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Filosofia Moderna

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FILOSOFIA
FILOSOFIA MODERNA
Miguel Henrique Teixeira Benetti
Porfírio Amarilla Filho
hhtp://unar.info/ead2
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FILOSOFIA MODERNA 
APRESENTAÇÃO 
Porfírio Amarilla Filho 
1 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Prezado (a) aluno (a) 
 
 Seja bem-vindo ao estudo da História da Filosofia Moderna! 
 Ao longo das unidades faremos um pequeno percurso sobre os principais 
aspectos desse período filosófico e suas principais contribuições ao pensamento 
humano. 
 Como disciplina do curso de Filosofia, a Filosofia Moderna se destaca como 
um período único que, desde a sua crítica ao período medieval como a construção de 
um novo paradigma de ciência, compartilhou junto à história da filosofia 
contemporânea a construção do pensamento humano, de quem hoje somos herdeiros. 
 Por isso, procuraremos compreender, na Unidade 1, a ruptura com 
pensamento medieval e as fontes originárias do Renascimento que puseram em 
movimento a busca por uma nova compreensão de mundo e uma nova proposta da 
concepção de ciência. 
 Na Unidade 2, percorreremos o pensamento racionalista de Descartes, 
Espinosa e Leibniz a fim de compreendermos essa vertente da teoria do conhecimento, 
assim como as implicações que tiveram as afirmações racionalistas à filosofia moderna. 
 Do mesmo modo, percorremos, na Unidade 3, a outra vertente da teoria do 
conhecimento, o empirismo, formada por Hobbes, Locke e Hume com o intuito de 
compreender por que a filosofia empirista se tornou uma das mais férteis propostas de 
pensamento da Filosofia Moderna. 
 Em seguida, dedicaremos a compreensão do criticismo kantiano e o 
racionalismo de uma filosofia idealista que fundamentou não somente as bases do 
conhecimento contemporâneo, mas também o entendimento da razão como objeto do 
conhecimento humano. 
 Por último, na Unidade 5, percorremos o pensamento iluminista e os 
princípios que fizeram dessa corrente filosófica um dos ícones do pensamento 
moderno. 
FILOSOFIA MODERNA 
APRESENTAÇÃO 
Porfírio Amarilla Filho 
2 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 O percurso, portanto, é um caminho fértil e imprescindível ao estudo da 
Filosofia. Por isso, intencionamos que, ao final dessa disciplina, você possa ter adquirido 
uma compreensão desse período filosófico. 
 Que o estudo dessa disciplina seja um prazer para você! Bons estudos! 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 01 - O SURGIMENTO DO RENASCIMENTO 
Porfírio Amarilla Filho 
 
1 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender o período histórico e filosófico do Renascimento é 
caracterizado por movimentos de transformações literárias, artísticas, filosóficas e 
sociais que se iniciaram ao final do século XIV e se estenderam até o fim do século XVI. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
No estudo da Filosofia, o Renascimento é um momento de singular importância, 
por sua semelhança, dentro de seus próprios aspectos, ao movimento ao da filosofia 
pressocrática, ou seja, o questionamento, a contestação e a construção de um 
pensamento caracteristicamente próprio. 
 Segundo Marcondes (2008, p. 143), a tradição da história da filosofia tratou o 
Renascimento como um período de transição entre a Idade Média e a Idade Moderna. 
Todavia, há uma tendência, atualmente, de considerá-lo como um período de 
identidade própria, já que se desenvolve uma concepção filosófica que provocou o seu 
distanciamento das concepções medievais e não se confundiu com as concepções 
Modernas. 
O Renascimento é, portanto, fundamental como ponto de análise e de 
compreensão ao estudo da Filosofia, pois, trata-se de um momento influente e 
determinante ao estudo da Filosofia Moderna, sem o qual muito do sentido do 
conhecimento científico-filosófico se perderia se não entendêssemos este momento do 
pensamento humano. 
 
O pensamento renascentista 
O conceito Renascimento tem seu sentido semântico em “um segundo nascer”, o 
renascer. Por Renascimento, portanto, designa-se um período histórico e filosófico em 
que um novo espírito humano nasce para uma “nova ação”. 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 01 - O SURGIMENTO DO RENASCIMENTO 
Porfírio Amarilla Filho 
 
2 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Para Émile Bréhier, trata-se de um período da filosofia caracterizado: 
∑ Por um desejo intenso do homem por outro modo de vida, novo e corajoso; 
∑ Por um enorme crescimento das técnicas e do conhecimento; 
∑ E por profundas transformações nas condições materiais e intelectuais da Europa 
(2005, p. 494). 
 Essas aspirações por transformações sofreram grandes influências de outros 
tempos filosóficos, assim como se encontram influências próprias dos contextos que o 
homem renascentista produz o seu próprio tempo. Com efeito, percebe-se que, ao 
longo do pensamento renascentista, formam-se aspectos que vão caracterizando-se 
em linhas distintas uma das outras. Segundo Marilena Chaui, são três as grandes linhas 
de pensamento renascentista (2010, p. 60) que se formam, são elas: 
(i) Os pensamentos advindos dos clássicos gregos e do conjunto de livros do 
hermetismo ou magia natural, que compreendia o homem como agente 
sobre o mundo por meio de conhecimento e prática; 
(ii) O pensamento florentino que valoriza a vida ativa fundamentada na 
liberdade da ação humana na vida política; 
(iii) O pensamento que propunha o ideal humano como autor de seu próprio 
destino, seja por meio do conhecimento, seja por meio da política, seja por 
meio das técnicas. 
Para Marcondes, o lema proposto pelo filósofo sofista Protagóras: “o homem é a 
medida de todas as coisas”, tomado como exemplo e norte ao pensamento 
renascentista, é o que melhor exemplifica o ideal humano que se constrói nesse 
período (2008, p. 143). 
De fato, o humanismo se caracteriza pela produção de uma nova identidade 
cultural humana advindo de temas pagãos gregos contidos nas obras de artes e 
literárias, escapando, assim, da concepção filosófico-teológica medieval, da visão 
teocêntrica do mundo e de todas as teses morais e políticas ligadas a essa 
compreensão de mundo. 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 01 - O SURGIMENTO DO RENASCIMENTO 
Porfírio Amarilla Filho 
 
3 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
A segunda influência no pensamento renascentista repousa sobre Florença, na 
Itália do sec. XV, justamente por ser uma das cidades mais ricas e influentes da Europa. 
Parte dessa riqueza acabou se manifestando nas artes, na arquitetura, na literatura e na 
filosofia. 
Florença, em meio à sua riqueza e ao seu desenvolvimento cultural, social e 
político, buscou a construção de uma nova identidade e de um esplendor cultural, 
colaborando, principalmente, para o desenvolvimento do pensamento político e, 
consequentemente, para a crítica e a ruptura com o pensamento medieval. 
A última influencia no pensamento Renascentista se caracterizou pela 
importância da compreensão da natureza e dos conhecimentos de alquimia e 
astrologia. São representantes dessa corrente filosófica. 
∑ Paracelso (1493-1541); 
∑ Agripa (1486-1535); 
∑ Telésio (1509-1589); 
 
O Renascimento é, portanto, um momento em que se percebe que há uma 
renovação do modo de pensar e agir humano, que influenciará o intelecto, a moral, a 
ciência, a política e outras áreas do conhecimento humano moderno. 
Para fins didáticos, examinaremos, nesse primeiro momento, alguns traços 
predominantes no pensamento renascentista que permitem defini-lo, em parte, 
também como um movimento humanista, em que o homem é valorizado e colocado 
como centro da ação sobre o mundo e defendido em sua liberdade, poder de criação e 
transformação.FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 01 - O SURGIMENTO DO RENASCIMENTO 
Porfírio Amarilla Filho 
 
4 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
O movimento humanista, embora tenha sua ênfase nas questões artísticas e literárias, 
caracteriza-se, também, como um movimento filosófico. 
Por um lado, há de se considerar o Humanismo como um movimento concomitante ao 
Renascimento e detentor de algumas características próprias que o podem classificar 
como um movimento peculiar ao Renascimento. 
Por outro, não é difícil encontrar em alguns autores designando tal período como 
humanista-renascentista, caracterizando-o como um período do pensamento humano 
que buscou um novo sentido para o homem e seus problemas (o Humanismo) e fez 
renascer outra civilização e outra cultura (o Renascimento). 
De fato, não se tem, no conjunto das obras renascentistas, nenhum grande sistema 
filosófico do porte de Platão ou Aristóteles. Todavia, segundo Reali&Antiseri, trata-se de 
uma renovação de pensamento de modo gradativo e decorrente da revisita aos 
clássicos antigos gregos, como os textos platônicos, aristotélicos e neoplatônicos, bem 
como aos grandes autores e artistas romanos. Assim, é um período de críticas e 
conflitos entre paradigmas medievais e paradigmas que emergem de outras leituras do 
homem europeu sobre o mundo (2004, p. 12). 
Destacam-se alguns filósofos que se deixaram influenciar e influenciaram o novo olhar 
sobre o mundo: 
∑ Marcílio Ficino (1443-1499) 
∑ Pico Della Mirandola (1463-1494) 
∑ Erasmos de Rotterdam (1466-1536) 
∑ Martinho Lutero (1483-1546) 
∑ Giordano Bruno (1548-1600) 
∑ Tommaso Campanella (1568-1639) 
∑ Nicolau Maquiavel (1469-1527) 
∑ Tomás Morus (1478-1535) 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 02 - O HUMANISMO 
Porfírio Amarilla Filho 
 
5 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender o humanismo desenvolvido no período do Renascimento. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
O Humanismo 
 O termo Humanismo foi cunhado no início dos anos 1800 para designar o 
movimento filosófico que nasceu na Itália no século XIV, difundindo-se para os demais 
países da Europa. 
O homem vitruviano - Homem Vitruviano - é o 
famoso desenho que acompanhava as notas 
que Leonardo da Vinci fez ao redor do 
ano 1490 num dos seus diários. Descreve uma 
figura masculina desnuda separadamente e 
simultaneamente em duas posições sobrepostas 
com os braços inscritos num círculoe 
num quadrado. A cabeça é calculada como sendo 
um oitavo da altura total. Às vezes, o desenho e o texto são chamados de Cânone das 
Proporções. (HOMEM VITRUVIANO). 
Os pensadores humanistas são aqueles que se influenciaram pelos clássicos 
gregos e latinos e que acabaram por constituir alguns elementos para a origem da 
cultura moderna. 
No humanismo, a totalidade do homem é reconhecida em sua concepção 
plena, ou seja, o homem é formado por corpo e alma e determinado a viver em um 
mundo, que se apresenta por meio de leis naturais e serem conhecidas e dominadas 
pelo homem. Por isso, esse pensamento afirmou a importâncias dos estudos das 
ciências naturais, tendo o homem como centro da produção desse saber. 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 02 - O HUMANISMO 
Porfírio Amarilla Filho 
 
6 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Com efeito, no humanismo, o homem se constitui de uma naturalidade 
intrínseca da qual emana a necessidade de conhecer a si mesmo e a natureza que o 
cerca. Por isso, o humanismo reivindica para a humanidade a liberdade; o prazer; a 
racionalidade e a cientificidade do saber em detrimento de uma vida contemplativa e 
apenas teórica. 
Diferente do homem medieval, o homem humanista reconhece em si mesmo a 
sua historicidade como forma de ligá-lo, de modo distinto, ao seu presente. Se o 
homem medieval buscava na leitura dos clássicos gregos as justificativas da fé cristã, ao 
humanista, a releitura dos clássicos gregos foi o desafio para descobrir a verdadeira face 
da Antiguidade, libertando-a dos sedimentos acumulados ao longo da Idade Média. 
A partir da segunda metade do século XIV, tem-se uma tendência aos estudos 
das litterae hamanae (letras humanas) em que os paradigmas gregos e latinos são 
tomados como ponto de referência para as atividades culturais e espirituais humanas. 
Em geral, é na perspectiva platônica que as inspirações humanistas repousam. 
Embora seja Platão a fonte inspiradora dos pensamentos humanistas, cabe ressaltar a 
presença de Aristóteles em todo decorrer do período humanista, seja como 
fundamentos para a rejeição das ideias medievais; seja como fundamento para 
reavaliação das leituras clássicas. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Petrarca e a nascente do pensamento 
humanista 
Considera-se o poeta florentino 
Francesco Petrarca (1304-1374) como o 
precursor do movimento humanista. Embora 
não fosse um filósofo, foi ele quem defendeu a 
necessidade da retomada dos clássicos gregos 
(1) O termo Idade das Trevas 
tornou-se ao longo do período 
renascentista um termo pejorativo para 
designar a Idade Media, entre os 
séculos IV e XV, como um período de 
flagelo e ruína. Porém, são os inúmeros 
os aspectos que fazem da Idade Média 
um período peculiar para o 
florescimento das artes, da ciência e da 
filosofia. 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 02 - O HUMANISMO 
Porfírio Amarilla Filho 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
(2) Averróis – 1126-1198 – o mais 
célebre filósofo de língua árabe da Idade 
Média. Sua teoria da unicidade do 
intelecto subverteu as concepções 
 
e a rejeição das especulações metafísicas e teológicas do período medieval. É em 
Petrarca também que se originou a visão obscura da Idade Média, ficando conhecida, a 
partir dessa interpretação, como a “Idade das Trevas” (1). 
 
Tendo como contrapondo as teses medievais do naturalismo difundido por 
Averróis (2) e pelo domínio indiscriminado da 
dialética e da lógica, Petrarca argumentou que 
era preciso ao homem moderno objetivar o 
conhecimento de si mesmo, como movimento 
para conhecer a própria alma humana, assim como era preciso o abandono da dialética 
a favor da eloquência ciceroniana. 
 Para Petrarca, os homens se encantaram com as coisas do mundo e se 
esqueceram de si mesmo: “Há muito tempo eu deveria ter aprendido, inclusive com os 
filósofos pagãos, que nada é digno de admiração além da alma, para a qual nada é 
grande demais” (APUD IN REALE & ANTISERI, p. 22). Esse movimento socrático de 
retornar ao interior de si mesmo, como fundamento para a compreensão do mundo, 
contrapõe-se à visão teocêntrica medieval, pois não se tem mais o sentido do mundo 
fora de si mesmo, e abre caminho para uma racionalidade que compreende primeiro a 
si para depois compreender aquilo que se produz como ideia de mundo. 
É a partir dessa retomada do olhar grego sobre o homem e a alma humana 
que Petrarca abre o caminho da renovação a outros filósofos, como se verá a seguir em 
Leonardo Bruni. 
 
A nova dimensão do pensamento humano segundo Leonardo Bruni 
 
 
 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 02 - O HUMANISMO 
Porfírio Amarilla Filho 
 
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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 
 
 
 
 
 
Leonardo Bruni (1370-1444) - http://pt.wikipedia.org/wiki/Leonardo_Bruni 
 
Leonardo Bruni (1370-1444) foi chanceler em Florença e ficou conhecido pelas 
traduções de A Política e Ética a Nicômaco de Aristóteles. O texto De recta 
interpretatione foi anexado à tradução de Ética a Nicômaco para relevar discussões 
acerca da tradução. Nesse trabalho, Bruni reavalia o pensamento aristotélico, 
considerando que a dimensão contemplativa que propunha Aristóteles ao homem 
estava distorcida pelo pensamento medieval. 
Para Bruni, o homem é o verdadeiro parâmetro para a construção do 
pensamento e dos juízos que advém de si mesmo,seja no conhecimento, seja na 
política, seja na ação moral. O homem assume valor maior por pensar o objeto e não o 
objeto pensado por ele, pois, quando o pensa, “pensa e age” sobre o objeto e sobre si 
mesmo. 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 03 - NICOLAU DE CUSA 
Porfírio Amarilla Filho 
 
9 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender o pensamento do filósofo renascentista Nicola de Cusa (1401 – 
1464). 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
A Douta Ignorância de Nicola de Cusa 
Nicolau de Cusa (1401-1464) foi um dos filósofos renascentistas que se 
influenciou pelo pensamento platônico. Um de seus trabalhos que ressaltou tal 
influência foi a doutrina da Douta Ignorância (docta 
ignorantia), fundamentada na reflexão socrática (3) 
da consciência dos limites do próprio saber. 
Segundo Cusa, tudo o que homem poderia 
fazer, em relação a Deus, era confessar a total 
impossibilidade de entendê-Lo. Com efeito, o 
conhecimento requer sempre uma passagem do 
conhecido ao desconhecido. Assim, quando se parte 
do infinito, ou seja, do desconhecido, não se tem 
proporção nenhuma para conhecê-lo, pois a 
infinitude escapa à compreensão humana. Afirma: 
Observa isto: o intelecto deseja saber. 
Todavia, o desejo natural não o leva a conhecer a 
quididade (essência) de um Deus que lhe é afim, 
mas a conhecer um Deus tão grande que não existe nenhum limite para a sua 
grandeza. Por isso, Deus é maior do que qualquer conceito e do que tudo o que a 
mente humana pode conhecer. O intelecto não ficaria satisfeito consigo mesmo se 
tivesse uma imagem do seu criador tão pequena e tão imperfeita que pudesse se 
tornar cada vez maior e cada vez mais perfeita. (CUSA APUD IN NICOLA, 2005, p, 161) 
(3) “Só sei que nada sei” 
expressão socrática que visa 
a demonstrar o movimento 
dialético entre o conhecido e 
o desconhecido. À medida 
que Sócrates busca 
encontrar o homem mais 
sábio da Grécia, depara-se 
com a ignorância de si 
mesmo e dos outros. Platão 
em Apologia de Sócrates 
afirma que, segundo seu 
mestre, o verdadeiro saber 
consiste em saber que não 
se sabe. 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 03 - NICOLAU DE CUSA 
Porfírio Amarilla Filho 
 
10 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Nessa concepção de intelecto, conhecer é fundamentar uma proporção entre o 
conhecido e o desconhecido cujo processo é lento, incompleto e gradativo. Ou seja, a 
verdade que se busca no conhecimento nunca se estabelece, senão por aproximação, 
assim como um polígono, por princípio, nunca poderá ser um círculo, por mais que 
multipliquemos os seus lados. 
Para Cusa, todos os esquemas cognitivos humanos têm caráter proporcional e 
relativo. Por não ser o intelecto a verdade, não coincide com ela e não sendo a mente a 
verdade absoluta, única e não relativa, acaba por não poder alcançá-la. 
Assim, a conclusão de Cusa é de que o intelecto nunca pode compreender a 
verdade de modo preciso, pois há uma desproporção estrutural entre a razão (finita) e 
o infinito que, todavia, ela deseja conhecer. Nessa perspectiva, a mente não é senão um 
polígono que deseja ser um círculo, mas que pela sua própria estrutura nunca o será. 
Todavia, isso não significa que não haja um caminho para a aproximação do 
conhecimento intelectual. Ao contrário, a mente pode superar o modo comum de 
racionar, especulando a distinção dos graus de conhecimento. Cusa destaca três graus 
de conhecimento que a razão pode percorrer: (i) a percepção sensorial, que é sempre 
positiva ou afirmativa; (ii) a razão (ratio), que é discursiva e mantém os opostos 
distintos, negando ou afirmando as coisas nos seres (princípio de não-contradição); (iii) 
e a intelectual (intellectus), que está acima de toda afirmação ou negação racional ao 
captar por um ato intuitivo a coincidência dos opostos. 
Cardeal Nicola de Cusa - Nicolau de Cusa fundou um asilo para idosos em 
Kues, hoje conhecida como Bernkastel-Kues, cidade localizada a cerca de 130 
quilômetros ao sul de Bona, capital da Alemanha. Este edifício abriga hoje a biblioteca 
de Cusa, com mais de 310 manuscritos. (Disponível em 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_de_Cusa ) 
Segundo Bréhier, a Douta Ignorância é o estado de espírito daquele que não se 
satisfaz com o conhecimento racional apenas, mas sabe o quanto está longe do 
conhecimento intelectual e busca se aproximar dele (2005, p. 498). Aqui, percebe-se, 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 03 - NICOLAU DE CUSA 
Porfírio Amarilla Filho 
 
11 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
portanto, o espírito moderno que guia a filosofia de Cusa, pois busca propor um 
método, tentando extrair do platonismo uma explicação metafísica para compreender o 
universo do conhecimento humano. 
 
 
 
 
 
 
 
(http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_de_Cusa) 
 
BUSCANDO O CONHECIMENTO 
 
O Humanismo neoplatônico 
 Tanto Petrarca como Bruni e Cusa serviram de contraponto para caracterizar e 
analisar os primeiros passos do pensamento humanista que se formava nesse período. 
Nota-se que enquanto Petrarca e Cusa afirmaram a filosofia socrática como 
fundamento para direcionar o olhar ao seu tempo, Bruni, por sua vez, inspirou-se na 
leitura de Aristóteles para afirmar a perspectiva humana e negar a visão medieval. Esse 
movimento de navegação entre um e outro filósofo da Antiguidade deve ser 
compreendido com particular cuidado. 
Reale&Anteseri comentam que as perspectivas de renovação do espírito 
humano são evidentes e provocam de fato uma contestação ao pensamento medieval. 
Contudo, se por um lado, o humanismo é uma renovação do espírito humano; por 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 03 - NICOLAU DE CUSA 
Porfírio Amarilla Filho 
 
12 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
outro, há implícito uma continuidade do pensamento escolástico, visto que, alertados 
pela visão de Kristeller, eles afirmam que o aristotelismo renascentista seguiu os 
métodos vigentes até então (2004, p 8). Nessa perspectiva, percebe-se que existiu, em 
alguns movimentos, a rejeição óbvia ao aristotelismo-escolástico, mas não existiu o seu 
abandono. O Aristóteles lido pelos humanistas é um Aristóteles no original, distantes 
dos comentadores medievais e lido com novo olhar, à luz de um novo espírito. 
 Por isso, cabe ao estudante de Filosofia perceber que o humanismo não se trata 
apenas da reprodução do pensamento platônico pura e simplesmente, nem da 
negação pontual dos textos aristotélicos, mas de uma leitura dos textos clássicos 
gregos a partir de perspectivas neoplatônicas (4), visando ao rompimento e até mesmo 
ao abandono da interpretação escolástica. 
Pode-se afirmar, com certa segurança, que 
a influência de Platão marcou a produção filosófica 
do período Renascentista. Marsílio Ficino, Pico Della 
Mirandolla, entre outros, foram alguns dos filósofos 
que repercutiram, em suas obras, o predomínio do 
neoplatonismo no modo de compor o pensamento 
filosófico humanista, cuja intenção era reviver um 
ambiente intelectual fértil a partir do olhar da Grécia 
Clássica Antiga. 
 
(4) Neoplatonismo: 
conjunto de doutrinas 
filosóficas que 
especialmente se 
intitularam como 
platônicas no século III 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 04 - A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA 
Porfírio Amarilla Filho 
 
13 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Entender o início da revolução científica. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
O Renascimento e a revolução científica 
 
 As transformações que se iniciariam nas artes e na literatura no período 
renascentista não poderiam deixar de se estender ao conhecimento científico. A idade 
Moderna pode ser considerada o período das revoluções: a reforma, a revolução 
científica, a revolução francesa, a revolução industrial são termos que buscam retrataro 
espírito inovador que deu margem à surgimento de um novo homem. Obras como 
Nova Atlântida e Novum Organum de Francis Bacon; Meditações de René Descartes; O 
Príncipe de Maquiavel e Utopia de Thomas Morus são alguns ícones da crítica aos 
dogmas medievais e a um velho conhecimento. 
Nesse contexto, a disputa entre as teses platônicas e aristotélicas pareciam ser 
inevitáveis. Enquanto a primeira ressurgia como a possibilidade de renovar os caminhos 
do pensamento humano, como já mencionado; a outra serviria ora de contrapondo às 
novas teses, ora como fundamento para surgimento de outras teses. 
É inspirado em Aristóteles, por exemplo, que Nicolau Copérnico deu ênfase às 
análises e as pesquisas experimentais e na importância da investigação da natureza. 
Todavia, é em Platão que o mesmo Copérnico valoriza a explicação do cosmo por 
intermédio da matemática. 
 
A Revolução Científica 
O termo Revolução Científica indica as profundas inovações ocorridas no 
campo da ciência, nas investigações inovadoras dos fenômenos naturais conhecidos, 
nas metodologias de pesquisas e na forma de admitir e validar os conhecimentos 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 04 - A REVOLUÇÃO CIENTÍFICA 
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adquiridos, em que a observação, a experimentação e a verificação de hipóteses 
constituem critérios à fundamentação do conhecimento. 
As contribuições de Nicolau Copérnico, Johannes Kepler e de Galileu Galilei são 
inestimáveis para a composição do panorama científico que se desenvolveu ao longo 
da modernidade. A eles, somam-se Francis Bacon, René Descartes e Isaac Newton que 
complementaram os princípios da ciência moderna. 
Assim, no estudo a seguir procurar-se-á abordar alguns movimentos da 
Filosofia Renascentista que compuseram o panorama científico da Idade Moderna. 
 
O Sistema Heliocêntrico de Copérnico 
Segundo Reale&Antiseri, a teoria 
heliocêntrica de Nicolau Copérnico (1473-1543) 
(5) constitui-se como marco da Revolução 
Científica por se apresentar como uma autêntica 
“revolução” no mundo das ideias do homem 
sobre o universo e sua relação com esse mesmo 
universo (2004, p. 167). 
A teoria heliocêntrica copernicana 
contrapõe-se à teoria geocêntrica de Aristóteles 
defendida por Claudio Ptolomeu (sec. II d.C), o 
último dos grandes astrônomos gregos. 
Nicolau Copérnico (1473-1543) - A 
teoria do modelo heliocêntrico, a maior teoria 
de Copérnico, foi publicada em seu livro, De 
revolutionibus orbium coelestium ("Da revolução 
de esferas celestes"), durante o ano de sua morte, 1543. Apesar disso, ele já havia 
desenvolvido sua teoria algumas décadas antes. 
 
(5) Nicolau Copérnico 
nasceu em Torum às 
margens do Vístula, 
Polônia. Estudou 
geometria, cálculos 
astronômicos e 
fundamentos da 
astronomia na Cracóvia, 
indo para Bolonha, Pádua e 
Ferrara complementar seus 
estudos em direito 
canônico. 
Retornando à Polônia, 
desenvolveu seus estudos 
de astronomia, onde, por 
volta de 1532, completou 
os estudos que culminaram 
na obra Sobre a revolução 
dos corpos celestes (1543). 
 
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O geocentrismo foi uma ideia dominante na astronomia durante toda a 
Antiguidade e Idade Média. O sistema ptolemaico explicou o movimento dos planetas 
por meio de uma combinação de círculos: o planeta se move ao longo de um epiciclo, 
cujo centro se move ao longo de um pequeno ciclo chamado deferente. A terra seria 
então o planeta que, afastada um pouco do centro do deferente, move-se distante 
desse para dar conta do movimento não uniforme dos planetas (OLIVEIRA; SARAIVA, 
2000, p. 54). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fonte: http://www.mat.ibilce.unesp.br 
 
 
 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Em De revolutionibus, Copérnico propõe uma nova visão de cosmo. Os 
princípios que moveram a composição da teoria de Copérnico têm sua influência em 
duas fontes: a primeira são as hipóteses não aceitas de Aristarco de Samos (310-230 
a.C.), que afirmou pela primeira vez o Sol, e não a Terra, ser o centro do universo, e a 
influência dos pitagóricos Filolau (séc. V a.C.) e Ecfanto (séc. IV a.C.) que também 
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afirmaram que seria a Terra quem orbitava em torno do Sol; a segunda, o 
neoplatonismo. 
A partir da primeira fonte, Copérnico opera o conceito de que a Terra é apenas 
um dos seis planetas (conhecidos) girando em torno do Sol, colocando cada um deles 
em ordem de distância do Sol (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter e Saturno) e 
determinando as distâncias destes em relação ao Sol. Deduzindo, desse modo, que 
quanto mais perto do Sol maior será a sua velocidade orbital. 
Na segunda fonte, foram seus estudos com Domingos Maria Novara que o 
influenciou à leitura do pensamento neoplatônico a partir de Proclos Lício (412-485). 
Proclos propunha a matemática como instrumento para o entendimento do universo. 
Nessa concepção, são as propriedades matemáticas que formam as características 
verdadeiras e imutáveis das coisas. 
Em sua carta dedicatória a Paulo III encontram-se as fontes do seu 
pensamento: 
 
 
“Por isso assumi o trabalho de reunir os livros de todos os filósofos, que 
pudesse ter, com o fito de indagar se acaso algum tivesse opinado que os 
movimentos das esferas do mundo fossem diversos daqueles que são 
admitidos por aqueles que ensinam matemática nas escolas. E encontrei assim 
o primeiro em Cícero que Niceto pensara que a terra se movesse. Depois, 
também em Plutarco encontrei que outros ainda eram da mesma opinião (...)” 
(COPÉRNICO APUD IN REALE&ANTISERI, p. 186) 
 
 
Copérnico adota a concepção de um cosmo finito fundamentado na forma 
esférica, em que o movimento perfeito segue a mesma ordem. Sua teoria, com efeito, 
apenas rompe com a proposta aristotélico-ptolomaica por adotar o Sol como centro do 
cosmo e não a Terra. Embora seja um universo fechado tal qual o proposto por 
Ptolomeu. Contudo, tal proposta torna-se importante por revelar outro caminho à 
compreensão da realidade e ao conceber um paradigma alternativo em relação àquele 
de tradição milenar. 
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UNIDADE 05 - JOHANNES KEPLER E A ÓRBITA ELÍPTICA 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
 
Objetivos: Compreender o pensamento de Johannes Kepler. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
A órbita elíptica dos planetas 
 
Johannes Kepler (1571-1630) é personagem fundamental ao entendimento 
da Revolução Científica. Nascido nas proximidades de Stuttgard, Alemanha, 
inicialmente se dedicou ao estudo de teologia, abandonando-o após quatro anos de 
seminário. Convidado a ser professor de matemática em Graz, na Áustria, 
permaneceu no cargo por apenas alguns anos, pois foi expulso da cidade por ser 
protestante, devido à pressão da Igreja Católica com a Contrarreforma. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 (Disponível em 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Nicolau_Cop%C3%A9rnico) 
 
 
Johannes Kepler (1571-1630) - estudou inicialmente para seguir carreira 
teológica. Na Universidade, ele leu sobre os princípios de Copérnico 
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UNIDADE 05 - JOHANNES KEPLER E A ÓRBITA ELÍPTICA 
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(proeminente cônego católico) e logo se tornou um entusiástico defensor 
do heliocentrismo. 
Transferiu-se para Praga para trabalhar com o astrônomo Tycho Brahe, 
Como assistente de Brahe, Kepler teve a oportunidade de aprofundar seus estudos 
sobre os astros e, principalmente, seu interesse na teoria heliocêntrica de 
Copérnico. 
De influência platônica-pitagórica, Kepleracreditou que a natureza tinha sua 
ordem por regras matemáticas. Em sua obra Mysterium Cosmograficum, o sistema 
Copérnico vincula-se à concepção platônica de que uma razão matemática divina 
presidiu a criação do universo. 
Em Timeu, Platão propõe um modelo físico do universo que se constitui 
como um conjunto de axiomas cujas propriedades do universo são logicamente 
deduzidas, sendo a sua ordem constituída por relações matemáticas. Nessa 
proposta, os astros, assim como os sons, circulam de acordo como uma mesma 
relação matemática em espaço e tempo (no caso dos sons) que determina a 
harmonia do conjunto. 
A obra de Kepler consistiu em harmonizar a geometria e a matemática ao 
mundo. Deus é matemática, afirmou Kepler. Com essa inspiração, Kepler conseguiu 
determinar a órbita terrestre, em que, a partir de dados observados no planeta 
Marte, abandonou a ideia copernicana de uma órbita circular, adotando, em seus 
cálculos, uma órbita elíptica e de velocidade variável. 
Dadas as condições em que as observações se desenvolveram e os 
recursos matemáticos disponíveis até então, a descoberta de Kepler, além de 
fantástica, rompe com o dogma de que o movimento circular é natural e perfeito. 
Esses movimentos na filosofia da natureza, tanto de Copérnico como de Kepler, 
iniciam a cisão nas bases do pensamento e do conhecimento medieval. Se 
somarmos a isso, as transformações nas artes, na política, na cultura e na religião, o 
pensamento medieval sofre pela disposição que se encontra nos homens 
renascentistas em renovar o próprio tempo em que se encontram. 
Por isso, é sobre Galileu Galilei que repousará a admiração dos homens 
modernos e, por que não dizer, dos contemporâneos. O novo sistema cósmico, o 
novo instrumento, o novo método são aspectos de uma só intenção: fazer renascer 
uma nova interpretação do mundo, em seu sentido amplo. 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 05 - JOHANNES KEPLER E A ÓRBITA ELÍPTICA 
Porfírio Amarilla Filho 
 
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O que se procura ressaltar aqui à compreensão do estudante de Filosofia, é 
que os filósofos vistos até aqui, e aqueles ainda não examinados, são apenas parte 
de um entrecruzamento do ocaso de um período que se sucumbe, não pela sua falta 
de engenhosidade nas explicações filosóficas, mas pela nascente de um período 
que viu naquelas explicações o esgotamento de um saber que impedia o progresso 
do conhecimento. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Para refletir mais sobre o assunto, apresento um excerto sobre a nova 
astronomia desenvolvida por Kepler1 
 
Uma Nova Astronomia 
Suas investigações se estenderam e culminaram em “Uma Nova 
Astronomia”, incluindo as primeiras duas leis dos movimentos planetários, que 
começaram com a analise dos dados de Tycho da órbita de Marte. Kepler calculou e 
recalculou várias aproximações da órbita de Marte usando uma equante (ferramenta 
matemática que Copérnico já havia eliminado de seu sistema), criando um modelo 
que usualmente entrava em acordo com as observações de Tycho dentro de um 
erro médio de dois minutos de arco (1/60 de grau). Mas ele não estava satisfeito 
com os resultados, pois alguns pontos do modelo eram diferentes dos dados em oito 
minutos de arco. O vasto conjunto de métodos matemáticos astronômicos parecia 
insuficiente para ele, até que conseguiu ajustar os dados em uma órbita ovóide. 
Na visão religiosa do cosmos de Kepler, o Sol (um símbolo de Deus Pai) 
fonte da força motora no sistema solar. Com embasamento físico, Kepler foi 
influenciado pela analogia que William Gilbert apresentou em sua teoria da alma 
magnética da Terra em De Magnete (1600) e em seus outros trabalhos em óptica. 
Kepler supôs que o poder de radiação do Sol diminuía com a distância, causando 
movimentos mais rápidos e mais lentos quando estes se moviam mais próximos ou 
 
1 Disponível: < 
https://www.google.com.br/?gfe_rd=cr&ei=XFJaVIKXIcqU8Qev9oGwBA&gws_rd=ssl#q=johannes+kepler+pdf> 
, acesso em: 18/10/2014. 
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mais distantes do Sol. Talvez essa suposição acarretasse em uma relação 
matemática que recuperasse a ordem astronômica. Baseado em medidas de afélios 
e periélios da Terra e Marte, ele criou uma equação que relacionava os raios dos 
movimentos dos planetas ao redor do Sol com o inverso de suas distâncias até o 
Sol. Para verificar essas relações do começo ao fim do ciclo orbital, eram 
necessários cálculos extensivos, e para simplificar seu trabalho, em 1602, Kepler 
reformulou a proporção em termos geométricos da seguinte maneira: "A linha que 
liga o planeta ao Sol varre áreas iguais em tempos iguais", conhecida hoje como a 
segunda lei dos movimentos planetários ou como a segunda lei de Kepler. 
Ele ajustou os cálculos para toda a órbita de Marte, usando sua lei 
geométrica e usando a órbita em forma de ovóide. Após aproximadamente 40 
tentativas insuficientes, em meados de 1605 ele teve a ideia de uma elipse. 
Descobriu que uma órbita elíptica ajustava os dados de Marte, e imediatamente 
concluiu que todos os planetas se moviam em elipses, com o Sol em um dos focos, 
sendo esta a primeira lei dos movimentos planetários ou primeira lei de Kepler. 
Devido ao fato de não possuir um ajudante, Kepler não estendeu suas análises 
matemáticas referentes a Marte. Ao final daquele ano, ele completou o manuscrito 
de “Uma Nova Astronomia”, embora não pode ser publicado até 1609 devido à 
legalização do uso das observações de Tycho, proprietário dessa herança. 
 
 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 06 - GALILEU E A OBSERVAÇÃO DOS ASTROS 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
 
Objetivos: Compreender o pensamento desenvolvido Galileu Galilei. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
A observação dos astros 
Galileu Galilei (1564-1642) é considerado o pai da física moderna. Sua 
contribuição para a compreensão do Modelo Heliocêntrico de Copérnico e para os 
avanços da ciência nos anos que se seguiram, após as publicações dos seus 
trabalhos, são fundamentais ao entendimento do período moderno. 
Nascido em Pisa, na Itália, Galileu foi membro de uma família burguesa. 
Mudou-se para Florença aos 10 anos de idade, onde iniciou seus estudos e, sob 
orientação dos pais, mais tarde, matriculou-se em curso de Medicina, todavia, 
abandonando-o. Dedicou seus estudos em matemática graças à influência de Ostílio 
Ricci, que fora aluno do grande matemático Nicola Tartaglia. 
Galileu Galilei (1564-1642) desenvolveu os primeiros estudos sistemáticos 
do movimento uniformemente acelerado e do movimento do pêndulo. Descobriu a lei 
dos corpos e enunciou o princípio da inércia e o conceito de referencial inercial, 
ideias precursoras da física mecânica newtoniana. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(Disponível em 
http://pt.wikipedia.org/wiki/Galileu_Galilei ) 
 
 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 06 - GALILEU E A OBSERVAÇÃO DOS ASTROS 
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Seguindo os passos de Ricci, que propunha que a matemática fosse uma 
ferramenta prática para os problemas da mecânica e da engenharia, Galileu 
procurou conciliar a visão da matemática às questões da natureza. Entre as suas 
contribuições à Revolução Científica está também o uso do telescópio nas 
observações. Embora não fosse o inventor do telescópio, coube a Galileu o 
aprimoramento e o uso desse instrumento na atividade científica. 
Galileu começou suas observações telescópicas em 1610, contribuindo para 
várias descobertas na astronomia, destacam-se as mais importantes: 
(i) a Via Láctea era constituída por uma infinidade de outras estrelas; 
(ii) Júpiterpossuía quatro satélites orbitando ao seu redor; 
(iii) Vênus passava por um ciclo de fases, igualmente como a Lua; 
(iv) A Lua possuía um relevo formado por cavidades e elevações e o Sol 
não possuía uma superfície lisa, mas apresentava manchas. 
 
Todavia, as descobertas mais importantes são aquelas que deram 
sustentação à tese copernicana sobre o sistema heliocêntrico. Por causa delas, 
Galileu foi acusado de heresia pela Inquisição Católica e obrigado a se retratar. O 
papa Urbano VIII, convencido pelos adversários de Galileu de que seu Diálogo sobre 
os dois máximos sistemas do mundo Ptolomaico e Copernicano se caracterizava 
como uma afronta à autoridade papal, chamou-o à Roma para se justificar por que 
havia quebrado o acordo, de 1616, junto ao cardeal Berlamino, em que Galileu se 
comprometera em não ensinar nem defender as teses copernicanas. Como as 
explicações de Galileu não satisfizeram o Santo Ofício, foi obrigado a abjurar sobre 
as teses defendidas: 
 
“Eu, Galileu, filho daquele Vicenzo Galileu de Florença, nesta minha idade 
de setenta anos, constituído pessoalmente em juízo e ajoelhado diante de 
vós, (...) e tendo diante de meus olhos os sacrossantos Evangelhos, que 
toco com as próprias mãos, juro que sempre acreditei, acredito agora e, 
com a ajuda de Deus, acreditarei no futuro em tudo aquilo que a santa igreja 
católica e apostólica mantém, prega e ensina” (APUD IN 
REALE&ANTESERI, 2004, p. 209). 
 
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(6) Pitágoras- 570-500 a.C. é 
conhecido por ter fundado uma 
associação religiosa de tipo órfico e 
também conhecido por sua doutrina 
da transmigração das almas, 
contudo, a sua religiosidade está 
associada à concepção de que o 
número é o princípio de todas as 
coisas. Deve-se a ele a 
representação do número de forma 
figurativa em vez de linear. 
Galileu foi condenado à prisão domiciliar na Vila de Médici e posteriormente 
na Vila de Arcetri, onde escreveu sua última obra. 
 Entre as publicações encontram-se as seguintes obras: Sidereus Nuntius 
(Mensageiro Celeste), publicado em 1610; O ensaísta, em 1623; Diálogo sobre dois 
máximos sistemas do Mundo Ptolomaico e Copernicano, em 1638, produzido já em 
seu cativeiro. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A ciência de Galileu 
 
Galileu não é autor de uma teoria da física universal, contudo, seu trabalho 
conduz à criação de uma ciência físico-matemática da natureza, capaz de prever 
alguns fenômenos. Movido por um intenso desejo de compreensão dos fenômenos 
da natureza, Galileu não se preocupou, em suas pesquisas, em dizer como as 
coisas se comportam na natureza, mas em provar que a matemática, com seus 
triângulos, seus círculos e suas figuras geométricas, é a linguagem capaz de decifrar 
o livro da natureza. Desse modo, a natureza passa a ser tratada por Galileu como 
uma abstração entre o espaço e pontos que podem ser expressos por meio de 
equações matemáticas (MARCONDES, p. 158). 
Com efeito, Galileu organizou, sistematizou e sintetizou a contribuição de 
vários pensadores anteriores ao seu tempo. Nessa empreitada, concluiu que a 
ciência é de fato objetiva, pois procede a partir de um método preciso que se 
fundamenta em regras ao buscar o “entendimento das coisas”, fugindo, assim, das 
qualidades subjetivas das coisas, ou seja, das 
qualidades variáveis e dependentes, ao 
menos em parte, do sujeito: a cor, o sabor, a 
luminosidade etc. 
Percebe-se, portanto, que o 
pensamento de Pitágoras (6) e de Platão 
tiveram uma importância essencial aos 
estudos de Galileu, pois a demonstração 
causal dos fatos, conseguido por meio da 
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UNIDADE 06 - GALILEU E A OBSERVAÇÃO DOS ASTROS 
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experimentação, fundou-se na sua submissão aos cálculos e à medida matemática. 
Ou seja, uma concepção matemática da natureza, essencialmente pitagórica. Tal 
matematização significou considerar os caracteres quantitativos dos fenômenos 
sobre os qualitativos. Ou seja, implica em observar unicamente as determinações 
quantitativas de grandeza: forma, situação, número, movimento etc.; e reduzir a pura 
impressão subjetiva todos os caracteres qualitativos de cores, odores, gostos, calor, 
frio etc. Argumenta Galileu em O Ensaísta: 
 
“Tenho pensado nesses sabores, odores, cores e assim por diante, no que 
se refere ao sujeito em que nos parece se encontram, não são mais que 
puros nomes, que apenas residem no corpo sensitivo, de modo que, 
removido o animal, todas essas qualidades são eliminadas e aniquiladas”. 
(APUD IN NICOLA, 2005, p.210). 
 
Por isso, há no discurso científico, segundo Galileu, uma autonomia em 
relação à fé, quando se pretende descrever o mundo, proposta pela própria 
objetividade científica. Fé religiosa e ciência se fixam em um princípio de distinção 
fundamentado na finalidade. A relação entre elas se estabelece por uma e outra e 
não entre uma ou outra. Enquanto a segunda visa à compreensão de como o 
universo funciona, a primeira visa a dar sentido aos destinos dos indivíduos, à vida 
humana propriamente dita. 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 07 - O MÉTODO CIENTÍFICO DE GALILEU 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender o método científico desenvolvido por Galileu. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
O método resolutivo-compositivo 
 
A ideia de objetividade, organização e sistematização da ciência, em Galileu, 
resume-se em seu método resolutivo-compositivo. O método compositivo de Gallileu 
visa a reunir em uma só fórmula matemática os fatos observados. O método resolutivo 
permite deduzir das leis observadas um grande número de fatos decorrentes delas. 
Galileu propõe quatro etapas para o desenvolvimento das pesquisas: a 
observação, em que os dados das observações são delimitados em referência ao 
problema que se deseja resolver; a hipótese explicativa, que procura conceber um novo 
modo de explicação ao fenômeno, ao mesmo tempo em que tal hipótese se restringe à 
confirmação experimental; a dedução, que se configura nas deduções matemáticas das 
observações e hipóteses levantadas, e, por último, a verificação experimental, em que se 
criam condições empíricas para que se possam medir as consequências dedutivas e as 
interferências de outros fatores que não foram previstos nas hipóteses. 
 
Experiências e demonstrações 
 
Segundo Émile Brehier, em Galileu, encontra-se uma ideia clara das leis da 
natureza como relações funcionais (2005, p. 20). Disso resulta, o avanço da matemática 
e da física e uma nova postura dos filósofos renascentistas diante dos problemas da 
natureza. Os fenômenos aqui são interpretados, portanto, em sua realidade verdadeira 
e podem ser medidos. É, pois, essa busca de evidências experimentais que levam a 
Galileu a demonstrar as hipóteses de Copérnico acerca do heliocentrismo. 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 07 - O MÉTODO CIENTÍFICO DE GALILEU 
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Tal confiança de Galileu na observação 
experimental propiciou críticas dos filósofos 
aristotélicos. Acusado de ser avesso a Aristóteles, 
refuta as acusações se fundamentando na própria 
filosofia peripatética. Para Galileu, se Aristóteles 
dispusesse de instrumentos que o levassem a 
observações mais precisas, teria modificado suas teses 
a respeito do universo. 
 
“Por acaso duvidais de que se Aristóteles visse as novas descobertas no céu ele 
não mudaria de opinião, para emendar seus livros e aproximar-se de doutrinas 
mais sensatas, afastando de perto de si aqueles tão pobrezinhos de espíritos 
que muito pusilanimemente se propõem a defenderqualquer dizer seu, sem 
entender que se Aristóteles fosse como eles imaginam teria um cérebro 
indócil, uma mente obstinada, um ânimo cheio de barbárie, uma vontade 
tirânica que, considerando todos os outros como estúpidas ovelhas, quereria 
que seus decretos se antepusessem aos sentidos, às experiências, à própria 
natureza? Foram seus seguidores que deram autoridade a Aristóteles, e não 
ele que a usurpou ou tomou” (Diálogo sobre os dois máximos sistemas do 
mundo APUD IN NICOLA, 2005, p. 212). 
 
Assim, Galileu antepôs a experiência ao discurso. Todavia, não significa que um 
seja mais importante que o outro. Ou seja, as primeiras são fruto de uma observação 
medida e calculada; as segundas consistem em argumentações a partir de hipóteses 
rigorosamente construídas e demonstradas. 
Isso significa dizer que o modelo de ciência de Galileu surge na esteira do 
modelo geométrico. A vinculação estabelecida por Galileu entre a observação e a 
demonstração conseguiu, por meios dos sentidos e das demonstrações lógico-
matemáticas, uma vinculação recíproca. As experiências sensíveis da observação não 
poderiam valer cientificamente sem a relativa demonstração da sua necessidade, nem a 
demonstração lógica e matemática poderia alcançar sua certeza objetiva sem se apoiar 
na experiência. 
O método de Galileu busca 
orientar as descobertas da 
ciência e consiste em 
“experiências sensatas” e 
“demonstrações necessárias”. 
FILOSOFIA MODERNA 
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Todavia, ressalta-se, Galileu concebe a experimentação como causa ativa e 
racional dos efeitos, e não apenas a pura observação empírica de fenômenos que 
aconteçam espontaneamente. Se, por um lado, a observação, no modo de produzir o 
seu modelo de ciência, apresenta-se como elemento necessário à análise dos 
fenômenos e à descoberta das razões (da experiência à razão, por via compositiva e 
resolutiva); por outro, na produção experimental do fenômeno se deve ter em mente as 
razões para empregá-las na realização da experiência (da razão à experiência, por via 
sintética). 
 Dessa maneira, a experimentação, dentro do processo sintético, deve ser 
precedida da experiência e do processo analítico, este acrescido da hipótese explicativa 
e somado à experimentação, por seu processo dedutivo, que pode chegar à certeza do 
conhecimento científico. Portanto, a experimentação galileana acha-se precedida e 
dirigida por uma razão dedutiva, pela qual a produção dos acontecimentos e dos 
experimentos se vê deduzida de uma racionalidade. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Através de experimentos, Galileu provou 
que muitos pressupostos antigos e adotados pela 
Igreja eram falsos e conduziam ao erro. 
 
 (http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_de_Pisa) 
 
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O princípio da inércia, por exemplo, afirma que o corpo tende a preservar a sua 
condição de repouso ou de movimento até que outra força exterior intervenha em sua 
condição. Para a realização experimental de suas hipóteses dedutivas, Galileu utilizou 
superfícies horizontais, a fim de que o impulso comunicado inicialmente ao móvel não 
sofresse alteração pela gravidade, atirando sobre elas pequenas esferas, com a 
finalidade de reduzir o mínimo da ação do atrito. Outra experiência realizada de uma 
hipótese dedutiva por Galileu foi a de deixar cair dois pesos de massas diferentes para 
demonstrar que ambos tocavam o solo simultaneamente. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
Galileu produz, com base em seu modelo de ciência, quatro leis sobre a queda 
dos corpos: a) a velocidade da queda de um corpo é independente de sua massa; b) a 
velocidade de um corpo é independente da sua natureza; c) a velocidade adquirida por 
um corpo que cai livremente, a partir do repouso, é proporcional aos tempos; c) os 
espaços percorridos são proporcionais aos quadrados dos tempos em percorrê-lo. 
Assim, para deduzir essas leis Galileu, primeiramente, necessitou criar as hipóteses 
abstratamente, contrapondo as opiniões aristotélicas dominantes em seu contexto 
filosófico. 
 
 
 
 
 
 
 
 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 08 - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO SEGUNDO FRANCIS BACON 
Porfírio Amarilla Filho 
 
29 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender a análise do método científico realizado por Bacon. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
 
O progresso do conhecimento científico 
 
Francis Bacon (1561-1626) foi um dos mais conhecidos e influentes rosacruzes e 
também um alquimista, tendo ocupado o posto mais elevado da Ordem Rosacruz, o 
de Imperator. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 (Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Francis_Bacon) 
 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 08 - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO SEGUNDO FRANCIS BACON 
Porfírio Amarilla Filho 
 
30 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
A importância de Francis Bacon (1561-1626), filósofo inglês, na Revolução 
Científica repousa precisamente no movimento filosófico em estabelecer uma análise 
na concepção de um método para a validação do conhecimento científico. 
Nascido em Londres, em 1561, em uma família da nobreza inglesa, Bacon desde 
cedo gozou dos privilégios da corte. Eleito para a Câmara dos Comuns percorreu a 
carreira política, chegando a ser nomeado lorde chanceler e recebendo o título de 
Barão de Verulam e Visconde de Santo Albano do Rei Jaime I. Todavia, sua carreira 
política foi bruscamente interrompida devido a uma acusação de corrupção, segundo 
os historiados da filosofia, por aceitar presentes de uma das partes interessadas antes 
de uma sentença na qual era o juiz. A partir desse episódio, Bacon foi impedido de 
exercer qualquer ofício público, dedicando-se, então, aos estudos de filosofia e à 
atividade de escritor. 
Ruim para Bacon, bom para a filosofia. Em 1620 publicou a sua principal obra: 
o Novum Organum, em que defende o método científico como uma arte de interpretar 
a natureza. Em seguida publica Da Dignidade e do Progresso das Ciências, em 1623; e A 
Nova Atlântica em 1624. 
Há de se notar ao longo da trajetória de Bacon que a sua proposta à ciência 
não é somente um instrumento para o intelecto, mas ainda uma ferramenta da ação 
que objetiva "conhecer a verdade das coisas de forma clara e manifesta", em que a 
experiência detalhada e rigorosa é a melhor demonstração. 
 Em Novum Organum, Bacon quis estabelecer aquilo que acreditou ser as regras 
necessárias para a condução do conhecimento. Em Nova Atlântica, procurou 
demonstrar o bem que uma sociedade pode ter ao aplicar a ciência como fonte das 
beneficies na relação Estado-sociedade. 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 08 - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO SEGUNDO FRANCIS BACON 
Porfírio Amarilla Filho 
 
31 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
É importante ao estudante de filosofia perceber que uma obra se completa 
pela outra para compor um só projeto. Juntas, conhecimento e poder unem-se para 
formar uma só proposta. Todavia, a proposta de compreensão do conhecimento 
científico, além do entendimento do contexto que atravessam as discussões sobre as 
reformas no pensamento moderno, e a proposta de uma nova ordem social 
fundamentado no saber não podem ser separadas, sob a pena de se perder o ponto de 
vista visionário que se estabeleceu nas obras do filósofo inglês. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
O Novo na construção do conhecimento 
A proposta de Bacon cria corpo a partir dos títulos das duas obras 
mencionadas acima. Ao usar o termo Novo 
em ambas as obras nota-se a proposta 
incisiva e explícita de ruptura com o caminho 
que foi percorrido até então pela tradição, 
seja a antiga, sejaa escolástica. 
 Novum, palavra latina para 
designar o novo, carrega em si um 
significado mais puro e primitivo do que comumente se encontra. Em Bacon, "novo" é 
aquilo que não se adapta às regras, que age indiferente ao que “está posto”, que, por 
ser assim, recebe um sentido mais amplo, ou seja, aquilo que não tem semelhança com 
qualquer outra coisa conhecida. Com efeito, o Novum Organum e Nova Atlântica não 
podem ser entendidas sob à luz da tradição filosófica. 
 A intenção de Bacon não foi apenas trazer à sua época uma releitura dos 
métodos filosóficos e ortodoxos para o conhecimento, mas também, devido ao seu 
potencial visionário, elaborar uma nova proposta ao desenvolvimento do conhecimento 
humano. O que o filósofo inglês visou foi investigar a possibilidade de estender os 
Produzir um novo caminho 
para o avanço da ciência e 
conseqüentemente ao 
desenvolvimento de uma 
sociedade política e 
eticamente melhor 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 08 - O CONHECIMENTO CIENTÍFICO SEGUNDO FRANCIS BACON 
Porfírio Amarilla Filho 
 
32 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
limites do conhecimento humano para dar grandeza ao homem e tornar mais sólidos 
os seus conhecimento. Conforme comenta: “o conhecimento das causa e dos segredos 
dos movimentos das coisas e da ampliação dos limites do império humano para a 
realização de todas as coisas que forem possíveis” (1979, p. 262) 
Com efeito, pode-se afirmar que Bacon foi o arquiteto do pensamento 
científico que dominaria o período moderno e desembocaria na contemporaneidade. 
Todavia, como foi mencionado, o projeto científico de Bacon incorpora também um 
projeto político. Segundo Maria das Graças Nascimento, o saber é entendido por ele 
como um poder que se estende não como uma força de opressão ou dominação de 
uma sociedade, mas como um projeto utópico organizador da sociedade, da natureza 
cooperativa do esforço científico e da orientação das investigações para a promoção do 
bem estar de toda a humanidade (2000, p. 374). 
Isso significa dizer que na visão de Bacon a ciência ultrapassa a singularidade 
do pesquisador e ganha um valor ético universal, o bem para todos. Assim, à medida 
que a ciência avança e gera novos recursos ao Estado, esse deve aplicá-los ao bem-
estar do homem e, assim, maior e melhor será o poder daquele e da humanidade. 
A proposta de Bacon visou à reforma dos princípios epistemológicos para a 
composição do pensamento e do conhecimento científico: 
∑ O balanço crítico das atividades filosóficas e científicas privilegiadas pela 
tradição, assim como dos entraves para o progresso da ciência e das causas 
inerentes dos erros da razão humana; 
∑ O inventário dos processos cognitivos; 
∑ A divisão das ciências. 
 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 09 - O MÉTODO INDUTIVO DE BACON 
Porfírio Amarilla Filho 
 
33 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Compreender a análise do método científico realizado por Bacon. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Os erros da razão 
A filosofia de Bacon caracteriza-se por uma crítica e um rompimento incisivo 
com as bases do saber escolásticos, de fundamentação aristotélica. Por isso, antes de 
quaisquer especificações epistemológicas, Bacon desenvolveu a teoria dos ídolos da 
razão em que enumera as fontes de erros da razão humana diante do conhecimento. 
Nessa teoria, postula que a razão humana se via contaminada por ilusões ou 
distorções que a bloqueavam no avanço do conhecimento. Assim como uma bússola 
que se desorientada leva o navegante a lugar indesejado, acreditando ele ter chegado 
ao lugar certo, a razão que se deixa iludir por falsas noções impede-lhe o caminho para 
a verdade. Ao contrário da teoria dos ídolos exposta por Demócrito, que tinha como 
fundamento de que a razão capta imagens das coisas pela percepção, Bacon procura, 
antecipando a base conceitual do termo “ideologia”, difundido por Marx no século XIX, 
imputar um conceito de ídolo que figura não como imagens, mas como ilusões de uma 
realidade projetada na razão. 
O primeiro objetivo, portanto, da teoria dos ídolos foi dar consciência aos 
homens referente os aspectos que os podem conduzir ao erro. São quatro os ídolos da 
razão humana: 
∑ Ídolo da Tribo, que se fundamenta na própria natureza humana. Tribo 
nesse sentido designa a própria espécie humana, ou seja, são erros 
inerentes ao próprio espírito humano, cometidos por pressupor 
paralelismo, correspondências ou mesmo relações, que na realidade não 
existem nas coisas; 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 09 - O MÉTODO INDUTIVO DE BACON 
Porfírio Amarilla Filho 
 
34 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
∑ Ídolo da Caverna, que deriva de cada indivíduo devido a sua educação e 
relações com outros em sociedade, seja por livros, seja por discursos, seja 
por admiração na autoridade daquele que o influencia. Cada indivíduo 
possui em si mesmo um espírito singular e variável que compromete o 
espírito científico, que tem como objetivo escapar ao senso comum, ao 
dogma, ao preconceito; 
∑ Ídolo do Foro, que imputa erros oriundos da linguagem e as 
ambiguidades dos discursos. A linguagem, por ser um recurso humano, 
pode estabelecer relações enganosas entre as coisas ou até mesmo 
designar significados ou abstrações inexistentes nas coisas; 
∑ Ídolo do Teatro, que deriva das doutrinas filosóficas ou concepções 
científicas, pois essas se explicitam por regras de demonstrações 
duvidosas, às vezes tendo como princípio uma tradição, uma fé cega ou 
mesmo um desleixo de quem as conduz. Tais erros são ídolos do teatro, 
pois Bacon compara os sistemas filosóficos às fábulas, que são como 
cenas de teatros ou mundo fictícios. 
 
Todavia, se por um lado, o que se tem como objetivo fundamental na 
concepção dos ídolos da razão é livrar o homem de ideias que lhe são imputadas sem 
perceber, como foi mencionado acima; por outro, a teoria dos ídolos opera como base 
para desobstruir os caminhos para o avanço da ciência, no sentido prático. 
De fato, segundo Chaui, Bacon acreditou que o avanço do conhecimento se 
daria com a demolição e reforma da razão e dos conhecimentos adquiridos por ela até 
então (2010, p. 165). 
Ao estudante de Filosofia cabe entender que a filosofia de Bacon não se limitou 
a reorientar os homens ao conhecimento. Além da recondução do homem aos 
caminhos do conhecimento, a sua filosofia foi um esforço para produzir fundamentos 
seguros à construção de uma nova ciência. Por isso, Bacon retoma o escopo da ciência. 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 09 - O MÉTODO INDUTIVO DE BACON 
Porfírio Amarilla Filho 
 
35 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Essa tem por finalidade conhecer as formas das coisas, naquele sentido mesmo dado 
por Platão e Aristóteles. 
Recuperando a tese aristotélica das quatro causas para investigação das 
substâncias materiais, a saber: a causa formal, a material, a eficiente e a final, o filósofo 
inglês concentrou-se na fundamentação de apenas uma: a causa formal. Para ele, é ela 
que revela os segredos inclusos na natureza do objeto: “um homem que conheça as 
formas pode descobrir e obter efeitos nunca antes obtidos, efeitos que nem as mudanças 
naturais, nem o acaso, nem a experiência, nem a industriosidade humana jamais 
produziram” (APUD IN REALE; ANTESERI, 2004, p. 272). 
Ora, os fenômenos são produzidos segundo leis naturais intrínsecas a eles 
mesmos, desse modo, compreender a forma significa o entendimento das estruturas de 
um determinado fenômeno, bem como a lei ou regra que o rege. Isso significa dizer 
que aquele que domina os efeitos da natureza, domina a lei que os rege e a estrutura 
que os provoca. Ao entendimento das estruturas dos fenômenos Bacon denominou 
esquematismo latente; ao entendimento das leis, processo latente. O escopo científico 
baconiano, portanto,sustenta, internamente, ser possível rastrear os fenômenos da 
natureza, tendo como movimento primeiro a investigação das manifestações mais 
explícitas até aquelas mais implícitas ou ocultas. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
O método indutivo de Bacon 
Dados os limites da razão e dados os objetivos da ciência, logo, resta-lhe 
fundamentar o método que a ciência deve percorrer. 
Enquanto a filosofia antiga e a filosofia medieval se apoiavam no debate das 
palavras entre os homens, ora dialético, ora retórico, a filosofia de Bacon instaura um 
novo confronto: o homem e a natureza. 
Naquele debate medieval, o método clássico para a argumentação se dera na 
concepção aristotélica da lógica. Como já fora visto em outros momentos do estudo da 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 09 - O MÉTODO INDUTIVO DE BACON 
Porfírio Amarilla Filho 
 
36 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Filosofia, a lógica se estabelece como método para o início da investigação filosófica ou 
científica. Por isso, considerou-se o raciocínio lógico como uma atividade propedêutica 
ao processo investigativo, pois ela fornece as regras ou normas ideais, por meio da 
dedução e da indução, que conduziriam o pensamento diante das problemáticas da 
pesquisa e na demonstração das verdades (CHAUI, 2002, p. 357). 
De modo geral, o silogismo ou dedução, segundo Aristóteles, é o 
procedimento que deve encontrar as condições que levem uma conclusão à sua 
veracidade ou falsidade. Ou seja, a inferência dedutiva consiste em demonstrar que as 
análises particulares de um objeto qualquer estão contidas em seus aspectos gerais. Por 
sua vez, a lógica indutiva é o movimento que leva a razão à verdade a partir da análise 
de dados particulares à conclusão de dados gerais. 
É essa lógica que estabeleceu, na tradição clássica, que a ordem de 
investigação difere da ordem de exposição. Primeiro, investiga-se por indução e, 
depois, demonstra-se por dedução. 
Contudo, Bacon rejeita a dedução aristotélica como forma de demonstração de 
conhecimento. Para ele, é um instrumento que leva a razão à confusão diante dos 
segredos da natureza. “Nós, ao contrário, rejeitamos a demonstração por meio de 
silogismo porque ela só produz confusão e faz com que a natureza escape de nossas 
mãos” (Novum Organum APUD IN NICOLA, 2005, p. 217), afirma. 
Do mesmo modo que afasta a dedução de seus processos científicos, Bacon 
rejeita também a indução aristotélica como método à aquisição do conhecimento. A 
seu ver, trata-se de simples enumeração de aspectos particulares de um fenômeno, 
pois, o método indutivo proposto por Aristóteles, ao concluir os fatos gerais do 
fenômeno, acaba por saltar os elos intermediários, levando o pesquisador à construção 
de conclusões precárias e contraditórias (REALE; ANTSERI, 2004, p. 275). 
Para Bacon, a verdadeira indução é aquela que se fundamenta a partir da 
análise dos fenômenos dada na experiência. Tal indução se desenvolve por eliminações 
ou exclusões sistemáticas de experiências não concludentes. Ou seja, à medida que se 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 09 - O MÉTODO INDUTIVO DE BACON 
Porfírio Amarilla Filho 
 
37 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
verifica que casos particulares dos fenômenos se encontram ausentes ou presentes de 
modo pleno, pode-se chegar a axiomas que claramente a ele se refere. 
 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 10 - O PROGRAMA DE PESQUISA NEWTONIANO 
Porfírio Amarilla Filho 
 
38 
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CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
 
Objetivos: Entender as pesquisas realizadas por Isaac Newton. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
Nascido na Inglaterra no mesmo ano da morte de Galileu, 1642, Isaac Newton 
(1642-1727) é considerado o pai da física clássica e aquele que pôs termo à Revolução 
Científica. Isaac Newton (1642 - 1727) Em uma pesquisa promovida pela Royal Society, 
Newton foi considerado o cientista que causou maior 
impacto na história da ciência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
(Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Isaac_newton) 
 
Newton entrou para a história da humanidade exatamente pelas suas pesquisas 
nas diversas áreas da física: a ótica, a mecânica, a astronomia, e pela invenção dos 
cálculos matemáticos diferenciais e integrais. Apoiado nas convicções pitagóricas sobre 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 10 - O PROGRAMA DE PESQUISA NEWTONIANO 
Porfírio Amarilla Filho 
 
39 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
um universo formado por números, mesmo que cercadas de certo misticismo, Newton 
desenvolveu suas teses fundamentado em uma racionalidade divina, estabelecendo 
uma relação entre a sucessão de eventos sistemáticos da natureza, vista por ele como 
um plano divino, e as relações matemáticas. 
De fato, foi ele quem formulou uma explicação completa ao movimento e à 
forma como as forças atuam, concluindo o trabalho iniciado por Galileu Galilei. As leis 
da Inércia, das Forças e da Ação e Reação formam os princípios básicos para a 
explicação do movimento e da mecânica natural que incidem sobre os corpos. Entre as 
várias publicações de seus trabalhos: destacam-se: Princípios matemáticos da Filosofia 
Natural (1687) e Óptica (1704.), que compõem o corpo principal das teses newtonianas. 
 
Principia 
Todavia, seu lugar na filosofia e na Revolução Científica está por propor uma 
teoria metodológica que serviu de fundamento para o pensamento e as atividades 
científicas que se seguiram após seu tempo. No Livro III de Principia, Newton compõe o 
seu paradigma metodológico de pesquisa. Partindo da compreensão de que os 
pressupostos de uma metodologia tem seu fundamento nas questões metafísicas, 
Newton propõe a sua 1ª Regra para a investigação (APUD IN REALE; ANTISERI, 2004, p. 
236): Não devemos admitir mais causas para as coisas naturais do que aquelas que são 
dadas tanto verdadeiras como suficientes para explicar suas aparências. 
Isso significa dizer que, na investigação científica, em seu primeiro momento, as 
hipóteses não fornecem senão complicações para as observações dos fenômenos. A 
simplicidade da natureza é o movimento para a sua compreensão ontológica e, por 
isso, tal simplicidade se estende a fundamentação do método que se utiliza para 
compreendê-la. Entender como é, significa primeiro entender o que é: a natureza é 
simples. Da primeira regra entrelaça-se a 2ª Regra de caráter ontológico formulada por 
Newton (IBDEM): Por isso, tanto quanto possível, aos mesmos efeitos devemos atribuir as 
mesmas causas. 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 10 - O PROGRAMA DE PESQUISA NEWTONIANO 
Porfírio Amarilla Filho 
 
40 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
Se por um lado a natureza é simples; por outro, a sua simplicidade leva à sua 
uniformidade. Por isso, não se deve estender efeitos de uma mesma natureza a causas 
diferentes. A luz, por exemplo, comporta-se com o mesmo princípio de uniformidade 
seja na Terra, seja em outro planeta. 
Disso resulta a 3ª Regra (IBDEM): 
As qualidades dos corpos que não admitem aumento nem diminuição de grau, 
e que se descobrem pertencerem a todos os corpos no interior do âmbito dos 
nossos experimentos, devem ser consideradas qualidades universais de todos 
os corpos. 
E a 4ª regra a ser observada no método newtoniano: 
 
Na filosofia experimental, as proposições inferidas por indução geral dos 
fenômenos devem ser consideradas como estritamente verdadeiras ou como 
muito próximas da verdade, apesar de hipóteses contrárias que possam ser 
imaginadas, até quando se verifiquem outros fenômenos, pelos quais se 
tornem mais exatas ou então sejam submetidas a exceções. 
 
Assim, o método de investigação, defendido por Newton, caracteriza-se pelas 
seguintes etapas: observação, experimentação e generalização. Em que a observação e 
hipótese estão intimamente relacionadas, pois a primeira consiste o fenômenoem si, a 
segunda por sua vez, embora não seja levada em conta como conhecimento específico 
nem deva ser usada perdulariamente, a hipótese orienta a seleção dos fatos 
organizando-os e dando-lhes, de certo modo, uma proposta antecipada, uma previsão, 
do que pode ocorrer de fato. 
Ao conter e descartar a hipótese como um conhecimento de fato, Newton visa 
ao controle da investigação em termos mais rigorosos, pois a experimentação realizada 
nessas condições permite a simplificação dos fenômenos, assim como a repetição 
desses experimentos até, se possível, a uniformidade. Por isso, a indução viria a ser, a 
seu ver, o melhor meio para estabelecer os princípios de compreensão dos fenômenos. 
A generalização, por sua vez, reside em transformar as relações constantes e 
necessárias entre os fenômenos em leis gerais. Desse modo, ao se generalizar os 
fenômenos a partir de experiências criam-se duas perspectivas de generalização: a 
empírica e a teórica, sendo que a primeira deriva de casos particulares, por exemplo, a 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 10 - O PROGRAMA DE PESQUISA NEWTONIANO 
Porfírio Amarilla Filho 
 
41 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
lei da queda de corpos; e a segunda que reúne diversos casos particulares, como por 
exemplo: a lei da gravitação universal, que reúne os princípios das três leis mencionadas 
anteriormente, relembrando: da Inércia, das Forças e da Ação e Reação. 
O método newtoniano ofereceu uma imagem de um fenômeno qualquer 
estruturada em termos de "determinismo causal", em que cada fenômeno, deste que se 
conhecessem as condições iniciais desse fenômeno, poderia ser previsível e passível de 
conhecimento à medida que se tivesse o ambiente e o instrumental adequado para 
realizar as experiências exigidas. 
 
BUSCANDO CONHECIMENTO 
 
A nova ciência 
Tal paradigma da física newtoniana encerra o desejo emergente, ao longo dos 
séculos XVI e XVII, de se produzir uma nova ciência, porém, não encerra a criação de 
novos conceitos, teorias e métodos. Ao contrário, a Revolução Científica implicou, como 
se viu, em perceber que a nova ciência fora a ciência da medida, ou seja, as relações e a 
mensurabilidade dos fenômenos foram expressas na linguagem dos números e 
promovidas pelos instrumentos científicos. Interrogou-se a natureza por meio de 
experiências e validou-se o conhecimento por meio de demonstrações empíricas. A 
razão, antes dádiva divina, agora surgia com a capacidade de excluir as hipóteses sem 
fundamentos, de iluminar a si mesmo e o mundo. 
Por isso, falar em Revolução Científica para a Filosofia é buscar em um período 
da história da humanidade a percepção de que mesmo a transformação ou 
consolidação do saber requer um longo percurso de maturação e de aprofundamento. 
 
 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 11 - O Racionalismo 
Porfírio Amarilla Filho 
 
42 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
CONHECENDO A PROPOSTA DA UNIDADE 
 
Objetivos: Esta unidade procurará trazer ao estudante de filosofia um panorama geral 
sobre o racionalismo na filosofia moderna, sob o aspecto das características que se 
formam em torno dessa corrente filosófica, como conhecimento humano, proposições, 
métodos e influências recebidas de outros momentos da história do pensamento 
humano. 
 
ESTUDANDO E REFLETINDO 
 
O Racionalismo 
Reconhecido como um período do avanço da ciência, das tecnologias, da 
cultura e da política, a Idade Moderna está marcada pelo conceito de revolução e de 
modernidade, isto é, do novo, do agora mesmo. Segundo Marcondes, a modernidade 
toma forma exatamente por romper com 
a tradição, pois está associada à 
mudança, à renovação e ao progresso 
(2008, p. 141). 
Como vimos na unidade anterior, 
embora as transformações tenham sido 
graduais ou progressivas, é possível datar 
fatores que foram incisivos às 
transformações ocorridas nesse período histórico. Assim, as grandes navegações, a 
descoberta do novo mundo; as novas teorias científicas de Nicolau Copérnico, Kepler e 
Galileu revolucionaram a concepção do mundo e do universo. Do mesmo modo, a 
reforma de Lutero mudou o modo como o cristão percebia o papel da Igreja Católica, 
assim como a decadência do feudalismo com o surgimento do capitalismo abalaram a 
antiga ordem social e econômica. 
O Racionalismo caracterizou-
se, principalmente, por 
fundamentar seus argumentos 
na capacidade da razão em 
conhecer as coisas no mundo 
real. 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 11 - O Racionalismo 
Porfírio Amarilla Filho 
 
43 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
A efervescência da atmosfera intelectual do Renascimento trouxe uma 
avalanche de reformas e revoluções no modo de pensar da Europa. Tudo é sacudido 
ou destruído. 
Abaladas as estruturas culturais, políticas e sociais, a filosofia não poderia ficar 
de fora dos tremores que permearam outras instâncias do pensamento humano. Na 
filosofia, por um lado, uma vertente foi aberta pelos avanços da ciência na filosofia 
empirista de Francis Bacon; por outro, outra vertente se abriu com a filosofia de 
Descartes, o racionalismo. 
Nessa concepção, a experiência sensível não basta para fornecer todos os 
conhecimentos. Na tradição filosófica essa questão entre razão e sentidos retoma os 
tempos antigos, desde a filosofia pressocrática, com Heráclito e Parmênides, passando, 
posteriormente, por Platão e Aristóteles. Desde aqueles tempos, houve um debate para 
fundamentar as fontes do conhecimento, na modernidade, porém, essa discussão se 
torna mais evidente entre os filósofos. Descartes, Espinosa, Leibniz e Kant são 
considerados filósofos do racionalismo, cada um a seu modo, e Hobbes, Locke e Hume, 
do empirismo. 
Entre os racionalistas há necessidade de ressaltar que Kant também adotou 
para a sua doutrina filosófica o termo Racionalismo, embora, em seu racionalismo, ele 
tenha operado a junção das duas fontes de conhecimento, o seu racionalismo se 
direcionou para as indagações críticas da razão, em que procurou investigar o papel, a 
função, o significado e o limite do pensamento da razão humana à construção 
conhecimento (ABBAGNANO, 2007, p. 967). 
Todavia, o racionalismo, como forma de pensamento filosófico, recebeu seu 
significado como corrente e expressão filosófica em Hegel, que o demarcou, como 
corrente, a um período entre Descartes a Espinoza e Leibniz e, como significado, 
chamou-o como a “metafísica do intelecto”. 
 O primeiro movimento da filosofia racionalista é a recusa de outra autoridade 
para o conhecimento, senão a própria razão. Se antes, no período medieval, a razão era 
FILOSOFIA MODERNA 
UNIDADE 11 - O Racionalismo 
Porfírio Amarilla Filho 
 
44 
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE ARARAS “DR. EDMUNDO ULSON” – UNAR” 
 
iluminada a conhecer por uma vontade divina, ou seja, como um “dom” dado por Deus; 
no racionalismo é a razão que se movimenta sobre si mesma para o saber, estimulada 
pela própria liberdade de examinar as coisas. Assim, há um deslocamento do 
conhecimento fundamentado no teocentrismo medieval para o antropocentrismo 
moderno. 
O segundo movimento, que convém delinear na corrente racionalista, é a 
desconfiança dos sentidos humanos como fonte do saber. Esses são passíveis de erros, 
já que projetam apenas representações da realidade na mente. Tais projeções são, de 
fato, conhecimento quando construídas e constituídas pela própria razão do sujeito que 
as conhece. 
Dois elementos fundamentam esse aspecto racionalista: primeiro, a dúvida se 
instala como o primeiro ponto para a produção do conhecimento, assim como para 
afastar o dogmatismo que permeiam a razão humana; segundo, a realidade passa a ser 
interpretada pelo subjetivo (pela ideia que o sujeito faz) do sujeito que conhece. 
Por último, a necessidade da razão se fundamentar em um método na busca 
do saber como forma de orientá-la no seu percurso para o conhecimento. Por isso,

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