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Inserir Título Aqui Inserir Título Aqui O Ambiente e as Doenças do Trabalho Contextualização Histórica da Saúde do Trabalhador Responsável pelo Conteúdo: Prof.ª Me. Verena Emmanuelle Soares Ferreira Revisão Textual: Prof. Me. Claudio Brites Nesta unidade, trabalharemos os seguintes tópicos: • Conceituação e Importância; • Medicina do Trabalho: Atribuições e Relação com a Engenharia de Segurança do Trabalho. Fonte: Getty Im ages Objetivos • Compreender os principais fatos que influenciaram na construção histórica da relação entre saúde e segurança no trabalho; • Promover reflexões sobre os desafios, avanços ou perspectivas na promoção da saúde dos trabalhadores; • Discutir a atuação do profissional para atuar no campo da engenharia de segurança do tra- balho, em prol da promoção, prevenção e na saúde dos trabalhadores e do meio ambiente. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! Contextualização Histórica da Saúde do Trabalhador UNIDADE Contextualização Histórica da Saúde do Trabalhador Contextualização Esta Unidade tem a finalidade de partilhar com o estudante informações de como se tria dados para a construção do conhecimento a respeito dos condicionantes, determi- nantes, da natureza, dos processos e dos mecanismos de adoecimento dos trabalhadores quando esses têm relação com as condições e ambientes de trabalho. A unidade é um ponto de partida para fornecer os instrumentos necessários no sentido de impulsionar mudanças no contexto social, tecnológico e de políticas públicas que estejam envolvidos com a Saúde do Trabalhador para assegurar que erros não se repitam e contribuir na construção de um mundo novo possível. Construindo um olhar sobre o trabalho que seja um determinante de saúde e vida. É importante, como profissionais da área da saúde e segurança, entender o contexto do trabalho e que as consequências das nossas ações e atividades chegam a todos: ao empregador, aos trabalhadores, familiares e à própria comunidade. Pensar que a construção histórica do nosso trabalho interfere na construção e for- mação pessoal e profissional de outras pessoas nos faz buscar de forma contínua o conhecimento e a qualificação. Sendo assim, para iniciarmos esta unidade, convidamos você a refletir acerca das consequências da questão de segurança nas empresas. Veja a reportagem do jornal da ciência e sobre grandes desastres da engenharia e o quanto aprendemos com os erros cometidos na história do mundo. Top 11 erros de engenharia que resultaram em desastres, disponível em: https://bit.ly/2Xgp7Rb 6 7 Conceituação e Importância Desde os tempos mais remotos, reconhecemos a relação entre saúde e trabalho, sen- do que o trabalho ocupa um lugar fundamental na vida dos indivíduos. Na pré-história e história antiga, o trabalho era visto como a busca por fontes primárias de sobrevivência – abrigo, caça, água. Atualmente, várias outras funções foram agregadas ao sentido do trabalho, como a busca do bem-estar, a autorrealização ou ainda como fonte de prazer. Estudos apontam o trabalho também como um importante fator na construção da sub- jetividade dos indivíduos. De qualquer maneira, o trabalho não é nunca neutro em relação à saúde, e favorece seja a doença seja a saúde. Fonte: Christophe Dejours, A Loucura do Trabalho Ainda que escassa, desde os papiros egípcios e, mais tarde, na tradição judaica e no mundo greco-romano, historiadores da Medicina como Henry Sigerist (1891-1957) e George Rosen (1910-1977) mostravam em seus estudos que já é possível detectar algu- ma referência sobre a associação entre trabalho e saúde-doença. Mendes (2013) afirma que, ao menos desde o antigo Egito, reconhece-se a existência de doenças associadas ao trabalho. Lesões de braços e mãos em pedreiros são descritas nos papiros de Sellier (DEMBE, 1996), dermatites pruriginosas laborais são citadas no pa- piro de Ebers (WRIGHT; GOLDMAN, 1979) e havia atendimento médico organizado em certos locais de trabalho, como minas e pedreiras, na construção de pirâmides e de outros monumentos, e em expedições à procura de minas de cobre e turquesa (LECA, 1983). Trabalhos de Hipócrates e outros autores chamavam a atenção para a importância do ambiente, da sazonalidade, do tipo de trabalho e da posição social como fatores de- terminantes na produção de doenças. Hipócrates (460-375 a.C.), em seu clássico Ares, Águas e Lugares, centra-se em ensinamentos ligados às relações entre ambiente – in- cluindo clima, topografia, qualidade da água e mesmo organização política – e saúde (SIGERIST, 1951; ROSEN, 1979). Goldwater (1936) menciona o Corpus Hippocraticum – tratados relativos à saúde escritos por Hipócrates e seus seguidores é a produção que mais alusões fez às doenças ocupacionais, até Ramazzini (1633-1714). Na Antiguidade Greco-romana, o trabalho já era visto como um fator gerador e mo- dificador das condições de viver, adoecer e morrer dos homens. Na antiga Grécia, Titus Maccius Plautus (c.254-184 a.C) descreveu que artistas e alfaiates possuíam problemas posturais e que alguns apresentavam sequelas graves em função das posturas peculiares que eram obrigados a assumir em seus trabalhos (MENDES, 2013). Não é de estranhar que também em Roma, em um ambiente onde havia grande in- fluência da cultura grega, de presença frequente e distinta de médicos, e onde se desen- volveram várias escolas médicas, tenha havido algum direcionamento da prática médica aos esteios da civilização romana. Assim, legiões militares, as escolas de gladiadores, as companhias teatrais e as corporações de trabalhadores possuíam seus próprios médi- cos, voltados ao tratamento de doenças desenvolvidas por esses profissionais. Não há, 7 UNIDADE Contextualização Histórica da Saúde do Trabalhador nesse período, como em nenhum outro período da história clássica, uma abordagem exclusiva de cunho ocupacional; os médicos tratavam as doenças de indivíduos organi- zados por seus ofícios (GIORDANI, 1987). Importante ressaltar a falta de tratado clássico que se preocupe exclusivamente com uma ocupação específica e com as doenças a ela relacionadas, ou com uma doença es- pecífica e as ocupações que poderiam causá-la. Por mais avançado que possa parecer o pensamento clássico, não se deve esquecer que a medicina e o médico acompanhavam o percurso da sociedade. O fazer o “bem” (“o princípio da beneficência”) e o não fazer o “mal” (“o princípio da não maleficência”), bases da moral hipocrática, tinham aplica- ções diferenciadas óbvias e bem determinadas em sociedades escravagistas. A melhoria concreta das condições de trabalho e a Medicina como espaço de referencia a essas mudanças, de modo similar e recorrente a vários momentos da história, mesmo recente, não se anunciavam enquanto atributo social do saber e da prática dos médicos. O fim do século XVII pode ser considerado como um divisor de águas na história do conhecimento sobre as doenças relacionadas ao trabalho, posto que em 1700 foi publicado o clássico De Morbis Artificium Diatriba[Tratado sobre a Doença dos Traba- lhadores], de autoria de Bernardino Ramazzini (1633-1714). Ele era médico e professor de Medicina em Módena e em Pádua, nasceu em Capri, na Itália, no dia 4 de outubro de 1633. Diatriba, seu texto mais importante, creditou a ele o título de Pai da Medicina do Trabalho. Ramazzini, Bernardino. As doenças dos trabalhadores. 4. ed. São Paulo: Fundacentro, 2016. 321 p. Disponível em: https://bit.ly/2v6iftN A obra de Ramazzini representa para a evolução da higiene ocupacional o mesmo que o livro de Versálio para a Anatomia, e o de Morgagni para a Patologia. Percebendo a grande importância social da saúde ocupacional, Ramazzini se dedicou não apenas a estudar mórbidas das profissões, mas também a chamar atenção para a aplicação prática desse conhecimento. Na primeira edição, ele discutiu quarenta e dois grupos de trabalhadores, entre os quais mineiros, douradores, farmacêuticos, parteiras, padeiros e moleiros, pintores, oleiros, cantores e soldados. E ampliou a segunda edição, de 1713, para incluir mais doze grupos, entre os quais impressores, tecelões, amoladores e cava- dores de poços. A obra de Ramazzini tem duas partes significativas: é síntese de todo o conhecimen- to sobre a doença ocupacional, desde os primeiros tempos, e, também, um solo para novas investigações; é assim um olhar ao passado e uma intimação ao futuro. Esse livro perdurou como o texto fundamental desse ramo de medicina preventiva até o século XIX, quando a Revolução Industrial lançou no cenário novos problemas. A Revolução Industrial, iniciada na Inglaterra no século XVIII, aconteceu em um cenário de muitos prejuízos econômicos, altos índices de acidentes de trabalho, adoeci- mento devido às péssimas condições de vida e trabalho, precariedade flexibilidade das relações de trabalho, marcado por reinvindicações dos trabalhadores por mudanças. 8 9 As transformações desencadeadas pela Revolução Industrial trouxeram mudanças na forma de produzir e de viver das pessoas e, consequentemente, deu novo impulso à Medicina do Trabalho. Desde então, as mudanças e exigências dos processos produtivos e dos movimentos sociais, suas práticas, têm se transformado e vêm incorporando novos enfoques e instrumentos de trabalho, em uma perspectiva mais interdisciplinar, delimitan- do o campo da Saúde Ocupacional e, mais recentemente, da Saúde dos Trabalhadores. Medicina do Trabalho: Atribuições e Relação com a Engenharia de Segurança do Trabalho De acordo com Mattos e Másculo (2011), as ações no campo da relação saúde versus trabalho são resultantes de diferentes conceitos e práxis de diversas correntes que tentaram, ao longo dos últimos séculos, trazer para si a hegemonia do conhecimento. Esse modo de análise permitiu que se tipificassem três formas predominantes de ação e interpretação do campo da saúde e suas relações com o trabalho, designadas pe- las ciências ligadas ao estudo do trabalho como medicina do trabalho, saúde ocupacional e saúde do trabalhador. Medicina do Trabalho A Medicina do Trabalho, enquanto especialidade médica, surge na Inglaterra na pri- meira metade do século XIX, com a Revolução Industrial. Naquele momento, o con- sumo da força de trabalho, resultante da submissão dos trabalhadores a um processo acelerado e desumano de produção, exigiu uma intervenção, sob pena de tornar inviável a sobrevivência e reprodução do próprio processo. As péssimas condições de trabalho e de vida acabavam muitas vezes por compro- meter a própria produção, em face de grande constância de acidentes e/ou doenças que reduziam a intensidade produtiva. É dessa maneira, e também como reação à ca- pacidade de organização de clamor popular, que se impôs o surgimento de novas ações normativas sanitárias voltadas a esse problema (WAISSMANN; CASTRO, 1996). Para a manutenção do bem de produção que começava a se impor e de seus con- troladores, editar novas normas que determinassem algumas melhorias às condições sanitárias laborais era fundamental. Em parte, as mudanças se deram principalmente após o Massacre de Peterloo. Em 1802, surgiu a Health and Morals of Apprentices Act, com a regulamentação da idade mínima para o trabalho, redução da jornada de trabalho e com medidas para melhorar o ambiente das fábricas. Essas orientações não eram obedecidas por falta de um organismo fiscalizador. 9 UNIDADE Contextualização Histórica da Saúde do Trabalhador Em 1833, seguiu-se o Factory Act, lei das fábricas, que ampliava as medidas de prote- ção dos trabalhadores em todas as fábricas que utilizavam a força hidráulica ou do vapor, iniciando a contratação de médicos para o controle da saúde dos trabalhadores. É impor- tante destacar a criação do “Inspetorado de Fábricas”, órgão governamental que, pela pri- meira vez, entrou no interior das fábricas para verificar se a saúde dos trabalhadores estava sendo protegida contra os agravos do trabalho (NOGUEIRA, 1984; MENDES, 2013). Assista ao filme: Peterloo: O Massacre de Manchester (2018). Trailer disponível em: https://youtu.be/Dj5h1kKjVYc Robert Dernham, proprietário de uma fábrica têxtil, preocupado com o fato de que seus operários não dispunham de nenhum cuidado médico a não ser aquele propiciado por instituições filantrópicas, procurou o Dr. Robert Baker, seu médico pessoal, e o colocou dentro da fábrica para verificar o efeito do trabalho sobre as pessoas e estabe- lecer as formas de prevenção. A contratação de Baker para trabalhar na sua fábrica, em 1830, fez surgir o primeiro serviço de medicina do trabalho. Esse modelo se estendeu por outros países, assim como o processo de industrialização. De acordo com Mendes e Dias (1991), a medicina do trabalho pode ser conceituada como: [...] especialidade médica voltada primordialmente para o tratamento (da doença), a recuperação da saúde, o tratamento dos efeitos ou a diminuição de sequelas causadas pelos acidentes e as doenças. O modelo da Medicina do Trabalho se adequou bem ao paradigma taylorista, surgido no final do século XIX, e foi aperfeiçoado por Henry Ford nas décadas seguintes nos Estados Unidos, pois favorecia a seleção dos mais aptos, o controle do absenteísmo e o gerenciamento do retorno ao trabalho dos doentes e acidentados (SILVA, 2000). Após a Segunda Guerra Mundial, o desenvolvimento de novas tecnologias com en- grenagens pesadas, novos instrumentos, a chegada de produtos químicos e a fragmen- tação crescente das tarefas trouxeram em seu bojo uma crescente demanda por inter- venção no ambiente de trabalho. Tal processo também ocasionou o deslocamento do papel do supervisor para a própria máquina, que passou a exercer formas abusivas de controle da produção através da obrigatoriedade da execução de tarefas mais intensas ou monótonas. Essas demandas oferecem novas repercussões à saúde dos trabalhadores, que se traduzem no crescimento do número de acidentes e no aumento das doenças. Isso exige uma atenção que a medicina sozinha não pode dar conta (DIEESE, 1994). O pensamento preponderante da concepção de Medicina do Traba- lho se orienta pela teoria da unicau- salidade, ou seja, para cada doença, um agente etiológico. A grande crítica que se faz à Medicina do Trabalho é que o pensamento preponderan- te dessa concepção se orienta pela teoria da unicausalidade, ou seja, para cada doença, um agente etiológico. Assim, a medicina do trabalho, ao isolar riscos específicos, atua 10 11 sobre suas consequências, medicalizando em função de sintomas e sinais ou, quando muito, associando-os a uma doença legalmente reconhecida. Dessa forma, não é capaz de superar o enfoque biológico, ignorando outros fatores que envolvam as relações psi- cossociais que trazem consequências para a saúde do trabalhador (GOMEZ-MINAYO; THEDIN-COSTA, 1997). Conforme afirma Mendes (1980), a medicina do trabalho e a higiene tornaram-se insu- ficientes para apreender as agora cada vez mais complexas relações entre trabalho e saúde, havendo a necessidade de uma racionalidadecientífica mais abrangente, consubstanciada na saúde ocupacional – melhor elaborada conceitualmente, e que absorva contribuições da higiene industrial, da toxicologia, da epidemiologia e da própria saúde pública, momento em que a medicina do trabalho confunde-se, conceitualmente, com a saúde ocupacional. Saúde Ocupacional Para Silva (2000), surge como resposta à questão do ambiente insalubre a concepção de saúde ocupacional, com um clamor multidisciplinar, aliando médicos e engenheiros a um pensamento que enfatiza a higiene industrial. Essa nova perspectiva na abordagem da saúde no trabalho retira o enfoque principal do indivíduo para o ambiente. Busca-se ampliar o caráter técnico do conhecimento, con- trolando os riscos ambientais e promovendo uma doutrina de asseio para os trabalhado- res. No entanto, essa abordagem, mesmo preventiva, por si só, demonstra ser limitadora. A nova perspectiva na aborda- gem da saúde no trabalho retira o enfoque principal do indivíduo para o ambiente. Fundada em 1919 como parte do Tratado de Versalhes, que pôs fim à Primeira Guerra Mundial, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) tem como objetivo pro- mover a justiça social. A OIT é responsável pela formulação e aplicação das normas internacionais do trabalho (Convenções e Recomendações). As Convenções, uma vez ratificadas por decisão soberana de um país, passam a fazer parte de seu ordenamento jurídico. O Brasil está entre os membros fundadores da OIT e participa da Conferência Internacional do Trabalho desde sua primeira reunião. Em 1950, o comitê misto da OIT e da Organização Mundial da Saúde (OMS) (1950) de- finiu, em reunião realizada em Genebra em 1949, a saúde ocupacional como aquela que: [...] visa à promoção e manutenção, no mais alto grau do bem-estar físico, mental e social dos trabalhadores em todas as ocupações; à pre- venção, entre os trabalhadores, de doenças ocupacionais causadas por suas condições de trabalho; à proteção dos trabalhadores em seus la- bores, dos riscos resultantes de fatores adversos à saúde; à colocação e conservação dos trabalhadores nos ambientes ocupacionais adaptados às suas aptidões fisiológicas e psicológicas; em resumo: à adaptação do trabalho ao homem e de cada homem ao seu próprio trabalho. 11 UNIDADE Contextualização Histórica da Saúde do Trabalhador A saúde ocupacional surge, sobretudo, dentro das grandes empresas, com traços da multidisciplinar e interdisciplinaridade, com a organização de equipes progressiva- mente multiprofissionais e a ênfase na higiene “industrial”, refletindo a origem histórica dos serviços médicos e o lugar de destaque da indústria nos países “industrializados” (MENDES; DIAS, 1991). Nessa abordagem, existe uma valorização dos ambientes de trabalho e de agentes ambientais, mantendo a atenção nas doenças ocupacionais do trabalhador produtivo, além da variação do conceito de causalidade, aceitando a multi- causalidade, quantificação dos riscos ambientais e mantendo o desprezo à análise dos processos de trabalho e dos modos de organização da produção como geradores de riscos com o trabalho excluído do contexto social. Para Porto (1994), o conceito de Saúde Ocupacional se apresenta como multidisci- plinar, porque envolve profissionais de áreas distintas. Assim, a higiene do trabalho atua sobre o ambiente: a engenharia de segurança do trabalho está direcionada para índices de acidente ou à busca dos agentes patogênicos existentes no local de trabalho, lidan- do com os conceitos de riscos físicos, químicos, biológicos e mecânicos e indicando as medidas de segurança para cada caso; além disso, há uma medicina do trabalho com enfoque também assistencial. A respeito do mesmo tema, é oportuno o enfoque apresentado pelos autores Gomez Minayo e Thedin-Costa (1997), que afirmam que a saúde ocupacional incorpora a teoria da multicausalidade, na qual um conjunto de fatores de risco é considerado na produção da doença, avaliada através da clínica médica e de indicadores ambientais e biológicos. Ainda hoje, esse modelo é largamente utilizado no mundo, apesar de mostrar-se inadequado na prevenção dos riscos à saúde decorrentes do trabalho, apresentando fragilidades tanto do ponto de vista teórico quanto das práticas de saúde (MENDES; DIAS, 1991). Mais recentemente, em 1995, o conceito de Saúde Ocupacional, ou Saúde no Traba- lho, foi revisto e ampliado pelo já citado comitê misto OIT-OMS, tendo sido enunciado nos seguintes termos: O principal foco da Saúde no Trabalho deve estar direcionado para três objetivos: (I) A manutenção e promoção da saúde dos trabalhadores e de sua capacidade de trabalho; (II) O melhoramento das condições de trabalho, para que elas sejam compatíveis com a saúde e a segurança; (III) O desenvolvimento de culturas empresariais e de organizações de trabalho que contribuam com a saúde e segurança e promovam um clima social positivo, favorecendo a melhoria da produtividade das empresas. O conceito de cultura empresarial, neste contexto, refere-se a sistemas de valores adotados por uma empresa específica. Na práti- ca, ele se reflete pelos sistemas e métodos de gestão, nas políticas de pessoal, nas políticas de participação, nas políticas de capacitação e treinamento e na gestão da qualidade. (ANAMT, 2019) As práticas mais disseminadas eram a seleção de pessoal que, em tese, fosse me- nos propenso a se acidentar e adoecer, o controle da saúde para evitar problemas de absenteísmo e os esforços para proporcionar retorno rápido ao trabalho nos casos de 12 13 afastamentos. A medicina do trabalho tornou-se a variável técnica para solucionar os da- nos à saúde provocados pelos processos produtivos, sem a possibilidade de interferir além dos preceitos normativos estabelecidos no contrato de trabalho firmado entre patrões e empregados. Inaugurava-se um campo médico subserviente ao contrato e ao interesse do capital produtivo (VASCONCELLOS, 2011; VASCONCELLOS; PIGNATTI, 2006). Saúde do Trabalhador A insuficiência do modelo da saúde ocupacional não constitui fenômeno pontual e isolado. Antes, foi e continua sendo um processo que, embora guarde certa especifici- dade do campo das relações entre trabalho e saúde, tem sua origem e desenvolvimen- to determinados por cenários políticos e sociais mais amplos e complexos (MENDES; DIAS, 1991). Além disso, ainda que esse processo tenha traços comuns que lhe conferem certa uni- versalidade, ele ocorre em ritmo e natureza próprios, refletindo a diversidade dos mundos políticos e sociais e as distintas maneiras de os setores de trabalho e saúde se organizarem. Conforme destaca Vasconcellos (2011), tanto a saúde ocupacional como a saúde do trabalhador retratam campos de ação sobre as relações saúde-trabalho, na perspectiva de prevenção e reparação dos danos à saúde no trabalho, que implicam na construção de conhecimentos e de intervenção sobre os problemas gerados nessas relações. Com- plementa afirmando que, embora ambas se assentem em raízes históricas comuns, os campos de ação de cada uma são profundamente marcados por diferenças conceituais, ideológicas, institucionais, normativas, culturais, sociopolíticas e econômicas que aca- bam por estabelecer políticas públicas distintas em suas diretrizes de ação e de compor- tamento dos agentes públicos por elas responsáveis. A saúde do trabalhador prioriza as ações de promoção da saúde e hierarquiza a importância entre as causas (MENDES; DIAS, 1991). O modelo operário italiano contribuiu de forma bastante significativa para mudan- ças na relação saúde versus trabalho, inicialmente na Itália, por meio do Estatuto dos Direitos dos Trabalhadores, Lei n.º 300, de 20/05/1970, em que são incorporadas as principais reivindicações dos trabalhadores, dentre elas a não monetarização do risco, a não delegação da vigilância da saúde ao Estado e a técnicos estranhos ao trabalhador, a validação do saber operário por intermédio de estudos independentes a partir de gru- pos homogêneosde riscos (SILVA, 2000; FACCHINI, 1991; MENDES; DIAS, 1991; ODDONE et al., 1986; SIVIERI, 1995; MATTOS e FREITAS, 1994). Segundo Vasconcellos (2011), a saúde do trabalhador surgiu como fruto de uma crítica ao modelo trabalhista-previdenciário histórico, cuja identidade está fortemente vinculada aos campos técnicos da medicina do trabalho e da saúde ocupacional. Como parte integrante do campo da saúde coletiva, propõem-se a ultrapassar as articulações simplificadas e reducionistas de causa e efeito de ambas as concepções que são sustenta- das por uma visão monocausal, entre a doença e um agente específico; ou multicausal, entre a doença e um grupo de fatores de risco (físicos, químicos, biológicos, mecânicos) presente no ambiente de trabalho (LACAZ, 1996, 2007; MENDES; DIAS, 1991). 13 UNIDADE Contextualização Histórica da Saúde do Trabalhador O enfoque na saúde do trabalhador surgiu no Brasil com a 1ª Conferência Nacional de Saúde dos Trabalhadores, realizada em Brasília, em 1986. Podemos dizer que o con- ceito já vinha amadurecendo em anos anteriores nos ambientes acadêmicos e sindicais de diversas instituições brasileiras, em um contexto histórico de transição do regime político, saindo de uma situação de repressão social (ditadura militar) para a construção da sociedade civil, em busca da participação e reivindicação social, caracterizadas pela lógica da cidadania e pela formação de novas leis trabalhistas e mudanças nos sistemas institucionais (SIMONI, 1989). Portanto, trata-se, conforme comentado anteriormente, de uma nova visão da relação saúde no mundo do trabalho. A incorporação da lógica da Saúde Pública, de prevenção de riscos e de promoção da saúde com a participação dos trabalhadores, em uma perspectiva coletiva, constituindo o que se denomina como Saúde do Trabalhador, efetivou-se no Brasil a partir da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), em 1988. A saúde do trabalhador agrega um amplo espectro de disciplinas. Como campo de saber próprio da saúde coletiva, está composta pelo tripé epidemiologia, administração e planejamento em saúde e ciências sociais em saúde, ao que se somam disciplinas auxiliares como demografia, estatística, ecologia, geografia, antropologia, economia, sociologia, história e ciências políticas, toxicologia, engenharia de produção, ergonomia, enfermagem, odontologia, entre outras. Ao superar a visão de saúde ocupacional, a saúde do trabalhador se situa na perspec- tiva da “saúde como direito”, conforme a tendência internacional e a que foi plasmada no SUS, de universalização dos direitos fundamentais (VASCONCELLOS, 2007, 2011). Finalizando, o campo da Saúde do Trabalhador compreende um corpo de práticas teóricas interdisciplinares – técnicas, sociais, políticas, humanas –, multiprofissionais e interinstitucionais no âmbito da saúde coletiva. Diversos atores, situados em lugares sociais distintos e informados por uma perspectiva comum de produção de saúde, de- senvolvem ações com vistas à promoção da saúde, sempre no âmbito de atuação das políticas públicas de saúde. Medicina do Trabalho: a doença Saúde Ocupacional: o posto de trabalho Saúde do Trabalhador: as relações sociais de produção (intersetorial, multipro�ssional, postura proativa do trabalhador) Figura 1 14 15 Destaques importantes da História brasileira • 1921: Foi criada a Inspeção do Trabalho, circunscrita ao Rio de Janeiro; • 1926: Com a reforma constitucional, estabeleceu-se a competência da União para legislar sobre o assunto; • 1931: Governo Getúlio Vargas foi criado o Departamento Nacional do Trabalho, com a função de fiscalizar o cumprimento de leis sobre acidentes laborais, jornada, férias, organização sindical e trabalho de mulheres e menores; • 1932: Criadas as inspetorias regionais nos estados da federação, posteriormente transformadas em Delegacias Regionais do Trabalho; • 1934: Decreto que ampliou a definição de Acidente de Trabalho e traz a obri- gatoriedade de comunicação de acidentes dessa natureza à autoridade policial pelo Departamento Nacional do Trabalho, que também previa a imposição de multas administrativas; • 1943: Surge no país a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e, com ela, as primeiras referências à higiene e segurança no trabalho. Em um cenário de cres- cimento das indústrias, resultou no aumento do número de trabalhadores urbanos, o que, consequentemente, trouxe novas preocupações para o governo brasileiro; • Na década de 1940, também emergem as Comissões Internas de Prevenção de Acidentes (CIPA) organizadas pelas empresas. A Portaria do Ministério do Traba- lho, que criou as CIPA, foi estruturada pela Associação Brasileira de Medicina do Trabalho e é considerada uma das medidas mais efetivas no contexto das ações para prevenção dos acidentes do trabalho. As primeiras comissões trouxeram bons resultados e incentivaram a realização de congressos sobre prevenção de acidentes; • Em 1947, a OIT adota a Convenção n.º 81, que estabelece que cada membro da organização deva ter um sistema de inspeção do trabalho nos estabelecimentos industriais e comerciais. A experiência dos países industrializados transformou-se na Recomendação n.º 112, de 1959, estabelecida pela OIT, que tratava dos “Servi- ços de Medicina do Trabalho”. Posteriormente, ela foi substituída pela Convenção n.º 161 da OIT, de 1985, e sua respectiva Recomendação, de n.º 171. Importante ressaltar o documento da Convenção n.º 161, que traz em seu artigo 5º: Sem prejuízo da responsabilidade de cada empregador a respeito da saúde e a segurança dos trabalhadores que emprega e considerando a necessidade de que os trabalhadores participem em matéria de saúde e segurança no trabalho, os serviços de saúde no trabalho deverão assegurar as funções seguintes que sejam adequadas e apropriadas aos riscos da empresa para a saúde no trabalho. • 1966: No Brasil, esse desenvolvimento ocorreu tardiamente e reproduziu o proces- so dos países do Primeiro Mundo. No campo das instituições, destaca-se também a criação da Fundacentro, versão nacional dos modelos de institutos desenvolvidos no exterior a partir da década de 1950; • Fim da década de 1960: A Medicina do Trabalho já contava com uma legislação específica, o que melhorou a fiscalização; 15 UNIDADE Contextualização Histórica da Saúde do Trabalhador • Década de 1970: Obrigatoriedade dos Serviços de Segurança e Medicina do Tra- balho; introdução do Engenheiro de Segurança do Trabalho; • 1978: Foram criadas as Normas Regulamentadoras: » NR 04: Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho; » NR 05: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes; » NR 06: Equipamentos de Proteção Individual (EPI); » NR 07: Programas de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO); » NR 09: Programas de Prevenção de Riscos Ambientais; » NR 15: Atividades e Operações Insalubres; » NR 16: Atividades e Operações Perigosas. Com a promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988, a saúde foi elevada à categoria de direito social. A CF/88 estabeleceu os fundamentos e fixou princípios nor- teadores da política de saúde brasileira; desenhou o marco institucional encarregado de executar essa política na forma do Sistema Único de Saúde (SUS) e incorporou uma definição de saúde abrangente e progressista, em sintonia com o padrão normativo in- ternacional (AITH; MINHOTO; COSTA, 2009). A CF 88 incluiu a Saúde do Trabalhador no seu artigo 200 (ANDRADE, 2002): Artigo 200 – Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atri- buições, nos termos da lei: [...] II – executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica bem como as de saúde do trabalhador; [...] VII – cola- borar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho. Apesar da promulgação da Constituição em 1988, foi necessário estabelecer como prioridade a sua regulamentação em todo âmbito federal, sendo criada em 19 de se- tembro de 1990 a Lei n.º 8080, Lei Orgânica de Saúde (LOS), quedispõe sobre as condições para promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o fun- cionamento dos serviços. Nessa regulamentação, atribui-se competências ao SUS no campo de saúde do trabalhador e considera o trabalho como um fator determinante/ condicionante da saúde (BRASIL, 2002). Lei n. 8080/1990 – Lei Orgânica de Saúde Medicina do Trabalho e a relação com outros profissionais O Código de Ética Médica publicado pela Resolução CFM n.º 1.931/2009 traz como um dos princípios fundamentais que “as relações do médico com os demais profissionais devem basear-se no respeito mútuo, na liberdade e na independência de cada um, bus- cando sempre o interesse e o bem-estar do paciente”. É importante nesse momento resgatar um pouco da história discutida anteriormen- te nesta unidade para entender que as mudanças sociais e nos processos de trabalho 16 17 ressaltam o quanto é fundamental para o trabalhador as práticas multiprofissionais, assim como conhecer as políticas públicas voltadas para a saúde do trabalhador. Médico do Trabalho TRABALHADOR Enfermagem do Trabalho Engenheiro de Segurança do Trabalho Técnico de Segurança do Trabalho Odontologia do Trabalho Administra- ção/Recursos Humanos Psicólogo Fonoaudiólogo Fisioterapeuta Outros Figura 2 “Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes.” (Paulo Freire) No Brasil, a Norma Regulamentadora n.º 4 (NR4), cuja existência jurídica está asse- gurada, em um nível de legislação ordinária, através do artigo 162 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), estabelece a obrigatoriedade das empresas públicas e privadas que possuam empregados regidos pela CLT: [...] de organizarem e manterem em funcionamento um Serviços Es- pecializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT) com a finalidade de promover a saúde e proteger a integrida- de do trabalhador, no local de trabalho. (PUSTIGLIONE, 2015) O mesmo autor nos chama atenção para a leitura da NR4 e suas afins, que deixa claro que o estabelecido por essa norma como missão e ações do SESMT se assemelha com o que é preconizado pela Occupational Health and Safety Assessment Series (OHSAS) 18001:2007, como mostra o quadro a seguir: A OHSAS 18001 foi desenvolvida para ser compatível com as normas de gestão ISO 9001:2000 (Qualidade) e ISO 14001:2004 (Ambiente), a fim facilitar a integração dos siste- mas de gestão da saúde e segurança do trabalho com os sistemas de gestão ambiental e com os sistemas de gestão da qualidade, caso as organizações o pretendam fazer. 17 UNIDADE Contextualização Histórica da Saúde do Trabalhador Quadro 1 – Comparação das ações integrativas propostas pela Occupational Health and Safety Assessment Series e desenvolvidas pelos Serviços Especializados em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho Ações integrativas da OHSAS Ações integrativas do SESMT Identificação e avaliação dos fatores e áreas de riscos. Elaboração de mapas e plantas de risco. Compromisso de seguir uma política de gestão dos riscos com identificação de objetivos e programas. Implementação de programa de prevenção de riscos am- bientais (PPRA). Formação das pessoas. Desenvolvimento de programas de capacitação, treina-mento e educação continuada. Implantação de processos de controle e estabelecimento de procedimentos de medida de vigilância. Implantação de programa de controle médico de saúde ocupacional (PCMSO) e de sistemas de vigilância da saúde e segurança dos trabalhadores. Preparação para situações de emergência. Capacitação de brigadistas e socorristas e divulgação de normas de conduta em casos de emergência. Implantação de medidas de prevenção dos acidentes. Adoção de medidas de precaução, implantação de equi- pamentos de proteção coletiva e individual, análise de acidentes e incidentes e disseminação de espírito e ati- tude prevencionista. Fonte: Pustiglione (2015) Para encerrar nossa unidade, vamos enfatizar sobre a importância do engenheiro de segurança do trabalho também conhecer a extensão da consequência de seus atos no âmbito legal, para que atue de forma regular e condizente com o profissionalismo necessário à segurança exigida por sua profissão. A responsabilidade civil do engenheiro está fundamentada no Novo Código Civil Brasileiro e nas Leis n.º 5.194/66 e 6.496/77, trata da aplicação de medidas que obri- guem a reparação de dano moral ou patrimonial causado a terceiros. Nesse sentido, a realização da vistoria periódica dos ambientes de trabalho pode ser de grande valia e deve ser realizada. Importante destacar artigos do código civil que dizem respeito à responsabilidade civil do profissional: Art. 186 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusi- vamente moral, comete ato ilícito. [...] Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (Arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independen- temente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a ativi- dade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. 18 19 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites Secretaria de Trabalho – Ministério da Economia https://bit.ly/2ZjCxxN Vídeos Normas de Segurança do Trabalho https://youtu.be/zXMGeesxvG0 Leitura Lei Nº 8.080, de 19 de Setembro de 1990 https://bit.ly/1RMDgj1 Responsabilidade civil pelos danos à saúde do trabalhador (2016) https://bit.ly/2ZbguJs 19 UNIDADE Contextualização Histórica da Saúde do Trabalhador Referências AITH, F.; MINHOTO, L. D.; COSTA, E. A. Poder de polícia e vigilância sanitária no Estado Democrático de Direito. In: COSTA, E.A, organizadora. Vigilância Sanitária: Temas para Debate. Salvador: EDUFBA; 2009. p. 37-60. ANAMT. História da Medicina do Trabalho. Disponível em: <https://www.anamt. org.br/portal/historia-da-medicina-do-trabalho/>. Acesso em 08 de janeiro de 2019. BRASIL. Ministério da Saúde. Decreto n.º 7.602, de 7 de novembro de 2011 – Dispõe sobre a Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho – PNSST. Brasília, DF, 2011. BRASIL. Ministério da Saúde. Lei n.º 8.080, de 19 de setembro de 1990 – Dispõe so- bre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Brasília, DF, 1990. FACCHINI, L. A. Modelo operário e percepção de riscos ocupacionais. O uso exemplar de estudo descritivo. Revista Saúde Pública. São Paulo: 25(5), 1991, pp. 394-400. GOMEZ, C. M. Campo da Saúde do Trabalhador: Trajetória, Configuração e Trans- formações. In: GOMEZ, A. M.; MACHADO, J. M. H.; PENA, P. G. L. (Org.) 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Fonte: Getty Im ages Objetivos • Reconhecer os principais agravos relacionados ao trabalho; • Entender a relação entre agentes ambientais (físicos, químicos e biológicos) e doenças do trabalho; • Identificar principais agravos na indústria e no meio rural; • Compreender a importância dos aspectos epidemiológicos para as ações de prevenção e promoção à saúde do trabalhador. Caro Aluno(a)! Normalmente, com a correria do dia a dia, não nos organizamos e deixamos para o úl- timo momento o acesso ao estudo, o que implicará o não aprofundamento no material trabalhado ou, ainda, a perda dos prazos para o lançamento das atividades solicitadas. Assim, organize seus estudos de maneira que entrem na sua rotina. Por exemplo, você poderá escolher um dia ao longo da semana ou um determinado horário todos ou alguns dias e determinar como o seu “momento do estudo”. No material de cada Unidade, há videoaulas e leituras indicadas, assim como sugestões de materiais complementares, elementos didáticos que ampliarão sua interpretação e auxiliarão o pleno entendimento dos temas abordados. Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discussão, pois estes ajudarão a verificar o quanto você absorveu do conteúdo, além de propiciar o contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e aprendizagem. Bons Estudos! Doenças do Trabalho UNIDADE Doenças do Trabalho Contextualização Esta Unidade tem a finalidade de partilhar com o estudante informações sobre os principais agravos relacionados ao trabalho. Trabalhadores apresentam doenças e aci- dentes muitas vezes decorrentes do trabalho que executam e dos ambientes a que estão expostos em função desses trabalhos. Dessa forma, o perfil de adoecimento dos traba- lhadores depende diretamente da influência do ambiente de trabalho como um determi- nante ou condicionante do processo de saúde-doença. A detecção de agravos relacionados ao trabalho não constitui uma atividade recente, mas a implementação de novas condutas de saúde e segurança são imprescindíveis para a qualidade de vida do trabalhador. Ressalta-se que o universo de agravos relacionados ao trabalho é muito extenso. Com isso, espera-se que os alunos sejam fortalecidos ao se qualificarem e se aproximarem da temática, para que tenham subsídios para uma abordagem mais direcionada aos traba- lhadores, entendendo a importância do acompanhamento cotidiano do ambiente de tra- balho para a intervenção nos ambientes de risco para prevenção de agravos relaciona- dos ao trabalho e assumindo um papel fundamental no cenário da saúde do trabalhador. Para iniciarmos esta unidade, convidamos você a refletir acerca das consequências de um ambiente de trabalho sem as devidas orientações de saúde e segurança. Veja um documentário denominado Sucata de Plástico no endereço a seguir: Sucata de Plástico: https://youtu.be/teUY_QMuYMo. 6 7 Introdução Os agentes ambientais são agentes existentes nos ambientes de trabalho que, em fun- ção de sua natureza, concentração ou intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. Dessa forma, necessita-se que sejam eliminados, minimizados ou neutralizados e constantemente monitorados. Esses agentes ambientais podem ser classificados como: I. Agentes físicos: classificados como as diversas formas de energia a que pos- sam estar expostos os trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas, radiações ionizantes, radiações não ioni- zantes, bem como o infrassom e o ultrassom; II. Agentes químicos: classificados como as substâncias, compostos ou produ- tos que possam penetrar no organismo pela via respiratória, nas formas de poeiras, fumos, névoas, neblinas, gases ou vapores, ou que, pela natureza da atividade de exposição, possam ter contato ou ser absorvidos pelo organismo através da pele ou por ingestão; III. Agentes biológicos: classificados como os microrganismos que podem con- taminar os trabalhadores, como as bactérias, fungos, bacilos, parasitas, pro- tozoários, vírus, entre outros. De acordo com a Norma Regulamentadora n.º 9, que trata Programa de Prevenção de Riscos Ambientais publicada pela Portaria GM n.º 3.214, de 08 de junho de 1978: 9.5.1. Para efeito desta NR, consideram-se riscos ambientais os agen- tes físicos, químicos e biológicos existentes nos ambientes de traba- lho que, em função de sua natureza, concentração ou intensidade e tem- po de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador. No entanto, é importante destacar outros riscos, como os agentes ergonômicos e mecânicos (acidentes), citados a seguir: I. Agentes ergonômicos: qualquer fator que possainterferir nas características psicológicas e fisiológicas do trabalhador, causando desconforto ou afetando sua saúde. São exemplos de risco ergonômico: o levantamento de peso, rit- mo excessivo de trabalho, monotonia, repetitividade, postura inadequada de trabalho etc.; II. Agentes mecânicos ou de acidentes: qualquer fator ou circunstância que coloque o trabalhador em situação vulnerável e possa afetar sua integridade e seu bem-estar físico e psíquico. São exemplos de risco de acidente: as má- quinas e equipamentos sem proteção, probabilidade de incêndio e explosão, arranjo físico inadequado, armazenamento inadequado etc. Em maio de 1999, o Ministério da Previdência e Assistência Social (MPAS) decidiu adotar a relação que estava sendo elaborada pelo Ministério da Saúde, publicando-a, no momento, como Anexo II do Decreto n.º 3048/99. No mesmo ano, o Ministério da Saúde publicou a mesma lista sob o título de Lista de Doenças Relacionadas ao Tra- balho, que se deu pela Portaria n.º 1339/99. 7 UNIDADE Doenças do Trabalho Do ponto de vista conceitual, preferiu-se trabalhar com a compreensão ampla de “doenças relacionadas com o trabalho”, o que permitiu a superação da confusa de- nominação ou – talvez – da sutil diferença entre doenças profissionais e doenças do trabalho, presentes na conceituação legal (Lei n.º 8213/91). Consequentemente, foram incluídas nas listas pelo menos três categorias, que, segundo a classificação proposta por Schilling (1984), abrangem: • Grupo I: Doenças que o trabalho é causa necessária, tipificadas pelas “doenças profissionais” e pelas intoxicações profissionais agudas; • Grupo II: Doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco, contributivo, mas não necessário, exemplificadas por todas as doenças “comuns”, mais frequente ou mais precoce em determinados grupos ocupacionais, sendo que o nexo causal é de natureza eminentemente epidemiológica. As neoplasias em determinados gru- pos ocupacionais ou profissões constitui um exemplo típico; • Grupo III: Doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio latente, ou agravador de doença já estabelecida ou preexistente, ou seja, concausa, tipificadas pelas doenças alérgicas da pele e respiratórias e pelos distúrbios mentais, em determinados grupos ocupacionais ou profissão. Desde 2004, o Ministério da Saúde tornou obrigatória a notificação compulsória de agravos relacionados ao trabalho. As portarias que tratam dos agravos desses agravos, que estão em vigor, são Portaria n.º 204/2016 e Portaria n.º 205/2016. São agra- vos de notificação compulsória, para efeitos dessas portarias: (I) Acidente de Trabalho Fatal; (II) Acidentes de Trabalho Grave; (III) Acidentes do Trabalho em Crianças e Ado- lescentes; (IV) Acidente com Exposição a Material Biológico; (V) Intoxicações Exóge- nas (por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases tóxicos e metais pesados); (VI) Dermatoses Ocupacionais; (VII) Lesões por Esforços Repetitivos (LER)/Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (DORT); (VIII) Pneumoconioses; (IX) Perda Auditiva Induzida por Ruído – PAIR; (X) Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho; e (XI) Câncer Relacionado ao Trabalho. Acidente de Trabalho Fórum Acidentes do Trabalho, acesse o link: http://bit.ly/2Gy1f4Z. O acidente de trabalho (AT) configura como um importante problema de saúde pública devido à sua elevada incidência e seu grande impacto na morbimortalidade da população. A Lei n.º 8.213, de 24 de julho de 1991, em seu Art. 19, define o conceito de AT como: Aquele que ocorre durante o exercício do trabalho, que provoca lesão corporal ou perturbação funcional que cause morte, perda ou redução permanente ou temporária da capacidade para o trabalho. Conside- rando igualmente os agravos ocorridos no percurso da residência do trabalhador até seu local de trabalho e vice-versa. 8 9 De acordo com o Ministério da Fazenda, entre 2012 e 2016, foram registrados 3,5 milhões de casos de acidente de trabalho em 26 estados e no Distrito Federal. Esses casos resultaram na morte de 13.363 pessoas e geraram um custo de R$22,171 bilhões para os cofres públicos, com gastos da Previdência Social, como auxílio-do- ença, aposentadoria por invalidez, pensão por morte e auxílio-acidente para pessoas que ficaram com sequelas. Nos últimos cinco anos, 450 mil pessoas sofreram fraturas enquanto trabalhavam. O que muda com a Lei n.º 13.467, de 13 de julho de 2017, que altera a CLT? Com a divulgação da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, pode-se verificar uma discrepância entre os dados relacionados a acidentes de trabalho dessa pesquisa e aqueles registrados na base de dados do Ministério da Previdência Social. Nesse primeiro boletim, o objetivo foi anali- sar dados da PNS comparados com os dados de registros no AEPS (Anuário Estatístico da Previdência Social) de 2013. A comparação mostrou que a PNS aponta números de quase 7 vezes os da previdência, sendo que há maior variação entre as unidades da Federação da região Norte e Nordeste. O Ministério da Saúde classifica o Acidente de Trabalho em: • Acidente de Trabalho Fatal: é o óbito que ocorre no ambiente de trabalho ou no percurso de ida ou volta ao trabalho ou durante o exercício do trabalho (quando o trabalhador estiver realizando atividades relacionadas à sua função, ou a serviço do empregador ou representando os interesses do mesmo). O óbito pode ocorrer imediatamente após o acidente ou posteriormente, em ambiente hospitalar ou não, desde que a causa básica, intermediária ou imediata da morte seja decorrente do acidente de trabalho; Setores mais perigosos, responsáveis pelo maior número de acidentes: http://bit.ly/2GvYS2B. • Acidentes de Trabalho Grave: é o acidente que ocorre no ambiente de trabalho ou no percurso de ida ou volta ao trabalho ou durante o exercício do trabalho (quando o trabalhador estiver realizando atividades relacionadas à sua função, ou a serviço do empregador ou representando os interesses do mesmo), ocasionando lesão que resulte em internação hospitalar; incapacidade para as ocupações habituais por mais de 30 dias, incapacidade permanente para o trabalho, queimaduras graves, politraumatismo, fraturas, amputações, esmagamentos, luxações, traumatismo crâ- nio encefálico; desmaio (perda de consciência) provocado por asfixia, choque elé- trico ou outra causa externa; qualquer outra lesão, levando à hipotermia, doença induzida pelo calor ou inconsciência, requerendo ressuscitação; aceleração de parto ou aborto decorrente do acidente; • Acidentes do Trabalho em Crianças e Adolescentes: é o acidente de trabalho que, independentemente da sua gravidade, acontece com indivíduos menores de 18 anos, na data de sua ocorrência. A nova CLT e o acidente no percurso para o trabalho: http://bit.ly/2Gs1bUc. 9 UNIDADE Doenças do Trabalho Acidentes de Trabalho com Exposição a Material Biológico Definidos como acidentes de trabalho envolvendo exposição direta ou indireta do trabalhador a material biológico – fluidos orgânicos, humanos ou de animais, que são potencialmente infectantes (secreções sexuais, líquor cefalorraquidiano e líquidos peri- toneal, pleural, sinovial, pericárdico e amniótico; escarro, suor, lágrima, urina, vômitos, fezes, secreção nasal; saliva e fluidos animais). A assistência ao trabalhador deve ocorrer imediatamente após o acidente e, inicial- mente, basear-se em uma adequada anamnese do acidentado, identificação da fonte do material biológico (quando for o caso), análise do risco, notificação do acidente e orien- tação de manejo e medidas de cuidado com o local exposto. As exposições ocupacionais a materiais biológicos potencialmente contaminados são um sério risco aos profissionais em seus locais de trabalho. Estudos desenvolvidos nessa área mostram que os acidentes envolvendo sangue e outros fluidos orgânicos correspon- dem às exposições mais frequentemente relatadas (BRASIL,2011). Os ferimentos com agulhas e material perfurocortantes, em geral, são considerados extremamente perigosos por serem potencialmente capazes de transmitir patógenos diversos, sendo o vírus da imunodeficiência humana (HIV), o da hepatite B e o da hepa- tite C os agentes infecciosos mais comumente envolvidos (BRASIL, 2011). Intoxicações Exógenas (por Substâncias Químicas, Incluindo Agrotóxicos, Gases Tóxicos e Metais Pesados) Intoxicação exógena é o conjunto de efeitos nocivos representados por mani- festações clínicas ou laboratoriais que revelam o desequilíbrio orgânico produzido pela interação de um ou mais agentes tóxicos com o sistema biológico. Os agentes tóxicos são substâncias químicas, quase sempre de origem antropogênica, capaz de causar dano a um sistema biológico, alterando uma ou mais funções, podendo pro- vocar a morte (sob certas condições de exposição). De modo geral, a intensidade da ação do agente tóxico será proporcional à concentração e ao tempo de exposição (BRASIL, 2017). Os complexos eventos envolvidos na intoxicação, desde a exposição às substâncias químicas até o aparecimento de sinais e sintomas, podem ser desdobrados, para fins de operacionalização da vigilância em saúde, em quatro fases descritas, tradicionalmente, como as fases da intoxicação: fase de exposição, fase toxicocinética, fase toxicodinâmi- ca e fase clínica. A compreensão dessas fases permite definir melhor as abordagens do ponto de vista de vigilância em saúde, assistência, prevenção e promoção da saúde das populações expostas e intoxicadas por substâncias químicas. 10 11 Dermatoses Ocupacionais É toda alteração das mucosas, pele e seus anexos, que seja direta ou indiretamente causada, condicionada, mantida ou agravada por agentes presentes na atividade ocupa- cional ou no ambiente de trabalho (BRASIL, 2006c). Dois grandes grupos de fatores podem ser enumerados como condicionadores de dermatoses ocupacionais: • Causas indiretas ou fatores predisponentes; • Causas diretas, que são constituídas por agentes biológicos, físicos, químicos, exis- tentes no meio ambiente e que atua riam diretamente sobre o tegumento, quer cau- sando, quer agravando dermatose preexistente (BIRMINGHAM, 1998). Os agentes biológicos, físicos e químicos podem causar dermatoses ocupacionais ou funcionar como fatores desencadeantes, concorrentes ou agravantes. Os agentes biológicos mais comuns são: bactérias, fungos, leveduras, vírus e insetos. Dentre os agentes físicos, os principais são: radiações não ionizantes, calor, frio, ele- tricidade. E quanto aos agentes químicos, os principais são: • Irritantes: cimento, solventes, óleos de corte, detergentes, ácidos e álcalis; • Alérgenos: aditivos da borracha, níquel, cromo e cobalto como contaminantes do cimento, resinas, tópicos usados no tratamento de dermatoses. As principais dermatoses apontadas em estudos são: dermatites de contato por ir- ritantes; dermatites alérgicas de contato; dermatite de contato com fotossensibilização; ulcerações; urticária de contato; erupções acneiformes; discromias; distrofias ungueais – onicopatias e Câncer cutâneo ocupacional. Lesões por Esforços Repetitivos (LER)/Distúrbios Osteomusculares Relacionadas ao Trabalho (Dort) As lesões por esforços repetitivos e os distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho são, por definição, um fenômeno relacionado ao trabalho. Ambos são danos decorrentes da utilização excessiva, imposta ao sistema musculoesquelético, e da falta de tempo para recuperação. Caracterizam-se pela ocorrência de vários sintomas, con- comitantes ou não, de aparecimento insidioso, geralmente nos membros superiores, tais como dor, parestesia, sensação de peso e fadiga. Abrangem quadros clínicos do sistema musculoesquelético adquiridos pelo trabalhador submetido a determinadas condições de trabalho (BRASIL, 2012). Para o Ministério da Saúde, a etiologia dos casos de LER/Dort é multifatorial. Dife- rentemente de uma intoxicação por metal pesado, cuja etiologia é identificada e mensu- rável, nos casos de LER/Dort, é importante analisar os vários fatores de risco envolvidos direta ou indiretamente. Os fatores de risco não são necessariamente as causas diretas de LER/Dort, mas podem gerar respostas que produzem as lesões ou os distúrbios. Na maior parte das vezes, tais fatores foram estabelecidos por meio de observações empíricas e depois confirmados com estudos epidemiológicos. 11 UNIDADE Doenças do Trabalho Os fatores de risco não são independentes: interagem entre si e devem ser sempre analisados de forma integrada. Envolvem aspectos biomecânicos, cognitivos, sensoriais, afetivos e de organização do trabalho. Por exemplo, fatores organizacionais como carga de trabalho e pausas para descanso podem controlar fatores de risco quanto à frequên- cia e à intensidade. Na caracterização da exposição aos fatores “físicos” de risco não organizacionais, quatro elementos se destacam: Tabela 1 Regiões anatômicas submetidas aos fatores de risco. Punho, cotovelo, ombro, mão, pescoço etc. Magnitude ou intensidade dos fatores de risco. Para carga musculoesquelética, por exemplo, pode ser o peso do objeto levantado. Para características psicossociais do trabalho, pode ser a percepção do aumento da carga de trabalho. Variação de tempo dos fatores de risco. Duração do ciclo de trabalho, distribuição das pausas, estrutura de horários etc. Tempo de exposição aos fatores de risco. O tempo de latência das lesões e dos distúrbios pode variar de dias a décadas (KIVI, 1984; CASTORINA, 1990). Apresentamos, a seguir, algumas doenças que podem ser relacionadas ao trabalho e que especificamente podem ser enquadradas como LER/Dort. Elas constam da Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho do Ministério da Saúde (BRASIL, 1999) e do Minis- tério da Previdência Social: • Síndrome cervicobraquial (M53.1); • Dorsalgia (M54.); • Cervicalgia (M54.2); • Sinovites e tenossinovites (M65.); • Dedo em gatilho (M65.3); • Tenossinovite do estiloide radial (De Quervain) (M65.4); • Bursite da mão (M70.1); • Lesões do ombro (M75.); • Epicondilite medial (M77.0); • Dentre outros agravos. Pneumoconioses As pneumopatias relacionadas etiologicamente à inalação de poeiras em ambientes de trabalho são genericamente designadas como Pneumoconioses (do grego, conion = poeira). São excluídas dessa denominação as alterações neoplásicas, as reações de vias aéreas, como asma e a bronquite, e o enfisema. Apesar de esse conceito englo- bar a maior parte das alterações pulmonares envolvendo o parênquima, alguns autores apontam para o fato de que o termo pneumoconiose pode não ser adequado quando Figura 1 Fonte: Getty Images 12 13 aplicado a determinadas pneumopatias mediadas por processos de hipersensibilidade, atingindo o parênquima pulmonar, como as alveolites alérgicas por exposição a poeiras orgânicas e outros agentes, a doença pulmonar pelo berílio ou a pneumopatia pelo co- balto, por exemplo. Essas considerações têm importância quando se estudam os processos fisiopatogêni- cos subjacentes a essas doenças. Para fins práticos, no entanto, o termo Pneumoconiose é utilizado para designar genericamente as doenças pulmonares causadas por inalação de poeiras independente do processo fisiopatogênico envolvido. As pneumoconioses podem, didaticamente, ser divididas em fibrogênicas e não fi- brogênicas, de acordo com o potencial da poeira em produzir fibrose reacional. Apesar de existirem tipos bastante polares de pneumoconioses fibrogênicas e não fibrogênicas, como a silicose e a asbestose, de um lado, e a baritose, de outro, existe a possibilidade fisiopatogênica de poeiras tidas como não fibrogênicas produzirem algum grau de fibro- se dependendo da dose, das condições de exposição e da origem geológica do material. Entende-se por “asbesto”, também denominado amianto, a forma fibrosa dos silicatos minerais per- tencentes aos grupos de rochas metamórficas das serpentinas. Entende-sepor “exposição ao asbesto”, a exposição no trabalho às fibras de asbesto respiráveis ou poeira de asbesto em suspensão no ar origi- nada pelo asbesto ou por minerais, materiais ou produtos que contenham asbesto. Os registros das ava- liações dos trabalhadores expostos deverão ser mantidos por um período não inferior a 30 (trinta) anos. 1. Pneumoconioses não fibrogênicas: Caracterizam-se, do ponto de vista histo- patológico, por lesão de tipo macular com deposição intersticial peribronquiolar de partículas, fagocitadas ou não, com nenhum ou discreto grau de desarranjo estrutural, além de leve infiltrado inflamatório ao redor, com ausência ou discreta proliferação fibroblástica e de fibrose. Na dependência do conhecimento do tipo de poeira inalada, a pneumoconiose leva denominação específica como siderose (Fe), baritose (Ba), estanose (Sn) etc.; 2. Pneumoconioses fibrogênicas: Como o termo diz são as reações pulmonares à inalação de material particulado que leva à fibrose intersticial do parênquima pulmonar. A seguir, são comentados sinteticamente os mecanismos implicados no desenvolvimento das principais doenças, como: silicose e asbestose; pneu- monite por hipersensibilidade; pneumoconiose por metal duro; pneumoconio- se dos trabalhadores de carvão (PTC); beriliose ou doença crônica por berílio; pneumopatia por poeira mista Não respire contem amianto: http://bit.ly/2Gtx8vj. Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) Perda Auditiva Induzida por Ruído (Pair) é a perda provocada pela exposição por tempo prolongado ao ruído. Configura-se como uma perda auditiva do tipo neuros- sensorial, geralmente bilateral, irreversível e progressiva com o tempo de exposição ao ruído (CID 10 – H 83.3). 13 UNIDADE Doenças do Trabalho Consideram-se como sinônimos: perda auditiva por exposição ao ruído no trabalho, perda auditiva ocupacional, surdez profissional, disacusia ocupacional, perda auditiva induzida por níveis elevados de pressão sonora, perda auditiva induzida por ruído ocu- pacional, perda auditiva neurossensorial por exposição continuada a níveis elevados de pressão sonora de origem ocupacional. Quando o ruído é intenso e a exposição a ele é continuada, em média 85 dB por oito horas por dia, ocorrem alterações estruturais na orelha interna, que determinam a ocorrência da Pair (CID 10 – H83.3). A Pair é um dos agravos mais frequente à saúde dos trabalhadores, estando presente em diversos ramos de atividade, principalmente siderurgia, metalurgia, gráfica, têxteis, papel e papelão, vidraria, entre outros. Além dos sintomas auditivos frequentes – quais sejam, perda auditiva, dificuldade de compreensão de fala, zumbido e intolerância a sons intensos –, o trabalhador portador de Pair também apresenta queixas como cefaleia, tontura, irritabilidade e problemas digestivos, entre outros. Morata e Lemasters (2001) observam a importância de estudos sobre a Pair, utilizando o método epidemiológico, o que traz confiabilidade aos resultados obtidos e permite a re- produção desses mesmos estudos. Quando a exposição ao ruído é de forma súbita e muito intensa, pode ocorrer o trauma acústico, lesando, temporária ou definitivamente, diversas estruturas do ouvido. Outro tipo de alteração auditiva provocado pela exposição ao ruído intenso é a mudança transitória de limiar, que se caracteriza por uma diminuição da acui- dade auditiva que pode retornar ao normal, após um período de afastamento do ruído. A Norma Regulamentadora n.º 15 estabelece os limites de exposição a ruído contínuo e o limite de tolerância para ruído do tipo impacto será de 130 dB. Nos intervalos entre os picos, o ruído existente deverá ser avaliado como ruído contínuo. As ações de controle da Pair estão relacionadas ao controle do ruído. São as medidas de controle da exposição na fonte, na trajetória e no indivíduo. Além dessas, podemos dispor de medidas organizacio- nais, como redução de jornada, estabelecimento de pausas e mudança de função. A avaliação audiológica periódica permite o acompanhamento da progressão da per- da auditiva, que pode variar de acordo com a intensidade e com o tempo de exposição, além da suscetibilidade individual. A velocidade da progressão da perda auditiva determi- nará a eficácia das medidas de proteção tomadas e a necessidade da aplicação de outras. Os efeitos extra-auditivos devem ser considerados nessa avaliação, apesar de não serem previstos pela legislação. Transtornos Mentais Relacionados ao Trabalho Segundo estimativa da OMS, os transtornos mentais menores acometem cerca de 30% dos trabalhadores ocupados, e os transtornos mentais graves, cerca de 5 a 10%. A definição de disfunções e incapacidades causadas pelos transtornos mentais e do com- portamento, relacionados ou não com o trabalho, é bem difícil. Os indicadores e parâ- metros propostos pela Associação Médica Americana (AMA) organizam a disfunção ou deficiência causadas pelos transtornos mentais e do comportamento em quatro áreas: 14 15 • Limitações em atividades da vida diária: que incluem atividades como autocuida- do, higiene pessoal, comunicação, deambulação, viagens, repouso e sono, atividades sexuais e exercícios de atividades sociais e recreacionais. O que é avaliado não é sim- plesmente o número de atividades que estão restritas ou prejudicadas, mas o conjunto de restrições ou limitações que, eventualmente, afetam o indivíduo como um todo; • Exercício de funções sociais: refere-se à capacidade do indivíduo de interagir apropriadamente e comunicar-se eficientemente com outras pessoas. Inclui a ca- pacidade de conviver com outros, tais como membros de sua família, amigos, vizi- nhos, atendentes e balconistas no comércio, zeladores de prédios, motoristas de táxi ou ônibus, colegas de trabalho, supervisores ou supervisionados, sem alterações, agressões ou sem o isolamento do indivíduo em relação ao mundo que o cerca; • Concentração, persistência e ritmo: também denominados capacidade de com- pletar ou levar a cabo tarefas. Esses indicadores ou parâmetros referem-se à capa- cidade de manter a atenção focalizada o tempo suficiente para permitir a realização cabal, em tempo adequado, de tarefas comumente encontradas no lar, na escola ou nos locais de trabalho. Essas capacidades ou habilidades podem ser avaliadas por qualquer pessoa, principalmente se for familiarizada com o desempenho anterior, basal ou histórico do indivíduo. Eventualmente, a opinião de profissionais psicólo- gos ou psiquiatras, com bases mais objetivas, poderá ajudar na avaliação; • Deterioração ou descompensação no trabalho: refere-se a falhas repetidas na adaptação a circunstâncias estressantes. Frente a situações ou circunstâncias mais estressantes ou de demanda mais elevada, os indivíduos saem, desaparecem ou manifestam exacerbações dos sinais e sintomas de seu transtorno mental ou com- portamental. Em outras palavras, descompensam e têm dificuldade de manter as atividades da vida diária, o exercício de funções sociais e a capacidade de completar ou levar a cabo tarefas. Aqui, situações de estresse, comuns em ambientes de traba- lho, podem incluir o atendimento de clientes, a tomada de decisões, a programação de tarefas, a interação com supervisores e colegas. Lista de transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho, de acordo com a Portaria/MS n.° 1.339/1999. A prevenção dos transtornos mentais e do comportamento relacionados ao trabalho baseia-se nos procedimentos de vigilância dos agravos à saúde e dos ambientes e das condições de trabalho. Utilizam conhecimentos médico-clínicos, epidemiológicos, de higiene ocupacional, toxicologia, ergonomia, psicologia, entre outras disciplinas, va- lorizando a percepção dos trabalhadores sobre seu trabalho e a saúde. Baseia-se nas normas técnicas e regulamentos vigentes, envolvendo: • Reconhecimento prévio das atividades e locais de trabalho onde existam substân- cias químicas, agentes físicos e/ou biológicos e os fatores de risco decorrentes da organizaçãodo trabalho potencialmente causadores de doença; • Identificação dos problemas ou danos potenciais para a saúde, decorrentes da ex- posição aos fatores de risco identificados; 15 UNIDADE Doenças do Trabalho • Identificação e proposição de medidas que devem ser adotadas para a eliminação ou o controle da exposição aos fatores de risco e para proteção dos trabalhadores; • Educação e informação aos trabalhadores e empregadores. Câncer relacionado ao trabalho As concentrações de substâncias cancerígenas, em geral, são maiores nos locais de trabalho do que em outros ambientes extralaborais. Segundo as estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), aproximadamente 440 mil pessoas morreram no mundo em 2005 como consequência da exposição a substâncias pe- rigosas no trabalho. Mais de 70% dessa cifra, ou seja, aproximadamente 315 mil pessoas morreram de câncer relacionado ao trabalho. Uma proporção significativa dos casos de câncer decorrente do trabalho teve como causa a exposição ao amianto (OIT, 2009; EUROGIP, 2010). O primeiro relato associando câncer à ocupação foi descrito por Percival Pott, em 1775, relacionando câncer de escroto em limpadores de chaminé como decorrente da exposição à fuligem. Todavia, o modelo experimental da carcinogenicidade da fuligem só foi demonstrado em 1920, ou seja, 150 anos depois da primeira observação epide- miológica (OIT, 2009). A associação de câncer com causas ocupacionais tem sido demonstrada por meio de estudos epidemiológicos. A partir de 1965, com a criação da IARC pela Organiza- ção Mundial da Saúde (OMS), ficou a cargo dessa Agência o consenso internacional para o reconhecimento do caráter cancerígeno das substâncias, agentes ou outras formas de exposição. No que tange à exposição ocupacional, o papel da IARC tem sido fundamental no sentido de reconhecer os ambientes complexos e as múltiplas exposições que ocorrem no ambiente de trabalho e que não permitem a identificação de agentes isolados. No Brasil, a legislação específica do Ministério do Trabalho e Emprego reconhece como agentes cancerígenos apenas cinco substâncias: benzeno, 4-aminodifenil, benzidina, beta-naftilamina e 4-nitrodifenil. Porém, agentes reconhecidamente cancerígenos, como radiação ionizante, amianto e a sílica estão entre as que possuem exposições toleradas. Benzeno é um hidrocarboneto aromático encontrado no estado líquido incolor, liposso- lúvel, volátil, inflamável, de odor característico. A exposição ao benzeno pode causar in- toxicação aguda e crônica. O benzeno é um agente mielotóxico regular, leucemogênico e cancerígeno até mesmo em doses inferiores a 1ppm. Uma das doenças que o benzeno e seus homólogos tóxicos podem provocar é a leucemia. Dessa forma, adota-se no país a concepção de “níveis seguros” para a exposição ocupacional a maior parte dos cancerígenos, o que conflita com o atual conhecimento científico sobre carcinogênese, que não reconhece limites seguros para a exposição do trabalhador aos agentes cancerígenos (BRASIL, 2012). Anexo XI – Norma Regulamentadora Nº 15. 16 17 Quanto à forma de utilização das substâncias químicas, importantes compostos can- cerígenos encontram-se entre os metais pesados, os agrotóxicos, os solventes, formal- deído e as poeiras. Existem diferentes formas de classificação para o mesmo agente. As restrições para a exposição a substâncias químicas baseadas no conhecimento da toxicidade potencial ou da carcinogenicidade são bastante recentes. Nuvem de Veneno: https://youtu.be/jZ1QUAxFaxs. A IARC adota como metodologia, para elaborar suas publicações, a constituição de grupos de especialistas internacionais para produzir consensos do estado da arte das pesquisas. Os consensos são divulgados através de monografias temáticas, servem de referência para as recomendações da OMS e adotam como classificação quatro grupos (IARC, 2010), conforme descritos a seguir: • Grupo 1: O agente (mistura) é cancerígeno para humanos; • Grupo 2: O agente é provavelmente cancerígeno para humanos (2A) ou possivel- mente cancerígeno para humanos (2B); • Grupo 3: O agente não é classificável como cancerígeno; • Grupo 4: O agente (mistura) é provavelmente não cancerígeno para humanos. Influência das Doenças do Trabalho na Produtividade e Bem-estar do Trabalhador A saúde e o bem-estar do trabalhador influenciam diretamente na sua produtividade. Para Martinez e Paraguay (2003), a satisfação no trabalho tem sido definida de diferentes maneiras, dependendo do referencial teórico adotado. As conceituações mais frequentes referem-se à satisfação no trabalho como sinônimo de motivação, como atitude ou como estado emocional positivo, havendo, ainda, os que consideram satisfação e insatisfação como fenômenos distintos, opostos. No entanto, o comprometimento do empregador com a saúde do trabalhador e na prevenção de riscos gera uma resposta positiva, além de proporcionar um ambiente no qual os trabalhadores executam suas tarefas com mais satisfação. Aumentando o nível de produtividade das equipes, reduzindo o número de adoecimentos, como a depressão, a ansiedade e o estresse. É necessário mudar o paradigma de que a saúde do trabalhador seja apenas um gasto desnecessário ou desperdício de dinheiro, visualizando que o investimento que gera retorno está diretamente relacionado com a motivação e o bem-estar das pessoas, bem como com os resultados da organização. Investir em segurança do trabalho deve estar para além de uma obrigação im- posta pela lei. Quando, de fato, o empregador se preocupa e aposta na área de 17 UNIDADE Doenças do Trabalho saúde e segurança, os resultados alcançados podem ser significativamente melhores. A melhor alternativa é envolver toda a equipe e fazer com que as regras sirvam para motivar a satisfação e o bem-estar. Cuidar da saúde do trabalhador é um desafio para o empregador e a sociedade. Muitos são os desafios que precisam ser superados, por exemplo, o envelhecimento da população. As ações tomadas devem ser preventivas, evitando o surgimento de proble- mas futuros. Atuar no campo da Saúde do Trabalhador demanda abandonar o conforto das certe- zas das causas e construir argumentos na imprevisibilidade da realidade (LIEBER, 2008). Suscita dificuldades, porque a complexidade do objeto não permite ser “engessado” em rotinas e atitudes técnicas padronizadas. Pelo contrário, exige criatividade, pesquisa e envolvimento social direto e permanente (RIBEIRO, 2013). Doenças Relacionadas ao Trabalho no Meio Rural No âmbito rural o direito brasileiro regulou a atividade do trabalhador, inicialmente pela Lei nº 5.889, de 8 de junho de 1973, e pelo Decreto nº 73.626, de 12 de fevereiro de 1974. Mais tarde, em 1988, a Constituição Federal, no seu art. 7º equipara em di- reitos o trabalhador rural ao urbano. O meio onde o trabalhador exerce suas atividades pode apresentar riscos à sua integridade física e psicológica (CERVI, 2015). A agropecuária é um dos ramos mais crescentes no Brasil. Porém, o uso indiscri- minado de algumas substâncias, a carga horária excessiva e as precárias condições de trabalho vêm favorecendo o surgimento de algumas doenças relacionadas ao mesmo, assim como a incidência de acidentes de trabalho. No Brasil, a prática da atividade laboral rural é exercida principalmente por homens, porém, a presença das mulheres também está presente nesse meio, sendo que elas exercem, além das atividades na lavoura ou plantio, as atividades domésticas e, ainda, a educação dos filhos (LIMA; BONOW; BARTH, 2014). Levantamentos da Organização Mundial de Saúde apontam a atividade agrícola como uma das mais perigosas em relação à saúde e segurança do trabalhador. Estu- dos diversos têm confirmado o caráter insalubre das atividades rurais, demonstran- do o aumento no número de acidentes, lesões e doenças de toda ordem (ALVES; GUIMARÃES, 2012). Segundo Laurell e Noriega (1989), os riscos, fatores de risco e danos à saúde dos tra- balhadores devem ser compreendidos
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