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ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA
MÔNICA MACHADO GUIMARÃES DE MAGALHÃES
1ª Edição
Brasília/DF - 2018
Autores
Mônica Machado Guimarães de Magalhães
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumário
Organização do Livro Didático....................................................................................................................................... 4
Introdução ............................................................................................................................................................................. 6
Capítulo 1
A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA ..................................................................................... 9
Capítulo 2
ENSINA-SE GRAMÁTICA? ..........................................................................................................................................25
Capítulo 3
DESVIOS DA NORMA-PADRÃO: UM ERRO? ........................................................................................................37
Capítulo 4
O TEXTO E A TEXTUALIDADE .................................................................................................................................50
Capítulo 5
PRÁTICAS DE GRAMÁTICA TEXTUAL ....................................................................................................................76
Capítulo 6
O ENSINO DA LÍNGUA PORTUGUESA ...............................................................................................................104
Referências .....................................................................................................................................................................114
4
Organização do Livro Didático
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em capítulos, de forma didática, objetiva e 
coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para reflexão, entre outros 
recursos editoriais que visam tornar sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, 
fontes de consulta para aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização do Livro Didático.
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Cuidado
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
Importante
Indicado para ressaltar trechos importantes do texto.
Observe a Lei
Conjunto de normas que dispõem sobre determinada matéria, ou seja, ela é origem, 
a fonte primária sobre um determinado assunto.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa 
e reflita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As reflexões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
5
ORGANIzAÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Posicionamento do autor
Importante para diferenciar ideias e/ou conceitos, assim como ressaltar para o 
aluno noções que usualmente são objeto de dúvida ou entendimento equivocado.
6
Introdução
Nesta disciplina, você terá seis capítulos. 
No primeiro capítulo, você conhecerá um pouco sobre a origem e a evolução da Língua Portuguesa, 
desde o latim até a atualidade. Desse modo, identificará a origem da heterogeneidade de normas 
linguísticas no Brasil e reconhecerá a língua como força unificadora, com suas variações dialetais 
e de registro. A partir destas reflexões, perceberá a relação língua-cultura. 
No capítulo seguinte, discutirá o conceito de “Gramática” e os inúmeros sentidos em que o termo 
é usado na linguagem corrente. Poderá perceber que a gramática é o funcionamento da língua 
e relembrará os elementos necessários à efetivação da comunicação. Conhecerá também, no 
terceiro capítulo, os desvios acidentais e os intencionais da norma padrão. 
No quarto capítulo, terá a oportunidade de perceber o texto como unidade de sentido: conceituação, 
fatores conceituais e formais da textualidade. A partir deste conceito, como trabalharemos a 
gramática textual? Este será o principal tema do capítulo cinco. 
Depois, por fim, poderá discutir as múltiplas possibilidades de mediação do professor, conhecendo 
as estratégias e as alternativas que, ao aproximarem o texto do leitor-autor, permitirão ao professor 
a realização de uma prática pedagógica significativa a partir do trabalho com a gramática textual.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo deste livro didático, você seja capaz de:
 » Considerar a origem e a evolução da Língua Portuguesa, do latim vulgar até a atualidade.
 » Perceber a origem da heterogeneidade de normas linguísticas no Brasil.
 » Verificar a estreita relação língua-cultura e língua-subjetividade.
 » Reconhecer o conceito de gramática como o funcionamento da língua e diferenciá-lo 
do conceito de gramática normativa. 
 » Conhecer o trabalho da gramática textual.
 » Perceber que, na comunicação, os sentidos são construídos em um processo conjunto 
entre os interlocutores.
 » Identificar e diferenciar os desvios da norma-padrão: os vícios de linguagem e as figuras 
de linguagem.
7
INTRODUÇÃO
 » Observar a adequação de cada estratégia estilística.
 » Refletir sobre a importância do prazer de ler e os direitos do leitor.
 » Identificar possíveis práticas de leitura/escrita adequadas para as séries iniciais do 
Ensino Fundamental.
9
Apresentação
Neste primeiro capítulo, você conhecerá um pouco sobre a origem e a evolução da Língua 
Portuguesa, desde o latim até a atualidade. 
Verá também que a atual comunidade lusófona é formada por oito países e perceberá que há 
uma estreita relação entre língua-cultura e língua-subjetividade.
Desse modo, identificará a origem da heterogeneidade das normas linguísticas no Brasil e 
reconhecerá a língua como força unificadora, com suas variações dialetais e de registro.
Objetivos 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de:
 » Conhecer a origem e a evolução da Língua Portuguesa do latim vulgar até a atualidade.
 » Identificar os países lusófonos.
 » Constatar a influência árabe na língua portuguesa e a sua contribuição para o léxico.
 » Compreender a origem da heterogeneidade de normas linguísticas no Brasil.
 » Perceber a estreita relação língua-cultura e língua-subjetividade.
 » Entender a língua como força unificadora.
 » Reconhecer que a variação linguística pode ser dialetal e de registro.
1
CAPÍTULO
A ORIGEM E A EVOLUÇÃO 
DA LÍNGUA PORTUGUESA 
10
CAPÍTULO 1 • A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Você sabe como surgiu a Língua Portuguesa? A sua formação e a sua evolução nos remetem 
ao domínio romano, que reduziu a um denominador comum as várias culturas existentes na 
Península Ibérica.
Figura 1.
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/-trktyU2EAfc/VgG0xJOmCWI/AAAAAAAACwA/JMzzoQwz1WE/s1600/Imagem8.png 
O latim, língua falada pelos conquistadores romanos, dominou quase toda a região, sendo imposta 
aos povos conquistados. Desse modo, surgiram vários dialetos que, quando não desapareceram, 
acabaram por se estruturar melhor e originar as línguas neolatinas.
Saiba mais
Línguasneolatinas 
As línguas românicas ou línguas latinas são um grupo de idiomas proveniente da 
família mais vasta das línguas indo-européias, que se originaram a partir da evolução 
do latim (especificamente, do latim vulgar falado pelas classes populares). Atualmente, 
são constituídas pelos seguintes idiomas principais, também conhecidos como línguas 
neolatinas: português, espanhol, catalão, italiano, francês e romeno. Há também uma grande 
quantidade de idiomas usados por um menor número de falantes, como o galego, o vêneto, 
o occitano (de Provença, França), o sardo e o romanche, uma das línguas oficiais da Suíça; e 
dialectos (aragonês, asturiano, valenciano, e muitos outros espalhados pela Europa Central e 
pela América Latina).(WIKIPEDIA, online) 
Por se tratar, hoje, de uma língua morta e, portanto, imutável, mas de influência em todo o mundo 
ocidental, o latim sempre foi usado pela ciência para a designação de plantas, seres, elementos 
químicos etc., e foi de onde também foram tiradas muitas expressões técnicas. 
11
A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA • CAPÍTULO 1
Saiba mais
Língua morta: é uma língua que não possui mais falantes nativos, mas tem gramática conhecida e documentos escritos. Ex.: 
o latim, o copta e o sânscrito.
Para esse fim, estamos falando do latim clássico, que seguia a norma culta e era falado e escrito. 
Mas havia também o latim vulgar, usado pelo povo, que era apenas falado. Para sermos mais 
específicos, é do latim vulgar que se originaram as línguas neolatinas e, consequentemente, a 
língua portuguesa. 
Depois dos romanos, os povos que invadiram a península, no século V., foram povos rudes e 
afeitos aos exercícios guerreiros, os bárbaros germânicos, que compreendiam várias nações: 
vândalos, suevos e visigodos (Os suevos e os visigodos são povos germanos). 
O significativo acervo de germanismos em nossa língua vem dessa época: guerra, bando, espeto, 
mofo, roupa, sítio, ganso, luva, falar, agasalhar, roubar, branco, rico, os pontos cardeais...
Figura 2.
Fonte: http://userscontent2.emaze.com/images/da66fbd3-bd7c-416f-b4b8-6e00baef37a5/b367024a-3d83-40da-9786-
e22cbbb6fe61.png
Com a crescente queda do Império Romano, o número de dialetos falados aumentou, passando 
a serem chamados de “romanço”, que significava falar à maneira dos romanos.
A invasão seguinte – última até a independência de Portugal – deu-se no século VIII, pelos 
árabes, que permaneceram durante oito séculos no solo conquistado. Com a irrupção dos 
árabes, os cristãos da Hispânia dividiram-se em dois grupos: o grupo menor, que se rebelou 
contra os dominadores, refugiando-se, então, nas montanhas da região Norte; e o grupo maior, 
que foi subjugado e que, por sua vez, subdividiu-se em muladies e moçárabes. O primeiro foi 
o grupo que se converteu ao islamismo; o segundo foi o grupo que, embora fiel à doutrina de 
Cristo, submeteu-se aos usos e costumes do povo invasor. A língua oficial adotada, então, foi o 
12
CAPÍTULO 1 • A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
árabe, mas os moçárabes, além de falarem o árabe com os seus senhores, continuaram a falar 
o romance, ou seja, o latim vulgar modificado.
A influência árabe foi marcante em todo o sul da Península Ibérica. No que diz respeito à 
língua, ocorreu um fato interessante: os árabes não impuseram a sua língua; limitaram-se a 
contribuir com o acréscimo de palavras ao vocabulário dos falares dos povos dominados, não 
interferindo, portanto, na estrutura românica desses falares. Assim, apesar de oito séculos de 
dominação arábica, a sua influência no romanço hispânico limitou-se, praticamente, ao léxico. 
Isso se deu pelo fato de serem as duas línguas envolvidas totalmente díspares, quer fônica, quer 
morficamente. Sobre essa influência, assim escreve a pesquisadora portuguesa Clarinda Maia 
(1995 apud LEWIN, 2009, p. 254-255)
Pode considerar-se extremamente rico o legado árabe no léxico português: 
já foram apontadas algumas centenas de vocábulos com essa origem, 
na sua quase totalidade substantivos e referentes a quase todos os 
domínios da actividade humana: abrangem quase todos os sectores da 
vida material, sendo praticamente inexistentes os arabismos referentes 
a sentimentos, noções abstractas, qualidades morais. Centremo-nos 
naqueles que entraram em português por via oral, quer através dos 
moçárabes, portanto em período anterior à Reconquista, quer através dos 
mouros, que permaneceram em localidades do Sul de Portugal, mesmo 
após a recuperação desses territórios pelos reconquistadores setentrionais. 
Sob o ponto de vista formal, a maioria dos substantivos começa por al-, 
o artigo definido árabe.
Segundo Silvio Elia (1979, p. 106), os moçárabes revelaram 
grande capacidade de assimilação do ritmo acentual da língua 
dos conquistadores, ao contrário do que se deu com as palavras 
de origem germânica. Daí, ter sido grandemente aumentado 
o número de oxítonos (algodão, açafrão, marfim, javali...), 
haverem surgido paroxítonas em consoante (açúcar, aljôfar...), vulgarizarem-se os proparoxítonos 
(álcool, álgebra, azêmola...).
O autor ainda salienta que “a quantidade dos adjetivos de origem arábica é reduzidíssima, mais 
ainda a dos advérbios, ao passo que os verbos nem sequer podem ser considerados” (ELIA, 
1979, p. 106-107). Porém, grande número de palavras de origem arábica apresenta o artigo “al” 
aglutinado ao substantivo, quer por mera justaposição (alfândega, alfinete, alfaiate, Alcorão...), 
quer por assimilação do l à consoante inicial do nome (açougue, arroba, ...). Quando os árabes 
chegaram à Península Ibérica, já eram portadores de apreciável grau de cultura. Com isso, 
segundo Silvio Elia (1979, p. 107), na exploração e irrigação do solo, por exemplo, introduziram 
técnicas avançadas. Várias palavras confirmam: acéquia, açude. Alguns produtos do solo como: 
Atenção
Léxico: acervo de palavras de um 
determinado idioma.
13
A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA • CAPÍTULO 1
alcachofra, cenoura, acelga, arroz, alfafa, açafrão, açúcar, algodão, abricó, laranja, limão, azeite. 
Em alguns desses casos, o árabe foi apenas intermediário (limão e laranja vêm do persa, e 
arroz tem origem grega). Também plantas desconhecidas na Europa foram por eles trazidas e 
aclimatadas na nova região.
Os cristãos, principalmente do norte, nunca aceitaram o domínio muçulmano. Organizaram um 
movimento de expulsão dos árabes (a Reconquista). A guerra travada foi chamada de «santa» ou 
«cruzada». Isso ocorreu por volta do século XI. Já nessa época, o latim começa a tornar-se língua 
morta e, cada vez mais, vigora o Galego-Português. 
Durante a Guerra Santa, vários nobres lutaram para ajudar D. Afonso VI, rei de Leão e Castela. 
Um deles, D. Henrique, conde de Borgonha, destacou-se pelos serviços prestados à Coroa e, por 
recompensa, recebeu a mão de D. Tareja (versão arcaica do nome de D. Teresa), filha do rei. Como 
dote, recebeu o Condado Portucalense. Continuou lutando contra os árabes e anexando novos 
territórios ao seu condado, que foi tomando o contorno do que hoje é Portugal.
D. Afonso Henriques, filho do casal, funda a Nação Portuguesa que fica independente em 
1143. A língua falada nessa parte ocidental da península, o galego-português, com o tempo, 
foi diferenciando-se: no sul, português, e no norte, galego, que foi sofrendo mais influência do 
castelhano pelo qual foi anexado. Em 1290, o rei D. Diniz funda a Escola de Direitos Gerais e 
obriga, em decreto, o uso oficial da Língua Portuguesa. 
Você conhece Fernando Pessoa? Cada vez mais leitores têm descoberto o valor do escritor e do 
pensador Fernando Pessoa, homem que teve a capacidade, entre outras coisas, de «teatralizar» 
poeticamente, por meio de estilos de escrita diferenciados, múltiplas facetas interiores do ser 
humano, indo muito além de pseudônimos, para criar heterônimos, como representantes 
contundentes dos «eus» que habitam dentro de todos nós. 
Palavra de origem grega, heterônimo significa literalmente “outros (heteros)nomes (onyma)”, 
mas, em realidade, designa outras personalidades, que a imaginação de Fernando Pessoa 
concebeu. Ou seja, o poeta divide-se em poetas, cada um com uma personalidade e uma obra 
própria. Enquanto o pseudônimo é um nome atrás de um nome falso (pseudo), o heterônimo é 
mais complexo, porque implica a invenção de uma biografia para um novo poeta, com um estilo 
e uma visão de mundo específica. Portanto, dotando-os de biografias, características físicas, 
personalidades, visões políticas, atitudes religiosas e atividades literárias próprias. Esses pontos 
de vista e estilos literários, ele não tinha necessariamente que partilhar. 
Muito conjectura-se sobre a escolha de Fernando Pessoa de criar seus heterônimos, que muitas 
vezes, pensam o contrário dele. Talvez tenha sido para exercer as múltiplas virtualidades de seu 
talento, que mal cabia numa só «Pessoa». 
14
CAPÍTULO 1 • A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Fernando Pessoa, com sua genialidade, nos brinda com um poema sobre esse momento histórico. 
Para ele, a nação é um todo único que se distingue dos demais. Ele faz referências à linhagem 
real portuguesa, que se inicia com D. Tareja, e a seu filho, Afonso, primeiro rei de Portugal. O 
autor utiliza-se do simbolismo da mãe para identificá-la com a própria pátria portuguesa e com 
a tradição. Ele percebe que a velha Portugal envelheceu e dará origem a uma “nova criatura”, 
porém gerada “no teu antigo seio, vigilante”, isto é, nos valores da tradição.
D. Tareja
Fernando Pessoa
As naçôes todas são mystérios.
Cada uma é todo o mundo a sós.
Ó mãe de reis e avó de impérios,
Vella por nós!
 
Teu seio augusto amamentou
Com bruta e natural certeza
O que, imprevisto, Deus fadou.
Por elle reza!
Dê tua prece outro destino
A quem fadou o instincto teu!
O homem que foi o teu menino
Envelheceu.
 
Mas todo vivo é eterno infante
Onde estás e não há o dia.
No antigo seio, vigilante,
De novo o cria!
E como ficaria a Língua Portuguesa no Brasil? É um dialeto do Português de Portugal?
Para nos ajudar nessa reflexão, destacaremos, a seguir, dois trechos de renomados estudiosos 
que discutem esta questão em jornais de circulação nacional.
15
A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA • CAPÍTULO 1
LEITURA 1
“A vida sabe bem”
Língua portuguesa/Língua Brasileira
Pasquale Cipro Neto
O Globo, 24/02/2002
Em minhas duas semanas de folga, passei alguns dias em Portugal. Não foi 
a primeira nem a segunda visita que fiz a esse país, que me encanta sempre 
e cada vez mais. Sou declaradamente apaixonado pelas coisas de Portugal: o 
povo, a língua, a cultura, a história, a música, a comida, os cheiros, a paisagem. 
Em Portugal, sinto-me em casa, a começar pelo aeroporto de Lisboa, em que a 
mensagem de boas-vindas – obviamente – é escrita em português, o que, para 
muitos, é uma surpresa. Brasileiros que vão a Portugal gostam de dizer que não 
entendem a língua dos portugueses, que estes falam outra língua, que nossa 
língua e a deles são diferentes etc. Era aí que eu queria chegar. Pode-se dizer que 
a língua do Brasil não é mais o português? Pode-se dizer que falamos “brasileiro”? 
Enquanto você pensa no assunto, leia este trecho: 
“Nuno é um consumidor de Ecstasy. Trabalha como mecânico durante a semana 
e mergulha invariavelmente no universo das pastilhas, às sextas, sábados e 
domingos. Não é um comportamento isolado: os números mostram que há 
cada vez mais jovens com comportamentos idênticos. Usam o fim de semana 
para conhecer gente, estabelecer relações e dançar muito. Dizem que todos se 
sentem bem, mais próximos de quem os rodeia, mas o preço a pagar pode ser 
demasiado elevado. Bem-vindo ao mundo da festa constante.” 
Você teve alguma dificuldade para entender essa passagem, transcrita da revista 
portuguesa “Focus” (edição 121, de fevereiro de 2002)? Certamente, não. Devagar 
com o andor, portanto. O fato de existirem diferenças vocabulares (o nosso 
“banheiro”, por exemplo, em Portugal é “casa de banho”) e de pronúncia ou 
sotaque não basta para justificar a tese de que nossa língua não é mais o português. 
Qualquer pesquisador sério sabe que, nesse território, o primeiro elemento que 
se leva em conta é a estrutura (ou “superestrutura”, termo talvez mais adequado). 
E, até prova em contrário, a estrutura do nosso português não é diferente da 
estrutura do português de Portugal. Nem o vocabulário básico é diferente, santo 
Deus! E, quanto mais específico é o assunto e mais se foge dos temas do dia-a-
dia, mais o vocabulário se iguala. Na livraria Almedina, em Lisboa, pus-me a ler 
um compêndio de conferências feitas por professores da Faculdade de Letras da 
Universidade de Coimbra durante um ciclo de debates sobre o ensino da língua. 
Nenhum problema, santo Deus! Não é porque a nossa “fila” em Portugal é “bicha” 
ou porque nosso “ônibus” lá é “autocarro”, ou porque nosso falar é mais aberto, 
mais vocálico, e o deles, sobretudo em certas regiões, mais fechado, travado e 
consonantal que se pode falar em divórcio ou algo do gênero. Para encontrar 
diferenças de vocabulário ou de prosódia, não é preciso atravessar o Atlântico. 
Basta correr pelo Brasil. Melhor do que perder tempo com isso, caro leitor, é fazer 
16
CAPÍTULO 1 • A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
o que muita gente séria já faz: considerar Machado de Assis, Fernando Pessoa, 
Eça de Queirós, Carlos Drummond de Andrade pura e simplesmente escritores 
de língua portuguesa, antes de considerá-los brasileiros ou portugueses. Depois 
dessa consideração, melhor mesmo é lê-los, compreendê-los e degustá-los. 
Pois bem, numa outra revista portuguesa vi um anúncio de um refrigerante, 
mundialmente conhecido. Nada de texto; só uma foto de jovens que conversam, 
sorriem etc. Cada um deles segura uma garrafa do refrigerante, é claro. Ao lado 
da famosa marca, a única frase da peça publicitária: «A vida sabe bem». Que você 
entende disso, caro leitor? Que a vida sabe o que faz? Que a vida sabe bem o que 
faz? Pois não é essa a ideia. Em português e em outras línguas latinas, o verbo 
«saber» (que vem do latim «sapere», que significa justamente «ter sabor») pode 
ser usado com a ideia de «ter sabor de». Todos os nossos dicionários registram 
esse sentido. «Isto sabe a mofo», diziam as avós. «Era uma infusão descorada, que 
sabia a malva e a formiga», escreveu Eça de Queirós (citado no «Aurélio», o trecho 
é de «A cidade e as serras»). Esse uso é vivíssimo no italiano, no espanhol, no 
português de Portugal. No do Brasil, parece que se restringiu aos textos literários. 
Pronto! Os «separatistas» de plantão já estão de armas em punho para dizer que 
o exemplo do refrigerante confirma que as línguas estão em inexorável processo 
de divórcio, separação etc. Nenhum brasileiro entenderia a mensagem, diriam! 
Pura bobagem. Brasileiros de vocabulário amplo a entenderiam, sim. Não é 
porque um termo ou expressão sejam mais usados lá do que cá e vice-versa que 
se pode dizer que... Não preciso repetir. Bem, quanto à peça publicitária, é bom 
deixar claro: com «A vida sabe bem», quer-se dizer que, com o tal refrigerante, 
a vida tem gosto bom. Não se esqueça disso quando encontrar essa construção 
em autores brasileiros. Aliás, lembrei-me agora de uma bela canção do querido 
e saudoso Taiguara (não esse que está por aí; falo do autor de «Hoje» e de outras 
maravilhas): «Quem não soube a sombra não sabe a luz... Da frase, pode-se 
entender que quem não sentiu o gosto (amargo) da sombra não extrai da luz 
todo o seu sabor. Viva a língua portuguesa! 
Saiba mais
:: Prosódia:
Parte da gramática tradicional que se dedica às características da emissão dos sons da fala, como o acento e a entoação [Ger. 
está relacionada com os estudos de metrificação.]; a própria acentuação das palavras; estudo da acentuação vocabular. 
Fonte: http://houaiss.uol.com.br
LEITURA 2
Existe uma “Língua Brasileira?”
Sérgio Nogueira Duarte 
 Jornal do Brasil - 25/06/2000
Vou tentar responder objetivamente e com a maior simplicidadepossível. Aqui 
no Brasil, nós ainda falamos a língua portuguesa. Temos, na minha opinião, um 
falar brasileiro, que seria um modo brasileiro de usar a língua portuguesa. 
17
A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA • CAPÍTULO 1
É importante lembrar o que afirmaram alguns estudiosos: o professor Antenor 
Nascentes não falava em língua brasileira, e sim em “idioma nacional”; o mestre 
Gladstone Chaves de Melo falava em língua comum e variantes regionais; e o 
grande filólogo Serafim da Silva Neto afirmou que o português culto do Brasil 
é quase igual ao português culto de Portugal. Isso significa, portanto, que as 
diferenças maiores estão na linguagem do dia-a-dia. 
O jornalista Barbosa Lima Sobrinho, no livro A língua portuguesa e a unidade do 
Brasil, resume bem: «Em poucas palavras, existe unidade na variedade de normas 
e de usos linguísticos. E isso porque, se os morfemas gramaticais permanecem 
os mesmos, a língua não mudou, a despeito de qualquer variação de pronúncia, 
de vocabulário ou mesmo de sintaxe.» 
O que existe na verdade são variantes linguísticas: 
variantes geográficas: nacionais (Brasil, Portugal, Angola...) e regionais (falar 
gaúcho, mineiro, baiano, pernambucano...); 
variantes socioeconômicas (vulgar, popular, coloquial, culta...); 
variantes expressivas (linguagem da prosa, linguagem poética). 
Quem estiver interessado em ver o assunto analisado com maior profundidade 
poderá consultar os respeitadíssimos Celso Cunha e Lindley Cintra, na Nova 
Gramática do Português Contemporâneo , e a Moderna Gramática Portuguesa 
do nosso querido e eterno mestre Evanildo Bechara. 
O importante mesmo é respeitar as diferenças, sejam fonéticas, semânticas ou 
sintáticas. Vejamos rapidamente algumas diferenças entre o português do Brasil 
e o de Portugal. 
Uma diferença fonética bem «visível» é a pronúncia da vogais. Aqui no Brasil, 
nós pronunciamos bem todas as vogais, sejam tônicas ou átonas. Em Portugal, 
a tendência é só pronunciar bem as vogais tônicas. As vogais átonas são 
verdadeiramente átonas (= fracas). Uma consequência disso é a colocação dos 
chamados pronomes átonos (me, te, se, o, lhe, nos...). Em Portugal, por ter a 
pronúncia fraca, não se põe o pronome átono no início da frase: «Dê-me um 
cigarro»; no Brasil, como as vogais átonas são pronunciadas como se fossem 
tônicas, não temos nenhuma dificuldade em pôr os pronomes átonos no início 
da frase: «Me dá um cigarro». É assim que o brasileiro fala. E quando me refiro 
ao brasileiro, estou falando do brasileiro em geral, de todos os níveis sociais e 
culturais. Não estou fazendo referência ao «povo» com aquela conotação pejorativa 
e discriminatória que alguns ainda atribuem à palavra. 
Diferenças semânticas existem muitas. Algumas famosas já viraram até piada. 
Em Portugal, «uma bicha enorme» não é nada mais do que «uma fila imensa», 
sem nenhuma outra conotação que algum brasileiro queira dar. E diferenças 
18
CAPÍTULO 1 • A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
sintáticas também existem. No Brasil, nós preferimos o gerúndio («Estamos 
trabalhando»); em Portugal, preferem o infinitivo («Estamos a trabalhar»). No 
Brasil, gostamos da forma «você»; em Portugal, usam mais o pronome «vos»: 
«Se eu lesse para você» e «Se eu vos lesse». Aqui «falar consigo» é «falar com si 
mesmo»; em Portugal «falar consigo» é «falar com você». Em Portugal, é frequente 
o uso de «mais pequeno»; no Brasil, aprendemos que o certo é falar «menor», 
que «mais pequeno» é «errado». 
E assim voltamos ao ponto de partida: a eterna briga do certo e do errado. 
Espero que me perdoem pela repetição, mas não é uma questão simplista de 
certo ou errado. É uma questão de adequação. Usar «mais pequeno» no Brasil é 
tão inadequado quanto iniciar uma frase com um pronome átono em Portugal. 
Por que eu teria de afirmar que alguém está falando «errado» quando o carioca 
fala «sinal», o paulista prefere «farol» e o gaúcho usa «sinaleira»? Afinal das contas, 
é tudo semáforo. 
A partir da leitura desses dois trechos, podemos nos perguntar sobre o início da língua Portuguesa 
no Brasil. Sempre estudamos que “o Brasil foi descoberto em 1500 pelo português Pedro 
Álvares Cabral”, contudo, já em diversas situações, a academia reformula essa afirmativa para 
“o primeiro português que, oficialmente, chegou ao Brasil, terra já habitada por indígenas, foi 
Pedro Álvares Cabral”. (Deixaremos a discussão sobre descoberta acidental ou programada para 
outras disciplinas.). Nesse meio tempo, conheça um trecho de uma bela canção do CD Canções 
Curiosas, de Sandra Peres e Luiz Tatit, que nos dá uma dica sobre esse tema e nos ajuda a pensar 
o início da Língua Portuguesa no Brasil.
Pindorama
(Sandra Peres/Luiz Tatit)
Pindorama, Pindorama
É o Brasil antes de Cabral
Pindorama, Pindorama 
É tão longe de Portugal
Fica além, muito além
Do encontro do mar com o céu 
Fica além, muito além
Dos domínios de Dom Manuel.
Vera Cruz, Vera Cruz
Quem achou foi Portugal 
Vera Cruz, Vera Cruz
19
A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA • CAPÍTULO 1
Atrás do Monte Pascoal
Bem ali, Cabral viu
Dia 22 de abril
Não só viu, descobriu
Toda terra do Brasil
Pindorama, Pindorama 
Mas os índios já estavam aqui
Pindorama, Pindorama
Já falavam tudo em tupi 
Só depois vêm vocês 
Que falavam tudo em português 
Só depois, com vocês
Nossa vida mudou de uma vez
[...]
Mas enfim, desconfio
Não foi nada ocasional
Que Cabral, num desvio
Viu a terra e disse “Uau!”
Não foi não, foi envio
Foi um plano imperial
Pra aportar seu navio
num país monumental.
[...]
 
Saiba mais
Pindorama, em tupi-guarani: pindó-rama ou pindó-retama (terra/lugar/região das palmeiras), é uma designação pré-
cabralina dada a regiões que mais tarde formariam o Brasil. Por extensão de significado, é o nome indígena por excelência 
desse país sul-americano (WIKIPEDIA, online). 
20
CAPÍTULO 1 • A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
No início da colonização portuguesa no Brasil, como vimos na canção, já se falava o Tupi, que 
foi uma língua estudada e divulgada pelos padres jesuítas, os primeiros educadores na colônia. 
Na verdade, os jesuítas registraram o que é considerado como o “tupi clássico”, pois segundo 
dados do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), quando da chegada 
dos portugueses ao Brasil, existiam 1,2 mil línguas indígenas aqui. Hoje, são 180. Assim, do tupi 
clássico, herdamos ainda a maioria dos nomes geográficos de nosso território e algumas palavras 
relacionadas à flora e à fauna (mandioca, caju, tatu, piranha). 
Contudo, em 1757, a utilização do tupi foi proibida e, em 1759, os jesuítas foram expulsos.
Em 1757, o Marques de Pombal institui o português como língua oficial no Brasil 
e proíbe o uso das línguas gerais. “Para os povos indígenas, a situação de contato 
forçado é caracterizada pela penetração em seus territórios tradicionais de um 
povo agressivo e melhor equipado militarmente”, explica Rodrigues. Diante 
da impossibilidade de resistência, o povo dominado busca aprender a língua 
dos invasores de modo a assegurar um relacionamento positivo com eles. [...] 
Um passo importante para assegurar a permanência do que resta da língua e 
cultura indígena no país foi a Constituição de 1988, que permitiu a existência 
de escolas bilíngues para os índios. Até então a educação fundamental antes 
deveria ser feita, obrigatoriamente, na língua nacional, ou seja, o português. 
Isto excluía qualquer outra língua. “A situação era drástica. Ignorava-se o índio 
simplesmente”, conta Rodrigues. Para ele, apesar de haver discrepâncias na 
qualidade do ensino bilíngue nas diversas comunidades indígenas espalhadas 
no país, houve grandes avanços. Um deles, por exemplo, foi concretizado com 
o primeiro curso bilíngue de licenciatura para professores indígenas do AltoSolimões ministrado numa das aldeias dos índios tikuna, a maior do Brasil, com 
cerca de 30 mil índios. “É importante preparar os jovens índios para trabalhar e 
viver nas suas próprias comunidades, evitando que eles abandonem seu lugar 
de origem”, acredita Rodrigues. 
Mesmo que a tentativa de unificação linguística tenha se produzido de modo 
maciço, como aconteceu no Brasil, a diversidade permanece, resultado do 
trabalho de resistência dos falantes das línguas dominadas (MARIUZZO, online). 
Desse modo, firmava-se no Brasil a utilização do Português como a língua oficial. Silvio Elia 
(1989, p. 16-17) denomina de Lusitânia o espaço geolinguístico ocupado pela língua portuguesa 
no conjunto de sua unidade e variedades: 
Esse será o espaço próprio da lusofonia: os seus usuários serão os luso falantes. 
Como “estágio atual da língua portuguesa no mundo”, considerarei a situação 
da Lusitânia após a Segunda Guerra Mundial.
21
A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA • CAPÍTULO 1
Nessa perspectiva, vejo cinco faces na Lusitânia atual, que assim denominarei: 
Lusitânia Antiga, Lusitânia Nova, Lusitânia Novíssima, Lusitânia Perdida e 
Lusitânia Dispersa.
A Lusitânia Antiga compreende Portugal, Ilha da Madeira e Arquipélago de Açores.
A Lusitânia Nova é o Brasil.
A Lusitânia Novíssima abrange as cinco nações africanas constituídas em 
consequência do processo dito de “descolonização” e adotaram o português 
como língua oficial: Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde e São Tomé 
e Príncipe.
Lusitânia Perdida são as regiões da Ásia ou da Oceania onde já não há esperança 
de sobrevivência para a língua portuguesa.
Finalmente, Lusitânia Dispersa são as comunidades de fala portuguesa espalhadas 
pelo mundo não lusófono, em consequência do afluxo de correntes imigratórias.
Desde 17 de julho de 1996, criou-se a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) com 
o objetivo de proporcionar uma maior cooperação nos âmbitos social, cultural e económico 
entre os países-membros. Atualmente temos nove países onde a língua portuguesa é a oficial. 
Em 1996, entraram para a CPLP Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal 
e São Tomé e Príncipe; em 2002, com a sua independência, Timor-Leste tornou-se o oitavo país 
integrante da Comunidade. Em 2014, foi a vez da Guiné Equatorial tornar-se o nono membro.
Desde 2009, com a publicação do Acordo Ortográfico da 
Língua Portuguesa, algumas mudanças, como o fim do 
trema e novas regras para o uso do hífen, eram oficiais 
nesses países. Contudo, essa alteração só começou a ser 
obrigatória no Brasil em 1º de janeiro de 2016. Segundo 
o Portal de Língua Portuguesa, “com exceção de Angola 
e de Moçambique, todos os restantes países da CPLP já ratificaram todos os documentos 
conducentes à aplicação desta reforma.” 
Em Portugal, a partir do século XVI, temos a fase do português moderno, que já se “uniformiza 
e adquire as características do português atual” (NICOLA, 1990, p. 16). Nessa fase, a literatura 
portuguesa desempenhou um papel fundamental no processo de uniformização da língua. 
No primeiro capítulo da disciplina de Teoria e Prática da Alfabetização, você viu que a “língua é 
força unificadora” e que existem “três agentes que, relacionados às melhores maneiras de falar, 
atuam sobre a língua: a escola (uniformização com base na escrita e na divulgação da norma 
culta), a literatura (por realizar-se pela língua escrita) e os mídias (divulgam a língua comum, 
automatizam padrões e alteram falares regionais)”. 
Saiba mais
Leia na íntegra o texto do Portal da 
Língua Portuguesa – d http://www.
portaldalinguaportuguesa.org/acordo.php 
22
CAPÍTULO 1 • A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Você também já viu que “a diversidade linguística existente no Brasil é um reflexo da formação 
de nosso povo. Os nativos (diversos povos indígenas com os seus falares), os portugueses 
colonizadores (de diversas regiões e seus falares), os negros de diversas localidades trazidos 
para cá (com os seus falares) e os diversos imigrantes que vieram em busca de uma nova vida: 
italianos, japoneses, alemães, espanhóis, libaneses, poloneses, chineses. Sendo assim, a expansão 
do português no Brasil não ocorreu de uma forma linguística única”. 
Logo, há uma função social e unificadora da língua? Podemos dizer que existe, pois não há língua 
que permaneça a mesma em todos os locais em que é falada e, no mesmo local, apresenta grande 
número de diferenciações, as variações linguísticas.
A variação linguística pode ser dialetal e de registro. A dialetal divide-se, segundo Preti (1987), 
em: VARIEDADES DIATÓPICAS (geográficas) – dialetos ou falares regionais; VARIEDADES 
DIASTRÁTICAS (socioculturais) – responsável pela divergência linguística entre os subgrupos 
de uma comunidade, sendo fatores considerados diferenciadores a estratificação social, a idade, 
o sexo, a profissão, o grau de escolaridade, o local onde reside; e as VARIEDADES DIAFÁSICAS 
(expressivas) – dialetos sociais ligados à situação por influência do ambiente, tema, estado 
emocional do falante, grau de intimidade entre os falantes.
Entre as variedades socioculturais, podemos destacar as gírias, que são a linguagem de um 
determinado grupo social unido por uma atividade que cria neles o desejo de não serem 
compreendidos por toda a gente e os leva a introduzir no vocabulário alterações em nível 
semântico. Esse modo de falar classifica o indivíduo como pertencente a um determinado grupo 
da sociedade, é a sua identidade. 
As gírias utilizadas por uma determinada pessoa demonstram a sua faixa etária, pois são próprias 
de uma determinada época e, muitas vezes, deixam de existir quando caem em desuso. Elas 
também mostram a profissão, o grupo social a que pertence o indivíduo, pois, de certa forma, 
todos os grupos sociais possuem uma certa quantidade de palavras ou expressões que usam em 
seu ambiente restrito. Possuem gírias próprias os surfistas, skatistas, advogados, professores, 
médicos, policiais, entre outros.  Em síntese, a gíria une indivíduos de grupos que procuram 
manter o segredo da sua comunicação ou, então, que buscam diferenciar-se dos demais grupos, 
pois o seu sentimento de pertença os faz excluir os demais. 
Como a gíria está delimitada a um espaço de tempo de utilização, ela deve ser evitada ao 
escrevermos textos formais, pois pode comprometer a clareza. Para tal fim, é preciso observar 
a variação de registro, que se refere ao grau de maior ou menor formalidade na situação de 
comunicação, e pode ser dos seguintes tipos:
23
A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA • CAPÍTULO 1
Quadro 1.
Registros na língua oral Registros na língua escrita
Formal (Ex.: uma palestra) Formal (Ex.: uma petição)
Coloquial tenso (Ex.: uma aula) Semiformal (Ex.: uma carta)
Coloquial distenso (Ex.: conversa com amigos) Informal (Ex.: um bilhete)
Fonte: Elaborado pela autora.
O falante se utiliza desses diferentes registros para que haja uma maior eficácia nessa interação. 
Esse grau de formalismo pode ser evidenciado em diferentes níveis de construção do enunciado. 
De acordo com o quadro acima, a expressão linguística pode se realizar em duas modalidades: 
a falada e a escrita. Na escrita, há uma maior possibilidade de o falante estruturar o seu texto, 
o que não ocorre na fala, pois temos um texto oral marcado por retomadas, interrupções ou 
correções, já que não há a separação entre a produção e a execução. 
É importante ressaltar que não devemos associar a língua falada à informalidade, nem a língua 
à escrita com a formalidade, porque tanto em uma quanto na outra modalidade se verificam 
diferentes graus de formalidade. Observe o poema abaixo para exemplificarmos esse fato.
Pronominais
(Oswald de Andrade)
Dê-me um cigarro 
Diz a gramática 
Do professor e do aluno 
E do mulato sabido 
Mas o bom negro e o bom branco 
Da Nação Brasileira 
Dizem todos os dias 
Deixa disso camarada 
Me dá um cigarro.
No poema de Oswald de Andrade, vemos o antagonismoentre o português falado pelo povo 
e o formal da gramática normativa. Na gramática normativa, o certo é dizer “dê-me..” (ênclise 
= pronome depois do verbo) A norma padrão nos diz que não se deve iniciar frases com 
pronomes oblíquos átonos. No entanto, o povo brasileiro, em seu falar, utiliza a forma “me dá” 
corriqueiramente (próclise = pronome antes do verbo). 
24
CAPÍTULO 1 • A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA
São maneiras diferenciadas para se dizer a mesma coisa, e todos somos capazes de entendê-las. 
Contudo, a língua do considerado “bom falante”, aquele que observa a norma culta, é a reconhecida 
socialmente. E Oswald vai mais além, ele ainda ressalta a simpatia, a espontaneidade do povo 
brasileiro, multirracial e “camarada”. Considerando essas características, estaríamos nos referindo 
à relação existente entre língua e cultura e entre língua e subjetividade.
Desse modo, vemos que a língua como processo se constrói na interação dos indivíduos falantes 
e escritores dessa língua. Contudo, ela também pode ser vista como um produto acabado, 
estruturado na gramática normativa, ponto a ser discutido no próximo capítulo.
Sintetizando
Vimos até agora: 
 » A Língua Portuguesa é uma derivação do latim vulgar.
 » A influência árabe na língua portuguesa resulta em uma enorme riqueza para o léxico.
 » Em 1290, o rei D. Diniz funda a Escola de Direitos Gerais e obriga, em decreto, o uso oficial da Língua Portuguesa.
 » Atualmente temos nove países onde a língua portuguesa é a oficial: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné 
Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.
 » A língua é força unificadora.
 » A variação linguística pode ser dialetal e de registro.
 » A estreita relação língua-cultura e língua-subjetividade.
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Apresentação
Neste capítulo, discutiremos o conceito de “Gramática” e os inúmeros sentidos em que o termo é 
usado em linguagem corrente. Após percebermos que a gramática é o funcionamento da língua, 
será a vez de relembrarmos os elementos necessários à efetivação da comunicação e verificaremos 
as diferenças e semelhanças entre as funções da linguagem.
Objetivos 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de:
 » Reconhecer o conceito de gramática como o funcionamento da língua. 
 » Entender o termo gramática como um conjunto de regras sintáticas, morfológicas, 
fonológicas e semânticas que caracteriza o funcionamento da língua.
 » Compreender que quando a criança começa a frequentar a escola, ela já conhece a 
“Gramática” de sua língua materna.
 » Diferenciar a gramática descritiva da gramática normativa.
 » Identificar os elementos da comunicação.
 » Conhecer as funções de linguagem definidas por Jakobson, percebendo que cada uma 
destas funções é centrada em um dos elementos da comunicação.
 » Perceber que, na comunicação, os sentidos são construídos em um processo conjunto 
entre os interlocutores.
2CAPÍTULOENSINA-SE GRAMÁTICA?
26
CAPÍTULO 2 • ENSINA-SE GRAMÁTICA
Você se lembra da definição de gramática defendida na disciplina de Alfabetização? Vamos 
recordá-la?
Seria possível assegurarmos que a gramática de uma língua se resume a um livro no qual estariam 
registradas, de acordo com a norma culta, as regras de funcionamento dessa língua? E dizer que a 
gramática de uma língua é encontrada apenas na língua escrita? É correto afirmar que determinadas 
línguas possuem mais gramática do que outras? E, ainda, será que poderíamos afirmar que 
determinado grupo de pessoas conhece a gramática de sua língua enquanto outros não?
Parece-nos que todas as afirmações acima não estariam exatamente corretas Você se recorda 
que, quando na disciplina de Alfabetização, tivemos uma grande discussão quanto aos inúmeros 
sentidos que a palavra gramática adquiriria na nossa linguagem corrente? 
E o resultado desta querela, você consegue se lembrar qual foi? Pois bem, se você não está bem 
seguro do que vem a ser a gramática, reencontre o seu “antigo” material e relembre que, para o 
nosso trabalho, o termo gramática foi definido como sendo o funcionamento da língua, isto é, 
a palavra gramática englobaria as regras sintáticas, morfológicas, fonológicas e semânticas que 
caracterizam o seu funcionamento. Assim, quando a criança começa a frequentar a escola, ela 
já conhece a “Gramática” de sua língua materna. 
Por exemplo: quando uma criança que possui quatro anos de idade consegue se comunicar com 
seus pais, familiares, amigos e outras crianças, atendendo, assim, as suas necessidades, “ela já 
domina perfeitamente as regras gramaticais de sua língua! O que ela não conhece são as sutilezas, 
sofisticações e irregularidades no uso das regras” (BAGNO, 1999, p. 32). 
Um exemplo deste fato ocorreria quando uma criança de cinco anos pedisse um presente a seus 
pais e recebesse como resposta uma das seguintes alternativas: a) Posso comprá-lo, quando 
receber o meu pagamento, b) Posso comprá-lo, se tiver uma sobra de dinheiro no final do mês. 
Diante dessas respostas, a criança sabe se ganhará o brinquedo ou se ainda não há certeza de 
sua compra. Isto é, ela distingue plenamente uma marcação temporal de uma condição imposta 
pelo seu responsável. Ou, ainda, quando uma criança bem pequena que diz “eu fazeu um bolo 
na casa da vovó.”, ela percebe claramente que a sua ação foi executada no passado, pois notou 
que, quando as ações estão no passado, normalmente, o verbo que as indica termina com “eu”. 
Perfeito! Ela conhece a gramática de sua língua!
Sendo assim, por que, quando essa mesma criança está com doze anos, e um professor lhe 
pede que faça a distinção entre uma circunstância temporal e uma condicional, há uma grande 
dificuldade em fazê-lo, ocorrendo o que poderíamos denominar “bloqueio mental”? Quem 
sabe, se retornarmos ao capítulo introdutório e relermos o texto “O português são dois; o outro, 
mistério”, de Carlos Drummond, possamos elucidar este enigma.
27
ENSINA-SE GRAMÁTICA • CAPÍTULO 2
A criança de cinco anos já conhece a língua falada, mas precisa aprender a modalidade escrita 
da língua, as noções da “Gramática Normativa”; e este conhecimento, talvez, seja o “outro” de 
Drummond.
A gramática normativa é a arte de falar e de escrever dentro da norma culta da língua. É a que 
regulamenta o que é “certo e errado” em termos do uso da linguagem. 
Marcos Bagno (2001, p. 60) nos diz que 
a norma padrão é uma tentativa de conservação de formas linguísticas 
ultrapassadas, que não são nem melhores, nem mais bonitas, nem mais lógicas 
que as formas presentes nas variedades reais, mas apenas consagradas pelo uso 
de segmentos privilegiados da sociedade.
E como são formas “consagradas”, são fonte de poder. É mais valorizado e reconhecido socialmente 
aquele que domina a norma culta, que alcançou o “ideal linguístico”, a “língua padrão”. 
Um ensino da língua materna comprometido com a luta contra as desigualdades 
sociais e econômicas reconhece, no quadro dessas relações entre a escola e a 
sociedade, o direito que têm as camadas populares de apropriar-se do dialeto de 
prestígio, e fixa-se como objetivo levar os alunos pertencentes a essas camadas 
a dominá-lo, não para que se adaptem às exigências de uma sociedade que 
divide e discrimina, mas para que adquiram um instrumento fundamental para 
a participação política e a luta contra as desigualdades sociais. Um ensino de 
língua materna que pretenda caminhar na direção desse objetivo tem de partir 
da compreensão das condições sociais e econômicas que explicam o prestígio 
atribuído a uma variedade linguística em detrimento de outras, tem de levar 
o aluno a perceber o lugar que ocupa o seu dialeto na estrutura de relações 
sociais, econômicas e linguísticas, e a compreender as razões por que esse 
dialeto é socialmente estigmatizado; tem de apresentar as razões para levar o 
aluno a aprender um dialeto que não é o do seu grupo social e propor-lhe um 
bidialetismo não para sua adaptação, mas para a transformação de suascondições 
de marginalidade (SOARES, 1993, p. 78).
Magda Soares, no texto acima, tenta nos mostrar a necessidade de se lutar para que todos os 
educandos, inclusive os menos favorecidos socialmente, tenham acesso à norma-padrão, de 
modo que, com propriedade, possam questionar-se sobre a exclusão que a eles é imposta pelo 
não domínio desta norma.
O domínio da norma culta possibilitará a essa grande parcela da população condições de, 
concretamente, se interrogar sobre os discursos a ela apresentados e, com competência, interferir 
ativa e positivamente no seu próprio futuro.
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CAPÍTULO 2 • ENSINA-SE GRAMÁTICA
O que é certo ou errado na Língua Portuguesa?
Prof. Sérgio Nogueira*
É realmente muito difícil agradar a todos. Todos nós, falantes da língua portuguesa, 
trazemos uma opinião formada sobre o assunto. A verdade é que todos nós, 
gostando ou não gostando, passamos anos e anos na escola, e, bem ou mal, 
usamos diariamente a língua portuguesa. Por tudo isso, temos a tendência a nos 
rebelar sempre que vemos ou ouvimos alguma coisa que vá contra o que um dia 
aprendemos como certo.
É importante lembrarmos que a normatização da linguagem corresponde, em 
geral, ao jogo do certo ou errado. Assim sendo, a norma é a regra daquilo que pode 
ou não ser usado na língua oral ou escrita. O perigo é transformar o conhecimento 
destas regras num mecanismo para discriminar os que não as dominam.
A norma é a marca do chamado padrão culto da língua, que é apenas uma das 
variantes linguísticas. O professor André Valente, em «A Linguagem Nossa de 
Cada Dia”, afirma: «Não há, em essência, variante linguística que seja superior 
a outras. Existe, sim, a que tem mais força e prestígio, a variante dos detentores 
do poder: da elite(econômica, política ou intelectual).» 
Quanto aos gramáticos, é sempre bom lembrar que não há uniformidade de 
pensamento. Eles próprios não estão de acordo sobre o que significa correção 
na língua falada ou escrita. Há dois extremos perigosos: o conservador, que toma 
como padrão os textos considerados clássicos da nossa literatura, e o anárquico, 
que aceita tudo, que considera a língua um organismo que se desenvolve com 
total liberdade, abandonando completamente o conceito do certo ou do errado. 
Entre o conservador e o anárquico, está o moderado. Eu, por exemplo. E como 
é difícil ser moderado! 
Ser moderado é respeitar a tradição gramatical, quando há consenso entre 
os estudiosos, e estar com a mente aberta para as novidades, para os novos 
conceitos. Se a língua é viva, ela evolui, ela se transforma. Radicalizar é perigoso. 
E é impossível «engessar» qualquer língua. 
Sou defensor do conceito da «aceitabilidade», mas tenho total consciência de 
que é muito difícil estabelecer o que é obrigatório, o que é facultativo, o que é 
inapropriado, o que é grosseiro, o que é inadmissível... 
Vamos ver um exemplo. O uso da expressão «a gente» em vez do pronome «nós» é 
aceitável em qualquer texto coloquial. Na sentença de um juiz, em que a sociedade 
exige uma linguagem formal, a chamada linguagem «culta ou padrão», o uso de 
«a gente» seria inapropriado, inadequado. Tão inadequado quanto eu dizer «ela 
esteve aqui conosco» num bate-papo informal na beira da praia. Como já disse 
outras vezes, «conosco» na beira da praia mais parece nome de biscoito: «Dá 
um conosquinho aí».
* Responsável pela coluna Língua Viva do Jornal do Brasil
29
ENSINA-SE GRAMÁTICA • CAPÍTULO 2
Nicola (1990), autor de uma Gramática muito utilizada nas escolas brasileiras, apresenta, na capa 
de seu livro, o pedaço de um poema de Carlos Drummond de Andrade.
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?
O título desse poema é “Procura da Poesia”. Nele, o autor busca fomentar o desejo pela leitura, 
pela decifração de um código vivo, que tem mil faces a serem despertadas, de acordo com o tipo 
de chave que cada leitor, individualmente, utilizará ao abrir a porta do mundo da leitura. O texto, 
assim, convida o leitor a operacionalizar a língua com fluência, desenvoltura e propriedade, 
desenvolvendo a competência da produção linguística verbal e escrita. Deste modo, o texto 
escolhido por Nicola acaba por insurgir no indivíduo o desejo de aprender tanto a norma culta 
como o português coloquial, distinguindo-os e utilizando-os de acordo com a circunstância 
com que se deparar.
30
CAPÍTULO 2 • ENSINA-SE GRAMÁTICA
Assim, estaríamos proporcionando aos nossos alunos o desenvolvimento de habilidades 
linguísticas, quer orais quer escritas, além do livre acesso e fácil trânsito por esse código, 
“decifrando” o segredo escondido pela chave de Drummond e penetrando no reino das palavras. 
Contudo, para tal fim, o aluno precisa entender a dinâmica da língua, isto é, necessita conhecer 
os elementos da comunicação para perceber os mecanismos que são utilizados quando estamos 
a nos comunicar.
A comunicação humana é de outra ordem: vai de interior a interior, de 
inteligência a inteligência, de coração a coração. Leva ao outro o que é seu 
e recebe do outro o que é dele. Sua comunicação vai além de si mesmo 
e não é centrada no instinto, nem meramente repetitiva. É instinto, mas 
muito mais que instinto. Comunica projetos, ideias, imaginação, comunica 
desejos e afeições, comunica bens que vêm de Deus, a graça que santifica. 
É uma comunicação que cresce e se aprimora: o processo civilizatório, o 
acesso à vida civilizada, a busca da maturidade individual trazem consigo 
um crescimento e afinamento da comunicabilidade (PRADO, 1991, p. 175).
E este afinamento da comunicabilidade, isto é, a efetivação da comunicação só ocorre quando 
existe o entendimento do que é dito. E o entendimento só acontece quando o processo de 
comunicação é completado.
A comunicação se processa a partir da existência de um EMISSOR – aquele de quem parte a 
intenção comunicante – a um DESTINATÁRIO – aquele que recebe a mensagem. Essa mensagem 
chega por meio de um CANAL – meio utilizado para enviar a mensagem –, registrada num 
determinado CÓDIGO – um sistema organizado, como o verbal, no caso da língua – e gerada 
num determinado CONTEXTO (REFERENTE) – que é a referência da mensagem. Se qualquer 
um desses elementos falhar, ocorre uma situação de RUÍDO na comunicação. 
Além da linguagem verbal, existe a não verbal, pois as pessoas não se comunicam apenas por 
palavras. Os movimentos faciais e corporais, os gestos, os olhares e a entonação dada a certas 
palavras também são exemplos de elementos da comunicação. 
Figura 3.
Fonte: Arquivo pessoal da autora.
31
ENSINA-SE GRAMÁTICA • CAPÍTULO 2
O uso da simbologia, como a sinalização, os logotipos e os ícones, também é considerado uma 
forma de comunicação não verbal.
Figura 4.
 
Fonte: https://image.slidesharecdn.com/portugus2b-170225215804/95/texto-verbal-e-noverbal-4-638.
jpg?cb=1488059893 e https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQ0T6qmFUiz1W4QMHBjQDIbHeX3abLB
36cLfm0UwfxVTFcn3rrL
Para continuar a sua reflexão, observe a imagem abaixo, retirada do site “Arquivo da propaganda”, 
onde encontramos 
Figura 5.
 
Fonte: http://arquivo.net/ion2img/ION2IMG043.dll/J2199205.JPG?CIMG=Cg97dwTLGvqYF-Pf-zllD5S9IVJ72nHhFhvWk2Va
whABdsW0q$3uqw8w5YRo79Auwzqe5Dm-pAyscy$mVf7CV-CO8pyVpSy7cvA8e7o&USER=BOLETIM_GaleriaNela, verificamos a linguagem não verbal, representada pelo menino (o Pira), que está oferecendo 
flores para a sua mãe, e a marca registrada do produto estampada nos pacotes de biscoito e logo 
abaixo da ilustração. Também podemos observar a linguagem verbal representada pela frase “No 
dia das mães, o Pira e a Capi resolveram dar o maior presente: retribuir o amor e o carinho que 
toda mamãe tem com a gente”.
32
CAPÍTULO 2 • ENSINA-SE GRAMÁTICA
Nessa propaganda, podemos identificar como elementos desse processo de comunicação:
1. Emissor – a empresa Piraquê;
2. Destinatário – o leitor do jornal no qual está sendo veiculado o anúncio.
3. Canal – jornal O Dia;
4. Mensagem – Os cookies Piraquê são tão especiais que são a forma do menino Pira retribuir 
todo o amor de sua mãe na data em que se comemora o “Dia especial das Mães”
5. Código – a imagem e a língua portuguesa. (O código é o conjunto de signos utilizado 
para elaborar a mensagem: o emissor codifica aquilo que o receptor irá decodificar.) 
6. Contexto – a venda de um produto para um público específico, os responsáveis por 
crianças pequenas. (É o objeto ou a situação a que a mensagem se refere.)
Os elementos da comunicação foram por nós desmembrados para fins didáticos, de modo que, em 
uma situação real, o processo de comunicação envolve todos esses elementos concomitantemente, 
pois 
a comunicação confunde-se com a própria vida. Temos tanta consciência de que 
comunicamos como de que respiramos ou andamos. Somente percebemos a sua 
essencial importância quando [...] perdemos a capacidade de nos comunicar 
(BORDENAVE, 1986, p.17-9).
Também é importante ressaltar que, de acordo com a intenção do emissor, isto é, de acordo 
com a função que a linguagem irá exercer, um dos elementos da comunicação acaba por ganhar 
relevância. Melhor dizendo, cada uma das funções da linguagem centra-se em um dos elementos 
da comunicação. Jakobson, linguista russo, definiu seis funções da linguagem, a saber:
 » REFERENCIAL - enfatiza o contexto, buscando transmitir informações objetivas sobre 
ele. Exemplo: linguagem da ciência e textos jornalísticos.
 » EMOTIVA – centrada no emissor; ele imprime no texto as marcas de sua atitude pessoal: 
emoções, avaliações, opiniões. Exemplo: interjeições, “palavrões”.
 » CONATIVA – focada no destinatário, procura organizar o texto de forma que ele se 
imponha sobre o receptor da mensagem, persuadindo-o, seduzindo-o. Exemplo: 
imperativos, vocativos.
 » FÁTICA – destaca o canal, tentando verificar e fortalecer sua eficiência. Ela testa o 
contato. Exemplo: “alô”, “né”, “heim”
 » POÉTICA – privilegia a mensagem. Exemplo: a poesia, os textos publicitários.
 » METALINGUÍSTICA – ressalta o código. Exemplo: definições.
33
ENSINA-SE GRAMÁTICA • CAPÍTULO 2
No quadro abaixo, de maneira mais sistematizada, podemos observar melhor a correspondência 
existente entre os elementos tradicionais da comunicação e as funções que Jakobson (ano) 
definiu para a linguagem:
Quadro 2.
Elementos da 
Comunicação
Funções da 
Linguagem
Contexto Referencial
Emissor Emotiva
Mensagem Poética
Destinatário Conativa
Canal Fática
Código Metalinguística
Fonte: Elaborado pela autora.
Buscando aproximar a teoria da prática, retomemos a propaganda dos cookies da Piraquê citada 
anteriormente. Nela verificamos que as funções da linguagem não existem de forma estanque, 
pois, embora um determinado elemento possa, em face da intenção do autor, prevalecer; ele, 
por si só, não aparecerá sozinho no texto. Como na Química, da combinação dos elementos, 
surgem os mais diferentes efeitos. Assim, nessa propaganda, temos a combinação das funções 
emotiva, conativa e poética.
Nesta altura, acreditamos que já esteja claro para você que, na comunicação, os sentidos são 
construídos em um processo conjunto entre os interlocutores. Neste contexto, percebe-se a 
relevância que a análise do funcionamento do sistema linguístico possui para o ensino da Língua 
Portuguesa. 
Castelar de Carvalho (2000, p. 86) nos afirma que, segundo Saussure, o funcionamento do sistema 
linguístico se prende a dois eixos: o eixo associativo ou paradigmático e o eixo sintagmático. 
As relações associativas (paradigmáticas) são aquelas que derivam da seleção do falante, de sua 
escolha ao utilizar-se de um determinado termo dentre as várias imagens de seu acervo linguístico.
Por exemplo, ao se falar “A menina quer a bola bonita”, o interlocutor escolheu o vocábulo “bola” 
em vez de jogo, carrinho, brinquedo. Assim, ele selecionou, dentro do seu acervo linguístico. o 
termo que melhor lhe convinha (“bola”) in praesentia e deixou os outros in absentia.
Fora do discurso, as palavras que têm qualquer coisa em comum associam-se na 
memória, e assim se formam grupos, no seio dos quais se exercem relações muito 
diversas. Por exemplo, a palavra ausente fará surgir diante do espírito uma série 
de outras palavras (ausência, ausentar, ou então presente, clemente, ou ainda 
34
CAPÍTULO 2 • ENSINA-SE GRAMÁTICA
distante, afastado, etc.), de uma forma ou doutra, todos têm qualquer coisa de 
comum entre si. [...] O seu suporte não é a extensão; a sua sede está no cérebro, 
fazem parte do tesouro interior que a língua representa para cada indivíduo. 
Chamar-lhe-emos relações associativas (SAUSSURE, 1986, p. 208).
Já o sintagma é entendido, segundo Mattoso Camara (2001, p. 223), como “um conjugado 
binário (duas formas combinadas), em que um elemento DETERMINANTE cria um elo de 
subordinação (v.) com outro elemento, que é DETERMINADO”. Saussure (ano) complementa 
esse raciocínio quando avalia que o verbo “refazer” somente poderá ser concebido como um 
sintagma compreendendo os dois elementos “re” e “fazer”, porque existe em português um “tipo 
sintagmático” latente, manifestado também pelos verbos “recriar”, “reinventar”, “redecorar”, etc. 
Deste modo, a única forma de analisarmos o verbo “refazer” é pela junção (combinação) de dois 
sintagmas distintos que, quando unidos, produzem uma nova palavra, cuja estrutura, por meio 
de um elo de dependência, encontra-se relacionada com os dois termos originais. Senão, não 
haveria nenhuma razão para que analisássemos o termo “refazer” em duas unidades. 
Quadro 3.
PARADIGMA SINTAGMA
Escolha Combinação
Vertical Horizontal
Ausência Presença
Fonte: elaborado pela autora.
A noção de sintagma não se aplica somente às palavras, mas também aos grupos de palavras, às 
frases. Os sintagmas podem ser classificados em:
1. SINTAGMA FÔNICO – a relação de contraste entre sílabas tônicas e átonas na cadeia 
sintagmática é que possibilita a distinção de significado. Ex.: O bebê bebe leite.
2. SINTAGMA MÓRFICO – divide-se em lexical (a própria palavra primitiva ou derivada) 
e locucional. Ex.: Refazer, homem “de juízo”.
3. SINTAGMA SINTÁTICO – estabelece-se a partir da relação existente entre os diferentes 
sintagmas que compõem uma oração. Pode ser: 
a. Suboracional – é a relação de subordinação entre os diferentes sintagmas dentro da 
oração. Ex.: Relação substantivo/artigo e substantivo/adjetivo:
A MENINA quer a BOLA bonita.
35
ENSINA-SE GRAMÁTICA • CAPÍTULO 2
O artigo “a” vem a determinar que o substantivo a seguir deve estar no gênero feminino 
e no singular. Já o adjetivo “bonita” deve concordar em gênero e número com o 
substantivo a que se refere. Um sintagma são, então, palavras que vão se alinhando 
horizontalmente e se relacionando. 
b. Oracional – os sintagmas são, neste caso, palavras que, alinhando-se horizontalmente, 
relacionam-se em reciprocidade. Um exemplo muito utilizado por Chomsky (ano), 
em inglês, é o destacado abaixo. Vale lembrar que apesar de ter traduzido as frases 
para o português, é necessário prestar atenção na sintaxe das frases em inglês, pois, 
ao traduzi-las, perdem-se diferenças estruturais.
EXEMPLO A
PAUL is eager to please.
PAUL está ansioso para agradar.
EXEMPLO B
PAUL is easy to please.
PAUL é fácil de agradar.
No exemplo citado, embora as frases possuam a mesma estrutura(substantivo – 
verbo auxiliar – adjetivo – verbo no modo infinitivo), as duas são sintaticamente bem 
diferentes. Na primeira, Paul executará a ação e na segunda ele receberá esta ação. 
Pode-se observar a capacidade do falante nativo de manipular a estrutura interna 
das orações, pois, intuitivamente, organiza o seu falar de modo a respeitar as regras 
sintáticas da sua língua materna. Ele não tem consciência desses fatos. Apenas 
fala e entende perfeitamente o que é dito, percebe que os signos são organizados 
intencionalmente, não ocasionalmente.
c. Supraoracional – uma oração subordinada à outra. 
[Maria prometeu] [QUE SE DEDICARIA AO SEU IRMÃO CAÇULA.]
• Maria – sujeito determinado.
• Prometeu – verbo e núcleo do predicado verbal.
• Que se dedicaria ao seu irmão caçula – oração com valor de objeto direto.
Assim, conclui-se, então, que: 
O sintagma compõe-se sempre de duas ou mais unidades consecutivas (por 
exemplo: re-ler, a vida humana, Deus é bom, amanhã saímos, etc.). Num sintagma, 
o valor de um termo surge da oposição entre ele e o que o precede, ou que se 
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CAPÍTULO 2 • ENSINA-SE GRAMÁTICA
lhe segue, ou ambos. (SAUSSURE, 1986: 208) [...] A relação sintagmática é in 
praesentia; refere-se a dois ou mais termos igualmente presentes numa série 
efectiva. Pelo contrário, a relação associativa une termos in absentia numa série 
mnemônica virtual (SAUSSURE, 1986, p. 176).
Essas relações não se excluem, mas se complementam e nos ajudam a enxergar o ensino da 
língua portuguesa de maneira menos estanque e mais relacional.
Mas como passar toda essa teoria para o trabalho diário com a Língua Portuguesa? Vamos pensar 
mais um pouco.
Em uma conversa entre amigos, o que você diria para seu companheiro: “Sua mãe é ignorante em 
física moderna” ou “Sua mãe desconhece a física moderna”? Há alguma diferença no conteúdo 
da mensagem? Com certeza, no conteúdo não há, mas, na escolha das palavras, sim. Na segunda 
opção, existe um maior cuidado na escolha do vocábulo a ser utilizado, de modo a evitar possíveis 
constrangimentos ao amigo.
Logo, considerando a sintaxe, podemos dizer que a arrumação das palavras numa frase revela 
muito das intenções do falante. Além disso, existem desvios da norma-padrão que são propositais. 
Falando nisso, você se lembra das “figuras de linguagem”? Deve tê-las estudado formalmente por 
volta dos 14 anos de idade, mas as utiliza “desde sempre”. E já ouviu falar em “vícios de linguagem”? 
Vamos esclarecer melhor esses assuntos no próximo capítulo.
Sintetizando
Vimos até agora:
 » A gramática é o funcionamento da língua. 
 » O termo gramática engloba as regras sintáticas, morfológicas, fonológicas e semânticas que caracterizam o funcionamento 
da língua.
 » Quando a criança começa a frequentar a escola, ela já conhece a “Gramática” de sua língua materna. 
 » Os elementos da comunicação precisam ser conhecidos.
 » Cada uma das funções da linguagem, segundo Jakobson, é centrada em um dos elementos da comunicação.
 » Na comunicação, os sentidos são construídos em um processo conjunto entre os interlocutores.
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Apresentação
Neste capítulo você passará a observar a ocorrência dos chamados “vícios de linguagem”, buscando 
identificar as situações em que a utilização desses vícios compromete o próprio entendimento. 
Em sequência, veremos as “figuras de linguagem”, que embora também sejam consideradas um 
desvio em relação à norma padrão, possuem características ímpares que, utilizadas como uma 
estratégia intencional do falante, acabam por engrandecer a própria comunicação. 
Objetivos 
Esperamos que, após o estudo do conteúdo deste capítulo, você seja capaz de:
 » Reconhecer que muitas das construções utilizadas oralmente no dia a dia carecem de 
uma maior atenção quando da sua utilização em situações formais.
 » Identificar e diferenciar os desvios da norma-padrão: os vícios de linguagem e as figuras 
de linguagem.
 » Perceber que existem vícios de linguagem que podem comprometer a perfeita comunicação 
e/ou desvalorizar o falante.
 » Compreender que o desvio da norma-padrão pela utilização das figuras de linguagem 
é uma estratégia intencional do falante que realça o entendimento do seu interlocutor. 
 » Observar a adequação de cada estratégia estilística.
3
CAPÍTULO
DESVIOS DA NORMA-PADRÃO: 
UM ERRO?
38
CAPÍTULO 3 • DESVIOS DA NORMA-PADRÃO: UM ERRO
Nos capítulos anteriores, você observou que a língua escrita, embora se apresente de forma 
mais estática e elaborada, carece de alguns recursos que são inerentes à língua falada. Assim, 
percebemos que a língua escrita, dotada de um maior grau de complexidade, não possui a 
entonação e a multiplicidade de gestos e olhares, facetas particulares à língua falada que acabam 
por imprimir a esta uma maior dinamicidade e criatividade. 
Deste modo, o estudo de ambas as “línguas” é importante e precisa ser abordado na escola. 
Sabemos que a língua falada é dinâmica, mas isso não significa não há nenhuma restrição para 
a sua alteração e utilização, pois é papel da escola, conforme você já observou, transmitir a 
norma-padrão. Por isso, não é pertinente pensarmos na língua como algo que se polariza entre 
o «certo» e o «errado», mas sim em “adequado” ou “nãoadequado”. 
Desta forma, ninguém comete, a rigor, um ERRO em língua; o que acontece, normalmente, 
são DESVIOS da norma culta que podem, em certas ocasiões, prejudicar a comunicação ou 
desqualificar o falante diante da comunidade, pois, como vimos anteriormente, há um falar mais 
valorizado e reconhecido socialmente. Contudo, alguns destes desvios são extremamente comuns 
no nosso dia a dia e acontecem sem que o falante perceba, são os VÍCIOS DE LINGUAGEM. 
Neste contexto, vimos que o sujeito, ao dominar a norma-padrão, pode, muitas vezes, fazer um 
desvio proposital, que é valorizado e classificado como FIGURA DE LINGUAGEM. De forma 
contrária, os VÍCIOS DE LINGUAGEM, extremamente comuns no nosso dia a dia, acontecem 
sem que o falante perceba e são nocivos à boa comunicação. Mas como diferenciar um caso do 
outro, se ambos são desvios da norma-padrão? 
A resposta encontra-se na qualidade e na eficácia da mensagem a ser transmitida.
E por que este assunto é tão importante na formação dos professores que lecionam no primeiro 
segmento do Ensino Fundamental? Simples, é porque, na utilização da língua, existem alguns 
recursos que possuem um objetivo e um efeito específico, e você, professor de Língua Portuguesa, 
precisa ajudar o seu aluno a dominar as estratégias estilísticas do discurso, não caindo na 
armadilha dos vícios.
Assim, vamos conhecer, primeiramente, esses VÍCIOS DE LINGUAGEM que tanto podem 
prejudicar a comunicação como desvalorizar o seu usuário.
Arcaísmo
Consiste na utilização de palavras que já caíram em desuso. Nessa situação, não há uma 
desvalorização do falante, mas sim um dificultador para o entendimento da mensagem. Ex: 
VOSSA MERCÊ me permite um aparte? (em vez de VOCÊ); O BOTICÁRIO não me recomendou 
este remédio (em vez de o farmacêutico).
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DESVIOS DA NORMA-PADRÃO: UM ERRO • CAPÍTULO 3
Ambiguidade ou anfibologia
Quando a frase é construída de um modo tal que acaba por apresentar mais de um sentido. 
Ex.: Levei uma corrida do cachorro do meu irmão. (Quem correu atrás de você? Seu irmão ou o 
cachorro?); Presidente, o senhor já conversou com o governador sobre o seu plano de governo? 
(De quem é o plano? Do presidente ou do governador?)
Barbarismo
É o desvio da norma culta no que diz respeito à grafia, pronúncia, morfologia ou semântica. 
Nos dois primeiros, normalmente, não há um comprometimento com a mensagem, há apenas 
a possível desvalorização do falante. Mas os barbarismos de morfologia e semântica podem 
prejudicar o entendimento do texto.
a. Grafia 
 › “Pesquiza” (em vez de pesquisa);
 › “Adivogado” (em vez de advogado);
 › “Maizena” (em vez de maisena).
b. Pronúncia
 › “Rúbrica” (em vez de rubrica);
 › “Rúim” (em vez de ruim);
 › “Xerox” (em vez de xérox).
c. Morfologia› “Reaveu” (em vez de reouve) *
d. Semântica – erro de interpretação de sentido (ver paronímia). 
 › O iminente deputado presidiu a sessão (em vez de eminente); 
 › João comprimentou o amigo (em vez de cumprimentou); 
 › Maria soou muito durante a prova (em vez de suou). 
 › Você já ratificou seu cadastro? (em vez de retificou)
O texto abaixo, extraído do jornal A Folha de São Paulo, nos traz a explicação para o exemplo 
dado de barbarismo de morfologia. 
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CAPÍTULO 3 • DESVIOS DA NORMA-PADRÃO: UM ERRO
*Reaver e Rever
Pasquale Cipro Neto
A semelhança entre “reaver” e “rever” faz muita gente tropeçar nas flexões e/
ou no significado desses verbos [...] “Reaver” significa “tornar a haver”, ou seja, 
possuir outra vez”, “retomar a posse”, “recuperar”. [...] Por não apresentar uso em 
certas flexões, esse verbo é dado como defectivo. Seu presente do indicativo se 
resume a “nós reavemos, vós reaveis”; no presente do subjuntivo (que costuma 
originar-se da primeira pessoa do singular do presente do indicativo), sua 
conjugação simplesmente não existe. Pois bem. Alguns leitores querem que seja 
ampliada essa conversa sobre o verbo “reaver”, sobre sua “perigosa” semelhança 
com “rever”, sobre os defectivos em geral,... O espaço não comporta tudo isso de 
uma vez, por isso vamos devagar. Comecemos por “reaveu”, que, na língua culta, 
como vimos, é substituída por “reouve” (“Bogotá reouve a tranquilidade”). “SE 
A FORMA ADOTADA NO PADRÃO FORMAL É “REOUVE”, de onde as pessoas 
tiram “reaveu’?” [...] É simples: a terceira do singular do pretérito perfeito de 
“esquecer” não é “esqueceu”? A de “beber” não é “bebeu”? [...] Já percebeu, não? 
Ocorre aí o clássico fenômeno da “regularização”: guiado pelo modelo básico de 
conjugação, isto é, pelo que ocorre com a maioria dos verbos, o falante flexiona o 
verbo (“reaver”, no caso) como se ele fosse regular. Esse processo é exatamente o 
mesmo que se verifica quando as crianças dizem “eu sabo”, “eu podo”, “eu fazo”, 
“eu consego”, “eu perdo”, “eu fazi”, “eu trazi” etc. O uso de formas como “reavi” 
e “reaveu” (inexistentes no padrão formal da língua, é bom insistir) parece 
comprovar que, na prática, o verbo “reaver” talvez já esteja desconectado de seu 
“pai” (ou “mãe”), que, como se sabe, é o verbo “haver”. “Então por que não se 
acaba logo com essa frescura e não se aceitam essas formas de uma vez?”, devem 
estar perguntando alguns leitores. [..] Pois a coisa não é tão simples assim, não. O 
que conta é o uso, que, no caso das variedades formais da língua, não consagra 
flexões como “reavi”, “reaveu”, “reaveram”. A “perigosa” [..] semelhança entre 
“reaver” e “rever” faz muita gente tropeçar já no significado. “REVER” DERIVA 
DE “VER”, PORTANTO SIGNIFICA “VER OUTRA VEZ”, “VER DE NOVO”. Quem 
revê um gol vê esse gol outra vez; quem reavê um imóvel... Epa! Os leitores não 
disseram que a semelhança entre “rever” e “reaver” é perigosa? 
Ninguém “reavê” coisa alguma, embora volta e meia grandes jornais estampem 
isso em seus títulos (“Itália reavê primeiro lugar na Fifa”; “Empresa reavê imóvel 
tombado”; etc.). Já vimos que a terceira do singular do presente do indicativo de 
“reaver” é zero. No lugar da inexistente forma “reavê”, empregue-se “retoma” (ou 
“recupera” etc.). A semelhança entre “reaver” e “rever” produz também formas 
como “reaveja” (“Espera-se que a empresa reaveja sua participação no mercado”). 
No lugar da inexistente “reaveja” (existe “reveja”, flexão de “rever”), empregue-
se... Já sabe, não? Não existe flexão de “reaver” para o caso; a solução, portanto, 
é optar por outro verbo (“Espera-se que a empresa recupere sua participação 
no mercado”). É isso. 
41
DESVIOS DA NORMA-PADRÃO: UM ERRO • CAPÍTULO 3
Saiba mais
Aprofundamento sobre palavras homônimas, parônimas e homógrafas
 » Homógrafas: mesma grafia, mas com significações diferentes. A relação abaixo mostra palavras escritas de forma idêntica, 
mas possuem a sílaba tônica em posição diferente (proparoxítonas e paroxítonas). Exemplos:
crédito (substantivo)- credito (verbo)
crítica (substantivo) - critica (verbo)
cópia (substantivo) - copia (verbo)
filósofo (substantivo) - filosofo (verbo)
 » Homônimas: palavras que possuem grafia ou pronúncia igual. Exemplos: 
seção (divisão), 
cessão (ato de ceder), 
sessão (reunião, assembleia). 
 » Parônimas: palavras que possuem grafia e pronúncia parecidas. Exemplos: 
comprimento (extensão), 
cumprimento (saudação)
Solecismo
Consiste em desviar-se da norma culta na construção sintática. Ele inclui desvios na concordância, 
regência e colocação pronominal. Mas em nenhuma dessas situações há comprometimento da 
mensagem, apenas há uma desvalorização do falante. Ex.: Vamos aproveitar que SOBROU muitos 
doces e vamos congelar tudo (em vez de SOBRARAM – desvio na sintaxe de concordância); ASSISTI 
O programa que você recomendou (em vez de ASSISTI AO PROGRAMA – desvio na sintaxe de 
regência); Paulo, NÃO ESPERE-ME, porque eu não irei (em vez de NÃO ME ESPERE – desvio na 
sintaxe de colocação de pronomes). 
Cacófato
Quando juntamos duas ou mais palavras que geram mau impacto sonoro, provocando um 
sentido por vezes ridículo.
Ex: “Paguei cinco mil reais POR CADA”. ; “Você notou a boCA DELA?”; “Não tenho pretensão 
acerCA DELA”.
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CAPÍTULO 3 • DESVIOS DA NORMA-PADRÃO: UM ERRO
Eco
Trata-se da utilização de palavras com terminações iguais ou semelhantes. “A votaçÃO na eleiçÃO 
nÃO causou comoçÃO na multidÃO.”; “AlegremENTE VicENTE já não sENTE dores de dENTE 
como antigamENTE”. 
Redundância (ou pleonasmo vicioso)
Consiste na repetição desnecessária de uma ideia ou termo já expresso. Ex.: “A brisa MATINAL DA 
MANHÃ deixava-o satisfeito”; “Entra pra dentro de casa agora!”; Pedro teve uma HEMORRAGIA 
DE SANGUE.
Obscuridade
Ocorre quando o falante atrapalha-se ao elaborar sua mensagem. Assim, o destinatário pode não 
a entender ou interpretá-la erroneamente. Normalmente, as principais causas desse vício são 
orações muito longas ou demasiadamente intercaladas, o excesso de arcaísmo, palavras rebuscada, 
má pontuação. Ex.: “Nossos testes com o novo carro, que antes não tinham sido satisfatórios, 
foram realizados com outro carro que demonstrou que os reveses de hoje foram previstos”.
Diante do exposto acima, percebemos que muitas das construções por nós utilizadas na oralidade 
do cotidiano precisam ser revistas antes de serem utilizadas em situações formais. 
Até agora você viu desvios da norma-padrão que não são intencionais, mas quais seriam os 
propositais? No caso específico da redundância, por exemplo, o vício pode se transformar em uma 
linda figura de linguagem, o PLEONASMO. Tudo depende da eficácia da mensagem transmitida. 
No exemplo já apresentado “A brisa matinal da manhã”, temos um vício de linguagem, visto que 
a repetição nada trouxe de original ou de eficaz à mensagem. Contudo, em “E RIR MEU RISO 
e derramar meu pranto”, Vinicius de Morais teve a intenção de reforçar a ideia já apresentada, 
tornando-a ainda mais especial.
Nicola (1990, p. 431) nos lembra de que, na “linguagem humana, uma mesma palavra pode ter seu 
significado ampliado, remetendo-nos a novos conceitos por meio de associações, dependendo 
de sua colocação numa determinada frase.” Assim, podemos dizer que, quando utilizamos uma 
palavra com sua significação básica, estamos falando denotativamente e, ao considerarmos o 
contexto ou o(s) sentido(s) que a palavra possui em suas representações secundárias, falamos 
conotativamente. Exemplo:
43
DESVIOS DA NORMA-PADRÃO: UM ERRO • CAPÍTULO 3
 João machucou o seu rosto/face (denotação).
João quebrou a cara
 João se saiu mal (conotação).
Fonte: elaborado pela autora.
Tornando conscientes nossas estratégias estilísticas, poderemos ajudar nossos alunos a 
utilizá-las com maior eficiência. Assim, é importante lembrar que as FIGURAS DE LINGUAGEM 
se dividem em três grupos distintos: figuras de construção ou de sintaxe, figuras de pensamento 
e figuras de palavra. 
Figuras de construção

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