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Propedêutica e Processo de Cuidar da Saúde da Criança e do Adolescente Aula XII Professora Thaísy Schmidt professorathaisyschmidt@gmail.com @thaisyschmidt A Hospitalização da Criança e as Principais Técnicas de Assistência • A hospitalização durante a infância é um acontecimento estressante e traumatizante para a criança, pois ocorre ruptura com o seu meio social, suas atividades, seus hábitos e costumes. As crianças ficam imersas em um ambiente novo, repleto de restrições e rotinas, com pessoas desconhecidas e, além disso, são submetidas a procedimentos geradores de medo e dor (SOUSA et al., 2011). • A hospitalização da criança costuma ser vivenciada por ela com grande sofrimento psíquico potencializado pelo distanciamento da família, pela submissão aos procedimentos e rotinas hospitalares e por lidar com a fantasia ou o perigo real de morte. • As teorias relevam que o ambiente hospitalar é para a criança um local de sofrimento físico e emocional. • Seu corpo é manipulado de forma “invasiva” e dolorosa, havendo pouca ou nenhuma explicação em relação à necessidade do procedimento. • Para a criança, o hospital é um local hostil, desconhecido e “assustador”, onde pessoas não familiares impõem o cumprimento de regras e bom comportamento. • As doenças carenciais aumentam a suscetibilidade das crianças a diarreias e infecções, além de poder comprometer a maturação do sistema nervoso, visual, mental e intelectual. Toda criança atendida em nível hospitalar deve ter de início, seu estado nutricional criteriosamente avaliado. As crianças com desnutrição grave devem ter atendimento e cuidado especializado imediatos, devido à sua maior susceptibilidade a complicações graves e risco de morte (BRASIL, 2005a). O impacto da Hospitalização em Crianças e Adolescentes • Na maior parte do tempo de hospitalização, a criança fica restringida ao leito, submetida à passividade, cercada de pessoas estranhas e que, para ela, trazem mais dor e sofrimento. • Dor representada pelas agulhas, cortes, medicações que ardem na pele, dentre outros procedimentos desagradáveis, até mesmo para um adulto. • Esses fatores tornam-nas mais vulneráveis às consequências emocionais da hospitalização. É comum a ocorrência de mecanismos de defesa, do tipo: REGRESSÃO, recusa de alimentos sólidos, diminuição do vocabulário, perda do controle dos esfíncteres, além de outras reações emocionais. O impacto da Hospitalização em Crianças e Adolescentes • Quando uma criança é internada em um hospital, a primeira percepção que tem é de estranhamento ao ambiente, aos procedimentos, aos medicamentos, equipamentos e os profissionais. • Há um desconhecimento do ato médico como um todo; surgem intervenções invasivas com pouca ou nenhuma comunicação da equipe de saúde, dificultando que a criança perceba como parte de sua cura, associando mais a intenções punitivas e castigo (especialmente as que envolvem utilização de agulhas). • É necessário preparar emocionalmente o paciente nas situações de angústia e estresse no contato com a hospitalização, para que seus medos e fantasias sejam amenizados. • Observa-se que a experiência de hospitalização é fonte de stress e ansiedade para a maioria das crianças, podendo mesmo contribuir para um risco acrescido de perturbações de comportamento e de psicopatologia a médio e longo prazo. • Há várias maneiras que podem aliviar o stress da criança hospitalizada. Uma delas é fazer este pequeno ser sentir-se confortável no processo de hospitalização, familiarizando-o com o ambiente ao conduzi-lo antes da internação, caso ela já esteja confirmada, conhecer o local para que entenda o funcionamento e procedimentos hospitalares. • Há determinados hospitais que oferecem atividades lúdicas para as crianças em fase de hospitalização sentirem-se acolhidas e confortáveis, tendo também a família no acompanhamento, observando a melhora do estado de saúde do filho e o empenho da equipe de enfermagem ao cuidar com atenção deste ser internado (GONÇALVES et al., 2017) A legislação brasileira regulamenta o funcionamento das brinquedotecas nas unidades de saúde que ofereçam atendimento pediátrico em regime de internação, determinando as seguintes diretrizes: • I – os estabelecimentos hospitalares pediátricos deverão disponibilizar brinquedos variados, bem como propiciar atividades com jogos, brinquedos, figuras, leitura e entretenimento nas unidades de internação e tratamento pediátrico como instrumentos de aprendizagem educacional e de estímulos positivos na recuperação da saúde; • II – tornar a criança um parceiro ativo em seu processo de tratamento, aumentando a aceitabilidade em relação à internação hospitalar, de forma que sua permanência seja mais agradável; • III – agregação de estímulos positivos ao processo de cura, proporcionando o brincar como forma de lazer, alívio de tensões e como instrumento privilegiado de crescimento e desenvolvimento infantil; • IV – ampliação do alcance do brincar para a família e os acompanhantes das crianças internadas, proporcionando momentos de diálogos entre os familiares, as crianças e a equipe, facilitando a integração entre os pacientes e o corpo funcional do hospital; • V – a implementação da brinquedoteca deverá ser precedida de um trabalho de divulgação e sensibilização junto à equipe do Hospital e de Voluntários, que deverá estimular e facilitar o acesso das crianças aos brinquedos, do jogos e aos livros (BRASIL, 2005b). Comportamento das Crianças e da Família diante a Hospitalização • Segundo Baldini e Krebs (1999), as reações da criança frente à doença e a hospitalização dependem principalmente do nível de desenvolvimento psíquico na ocasião, do grau de apoio familiar, do tipo de doença e das atitudes do médico. • Quando a internação ocorre • dos quatro meses aos dois anos; • dos dois aos cinco anos; • dos cinco aos sete anos; • dos sete aos nove anos; • dos nove aos onze anos; • dos onze aos treze anos; • dos treze aos dezessete anos. • Reações dos pais podem reagir com descrença, raiva ou culpa e podem responsabilizar-se pela doença da criança. Sentem também medo, ansiedade e frustração. Eventualmente, podem reagir com algum grau de depressão. • Reações dos irmãos experimentam solidão, medo, preocupação, raiva, ressentimento, ciúme e culpa. • Papéis familiares alterados isto afeta cada membro da família, por exemplo, uma reação comum é a atenção especializada a criança doente e a os outros filhos se considerar como rejeitados. • No ambiente hospitalar, a presença do familiar se configura em uma referência da vida da criança fora do hospital, trata-se de alguém que ela conhece e reconhece o cheiro, o toque e a fisionomia. No familiar, a criança busca a força e a segurança necessárias para enfrentar o medo, a dor e os demais sentimentos gerados em função da doença e da hospitalização (RIBEIRO et al., 2017). • Trata-se, portanto, de um momento estressante tanto para criança quanto para os seus familiares. Por outro lado, os pais estão ávidos de informação, valorizando todos os aspectos relativos ao estado de saúde da criança e o conhecimento das implicações que a doença pode ter no seu futuro. • Os profissionais de saúde, ao terem uma perspectiva pouco clara daquilo que os pais valorizam, reduzem a possibilidade de resposta efetiva às suas necessidades, o que sugere contribuir para aumentar a ansiedade e insegurança dos pais (MELO et al., 2014). • Dessa forma, o enfermeiro deve acolher a família da criança para se estabelecer um vínculo, fundamental para potencializar a recuperação da criança. • Existem aspectos que dificultam o cuidado compartilhado, uma vez que o ambiente hospitalar exige da família condutas e comportamentos diferentes dos manifestados em casa, limitando suas ações de cuidado. Uma sala de convivência, pode ajudar ampliar a interação e coparticipação dos familiares no cuidado à criança por meio da realização de atividades cotidianas, facilitando o cuidado compartilhado entre enfermagem e família (RIBEIRO et al.,2017). • Os conhecimentos acerca das necessidades dos pais durante o acompanhamento da criança doente, em contexto hospitalar, permitem salientar o interesse e o envolvimento dos pais nos cuidados de saúde da criança internada, de modo a contribuir para a atenção à saúde qualificada e humanizada (FERREIRA et al., 2010). • Além disso, informar o familiar sobre o tratamento e a realização de procedimentos e exames, bem como esclarecer as dúvidas que emergem deles, transmite segurança e tranquilidade, propicia a sensação de respeito e valorização como coparticipante no cuidado. (RIBEIRO et al., 2017). • Por essa razão, o enfermeiro deve estimular uma relação salutar, estabelecida entre a família e a equipe, podendo conhecer melhor a criança, esclarecer as dúvidas familiares e construir uma rede de confiança. • A confiança mútua é fundamental para as vivências que virão, podendo ser positivas, em casos de recuperação da saúde da criança, ou mesmo para um melhor entendimento e aceitação em casos de evoluções não muito satisfatórias, como a morte. Direitos da Criança e do Adolescente hospitalizados: • CARTA DA CRIANÇA HOSPITALIZADA • Esta Carta foi preparada por várias associações europeias em 1988, em Leiden, resume e reafirma os Direitos das crianças hospitalizadas. • A admissão de uma criança no Hospital só deve ter lugar quando os cuidados necessários à sua doença não possam ser prestados em casa, em consulta externa ou em hospital de dia. • Uma criança hospitalizada tem direito a ter os pais ou seus substitutos, junto dela, dia e noite, qualquer que seja a sua idade ou o seu estado. As crianças e os pais têm o direito de receber uma informação sobre a doença e os tratamentos, adequada à idade e à compreensão, a fim de poderem participar nas decisões que lhes dizem respeito. • A equipa de saúde deve estar organizada de modo a assegurar a continuidade dos cuidados que são prestados a cada criança. • A intimidade de cada CRIANÇA deve ser respeitada. A criança deve ser tratada com cuidado e compreensão em todas as circunstâncias. • Segundo as diretrizes para admissão hospitalar, sugeridas por Hockenberry e Wilson (2014, p. 597), na pré-admissão, o enfermeiro deve designar o quarto com base na idade de desenvolvimento, gravidade de diagnóstico, transmissibilidade de enfermidade e duração prevista da hospitalização. • Organize o prontuário e os materiais e insumos necessários para a admissão. Depois, receba a criança e se apresente, tornando-se uma referência inicial para os pais/cuidador e a criança. • Oriente sobre as principais rotinas e funcionamento do quarto: luz de chamada, banheiro, controles do leito, telefone, televisão, horários de funcionamento de serviços de apoio, como lanchonetes e livrarias, e apresente a unidade de internação, se possível, orientando sobre a brinquedoteca, áreas de sol, entre outros. • Explique os regulamentos, como em relação às visitas médicas, horários de visitas e refeições. • Verifique se a criança está com a pulseira de identificação e se o nome e a unidade de internação estão corretos. Inicie a Sistematização da Assistência de Enfermagem, verificando os sinais vitais e o peso (deverá ser verificado diariamente, no mesmo horário, se possível), e fazendo a entrevista (detalhada anteriormente), mediante a coleta de dados (histórico e exame físico). • A prescrição de enfermagem da criança internada deve prever os valores de referência dos sinais vitais, de acordo com a idade e as condições clínicas. Esses valores devem ser consultados em tabelas de referências para peso, altura, frequências cardíacas e respiratórias, pressão arterial, temperatura e escalas de dor, e adotados individualmente, para cada criança em específico. Cuidados de Enfermagem com a Criança Hospitalizada • Neste cenário a enfermagem se inserir de maneira a tornar o mais agradável possível a estadia da criança no hospital. Gostaria de sensibilizar os profissionais da área de saúde para que consigam captar as reais necessidades das crianças com a maior paciência possível. • A figura materna representa conforto, segurança, apoio, carinho e proteção, quando as crianças internadas podem contar com o apoio das mães durante a internação se tornam mais capazes de suportar os sofrimentos e ansiedades causadas pela hospitalização. • Para que a assistência de enfermagem seja efetiva deve-se compreender o impacto da hospitalização nas crianças e em suas mães, observando suas reações, e buscando junto à equipe ajudá-las, pra que se possa desenvolver um melhor trabalho possível. • O apoio emocional, que é o coração da enfermagem. • É necessário expandir a atuação da enfermagem, não se restringindo puramente à prestação da assistência a criança hospitalizada; mas estender-se ao conhecimento dos fatores emocionais da mãe, pois o cuidado humanizado engloba cuidar de quem cuida. • Brincando a criança expressa de modo simbólico suas fantasias, seus desejos e suas experiências vividas. • Tais resultados comprovam cada vez mais o quanto as brincadeiras podem auxiliar no processo de recuperação da criança hospitalizada. • Preparar a criança através de atividades lúdicas para que ela possa enfrentar de maneira mais realista os conflitos vividos pela cirurgia e outros procedimentos prestado. • A participação ativa dos pais nesse momento transmite tranquilidade à criança, atenuando vivências desagradáveis durante a hospitalização. Os cuidados de enfermagem na saúde da criança e do adolescente • Administração de medicamentos e a criança • A administração de medicamentos em crianças é um dos aspectos mais desafiadores e críticos da enfermagem pediátrica, pois, diferente da administração de medicamentos do adulto, no qual o princípio geral é que “uma dose é igual para todos “ se aplica, na enfermagem pediátrica ela precisa ser individualizada (BOWDEN; GREENBERG, 2005). • Os efeitos farmacocinéticos e farmacodinâmicos das drogas são previstos de acordo com a idade, ou seja, capacidades de desenvolvimento de cada faixa etária. Como já estudado, quanto menor a idade da criança, especialmente os prematuros, neonatos e lactentes, os efeitos são menos previsíveis. Crianças menores não são capazes de metabolizar drogas com a mesma facilidade que os adultos, devido à biotransformação dificultada em virtude da imaturidade dos sistemas enzimáticos hepáticos e a excreção retardada devido à imaturidade renal. A absorção (via gastrintestinal) é reduzida em menores de 6 meses devido à velocidade de esvaziamento ser maior. Esse aumento do trânsito intestinal é previsto até 2 anos de idade. A distribuição da droga é diferente em relação ao adulto, devido à maior quantidade de água relacionada à superfície corporal, principalmente no recém-nascido (HOCKENBERRY; WILSON, 2014). • Características de absorção, distribuição, metabolismo e excreção de drogas diferem do recém-nascido ao adolescente, sendo, portanto, necessário que enfermeiras-pediatras possuam conhecimentos científicos e técnicos específicos que possibilitem a realização segura e eficaz da terapia medicamentosa (PETERLINI; CHAUD; PEDREIRA, 2003). • Dessa forma, as medicações prescritas para crianças variam de doses, pois são prescritas de acordo com o peso e a idade. • Por exemplo, a Amicacina (aminoglicosídeo) tem apresentação em ampola com 2 ml: 50 mg/ml, via endovenosa. A dosagem recomendada é 15 mg/kg/dia (dividido em três doses no dia). Se a criança pesar 5 kg, receberá 75 mg/dia, ou seja, 25 mg/dose, ou seja, 0,5 ml. Se a criança pesar 10 kg, receberá 150 mg/ dia, ou seja, 50 mg/dose, ou seja, 1,0 ml/dose. • Embora a prescrição de fármacos seja de responsabilidade médica, os conhecimentos do enfermeiro são fundamentais, pois a equipe deve estar capacitada e apta para medicar a criança, verificando a dosagem correta, via, ação esperada, acessórios viáveis, efeitos colaterais e os sinais de toxidade (PETERLINI; CHAUD; PEDREIRA, 2003). • O enfermeiro é o profissional responsável pelo processo de administração de medicamentos,atuando na liderança da equipe de enfermagem e, portanto, amplamente responsável também em relação ao cuidado da criança que se encontra em terapia medicamentosa. • Para todas as medicações realizadas na criança, o enfermeiro deve registrar no prontuário, além da checagem da medicação, o local em que foi feita a aplicação (como músculo lateral da coxa esquerda), se houve algum motivo pelo qual a medicação não foi realizada, como em casos de rejeição, as queixas, intercorrências e providências adotadas, assinando o nome com os dados de registro no Conselho Regional de Enfermagem. Administração de medicamentos em pediatria • Responsabilidade/Compromisso profissional • Conhecimento fisiológico e farmacológico • Considerações ético-legais • Enfermeiro gerenciador do cuidar • 5 certos • paciente/droga/dose/via/horário • Considerações e riscos associados aos pacientes pediátricos • Apresentação imprópria para crianças • Toxicidade • Falta de informação sobre o efeito em pacientes pediátricos • Prescrições: mg/kg em 24 horas • Interações medicamentosas Administração de medicamentos em pediatria • Cuidados antes da administração de medicamentos em pediatria • História da criança • Idade • Peso • Formas de administração • Vias de administração Administração de medicamentos em pediatria Administração de medicamentos em pediatria • Manuais e guias de consulta para orientação aos profissionais de saúde no preparo e diluição contendo: • nome genérico e comercial e apresentação; • formas de preparo e administração: diluições, diluentes compatíveis e incompatíveis, conservação, estabilização após diluição; • interações medicamentosas; • cuidados específicos • Devido à ausência de formulações medicamentosas próprias, a maioria dos medicamentos tanto por via oral (VO) como por via intravenosa (IV) necessita de diluição. Diluição de medicamentos em pediatria • Diluição de medicamento oral para crianças menores de 6 anos: • medicamentos em comprimidos e em dosagens altas - ao se diluir não se obtém uma solução homogênea - não se conhece a estabilidade após a diluição nem sua compatibilidade com o solvente utilizado; Diluição de medicamentos em pediatria • Veículos: • soluções de glicose a 5% (SG a 5%); • soro fisiológico a 0,9% (NaCl a 0,9%); • soro glicofisiológico (SGF); • solução de Ringer (SR); • Ringer lactato (SRL); • água para injeção; • Agentes antimicrobianos. Diluição de medicamentos em pediatria
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