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Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria -----Met����is�� �� Car����ra���----- Muitas das reações químicas nas células têm como objetivo tornar a energia dos alimentos disponível para os vários sistemas fisiológicos da célula. Todos os alimentos energéticos (carboidratos, gorduras e proteínas) podem ser oxidados nas células, e durante esse processo, grande quantidade de energia é liberada. Os dois estados funcionais durante os quais o corpo fornece energia para as atividades celulares são o: ● estado absortivo, durante o qual os nutrientes no sistema digestório entram na corrente sanguínea. ● estado pós-absortivo, durante o qual o sistema digestório não contém nutrientes, e a energia tem de ser suprida pelas próprias reservas do corpo. > Estado absortivo Alguns dos carboidratos absorvidos pelo sistema digestório são a galactose e a frutose. Esses açúcares são convertidos em glicose pelo fígado ou entram essencialmente nas mesmas vias metabólicas que a glicose. A glicose constitui a principal fonte de energia do corpo durante o estado absortivo. Grande parte da glicose absorvida entra nas células, onde é catabolizada a dióxido de carbono e água, liberando, no processo, a energia que é utilizada na formação de ATP. O músculo esquelético constitui a maior parte da massa corporal, de modo que ele é o principal consumidor de glicose, mesmo em repouso. O músculo esquelético não apenas cataboliza a glicose durante o estado absortivo, mas também converte parte da glicose no polissacarídeo glicogênio, que, em seguida, é armazenado nas células musculares para uso futuro. As células do tecido adiposo (adipócitos) também catabolizam a glicose para fornecer energia; entretanto, o destino mais importante da glicose nos adipócitos durante o estado absortivo é a sua transformação em gordura (triglicerídeos). A glicose é o precursor tanto do glicerol 3-fosfato quanto dos ácidos graxos, e, em seguida, essas moléculas ligam-se 1 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria entre si para formar os triglicerídeos, que são armazenados na célula. Outra fração grande da glicose absorvida entra nas células hepáticas. Este é um ponto muito importante: Durante o estado absortivo, ocorre captação efetiva de glicose pelo fígado. A glicose é armazenada na forma de glicogênio, como no músculo esquelético, ou é transformada em glicerol 3-fosfato e ácidos graxos, que são então utilizados na síntese de triglicerídeos, como ocorre no tecido adiposo. A maior parte da gordura sintetizada a partir da glicose no fígado é acondicionada, juntamente com proteínas específicas, em agregados moleculares de lipídios e proteínas, que pertencem à classe geral de partículas conhecidas como lipoproteínas. Esses agregados são secretados pelas células hepáticas e entram na corrente sanguínea. Nesse caso, são denominados lipoproteínas de densidade muito baixa (VLDL), visto que contêm muito mais gordura do que proteína, e a gordura é menos densa que a proteína. A síntese de VLDL pelas células hepáticas ocorre por processos semelhantes aos da síntese de quilomícrons pelas células da mucosa intestinal. Em virtude de seu grande tamanho, as VLDL no sangue não penetram facilmente nas paredes dos capilares. Em vez disso, seus triglicerídeos são hidrolisados principalmente a monoglicerídeos (glicerol ligado a um ácido graxo) e a ácidos graxos pela enzima lipoproteína lipase. Essa enzima está localizada na superfície das células endoteliais capilares voltadas para o sangue, particularmente aquelas do tecido adiposo. Nos capilares do tecido adiposo, os ácidos graxos produzidos pela ação da lipoproteína lipase sofrem difusão dos capilares para dentro dos adipócitos. Nos adipócitos, combinam-se com o glicerol 3-fosfato, suprido pelos metabólitos da glicose, para formar mais uma vez triglicerídeos. 2 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria Em consequência, a maior parte dos ácidos graxos nos triglicerídeos da VLDL originalmente sintetizados a partir da glicose pelo fígado acaba sendo armazenada na forma de triglicerídeos no tecido adiposo. Alguns dos monoglicerídeos formados no sangue pela ação da lipoproteína lipase nos capilares do tecido adiposo também são captados por adipócitos, onde as enzimas podem ligar novamente os ácidos graxos aos dois átomos de carbono disponíveis do monoglicerídeo, resultando na formação de um triglicerídeo. Além disso, alguns dos monoglicerídeos são transportados pelo sangue até o fígado, onde são metabolizados. Para resumir, os principais destinos da glicose durante a fase absortiva são: ● utilização para energia, ● armazenamento na forma de glicogênio no fígado e no músculo esquelético, ● armazenamento na forma de gordura no tecido adiposo. > Estado pós-absortivo Quando o estado absortivo termina, a síntese efetiva de glicogênio cessa e começa a ocorrer o catabolismo efetivo de todas essas substâncias. A importância global desses eventos pode ser compreendida em termos do problema essencial observado durante o estado pós-absortivo: não está havendo nenhuma absorção de glicose pelo sistema digestório; contudo, a concentração plasmática de glicose precisa ser mantida homeostaticamente, visto que o sistema nervoso central normalmente só utiliza glicose como fonte de energia. Se a concentração plasmática de glicose diminuir de modo excessivo, aparecem alterações na atividade neural, que incluem desde comprometimento sutil da função mental até convulsões, coma e até mesmo morte. Os eventos que mantêm a concentração plasmática de glicose são divididos em duas categorias: ● reações que fornecem fontes de glicose sanguínea; ● utilização celular da gordura para energia, “preservando”, assim, a glicose. Fontes de glicose sanguínea: Glicogenólise, que se refere à hidrólise das reservas de glicogênio em monômeros de glicose 6-fosfato, ocorre no fígado. Em seguida, a glicose 6-fosfato é convertida enzimaticamente em glicose que entra então no sangue. A glicogenólise hepática começa dentro de poucos segundos após um estímulo apropriado, como ativação do sistema nervoso simpático. Em consequência, constitui a primeira linha de defesa para manter a 3 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria concentração plasmática de glicose dentro de uma faixa homeostática. Entretanto, a quantidade de glicose disponível a partir dessa fonte pode suprir as necessidades do corpo por apenas algumas horas até que o glicogênio hepático sofra depleção quase completa. Ocorre também glicogenólise no músculo esquelético, que contém aproximadamente a mesma quantidade de glicogênio que o fígado. Todavia, diferentemente do fígado, as células musculares carecem da enzima necessária para formar glicose a partir da glicose 6-fosfato produzida durante a glicogenólise; por conseguinte, o glicogênio muscular não constitui uma fonte de glicose sanguínea. Em vez disso, a glicose 6-fosfato sofre glicólise dentro das células musculares, produzindo ATP, piruvato e lactato. O ATP e o piruvato são usados diretamente pela célula muscular. Entretanto, uma determinada quantidade de lactato entra no sangue, circula até o fígado e é utilizada para sintetizar glicose, que, em seguida, pode deixar as células hepáticas para entrar na corrente sanguínea. Por conseguinte, o glicogênio muscular contribui indiretamente para a glicose sanguínea por meio do processamento hepático do lactato. O catabolismo dos triglicerídeos no tecido adiposo produz glicerol e ácidos graxos, um processo denominado lipólise. Em seguida, o glicerol e os ácidos graxos entram na corrente sanguínea por difusão. O glicerol que alcança o fígado é utilizado na síntesede glicose. Por conseguinte, uma importante fonte de glicose durante o estado pós-absortivo é constituída pelo glicerol liberado quando os triglicerídeos do tecido adiposo são degradados. Dentro de poucas horas após o início do estado pós-absortivo, a proteína passa a constituir outra fonte de glicose sanguínea. Grandes quantidades de proteínas no músculo e em outros tecidos podem ser catabolizadas, sem causar disfunção celular grave. Naturalmente, existem limites para esse processo, e a perda continuada de proteína durante um jejum prolongado significa, em última análise, uma ruptura da função celular, doença e morte. Entretanto, antes que esse ponto seja alcançado, a degradação das proteínas pode fornecer grandes quantidades de aminoácidos. Esses aminoácidos entram na corrente sanguínea e são captados pelo fígado, onde alguns podem ser metabolizados a glicose pela via dos α-cetoácidos. Em 4 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria seguida, essa glicose é liberada no sangue. A síntese de glicose a partir de precursores como os aminoácidos e o glicerol é conhecida como gliconeogênese. > Liberação de energia da glicose pela via glicolítica Como a oxidação completa de 1 grama-mol de glicose libera 686.000 calorias de energia e apenas 12.000 calorias de energia são necessárias para formar 1 grama-mol de ATP, energia seria desperdiçada se a glicose fosse decomposta de uma só vez em água e dióxido de carbono, enquanto formasse apenas uma única molécula de ATP. Felizmente, as células do corpo contêm enzimas que fazem com que a molécula de glicose se divida em muitas etapas sucessivas, de modo que sua energia seja liberada em pequenas quantidades para formar uma molécula de ATP por vez, formando, assim, um total de 38 moles de ATP para cada mol de glicose metabolizado pelas células. Glicólise, clivagem da glicose para formar ácido pirúvico: De fato, o meio mais importante de liberação de energia da glicose é iniciado pela glicólise. Os produtos finais da glicólise são então oxidados para fornecer energia. A glicólise significa divisão da molécula de glicose para formar duas moléculas de ácido pirúvico. A glicólise ocorre por 10 reações químicas sucessivas. Cada etapa é catalisada por pelo menos uma enzima específica. Observe que a glicose é primeiramente convertida em frutose-1,6-difosfato e então fracionada em duas moléculas com três átomos de carbonos, o gliceraldeído-3-fosfato, e cada uma delas é então convertida, em mais cinco etapas adicionais, em ácido pirúvico. Formação de ATP durante a glicólise: Apesar de muitas reações químicas na série glicolítica, apenas uma pequena porção da energia livre na molécula de glicose é liberada na maioria das etapas. Um total de 4 mol de ATP são formados para cada mol de frutose-1,6-difosfato que se divide em ácido pirúvico. No entanto, 2 moles de ATP são necessários para fosforilar a glicose original para formar frutose-1,6-difosfato antes da glicólise poder começar. Assim, o ganho líquido em moléculas de ATP por todo o processo glicolítico é de apenas 2 moles para cada mol de glicose utilizado. Conversão do ácido pirúvico em acetil coenzima A: O próximo estágio na degradação da glicose é uma conversão em duas etapas das duas moléculas de ácido pirúvico em duas moléculas de acetil coenzima A (acetil-CoA). Nessa conversão, nenhum ATP é formado. 5 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria Ciclo do ácido cítrico (ciclo de Krebs): O próximo passo na degradação da molécula de glicose é chamado de ciclo do ácido cítrico (também chamado de ciclo de Krebs). O ciclo do ácido cítrico é uma sequência de reações químicas em que a porção acetil do acetil-CoA é degradada em dióxido de carbono e átomos de hidrogênio. Todas essas reações ocorrem na matriz da mitocôndria. Os átomos de hidrogênio liberados aumentam o número desses átomos que serão posteriormente oxidados, liberando enormes quantidades de energia para formar ATP. O ciclo do ácido cítrico, por si só, não causa a liberação de grande quantidade de energia; uma molécula de ATP é formada em apenas uma das reações químicas – durante a transformação do ácido α-cetoglutárico em ácido succínico. Como já observado, os átomos de hidrogênio são liberados durante diferentes reações químicas do ciclo a partir do ácido cítrico – 4 átomos de hidrogênio durante a glicólise, 4 durante a formação de acetil-CoA a partir do ácido pirúvico e 16 no ciclo do ácido cítrico; assim, um total de 24 átomos de hidrogênio são liberados para cada molécula original de glicose. No entanto, os átomos de hidrogênio não são simplesmente soltos no líquido intracelular. Em vez disso, eles são liberados de dois em dois, e, em cada caso, a liberação é catalisada por uma enzima proteína específica chamada desidrogenase. Vinte dos 24 átomos de hidrogênio imediatamente se combinam 6 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria com a nicotinamida adenina dinucleotídeo (NAD +). Essa reação não ocorrerá sem a intermediação da desidrogenase específica ou sem a disponibilidade de NAD + para atuar como um carreador de hidrogênio. Tanto o íon hidrogênio livre quanto o hidrogênio ligado ao NAD + entram, a seguir, em múltiplas reações químicas oxidativas que formam grandes quantidades de ATP. Referindo-se novamente às reações químicas do ciclo do ácido cítrico, bem como daqueles para a formação de acetil-CoA a partir do ácido pirúvico, descobrimos que existem três estágios em que o dióxido de carbono é liberado. Para causar a liberação de dióxido de carbono, outras enzimas proteicas específicas, chamadas descarboxilases, separam o dióxido de carbono de seu substrato. O dióxido de carbono é então dissolvido nos fluidos corporais e transportado para os pulmões, onde é eliminado do corpo pela expiração. Formação de grandes quantidades de ATP pela oxidação do hidrogênio | Processo de fosforilação oxidativa: Apesar de todas as complexidades da glicólise, do ciclo do ácido cítrico, desidrogenação e descarboxilação, pequenas quantidades de ATP são formadas durante todos esses processos. Em vez disso, quase 90% do ATP total criado pelo metabolismo da glicose é formado durante a oxidação dos átomos de hidrogênio que foram liberados em estágios iniciais de degradação da glicose. Na verdade, a principal função de todos esses estágios iniciais é fazer com que o hidrogênio da molécula de glicose fique disponível de maneira que possa ser oxidado. A oxidação do hidrogênio é realizada por uma série de reações catalisadas enzimaticamente na mitocôndria. Essas reações ● separam cada átomo de hidrogênio em um íon hidrogênio e um elétron ● usam os elétrons eventualmente para combinar o oxigênio dissolvido dos fluidos com moléculas de água para formar íons hidroxila. Em seguida, os íons hidrogênio e hidroxila se combinam entre si para formar água. Durante essa sequência de reações oxidativas, enormes quantidades de energia são liberadas para formar ATP. A formação de ATP dessa maneira é chamada de fosforilação oxidativa, que ocorre inteiramente na mitocôndria por um processo altamente especializado denominado mecanismo quimiosmótico. 7 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria A primeira etapa da fosforilação oxidativa na mitocôndria é ionizar os átomos de hidrogênio que foram removidos dos substratos alimentares. Os elétrons que são removidos dos átomos de hidrogênio para fazer a ionização de hidrogênio entram imediatamente em uma cadeia de transporte de elétrons para aceptores de elétrons que é parte integrante da membrana interna pregueada (a crista mitocondrial) das mitocôndrias. Os aceptores de elétrons podem ser reduzidos ou oxidadosde modo reversível, pela aceitação ou desistência de elétrons. Cada elétron é transportado de um desses aceptores para o próximo até que finalmente alcance o citocromo A3, que é chamado de citocromo oxidase porque é capaz de ceder 2 elétrons e, assim, reduzir o oxigênio elementar para formar oxigênio iônico, que então se combina com íons hidrogênio para formar água. À medida que os elétrons passam pela cadeia de transporte de elétron, grandes quantidades de energia são liberadas. Essa energia é utilizada para bombear íons hidrogênio da matriz interna da mitocôndria para dentro da câmara externa entre às membranas mitocondriais interna e externa (à esquerda). Esse processo cria uma alta concentração de íons hidrogênio carregados positivamente nessa câmara; também cria um forte potencial elétrico negativo na matriz interna. A próxima etapa na fosforilação oxidativa é converter ADP em ATP. Essa conversão ocorre em conjunto com essa enzima chamada ATP sintetase. A alta concentração de íons hidrogênio carregados positivamente na câmara externa e a grande diferença de potencial elétrico através da membrana interna fazem com que os íons hidrogênio flutuam para a matriz mitocondrial interna através da própria molécula de ATPase. Ao fazer isso, a energia derivada desse fluxo de íons hidrogênio é usada pela ATPase para converter ADP em ATP. A etapa final no processo é a transferência do ATP do interior da mitocôndria de volta ao citoplasma da célula. Essa etapa ocorre por difusão facilitada para fora, através da membrana interna e, em seguida, por difusão simples através da membrana mitocondrial externa permeável. Liberação anaeróbica de energia | Glicólise anaeróbica: Ocasionalmente, o oxigênio se torna indisponível ou insuficiente, assim, a fosforilação oxidativa não pode ocorrer. Ainda mesmo sob essas condições, uma pequena quantidade de energia pode ser liberada para as células pelo estágio da glicólise de degradação dos carboidratos, pois as reações químicas para a quebra da 8 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria glicose em ácido pirúvico não requerem oxigênio. Essa liberação de energia glicolítica para as células, que é chamada de energia anaeróbica, pode salvar vidas durante alguns minutos, em situações nas quais o oxigênio se torna indisponível. > Diabetes Mellitus tipo 1 O diabetes mellitus tipo 1 (DM1) é uma doença autoimune, poligênica, decorrente de destruição das células β pancreáticas, ocasionando deficiência completa na produção de insulina. Subdivide-se em DM tipo 1A e DM tipo 1B, a depender da presença ou da ausência laboratorial de autoanticorpos circulantes, respectivamente. Diabetes mellitus tipo 1A: Forma mais frequente de DM1, confirmada pela positividade de um ou mais autoanticorpos. Em diferentes populações, descreve-se forte associação com antígeno leucocitário humano (human leukocyte antigen, HLA) DR3 e DR4. Embora sua fisiopatologia não seja totalmente conhecida, envolve, além da predisposição genética, fatores ambientais que desencadeiam a resposta autoimune. Entre as principais exposições ambientais associadas ao DM1 estão infecções virais, componentes dietéticos e certas composições da microbiota intestinal. Os marcadores conhecidos de autoimunidade são: anticorpo anti-ilhota (islet cell antibody, ICA), auto anticorpo anti-insulina (insulin autoantibody, IAA), anticorpo anti descarboxilase do ácido glutâmico (anti-GAD 65), anticorpo anti tirosina-fosfatase IA-2 e IA-2B e anticorpo anti transportador de zinco (Znt8). Geralmente, esses autoanticorpos precedem a hiperglicemia por meses a anos, durante um estágio pré-diabético. Quanto maior o número de autoanticorpos presentes e mais elevados seus títulos, maior a chance de o indivíduo desenvolver a doença. Na fase clinicamente manifesta do DM1, o início é, em geral, abrupto, podendo ser a cetoacidose diabética a primeira manifestação da doença em um terço dos casos. Embora a maioria dos pacientes com DM1 tenha peso normal, a presença de sobrepeso e obesidade não exclui o diagnóstico da doença. O DM1 é bem mais frequente na infância e na adolescência, mas pode ser diagnosticado em adultos, que podem desenvolver uma forma lentamente 9 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria progressiva da doença, denominada latent autoimmune diabetes in adults (LADA). Diabetes mellitus tipo 1B: A denominação 1B, ou idiopática, é atribuída aos casos de DM1 nos quais os autoanticorpos não são detectáveis na circulação. O diagnóstico apresenta limitações e pode ser confundido com outras formas de DM diante da negatividade dos autoanticorpos circulantes, de modo concomitante com a necessidade precoce de insulinoterapia plena. As recomendações terapêuticas são as mesmas do DM tipo 1A e não há evidências de riscos distintos para as complicações crônicas entre os subtipos. Tratamento: O tratamento de crianças e adolescentes com DM1 deve considerar características únicas dessa faixa etária, como mudanças na sensibilidade à insulina relacionadas à maturidade sexual e ao crescimento físico, capacidades de iniciar o autocuidado, supervisão na assistência à infância e escola, além de uma vulnerabilidade neurológica a hipoglicemia e, possivelmente, hiperglicemia, bem como a cetoacidose diabética. A terapêutica do DM1, historicamente, segue a tríade composta por insulina, alimentação e atividade física. Como o DM1 se caracteriza por produção insuficiente de insulina, o tratamento medicamentoso depende da reposição desse hormônio, utilizando-se de esquemas e preparações variados e estabelecendo-se “alvos glicêmicos” pré e pós-prandiais para serem alcançados. Em todas as faixas etárias, a reposição da insulina deve tentar atingir o perfil mais próximo possível do fisiológico. Apesar de existirem recomendações de metas glicêmicas para o controle do DM, é importante enfatizar a necessidade de individualização dos objetivos glicêmicos, evitando-se tanto sequelas de hipoglicemias quanto alterações no sistema nervoso central decorrentes de hiperglicemias alternadas com hipoglicemias. O tratamento com insulina deve ser iniciado o mais rápido possível após o diagnóstico (geralmente dentro das 6 horas, em caso de cetonúria), para prevenir a descompensação metabólica e a cetoacidose diabética (CAD). Algumas condições relacionadas à faixa etária devem ser lembradas e consideradas na montagem do esquema terapêutico. Os adolescentes, por exemplo, costumam apresentar esquemas alimentares que fogem à rotina, com maior dificuldade de controle metabólico e, frequentemente, maior risco de hipoglicemias graves alternadas com hiperglicemias, sendo de grande 10 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria importância tentar incentivar a motivação e o conhecimento. Alternativamente, pode-se instituir o tratamento intensivo com o uso de bombas de infusão de insulina, no qual a única insulina utilizada é a ultrarrápida. Constitui-se no mais fisiológico meio de administração de insulina no sistema basal-bolus e que mais proximamente simula o padrão de secreção de insulina pela ilhota pancreática, além de possibilitar maior flexibilidade na administração de insulina e reduzir a variabilidade glicêmica quando corretamente utilizada. > Diabetes Mellitus tipo 2 O diabetes mellitus tipo 2 (DM2) corresponde a 90 a 95% de todos os casos de DM. Possui etiologia complexa e multifatorial, envolvendo componentes genético e ambiental. Geralmente, o DM2 acomete indivíduos a partir da quarta década de vida, embora se descreva, em alguns países, aumento na sua incidência em crianças e jovens. Trata-se de doença poligênica, com forte herança familiar, ainda não completamente esclarecida, cuja ocorrência tem contribuição significativa de fatores ambientais.Dentre eles, hábitos dietéticos e inatividade física, que contribuem para a obesidade, destacam-se como os principais fatores de risco. O desenvolvimento e a perpetuação da hiperglicemia ocorrem concomitantemente com hiperglucagonemia, resistência dos tecidos periféricos à ação da insulina, aumento da produção hepática de glicose, disfunção incretínica, aumento de lipólise e consequente aumento de ácidos graxos livres circulantes, aumento da reabsorção renal de glicose e graus variados de deficiência na síntese e na secreção de insulina pela célula β pancreática. Sua fisiopatologia, diferentemente dos marcadores presentes no DM1, não apresenta indicadores específicos da doença. Em pelo menos 80 a 90% dos casos, associa-se ao excesso de peso e a outros componentes da síndrome metabólica. Na maioria das vezes, a doença é assintomática ou oligossintomática por longo período, sendo o diagnóstico realizado por dosagens laboratoriais de rotina ou manifestações das complicações crônicas. Com menor frequência, indivíduos com DM2 apresentam sintomas clássicos de hiperglicemia (poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento inexplicado). Raramente a cetoacidose diabética consiste na manifestação inicial do DM2. Os consagrados fatores de risco para DM2 são: história familiar da doença, 11 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria avançar da idade, obesidade, sedentarismo, diagnóstico prévio de pré-diabetes ou diabetes mellitus gestacional (DMG) e presença de componentes da síndrome metabólica, tais como hipertensão arterial e dislipidemia. Tratamento: No momento do diagnóstico de diabetes mellitus tipo 2 (DM2), além de orientar mudanças no estilo de vida (educação em saúde, alimentação e atividade física), o médico costuma prescrever um agente antidiabético oral. A escolha desse medicamento baseia-se nos seguintes aspectos: mecanismos de resistência à insulina (RI), falência progressiva da célula beta, múltiplos transtornos metabólicos (disglicemia, dislipidemia e inflamação vascular) e repercussões micro e macrovasculares que acompanham a história natural do DM2. Indica-se o início de uso dos agentes antidiabéticos quando os valores glicêmicos encontrados em jejum e/ ou pós-prandiais estão acima dos requeridos para o diagnóstico de diabetes. Os agentes antidiabéticos orais são medicamentos que reduzem a glicemia, a fim de mantê-la em níveis normais. Sob esse conceito amplo, de acordo com o mecanismo de ação principal, os antidiabéticos podem ser agrupados do seguinte modo: ● aqueles que incrementam a secreção pancreática de insulina (sulfonilureias e glinidas); ● os que reduzem a velocidade de absorção de glicídios (inibidores das alfa glucosidases); ● os que diminuem a produção hepática de glicose (biguanidas) ● os que aumentam a utilização periférica de glicose (glitazonas); ● aqueles que exercem efeito incretínico mediado pelos hormônios GLP-1 e GIP (peptídeo inibidor gástrico), considerados peptídicos insulinotrópicos dependentes de glicose. ! Esses fármacos incretinomiméticos são capazes de aumentar a secreção de insulina apenas quando a glicemia se eleva. Em contrapartida, controlam o incremento inadequado do glucagon pós-prandial observado nos pacientes com diabetes. 12 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria Por fim, existem aqueles que inibem o contratransporte sódio/glicose nos túbulos proximais dos rins. Essa nova classe de fármacos – inibidor do cotransportador de sódio/ glicose tipo 2 (sodium/glucose cotransporter 2, SGLT2) – reduz a glicemia pela inibição da reabsorção de glicose nos rins, promovendo glicosúria. Dessa maneira, pode controlar a glicemia independentemente da secreção e da ação da insulina, com consequente menor risco de hipoglicemia, podendo favorecer a perda de peso. Com finalidade prática, os antidiabéticos são classificados em quatro categorias: ● Os que aumentam a secreção de insulina (hipoglicemiantes); ● Os que não aumentam a secreção de insulina (anti- -hiperglicemiantes); ● Os que aumentam a secreção de insulina de maneira dependente da glicose, além de promover a supressão do glucagon; ● Os que promovem glicosúria (sem relação com a secreção de insulina). > Diabetes mellitus gestacional (DMG) É definido, pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como uma intolerância aos carboidratos de gravidade variável, que se inicia durante a gestação atual e não preenche os critérios diagnósticos de diabetes mellitus franca. É o problema metabólico mais comum na gestação e tem prevalência em 3 a 25% das gestações, dependendo do grupo étnico, da população e do critério diagnóstico utilizado. A incidência de DMG tem aumentado em paralelo com o aumento do DM2 e da obesidade na população. Geralmente se desenvolve perto do 3º trimestre de gravidez devido a uma resistência à insulina provocada pelos hormônios da gestação. Este tipo de diabetes normalmente desaparece depois do parto e, raramente, gera sintomas, embora, em alguns casos, possa surgir visão turva e muita sede. Isso porque no terceiro trimestre de gravidez há aumento das demandas nutricionais, de forma que a mãe passa a comer mais carboidratos para fornecer quantidades ideais de glicose adequadas para o bebê, havendo ao mesmo tempo regulação da glicemia pela insulina. No entanto, devido aos hormônios da gravidez, a produção de insulina pelo pâncreas pode ficar suprimida, de forma que esse órgão não é capaz de aumentar os níveis de insulina produzidos, o que faz com que exista maior quantidade de açúcar no sangue, resultando no desenvolvimento da diabetes. 13 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria Essa situação é mais frequente de acontecer em mulheres que têm mais de 35 anos, possuem sobrepeso ou obesidade, têm acúmulo de gordura na região abdominal, possuem baixa estatura ou são portadoras da síndrome do ovário policístico. Tratamento: Evidências sugerem que a intervenção em gestantes com DMG pode diminuir a ocorrência de eventos adversos na gravidez. O tratamento inicial do DMG consiste em orientação alimentar que permita ganho de peso adequado e controle metabólico. O cálculo do valor calórico total da dieta deve ser feito de acordo com o índice de massa corporal (IMC). A dieta com baixo índice glicêmico no DMG se associou à diminuição da necessidade de indicar o uso de insulina e menor ganho de peso ao nascer. A prática de atividade física deve fazer parte do tratamento do DMG, respeitando-se as contra indicações obstétricas. Recomenda-se o monitoramento das glicemias capilares pré e pós-prandiais quatro a sete vezes por dia, especialmente nas gestantes que usam insulina. Após 2 semanas de dieta, se os níveis glicêmicos permanecerem elevados (jejum ≥ 95 mg/dL e 1 hora pós-prandial ≥ 140 mg/dL ou 2 horas pós-prandiais ≥ 120 mg/dL), deve-se iniciar tratamento farmacológico. O critério de crescimento fetal para início da insulinoterapia é uma alternativa quando a medida da circunferência abdominal fetal for igual ou superior ao percentil 75 em uma ecografia realizada entre a 29a e a 33a semanas de gestação. A dose inicial de insulina é de 0,5 U/kg, com ajustes individualizados para cada caso. Em geral, associam-se às insulinas humanas de ações intermediárias e rápidas. Em relação ao uso de antidiabéticos orais na gravidez, número crescente de estudos não mostra efeitos deletérios materno-fetais do uso da metformina na gestação. A insulina é a primeira escolha na terapêutica medicamentosa para controle glicêmico no período gestacional, devido à sua eficácia comprovada e à pequena passagem placentária. As gestantes com ótimo controle metabólico e que não apresentam antecedentes obstétricos de morte perinatal, macrossomia ou complicações associadas, como hipertensão,podem aguardar a evolução espontânea para o parto até o termo. Não se indica cesariana em razão do DMG, sendo a via de parto uma decisão obstétrica. 14 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria No primeiro dia após o parto, os níveis de glicemia devem ser observados, suspendendo-se a insulina basal. Orienta-se também a manutenção de uma dieta saudável. A maioria das mulheres apresenta normalização das glicemias nos primeiros dias após o parto. Ainda, deve-se estimular o aleitamento materno que, além dos benefícios ao bebê, está associado à prevenção do diabetes tipo 2 em mulheres com histórico de DMG. > Diabetes Insipidus Central O diabetes insípido resulta de uma deficiência de vasopressina [hormônio antidiurético (ADH)] decorrente de doença hipotalâmica-hipofisária (diabetes insípido central). O diabetes insípido central pode ser: ● Total (ausência de vasopressina) ● Parcial (quantidades insuficientes de vasopressina) Anormalidades genéticas do gene da vasopressina no cromossomo 20 são responsáveis pelas formas autossômicas dominantes do diabetes insípido central primário, mas muitos casos são idiopáticos. O diabetes insípido central também pode ser secundário (adquirido), causado por várias lesões, como hipofisectomia, lesões cranianas (particularmente as fraturas da base do crânio), tumores supra e intrasselares (primários ou metastáticos), hipofisite linfocítica e etc. O início do diabetes insípido central pode ser insidioso ou súbito, ocorrendo em qualquer idade. Os únicos sintomas do diabetes insípido central primário são a polidipsia e a poliúria. No diabetes insípido central secundário, também ocorrem sinais e sintomas das lesões associadas. Grandes quantidades de líquidos podem ser ingeridas e grandes volumes de urina muito diluída são excretados. Noctúria quase sempre ocorre. Desidratação e hipovolemia podem se desenvolver rapidamente se as perdas urinárias não forem continuamente repostas. Tratamento: O diabetes insípido central pode ser tratado com reposição hormonal e tratamento das causas corrigíveis. A ausência de tratamento apropriado pode causar lesão renal permanente. A desmopressina, um análogo sintético da vasopressina com propriedades vasoconstritoras mínimas, apresenta atividade anti diurética prolongada durante 12 a 24 horas na maioria dos pacientes e pode ser administrada por via intranasal, subcutânea, intravenosa ou oral. ! Superdosagem pode causar retenção de líquidos e diminuição da osmolalidade plasmática, possivelmente resultando em convulsões em crianças pequenas. Os diuréticos tiazídicos, paradoxalmente, reduzem o volume urinário no diabetes insípido central (e no diabetes insípido 15 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria nefrogênico) parcial e total, primariamente como consequência da redução do volume extracelular e do aumento da reabsorção tubular proximal. Clorpropamida, carbamazepina e clofibrato podem reduzir ou eliminar a necessidade de vasopressina em alguns pacientes com diabetes insípido central parcial. Nenhuma é eficaz para diabetes insípido nefrogênico. Clorpropamida, 3 a 5 mg/kg por via oral 1 ou a cada 12 horas, causa alguma liberação da vasopressina e também potencializa a ação da vasopressina nos rins. Inibidores de prostaglandinas são modestamente eficazes. Eles podem reduzir o volume urinário, mas geralmente por não mais que 10 a 25%, talvez reduzindo o fluxo sanguíneo renal e a taxa de filtração glomerular (TFG). > Diabetes Insipidus Nefrogênica O diabetes insipidus nefrogênico (DIN) é uma doença rara caracterizada pela incapacidade do rim de concentrar a urina, a despeito de concentrações normais ou aumentadas do hormônio antidiurético arginina vasopressina (AVP). Em geral, a doença é caracterizada por início na infância, história familiar positiva, sede persistente, poliúria e hipostenúria resistente à administração de vasopressina. Pode ser primária (familiar), sendo uma patologia congênita e rara, apenas documentada numa família de Husky, manifestando-se entre 8 e 12 semanas de idade. A DIN secundária (adquirida) é a mais comum e consiste na manifestação de uma outra patologia subjacente que ao ser eliminada permite a resolução da maioria das DIN. Assim, existem várias patologias renais e metabólicas que por interferirem na interação entre a ADH e os seus receptores nos túbulos renais, perturbaram a síntese de adenosina monofosfato cíclico (AMPc) intracelular ou levarem a perda do gradiente de concentração na medula renal podem causar DIN. Entre os sinais clínicos da DI estão: polidipsia, incontinência urinária, noctúria e sinais neurológicos em casos de neoplasias hipofisárias ou cerebrais e trauma craniano (desorientação, cegueira, comportamentos bizarros, convulsões). Tratamento: Para prevenir a desidratação, as pessoas que sofrem de diabetes insipidus nefrogênico devem beber sempre quantidades suficientes de água assim que sentirem sede. Por vezes, são utilizados medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) e diuréticos tiazídicos para tratar este distúrbio. Os AINEs e os diuréticos tiazídicos atuam por meio de mecanismos diferentes para aumentar as quantidades de sódio e água que são reabsorvidos 16 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria pelo rim. Essas alterações diminuem o volume de urina. > Diabetes tipo MODY O MODY é definido como um diabetes familiar com idade de diagnóstico precoce (infância, adolescência ou adultos jovens) e modo de transmissão autossômico-dominante (revelado pela presença de três gerações de mesma linhagem afetadas) associado a defeitos no âmbito da secreção de insulina. Em relação à idade precoce do diagnóstico, existe uma tendência clássica de considerar como suspeito aquele indivíduo cujo diagnóstico da hiperglicemia tenha sido feito antes dos 25 anos de idade. Como as mutações nos genes MODY têm um forte impacto no fenótipo (alta penetrância), 95% dos indivíduos nascidos com uma mutação MODY serão diabéticos ou apresentarão alterações glicêmicas até os 55 anos de idade. Tratamento: A diabetes MODY 3 e MODY 1 podem ser tratadas com recurso a terapêutica oral em fases iniciais, podendo, no entanto, necessitar de insulinoterapia consoante a sua evolução. Já a diabetes MODY 2, uma vez que apresenta uma hiperglicemia ligeira, apenas está sujeita a vigilância clínica. > Diabetes insipidus gestacional O diabetes insipidus gestacional é uma condição rara, mas que pode acontecer por volta do terceiro trimestre da gestação devido a produção de uma enzima pela placenta, que destrói o hormônio ADH da mulher, levando ao aparecimento dos sintomas. No entanto, é uma doença que ocorre apenas durante a gravidez, normalizando em torno de 4 a 6 semanas após o parto. > Diabetes Insipidus Teste de privação hídrica: Coleta sequencial de amostras de sangue e urina. Diagnosticar diabetes insipidus (DI) e diferenciar o DI craniano do DI nefrogênico. O exame costuma ser realizado em nível ambulatorial. Qualquer disfunção tireoidiana e/ou adrenal deve ser corrigida previamente (se o paciente estiver em uso de hormônios tireoidianos ou corticosteróides, estes devem ser tomados normalmente no dia do teste). A função renal e a glicemia também devem ser conferidas antes do exame. 17 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria A dieta líquida restrita (sem excessos e sem café ou chá), pode ser mantida até às 7:30 AM do dia do teste. O paciente deve ser supervisionado durante todo o período do teste (até 8h). O procedimento deve ser iniciado às 7:30 AM. Não oferecer alimentos ou líquidos nas próximas 8h. Às 8:00 AM deve-se colher sangue para determinação do sódio séricoe da osmolalidade, e urina para osmolalidade. Coletar a urina de 1/1h para determinação do volume e da osmolalidade, e o plasma de 2/2h para determinação do sódio sérico e da osmolaridade. Quando houver estabilização das medidas da osmolalidade urinária (variação inferior a 30 mmol/L em duas medidas consecutivas) ou perda de peso acima de 3% do peso inicial, administra-se a desmopressina e a ingestão de líquidos é liberada. Após 1 hora deverá ser realizada nova medida da osmolalidade plasmática e urinária. Indivíduos normais: a restrição hídrica determina aumento da osmolalidade urinária de 2 a 4 vezes a osmolalidade plasmática. Após a administração de desmopressina o aumento da osmolalidade urinária é inferior a 9%; Diabetes insípido central completo: não há aumento da osmolalidade urinária superior à osmolalidade plasmática em resposta à restrição hídrica. Após a administração de desmopressina ocorre aumento da osmolalidade urinária maior que 50%. Diabetes insípido central parcial: ocorre aumento moderado da osmolalidade urinária em resposta à restrição hídrica, após a administração de desmopressina há um aumento de pelo menos 10% da osmolalidade urinária. Diabetes insípido nefrogênico: não há aumento da osmolalidade urinária superior à osmolalidade plasmática mesmo após a administração de desmopressina. > Diabetes Mellitus O diagnóstico laboratorial do diabetes mellitus (DM) pode ser realizado por meio de glicemia de jejum, glicemia 2 horas após teste oral de tolerância à glicose (TOTG) e hemoglobina glicada (HbA1c). Glicemia de jejum: Após a coleta de sangue, a glicose é metabolizada pelos eritrócitos, o que ocasiona queda dos seus níveis 10% por hora. Para minimizar o impacto desse processo, diversas medidas podem ser tomadas. A glicose é geralmente determinada por métodos enzimáticos, como glicose-oxidase e hexoquinase. Um dos 18 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria mais aplicados atualmente é o método da hexoquinase, no qual a glicose é fosforilada por essa enzima na presença de trifosfato de adenosina. Hemoglobina glicada: A HbA1c era empregada até a década passada apenas no seguimento de pacientes com DM, pois é o melhor parâmetro preditor de complicações crônicas. A HbA1c é dosada em sangue total, sendo coletada em tubo com anticoagulante EDTA (tampa roxa), e apresenta estabilidade consideravelmente maior do que a glicemia. Esse aspecto, inclusive, é apontado como uma das grandes vantagens de sua utilização no diagnóstico de DM. A IFCC utiliza mmol/mol como unidade de mensuração da HbA1c (correspondendo à quantidade de HbA1c em mmol em relação à quantidade total de Hb em mol). O jejum não é necessário e a amostra pode ser coletada em qualquer horário do dia. Apresenta baixa variabilidade biológica individual e não é afetada por estresse agudo. Uma vez coletadas, as amostras de sangue são estáveis em temperatura ambiente por até 24 horas e por até 7 dias sob refrigeração. O congelamento da amostra, entretanto, torna-a inviável para análise. ! Outros exames podem ser utilizados no acompanhamento do DM, alguns deles de forma análoga à HbA1c, ou seja, como estimativas da glicemia média por determinado período de tempo. Nenhum desses exames, entretanto, é validado para o diagnóstico de DM. Glicemia pós-prandial: Uma das grandes dificuldades é estabelecer valores de referência adequados para a glicemia pós-prandial. Por essa razão, a glicemia pós -prandial não tem nenhum papel no diagnóstico do DM. Frutosamina: É o nome genérico dado a todas as proteínas glicadas. 19 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria Elas são formadas pela reação não enzimática da glicose com os grupos amina das proteínas. Do total de proteínas glicadas, 80% correspondem à albumina. O raciocínio, em sua interpretação, é análogo ao considerado para as demais proteínas glicadas. O padrão de normalidade aplicado pela maioria dos laboratórios, entretanto, não apresenta a extensa validação por estudos prospectivos realizados para a HbA1c. A frutosamina vem sendo tradicionalmente utilizada como alternativa à HbA1c quando esta apresenta problemas metodológicos. 1,5-anidroglucitol: O 1,5AG ocorre de maneira natural no organismo e é estruturalmente similar à glicose. É filtrado pelos rins, sendo 99.9% dele reabsorvido pelos túbulos renais. Quando a glicemia é maior do que o limiar renal, a glicose inibe a reabsorção de 1,5-AG, portanto os níveis desse marcador são inversamente proporcionais aos da hiperglicemia. Desse modo, 1,5-AG é um marcador promissor no que se refere à variabilidade glicêmica, pois se correlaciona com excursões glicêmicas de curto prazo. Albumina glicada: A dosagem de albumina glicada funciona de maneira análoga à de HbA1c, com a desvantagem de não apresentar validação com desfechos a longo prazo. A variabilidade da albumina glicada correlaciona-se, em alguns estudos, com desfechos renais, por exemplo, mesmo em pacientes bem controlados. Apresenta correlação variável com a HbA1c. Assim como a frutosamina e o 1,5-AG, a albumina glicada não tem aplicação no diagnóstico de DM. A cetoacidose diabética é uma complicação aguda do Diabetes Mellitus (DM) caracterizada por hiperglicemia, acidose metabólica, desidratação e cetose, na vigência de deficiência profunda de insulina. Acomete principalmente pacientes com DM tipo 1 e geralmente é precipitada por condições infecciosas, uso inadequado de insulina ou desconhecimento do diagnóstico de diabetes. Existe uma incidência de CAD discretamente maior no sexo feminino, principalmente entre os adolescentes. Se diagnosticada e tratada de forma rápida e correta, a CAD tem bom 20 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria prognóstico, sendo prontamente revertida na maioria das vezes. A mortalidade é maior nos extremos etários, podendo chegar a até 50% em pacientes idosos, com idade superior a 80 anos. Quando há falta de insulina e o corpo não consegue usar a glicose como fonte de energia, as células utilizam outras vias para manter seu funcionamento. Uma das alternativas encontradas é utilizar os estoques de gordura para obter a energia que lhes falta. A deficiência de insulina faz com que o organismo metabolize triglicerídios e aminoácidos em vez de glicose para produzir energia. As concentrações plasmáticas de glicerol e ácidos graxos livres se elevam em decorrência da lipólise não controlada, assim como a alanina do catabolismo muscular. Glicerol e alanina fornecem substrato para a gliconeogênese hepática, a qual é estimulada pelo excesso de glucagon que acompanha a insuficiência de insulina. O glucagon também estimula a conversão mitocondrial de ácidos graxos livres em cetonas. A insulina normalmente bloqueia a cetogênese pela inibição do transporte de derivados de ácidos graxos livres na matriz mitocondrial, mas a cetogênese prossegue na ausência de insulina. Os principais cetoácidos produzidos, os ácidos acetoacético e beta-hidroxibutírico, são ácidos orgânicos fortes que causam acidose metabólica. A acetona derivada do ácido acetoacético acumula-se no sangue e é eliminada lentamente pela respiração. Entretanto, o resultado final desse processo leva ao acúmulo dos chamados corpos cetônicos, substâncias que deixam o sangue ácido, ou seja, com o pH mais baixo do que o normal. Essa acidez é extremamente desfavorável para o organismo, porque a maioria das reações químicas que acontecem a cada segundo em nossas células depende de uma faixa muito estreita de pH. No diabetes tipo 1, ela pode ser a primeira manifestação da doença ou resultar do aumento das necessidades de insulina por causa de infecções, traumas, infartos e cirurgias. Já nos portadores do tipo 2, pode ocorrer sob condições graves como a sepse,por exemplo. A hiperglicemia causada pela deficiência de insulina causa diurese osmótica que provoca perda significativa de água e eletrólitos na urina. A excreção urinária de cetonas causa necessariamente perdas adicionais de sódio e potássio. O sódio sérico pode cair em razão da natriurese ou aumentar em virtude da excreção de grandes volumes de água livre. Ocorre também perda de potássio em grandes quantidades. Apesar do déficit significativo de potássio corporal total, inicialmente o potássio sérico inicial está normal ou elevado, devido à migração 21 https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/regula%C3%A7%C3%A3o-e-dist%C3%BArbios-%C3%A1cido-base/acidose-metab%C3%B3lica https://drauziovarella.uol.com.br/videos/diabetes-tipo-1/ https://drauziovarella.uol.com.br/diabetes/prevencao-do-diabetes-tipo-2/ https://drauziovarella.uol.com.br/letras/s/sepsesepticemia/ Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria extracelular do potássio em resposta à acidose. As concentrações de potássio geralmente caem mais durante o tratamento, à medida que o tratamento com insulina leva o potássio para o interior das células. Se o potássio sérico não for monitorado e reposto quando necessário, pode ocorrer hipopotasemia potencialmente fatal. Quadro Clínico: No período antecedente a CAD, há manifestações referentes à descompensação metabólica, como poliúria, polifagia, polidipsia e cansaço. Com a instalação da CAD, são observados anorexia, náuseas e vômitos, que podem agravar a desidratação. Cefaléia, mal-estar, parestesia e dor abdominal também são comuns. Com a progressão da CAD, pode haver alteração do nível de consciência, embora coma só ocorra em cerca de 10% dos pacientes. O exame físico revela desidratação, com mucosas ressecadas, turgor cutâneo diminuído e língua pregueada. Há taquicardia, hálito cetônico (de “maçã passada”) e alterações do ritmo respiratório. Inicialmente há taquipnéia, que é seguida por ritmo de Kussmaul, podendo evoluir para respiração superficial em casos mais graves. Alguns fatores são considerados sugestivos de pior prognóstico, como a ocorrência da complicação em pacientes nos extremos etários, a presença de hipotensão arterial ou de hipotermia. > Alimentação A relevância da terapia nutricional no tratamento do DM tem sido enfatizada desde a sua descoberta, bem como o seu papel desafiador na prevenção, no gerenciamento da doença e na prevenção do desenvolvimento das complicações decorrentes. O controle metabólico é apontado como a pedra angular do manejo do diabetes, pois alcançar um bom controle reduz o risco de complicações microvasculares e pode, também, minimizar as chances de doenças cardiovasculares. De modo semelhante, melhorar os níveis pressóricos e de lipídios pode ser eficaz na redução de eventos cardiovasculares. As escolhas alimentares promovem efeito direto sobre o equilíbrio energético e, por conseguinte, sobre o peso corporal e os níveis pressóricos e de lipídios plasmáticos. Embora se saiba que a ingestão de carboidrato influencia diretamente os níveis de glicose pós-prandial, sendo ele o 22 https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/dist%C3%BArbios-eletrol%C3%ADticos/hipopotassemia Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria macronutriente de maior preocupação no manejo glicêmico, a terapia nutricional se concentra no equilíbrio dos macronutrientes para a manutenção do bom controle metabólico. Evidências científicas demonstram que a intervenção nutricional tem impacto significativo na redução da hemoglobina glicada (HbA1c) no DM1 e DM2, após 3 a 6 meses de seguimento com profissional especialista, independentemente do tempo de diagnóstico da doença. Além disso, quando associado a outros componentes do cuidado em DM, o acompanhamento nutricional pode favorecer ainda mais os parâmetros clínicos e metabólicos decorrentes de melhor adesão ao plano alimentar prescrito. Ao contrário do DM1, que não pode ser evitado, o DM2 pode ser retardado ou evitado por meio de modificações do estilo de vida, que incluem alimentação saudável e atividade física. Apesar de a suscetibilidade genética parecer desempenhar um papel importante na ocorrência de DM2, a atual epidemia provavelmente reflete mudanças prejudiciais do estilo de vida, como aumento da ingestão energética e redução da prática de atividades física. A conduta nutricional direcionada a indivíduos com DM1 e DM2, pré-diabetes e DM gestacional (DMG) deve ser definida com base em avaliação e diagnóstico nutricional, para posterior programação das intervenções nutricionais. Acompanhamento e avaliações contínuas apoiam mudanças de estilo de vida em longo prazo, bem como possibilitam analisar resultados e modificar intervenções, quando necessário. Carboidratos: A distribuição ideal de macronutrientes, incluindo os carboidratos, pode variar de acordo com os objetivos e metas individualizados. Embora existam inúmeros estudos com diferentes proporções de carboidratos, ainda não é possível afirmar uma proporção específica desse nutriente para pessoas com diabetes e se essa proporção é diferente da população em geral. Fibras: Algumas fibras dietéticas podem atenuar a resposta à insulina e, assim, auxiliar na prevenção do DM2. Diversas evidências epidemiológicas apontam para esse efeito protetor da fibra e revelam que os efeitos benéficos são decorrentes, principalmente, da ingestão de fibras solúveis. Proteínas: Não há evidências de que a ingestão proteica usual para a maioria dos indivíduos (1 a 1,5 g/kg de peso corporal/ día), representando de 15 a 20% da ingestão total de energia, precise ser 23 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria modificada para aqueles com diabetes e função renal preservada. Lipídios: As principais diretrizes internacionais não se fundamentam exclusivamente na recomendação alimentar baseada no percentual de gorduras da dieta, mas sugerem o seguimento de padrões alimentares saudáveis. Estes contemplam a retirada de ácidos graxos trans, a inclusão de alimentos fontes de ácidos graxos monoinsaturados (MONO) e poli-insaturados (POLI) e o controle no consumo de ácidos graxos saturados, priorizando o consumo de carnes magras, leite desnatado e consumo mínimo de carnes processadas. Bebidas alcóolicas: As mesmas precauções direcionadas à população em geral sobre o consumo de álcool aplicam-se aos indivíduos com diabetes. Bebidas alcoólicas consumidas durante uma refeição, incluindo carboidratos, podem levar, inicialmente, a maiores níveis glicêmicos e insulinêmicos em pacientes com DM2. > Atividade Física A prática regular de exercício físico por portadores de diabetes demonstrou, em diversos estudos, melhorar o controle glicêmico, reduzir os fatores de risco cardiovascular, contribuir para a perda de peso e aumentar o bem estar. Em pessoas com diabetes tipo 1, o exercício físico tem um efeito benéfico inclusive sobre a expectativa de vida. Além disso, pode prevenir a diabetes tipo 2 em pessoas com alto risco para essa doença. Intervenções baseadas em sessões estruturadas de exercício de pelo menos 8 semanas de duração demonstraram diminuir os níveis de hemoglobina glicosilada de diabéticos tipo 2 em 0,66% em média, mesmo sem mudança significativa no IMC. Exercícios mais intensos são associados a melhores resultados no controle do diabetes e no condicionamento físico. A Associação Americana de Diabetes (ADA) recomenda que pessoas com diabetes devam ser aconselhadas a praticar pelo menos 150 minutos por semana de atividade física aeróbica de moderada intensidade (entre 50 e 70% da frequência cardíaca máxima). Na ausência de contraindicação, as pessoas com diabetes tipo 2 devemser encorajadas a realizar treinamento de resistência 3 vezes por semana. O exercício é benéfico pois vai estimular a produção de insulina e facilitar o seu transporte para as células. Quando faz exercício está a aumentar a utilização de glicose pelos músculos e em circunstâncias normais, a glicemia tem tendência a baixar. Se for feito com regularidade, o exercício físico também vai contribuir para reduzir a gordura visceral, e desta forma para diminuir a insulino resistência, ou seja 24 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria melhora a ação da insulina no organismo e ajuda a melhorar o controle da diabetes. A estratégia ideal para a prática de exercícios físicos por pessoas com diabetes deve envolver a combinação de exercício aeróbio (exemplos: caminhada rápida, corrida, bicicleta, natação) com exercício resistido (exemplos: pesos livres, aparelhos de musculação, bandas elásticas ou uso do próprio peso corporal) e aumento progressivo de tempo, frequência, carga e intensidade. ! Diferentemente do exercício aeróbio, o exercício resistido pode aumentar a glicemia durante a sua execução, determinando um menor risco de hipoglicemia tanto agudamente quanto pós-exercício em comparação ao exercício aeróbio. Por isso, antecipar o exercício resistido em relação ao treino aeróbio pode ser uma estratégia para minimizar o risco de hipoglicemia em pacientes insulinizados. Os indivíduos usuários de insulina necessitam de cuidados especiais sobretudo em função do risco de hipoglicemia durante e após o exercício. A resposta glicêmica ao exercício é variável, e isso deve ser levado em consideração no momento de se optar pelo tipo, intensidade e duração do exercício, bem como para se ajustar a dose de insulina e/ou o consumo de carboidratos. 25 Maria Tereza Trindade Teixeira - Medicina Tutoria 26
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