol. Para verificar essas relações do começo ao fim do ciclo orbital, eram necessários cálculos extensivos, e para simplificar seu trabalho, em 1602, Kepler reformulou a proporção em termos geométricos da seguinte maneira: "A linha que liga o planeta ao Sol varre áreas iguais em tempos iguais", conhecida hoje como a segunda lei dos movimentos planetários ou como a segunda lei de Kepler. Ele ajustou os cálculos para toda a órbita de Marte, usando sua lei geométrica e usando a órbita em forma de ovóide. Após aproximadamente 40 tentativas insuficientes, em meados de 1605 ele teve a ideia de uma elipse. Descobriu que uma órbita elíptica ajustava os dados de Marte, e imediatamente concluiu que todos os planetas se moviam em elipses, com o Sol em um dos focos, sendo esta a primeira lei dos movimentos planetários ou primeira lei de Kepler. Devido ao fato de não possuir um ajudante, Kepler não estendeu suas análises matemáticas referentes a Marte. Ao final daquele ano, ele completou o manuscrito de “Uma Nova Astronomia”, embora não pode ser publicado até 1609 devido à legalização do uso das observações de Tycho, proprietário dessa herança. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 06 - GALILEU E A OBSERVAÇÃO DOS ASTROS Porfírio Amarilla Filho 21 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender o pensamento desenvolvido Galileu Galilei. ESTUDANDO E REFLETINDO A observação dos astros Galileu Galilei (1564-1642) é considerado o pai da física moderna. Sua contribuição para a compreensão do Modelo Heliocêntrico de Copérnico e para os avanços da ciência nos anos que se seguiram, após as publicações dos seus trabalhos, são fundamentais ao entendimento do período moderno. Nascido em Pisa, na Itália, Galileu foi membro de uma família burguesa. Mudou-se para Florença aos 10 anos de idade, onde iniciou seus estudos e, sob orientação dos pais, mais tarde, matriculou-se em curso de Medicina, todavia, abandonando-o. Dedicou seus estudos em matemática graças à influência de Ostílio Ricci, que fora aluno do grande matemático Nicola Tartaglia. Galileu Galilei (1564-1642) desenvolveu os primeiros estudos sistemáticos do movimento uniformemente acelerado e do movimento do pêndulo. Descobriu a lei dos corpos e enunciou o princípio da inércia e o conceito de referencial inercial, ideias precursoras da física mecânica newtoniana. (Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei ) FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 06 - GALILEU E A OBSERVAÇÃO DOS ASTROS Porfírio Amarilla Filho 22 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Seguindo os passos de Ricci, que propunha que a matemática fosse uma ferramenta prática para os problemas da mecânica e da engenharia, Galileu procurou conciliar a visão da matemática às questões da natureza. Entre as suas contribuições à Revolução Científica está também o uso do telescópio nas observações. Embora não fosse o inventor do telescópio, coube a Galileu o aprimoramento e o uso desse instrumento na atividade científica. Galileu começou suas observações telescópicas em 1610, contribuindo para várias descobertas na astronomia, destacam-se as mais importantes: (i) a Via Láctea era constituída por uma infinidade de outras estrelas; (ii) Júpiterpossuía quatro satélites orbitando ao seu redor; (iii) Vênus passava por um ciclo de fases, igualmente como a Lua; (iv) A Lua possuía um relevo formado por cavidades e elevações e o Sol não possuía uma superfície lisa, mas apresentava manchas. Todavia, as descobertas mais importantes são aquelas que deram sustentação à tese copernicana sobre o sistema heliocêntrico. Por causa delas, Galileu foi acusado de heresia pela Inquisição Católica e obrigado a se retratar. O papa Urbano VIII, convencido pelos adversários de Galileu de que seu Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo Ptolomaico e Copernicano se caracterizava como uma afronta à autoridade papal, chamou-o à Roma para se justificar por que havia quebrado o acordo, de 1616, junto ao cardeal Berlamino, em que Galileu se comprometera em não ensinar nem defender as teses copernicanas. Como as explicações de Galileu não satisfizeram o Santo Ofício, foi obrigado a abjurar sobre as teses defendidas: “Eu, Galileu, filho daquele Vicenzo Galileu de Florença, nesta minha idade de setenta anos, constituído pessoalmente em juízo e ajoelhado diante de vós, (...) e tendo diante de meus olhos os sacrossantos Evangelhos, que toco com as próprias mãos, juro que sempre acreditei, acredito agora e, com a ajuda de Deus, acreditarei no futuro em tudo aquilo que a santa igreja católica e apostólica mantém, prega e ensina” (APUD IN REALE&ANTESERI, 2004, p. 209). FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 06 - GALILEU E A OBSERVAÇÃO DOS ASTROS Porfírio Amarilla Filho 23 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” (6) Pitágoras- 570-500 a.C. é conhecido por ter fundado uma associação religiosa de tipo órfico e também conhecido por sua doutrina da transmigração das almas, contudo, a sua religiosidade está associada à concepção de que o número é o princípio de todas as coisas. Deve-se a ele a representação do número de forma figurativa em vez de linear. Galileu foi condenado à prisão domiciliar na Vila de Médici e posteriormente na Vila de Arcetri, onde escreveu sua última obra. Entre as publicações encontram-se as seguintes obras: Sidereus Nuntius (Mensageiro Celeste), publicado em 1610; O ensaísta, em 1623; Diálogo sobre dois máximos sistemas do Mundo Ptolomaico e Copernicano, em 1638, produzido já em seu cativeiro. BUSCANDO CONHECIMENTO A ciência de Galileu Galileu não é autor de uma teoria da física universal, contudo, seu trabalho conduz à criação de uma ciência físico-matemática da natureza, capaz de prever alguns fenômenos. Movido por um intenso desejo de compreensão dos fenômenos da natureza, Galileu não se preocupou, em suas pesquisas, em dizer como as coisas se comportam na natureza, mas em provar que a matemática, com seus triângulos, seus círculos e suas figuras geométricas, é a linguagem capaz de decifrar o livro da natureza. Desse modo, a natureza passa a ser tratada por Galileu como uma abstração entre o espaço e pontos que podem ser expressos por meio de equações matemáticas (MARCONDES, p. 158). Com efeito, Galileu organizou, sistematizou e sintetizou a contribuição de vários pensadores anteriores ao seu tempo. Nessa empreitada, concluiu que a ciência é de fato objetiva, pois procede a partir de um método preciso que se fundamenta em regras ao buscar o “entendimento das coisas”, fugindo, assim, das qualidades subjetivas das coisas, ou seja, das qualidades variáveis e dependentes, ao menos em parte, do sujeito: a cor, o sabor, a luminosidade etc. Percebe-se, portanto, que o pensamento de Pitágoras (6) e de Platão tiveram uma importância essencial aos estudos de Galileu, pois a demonstração causal dos fatos, conseguido por meio da FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 06 - GALILEU E A OBSERVAÇÃO DOS ASTROS Porfírio Amarilla Filho 24 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” experimentação, fundou-se na sua submissão aos cálculos e à medida matemática. Ou seja, uma concepção matemática da natureza, essencialmente pitagórica. Tal matematização significou considerar os caracteres quantitativos dos fenômenos sobre os qualitativos. Ou seja, implica em observar unicamente as determinações quantitativas de grandeza: forma, situação, número, movimento etc.; e reduzir a pura impressão subjetiva todos os caracteres qualitativos de cores, odores, gostos, calor, frio etc. Argumenta Galileu em O Ensaísta: “Tenho pensado nesses sabores, odores, cores e assim por diante, no que se refere ao sujeito em que nos parece se encontram, não são mais que puros nomes, que apenas residem no corpo sensitivo, de modo que, removido o animal, todas essas qualidades são eliminadas e aniquiladas”. (APUD IN NICOLA, 2005, p.210). Por isso, há no discurso científico, segundo Galileu, uma autonomia em relação à fé, quando se pretende descrever o mundo, proposta pela própria objetividade científica. Fé religiosa e ciência se fixam em um princípio de distinção fundamentado na finalidade. A relação entre elas se estabelece por uma e outra e não entre uma ou outra. Enquanto a segunda visa à compreensão de como o universo funciona, a primeira visa a dar sentido aos destinos dos indivíduos, à vida humana propriamente dita. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 07 - O MÉTODO CIENTÍFICO DE GALILEU Porfírio Amarilla Filho 25 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender o método científico desenvolvido por Galileu. ESTUDANDO E REFLETINDO O método resolutivo-compositivo A ideia de objetividade, organização e sistematização da ciência, em Galileu, resume-se em seu método resolutivo-compositivo. O método compositivo de Gallileu visa a reunir em uma só fórmula matemática os fatos observados. O método resolutivo permite deduzir das leis observadas um grande número de fatos decorrentes delas. Galileu propõe quatro etapas para o desenvolvimento das pesquisas: a observação, em que os dados das observações são delimitados em referência ao problema que se deseja resolver; a hipótese explicativa, que procura conceber um novo modo de explicação ao fenômeno, ao mesmo tempo em que tal hipótese se restringe à confirmação experimental; a dedução, que se configura nas deduções matemáticas das observações e hipóteses levantadas, e, por último, a verificação experimental, em que se criam condições empíricas para que se possam medir as consequências dedutivas e as interferências de outros fatores que não foram previstos nas hipóteses. Experiências e demonstrações Segundo Émile Brehier, em Galileu, encontra-se uma ideia clara das leis da natureza como relações funcionais (2005, p. 20). Disso resulta, o avanço da matemática e da física e uma nova postura dos filósofos renascentistas diante dos problemas da natureza. Os fenômenos aqui são interpretados, portanto, em sua realidade verdadeira e podem ser medidos. É, pois, essa busca de evidências experimentais que levam a Galileu a demonstrar as hipóteses de Copérnico acerca do heliocentrismo. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 07 - O MÉTODO CIENTÍFICO DE GALILEU Porfírio Amarilla Filho 26 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Tal confiança de Galileu na observação experimental propiciou críticas dos filósofos aristotélicos. Acusado de ser avesso a Aristóteles, refuta as acusações se fundamentando na própria filosofia peripatética. Para Galileu, se Aristóteles dispusesse de instrumentos que o levassem a observações mais precisas, teria modificado suas teses a respeito do universo. “Por acaso duvidais de que se Aristóteles visse as novas descobertas no céu ele não mudaria de opinião, para emendar seus livros e aproximar-se de doutrinas mais sensatas, afastando de perto de si aqueles tão pobrezinhos de espíritos que muito pusilanimemente se propõem a defenderqualquer dizer seu, sem entender que se Aristóteles fosse como eles imaginam teria um cérebro indócil, uma mente obstinada, um ânimo cheio de barbárie, uma vontade tirânica que, considerando todos os outros como estúpidas ovelhas, quereria que seus decretos se antepusessem aos sentidos, às experiências, à própria natureza? Foram seus seguidores que deram autoridade a Aristóteles, e não ele que a usurpou ou tomou” (Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo APUD IN NICOLA, 2005, p. 212). Assim, Galileu antepôs a experiência ao discurso. Todavia, não significa que um seja mais importante que o outro. Ou seja, as primeiras são fruto de uma observação medida e calculada; as segundas consistem em argumentações a partir de hipóteses rigorosamente construídas e demonstradas. Isso significa dizer que o modelo de ciência de Galileu surge na esteira do modelo geométrico. A vinculação estabelecida por Galileu entre a observação e a demonstração conseguiu, por meios dos sentidos e das demonstrações lógico- matemáticas, uma vinculação recíproca. As experiências sensíveis da observação não poderiam valer cientificamente sem a relativa demonstração da sua necessidade, nem a demonstração lógica e matemática poderia alcançar sua certeza objetiva sem se apoiar na experiência. O método de Galileu busca orientar as descobertas da ciência e consiste em “experiências sensatas” e “demonstrações necessárias”. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 07 - O MÉTODO CIENTÍFICO DE GALILEU Porfírio Amarilla Filho 27 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Todavia, ressalta-se, Galileu concebe a experimentação como causa ativa e racional dos efeitos, e não apenas a pura observação empírica de fenômenos que aconteçam espontaneamente. Se, por um lado, a observação, no modo de produzir o seu modelo de ciência, apresenta-se como elemento necessário à análise dos fenômenos e à descoberta das razões (da experiência à razão, por via compositiva e resolutiva); por outro, na produção experimental do fenômeno se deve ter em mente as razões para empregá-las na realização da experiência (da razão à experiência, por via sintética). Dessa maneira, a experimentação, dentro do processo sintético, deve ser precedida da experiência e do processo analítico, este acrescido da hipótese explicativa e somado à experimentação, por seu processo dedutivo, que pode chegar à certeza do conhecimento científico. Portanto, a experimentação galileana acha-se precedida e dirigida por uma razão dedutiva, pela qual a produção dos acontecimentos e dos experimentos se vê deduzida de uma racionalidade. Através de experimentos, Galileu provou que muitos pressupostos antigos e adotados pela Igreja eram falsos e conduziam ao erro. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_de_Pisa) FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 07 - O MÉTODO CIENTÍFICO DE GALILEU Porfírio Amarilla Filho 28 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” O princípio da inércia, por exemplo, afirma que o corpo tende a preservar a sua condição de repouso ou de movimento até que outra força exterior intervenha em sua condição. Para a realização experimental de suas hipóteses dedutivas, Galileu utilizou superfícies horizontais, a fim de que o impulso comunicado inicialmente ao móvel não sofresse alteração pela gravidade, atirando sobre elas pequenas esferas, com a finalidade de reduzir o mínimo da ação do atrito. Outra experiência realizada de uma hipótese dedutiva por Galileu foi a de deixar cair dois pesos de massas diferentes para demonstrar que ambos tocavam o solo simultaneamente. BUSCANDO CONHECIMENTO Galileu produz, com base em seu modelo de ciência, quatro leis sobre a queda dos corpos: a) a velocidade da queda de um corpo é independente de sua massa; b) a velocidade de um corpo é independente da sua natureza; c) a velocidade adquirida por um corpo que cai livremente, a partir do repouso, é proporcional aos tempos; c) os espaços percorridos são proporcionais aos quadrados dos tempos em percorrê-lo. Assim, para deduzir essas leis Galileu, primeiramente, necessitou criar as hipóteses abstratamente, contrapondo as opiniões aristotélicas dominantes em seu contexto filosófico. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 08 - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO SEGUNDO FRANCIS BACON Porfírio Amarilla Filho 29 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender a análise do método científico realizado por Bacon. ESTUDANDO E REFLETINDO O progresso do conhecimento científico Francis Bacon (1561-1626) foi um dos mais conhecidos e influentes rosacruzes e também um alquimista, tendo ocupado o posto mais elevado da Ordem Rosacruz, o de Imperator. (Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Bacon) FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 08 - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO SEGUNDO FRANCIS BACON Porfírio Amarilla Filho 30 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” A importância de Francis Bacon (1561-1626), filósofo inglês, na Revolução Científica repousa precisamente no movimento filosófico em estabelecer uma análise na concepção de um método para a validação do conhecimento científico. Nascido em Londres, em 1561, em uma família da nobreza inglesa, Bacon desde cedo gozou dos privilégios da corte. Eleito para a Câmara dos Comuns percorreu a carreira política, chegando a ser nomeado lorde chanceler e recebendo o título de Barão de Verulam e Visconde de Santo Albano do Rei Jaime I. Todavia, sua carreira política foi bruscamente interrompida devido a uma acusação de corrupção, segundo os historiados da filosofia, por aceitar presentes de uma das partes interessadas antes de uma sentença na qual era o juiz. A partir desse episódio, Bacon foi impedido de exercer qualquer ofício público, dedicando-se, então, aos estudos de filosofia e à atividade de escritor. Ruim para Bacon, bom para a filosofia. Em 1620 publicou a sua principal obra: o Novum Organum, em que defende o método científico como uma arte de interpretar a natureza. Em seguida publica Da Dignidade e do Progresso das Ciências, em 1623; e A Nova Atlântica em 1624. Há de se notar ao longo da trajetória de Bacon que a sua proposta à ciência não é somente um instrumento para o intelecto, mas ainda uma ferramenta da ação que objetiva "conhecer a verdade das coisas de forma clara e manifesta", em que a experiência detalhada e rigorosa é a melhor demonstração. Em Novum Organum, Bacon quis estabelecer aquilo que acreditou ser as regras necessárias para a condução do conhecimento. Em Nova Atlântica, procurou demonstrar o bem que uma sociedade pode ter ao aplicar a ciência como fonte das beneficies na relação Estado-sociedade. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 08 - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO SEGUNDO FRANCIS BACON Porfírio Amarilla Filho 31 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” É importante ao estudante de filosofia perceber que uma obra se completa pela outra para compor um só projeto. Juntas, conhecimento e poder unem-se para formar uma só proposta. Todavia, a proposta de compreensão do conhecimento científico, além do entendimento do contexto que atravessam as discussões sobre as reformas no pensamento moderno, e a proposta de uma nova ordem social fundamentado no saber não podem ser separadas, sob a pena de se perder o ponto de vista visionário que se estabeleceu nas obras do filósofo inglês. BUSCANDO CONHECIMENTO O Novo na construção do conhecimento A proposta de Bacon cria corpo a partir dos títulos das duas obras mencionadas acima. Ao usar o termo Novo em ambas as obras nota-se a proposta incisiva e explícita de ruptura com o caminho que foi percorrido até então pela tradição, seja a antiga, sejaa escolástica. Novum, palavra latina para designar o novo, carrega em si um significado mais puro e primitivo do que comumente se encontra. Em Bacon, "novo" é aquilo que não se adapta às regras, que age indiferente ao que “está posto”, que, por ser assim, recebe um sentido mais amplo, ou seja, aquilo que não tem semelhança com qualquer outra coisa conhecida. Com efeito, o Novum Organum e Nova Atlântica não podem ser entendidas sob à luz da tradição filosófica. A intenção de Bacon não foi apenas trazer à sua época uma releitura dos métodos filosóficos e ortodoxos para o conhecimento, mas também, devido ao seu potencial visionário, elaborar uma nova proposta ao desenvolvimento do conhecimento humano. O que o filósofo inglês visou foi investigar a possibilidade de estender os Produzir um novo caminho para o avanço da ciência e conseqüentemente ao desenvolvimento de uma sociedade política e eticamente melhor FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 08 - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO SEGUNDO FRANCIS BACON Porfírio Amarilla Filho 32 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” limites do conhecimento humano para dar grandeza ao homem e tornar mais sólidos os seus conhecimento. Conforme comenta: “o conhecimento das causa e dos segredos dos movimentos das coisas e da ampliação dos limites do império humano para a realização de todas as coisas que forem possíveis” (1979, p. 262) Com efeito, pode-se afirmar que Bacon foi o arquiteto do pensamento científico que dominaria o período moderno e desembocaria na contemporaneidade. Todavia, como foi mencionado, o projeto científico de Bacon incorpora também um projeto político. Segundo Maria das Graças Nascimento, o saber é entendido por ele como um poder que se estende não como uma força de opressão ou dominação de uma sociedade, mas como um projeto utópico organizador da sociedade, da natureza cooperativa do esforço científico e da orientação das investigações para a promoção do bem estar de toda a humanidade (2000, p. 374). Isso significa dizer que na visão de Bacon a ciência ultrapassa a singularidade do pesquisador e ganha um valor ético universal, o bem para todos. Assim, à medida que a ciência avança e gera novos recursos ao Estado, esse deve aplicá-los ao bem- estar do homem e, assim, maior e melhor será o poder daquele e da humanidade. A proposta de Bacon visou à reforma dos princípios epistemológicos para a composição do pensamento e do conhecimento científico: ∑ O balanço crítico das atividades filosóficas e científicas privilegiadas pela tradição, assim como dos entraves para o progresso da ciência e das causas inerentes dos erros da razão humana; ∑ O inventário dos processos cognitivos; ∑ A divisão das ciências. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 09 - O MÉTODO INDUTIVO DE BACON Porfírio Amarilla Filho 33 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Compreender a análise do método científico realizado por Bacon. ESTUDANDO E REFLETINDO Os erros da razão A filosofia de Bacon caracteriza-se por uma crítica e um rompimento incisivo com as bases do saber escolásticos, de fundamentação aristotélica. Por isso, antes de quaisquer especificações epistemológicas, Bacon desenvolveu a teoria dos ídolos da razão em que enumera as fontes de erros da razão humana diante do conhecimento. Nessa teoria, postula que a razão humana se via contaminada por ilusões ou distorções que a bloqueavam no avanço do conhecimento. Assim como uma bússola que se desorientada leva o navegante a lugar indesejado, acreditando ele ter chegado ao lugar certo, a razão que se deixa iludir por falsas noções impede-lhe o caminho para a verdade. Ao contrário da teoria dos ídolos exposta por Demócrito, que tinha como fundamento de que a razão capta imagens das coisas pela percepção, Bacon procura, antecipando a base conceitual do termo “ideologia”, difundido por Marx no século XIX, imputar um conceito de ídolo que figura não como imagens, mas como ilusões de uma realidade projetada na razão. O primeiro objetivo, portanto, da teoria dos ídolos foi dar consciência aos homens referente os aspectos que os podem conduzir ao erro. São quatro os ídolos da razão humana: ∑ Ídolo da Tribo, que se fundamenta na própria natureza humana. Tribo nesse sentido designa a própria espécie humana, ou seja, são erros inerentes ao próprio espírito humano, cometidos por pressupor paralelismo, correspondências ou mesmo relações, que na realidade não existem nas coisas; FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 09 - O MÉTODO INDUTIVO DE BACON Porfírio Amarilla Filho 34 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” ∑ Ídolo da Caverna, que deriva de cada indivíduo devido a sua educação e relações com outros em sociedade, seja por livros, seja por discursos, seja por admiração na autoridade daquele que o influencia. Cada indivíduo possui em si mesmo um espírito singular e variável que compromete o espírito científico, que tem como objetivo escapar ao senso comum, ao dogma, ao preconceito; ∑ Ídolo do Foro, que imputa erros oriundos da linguagem e as ambiguidades dos discursos. A linguagem, por ser um recurso humano, pode estabelecer relações enganosas entre as coisas ou até mesmo designar significados ou abstrações inexistentes nas coisas; ∑ Ídolo do Teatro, que deriva das doutrinas filosóficas ou concepções científicas, pois essas se explicitam por regras de demonstrações duvidosas, às vezes tendo como princípio uma tradição, uma fé cega ou mesmo um desleixo de quem as conduz. Tais erros são ídolos do teatro, pois Bacon compara os sistemas filosóficos às fábulas, que são como cenas de teatros ou mundo fictícios. Todavia, se por um lado, o que se tem como objetivo fundamental na concepção dos ídolos da razão é livrar o homem de ideias que lhe são imputadas sem perceber, como foi mencionado acima; por outro, a teoria dos ídolos opera como base para desobstruir os caminhos para o avanço da ciência, no sentido prático. De fato, segundo Chaui, Bacon acreditou que o avanço do conhecimento se daria com a demolição e reforma da razão e dos conhecimentos adquiridos por ela até então (2010, p. 165). Ao estudante de Filosofia cabe entender que a filosofia de Bacon não se limitou a reorientar os homens ao conhecimento. Além da recondução do homem aos caminhos do conhecimento, a sua filosofia foi um esforço para produzir fundamentos seguros à construção de uma nova ciência. Por isso, Bacon retoma o escopo da ciência. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 09 - O MÉTODO INDUTIVO DE BACON Porfírio Amarilla Filho 35 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Essa tem por finalidade conhecer as formas das coisas, naquele sentido mesmo dado por Platão e Aristóteles. Recuperando a tese aristotélica das quatro causas para investigação das substâncias materiais, a saber: a causa formal, a material, a eficiente e a final, o filósofo inglês concentrou-se na fundamentação de apenas uma: a causa formal. Para ele, é ela que revela os segredos inclusos na natureza do objeto: “um homem que conheça as formas pode descobrir e obter efeitos nunca antes obtidos, efeitos que nem as mudanças naturais, nem o acaso, nem a experiência, nem a industriosidade humana jamais produziram” (APUD IN REALE; ANTESERI, 2004, p. 272). Ora, os fenômenos são produzidos segundo leis naturais intrínsecas a eles mesmos, desse modo, compreender a forma significa o entendimento das estruturas de um determinado fenômeno, bem como a lei ou regra que o rege. Isso significa dizer que aquele que domina os efeitos da natureza, domina a lei que os rege e a estrutura que os provoca. Ao entendimento das estruturas dos fenômenos Bacon denominou esquematismo latente; ao entendimento das leis, processo latente. O escopo científico baconiano, portanto,sustenta, internamente, ser possível rastrear os fenômenos da natureza, tendo como movimento primeiro a investigação das manifestações mais explícitas até aquelas mais implícitas ou ocultas. BUSCANDO CONHECIMENTO O método indutivo de Bacon Dados os limites da razão e dados os objetivos da ciência, logo, resta-lhe fundamentar o método que a ciência deve percorrer. Enquanto a filosofia antiga e a filosofia medieval se apoiavam no debate das palavras entre os homens, ora dialético, ora retórico, a filosofia de Bacon instaura um novo confronto: o homem e a natureza. Naquele debate medieval, o método clássico para a argumentação se dera na concepção aristotélica da lógica. Como já fora visto em outros momentos do estudo da FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 09 - O MÉTODO INDUTIVO DE BACON Porfírio Amarilla Filho 36 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Filosofia, a lógica se estabelece como método para o início da investigação filosófica ou científica. Por isso, considerou-se o raciocínio lógico como uma atividade propedêutica ao processo investigativo, pois ela fornece as regras ou normas ideais, por meio da dedução e da indução, que conduziriam o pensamento diante das problemáticas da pesquisa e na demonstração das verdades (CHAUI, 2002, p. 357). De modo geral, o silogismo ou dedução, segundo Aristóteles, é o procedimento que deve encontrar as condições que levem uma conclusão à sua veracidade ou falsidade. Ou seja, a inferência dedutiva consiste em demonstrar que as análises particulares de um objeto qualquer estão contidas em seus aspectos gerais. Por sua vez, a lógica indutiva é o movimento que leva a razão à verdade a partir da análise de dados particulares à conclusão de dados gerais. É essa lógica que estabeleceu, na tradição clássica, que a ordem de investigação difere da ordem de exposição. Primeiro, investiga-se por indução e, depois, demonstra-se por dedução. Contudo, Bacon rejeita a dedução aristotélica como forma de demonstração de conhecimento. Para ele, é um instrumento que leva a razão à confusão diante dos segredos da natureza. “Nós, ao contrário, rejeitamos a demonstração por meio de silogismo porque ela só produz confusão e faz com que a natureza escape de nossas mãos” (Novum Organum APUD IN NICOLA, 2005, p. 217), afirma. Do mesmo modo que afasta a dedução de seus processos científicos, Bacon rejeita também a indução aristotélica como método à aquisição do conhecimento. A seu ver, trata-se de simples enumeração de aspectos particulares de um fenômeno, pois, o método indutivo proposto por Aristóteles, ao concluir os fatos gerais do fenômeno, acaba por saltar os elos intermediários, levando o pesquisador à construção de conclusões precárias e contraditórias (REALE; ANTSERI, 2004, p. 275). Para Bacon, a verdadeira indução é aquela que se fundamenta a partir da análise dos fenômenos dada na experiência. Tal indução se desenvolve por eliminações ou exclusões sistemáticas de experiências não concludentes. Ou seja, à medida que se FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 09 - O MÉTODO INDUTIVO DE BACON Porfírio Amarilla Filho 37 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” verifica que casos particulares dos fenômenos se encontram ausentes ou presentes de modo pleno, pode-se chegar a axiomas que claramente a ele se refere. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 10 - O PROGRAMA DE PESQUISA NEWTONIANO Porfírio Amarilla Filho 38 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Entender as pesquisas realizadas por Isaac Newton. ESTUDANDO E REFLETINDO Nascido na Inglaterra no mesmo ano da morte de Galileu, 1642, Isaac Newton (1642-1727) é considerado o pai da física clássica e aquele que pôs termo à Revolução Científica. Isaac Newton (1642 - 1727) Em uma pesquisa promovida pela Royal Society, Newton foi considerado o cientista que causou maior impacto na história da ciência. (Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Isaac_newton) Newton entrou para a história da humanidade exatamente pelas suas pesquisas nas diversas áreas da física: a ótica, a mecânica, a astronomia, e pela invenção dos cálculos matemáticos diferenciais e integrais. Apoiado nas convicções pitagóricas sobre FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 10 - O PROGRAMA DE PESQUISA NEWTONIANO Porfírio Amarilla Filho 39 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” um universo formado por números, mesmo que cercadas de certo misticismo, Newton desenvolveu suas teses fundamentado em uma racionalidade divina, estabelecendo uma relação entre a sucessão de eventos sistemáticos da natureza, vista por ele como um plano divino, e as relações matemáticas. De fato, foi ele quem formulou uma explicação completa ao movimento e à forma como as forças atuam, concluindo o trabalho iniciado por Galileu Galilei. As leis da Inércia, das Forças e da Ação e Reação formam os princípios básicos para a explicação do movimento e da mecânica natural que incidem sobre os corpos. Entre as várias publicações de seus trabalhos: destacam-se: Princípios matemáticos da Filosofia Natural (1687) e Óptica (1704.), que compõem o corpo principal das teses newtonianas. Principia Todavia, seu lugar na filosofia e na Revolução Científica está por propor uma teoria metodológica que serviu de fundamento para o pensamento e as atividades científicas que se seguiram após seu tempo. No Livro III de Principia, Newton compõe o seu paradigma metodológico de pesquisa. Partindo da compreensão de que os pressupostos de uma metodologia tem seu fundamento nas questões metafísicas, Newton propõe a sua 1ª Regra para a investigação (APUD IN REALE; ANTISERI, 2004, p. 236): Não devemos admitir mais causas para as coisas naturais do que aquelas que são dadas tanto verdadeiras como suficientes para explicar suas aparências. Isso significa dizer que, na investigação científica, em seu primeiro momento, as hipóteses não fornecem senão complicações para as observações dos fenômenos. A simplicidade da natureza é o movimento para a sua compreensão ontológica e, por isso, tal simplicidade se estende a fundamentação do método que se utiliza para compreendê-la. Entender como é, significa primeiro entender o que é: a natureza é simples. Da primeira regra entrelaça-se a 2ª Regra de caráter ontológico formulada por Newton (IBDEM): Por isso, tanto quanto possível, aos mesmos efeitos devemos atribuir as mesmas causas. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 10 - O PROGRAMA DE PESQUISA NEWTONIANO Porfírio Amarilla Filho 40 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” Se por um lado a natureza é simples; por outro, a sua simplicidade leva à sua uniformidade. Por isso, não se deve estender efeitos de uma mesma natureza a causas diferentes. A luz, por exemplo, comporta-se com o mesmo princípio de uniformidade seja na Terra, seja em outro planeta. Disso resulta a 3ª Regra (IBDEM): As qualidades dos corpos que não admitem aumento nem diminuição de grau, e que se descobrem pertencerem a todos os corpos no interior do âmbito dos nossos experimentos, devem ser consideradas qualidades universais de todos os corpos. E a 4ª regra a ser observada no método newtoniano: Na filosofia experimental, as proposições inferidas por indução geral dos fenômenos devem ser consideradas como estritamente verdadeiras ou como muito próximas da verdade, apesar de hipóteses contrárias que possam ser imaginadas, até quando se verifiquem outros fenômenos, pelos quais se tornem mais exatas ou então sejam submetidas a exceções. Assim, o método de investigação, defendido por Newton, caracteriza-se pelas seguintes etapas: observação, experimentação e generalização. Em que a observação e hipótese estão intimamente relacionadas, pois a primeira consiste o fenômenoem si, a segunda por sua vez, embora não seja levada em conta como conhecimento específico nem deva ser usada perdulariamente, a hipótese orienta a seleção dos fatos organizando-os e dando-lhes, de certo modo, uma proposta antecipada, uma previsão, do que pode ocorrer de fato. Ao conter e descartar a hipótese como um conhecimento de fato, Newton visa ao controle da investigação em termos mais rigorosos, pois a experimentação realizada nessas condições permite a simplificação dos fenômenos, assim como a repetição desses experimentos até, se possível, a uniformidade. Por isso, a indução viria a ser, a seu ver, o melhor meio para estabelecer os princípios de compreensão dos fenômenos. A generalização, por sua vez, reside em transformar as relações constantes e necessárias entre os fenômenos em leis gerais. Desse modo, ao se generalizar os fenômenos a partir de experiências criam-se duas perspectivas de generalização: a empírica e a teórica, sendo que a primeira deriva de casos particulares, por exemplo, a FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 10 - O PROGRAMA DE PESQUISA NEWTONIANO Porfírio Amarilla Filho 41 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” lei da queda de corpos; e a segunda que reúne diversos casos particulares, como por exemplo: a lei da gravitação universal, que reúne os princípios das três leis mencionadas anteriormente, relembrando: da Inércia, das Forças e da Ação e Reação. O método newtoniano ofereceu uma imagem de um fenômeno qualquer estruturada em termos de "determinismo causal", em que cada fenômeno, deste que se conhecessem as condições iniciais desse fenômeno, poderia ser previsível e passível de conhecimento à medida que se tivesse o ambiente e o instrumental adequado para realizar as experiências exigidas. BUSCANDO CONHECIMENTO A nova ciência Tal paradigma da física newtoniana encerra o desejo emergente, ao longo dos séculos XVI e XVII, de se produzir uma nova ciência, porém, não encerra a criação de novos conceitos, teorias e métodos. Ao contrário, a Revolução Científica implicou, como se viu, em perceber que a nova ciência fora a ciência da medida, ou seja, as relações e a mensurabilidade dos fenômenos foram expressas na linguagem dos números e promovidas pelos instrumentos científicos. Interrogou-se a natureza por meio de experiências e validou-se o conhecimento por meio de demonstrações empíricas. A razão, antes dádiva divina, agora surgia com a capacidade de excluir as hipóteses sem fundamentos, de iluminar a si mesmo e o mundo. Por isso, falar em Revolução Científica para a Filosofia é buscar em um período da história da humanidade a percepção de que mesmo a transformação ou consolidação do saber requer um longo percurso de maturação e de aprofundamento. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 11 - O Racionalismo Porfírio Amarilla Filho 42 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE Objetivos: Esta unidade procurará trazer ao estudante de filosofia um panorama geral sobre o racionalismo na filosofia moderna, sob o aspecto das características que se formam em torno dessa corrente filosófica, como conhecimento humano, proposições, métodos e influências recebidas de outros momentos da história do pensamento humano. ESTUDANDO E REFLETINDO O Racionalismo Reconhecido como um período do avanço da ciência, das tecnologias, da cultura e da política, a Idade Moderna está marcada pelo conceito de revolução e de modernidade, isto é, do novo, do agora mesmo. Segundo Marcondes, a modernidade toma forma exatamente por romper com a tradição, pois está associada à mudança, à renovação e ao progresso (2008, p. 141). Como vimos na unidade anterior, embora as transformações tenham sido graduais ou progressivas, é possível datar fatores que foram incisivos às transformações ocorridas nesse período histórico. Assim, as grandes navegações, a descoberta do novo mundo; as novas teorias científicas de Nicolau Copérnico, Kepler e Galileu revolucionaram a concepção do mundo e do universo. Do mesmo modo, a reforma de Lutero mudou o modo como o cristão percebia o papel da Igreja Católica, assim como a decadência do feudalismo com o surgimento do capitalismo abalaram a antiga ordem social e econômica. O Racionalismo caracterizou- se, principalmente, por fundamentar seus argumentos na capacidade da razão em conhecer as coisas no mundo real. FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 11 - O Racionalismo Porfírio Amarilla Filho 43 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” A efervescência da atmosfera intelectual do Renascimento trouxe uma avalanche de reformas e revoluções no modo de pensar da Europa. Tudo é sacudido ou destruído. Abaladas as estruturas culturais, políticas e sociais, a filosofia não poderia ficar de fora dos tremores que permearam outras instâncias do pensamento humano. Na filosofia, por um lado, uma vertente foi aberta pelos avanços da ciência na filosofia empirista de Francis Bacon; por outro, outra vertente se abriu com a filosofia de Descartes, o racionalismo. Nessa concepção, a experiência sensível não basta para fornecer todos os conhecimentos. Na tradição filosófica essa questão entre razão e sentidos retoma os tempos antigos, desde a filosofia pressocrática, com Heráclito e Parmênides, passando, posteriormente, por Platão e Aristóteles. Desde aqueles tempos, houve um debate para fundamentar as fontes do conhecimento, na modernidade, porém, essa discussão se torna mais evidente entre os filósofos. Descartes, Espinosa, Leibniz e Kant são considerados filósofos do racionalismo, cada um a seu modo, e Hobbes, Locke e Hume, do empirismo. Entre os racionalistas há necessidade de ressaltar que Kant também adotou para a sua doutrina filosófica o termo Racionalismo, embora, em seu racionalismo, ele tenha operado a junção das duas fontes de conhecimento, o seu racionalismo se direcionou para as indagações críticas da razão, em que procurou investigar o papel, a função, o significado e o limite do pensamento da razão humana à construção conhecimento (ABBAGNANO, 2007, p. 967). Todavia, o racionalismo, como forma de pensamento filosófico, recebeu seu significado como corrente e expressão filosófica em Hegel, que o demarcou, como corrente, a um período entre Descartes a Espinoza e Leibniz e, como significado, chamou-o como a “metafísica do intelecto”. O primeiro movimento da filosofia racionalista é a recusa de outra autoridade para o conhecimento, senão a própria razão. Se antes, no período medieval, a razão era FILOSOFIA MODERNA UNIDADE 11 - O Racionalismo Porfírio Amarilla Filho 44 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” iluminada a conhecer por uma vontade divina, ou seja, como um “dom” dado por Deus; no racionalismo é a razão que se movimenta sobre si mesma para o saber, estimulada pela própria liberdade de examinar as coisas. Assim, há um deslocamento do conhecimento fundamentado no teocentrismo medieval para o antropocentrismo moderno. O segundo movimento, que convém delinear na corrente racionalista, é a desconfiança dos sentidos humanos como fonte do saber. Esses são passíveis de erros, já que projetam apenas representações da realidade na mente. Tais projeções são, de fato, conhecimento quando construídas e constituídas pela própria razão do sujeito que as conhece. Dois elementos fundamentam esse aspecto racionalista: primeiro, a dúvida se instala como o primeiro ponto para a produção do conhecimento, assim como para afastar o dogmatismo que permeiam a razão humana; segundo, a realidade passa a ser interpretada pelo subjetivo (pela ideia que o sujeito faz) do sujeito que conhece. Por último, a necessidade da razão se fundamentar em um método na busca do saber como forma de orientá-la no seu percurso para o conhecimento. Por isso,
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