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3 Introdução O presente trabalho, visa debruçar - se em torno de uma corrente filosófica e histórica: Materialismo, em concreto no posicionamento dos Filósofos Feuerbach e Marx. Num primeiro momento do desenvolvimento do trabalho, procura - se apresentar uma definição concisa do materialismo e o seu contexto histórico desde a antiguidade ate a era contemporânea. E consequente segue - se com o posicionamento do pensamento de Feuerbach em concreto nas questões de Criação de Deus pelo Homem, comparação metafórica da teologia em relação a antropologia e deste modo, fecha - se seu posicionamento materialista com o seu Humanismo. E segue - se a ultima parte do trabalho com o posicionamento materialista de Marx, no qual ele trata das questões relativas á alienação religiosa, trabalho alienado, critica á vários pensadores conceções anteriores a ele e a religião, materialismo histórico e dialético. 4 1 Objectivos 1.1 Objectivos gerais Conhecer o contexto histórico do materialismo; Compreender na essência o pensamento materialista Feuerbach e de Marx. 1.2 Objectivos Especificos Explicar a diferença entre o materialismo de Feuerbach e em Marx; Descrever a concordância entre os dois pensadores; Apresentar as discordâncias de pensamento de Marx a Feuerbach. 2 Metodologia Para a concretização deste trabalho, houve a necessidade de se auxiliar em algumas obras bibliográficas que já abordaram aspectos relevantes sobre o tema em referência. 3 Materialismo: Feuerbach e Marx 3.1 Definição do materialismo O materialismo é definido como uma concepção filosófica que admite a origem e a existência humana a partir de uma condição concreta: a matéria. É uma corrente que acredita nas circunstâncias concretas e materiais como principal meio de explicação da realidade e seus fenômenos sociais, históricos e mentais. 3.2 Contexto histórico Segundo Santos (2020), o pensamento materialista teve início com a teoria atomista, elaborada pelo filósofo pré-socrático Demócrito de Abdera. Segundo a argumentação, tudo que existe no universo é formado por átomos – partículas invisíveis e compostas por matérias – que ficam em movimento constante em um espaço vazio. Sendo a diversidade nas suas formas, ordens e dimensões os responsáveis pelos fenômenos da natureza. Este raciocínio também foi adotado por Epicuro, que ainda o completou dizendo que os movimentos atômicos têm origem na própria natureza, ou seja, não são ocasionados por nenhum tipo de intervenção divina. Aristóteles também contribuiu com a teoria ao confirmar a existência de matéria em todas as coisas, mas trouxe essa abordagem aliada a vertente idealista. Ao longo da idade media, a filosofia idealista foi predominante. Somente com o Renascimento e as transformações que possibilitaram o avanço da ciência que o materialismo foi retomado. Nos 5 séculos XVI e XVII, por exemplo, Francis Bacon defendeu o chamado materialismo naturalista ao afirmar que a experiência é a base para o alcance do conhecimento. Já René Descartes criou os fundamentos do materialismo mecanicista, desassociando de vez a ligação entre o espírito e a matéria. Podendo então chegar até o percursor do materialismo o filosofo Karl Marx. Portanto, segundo REALE (2005, p.169) apos a morte do Filosofo Hegel em 1831, os seus discípulos se dividem em duas correntes, que em 1837 David Strauss chamara de "direita" e de "esquerda" hegeliana, em forte dissidio tanto sobre a questão politica como sobre a religiosa. Na qual a direita hegeliana – põe Hegel em defesa da religião e da politica prussiana, e foi representada, entre outros, por Karl Friedrich Goschel (1781-1861), Kasimir Conradi (1784-1849) e Georg Andreas Gabler (1786-1853), tambêm pertencem i direita hegeliana os historiadores da filosofia Johann Eduard Erdmann (1805-1892) e Kuno Fisher (1824-1907. E a esquerda, ao contrario, invocava a teoria da dialética para sustentar que não era possível deter-se em configuração politica e que a dialética histórica deveria nega-la para supera-la e realizar uma racionalidade mais elevada, e foi representada por David Friedrich Strauss (1808-1874) , Bruno Bauer (1809-1882), Max Stirner (pseudónimo de Johann Kaspar Schmidt, 1806-1856), Arnold Ruge (1802-1880), Ludwig Feuerbach e Karl Marx. Tendo estes dois ultimos como o nosso principal foco das discuções. Em substancia: a direita propunha a filosofia hegeliana como justificação do Estado existente, ao passo que a esquerda, em nome da dialética, pretendia negar o Estado existente. 3.3 Ludwig Andreas Feuerbach O alemão Ludwig Feuerbach (1804-1872) é, depois de Marx, o representante de maior saliência da esquerda hegeliana. Suas Lições sobre a essência da religião - apresentadas em Heidelberg em 1848 - foram publicadas em 1851. Em 1841 Feuerbach havia publicado sua obra mais importante: A essência do cristianismo. É aí que ele propõe aquilo que ele próprio define como redução da teologia e da religião á antropologia. A filosofia não tem a tarefa de negar ou ridicularizar o grande evento humano que e a religião. Deve compreendê-lo. E o compreende, afirma Feuerbach, quando percebemos que "a consciência que o homem tem de Deus é a consciência que o homem tem de si". Em poucas palavras: a teologia e antropologia; o discurso sobre Deus é, na realidade, um discurso sobre o homem, uma vez que o homem - que encontra uma natureza insensível a seus sofrimentos - põe suas qualidades, suas 6 aspirações, seus ideais para fora de si, torna-se estranho, se aliena e constrói sua divindade. A religião é a projeção da essência do homem: "Deus é o espelho do homem". A religião, para Feuerbach, e um fato totalmente humano. E, uma vez desvelado o mistério da religião, ao Deus no céu ele substitui outra divindade, o homem "de carne e sangue". E a moral que prega o amor de Deus, ele pretende substituir a moral que recomenda o amor do homem em nome do homem. A intenção do humanismo de Feuerbach e a de transformar os homens de amigos de Deus em amigos dos homens, "de homens que creem em homens que pensam, de homens que rezam em homens que trabalham, de candidatos do alem em estudiosos do aquém". 3.3.1 Não é Deus que cria o homem, mas o homem que cria Deus Com a saída da mais importante obra de Feuerbach em 1841, A essência do cristianismo, na qual o autor efetua o que ele próprio define como a redução da teologia e da religião a antropologia. 0 interesse pela religião estava claro para Feuerbach desde o inicio, e permaneceu constante em todas as fases de seu pensamento, que ele assim esquematiza: "Meu primeiro pensamento foi Deus, meu segundo foi a razão, meu terceiro e ultimo foi o homem". Hegel suprimira o Deus transcendente da tradição, substituindo-o pelo espirito, isto é, digamos, a realidade humana em sua abstração. Mas aquilo que interessa a Feuerbach não é uma ideia de humanidade, mas muito mais o homem real, que é, antes de mais nada, natureza, corporeidade, sensibilidade, necessidade. Portanto, é preciso negar o idealismo, que é somente o extravio do homem concreto. E, com maior razão, é preciso negar o teísmo, já que não é Deus que cria o homem, e sim o homem que cria Deus. 3.3.2 A teologia é antropologia “A religião”, afirma, “é, numa expressão geral, consciência do infinito, portanto, não é e não pode ser outra coisa senão a consciência que o homem tem da sua essência, a saber, de uma essência não finita, limitada, mas infinita.” (FEUERBACH, apud MONTEIRO, 2011, p. 203). Feuerbach admite com Hegel a unidade entre o finito e o infinito. Mas, em sua opinião, essa unidade não se realiza em Deus ou na ideia absoluta, e sim no homem, em um homem que a filosofia não pode reduzir a puro pensamento, mas sim deve considerar em sua inteireza, "da cabeça ao calcanhar", em sua naturalidade e em sua sociabilidade. E a religião sempre desempenhou um papel fundamentalna historia do homem concreto. 7 A filosofia não tem a função de negar ou ridicularizar esse grande fato humano que é a religião. Deve compreendê-lo. E o compreende, afirma Feuerbach, quando se dá conta de que "a consciência que o homem tem de Deus é a consciência que o homem tem de si. Em outros termos, o homem põe suas qualidades, suas aspirações e seus desejos fora de si, afasta-se, aliena-se e constrói sua divindade. A religião, portanto, está “no relacionar-se do homem com sua própria essência (nisso consiste sua verdade), mas sua essência não como sua e sim como outra essência, separada e dividida dele, at6 oposta (nisso consiste sua falsidade)". A religião, pois, é a projeção da essência do homem: "Deus é o espelho do homem", afirma Feuerbach. Na oração, o homem adora seu próprio coração; o milagre é "o desejo sobrenatural realizado"; "0s dogmas fundamentais do cristianismo são desejos realizados do coração". Para Feuerbach, a religião é fato humano, totalmente humano. E isso "ainda que o homem religioso não tenha consciência do caráter humano do seu conteúdo, não admita que o seu conteúdo seja humano". Mas, comenta Feuerbach, "assim como o homem pensa quais sejam os seus princípios, tal é o seu Deus: quanto o homem vale, tanto e não mais vale o seu Deus [...]. Tu conheces o homem pelo seu Deus e, reciprocamente, Deus pelo homem; um e outro se identificam [...]. Deus é o intimo revelado, a essência do homem expressa; a religião é a revelação solene dos tesouros ocultos do homem, a profissão publica de seus segredos de amor". E esse o sentido da tese de Feuerbach, segundo o qua1 "o nucleo secret0 da teologia é a antropologia". Diz ele que o homem desloca seu ser para fora de si antes de encontra-lo em si. E esse encontro, "essa aberta confissão ou admissiio de que a consciência de Deus nada mais é do que a consciência da espécie, Feuerbach o vê como "reviravolta da historia". Assim, "todas as qualificações do ser divino são qualificações do ser humano": o ser divino é unicamente "o ser do homem libertado dos limites do individuo, isto é, dos limites da corporeidade e da realidade, mas objetivado, ou seja, contemplado e adorado como outro ser, distinto dele. 3.3.3 Humanismo de Feuerbach Porque o homem se alheia, por que constrói a divindade sem nela se reconhecer? 8 Feuerbach responde: porque o homem encontra uma natureza insensível a seus sofrimentos, porque tem segredos que o sufocam; e, na religião, alivia seu próprio coração oprimido. "Deus é uma lagrima de amor derramada no mais profundo segredo sobre a miséria humana." Eis, portanto, desvelado o mistério da religião: Feuerbach substitui o Deus do céu por outra divindade, o homem "de carne e de sangue". E, assim, pretende substituir a moral que recomenda o amor a Deus pela moral que recomenda o amor ao homem em nome do homem. Essa é a intenção do humanismo de Feuerbach: a de transformar os homens de amigos de Deus em amigos dos homens, "de homens que crêem em homens que pensam, de homens que oram em homens que trabalham, de candidatos ao além em estudiosos do aquém, de cristãos - que, por seu pr6prio reconhecimento, são metade animais e metade anjos - em homens em sua inteireza". 3.4 Karl Marx Karl Marx nasce em Trier, em 1818. Estuda primeiro em Bonn e depois em Berlim, onde se laureia em 1841, com uma tese sobre a Diferença entre a filosofia da natureza de Demócrito e a de Epicuro. Segundo REALE (2005, p.169) grande construção do pensamento de Marx desenvolve-se em contato e em contraste com a filosofia de Hegel, as concepções da esquerda hegeliana, as teorias dos economistas clássicos e as ideias dos socialistas utópicos. Marx é critico: De Hegel: Marx retomara, invertendo-a, a concepção, dialética da historia, mas critica duramente Hegel, porque subordina a sociedade civil ao Estado, e porque a descrição que ele faz da essência do Estado não é mais que a justificativa do Estado prussiano; Da esquerda hegeliana, porque os jovens hegelianos combatem contra as "frases" e não contra o mundo real do qual as "frases" são o reflexo. Com efeito, Marx esta convicto de que "não é a consciência que determina a vida, mas a vida que determina a consciência"; Dos economistas clássicos: estes (Smith, Ricardo etc.) elaboraram a teoria do valor- trabalho (o valor de uma mercadoria equivale ao trabalho socialmente necessário para produzi-la), mas erram ao pensar que as leis por eles postas em evidencia sejam leis eternas e imutáveis de natureza: a propriedade privada e um fato e não uma lei eterna; Do socialismo utópico, cujos expoentes são Babeuf, Saint-Simon, Fourier e Owen. Estes possuem grandes méritos -viram o antagonismo das classes, tornaram os operários mais agudamente conscientes -, mas não souberam reconhecer as condições materiais para a emancipação do proletariado; condenam e maldizem a vida misera do proletariado, mas 9 não sabem encontrar um caminho de saída. A estes socialistas utópicos Marx e Engels contrapõem seu socialismo cientifico; De Proudhon, porque Proudhon e um "moralista" que gostaria de mudar a realidade eliminando seus lados maus; a questão, porem, não esta em dividir, como queria Proudhon, a propriedade entre os trabalhadores, mas em suprimi-la totalmente por meio da revolução vitoriosa. Portanto, segundo COSTA (2010), podemos notar que o materialismo de Marx sai das entranhas do materialismo de Feuerbach, mas com uma nova roupagem, pelo seu caráter histórico˗concreto. Enquanto Feuerbach observa no materialismo o caráter natural, Marx dará ao seu materialismo um caráter histórico. Na medida em que o materialismo de Marx tem por fundamento a história, ele assume o caráter sócio-histórico, desenvolvendo seu pensamento no âmbito da teoria social. Portanto, o materialismo histórico-dialético de Marx tem uma base material, centrada no binômio forças produtivas-relações de produção, que desenvolveremos mais adiante. Marx sai do campo da filosofia para o campo da teoria social. Contrariamente a Feuerbach, Marx vai situar seu materialismo para além do sujeito pensante, preso em sua sensibilidade. Marx irá centrar seu materialismo na relação dos sujeitos com condições materiais nas quais eles se perpetuam e atendem suas necessidades. Para Marx, os seres humanos embora sensíveis, são seres concretos reais, fruto das relações que mantém em sua atividade prática, produtiva. Há uma Inter-relação entre as relações de produção e as forças produtivas, dependendo estas e, ao mesmo tempo, impulsionando a divisão do trabalho. Dirá Marx que o que os indivíduos são depende não da Razão, mas das condições materiais da produção dos bens necessários à vida. Ou seja, a cada desenvolvimento das forças produtivas, corresponderá novas relações de produção mais avançadas, o que, por sua vez, corresponderá mais adiante a um novo momento de reflexão dos indivíduos sobre sua essência, subjetiva e objetiva, o ser e suas condições de existência. Deste modo, dirá Marx que a primeira condição de toda história humana é a existência de seres humanos vivos. Acrescenta que, os homens ao produzirem seus meios de subsistência, produzem indiretamente sua própria vida material (Marx & Engels, 1989, p. 10-11). Mais adiante, coloca que a maneira como os homens manifestam sua vida reflete no que eles são. O que eles são coincide com o que eles produzem e como produzem. Assim sendo, segundo Marx, o que os indivíduos são depende das condições materiais de sua produção (1989, p. 11). 10 Os indivíduos, no exercício de sua atividade produtiva, segundo um modo determinado de produzir, colocam-se em relações sociais e políticas determinadas, relações que se dão entre proprietários de meios de produção e proprietários da força de trabalho. Em decorrência disso, a estrutura social e o Estado nascem do processo vital de indivíduos em ação, na sua existênciareal, segundo a maneira como trabalham e produzem materialmente (1989, p. 18). 3.4.1 Alienação religiosa Segundo Marx, Feuerbach tem razão ao dizer que é o homem que cria Deus e não vice-versa. Todavia, Feuerbach parou no ponto mais importante: por que o homem cria Deus? E eis a resposta de Marx: existe o mundo fantastic0 dos deuses porque existe o mundo irracional e injusto dos homens "A miséria religiosa é em um sentido a expressão da miséria. A alienação real, e em outro sentido o protesto contra a miséria real. A religião religiosa é o suspiro da criatura oprimida, o sentimento de um mundo sem o coração, o espirito de situações em que o espirito está ausente. Ela é o ópio do povo". Mas as ilusões não se desvanecem se não forem eliminadas as situações reais que as criam: "Os filósofos interpretaram o mundo de modo diverso; agora trata-se de muda-lo". 3.4.2 Trabalho alienado Portanto: a critica da religião se torna critica do direito, a critica da teologia se torna critica da politica. A critica do céu se transforma em critica da terra. E aqui, na terra, Marx encontra um homem alienado. O homem não alienado e um homem que se realiza transformando ou humanizando, segundo seus planos, com os outros, a natureza, para satisfazer suas necessidades. O que Marx vê, porém, e um homem alienado, ou seja, expropriado do próprio valor de homem por causa da expropriação do trabalho. O homem não trabalha para realizar seus próprios projetos, junto com os outros, humanizando assim a natureza. Ele trabalha para a pura subsistência. A propriedade privada, baseada na divisão do trabalho, torna o trabalho constritivo. O trabalho do proletário é um trabalho forçado. Nele o operário aniquila seu espirito e destrói seu corpo. Olhando caso do operário aliena-se á matéria-prima; alienam-se os seus instrumentos de trabalho; o produto do trabalho lhe é arrancado; com a divisão do trabalho, é mutilado em sua criatividade e humanidade. O operário é mercadoria nas mãos do capital. Isso é a alienação do trabalho, da qual, segundo Marx, derivam todas as outras formas de alienação, como a alienação politica (na qual o Estado se ergue acima e contra os homens concretos) ou a religiosa. Para ele, a superação dessa 11 situação, na qual o homem é transformado em ser bruto, realiza-se através da luta de classes, que eliminará a propriedade privada e o trabalho alienado. Mas em que consiste, mais exatamente, a alienação do trabalho? "Consiste antes de mais nada no fato de que o trabalho é externo ao operário, isto é, não pertence ao ser dele e, portanto, ele não se afirma em seu trabalho, mas se nega, não se sente satisfeito, mas infeliz, não desenvolve energia física e espiritual livre, mas definha seu corpo e destrói seu espirito. Por isso, somente fora do trabalho é que o operário sente-se senhor de si; no trabalho, ele se sente fora de si. Sente-se em sua própria casa se não está trabalhando; e, se está trabalhando, não se sente em sua própria casa. Seu trabalho, portanto, não é voluntário, mas constrito: é trabalho forçado. Não constitui, assim, a satisfação de uma necessidade, mas somente meio para satisfazer necessidades estranhas". Por tudo isso, o homem sente-se livre apenas em suas funções animais (comer, beber, procriar, ou ainda morar em casa ou se vestir), sentindo-se como nada além de animal em suas funções humanas, isto é, no trabalho. 3.4.3 Marx, critico de Hegel o pensamento de Marx formou-se em contato e contra a filosofia de Hegel, as ideias da esquerda hegeliana, as obras dos economistas clássicos e as obras dos socialistas que ele próprio chamaria de "utópicos". Substancialmente, para Marx, a filosofia de Hegel interpreta o mundo de cabeça para baixo: é ideologia. Hegel raciocina como se as instituições existentes, como, por exemplo, a herança, derivassem de puras necessidades racionais, legitimando assim a ordem existente. A realidade é que, segundo Marx, Hegel transforma em verdades filosóficas dados que são puros fatos históricos e empíricos. E, assim, "por toda parte Hegel cai do seu espiritualismo politico para o mais crasso materialismo". Marx, portanto, desfere contra Hegel duas acusações principais: a) antes de mais nada, a de subordinar a sociedade civil ao Estado; b) a de inverter o sujeito e o predicado: os indivíduos humanos, isto C, os sujeitos reais, tornam-se em Hegel predicados da "substância mística" universal. Mas, reafirma Marx, "como não é a religião que cria o homem, mas o homem que cria a religião, da mesma forma não é a constituição que cria o povo, mas o povo que cria a constituição". 12 Assim, Hegel cré estar descrevendo a essência do Estado, ao passo que, de fato, está descrevendo e legitimando a realidade existente que é o Estado prussiano. 3.4.4 Marx, critico da esquerda Hegeliana A esquerda hegeliana, pelo menos até 1843, foi um dos grupos intelectuais mais vivos e combativos da Europa. Mas, enquanto a direita hegeliana, em nome do pensamento de Hegel, procurava justificar o cristianismo e o Estado existente, a esquerda, sempre em nome da dialética hegeliana, transformava o idealismo em materialismo, fazia da religião cristã fato puramente humano e combatia a politica existente com base em posições "democrítico-radicais". Entretanto, a convicção que está na base da esquerda hegeliana é a de que as "verdadeiras cadeias" dos homens estão em suas ideias, razão por que os jovens hegelianos pedem coerentemente aos homens, "corno postulado moral, que substituam sua consciência atual pela consciência humana, critica ou egoísta, desembaraçando-se assim de seus impedimentos. Essa exigência de modificar consciência leva a outra exigências, a de interpretar diversamente o que existe, ou seja, reconhece- lo através de uma interpretação diferente". Por tudo isso, também a esquerda hegeliana vê o mundo de cabeça para baixo; o pensamento dos jovens hegelianos, portanto, é um pensamento ideológico, como o de Hegel. Escreve Marx: "Não veio B mente de nenhum desses fil6sofos procurar o nexo existente entre a filosofia alemã e a realidade alemã, o nexo entre sua critica e seu próprio ambiente material ". Consequentemente, os jovens hegelianos nada tinham de radical. Como já escrevera Marx: "Ser radical significa colher as coisas pela raiz. Mas, para o homem, a raiz é o próprio homem". E a "libertação" do homem não avança reduzindo "a filosofia, a teologia, a substância e toda a imundície á auto˗consciência ", ou libertando o homem do domínio dessas frases. 3.4.5 Marx e a critica a religião Feuerbach sustentara que a teologia é antropologia. Sobre esse ponto, sobre esse humanismo materialista, Marx está de acordo com Feuerbach. Entretanto, na opinião de Marx, Feuerbach deteve-se diante do problema principal e não o resolveu. E o problema é o de entender por que o homem cria a religião. A resposta a esse problema, segundo Marx, é a seguinte: os homens alienam seu ser projetando-o em um Deus imaginário somente quando a existência real na sociedade de classes impede o desenvolvimento e a realização de sua humanidade. Disso deriva que, para superar a alienação religiosa, não basta denuncia-la, mas é preciso mudar as condições de vida que 13 permitem á "quimera celeste" surgir e prosperar. Feuerbach, portanto, não viu que "até o sentimento religioso' é produto social e que o individuo abstrato que ele analisa pertence a determinada forma social". É o homem que cria a religião. Mas, diz Marx, "o homem é o mundo do homem, o Estado, a sociedade. Esse Estado e essa sociedade produzem a religião, que é consciência invertida do mundo, porque também são um mundo invertido. A religião é a teoria invertida deste mundo. Assim, torna-se evidente que "a luta contra a religião é a luta contra aquele mundo do qual a religião é o aroma espiritual". Existe o mundo fantástico dos deuses porque existe o mundo irracionale injusto dos homens. "A miséria religiosa é a expressão da miséria real em um sentido e, em outro, é o protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura oprimida, o sentimento de um mundo sem coração, o espirito de situações em que o espirito está ausente. Ela é o ópio do povo". Marx não ironiza o fenómeno religioso, a religião não é para ele a invenção de padres enganadores, mas muito mais obra da humanidade sofredora e oprimida, obrigada a buscar consolação no universo imaginário da fé. Mas as ilusões não se desvanecem se não eliminarmos as situações que as criam e exigem. Escreve Marx nas Teses sobre Feuerbach: "Os filósofos limitaram-se a interpretar o mundo de modos diversos; agora, trata-se de transforma-lo". Substancialmente, a primeira função de uma filosofia a serviço da historia, segundo Marx, é a de desmascarar a auto˗alienação religiosa, "mostrando suas formas que nada têm de sagradas". Essa é a razão por que "a critica do céu se transforma em critica da terra, a critica da religião em critica do direito, a critica da teologia em critica da politica ". 3.4.6 Materialismo Histórico A teoria da alienação do trabalho introduz á outra teoria fundamental de Marx, que é o materialismo histórico. Materialismo histórico. é a teoria segundo a qual a estrutura económica determina a superestrutura das ideias. O materialismo histórico consiste na tese segundo a qual "não é a consciência dos homens que determina o ser deles, mas, ao contrário, é o ser social deles que determina a consciência deles". Isso leva a especificar a relação existente entre estrutura económica e superestrutura ideológica. Na ideologia alemã: "A produção das ideias, das representações, da consciência, em primeiro lugar, está diretamente entrelaçada a atividade material e as relações materiais dos homens, linguagem da vida real. As representações e os pensamentos, bem como o intercambio espiritual dos homens, 14 ainda aparecem aqui como emanação direta do seu comportamento material. E, do mesmo modo, isso vale para a produção espiritual, como ela se manifesta na linguagem da politica, das leis, da moral, da religião etc. de um povo". 0s homens são os produtores de suas representações, ideias etc., mas, precisa Marx, são "Os homens reais, operantes, assim como são condicionados por determinado desenvolvimento de suas forças produtivas. Ou seja, "o modo de produção da vida material condiciona, em geral, o processo social, politico e espiritual da vida". Está teor serviu a Marx como "fio condutor" de seus estudos, que lhe mostraram que, "com a mudança da base económica, transforma-se mais ou menos rapidamente toda a gigantesca superestrutura". Portanto, como escreve Marx, os homens podem distinguir-se dos animais pela religião, pela consciência ou pelo que se quiser, "mas eles começaram a se distinguir dos animais quando começaram a produzir seus meios de subsistência". E aquilo que "os indivíduos são depende das condições materiais de sua produção". A essência do homem, portanto, está em sua atividade produtiva. Portanto, uma das principais ideias do materialismo histórico é a de que a evolução histórica da sociedade é beneficiada pelos confrontos entre as diferentes classes sociais, devido ao que Marx chamava de "exploração do homem pelo homem". 3.4.7 Materialismo dialético O materialismo de Marx é materialismo histórico. E, como fio condutor para o estudo da historia, ele apresenta a teoria pela qual as ideias jurídicas, morais, filosóficas, religiosas etc. dependem, são condicionadas ou são o reflexo e a justificação da estrutura económica, de modo que, se a estrutura económica muda, haverá transformação correspondente na superestrutura ideológica. Existe, portanto, uma relação de determinação ou, de qualquer modo, de condicionamento por parte da estrutura económica sobre a superestrutura constituída pelas produções mentais dos homens, isto é, sobre sua consciência ou, melhor ainda, sobre sua consciência social. Mas o materialismo de Marx é também e sobretudo materialismo dialético, que tem suas raízes no sistema hegeliano. Na realidade, Marx reconhece como mérito de Hegel o de "começar por toda parte com a oposição das determinações e enfatiza-la". Mas, como a alienação não é para Marx figura especulativa, e sim a condição historica em que o homem se encontra em relação á propriedade privada dos meios 15 de produção, da mesma forma também a dialética - entendida hegelianamente como síntese dos contrários - é assumida por Marx, só que ele a inverte. Marx inverte a dialítica hegeliana, "pondo-a de pé"; ele a transporta das ideias para a historia, da mente para os fatos, da "consciência infeliz" para a "realidade social em contradição". Substancialmente, em sua opinião, todo momento histórico gera contradições em seu seio, e estas constituem a mola do desenvolvimento histórico. Reivindicando para o Capital o mérito de ser "a primeira tentativa de aplicação do método dialético á economia politica", Marx sustenta que a dialítica é a lei do desenvolvimento da realidade histórica, e que essa lei expressa a inevitabilidade da passagem da sociedade capitalista para a sociedade comunista, com o consequente fim da exploração e da alienação. 16 Conclusão Apos a compilação de todas as informações necessárias das obras que o grupo teve acesso, pode - se concluir que Sem sombra de dúvida há consenso por parte dos estudiosos de Hegel, Feuerbach e Marx a grande contribuição que tiveram os dois primeiros pensadores para a evolução e consolidação do pensamento de Marx. Feuerbach significou uma reviravolta no idealismo de Hegel como corrente de pensamento dominante até então. Em contraposição ao idealismo, Feuerbach vai instaurar o materialismo, trazendo o homem do céu e colocando na terra: o homem é a essência de tudo. Em Feuerbach a essência do homem é o seu ser. O real é o sensível. A verdade reside na união de dois sujeitos reais em sua natureza. Essa união nasce da intuição da essência universal de ambos os sujeitos. A verdade é, como diz Feuerbach, o homem em sua essência, ou em outras palavras, é a essência dos sujeitos (Frederico & Sampaio, p. 82). É a consciência sensível. Para Hegel a verdade é a união entre essência e aparência da coisa, é a união do eu e do tu que nasce da instituição da essência universal (idem, p. 83). Embora Marx inicialmente concebesse a verdade conforme Feuerbach; ou, fazendo uma ponte com Hegel, a verdade é a revelação da essência por meio da reflexão, em seus estudos posteriores ele não entenderá mais a verdade como a consciência sensível, intuitiva, mas a verdade como sendo o homem real agindo sobre a realidade, transformando-a. E que contrariamente, a Feuerbach, Marx vai situar seu materialismo para além do sujeito pensante, preso em sua sensibilidade. Marx irá centrar seu materialismo na relação dos sujeitos com condições materiais nas quais eles se perpetuam e atendem suas necessidades. Para Marx, os seres humanos embora sensíveis, são seres concretos reais, fruto das relações que mantém em sua atividade prática, produtiva. Há uma Inter-relação entre as relações de produção e as forças produtivas, dependendo estas e, ao mesmo tempo, impulsionando a divisão do trabalho. Dirá Marx que o que os indivíduos são depende não da Razão, mas das condições materiais da produção dos bens necessários à vida. Ou seja, a cada desenvolvimento das forças produtivas, corresponderá novas relações de produção mais avançadas, o que, por sua vez, corresponderá mais adiante a um novo momento de reflexão dos indivíduos sobre sua essência, subjetiva e objetiva, o ser e suas condições de existência. 17 Bibliografia COSTA. César Augusto Soares da. Premissas conceituais sobre a formação do materialismo de Marx. Prax. filos. no.31 Cali July/Dec. 2010. Print version ISSN 0120-4688On-line versionISSN 2389-9387. Disponível em: http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0120- 46882010000200004. Acesso em 18 de Nov. 2021. MARX. Karl: Teses contra Feuerbach. In: Os Pensadores. São Paulo: abril Cultural, 1988 Marx, K e Engels, F.: A Ideologia Alemã, São Paulo, Martins Fontes. 1989 MONTEIRO, Fabrício Pinto. O materialismo no debate Feuerbach, stirner e Marx: relevâncias para a história social contemporânea? Revista de Teoria da História Ano 2, Número 5, junho/ 2011. Universidade Federal de Goiás ISSN: 2175-5892. REALE, G. & ANTISERI, D. Historia da filosofia, 5: do romantismo ao empiriocriticismo. Paulus editora, São Paulo, 2005. SANTOS, Thamires, uEduca Brasil: Materialismo, 2020. Disponível em https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/filosofia/materialismo. Acesso em 18 de novembro de 2021. https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/filosofia/materialismo
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