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2 EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincof, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Design Educacional Débora Leite, Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho, Diretoria de Permanência Leonardo Spaine, Head de Produção de Conteúdos Celso L. Filho, Gerência de Produção de Conteúdo Diogo R. Garcia, Gerência de Projetos Especiais Daniel F. Hey, Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo, Supervisão Operacional de Ensino Luiz Arthur Sanglard, Coordenador(a) de Conteúdo Coordenador, Projeto Gráico José Jhonny Coelho, Editoração Humberto Garcia da Silva, Designer Educacional Amanda Peçanha dos Santos, Revisão Textual Ariane Andrade Fabreti, Érica Fernanda Ortega, Ilustração Bruno Pardinho, Fotos Shutterstock. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; FAVATTO, Naline Cristina. Educação Física Inclusiva. Naline Cristina Favatto. Maringá - PR.:Unicesumar, 2018. Reimpresso em 2019. 166 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Deiciência. 2. Acessibilidade. 3. EaD. I. Título. ISBN: 978-85-459-1232-3 CDD - 22ª Ed. 796 Impresso por: CIP - NBR 12899 - AACR/2 NEAD Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 Jd. Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 Em um mundo global e dinâmico, nós trabalhamos com princípios éticos e proissionalismo, não somente para oferecer uma educação de qualidade, mas, acima de tudo, para gerar uma conversão integral das pessoas ao conhecimento. Baseamo- nos em 4 pilares: intelectual, proissional, emocional e espiritual. Iniciamos a Unicesumar em 1990, com dois cursos de graduação e 180 alunos. Hoje, temos mais de 100 mil estudantes espalhados em todo o Brasil: nos quatro campi presenciais (Maringá, Curitiba, Ponta Grossa e Londrina) e em mais de 300 polos EAD no país, com dezenas de cursos de graduação e pós-graduação. Produzimos e revisamos 500 livros e distribuímos mais de 500 mil exemplares por ano. Somos reconhecidos pelo MEC como uma instituição de excelência, com IGC 4 em 7 anos consecutivos. Estamos entre os 10 maiores grupos educacionais do Brasil. A rapidez do mundo moderno exige dos educadores soluções inteligentes para as necessidades de todos. Para continuar relevante, a instituição de educação precisa ter pelo menos três virtudes: inovação, coragem e compromisso com a qualidade. Por isso, desenvolvemos, para os cursos de Engenharia, metodologias ativas, as quais visam reunir o melhor do ensino presencial e a distância. Tudo isso para honrarmos a nossa missão que é promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando proissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária. Vamos juntos! Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar boas-vindas Prezado(a) Acadêmico(a), bem-vindo(a) à Comunidade do Conhecimento. Essa é a característica principal pela qual a Unicesumar tem sido conhecida pelos nossos alunos, professores e pela nossa sociedade. Porém, é importante destacar aqui que não estamos falando mais daquele conhecimento estático, repetitivo, local e elitizado, mas de um conhecimento dinâmico, renovável em minutos, atemporal, global, democratizado, transformado pelas tecnologias digitais e virtuais. De fato, as tecnologias de informação e comunicação têm nos aproximado cada vez mais de pessoas, lugares, informações, da educação por meio da conectividade via internet, do acesso wireless em diferentes lugares e da mobilidade dos celulares. As redes sociais, os sites, blogs e os tablets aceleraram a informação e a produção do conhecimento, que não reconhece mais fuso horário e atravessa oceanos em segundos. A apropriação dessa nova forma de conhecer transformou-se hoje em um dos principais fatores de agregação de valor, de superação das desigualdades, propagação de trabalho qualiicado e de bem-estar. Logo, como agente social, convido você a saber cada vez mais, a conhecer, entender, selecionar e usar a tecnologia que temos e que está disponível. Da mesma forma que a imprensa de Gutenberg modiicou toda uma cultura e forma de conhecer, as tecnologias atuais e suas novas ferramentas, equipamentos e aplicações estão mudando a nossa cultura e transformando a todos nós. Então, priorizar o conhecimento hoje, por meio da Educação a Distância (EAD), signiica possibilitar o contato com ambientes cativantes, ricos em informações e interatividade. É um processo desaiador, que ao mesmo tempo abrirá as portas para melhores oportunidades. Como já disse Sócrates, “a vida sem desaios não vale a pena ser vivida”. É isso que a EAD da Unicesumar se propõe a fazer. Willian V. K. de Matos Silva Pró-Reitor da Unicesumar EaD Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou proissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportunidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desaios que surgem no mundo contemporâneo. O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”. Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, contribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competências e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessários para a sua formação pessoal e proissional. Portanto, nossa distância nesse processo de crescimento e construção do conhecimento deve ser apenas geográica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o Studeo, que é o seu Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além disso, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendizagem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica. boas-vindas Janes Fidélis Tomelin Diretoria Executiva de Ensino Kátia Solange Coelho Diretoria Operacional de Ensino apresentação do material EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA Naline Cristina Favatto Caro(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) aos estudos sobre a Educação Física Inclusiva! Este material é fruto de relexões e pesquisas acerca da inclusão, organizado de modo especial para você, a im de contribuir para que as aulas de educação física escolar possam avançar cada vez mais no que diz respeito à inserção do aluno com deiciência! De maneira especial, gostaria de agradecer à APAE da cidade de Santa Fé e ao Colégio Estadual Marechal Arthur da Costa e Silva pela oportunidade de poder- mos realizar diversas atividades inclusivas no campo da educação física, seja na rede regular de ensino ou em Instituições Especializadas. A disponibilidade das instituiçõesem conceder seu espaço para a aplicação e registro destas atividades será de grande relevância para o trabalho com a disciplina de Educação Física Inclusiva. Desta forma, venho em nome de toda a equipe, bem como da coorde- nação do curso de Educação Física, estender os agradecimentos a estas instituições referenciadas. Estejam certos que nosso objetivo caminha para que a construção de novos conhecimentos e trabalho com habilidades levando em consideração a realidade desaiadora pela qual se deparam alunos e corpo docente que são pri- mados a todo momento. Neste livro, apresento-lhes propostas de atuação e intervenção por meio das quais você poderá construir um planejamento para as aulas de educação física a partir da compreensão da deiciência visual, intelectual e motora e suas diversas formas de adaptação. O intuito é levá-lo(a) a um estudo sistematizado acerca do universo da Educação Física Inclusiva para que você possa pensar nas ações coti- dianas, resultantes dos desaios escolares encontrados, a im de auxiliá-los na busca por alternativas reais de uma atuação que permita desenvolver as potencialidades e autonomia dos alunos com deiciência. Na Unidade I propõe-se a discutir as questões históricas e segregacionistas que envolveram a pessoa com deiciência, assim como a evolução do conceito da pessoa com deiciência ao longo da história. Além disso, apresentarei apontamentos históricos relacionados às Políticas Públicas para a Educação Especial e Inclusiva. Na Unidade II, trabalharemos o conceito de acessibilidade na educação básica e realizaremos um amplo e interessante estudo sobre as principais deiciências que ocasionam danos intelectuais, motores, auditivos e visuais. Por meio da Unidade III, iremos reletir de maneira especíica sobre a inclusão de alunos com deiciência nas aulas de educação física, as características da educação física adaptada, assim como apresentarei diversas possibilidades de aplicação pedagógica para alunos com deiciência motora leve, moderada e severa. Na Unidade IV, trataremos essas mesmas adaptações e aplicações pedagógicas para alunos com deiciência intelectual leve, moderada e severa, assim como para a deiciência visual. E por im, na Unidade V, com o tema Jogos Paralímpicos, passamos a discutir a origem dos jogos, seu estímulo e aplicação no contexto escolar, com enfoque central nas características das diversas modalidades esportivas adaptadas que compõem atu- almente os Jogos Paralímpicos. Espero que este material colabore na sua formação, e que você avance cada vez mais nas suas relexões e ações proissionais acerca desta temática. Lembre-se, caro(a) aluno(a), que o material apresentado não esgota todas as possibilidades de pensar e reletir sobre a Educação Física Inclusiva, mas propiciará momentos importantes para a compreensão sobre o assunto. Bons estudos! INTRODUÇÃO O lá, aluno(a), seja bem-vindo(a) à disciplina de Educação Fí- sica Inclusiva! Iniciaremos nossos estudos com o intuito de compreender uma série de elementos que proporcionem um entendimento sobre a deiciência. Para tanto, trabalharemos a deiciência ao longo da história, o conceito de pessoa com deiciência na atualidade e as Políticas para a Educação Especial e Educação Inclusi- va no Brasil. Dessa forma, gostaria de questioná-lo: quando falamos em pessoas com deiciência, o que vem em sua mente? As discussões acerca desta temática serão constituídas por três tópicos. Revisitar alguns fatos importantes e marcantes sobre a pessoa com deiciência nos possibilita compreender como essa relação se estabelece e entender os traços de luta e preconceito que ainda observamos forte- mente em nossa sociedade. Historicamente, a luta em defesa dessa classe é uma constante e se fez primordial para a inserção de Políticas que aten- dessem às suas necessidades, tanto no âmbito social quanto educacional. Esta unidade torna-se relevante devido a necessidade de se conhecer de elementos importantes que estruturaram o que hoje observamos nas es- colas de todo o país: a inclusão de alunos com deiciência, assim como a existência de escolas especiais para o atendimento desses alunos. Os assuntos abordados nesta unidade permitirão uma aproximação e compreensão dos principais aspectos históricos acerca dessa temática, assim como as conquistas da pessoa/aluno com deiciência no âmbito educacional e social, a im de que você futuro proissional da Educação Física, se familiarize com a prática pedagógica especializada e inclusiva. Tenham todos uma boa leitura! EDUCAÇÃO FÍSICA 15 Provavelmente você já deve ter lido ou ouvido falar algo sobre a diiculdade e o preconceito com o qual as pessoas com determinadas deiciências eram tra- tadas na Antiguidade. E isso é verdade! Para traçar um panorama claro sobre a deiciên- cia ao longo da história, farei uso dos estudiosos da área da Educação Especial Kirk e Gallagher (1987), Mendes (1995) e Sassaki (1997). Esses autores iden- tiicam por meio de suas pesquisas quatro fases no desenvolvimento do atendimento à pessoa com dei- ciência por meio de uma perspectiva histórica. Den- tro desse contexto, na primeira fase, datada na Idade Média, muitas pessoas acreditavam que o fato de nascer uma criança com deiciência na família esta- va ligado ao pecado, isto é, que os pais dessa criança teriam cometido algo muito grave que desagradava a Deus, e, como forma de pagar por seus pecados, uma criança com deiciência nascia nessa família. Adams, Bell e Griin (2007) destacam que a dei- ciência era vista como atuação de maus espíritos e do demônio, sob o comando das bruxas, e também resultado da ira celeste e castigo de Deus. Observa-se, nesse momento, que essa criança era entendida como castigo, não somente aos olhos da família, mas de toda a sociedade. Essa concep- ção de deiciência fazia com que as famílias escon- dessem da sociedade essas crianças, pois ao serem expostas mostravam-se também os pecados que estavam associados a elas. Outro exemplo claro de negligência pode ser evidenciado na Grécia, por volta de 480 a.C., em que as crianças ao nascerem eram examinadas e, quando apresentavam alguma deiciência, eram atiradas de um cume de 2400m de altitude por não estarem dentro do padrão físico adequado (SULLIVAN, 2001). O relato de Platão evidenciado nos estudos de Silva (1987) retrata a realidade da época: E no que concerne aos que receberam corpo mal organizado, deixa-os morrer [...]. Quanto às crianças doentes e as que sofreram qualquer deformidade, serão levadas, como convém, a paradeiro desconhecido e secreto (PLATÃO apud SILVA, 1987, p. 124). O desprezo para com a criança que apresentava de- iciência também pode ser observado no discurso de Sêneca (4 a.C.- 65 d.C, p. 46): Não se sente ira contra um membro gangre- nado que se manda amputar; não o cortamos por ressentimento, pois, trata-se de um rigor salutar. Matam-se cães quando estão com raiva; exterminam-se touros bravios; cortam-se as ca- beças das ovelhas enfermas para que as demais não sejam contaminadas; matamos os fetos e os recém-nascidos monstruosos; se nascerem de- feituosos e monstruosos afogamo-los; não de- vido ao ódio, mas à razão, para distinguirmos as coisas inúteis das saudáveis. Assustador não é mesmo? O termo monstro e/ou monstruosidade utilizado para denominar a pessoa com deiciência durante quase toda primeira fase nos mostra como eles foram tratados nesse período e nos faz reletir os motivos pelos quais o preconcei- to instaurado nas diversas sociedades ainda se faz tão presente em nosso meio. A segunda fase dessa análise histórica caracteri- za-se pela institucionalização de pessoas com deici- ências. Inicialmente na Alemanha nos séculos XVIII se expandiu para o Brasil e permaneceu até meados do século XIX. Nesse momento, a deiciência pas- sa a ser institucionalizada, onde essas pessoas eram segregadase protegidas em instituições residenciais. Zavareze (2009) relata que essas instituições eram consideradas como “depósitos” de pessoas que apre- sentam deiciências. 16 EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA Dentro dessa temática, entre os séculos XVII, XVIII e XIX outra questão relevante sobre a pessoa com deiciência se deu por meio de suas apresen- tações em circos e em praças públicas. Você pode perceber que essa realidade não esteve tão distante de nós. Quem já foi ao circo e assistiu a apresentação de anões, pessoas com gigantismo ou alguma carac- terística tida como “diferente” para a sociedade? A imagem abaixo ilustra exatamente a realidade dos circos nesse período; nela, podemos identiicar pes- soas com nanismo, microcefalia, assim como pesso- as com outras características, como extremamente magras, mulheres com barba, entre outros. Perceba que o preconceito não estava somente ligado às pes- soas que apresentam deiciência, mas também na- quelas que fugiam do padrão de normalidade insti- tuído na época. Parece até que estamos falando dos dias atuais, não é mesmo? Nesse período, a exposição dessas pessoas ocorria em praças públicas, sendo motivo de estranheza e zombaria de toda a sociedade. Muitos pais vendiam seus ilhos para o circo, ou até mesmo os colocavam em exposição em praças pública, motivados pelo in- teresse inanceiro. Figura 1 - Equipe de ilmagem de “Freaks, de Tod Browning”, retratava o trabalho de diversas pessoas que apresentavam deiciências em circos Fonte: Tendimag (2014, on-line)1. Figura 2 - Myrtle se tornou famosa por ter quatro pernas e começou a se apresentar no circo aos treze anos de idade. Fonte: Wikipedia ([2018], on-line)2. Você já parou para pensar no sofrimento que as pessoas com deiciência passaram e ainda passam nos dias atuais? Qual o impacto disso nas relações humanas? REFLITA EDUCAÇÃO FÍSICA 17 A terceira fase é marcada, já no inal do século XIX e meados do século XX, pelo desenvolvimento de es- colas e turmas especiais em escolas públicas, visando a oferecer à pessoa com deiciência uma educação à parte. O “Instituto dos Meninos Cegos” foi fun- dado na cidade do Rio de Janeiro no inal de 1854, sendo a primeira escola especializada no Brasil para deicientes visuais. Atualmente, o “Instituto dos Me- ninos Cegos” é chamado de “Instituto Benjamin Constant Botelho de Magalhães”. Após esse período, diversas outras escolas especializadas para o aten- dimento de deicientes físicos, visuais e intelectuais foram criadas em todo Brasil. Na quarta fase, no inal do século XX, por volta da década de 70, observa-se um movimento de inte- gração social dos indivíduos que apresentavam de- iciência, cujo objetivo era inseri-los em ambientes escolares, o mais próximo possível, daqueles ofere- cidos às pessoas que não apresentavam deiciências. Zavareze (2009) menciona que, nesse período, o in- tuito passa a ser educar essas pessoas em sua capaci- dade máxima de aprendizagem. É importante desta- car que essa é a fase atual em que nos encontramos, observe como ainda se faz muito presente a luta pela valorização e inclusão de crianças e jovens com dei- ciência em nosso cotidiano. Essa distinção em fases é importante para que você possa compreender e contextualizar histori- camente a deiciência, diante disso, falaremos mais sobre a terceira e a quarta fase no tópico a seguir, no qual abordaremos com maior riqueza de detalhes o processo de estruturação das políticas educacionais voltadas à pessoa com deiciência. Figura 3 - Primeira escola especializada no Brasil para deicientes visuais Fonte: Wikipedia ([2018], on-line)3. Você sabia que na década de 50 e 60 ainda era possível observar pessoas com deiciência mantidas trancadas dentro de suas casas? Os pais mantinham essas crianças e adultos em segurança, em muitos casos, sendo bem tratados, contudo, faltava conhecimento e ins- trução adequada para atender efetivamente seus ilhos com deiciência. Fonte: a autora. SAIBA MAIS EDUCAÇÃO FÍSICA 19 Em 1933, o Decreto n. 5.884, sobre a educação em geral, estabeleceu o direito à educação especiali- zada, para crianças ou adolescentes que dela necessi- tavam por suas condições peculiares, ministrada nas seguintes escolas (SÃO PAULO, 1933): • Escolas para débeis físicos; • Escolas para débeis mentais; • Escolas de segregação para doentes contagiosos; • Colônias escolares; • Escolas para cegos; • Escolas para surdo-mudos; • Escolas ortofônicas; • Escolas de educação emendativa dos delin- quentes. Por meio desse decreto, podemos veriicar pon- tos importantes, tais como o atendimento dessas pessoas de maneira especializada, o que se desta- cou como um avanço, mas também a forma ina- dequada da época de se referir à pessoa com de- iciência, característica essa que estudaremos no tópico seguinte. Durante o século XX, a Educação Especial foi, aos poucos, se constituindo na Educação Brasileira. A Lei de Diretrizes e Bases da Edu- cação Nacional n. 4.024/61, art. 88, promulgada em 1961, destaca que “a educação de excepcio- nais, deve, no que fôr possível, enquadrar-se no sistema geral de educação, a im de integrá-los na comunidade” (BRASIL, 1961). Essa lei é com- preendida como um dos primeiros passos para o atendimento da pessoa com deiciência no Brasil de forma inclusiva. Dez anos depois, em 1971, a Lei Educacional n. 5.692/71, art. 9º, explana que: “[...] os alunos que apresentem deiciências físicas ou mentais, os que se encontrem em atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados deverão receber tratamento especial, de acordo com as normas ixadas pelos competentes Conselhos de Edu- cação.” (BRASIL, 1971). Nesse momento, observam-se algumas especii- cações das deiciências, assim como de crianças superdotadas, sobre a relevância de um atendi- mento especializado. Todavia, apesar do acesso ao ensino regular, não é organizado um atendimento especializado que considere as singularidades de aprendizagem de estudantes com superdotação (MEC/SEESP, 2007). Em 1973, foi criada pelo Ministério da Edu- cação o Centro Nacional de Educação Especial — CENESP, responsável pela gerência da educação especial no Brasil, que, sob o respaldo integra- cionista, produziu ações educacionais voltadas às pessoas com deiciência e superdotação, porém, ainda com características assistenciais e iniciati- vas isoladas do Estado (MEC/SEESP, 2007). Em 1978, foi publicada a Portaria Interministerial n. 186/78, cujo objetivo consistia na ampliação de oportunidades de atendimento especializado, de natureza médico-psicossocial e educacional para excepcionais, com o intuito de promover sua in- tegração social (BRASIL, 1978). De acordo com a referida portaria, o direcionamento de alunos para o atendimento especializado deveria ser fei- to por meio de um diagnóstico, compreendendo a avaliação das condições físicas, mentais, psicos- sociais e educacionais do excepcional (BRASIL, 1978). 20 EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA Oito anos depois, em 1986, a Portaria n. 69/86, publicada pelo CENESP, estabeleceu que a educa- ção especial deveria proporcionar o desenvolvi- mento pleno das potencialidades do educando com necessidades especiais, como fator de autorrealiza- ção, qualiicação para o trabalho e integração so- cial por meio de atendimento educacional espe- cializado. Esta consistia na utilização de métodos, técnicas, recursos e procedimentos didáticos de- senvolvidos por professores devidamente qualii- cados (BRASIL, 1986). Um marco importante para a Educação Inclu- siva e a Educação Especializada se deu por meio da Constituição Federal de 1988. Em seu art. 206, inciso I, estabelece a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” (BRASIL, 1988), como um dos princípios para o ensino, assim como o art. 208, inciso III, garante como dever do Estado o atendimentoeducacional especializado, preferencialmente, na rede regular de ensino. No- vamente observamos o amparo da Lei, a qual es- timula o atendimento desses alunos de maneira a incluí-los na rede regular de ensino, e não somente em escolas especializadas. Em meio às lutas pela garantia à educação, em 1990, a Unesco estabelece A Declaração Mundial de Educação para Todos. Essa declaração teve por obje- tivo garantir a Satisfação das Necessidades Básicas de Aprendizagem para todas as crianças, adolescentes e adultos. Os Art. 3 a 7 dessa Declaração contemplam: Universalizar o acesso à educação e promover a equidade; Concentrar a atenção na aprendizagem; Ampliar os meios e o raio de ação da educação básica; Propiciar um ambiente adequado à apren- dizagem; Fortalecer alianças (BRASIL, 1990). De maneira especíica para as pessoas com deiciên- cia, o art. 3 enfatiza que: [...] as necessidades básicas de aprendizagem das pessoas portadoras de deiciências reque- rem atenção especial. É preciso tomar medidas que garantam a igualdade de acesso à educação aos portadores de todo e qualquer tipo de dei- ciência, como parte integrante do sistema edu- cativo, pautado nos cuidados básicos e ativida- des de desenvolvimento infantil, direcionadas especialmente às crianças pobres, desassistidas e portadoras de deiciências (BRASIL, 1990). Outro momento histórico do processo de estrutu- ração de políticas educacionais especiais se deu por meio da Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, onde participaram 92 países e 25 organizações internacionais, ocorrida no ano de 1994 em Salamanca, na Espanha. Tal conferência i- cou Mundialmente conhecida como Declaração de Salamanca sobre Princípios, Políticas e Práticas na Área das Necessidades Educativas Especiais, a qual estabeleceu que todas as crianças e jovens com ne- cessidades educativas especiais deveriam ter acesso às escolas regulares e, além disso, enfatizou que as escolas deveriam se adequar por meio de uma pe- dagogia centrada na criança, capaz de ir ao encon- tro destas necessidades. A Declaração de Salamanca reconheceu a necessidade e a urgência de garantir a educação dessas crianças no quadro do sistema re- gular de educação (BRASIL, 1994). Pautada nessa relexão, a orientação inclusiva, por meio da inserção dessas crianças em escolas re- gulares, constitui-se em uma das ferramentas mais eiciente para combater as atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias, cons- EDUCAÇÃO FÍSICA 21 truindo uma sociedade inclusiva e atingindo a edu- cação para todos. Nesse contexto, cabe aos governos: Conceder a maior prioridade, através das me- didas de política e através das medidas orça- mentais, ao desenvolvimento dos respectivos sistemas educativos, de modo a que possam in- cluir todas as crianças, independentemente das diferenças ou diiculdades individuais. Adotar como matéria de lei ou como política o prin- cípio da educação inclusiva, admitindo todas as crianças nas escolas regulares, a não ser que haja razões que obriguem a proceder de outro modo. Desenvolver projetos demonstrativos e encorajar o intercâmbio com países que têm experiência de escolas inclusivas, estabelecer mecanismos de planeamento, supervisão e ava- liação educacional para crianças e adultos com necessidades educativas especiais, de modo descentralizado e participativo. Encorajar e facilitar a participação dos pais, comunidades e organizações de pessoas com deiciência no planejamento e na tomada de decisões sobre os serviços na área das necessidades educativas especiais. Investir um maior esforço na identii- cação e nas estratégias de intervenção precoce, assim como nos aspectos vocacionais da edu- cação inclusiva. Garantir que, no contexto de uma mudança sistémica, os programas de for- mação de professores, tanto a nível inicial como em serviço, incluam as respostas às necessida- des educativas especiais nas escolas inclusivas (BRASIL, p. 38, 1994). A Declaração de Salamanca é reconhecida, até os dias atuais, como uma das conferências mais impor- tantes realizadas em benefício da pessoa com dei- ciência no contexto educacional, incentivando não somente a inclusão, mas também o investimento dos países para a ampliação do acesso à educação inclu- siva. Pela primeira vez, também observamos a pre- ocupação em formar professores capacitados para o atendimento dessas crianças e adolescentes, fato que ainda não havia sido destacado como prioridade em nosso estudos. Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Edu- cação Nacional n. 9.394, vigente até os dias atuais, apresenta, no art. 59 que “os sistemas de ensino asse- gurarão aos educandos com deiciência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação”: I - currículos, métodos, técnicas, recursos edu- cativos e organização especíicos, para atender às suas necessidades; II - terminalidade especíi- ca para aqueles que não puderem atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamen- tal, em virtude de suas deiciências, e aceleração para concluir em menor tempo o programa escolar para os superdotados; III - professores com especialização adequada em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para a integração desses educandos nas classes comuns; IV - educação especial para o trabalho, visando a sua efetiva integração na vida em so- ciedade, inclusive condições adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos oiciais ains, bem como para aqueles que apresentam uma habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora; V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais suplementares disponíveis para o res- pectivo nível do ensino regular (BRASIL, 1996). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) conjectura, quando preciso, os serviços de aten- dimento especializado, na escola regular, para atender às necessidades da clientela de educação especial. Es- peciica, também, que o atendimento educacional desses alunos será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das suas con- dições especíicas, não for possível a sua integração 22 EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA em classes comuns dentro do ensino regular (BRASIL, 1996). Contudo, Souza e Prieto (2007) alegam que esse direito não vem sendo assegurado, pois, nos dias atu- ais, a presença de um professor auxiliar para o melhor acompanhamento dos alunos no ensino regular é ofer- tado apenas a uma parcela deles. motoras, mas o requisito para estar nessas escolas de maneira especíica se dá pela avaliação intelectual. Em 1999, o Decreto n. 3.298/99, que regulamen- ta a Lei n. 7.853/89, estabelece em seu art. 2o que: [...] cabe aos órgãos e às entidades do Poder Públi- co assegurar à pessoa portadora de deiciência o pleno exercício de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à educação, à saúde, ao trabalho, ao desporto, ao turismo, ao lazer, à previdência so- cial, à assistência social, ao transporte, à ediicação pública, à habitação, à cultura, ao amparo à infân- cia e à maternidade, e de outros que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem seu bem-es- tar pessoal, social e econômico. (BRASIL, 1999). Sendo assim, a educação especial passa a ser dei- nida como uma modalidade transversal a todos os níveis e modalidades de ensino, enfatizando a atu- ação complementar da educação especial ao ensino regular (BRASIL, 1999). Caro(a) aluno(a), é importante frisar que os êxi- tos conquistados no campo educacional para a pes- soa com deiciência ocorreram paulatinamente. Você se lembra,, no ínicio de nossa unidade, quando estas pessoas não tinham direito algum de frequentar uma escola? Pois bem, essa situação foi se modiicando durante todo o século XX. No inaldo século XX e início do século XXI, nota-se o aprimoramento de Leis que passaram a amparar não somente alunos no ensino regular, mas também alunos no ensino superior. Em 1996, o Ministério da Educação e Cul- tura — MEC —, organizou o primeiro documento — Aviso Curricular n. 277 — direcionado às pessoas com deiciência no Ensino Superior (BRASIL, 1996). Santos e Hostins (2015) relatam que este documento orientava os reitores de instituições superiores a se adequarem ao processo de acesso e inclusão de pes- soas com necessidades especiais, sobre os processos A LDB/1996 destaca o atendimento especiali- zado “quando preciso”. Entretanto, se o aluno já apresenta uma deiciência, presume-se que ele necessita desse atendimento! REFLITA A inclusão de alunos com deiciência irá ocorrer so- mente quando suas condições físicas e/ou intelectuais possibilitarem a sua integração. Um exemplo claro desse contexto são as APAES (Associação de Pais e Amigos de Excepcionais). Para o aluno ser matricula- do nessas escolas, é necessária a comprovação median- te uma avaliação diagnóstica que indique a deiciência e/ou comprometimento intelectual. Esse aluno poderá ou não ter outras complicações, sejam elas visuais ou EDUCAÇÃO FÍSICA 23 seletivos, bem como a oferta de materiais adaptados. O documento também enfatizava a necessidade de proissionais preparados, estruturas físicas adaptadas e lexibilidade pedagógica, garantindo, assim, o aces- so e a permanência desse aluno. Dessa maneira, essas instituições deveriam se organizar para a garantia da: [...] utilização de textos ampliados, lupas ou ou- tros recursos ópticos especiais para as pessoas com visão subnormal/reduzida; - utilização de recursos e equipamentos especíicos para cegos: provas orais e/ou em Braille, sorobã, máquina de datilograia comum ou Perkins/Braille, DOS VOX adaptado ao computador. - Colocação de intérprete no caso de Língua de Sinais no proces- so de avaliação dos candidatos surdos; - utilização de provas orais ou uso de computadores e outros equipamentos pelo portador de deiciência física com comprometimento dos membros superiores; - ampliação do tempo determinado para a execu- ção das provas de acordo com o grau de compro- metimento do candidato (BRASIL, 1996, p. 1). No entanto, apenas em 2002 as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educa- ção Básica, por meio da Resolução CNE/CP n. 1/2002, estabeleceram que as instituições de ensino superior deveriam prever, em sua organização curricular, a for- mação docente voltada para a atenção à diversidade e que contemplasse conhecimentos sobre as especiici- dades dos alunos com necessidades educacionais es- peciais. Nesse mesmo ano, a Portaria n. 2.678/02 do MEC aprovou diretrizes e normas para o uso, o ensino, a produção e a difusão do sistema Braille em todas as modalidades de ensino em território nacional. Dentro dessa temática, a preocupação com a in- clusão de alunos respeitando suas especiicidades se destaca também com a Lei n. 10.436/2002, que dis- põe sobre a inclusão da Libras como disciplina curri- cular dos cursos de formação de professores, visando o acesso à escola dos alunos surdos e a formação e certiicação de professores, instrutores e intérpretes de Libras. Houve, também, a implantação, no ano de 2005, dos Núcleos de Atividades de Altas Habilida- des/Superdotação – NAAH/S em todos os estados do país, de forma a garantir esse atendimento aos alunos da rede pública de ensino (MEC/SEESP, 2007). Essa constante evolução das políticas voltadas à pessoa com deiciência também ganha destaque, no ano de 2007, na Educação a Distância. Nesse ano foi criado o documento Referencial de Qualidade para o Ensino Superior a Distância (BRASIL, 2007), no qual prevê a inclusão no ensino superior de alu- nos com deiciência. Sobre essa perspectiva, as insti- tuições de ensino superior devem: Dispor de esquemas alternativos para atendi- mento de estudantes com deiciência; Para a instalação de polos, dois outros requisitos ne- cessitam ser atendidos. O primeiro diz respeito às condições de acessibilidade e utilização dos equipamentos por pessoas com deiciências, ou seja, deve-se atentar para um projeto arquitetô- nico e pedagógico que “garanta acesso, ingresso e permanência dessas pessoas”, acompanhadas de ajudantes ou animais que eventualmente lhe servem de apoio, em todos os ambientes de uso coletivo (BRASIL, 2007, p. 15-16). Observe o quanto evoluímos até aqui em relação aos direitos de acesso e permanência, tanto na educação básica, quanto no ensino superior de alunos com de- iciência! Contudo, será que realmente todas essas escolas e instituições apresentam esse suporte para auxiliá-los em seu processo de formação? E esses professores, realmente estão capacitados para deter- minado ofício? Esses são questionamentos diários que você, como futuro professor, poderá observar ao seu redor, na escola onde seu ilho estuda e/ou 24 EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA nas instituições que conhece! Veja que ainda esta- mos falando de políticas criadas no ano de 2007, e agora, será que muita coisa mudou? É o que vamos continuar discutindo ao indar essa unidade. O documento da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva na Educação Inclusiva , do ano de 2008, enfatiza que a educação deve se iniciar na infância, tendo como objetivo desenvolver as ba- ses necessárias para a construção do conhecimento e desenvolvimento global do aluno. Nessa perspectiva, deve-se priorizar o lúdico, o acesso às formas dife- renciadas de comunicação, a variedade de estímulos nos aspectos físicos, cognitivos, emocionais, psico- motores e sociais e a convivência com as diferenças que favorecem as relações interpessoais, o respeito e a valorização da criança (BRASIL, 2008). Perceba que, a educação inclusiva e especial foi ganhando força e suas leis passaram a apresentar maiores espe- ciicações quanto ao acesso, permanência, recursos necessários, necessidades especíicas para determi- nadas deiciências, adequação dos espaços físicos, trato pedagógico, entre outras questões. Entre os anos de 2009 e 2010, veriicou-se a cria- ção de salas de recursos multifuncionais. Essas salas apresentam características diferenciadas das demais salas do ensino regular, sendo uma grande ferra- menta de ensino para alunos incluídos: [...] o Programa disponibiliza às escolas pú- blicas de ensino regular, conjunto de equipa- mentos de informática, mobiliários, materiais pedagógicos e de acessibilidade para a organi- zação do espaço de atendimento educacional especializado. Cabe ao sistema de ensino, a se- guinte contrapartida: disponibilização de espa- ço físico para implantação dos equipamentos, mobiliários e materiais didáticos e pedagógicos de acessibilidade, bem como, do professor para atuar no AEE (MEC, 2010). As salas de recursos multifuncionais são separa- das de acordo com a deiciência que o aluno apre- senta ou superdotação. Os Estados se organizam e nomeiam essas salas na educação básica de formas diferenciadas, nesse sentido, segue abaixo a organi- zação das salas de atendimento educacional especia- lizado do Estado do Paraná: • Sala de Recursos Multifuncional Tipo I, atendi- mento educacional especializado, de natureza pedagógica que complementa a escolarização de alunos que apresentam deiciência Intelec- tual, deiciência física neuromotora, transtor- nos globais do desenvolvimento e transtornos funcionais especíicos, matriculados na Rede Pública de Ensino (PARANÁ, 2011). • Sala de Recursos Multifuncionais Tipo II e/ou o Centro de Atendimento Educacional Especiali- zado na Área da Deiciência Visual – CAEDV destinado para alunos cegos, de baixa visão ou outros acometimentos visuais (ambliopia fun- cional, distúrbios de alta refração e doenças pro- gressivas), que funcionam em estabelecimentos do ensino regularda Educação Básica, das re- des: estadual, municipal e particular de ensino, em contra turno escolar, não sendo substitutivo às classes comuns (PARANÁ, 2010). • O atendimento Educacional Especializado para alunos surdos apresentam três momen- tos: atendimento Educacional Especializado em Libras, atendimento Educacional Es- pecializado para o ensino da Libras e aten- dimento Educacional Especializado para o ensino da Língua Portuguesa. Além disso, o aluno conta com um professor intérprete em suas aulas, além do professor da turma (NO- GUEIRA; CARNEIRO; SOARES, 2018). • O atendimento para alunos com Altas Habilida- des/Superdotação é um espaço organizado com materiais didático-pedagógicos, equipamentos e proissionais especializados onde é ofertado o EDUCAÇÃO FÍSICA 25 atendimento educacional especializado que visa atender às necessidades educacionais dos alu- nos superdotados na Rede Pública de Ensino. • Serviço de Atendimento à Rede de Escolari- zação Hospitalar (Sareh): oferece atendimen- to educacional aos alunos que estão impos- sibilitados de frequentar a escola devido à internação hospitalar ou tratamento de saúde domiciliar. O objetivo é que os alunos pos- sam continuar o processo de escolarização e voltem ao ambiente escolar sem perdas de conteúdo das disciplinas. Dentre essas especiicações, é importante que você entenda algumas questões: • O aluno com deiciência que se encontra in- cluído no ensino regular em classes comuns sempre que preciso, deverá ter uma professo- ra auxiliar ao seu lado durante todo o ano le- tivo, visto que esse aluno necessitará de maior atenção durante seu processo formativo. • O aluno com deiciência que se encontra in- cluído no ensino regular tem direito ao aten- dimento educacional especializado em salas de recursos multifuncionais. No entanto, quando a deiciência intelectual des- se aluno se caracterizar como moderada e severa, é possível que ele seja matriculado em Centros de Atendimento Educacional Especializado. Acredi- to que em sua cidade ou proximidades exista uma escola para o atendimento exclusivo de crianças e adolescentes com deiciência. Atualmente, podemos veriicar instituições especializadas públicas, priva- das, fundações, associações, instituições do terceiro setor. Dentro dessas escolas, podemos destacar: • APAEs: Associação de Pais e Amigos de Ex- cepcionais, destinada a alunos com deiciên- cia intelectual moderada e severa. • ANPR: Associação Norte Paranaense de Rea- bilitação, destinada a alunos com deiciência motora severa. (atuante no estado do Paraná) • Associação Brasileira de Autismo, AMA – Associação de Pais e Amigos do Autista, que estão presentes em diversas capitais, são escolas especiais para alunos que apre- sentam autismo. Você sabia que a Associação de Pais e Ami- gos dos Excepcionais (APAE) nasceu em 1954, no Rio de Janeiro? A APAE é uma or- ganização social cujo objetivo é promover a atenção integral à pessoa com deiciência intelectual e múltipla. A Rede APAE se desta- ca por seu pioneirismo e capilaridade. Atu- almente, existem 2.172 APAEs e entidades iliadas, coordenadas por 24 Federações Estaduais, abrangendo todos os estados brasileiros para atender cerca de 250.000 pessoas com deiciência intelectual e múl- tipla diariamente. Fonte: adaptado de APAE ([2018], on-line)4. SAIBA MAIS Dentre essas escolas, associações e institutos es- pecializados, é importante salientar que alunos cegos e surdos sem comprometimento intelectual poderão frequentá-las, no entanto, também deve- rão estar matriculados na rede regular de ensino. No decorrer deste material, trataremos com maior especiicidade os tipos de deiciência e suas prin- cipais características, para que você compreenda com mais clareza quem são esses alunos e suas re- ais necessidades frente ao ambiente escolar. EDUCAÇÃO FÍSICA 27 que poderiam resultar em diiculdades severas , que comprometiam a realização plena das tarefas ao lon- go de suas vidas (SILVA, 2006). Em relação a essa temática, farei uso da análi- se de Sassaki (2002) sobre nomenclaturas utilizadas ao referenciar as pessoas com deiciência. O autor destaca que, o termo “inválido” e/ou “incapacita- do”, pode ser encontrado em diversas Leis e Decre- tos nacionais e internacionais até os anos de 1960. Entre os anos de 1960 a 1980, o termo “defeituoso” foi difundido em diversos países. Uma característica deste período se dá pela nomenclatura do centro de reabilitação e integração AACD, que, ao ser fundada no inal da década de 50, recebeu o nome de “Asso- ciação de Assistência à Criança Defeituosa”, na qual se modiicou anos depois e passou a ser chamada de “Associação de Assistência à Criança Deiciente”, como é conhecida nos dias atuais. Nesse período, também se observou o termo “excepcional”, com o surgimento das primeiras unidades da APAE, “As- sociação de Pais e Amigos dos Excepcionais”. Vale destacar que esse termo ainda é utilizado em todo país pela existência dessas instituições. A partir do ano de 1981, a Organização das Nações Unidas passou a utilizar o termo “pessoa deiciente”. Momento em que, pela primeira vez, o substantivo “deiciente” passou a ser utilizado como adjetivo, sendo-lhe acrescentado o substan- tivo “pessoa”. Todavia, o termo “pessoa deiciente” foi contestado por líderes, alegando que ele aponta- va que a pessoa inteira é deiciente, o que, para eles, era inconcebível e o termo “pessoas portadoras de deiciência” começou a ser utilizado e perdurou até os anos de 1993. Sassaki (2002) retrata que o termo “portar uma deiciência” passou a ser um valor agregado à pes- soa. Nessa perspectiva, compreende-se a deiciência como um detalhe da pessoa. O termo foi adotado nas Constituições federal e estadual e em todas as leis e políticas pertinentes ao campo das deiciên- cias. Contudo, será que esse termo está correto? Al- guns críticos questionam o signiicado de portador, uma vez que pode-se portar e deixar de portar, por exemplo, um objeto, como uma caneta. Dando continuidade a essa relexão, o autor revela que termos como “pessoas com necessida- des especiais”, “crianças especiais”, “alunos espe- ciais”, “pacientes especiais” começaram a ser uti- lizados a partir de 1990 e são utilizados até hoje. Contudo, a literatura evidencia que o termo “pes- soas com deiciência” é o mais correto a ser utili- zado atualmente. Esse termo também destacou-se nos anos de 1990 e se difundiu com a Declaração de Salamanca, se manifestando até os dias atuais. Sendo assim, é de fundamental importância que você, futuro professor, aprenda e passe a utilizar esse termo “pessoa com deiciência” para nossos próximos estudos! 28 considerações inais N ossa primeira unidade foi um convite a uma viagem no tempo, que nos permitiu compreender a pessoa com deiciência ao longo da his- tória em diversos aspectos, como sua aceitação social, conceituação e o direito ao atendimento educacional de qualidade, tanto em institui- ções especializadas, quanto na rede regular de ensino. Vimos que a conquista do direito à educação de pessoas com deiciência foi um marco em nosso país, no qual pudemos estabelecer quatro fases na educação inclusiva brasileira: a rejeição, a segregação, o atendimento em escolas especia- lizadas e, por im, a inclusão em escolas regulares. A perspectiva de contar com professores especializados proporcionou a essas crianças e jovens a possibilidade de estimulação e inserção na sociedade como qualquer outra pessoa. Também pudemos aprender como o conceito da deiciência foi se modiicando, a im de referenciá-lo de maneira adequada, sem resquícios de preconceito ou inferiori- dade. Nesse momento, constatamos as diversas nomenclaturas pejorativas que foram utilizadas em determinados períodos e como, com o passar dos anos, esses termos se modiicaram até os dias atuais, ao referenciá-los apenas como “pessoa com deiciência”.Outro ponto crucial dessa unidade foi constatar o quão importante é estudar a história, visto que, por meio dela, pudemos notar o quanto e o porquê o pre- conceito para com as pessoas com deiciência está enraizado em nossa sociedade até os dias atuais. Fato esse que nos faz entender que o preconceito é passado de geração em geração sem ao menos nos dar conta, pois quem dita os padrões de “normalidade” de uma sociedade é a própria sociedade. Tendo essa compreensão, é possível que se tenha chegado ao inal desta uni- dade com o entendimento e a relexão sobre essas questões que farão parte de seu cotidiano escolar e que tenha assimilado que incluir também faz parte de seu trabalho como futuro professor! 29 atividades de estudo 1. Sabemos que a história da pessoa com deiciên- cia foi marcada por diversas manifestações de preconceito, segregação e desvalorização da igu- ra humana. Contudo, a partir século XX, podemos constatar as primeiras iniciativas para o desenvol- vimento de escolas e turmas especiais em escolas públicas. Sob esse prisma, avalie as airmativas abaixo, considerando as fases descritas por Kirk e Gallagher (1987); Mendes (1995) e Sassaki (1997): I - A primeira fase compreende o período em que as crianças frequentavam esco- las especializadas. II - A segunda fase compreende a institucio- nalização de pessoas com deiciências. III - A terceira fase compreende a criação de escolas e turmas especiais. IV - A quarta fase compreende o período de inclusão de alunos com deiciência em es- colas regulares. V - A terceira fase compreende o período em que pessoas com deiciências eram segrega- das e protegidas em instituições residenciais. É correto o que se airma em: a) I e II, apenas. b) II, III e IV, apenas. c) I, III e V, apenas. d) III e IV, apenas. e) II e III, apenas. 2. Por meio de nossos estudos, aprendemos que, por volta dos séculos XVII, XIII e XIX as pessoas com deiciência se apresentavam em circos e praças públicas. Essa relação se esta- belece até os dias atuais, pois observamos que as características do deiciente ainda chamam a atenção da sociedade. Sobre esse tocante, avalie as airmativas abaixo e assinale a alter- nativa correta: I - As pessoas com deiciência causavam es- tranheza perante a sociedade. II - Nesse período, muitos pais de crianças com deiciência vendiam seus ilhos para os circos. III - Nesse período, apenas as pessoas com de- iciência se apresentam em circos. IV - Muitos pais de crianças com deiciência colocavam seus ilhos em exposição em praças públicas, motivados pelo interesse inanceiro. É correto o que se airma em: a) I, e II, apenas. b) II, III e IV, apenas. c) III e IV, apenas. d) I, II e IV, apenas. e) II e III, apenas. 30 atividades de estudo 3. Ao longo da história, a forma de conceituar a pessoa com deiciência passou por diversas mudanças. Inicialmente, em nossas leituras, constatamos que eles eram chamados como “monstruosidade”; contudo, esses termos fo- ram se modiicando ao passar dos séculos com o objetivo de entendê-los como membros inte- grante de uma sociedade. Considerando essas conceituações, assinale a alternativa que cor- responde à forma mais adequada e atual de conceituá-los: a) Pessoa com necessidade especial. b) Portador de necessidade especial. c) Pessoa portadora de deiciência. d) Pessoa com deiciência. e) Criança especial. 4. De acordo com as Políticas Educacionais estuda- das nesta unidade, leia as airmativas abaixo e assinale (V) para Verdadeiro e (F) para Falso. I - O Centro Nacional de Educação Especial, responsável pela gerência da educação especial no Brasil, foi criado em 1973 pelo Ministério da Educação. II - A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n. 4.024/61, art. 88, promulga- da em 1961, previa o atendimento de qualidade para pessoas com deiciência e superdotados por professores espe- cializados. III - Desde de 1933, o Decreto n. 5.884 já pre- via a obrigatoriedade de professores es- pecializados para o atendimento da crian- ças e jovens com determinada deiciência. IV - As Diretrizes Curriculares Nacionais esta- beleceram, em 2002, que as instituições de ensino superior, em sua organização curricular, deveriam contemplar as espe- ciicidades dos alunos com necessidades educacionais especiais. V - A Lei Educacional n. 5.692/71, art. 9º, pre- via o atendimento de alunos que apresen- tavam deiciências físicas ou mentais, e o atendimento de crianças superdotadas. As airmações I, II, III, IV e V são, respectivamente: a) V; F; F; V; V. b) F; F; F; F; V. c) V; V; F; V; V. d) V; F; F; V; F. e) V; V; V; V; V. 5. A partir da década de 70, observou-se, no Bra- sil, a estruturação de fato de políticas voltadas às crianças e jovens com deiciência. Em meio a essa luta, destacou-se “A Declaração Mundial de Educação para Todos” e a “Declaração de Sala- manca”. Nessa perspectiva, disserte sobre a im- portância e os objetivos de ambas para as políti- cas de inclusão. 34 referências ADAMS, M.; BELL, L. A.; GRIFFIN, P. Teaching for diversity and social justice: A Sourcebook. New York: Routledge, 2007. BRASIL. Decreto n. 3.298, de 20 de dezembro de 1999. Regulamenta a Lei no 7.853, de 24 de outu- bro de 1989, dispõe sobre a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deiciência, consolida as normas de proteção, e dá outras pro- vidências. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/decreto/d3298.htm>. Acesso em: 17 maio 2018. ______. Lei n. 4.024, de 20 de dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/cci- vil_03/Leis/l4024.htm>. Acesso em: 17 maio 2018. educacional especializado em Sala de Recursos Mul- tifuncional Tipo I, na Educação Básica – área da de- iciência intelectual, deiciência física neuromotora, transtornos globais do desenvolvimento e transtor- nos funcionais especíicos. Curitiba: SEED, 2011. ______. Lei n. 5.692, de 11 de agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o ensino de 1° e 2º graus, e dá outras providências. 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INTRODUÇÃO C aro(a) aluno(a), nossa segunda unidade tem como objetivo discutir o conceito de acessibilidade de crianças e adolescen- tes com deiciência dentro das instituições de ensino públicas e privadas. No entanto, para compreender quais são essas adap- tações do ambiente, é primordial que você, futuro professor, tenha co- nhecimento das principais características que cada deiciência apresenta. Para tanto, essas questões serão analisadas no decorrer desta unidade, constituída de dois tópicos. Compreender a necessidade das instituições de ensino em se ade- quar nos diversos âmbitos físico, metodológico, atitudinal, pragmático e instrumental para promover a acessibilidade e inclusão de alunos com deiciência é fundamental para que a inclusão não esteja presente apenas nas Leis que regulamentam o acesso e a permanência na educação, mas que, de fato, esteja efetivada nas diversas instituições. O entendimento do professor acerca das adaptações necessárias beneiciará as instituições em relação à promoção e incentivo à inclusão, além de ser uma ferramenta para o planejamento escolar. Em complemento, essa unidade proporcionará a você uma impor- tante imersão sobre as principais síndromes e transtornos que ocasionam danos intelectuais, comportamentais e motores, assim como as deiciên- cias que apresentam apenas relação com a capacidade motora e visual, sem prejuízos ao intelecto. O entendimento das características das dei- ciências mais comuns é primordial para que a escola seja acessível e para que você, futuro professor, possa desenvolver suas aulas com segurança e qualidade, respeitando as potencialidades de cada aluno. Ao vislumbrar uma atuação no campo escolar, estas relexões, certamente, propiciarão o entendimento acerca da real acessibilidade da pessoa/aluno com deici- ência na escola e na Educação Física. Vamos aos estudos! EDUCAÇÃO FÍSICA 43 de um aluno deiciente visual. Da mesma forma que a acessibilidade metodológica e pedagógica de alu- nos com deiciência auditiva será diferente de alunos deicientes visuais. Perceba que não é tão simples as- sim e que apenas rampas e pisos táteis não são sui- cientes para tornar a escola, de fato, acessível. De maneira especíica, Dischinger e Machado (2006) apresentam dimensões que possibilitam a compreensão de acessibilidade. • Acessibilidade arquitetônica, sem barreiras am- bientais físicas em todos os recintos internos e externos da escola e nos transportes coletivos. • Acessibilidade comunicacional, sem barreiras na comunicação interpessoal (face-face, lín- gua de sinais, linguagem corporal, linguagem gestual etc.), na comunicação escrita...e na co- municação virtual (acessibilidade digital). • Acessibilidade metodológica, sem barreiras nos métodos e técnicas de estudo (adaptações curriculares, aulas baseadas nas inteligências múltiplas, uso de todos os estilos de aprendi- zagem, participação de todos, de cada aluno, novo conceito de avaliação de aprendizagem, novo conceito de educação, novo conceito de didática), de ação comunitária (metodologia social, cultural, artística etc. baseada em parti- cipação ativa) e de educação dos ilhos (novos métodos e técnicas nas relações familiares etc.). • Acessibilidade instrumental, sem barreiras nos instrumentos e utensílios de estudo (lá- pis, caneta, régua, teclado do computador, materiais pedagógicos), de atividade da vida diária, esporte e recreação (dispositivos que atendam às limitações sensoriais, físicas e mentais etc.). • Acessibilidade programática, sem barreiras invisíveis embutidas em políticas públicas, em regulamentos e normas de um modo geral. • Acessibilidade atitudinal, por meio de pro- gramas e práticas de sensibilização e de cons- cientização das pessoas em geral e da convi- vência na diversidade humanaresultando em quebra de preconceito, estigmas, estereótipos e discriminações (DISCHINGER; MACHA- DO, 2006, p. 105). Você sabia? Apenas: • 28% das escolas de nosso país apresen- tam dependências acessíveis aos alunos com deiciência; • 35% delas apresentam sanitários acessíveis; • 18% apresentam salas para atendimento especial. Fonte: adaptado de Censo Escolar/INEP (2016, on-line)1. SAIBA MAIS Dentro desse contexto, é importante nos conscien- tizarmos de que, as adaptações arquitetônicas que a escola deve apresentar são fundamentais, para que os alunos com deiciência possam se locomover e reali- zar suas ações cotidianas de maneira independente. O aluno com deiciência visual ou deiciência mo- tora precisará de adaptações iniciando pela calçada da escola, em todo o prédio escolar, salas de aula, bi- blioteca, refeitório, corredor, pátio, quadra esportiva, banheiro, parques, entre outros diversos espaços que compõem o ambiente escolar. A identiicação de bar- reiras como escadas inapropriadas, postes e cadeiras, em lugares indevidos, poderão atrapalhar a locomo- ção desses alunos de maneira independente. Sob essa perspectiva, as barreiras são compreendidas como qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de pessoas se comunica- rem ou terem acesso à informação (BRASIL, 2004). 44 EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA ACESSIBILIDADE E DEFICIÊNCIA MOTORA Alunos com deiciência motora precisam de adap- tações diversas, no entanto, as mais importantes são banheiros adaptados e rampas acessíveis em todos os ambientes de acesso da escola, assim como ônibus adaptado para seu transporte. É necessário adaptar as carteiras, para que a cadeira de roda dos alunos se encaixe nelas e, quando possível, adaptar pequenas órteses que possibilitem a escrita desses alunos. ACESSIBILIDADE E DEFICIÊNCIA VISUAL Alunos com deiciência visual precisam de adequa- ções físicas como a existência de piso tátil em toda a instituição de ensino. Figura 1 - Rampa acessível Figura 2 - Ônibus adaptado Figura 3 - Piso Tátil Além das barreiras físicas, podemos encontrar outras diiculdades no meio do caminho, como barreiras me- todológicas. Dessa forma, adaptações nos materiais como cadeira, carteira, lápis, computadores, ou seja, todo o material pedagógico utilizado pelos alunos. Por exemplo, o aluno com deiciência visual poderá fazer uso de uma máquina de escrever em braille que faci- litará seu processo de aprendizagem. Materiais online também deverão estar acessíveis a eles, por meio de programas especíicos e descrição de toda e qualquer imagem que o professor izer uso em suas aulas. Nesse sentido, o aprendizado do braile desde a infância e a utilização de recursos tecnológicos, como leitores de tela, são de fundamental importância para o processo de aprendizagem desses alunos. Além disso, o aluno deiciente visual ou de baixa visão deverá frequentar em contraturno a sala de apoio Multifuncional tipo II. (citada na Unidade anterior) EDUCAÇÃO FÍSICA 45 Alphabeto Braille A K U 1 B L V 2 C M W 3 D N X 4 E Q Y 5 F P Z 6 G Q . 7 H R ! 8 I S ? 9 J T , 0 Figura 4 - Alfabeto Braille O leitor de tela funciona por meio do sintetizador de voz, dispositivo que transforma em som os caracteres que chegam até ele encaminhado pelo leitor de tela. ACESSIBILIDADE E DEFICIÊNCIA AUDITIVA Os alunos com deiciência auditiva precisam, acima de tudo, de um professor intérprete, para que ele te- nha acesso a todo conteúdo falado, assim como ocor- re em algumas das aulas ao vivo do nosso curso. Nes- se sentido, o aprendizado de libras desde a infância e a utilização de recursos tecnológicos são importan- tes para o processo de aprendizagem e comunicação desses alunos. O aluno deiciente auditivo deverá fre- quentar em contraturno a sala de atendimento educa- cional especializado para surdos. Figura 5 - Leitor de Tela Fonte: AJIDEVI ([2018], on-line)2. Figura 6 - Máquina de Escrever Figura 7 - Língua de Sinais ACESSIBILIDADE E DEFICIÊNCIA INTE- LECTUAL Quando a deiciência envolver a diiculdade de apren- dizagem, as adaptações metodológicas deverão ser rea- lizadas rotineiramente, para assegurar, de fato, a acessi- bilidade à educação, de preferência, no ensino regular. O aluno com deiciência intelectual deverá frequentar em contraturno a sala de apoio Multifuncional tipo I. É garantido por lei que o aluno seja acompanhado por um professor auxiliar, sempre que necessário, contudo, essa não é a realidade de nosso país. 46 EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA É importante que você, futuro professor, compre- enda que pessoas com deiciência apresentam com- prometimento em determinado aspecto, mas tam- bém grande capacidade de ação e comunicação em outros. Por esse fato, é primordial deixar para trás alguns comportamentos que vitimizam ou inferiori- zam o aluno/pessoa. Evite usar palavras/frases como “coitado”, “ele não consegue”, “ele não entende”, as- sim como oriente os demais alunos sobre a melhor forma de se dirigir e comunicar-se com eles. Veja se queremos incluir nosso aluno dentro da escola, precisamos estimular o contato deles com os demais alunos, sem diferenciação, pois essa é a forma que o deiciente quer ser tratado na escola e na sociedade. Estimular a amizade e cooperação entre esses alunos fará com que, no futuro, sejam adultos conscientes, solícitos e que, acima de tudo, não sejam preconcei- tuosos. ACESSIBILIDADE E SUPERDOTAÇÃO Assim como na deiciência intelectual, o aluno com Superdotação deverá ser estimulado na educação re- gular fazendo uso de salas de recursos multifuncio- nais e outras metodologias que propiciem ao aluno o estímulo de sua aprendizagem. Esses alunos apre- sentam uma capacidade de retenção de conteúdo e informação maior quando comparado aos demais, por isso a importância de estimular continuamente essa habilidade nata. Todas essas adequações para a acessibilidade arquitetônica e metodológica são apenas algumas das diversas especiicações que as escolas públicas e privadas devem apresentar para o atendimento de qualidade. Além dessas barreiras arquitetôni- cas e metodológicas, também podemos destacar as barreiras atitudinais. Van Munster (2008) res- salta que essas barreiras se aproveitam da desin- formação e do desconhecimento e se fortalecem com o preconceito. Tais barreiras são projetadas a partir da sociedade em direção à pessoa com deiciência, ou partem da própria pessoa com de- iciência em relação a si mesma. Você se lembra da importância de deixá-los se sentirem parte in- tegrante da sala de aula? O autor especiica alguns comportamentos de barreiras atitudinais, como: ridicularizar ou zombar do desempenho do outro; sentir pena ou autopie- dade; não conceder uma chance; sentir receio de se aproximar; sentir vergonha de estar por perto; desistir antes de tentar; negar ou não aproveitar as oportunidades. Percebera que nossa função dentro da escola vai além de transmitir conhecimento? Pre- cisamos ensinar valores, e nada melhor que o exem- plo para inspirar os alunos! Atualmente, as escolas que você conhece são de fato acessíveis? Que tipo de barreiras você pode identiicar nelas? REFLITA EDUCAÇÃO FÍSICA 47 Quadro 1 - A forma de se dirigir e comunicar-se com pessoas com deiciência Tipo de deiciência Como se dirigir e comunicar-se com a pessoa com deiciência Deiciência auditiva • Não fale alto; • A gesticulação é importante ao se comunicar com o deiciente auditi- vo, mas não gesticule de maneira exagerada; • Procure comunicar-se sempre se posicionando de frente com o deiciente auditivo, mantendo contato visual. • Procure não mascar chiclete para não atrapalhar a interpretação do deiciente auditivo. Deiciência visual • Não fale alto; • Chame-o sempre pelo nome; • Evite as expressões“olha aqui”, “veja isso”; • Observe o nível de independência do aluno e sempre que necessário ofereça apoio. Deiciência intelectual • Não fale alto; • Chame-o sempre pelo nome; • Identiique o nível de deiciência para utilizar a melhor forma de comunicação; • Não se dirija de maneira infantilizada ou vitimizada. Deiciência motora • Observe o nível de independência do aluno e sempre que necessário ofereça apoio; • Utilize a mesma forma de comunicação com os demais alunos; • Não se dirija de maneira infantilizada ou vitimizada. Fonte: a autora. EDUCAÇÃO FÍSICA 49 DEFICIÊNCIA INTELECTUAL A deiciência intelectual é caracterizada pela Asso- ciação Americana de Deiciência Intelectual e De- senvolvimento (AAIDD) pela limitação signiica- tiva tanto no funcionamento intelectual quanto no comportamento adaptativo expresso em habilidades conceituais, sociais e práticas. A AAIDD conceitua a deiciência intelectual em um funcionamento in- telectual inferior à média Quociente de Inteligência (QI), que está associado as limitações em pelo menos duas áreas de habilidades, por exemplo: comunica- ção, autocuidado, vida no lar, adaptação social, saú- de e segurança, funções acadêmicas, lazer e trabalho. Por meio dessas investigações, podemos observar que as diiculdades em socializar-se, locomover-se e comunicar-se, diiculdades em realizar as ativida- des de vida diária de maneira independente, exercer uma proissão, entre outras questões, poderão estar presentes nas pessoas com deiciência intelectual. A deiciência intelectual apresenta-se em níveis, sendo eles: leve, moderado, severo e profundo. Ke e Liu (2015) descrevem quatro níveis de gravidade de acordo com a gravidade do atraso no funcio- namento intelectual, déicits na função adaptativa social e de QI. O QI é um indicador derivado de vá- rios testes que procuram medir habilidades gerais ou especíicas, como leitura, aritmética, vocabulá- rio, memória, conhecimentos gerais, visual, verbal, raciocínio abstrato etc. Leve: o desenvolvimento durante o início da vida é mais lento do que em crianças normais e os marcos de desenvolvimento estão atrasados. São capazes de se comunicar e aprender habilidades básicas. Sua capacidade de usar conceitos abstratos, analisar e sintetizar é prejudicada, mas podem adquirir habi- lidades de leitura e informática. Eles podem realizar trabalho doméstico, cuidar de si e fazer trabalho não qualiicado ou semiqualiicado. Eles geralmente re- querem algum apoio. QI entre 50 e 69 e são respon- sáveis por cerca de 80% de todos os casos. Moderado: sua capacidade de aprender e pensar lo- gicamente é prejudicada, mas são capazes de se co- municar e cuidar de si mesmos com algum apoio. Com supervisão, eles podem realizar trabalhos não qualiicados ou semiqualiicados. QI entre 35 e 49, representando cerca de 12% de todos os casos. Severo: seu desenvolvimento nos primeiros anos é distintamente atrasado. Apresentam diiculda- de em pronunciar palavras e têm um vocabulário muito limitado. Por meio de considerável prática e tempo, eles podem ganhar habilidades básicas de autoajuda, mas ainda precisam de apoio na es- cola, em casa e na comunidade. QI entre 20 e 34; deiciência mental grave responde por 3% a 4% de todos os casos. Profundo: esses indivíduos não podem cuidar de si mesmos e não têm linguagem. Sua capacidade de expressar emoções é limitada e pouco compre- endida (ADAMS; OLIVER, 2011). Convulsões, de- iciências físicas e expectativa de vida reduzida são comuns. QI inferior a 20; deiciência intelectual profunda responde por 1% a 2% de todos os casos. Para entender de forma mais clara como se dão as distinções em relação ao QI, Davis Wechsler (1997) estabeleceu uma classiicação: 50 EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA Quadro 2 - QI - Quociente de inteligência QI acima de 127: Superdotação. QI entre 121 - 127: Inteligência superior. QI entre 111 - 120: Inteligência acima da média. QI entre 91 - 110: Inteligência média. QI entre 81 - 90: Embotamento ligeiro. QI entre 66 - 80: Limítrofe. QI entre 51 - 65: Debilidade ligeira (realiza ativi- dades simples e repetitivas). QI entre 36 - 50: Debilidade moderada (realiza tarefas simples). QI entre 20 - 35: Debilidade severa (realiza tarefas simples, mas requer supervisão). QI abaixo de 20: Debilidade profunda (pouco desempenho nas tarefas). Fonte: classiicação do QI Davis Wechsler (1997). Contudo, é importante sabermos que o termo QI (quociente de inteligência) não é mais utilizado, substituído pelo termo “Avaliações das diferentes inteligências e habilidades”. Atualmente, se aplicam testes mais especíicos, levando-se em conta não apenas suas habilidades intelectuais, mas também o histórico de cada um, suas preferências, habilida- des, competências entre outras características (KE; LIU, 2015). De Acordo com a AAIDD e com Lu- ckasson (2002), a avaliação da deiciência intelec- tual deve considerar as seguintes dimensões: • Habilidades intelectuais: essa dimensão passa a não ser mais única na avaliação da deici- ência intelectual. E faz uso de diversos testes para sua análise. • Comportamento adaptativo: está relaciona- do aos aspectos acadêmicos, conceituais e de comunicação necessários para autonomia e competência social do sujeito. Limitações nessa área podem diicultar o convívio no dia a dia. • Participação, interações e papéis sociais: referem-se às interações sociais que o su- jeito estabelece, bem como sua participa- ção na sociedade. • Saúde: identiicação das síndromes e patolo- gias, assim como sua etiologia, a im de rece- ber o tratamento necessário. • Contexto: a dimensão está relacionada às condições em que o indivíduo vive, sua qua- lidade de vida e as relações estabelecidas com os ambientes dos quais ele participa. Sobre essa temática, diversas síndromes levam a prejuízos intelectuais; dentre tantas, abordaremos com maior especiicidade a síndrome de Down, a síndrome de Rett e a síndrome de West, por se tra- tarem das síndromes mais comuns identiicadas nas escolas de educação especial e na rede regu- lar de ensino. Além delas, também estudaremos a epilepsia, a microcefalia, a hidrocefalia, o autismo e a paralisia cerebral, deiciências nas quais vale destacar que o prejuízo intelectual pode ou não ocorrer. EDUCAÇÃO FÍSICA 51 SÍNDROME DE DOWN Dia Mundial da Síndrome de Down 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 As características físicas de pessoas com síndro- me de down são olhos puxados, marcas nas mãos e separação grande entre os dedos do pé. Além do atraso no desenvolvimento, outros problemas de saúde podem ocorrer na pessoa com síndrome de Down, como por exemplo: hipotonia (100%); problemas de audição (50 a 70%); problemas de visão (15 a 50%); cardiopatia congênita (40%); dis- túrbios da tireoide (15%); problemas neurológicos (5 a 10%); alterações na coluna cervical (1 a 10%); obesidade e envelhecimento precoce (COOLEY; GRAHAM, 1991). Etiologia Fatores pré-natais/congênitos: pesquisas relatam que a idade materna avançada é um dos fatores que acar- retam tal desordem genética. A síndrome de Down foi identiicada por John Langdon Down. O pesquisador foi o primeiro a descobrir as características genéticas geradoras da síndrome. Como relata Pueschel (1993), a sín- drome de Down é causada pela presença de três cromossomos 21 em todas ou na maior parte das células de um indivíduo. Isso ocorre na hora da concepção de uma criança. As pessoas com sín- drome de Down, ou trissomia do cromossomo 21, têm 47 cromossomos em suas células em vez de 46, como a maior parte da população. 52 EDUCAÇÃO FÍSICA INCLUSIVA AUTISMO mesmas, gritar, entre outros comportamentos repe- titivos ou agressivos, em que se faz necessária inter- venção imediata do professor. Contudo, também identiica-se o autismo chamado de Síndrome de Asperger,
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