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© Os rins são responsáveis pela produção da urina, por meio de mecanismos variados e complexos de filtração do plasma sanguíneo, e apesar de serem ditos como os principais órgãos de depuração sanguínea, de fato, a função primordial dos rins é a regulação homeostática do conteúdo de água e íons no sangue, o equilíbrio hidroeletrolítico. Os rins mantêm concentrações adequadas de íons e água no sangue através do balanço da ingestão/excreção dessas substâncias, obedecendo ao princípio do balanço de massas. Este diz que “Se a quantidade de uma substância no corpo deve permanecer constante, qualquer ganho deve ser compensado por uma perda igual’’. Possuímos dois rins, cada qual situado em um lado do organismo, abaixo do diafragma, mas fora da cavidade abdominal – entre o peritônio e os ossos e músculos das costas – por isso são chamados de retroperitoneais. Os vasos sanguíneos e linfáticos renais, os nervos e os ureteres saem da porção concava do rim, denominada ‘’hilo renal’’. As artérias renais, ramos da parte abdominal da aorta, fornecem sangue para os rins. As veias renais levam sangue dos rins para a veia cava inferior. Os rins recebem 20 a 25% do débito cardíaco, e essa alta taxa de fluxo sanguíneo é crítica para a função renal. Os rins possuem duas porções macroscópicas, o córtex (externo e mais claro) e a medula (mais interna e escura). Ambas porções são constituídos por milhares de néfrons, a unidade funcional do rim, composta pelos corpúsculos renais e os túbulos renais. Os corpúsculos são formados pelos glomérulos e a cápsula de Bowman, enquanto os túbulos possuem associação íntima com capilares peritubulares. Cerca de 80% dos néfrons estão presentes quase que completamente no córtex (néfrons corticais), ao passo que os outros 20% – chamados de néfrons justamedulares – penetram a medula. O túbulo renal é formado por uma camada única de células epiteliais conectadas por junções compactas, suas superfícies voltadas para o lúmen podem exibir microvilosidades ou outras dobras para o aumento da superfície. A cápsula de Bowman é uma estrutura oca que envolve o glomérulo. O endotélio do glomérulo é unido ao epitélio da cápsula de Bowman, de modo que o líquido filtrado dos capilares passa diretamente para dentro do lúmen tubular. A partir da cápsula de Bowman, o filtrado flui para o interior do túbulo proximal e, após, para a alça de Henle, segmento em forma de grampo que atravessa a medula e, posteriormente, retorna para o córtex. A alça de Henle é dividida em dois ramos, um ramo descendente fino e um ramo ascendente com segmentos fino e grosso. O fluido, então, chega até o túbulo distal. Os túbulos distais drenam para um único tubo, o ducto coletor. Os ductos coletores passam do córtex para a medula e drenam na pelve renal. Da pelve renal, o líquido filtrado e modificado, agora chamado de urina, flui para o ureter no seu trajeto rumo à excreção. © A circulação renal é complexa, a artéria renal adentra o hilo renal e se dicotomiza nas artérias segmentares, que posteriormente, formam as artérias interlobares. Estas por sua vez, formam um arco, resultando em um vaso arqueado na região limítrofe entre medula e córtex. Esses vasos se ramificam em diversas artérias interlobulares. No caso dos vasos venosos, a subdivisão é semelhante. A partir das artérias interlobulares, temos a formação das arteríolas aferentes que se resolvem em uma rede de capilares que formam o glomérulo, que por fim, geram a arteríola eferente (saindo do corpúsculo renal). Essa rede de capilares em sequência (aferente e eferente) é chamada de sistema porta. Esses vasos eferentes, formam capilares peritubulares, ou então, se for um néfron justamedular (que possui corpúsculo renal próximo ao limite do córtex com a medula) formam vasos retos que descem pela medula renal e retornam a região limítrofe entre a medula e o córtex drenando seu conteúdo para veia arqueada, de forma que este não sofra filtração. Funções renais Os rins possuem inúmeras funções: regulam o volume do líquido extracelular, a pressão do sangue e a osmolaridade, mantêm o balanço iônico, regulam o pH, excretam resíduos e substâncias estranhas e ainda participam de vias endócrinas. 1) Regulação do volume do líquido extracelular e da pressão arterial: Se o volume extracelular diminui, a pressão arterial também diminui. Se o volume do líquido extracelular e a pressão arterial caem demasiadamente, prejudicando a perfusão sanguínea, os rins trabalham em conjunto com o sistema cardiovascular para retornar à normalidade; 2) Regulação da osmolaridade: Podemos definir a osmolaridade como a quantidade de partículas dissolvidas num determinado solvente, que faz com que o soluto exerça pressão osmótica sobre o solvente. Desse modo, uma solução com baixa osmolaridade tem menos partículas de soluto por litro de solução, ao passo que uma solução com alta osmolaridade tem mais partículas de soluto por litro de solução. O rim combina as funções renais e comportamentais, como a sede, para manter a osmolaridade em níveis normais; 3) Manutenção do equilíbrio iônico: Os rins mantêm a concentração de íons dentro de uma faixa pelo balanço entre a sua ingestão e a sua perda urinária. O sódio é o principal íon envolvido na regulação do volume do líquido extracelular e da osmolaridade; 4) Regulação homeostática do pH: Se o meio extracelular se torna muito ácido, os rins excretam H+ e conservam íons bicarbonato (HCO3-), que atuam como tampão. Inversamente, quando o líquido extracelular se torna muito alcalino, os rins excretam HCO3- e conservam H+; 5) Excreção de resíduos: Os rins removem produtos do metabolismo ou substâncias estranhas, como fármacos e toxinas; 6) Produção de hormônios: Embora os rins não sejam glândulas endócrinas, eles desempenham um importante papel em três vias endócrinas. As células renais sintetizam eritropoetina que regula a produção dos eritrócitos. Os rins também liberam renina, uma enzima que regula a produção de hormônios envolvidos no equilíbrio do sódio e na homeostasia da pressão sanguínea. Por fim, as enzimas renais auxiliam na conversão da vitamina D3 em um hormônio ativo que regula o equilíbrio do Ca2+. Os rins realizam todas as funções – a exceção de algumas particularidades – por três processos básicos: filtração, reabsorção e secreção. A filtração é o movimento de líquido do sangue para o lúmen do néfron. A filtração ocorre apenas © no corpúsculo renal, onde as paredes dos capilares glomerulares e da cápsula de Bowman são modificadas para permitir o fluxo do líquido. Uma vez que o fluido filtrado chega ao lúmen do néfron, ele se torna parte do meio externo ao corpo. Por isso, tudo que é filtrado nos néfrons é destinado à excreção na urina, a não ser que seja reabsorvido para o corpo. Após o filtrado deixar a cápsula de Bowman, ele é modificado pelos processos de reabsorção e secreção. A reabsorção é um processo de transporte de substâncias presentes no filtrado do lúmen tubular de volta para o sangue através dos capilares peritubulares. A secreção remove seletivamente moléculas do sangue e as adiciona ao filtrado no lúmen tubular. Embora a secreção e a filtração glomerular movam substâncias do sangue para dentro do túbulo, a secreção é um processo mais seletivo que, em geral, usa proteínas de membrana para transportar as moléculas através do epitélio tubular. A quantidade e a composição das substâncias que são reabsorvidas e secretadas variam nos diferentes segmentos do néfron. O filtrado que permanece no lúmen no final do néfron é excretado como urina. A quantidade excretada é igual à quantidade filtrada para o túbulo, menos a quantidade reabsorvida para o sangue, mais a quantidade secretada no lúmen tubular. Para se ter uma ideia, ao longo da vida (média de 70 anos) os rins produzem mais de 4 milhões de litros de ultrafiltrado. tem que depurar cercade 250.000 kg de proteína e reabsorver aproximadamente 3.96 milhões de litros. Comumente, o volume médio de urina é de 1,5 L/dia, com a osmolaridade variando entre 50 e 1.200 mOsM. Assim, cinco características principais são responsáveis pela alta capacidade de filtração, reabsorção e secreção ao longo do néfron. Balanço das forças de Starling As forças de Starling ilustram que em situações fisiológicas, há um equilíbrio entre a filtração (dependente da pressão hidrostática) e a reabsorção (dependente da pressão oncótica). Na arteríola eferente a resistência é grande, reduzindo a pressão hidrostática, logo, quando se chega nos capilares peritubulares a pressão é baixa, permitindo a reabsorção do que foi filtrado. Além disso, há pouca filtração de proteínas, aumentando sua concentração nos capilares (e consequentemente a pressão oncótica), criando um gradiente de concentração que favorece a reabsorção. Alta capacidade de reabsorção dos capilares peritubulares A condutividade dos capilares peritubulares é a mesma dos glomerulares, porém, a área é muito maior (muitas anastomoses), aumentando as chances de reabsorção. Estrutura morfo-histológica entre capilar e túbulo O volume elevado de espaço intersticial é importante, uma vez que se fosse pequeno geraria resistência na saída do fluido da luz tubular para o interstício, resultando em uma menor absorção. © Diversidade histológica ao longo do néfron A presença de células variadas como as abundantes células com morfologia em borda de escova – aumentando a superfície de contato (maior troca) – as escassas células com poucas bordas em escova e poucas mitocôndrias (menor troca), outra variante são as com poucas bordas em escova e muitas mitocôndrias, importantes para o transporte transcelular. Diversidade funcional ao longo do néfron Essa diversidade se dá no ponto de vista dos transportadores, como os diferentes tipos de canais aquaporinas e os distintos tipos de trocadores sódio-prótons. Portanto, por meio dessa variedade morfo-funcional, os rins são capazes de modular as funções supracitadas por possuírem sensores ou atuarem como os próprios sensores. Logo, quando há o desvio da condição de normalidade – homeostase – sensores (intra ou extrarrenais) enviam sinalizadores, que por meio do contato com receptores, desencadeiam respostas intracelulares que ativam proteínas efetoras que irão agir para retornar as condições normais do organismo.
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