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Mariana M. de Almeida – 2021.2 1 Insuficiência Renal Aguda Usamos o termo insuficiência porém o termo correto é injúria. Tendo em vista que o rim tem uma grande reserva funcional e quando para de funcionar vai apresentar uma série de alterações que caracterizam a lesão renal. Quando temos manifestações clínicas, trata-se de insuficiência renal. A Insuficiência Renal Aguda (IRA) é definida pela redução aguda da função renal em horas ou dias. Refere-se principalmente a diminuição do ritmo de filtração glomerular e/ou do volume urinário, porém, ocorrem também distúrbios no controle do equilíbrio hidro-eletrolítico e acido-básico. • Perda súbita da função renal; • Acompanhada ou não da diminuição da diurese; • Transitória e reversível dependendo da gravidade; • Acúmulo de substâncias nitrogenadas (ureia e creatinina) – alterações laboratoriais. Tabela de KDIGO para classificação da IRA • Uremia - manifestação clínica devido ao acúmulo de escorias nitrogenadas. • TFG (taxa de filtração glomerular), VN (valor normal). • O acometimento renal vai geral consequência sistêmica, tendo em vista que o rim age atuando também no auxílio da função de vários órgãos. • A redução da eritropoietina normalmente é comum na insuficiência renal crônica. creanitina sérica = Avalia a funcionalidade do rim. Mariana M. de Almeida – 2021.2 2 Epidemiologia: • Ocorrem em 2 a 5 % dos pacientes hospitalizados • 79% dos casos secundários à hipovolemia, pós-cirurgia, administração de contrastes para RX, uso de aminoglicosídeos, choque séptico. • A mortalidade dos pacientes com IRA permanece em torno de 40 a 50%, apesar dos avanços diagnósticos nas técnicas dialíticas e das práticas de terapia intensiva, podendo alcançar mais de 70% quando analisados pacientes em UTI com sepse. Principais fatores de risco para o desenvolvimento da IRA em pacientes hospitalizados: • Idade avançada • Presença de doença renal crônica • Sepse • Cirurgias cardíacas Etiologias: • Distúrbios que levam à redução da perfusão renal (pré-renal) • Utilização de substâncias nefrotóxicas, isquemia (renal) • Obstrução prostática, litíase, tumores (pós-renal) Etiopatogenia: • Pré-renal: 55-60% • Renal: 35-40% • Pós-renal: 5-10% • IRA PRÉ-RENAL • É a etiologia mais comum de IRA (55 a 60%) dos casos. • A diminuição da função renal em razão de IRA pré-renal ocorre quando há redução generalizada do volume sanguíneo circulante (traumas, sangramentos, queimaduras, grandes cirurgias, desidratação). • Não há defeito estrutural nos rins. Os glomérulos, túbulos e interstício estão intactos e a função glomerular é rapidamente restabelecida após correção da perfusão renal. Em situações de hipoperfusão renal discreta (pressão sanguínea média > 80 mmHg), a FG é mantida por mecanismos compensatórios, pela dilatação da arteríola aferente e constrição da arteríola Mariana M. de Almeida – 2021.2 3 eferente, mantendo a perfusão glomerular e a pressão de filtração. Na azotemia pré-renal, essa autorregulação está comprometida, levando à retenção de creatinina e ureia. • A IRA pré-renal é reversível em 01 a 02 dias se tratada adequadamente. Porém, caso haja persistência da lesão e não sejam tomadas as medidas necessárias, pode evoluir para uma lesão renal aguda renal → necrose tubular aguda (NTA). • Nos casos de IRA pré-renal não é obrigatória a oligúria. Nos pacientes com IRA pré-renal vai haver uma ATIVAÇÃO DO SRAA → VASOCONTRICÇÃO PERIFÉRICA → REABSORÇÃO DE SÓDIO E ÁGUA - PODE TER OLIGÚRIA E A URINA FICAR HIPERCONCENTRADA E POBRE EM SÓDIO (pois o rim reabsorve água e sódio com objetivo de aumentar a pressão). Caso, você faça o teste para observar a urina do paciente e identifique que tem pouco sódio, é um sinal de que ele está fazendo reabsorção e, portanto, estamos diante de uma pré-renal. → IRA RENAL • Existe lesão dentro do próprio rim. • A IRA renal mais frequente é a necrose tubular aguda (NTA) responsável por 70% dos casos, seguida de 10 a 20% de nefrites intersticiais agudas e de 1 a 10% de causas vasculares. • A NTA é uma IRA desencadeada por isquemia (sepse, choque cardiogênico, trauma grave) ou nefrotoxinas (meios de contraste, antibióticos, ciclosporina, quimioterápicos, paracetamol, rabdomiólise). • NECROSE TUBULAR AGUDA, tende a ser auto-limitada com duração de 7-14 dias e nem sempre cursa com oligúria. • Apesar de a IRA renal nefrotóxica e a isquêmica corresponderem à maioria dos casos, outras causas de IRA renal devem ser investigadas, incluindo doenças glomerulares, em especial as glomerulonefrites agudas, nefrite intersticial aguda, doenças vasculares, como a síndrome hemolítico-urêmica, vasculites, doença ateroembólica. A NTA apresenta 3 fases: 1. Início: é o período no qual o paciente é exposto a isquemia ou toxina, a lesão renal começa a evoluir, mas ainda não está estabelecida, é potencialmente reversível durante este período. 2. Manutenção: a lesão do parênquima renal está estabelecida, costuma durar 1 a 2 semanas, mas pode ser prolongada por 1 a 2 meses. Caracteristicamente, o volume urinário cai de modo Mariana M. de Almeida – 2021.2 4 súbito, ou em 2 a 3 dias, correspondendo à fase oligúrica da doença. Raramente ocorre anúria. Alguns pacientes, continuam eliminando 1 a 2L de urina por dia, trata-se da NTA NÃO OLIGÚRICA, comum na LRA nefrotóxica. 3. Recuperação: é o período durante o qual o paciente recupera a função renal, seu início é anunciado por aumento gradual do débito urinário e queda gradativa da creatinina sérica. • A IRA RENAL difere da IRA PRÉ-RENAL por não ocorrer reversão imediata após a remoção da causa inicial. • Vale salientar que a IRA RENAL pode ser decorrente de uma IRA PRÉ-RENAL não tratada. Manifestações Clínicas: As manifestações clínicas da IRA são as da afecção que causou a lesão renal mais os sinais e sintomas decorrentes da falência aguda da função renal. • Os sintomas agravam-se conforme a azotemia progride, surgindo náuseas, vômitos, apatia, tremores, fasciculações musculares, confusão mental, podendo evoluir para coma. • O potássio eleva-se, podendo chegar a níveis tóxicos, especialmente para o músculo cardíaco; bicarbonato e pH do sangue reduzem em decorrência da acidose metabólica proveniente do acúmulo de radicais ácidos. → IRA PÓS-RENAL • O problema está depois do rim, ou seja, existe uma obstrução ao fluxo de saída da urina (ex: lesão prostática que interfere na urina) que desencadeia aumento de pressão intratubular retrógrada, ou seja, acima do local da obstrução que resulta em dilatação pielocalicial e consequentemente destruição dos túbulos. • Apresenta a menor prevalência dentre os 3 tipos de IRA (< 5%). Para que uma obstrução resulte em insuficiência renal aguda, é necessário a ocorrência de obstrução com repercussão renal bilateral, ou unilateral, nos casos de rim único. • A obstrução de colo vesical é a causa mais comum, em geral decorrente de doenças prostáticas, bexiga neurogênica ou tratamento com anticolinérgicos. Além do mais, temos também a nefrolitíase determinando uma hidronefrose. Mariana M. de Almeida – 2021.2 5 • Causas menos comuns do trato urinário inferior incluem estenose do meato uretral, coágulos, cálculos e uretrite com espasmo. Dentre as causas de obstrução alta, bilateral ou unilateral em rim único, encontram-se as neoplasias. Quando suspeitar de IRA PÓS-RENAL LOGO DE CARA? Oligúria ou anúria de instalação súbita! (mais comum em paciente idoso, com história de sintomas prostáticos, dificuldade para urinar, etc). A IRA pós-renal costuma apresentar anúria, dor suprapúbica ou em flanco, nictúria, polaciúria e hesitação urinária na obstrução prostática. O diagnóstico precoce da IRA por obstrução do trato urinário é fundamental,pois somente a remoção da causa obstrutiva possibilita o restabelecimento da função renal e quanto antes isso for feito, melhor a recuperação. Para desobstrução, podemos utilizar uma sonda vesical de demora, cateter duplo J ou nefrostomia (derivação externa para que o paciente consiga urinar). No exame físico, a palpação e percussão supra-púbica podem revelar bexiga distendida e dolorosa. Já na palpação abdominal é possível identificar aumento dos rins devido a hidronefrose. O diagnóstico da obstrução é, em geral, feito pela ultrassonografia. Mariana M. de Almeida – 2021.2 6 Como diferenciar IRA de DRC? Através de história clínica, exames prévios, presença de anemia normocítica e normocrômica (típica de paciente com DRC), exames de imagem, presença de distúrbios hidroeletrolíticos e achados de doença óssea renal (hiperfosfatemia, osteodistrofia renal). Insuficiência Renal Aguda – manifestações clínicas 1. Cutâneo: prurido 2. Imunológico: depressão imunológica 3. Hematológicas: sangramentos, anemias, distúrbios plaquetários 4. Nutricional: catabolismo aumentado, perda de massa muscular 5. Neurológico: sonolência, tremores, agitação, torpor, convulsão, coma 6. Cardiorrespiratórios: arritmias, pericardite, tamponamento cardíaco, pleurite 7. Digestivas: inapetência, náuseas, vômitos, diarreia, sangramento digestivo 8. Distúrbios hidroeletrolíticos e ácido-básicos: polúria, oligúria, anúria Insuficiência Renal Aguda – diagnóstico 1. Alteração do débito urinário Classificação da IRA quanto a diurese: • Anúrica total: 0-20 mL/dia • Anúrica: 20-100 mL • Oligúrica: 101-400 mL • Não oligúrica: 401-1200 mL • Poliúrica: 1201-4000 mL • Hiperpoliúrica: >4000 mL 2. Sinais e sintomas de síndrome urêmica 3. Azotemia assintomática Insuficiência Renal Aguda – diagnóstico laboratorial 1. Sangue: elevação das escórias nitrogenadas (ureia, creatinina, ácido úrico), acidose metabólica, hipocalemia ou hipercalemia, hiperpotassemia, hipocalcemia ou hipercalcemia e uma possível anemia. É importante calcular o clearance da creatinina para estabelecer o nível da função renal. 2. Sumário de urina: mioglobinúria, hemoglobinúria, hematúria, leucocitúria, cilindrúria, cristalúria, proteinúria. Exames contrastados devem ser EVITADOS. A anemia na IRA não é devido a deficiência na eritropoietina. Sair 5l de xixi no dia não significa que o rim está trabalhando melhor, pode representar lesão tubular (+ comum) ou alteração hormonal (- comum). Alteração no sódio geralmente é uma disfunção em relação água e não ao metabolismo do sódio propriamente. Hiponatremia (baixo sódio) → retendo muito água Hipernatremia (alto sódio) → perdendo muita água
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