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Página 1 de 3 O câncer de cólon é uma das neoplasias malignas mais comuns em todo o mundo, resultante de erros genéticos que se acumulam durante os anos. epidemiologia • 3º câncer mais prevalente, depois do câncer de mama e pulmão • 4º tipo mais frequente no homem, depois do câncer de pulmão, do estômago e da próstata • 3º mais comum nas mulheres, depois do câncer de mama e de colo de útero • os EUA, Japão, Canadá e Nova Zelândia são os países com as taxas mais altas de incidência de CCR no mundo (> 30 / 100.000) • Argélia e Índia possuem as taxas mais baixas (< 1 / 100.000) INCIDÊNCIA POR SEXO E IDADE: No Brasil, não há diferença expressiva entre os sexos, porém, em populações de alto risco, as taxas de incidência são um pouco mais altas para homens do que para mulheres. Com relação ao sítio anatômico, na incidência de câncer de cólon para câncer de reto, é 2:1 (H) e 3 - 4: 1 (M) - ou seja, o câncer de cólon é mais frequente na mulher, enquanto o de reto é mais frequente em homens. A incidência e mortalidade do CCR aumenta exponencialmente com a idade e o CCR diagnosticado antes dos 40 anos de idade é geralmente consequente a uma das síndromes genéticas familiares com alta penetrância. fatores de risco • genética (síndromes familiares) • idade • hábitos alimentares ruins (pobres em fibras) • obesidade • diabetes melitus - resistência à insulina • doença inflamatória intestinal • presença de pólipos colorretais • vida sedentária • hábito de fumar • consumo de álcool Atenção! Do ponto de vista de cuidados médicos, é importante estar atento quando o indivíduo desenvolve o tumor antes dos 40 anos e quando há um parente de 1º grau com tumor colorretal, de endométrio, ovário, em área de pelve renal - é necessário investigação por colonoscopia de toda a família para rastreio de câncer colorretal. RETOCOLITE ULCERATIVA E DOENÇA DE CRHON: São patologias nas quais o rastreio colonoscópio deve ser anual, principalmente após o 7º ano de doença. Observação! Nos EUA se indica colectomia total em doença inflamatória extensa com picos de agudização frequentes, para impedir o desenvolvimento de um câncer colorretal. FORMAS DE CCR Existem 2 tipos principais de CCR: hereditário e esporádico / adquirido. A grande diferença entre os dois tipos é que no tipo familiar todas as células do indivíduo sofreram mutação, enquanto no tipo esporádico apenas as células do tumor são mutadas. Hereditária: história familiar, idade jovem no início da doença, presença de outros tumores e defeitos específicos e mutações genéticas presentes em todas as células do indivíduo • polipose adenomatosa familiar: surge em indivíduos mais jovens (20 - 30 anos), se caracterizando pela presença de mais de uma centena de pólipos no colon e / ou no reto • CA colorretal não polipótico hereditário: pode estar associado a outras neoplasias, como CA de endométrio, ovário, pelve renal (sd. de Lins - síndrome autossômica dominante, que quando diagnosticada deve ser investigada em toda família). Esporádica: ausência de história familiar, afeta uma população mais idosa (60 - 80 anos), geralmente é uma lesão colônica ou retal isolada e as mutações genéticas são limitadas ao tumor. Atenção! Forma familiar: risco aumentado para membros da família cujo caso índice tem menos de 50 anos, é parente de 1º grau e quando o número de casos na família aumenta FISIOPATOLOGIA A sequência adenoma-carcinoma é o processo através do qual a maioria dos CCR se desenvolve. Geralmente os CCR evoluem através de uma progressão de pólipos benignos até o carcinoma invasivo - por isso a importância de todos os pólipos serem retirados na colonoscopia para análise. Observação! Quanto maior o número de pólipos e quanto maior o seu tamanho, maior risco de malignização. anatomia patológica dos pólipos e CCR Pólipos: os de menor risco de malignização são os hiperplásicos e os adenomatosos tubulares e os de maior risco são os vilosos → pólipos adenomatosos podem ser tubulares, túbulo-vilosos ou vilosos e se classificam de acordo com seu grau de displasia em leve, moderada e severa Carcinoma de cólon: • adenocarcinoma (95%) ▪ ulcerado: lesão de caráter infiltrativo ▪ exofítico: lesão cresce principalmente em direção à luz intestinal, mais propício a obstrução intestinal • carcinoma epidermoide • carcinoma adenoescamosa • carcinoma de pequenas células CLÍNICA CIRÚRGICA câncer colorretal data: 11 / 10 / 21 Página 2 de 3 • carcinoma medular • carcinoma indiferenciado Outros tumores de cólon: • tumores estromais gastrintestinais (afetam preferencialmente o reto) • tumores musculares e vasculares benignos e malignos • tumores neurais benignos e malignos • linfomas QUADRO CLÍNICO Os sintomas são variados e inespecíficos, a depender da localização do tumor. • hematoquezia: sangue vermelho vivo nas fezes • melena: sangue escurecido, digerido - tumores de cólon direito podem produzir melena • anemia: por deficiência de ferro devido ao sangramento tumoral • alteração de hábito intestinal: mais comum em tumores de lado esquerdo devido a efeitos da constrição • tenesmo retal: sensação de evacuação incompleta • fezes de calibre reduzido: também chamada de fezes “em fita“, associadas a constipação • casos mais avançados: fadiga, emagrecimento e dor abdominal Observação! Em alguns casos a patologia pode surgir com obstrução intestinal completa, necessitando de cirurgia de urgência. DIAGNÓSTICO Para o diagnóstico é importante uma boa anamnese e análise minuciosa da história familiar do doente. Além disso, o quadro clínico e o exame físico também são de grande valia para o diagnóstico. Toque retal: fundamental no diagnóstico e estadiamento do câncer de reto Retossigmoidoscopia rígida: maior agilidade no diagnóstico, estadiamento e tratamento (medida da distância do tumor da borda anal) Clister opaco: muitas vezes complementa a colonoscopia (útil principalmente onde não há colonoscopia ou para evidenciar tumores de colo de reto benigno ou maligno) Colonoscopia: exame padrão-ouro, principal meio diagnóstico, além de ser útil para estadiamento e tratamento do câncer colorretal → após os 50 anos de idade, todos os pacientes devem ser rastreados por meio de método colonoscópico para CA colorretal Colonoscopia virtual: forma específica de tomografia computadorizada, avaliação dos segmentos cólicos por imagens bi e tridimensionais reconstruídas a partir de cortes tomográficos finos → é um método interessante em pacientes que fazem check- up periódico ou em pacientes com comorbidades que contraindicam procedimento anestésico → atenção! se houver aparecimento de imagens suspeitas nesse exame, torna-se indispensável a colonoscopia convencional Ultrassonografia hidrocólica: instilação de água na luz da víscera com melhora acentuada da visualização do cólon e das lesões, mas não é superior a colonoscopia importância da colonoscopia • apresenta elevada sensibilidade e especificidade diagnóstica (padrão-ouro) • identificação de tumores sincrônicos e / ou metacrônicos • executa biópsias • remove pólipos e adenomas vilosos • reduz a incidência de CCR pela retirada dos pólipos através do rastreamento • exige preparo minucioso do cólon para sua realização estadiamento do CCR É feito pelo sistema TNM (classificação mais detalhada e precisa). Baseia-se no nível de penetração tumoral na parede intestinal, no número de linfonodos regionais comprometidos e na presença / ausência de metástases. O estadiamento é feito por meio de tomografia computadorizada de tórax e abdome para avaliar metástases a distância (fígado e pulmão são as mais comuns). A realização de colonoscopia prévia também é importante para retirada de pólipos e análise em biópsia. A ressonância nuclear magnética da pelve é importante em caso de câncer de reto. Exames pré-operatóriosde rotina: hemograma, coagulograma, exames de urina Atenção! Deve-se dosar o marcador carcinoembriônico (CEA) para acompanhamento da evolução pós-operatória do tumor - importância prognóstica. ESTÁGIOS: Estágio 0: não ultrapassa a muscular da mucosa (carcinoma in situ) Estágio 1: ultrapassa a muscular da mucosa Estágio 2: comprometimento da serosa (2A) ou tecido adjacente (2B) Estágio 3: comprometimento ganglionar em maior ou menor grau Estágio 4: metástase a distância independente do comprometimento ou não dos ouros fatores Página 3 de 3 TRATAMENTO O CCR hoje em dia tem uma boa possibilidade de cura devido aos avanços cirúrgicos e de quimioterapia e radioterapia. Por enquanto, a cirurgia é o principal método para erradicação do tumor. As cirurgias podem ser eletivas ou de urgência. Quando eletivas, devem ocorrer o mais breve possível após o diagnóstico (no máximo em 2 meses). Quando ocorre obstrução intestinal ou sangramento incoercível, faz-se a cirurgia de urgência. A via de acesso pode ser aberta (laparotomia) ou por videolaparoscopia, sendo as resseções oncologicamente adequadas para não haver permanência de células acometidas. As anastomoses podem ser manuais ou mecânicas (grampeadores) Atenção! Técnica de “no touch“: deve ser evitada manipulação excessiva do tumor para reduzir as chances de disseminação de células em cavidade peritoneal ou parede abdominal. cirurgia em obstrução por CCR Em caso de obstrução intestinal existe uma população bacteriana exagerada, devido a estase, o que muitas vezes impede a realização de anastomoses. Obstrução de cólon direito: colectomia direita com anastomose íleotransversa primária (dependendo do grau de contaminação da cavidade) Obstrução de cólon esquerdo: colonização mais exacerbada, não se indica anastomose - ressecção do segmento do cólon que contém o tumor, sutura do sigmoide distal ou do reto e construção de uma colostomia (cirurgia de Hartmann) preparo do cólon em cirurgia eletiva A principal complicação em cirurgia de cólon é a contaminação e, por isso, é importante preparar o cólon no pré-operatório, reduzindo a flora bacteriana e, consequentemente, as chances de proliferação e infecção. Flora do cólon: bactérias gram-negativas e anaeróbias PRINCÍPIOS BÁSICOS DO PREPARO DO CÓLON: • dieta sem resíduos 48h antes da cirurgia • remoção mecânica do conteúdo fecal (via retrógrada e anterógrada) • controle dos distúrbios hidroeletrolíticos que possam advir do preparo • uso profilático de antimicrobianos (iniciada 1h antes da incisão cirúrgica) • boa limpeza intestinal • administração simples e segura • duração curta • mínima morbidade • alta confiabilidade • menor desconforto ao paciente cirurgia para câncer de cólon A cirurgia para o câncer de cólon depende do sítio do tumor. Câncer de cólon direito: hemicolectomia direita com íleotransversoanastomose Câncer de ângulo hepático: hemicolectomia direita ampliada com ileotransversostomia Câncer de cólon transverso: depende da localização do tumor Câncer de ângulo esplênico e cólon descendente: hemicolectomia esquerda com ligadura de AMI e anastomose do trasnverso com área de retossigmoide Câncer de cólon sigmoide: sigmoidectomia com anastomose de cólon descendente com área retossigmoide e ligadura de AMI na sua origem CÂNCER DE CÓLON HEREDITÁRIO: Não polipótico: devido a sua tendência de ser multifocal, deve-se realizar colectomia total com anastomose ileorretal Polipose adenomatosa familiar: colectomia total profilática com anastomose ileorretal ou proctocolectomia com anastomose ileoanal e bolsa ileal (devido ao grande numero de pólipos acometendo cólon e reto) metástases de câncer de cólon Órgãos mais frequentes: fígado e pulmões, podendo ir para osso, cérebro e outras partes Tratamento: cirurgia e quimioterapia (metástases múltiplas) CONTEÚDO: anotações da aula Câncer de Cólon disponibilizada pela disciplina, ministrada por Pedro Paulo cirurgia de Hartmann