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Iatrogenia e Polifarmárcia

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Marina Moura Fé – M7 
 
Introdução 
Muitas vezes, os pacientes idosos são tratados 
como pacientes adultos, desconsiderando-se a 
singularidade do processo de senescência e 
senilidade. Isso faz com que, entre outros fatores, 
os pacientes idosos sejam especialmente sujeitos à 
ocorrência de eventos iatrogênicos, o que é 
evidenciado na elevada prevalência de iatrogenias 
nessa população. 
Além disso, as mudanças orgânicas decorrentes do 
envelhecimento ocasionam alterações 
importantes na resposta aos medicamentos. No 
idoso, há alterações farmacocinéticas e 
farmacodinâmicas que exigem mais atenção na 
prescrição medicamentosa. Em contrapartida, a 
intervenção farmacológica é a mais utilizada nas 
pessoas idosas, sendo que a maioria delas faz uso de 
polifarmácia. 
Apesar de o conceito de polifarmácia ainda não ser 
consensual, o termo é utilizado na maioria dos 
estudos na referência ao uso de 5 ou mais 
medicamentos concomitantes. 
A palavra “iatrogenia” vem do grego e é uma 
composição de duas palavras: iatrós (aquele que 
cura) + genós (gerador, origem). Etimologicamente, 
significa a geração de efeitos a partir da prática 
médica. Ela é usada para designar repercussões 
negativas consequentes da ação da equipe de 
saúde. Em resumo, iatrogenia é qualquer prejuízo 
que o paciente tenha que não é decorrente de uma 
doença, mas sim da ação ou da omissão de 
qualquer intervenção por parte de algum membro 
da equipe de saúde, seja ele médico, enfermeiro, 
auxiliar de enfermagem, fisioterapeuta, etc. 
 
 
Iatrogenia 
Iatrogenia X Erro médico 
É de suma importância diferenciarmos dois 
conceitos: iatrogenia e erro médico. Muitas vezes 
esses termos são usados como sinônimos, porém 
dizem respeito a situações distintas. A diferenciação 
se faz clara ao pensarmos que, apesar de na maioria 
das vezes os erros médicos levarem à iatrogenia, em 
algumas situações um erro médico pode não gerar 
prejuízo algum ao paciente, não ocasionando, nesse 
caso, iatrogenias. Da mesma forma, é importante 
notar que nem todas as iatrogenias são decorrentes 
de erros médicos, na verdade, a maioria das 
iatrogenias decorre de situações indicadas, e não por 
erro médico. 
A iatrogenia não acarreta a responsabilidade civil do 
profissional da saúde, uma vez que ela decorre de 
um agir tecnicamente correto. Nesse caso, além da 
intenção benéfica do profissional para uma tentativa 
de cura do paciente, há um proceder preciso e 
correto, de acordo com as normas e princípios 
ditados pela ciência de sua área profissional. 
Na direção oposta está o erro médico. Este sim é 
gerador da responsabilidade civil do profissional 
pelos danos dele decorrentes. O erro médico advém 
de conduta ou omissão negligente (descuido), 
imprudente (sem precaução, imponderado) ou 
imperita (inabilidade ou desconhecimento técnico) 
do profissional, da qual resultou um dano ao 
paciente. 
Tipos de Iatrogenias 
Uma iatrogenia pode ocorrer em consequência a 
uma ação, medida ativa, do profissional ou a uma 
situação de omissão. 
 
Marina Moura Fé – M7 
 
 
Além disso, há casos em que a iatrogenia decorre 
de questões ligadas à comunicação. Dentro dessas 
categorias – ação, omissão ou comunicação –, 
podemos classificar o tipo de iatrogenia de acordo 
com o momento do processo médico em que ela 
acontece. 
➢ Iatrogenia por ação: Quando é devida a uma 
ação, a iatrogenia pode ocorrer durante o 
processo diagnóstico, no tratamento ou na 
prevenção de uma doença. Por exemplo, 
quando um paciente tem indicação de 
realização de uma tomografia computadorizada 
com contraste para a realização do diagnóstico 
de alguma doença, caso esse paciente 
desenvolva reação alérgica ao contraste iodado, 
esse prejuízo – a reação alérgica – seria 
categorizado como uma iatrogenia decorrente 
de uma ação diagnóstica. Da mesma forma, o 
efeito adverso a algum medicamento utilizado 
para o tratamento é considerado uma iatrogenia 
decorrente do tratamento. Como exemplo de 
uma iatrogenia devido a medidas preventivas, 
podemos pensar em um paciente que sofre 
perfuração intestinal na realização de uma 
colonoscopia preventiva. É importante ressaltar 
que, quando o dano ocorre por uma ação de 
imperícia ou imprudência, é configurado um erro 
médico. 
➢ Iatrogenias por omissão: também podem 
ocorrer no momento do diagnóstico, do 
tratamento ou da prevenção, destacando 
novamente que, em situações em que há 
negligência, fala-se de erro médico. Utilizando o 
mesmo exemplo da tomografia 
computadorizada com contraste iodado, caso o 
médico opte por não a realizar pelo risco de 
choque anafilático e o paciente sofre as 
consequências da falta do diagnóstico que seria 
feito, temos uma situação de iatrogenia por 
omissão diagnóstica. 
 
 
 
Quando há demora na prescrição de algum 
medicamento e o quadro clínico do paciente piora 
em consequência disso, tem-se uma iatrogenia por 
omissão de tratamento. Por fim, há iatrogenia por 
omissão de medidas preventivas quando o paciente 
desenvolve uma doença por falha na sua prevenção, 
por exemplo. 
 
➢ As iatrogenias de comunicação: podem resultar 
de deficiências comunicativas por parte do 
paciente e profissional, do conteúdo e da forma 
de se comunicar más notícias e até mesmo da 
grafia do profissional. Os problemas de 
comunicação ocorrem especialmente com os 
pacientes que possuem deficiências de 
compreensão, como baixa escolaridade ou 
deficiência auditiva por exemplo, contudo, pode 
ocorrer também quando o profissional não 
consegue explicar o conteúdo desejado da forma 
mais apropriada. Isso é visto principalmente nos 
momentos de comunicação de más notícias, em 
que o profissional passa uma impressão de que o 
problema é menor ou maior do que é de fato. Por 
fim, iatrogenias também acontecem, com certa 
frequência, por questões de grafia não 
compreensível. Quando a caligrafia do médico em 
uma prescrição, por exemplo, não é 
compreendida pelo farmacêutico ou mesmo pelo 
próprio paciente, pode ocorrer trocas de 
medicamentos e/ou erro de dosagem e 
frequência. 
 
Reação adversa a medicamentos (RAM) 
 
A Organização Mundial da Saúde (OMS) define 
“reação adversa a medicamento” (RAM) como 
“qualquer efeito prejudicial ou indesejado que se 
manifeste após a administração do medicamento, 
em doses normalmente utilizadas no homem para 
profilaxia, diagnóstico ou tratamento de uma 
enfermidade”. 
 
 
Marina Moura Fé – M7 
 
Devido às alterações farmacodinâmicas e 
farmacocinéticas que acompanham o 
envelhecimento, as RAM são muito comuns e 
mais graves em idosos. Além disso, o uso 
concomitante de diversos medicamentos (a 
polifarmácia), visto em muitos idosos, leva a 
uma maior propensão a interações 
medicamentosas e efeitos indesejáveis. 
 
É comprovado que em mais da metade das 
hospitalizações os idosos sofrem alguma RAM e, 
especialmente nessa população, é preciso 
atenção para não interpretar a manifestação da 
reação adversa como um novo sintoma, o que 
pode levar à introdução de uma nova 
medicação, no que dizemos ser uma cascata 
iatrogênica. 
 
É importante manter atenção especial aos 
idosos que possuem fatores de risco para 
desenvolver RAM. São eles os idosos com idade 
mais avançada, aqueles com alguma 
fragilidade, os pacientes com declínio cognitivo 
e os que fazem uso de polifarmácia. 
 
Fatores de Risco da Iatrogenia 
 
Ser idoso por si só já é um fator de risco para 
iatrogenias, tanto em função das alterações 
farmacocinéticas e farmacodinâmicas 
fisiológicas, quanto pelo despreparo de muitos 
profissionais na assistência a esses pacientes. 
 
Idosos com múltiplas comorbidades estão no 
grupo de maior risco, dado que seus órgãos e 
sistemas já possuem algum grau de 
comprometimento de suas funções. Idosos que 
passam por múltiplos médicos e que são 
acompanhados por diversos profissionais de 
saúde tambémestão mais expostos ao risco da 
iatrogenia, uma vez que se submetem a muitas 
avaliações diagnósticas recebem múltiplos 
tratamentos e fazem uso de polifarmácia. 
 
 
Polifarmácia 
 
A maioria dos estudos define como polifarmácia o 
uso de no mínimo 5 medicamentos. 
 
Apesar de o uso de remédios contribuir para o 
controle de doenças e comorbidades e, 
consequentemente, para a manutenção da 
capacidade funcional e da qualidade de vida dos 
idosos, se realizado de forma incorreta, pode gerar 
danos. Por isso, deve haver atenção à prescrição 
medicamentosa em idosos, sempre ponderando os 
riscos e os benefícios. 
Em idosos as prescrições medicamentosas devem 
ser receitadas com cautela, considerando as 
alterações farmacocinéticas e farmacodinâmicas 
próprias do envelhecimento, sob pena de provocar 
iatrogenias 
Farmacocinética 
 
Define-se farmacocinética como o conjunto de 
processos sofridos pelos fármacos no corpo humano a 
partir de sua administração, ou seja, abrange absorção, 
distribuição, metabolismo e excreção dos 
medicamentos. 
 
Marina Moura Fé – M7 
 
Absorção 
Estudos farmacocinéticos sobre o efeito do 
processo de envelhecimento sobre a absorção 
de fármacos apresentam resultados 
conflitantes. Essas disparidades de dados 
relacionam-se à via e ao tipo de absorção – 
passiva ou ativa. 
 
Atentando-se inicialmente à via oral (VO), 
forma de administração usual de 
medicamentos, o envelhecimento influencia a 
absorção de medicamentos. Processo não 
uniforme – nem entre idosos, nem entre 
medicamentos – merece atenção do prescritor 
particularmente quando o resultado esperado 
não ocorrer e/ou o paciente apresentar outras 
peculiaridades passíveis de interferir na 
absorção do fármaco indicado. A 
biodisponibilidade medicamentosa pela via oral 
depende basicamente da absorção pelo trato 
gastrintestinal e da primeira passagem hepática 
do fármaco. 
 
A absorção oral de medicamentos sofre 
interferências quando ocorre aumento do pH 
gástrico, retardo no esvaziamento do estômago, 
redução na mobilidade e no fluxo sanguíneo do 
sistema digestório; alterações observadas em 
percentuais significativos de idosos. Essas 
alterações interferem mais em substâncias e 
fármacos que dependem de transporte ativo 
para absorção intestinal como glicose e vitamina 
B12. Felizmente, a maioria dos medicamentos é 
absorvida nessa via por difusão passiva que 
apresenta baixo grau de evidências quanto a 
alterações relacionadas com o envelhecimento. 
 
Em contrapartida, a primeira passagem 
hepática –importante em processos de 
biodisponibilidade farmacológica – encontra-se 
geralmente reduzida em idosos. Deve-se isto à 
redução do parênquima e do fluxo sanguíneo 
hepático durante o envelhecer. 
Biodisponibilidade de medicamentos que se 
submetem a extenso metabolismo de primeira 
passagem – como metoclopramida e opioides – pode 
aumentar de forma significante, recomendando-se 
iniciar sua administração em doses menores que as 
de adultos jovens. Opondo-se a este fato, observa-se 
também a ativação mais lenta na primeira passagem 
hepática de vários profármacos como inibidores da 
enzima de conversão da angiotensina. O uso crônico 
desses fármacos reduz o impacto dessas alterações 
hepáticas, tornando-as clinicamente pouco 
relevantes. 
 
Mesmo com as alterações descritas antes, a 
absorção medicamentosa em idosos normalmente 
não apresenta prejuízo de monta, desde que se 
mantenha a integridade da mucosa gástrica. Há, 
porém, doenças e/ou circunstâncias comuns nessa 
faixa etária com potencial de interferir na absorção, 
como moléstia diverticular, gastrectomia prévia, 
estenose pilórica, pancreatite e síndromes de má 
absorção. 
Distribuição 
Significativas alterações da composição corporal 
ocorrem durante o envelhecimento. Isto interfere na 
distribuição de determinados medicamentos. 
 
Atenção especial deve ser dedicada quanto ao 
aumento do tecido adiposo entre 20 e 40% e à 
redução da água corporal total em até 15%. Assim, 
fármacos hidrofílicos como gentamicina, lítio e 
digoxina tendem a apresentar menor volume de 
distribuição em idosos, com consequente aumento 
da concentração plasmática. A redução do volume 
de distribuição de medicamentos hidrossolúveis é 
contrabalanceada pela significativa perda do 
clearance renal durante o envelhecimento, 
redundando em baixo efeito sobre a meia-vida de 
eliminação desses fármaco. 
 
Observa-se situação oposta em fármacos lipofílicos, 
como benzodiazepínicos, morfina e amiodarona, 
cujo volume de distribuição eleva-se 
progressivamente com a idade. 
Marina Moura Fé – M7 
 
Obviamente, se o volume de distribuição 
aumenta, a meia-vida de eliminação 
medicamentosa também se prolonga. Essa 
associação entre volume de distribuição e meia-
vida de eliminação maiores em fármacos 
lipossolúveis provoca em idosos maior tempo de 
ação medicamentosa e risco de efeitos 
colaterais mesmo após o encerramento da 
tomada de fármacos como diazepam e 
tiopental. 
 
Medicamentos com características ácidas – 
diazepam, fenitoína, varfarina, ácido 
acetilsalicílico – ligam-se à albumina sérica, 
enquanto fármacos básicos – lidocaína, 
propranolol – agregam-se à alfa-1 glicoproteína 
ácida. Mesmo não havendo alterações de 
concentração sérica das duas proteínas 
relacionadas com o envelhecimento normal, a 
albumina sofre reduções significativas em 
idosos portadores de quadros de desnutrição e 
de fragilidade, enquanto a alfa-1 glicoproteína 
ácida – marcador de doenças inflamatórias – 
aumenta principalmente em quadros agudos 
comumente observados nessa faixa etária. 
 
O principal fator que determina o(s) efeito(s) 
medicamentoso(s) é a concentração livre do 
fármaco. Esta concentração relaciona-se com a 
capacidade de ligação entre o medicamento e a 
proteína carreadora dele (albumina ou alfa-1 
glicoproteína ácida) e modula as interações 
medicamentosas e os efeitos fisiológicos dos 
fármacos. Sendo sua relevância clínica limitada 
em muitos medicamentos, deve se, contudo, 
atentar a exemplos como o da fenitoína que 
apresenta seus efeitos farmacológicos e 
colaterais maximizados em pacientes com 
baixas concentrações de albumina sérica. 
Metabolismo 
A depuração hepática dos fármacos depende da 
capacidade do fígado em metabolizar o(s) 
medicamento(s) e do fluxo sanguíneo hepático. 
Classificam-se os fármacos quanto ao seu grau de 
depuração hepática (DH) em três grupos: 
 (1) alto (DH > 0,7) como propranolol, meperidina e 
lidocaína; 
(2) intermediário (DH entre 0,3 e 0,70) como ácido 
acetilsalicílico, codeína, morfina e triazolam; e 
(3) baixo (DH < 0,3) como carbamazepina, diazepam, 
fenitoína e varfarina. 
 
Quando o grau de DH é alto, sua capacidade de 
depuração torna-se limitada pelo fluxo sanguíneo 
existente no fígado. Quando o grau de DH é baixo, 
mudanças no fluxo sanguíneo hepático provocam 
pequenas alterações na depuração. Assim sendo, a 
progressiva redução do fluxo sanguíneo do fígado 
durante o envelhecimento afeta principalmente 
medicamentos com alto grau de DH. 
 
Outro fato relevante relaciona-se com a redução 
progressiva do volume hepático em até 30% durante 
o processo de envelhecimento. Isto resulta em 
queda de sua depuração em magnitude similar à 
anteriormente relatada. 
 
Cabe como mais uma observação de que no fígado 
ocorre a conversão de medicamentos em 
metabólitos, em processo conhecido como 
biotransformação. Esta, por sua vez, tem duas fases: 
a fase I, que converte medicamentos em metabólitos 
ativos ou inativos (oxidação e redução, por 
exemplo), e a fase II, que estabelece graus de 
polaridade e hidrossolubilidade para facilitar a 
excreção dessas substâncias pelas fezes e urina. 
 
Com o avançar da idade há comprometimento da 
fase I, levando ao aumento da concentração sérica 
de fármacos como benzodiazepínicos, bloqueadoresde canais de cálcio e levodopa. Estima-se que após 
os 70 anos de idade, o volume e a atividade do 
complexo enzimático citocromo P-450 encontra-se 
reduzido em cerca de 30%. 
 
 
Marina Moura Fé – M7 
 
Estados de fragilidade, desnutrição, 
multimorbidades e tabagismo também 
influenciam o metabolismo hepático. No 
entanto, não há provas de função hepática 
adequadas na prática clínica para apontar as 
alterações descritas no paciente idoso. 
 
Excreção 
A redução da taxa de filtração glomerular 
provocada pelo envelhecimento afeta a 
depuração de vários medicamentos como, por 
exemplo, anti-inflamatórios não hormonais, 
anticoagulantes orais (rivaroxabana e 
dabigatrana), diuréticos, digoxina, 
betabloqueadores hidrossolúveis (atenolol e 
nadolol), antibióticos hidrossolúveis 
(cefalosporinas e aminoglicosídios) e lítio. A 
importância clínica dessa redução relaciona-se 
ao risco potencial de toxicidade do fármaco. 
Medicamentos com doses terapêuticas estreitas 
como lítio, aminoglicosídios e digoxina tornam-
se altamente suscetíveis a efeitos colaterais 
graves, mesmo em concentrações séricas 
minimamente superiores ao ideal em idosos. 
 
Recomenda-se o cálculo do clearance de 
creatinina sérica em todo paciente nessa faixa 
etária. Em geral utiliza-se a fórmula de Cockcroft 
e Gault (1976): 
 
 
 
Atualmente encontram-se aplicativos desta 
fórmula para celulares como também de outra 
equação para o mesmo fim. Cabe, porém, a 
observação de que esses cálculos não devem ser 
utilizados simultaneamente no mesmo paciente 
devido a resultados discrepantes entre si. 
Também não se encontram validados para 
idosos frágeis, devendo ser usados com cautela 
nesses casos. 
 
Farmacodinâmica 
Define-se farmacodinâmica como o(s) efeito(s) do 
fármaco no organismo, que, no paciente idoso, 
depende de alterações em mecanismos 
homeostáticos e de modificações em receptores e 
sítios de ação. 
 
Alterações em mecanismos homeostáticos 
 
A maior sensibilidade observada em idosos a várias 
classes de medicamentos decorre do declínio de 
certas funções orgânicas. Desse modo, a redução do 
fluxo sanguíneo cerebral secundária à doença 
ateromatosa interfere na sensibilidade a fármacos 
de ação central, como antidepressivos e 
benzodiazepínicos. Observam-se assim quadros de 
confusão mental e/ou disfunção cognitiva em 
usuários desses fármacos, particularmente quando 
tomados por longos períodos. 
 
Outro exemplo, comum na prática clínica, é a 
hipotensão ortostática desencadeada por anti-
hipertensivos. Isto decorre da menor reatividade do 
reflexo barorreceptor associada ao envelhecimento. 
Igualmente, a associação das alterações da 
termorregulação em idosos com medicamentos 
como psicofármacos apresenta potencial de gerar 
quadros de hipotermia nessa faixa etária. 
 
Modificações em receptores e sítios de ação 
 
O envelhecimento influencia a interação de 
medicamentos e receptores, alterando 
consequentemente o padrão de resposta orgânica 
aos fármacos. Poucos dados são relatados sobre 
diferenças farmacodinâmicas em idades acima de 80 
anos. Mas o que já se encontra estabelecido é que 
há alterações no número e na afinidade de 
receptores aos fármacos como também modulações 
alteradas nas respostas celulares aos medicamentos. 
 
 
 
 
Marina Moura Fé – M7 
 
 
 
Peculiaridades da prescrição 
medicamentosa em idosos 
Interações medicamentosas 
Interações medicamentosas correspondem à 
capacidade de um medicamento modificar a 
ação de outro administrado sucessivamente ou 
simultaneamente. Em situações em que há 
aumento da eficácia dos agentes terapêuticos 
empregados, as interações são até desejáveis, 
como, por exemplo, é observado quando se 
empregam antibióticos ou anti-hipertensivos; 
por outro lado, interações podem levar a 
resultados deletérios, como aumento do risco 
de eventos adversos ou redução da efetividade 
do tratamento. As interações podem ser 
farmacocinéticas, quando um medicamento afeta a 
absorção, distribuição, metabolismo ou excreção de 
outro, ou farmacodinâmicas, que ocorrem nos 
órgãos-alvo quando a ação de um fármaco no seu 
sítio é modificada por outro fármaco, quer porque 
fármacos agem nos mesmos receptores, quer 
porque atuam nos mesmos sistemas fisiológicos por 
meio de receptores diferentes. 
 
Prejuízo da funcionalidade, piora da qualidade de 
vida e até eventos adversos potencialmente fatais 
são outras complicações das interações 
medicamentosas. 
Marina Moura Fé – M7 
 
Por outro lado, cabe esclarecer que nem todas 
as interações cursam obrigatoriamente com tais 
complicações; de fato, a maioria das interações 
corresponde a interações medicamentosas 
potenciais. Uma interação potencial é definida 
como uma ocorrência na qual são prescritos 
concomitantemente dois medicamentos que 
sabidamente podem interagir e ocasionar 
consequências indesejáveis. 
 
Os medicamentos implicados com mais 
frequência em interações potenciais são 
justamente aqueles usados de rotina por idosos 
portadores de doenças crônicas, como os de 
ação no sistema cardiovascular e no sistema 
nervoso central. É importante acrescentar que 
tais medicamentos costumam estar implicados 
com interações medicamentosas graves, ou 
seja, aquelas que podem levar a eventos 
adversos sérios, inclusive risco de morte. 
 
A adoção de hábitos, como a escolha de 
medicamentos com perfil seguro, o 
conhecimento das principais interações 
indesejáveis, o monitoramento do nível sérico 
de medicamentos com índice terapêutico 
estreito (associados a maior probabilidade de 
interações) e o cuidado quanto à orientação do 
paciente para o risco da automedicação podem 
minimizar a chance de complicações associadas 
às interações medicamentosas. 
 
Aderência medicamentosa 
A Organização Mundial da Saúde define 
aderência como adequação do indivíduo, como 
fazer dieta, exercícios e usar medicamentos, à 
recomendação médica. Já a aderência a 
medicamentos é entendida como a utilização 
dos medicamentos prescritos em pelo menos 
80% do seu total, observando horários, doses e 
tempo de tratamento. Pacientes com uso 
inferior a 80% apresentam risco quatro vezes 
maior de complicações, como eventos 
cardiovasculares agudos. 
Estimativas conservadoras sugerem que a má 
aderência está associada a 10% das admissões 
hospitalares de pacientes idosos e a 23% das 
institucionalizações. Existe também relação entre a 
má aderência e a mortalidade, como, por exemplo, 
no caso de pacientes ao longo do primeiro ano após 
infarto do miocárdio, nos quais houve um risco de 
óbito seis vezes maior dos não aderentes. 
 
Taxas de má aderência são mais altas entre idosos, 
especialmente em pacientes com múltiplas doenças 
crônicas, nos quais a prevalência pode chegar a 50%, 
ou seja, metade dos medicamentos prescritos na 
prática médica não são utilizados, ou são utilizados 
de maneira inadequada. 
 
A aderência medicamentosa em idosos é assunto 
complexo e multifacetado, que sofre influência de 
ampla gama de fatores, como polifarmácia, declínio 
cognitivo e funcional, dificuldade de acesso aos 
serviços de saúde, sintomas depressivos, falta de 
suporte social e dificuldades financeiras; até mesmo 
certas doenças têm sido especialmente associadas à 
má aderência, constituindo o exemplo clássico a 
hipertensão arterial, devido à sua natureza em geral 
assintomática. 
 
A aderência deve sempre ser considerada uma via de 
mão dupla, e, desse modo, tanto o médico quanto o 
paciente exercem papel fundamental. Cabe ao 
médico acolher, orientar, informar, explicar sobre os 
possíveis eventos adversos, ensinar a montar tabelas 
com horários de administração e de doses, e 
encaminhar o paciente a programas públicos e 
privados de disponibilização de medicamentos, 
quando for o caso. Já aqueles pacientes e seus 
familiares que procuram esclarecimentosadequados 
e se conscientizam sobre o perfil de suas doenças e 
as possíveis complicações de um tratamento 
inadequado têm mostrado maior aderência, e, 
portanto, melhor evolução. 
 
 
 
Marina Moura Fé – M7 
 
Fatores que influenciam a aderência 
medicamentosa em idosos 
 
 
Medicamentos e vias alternativas em idosos 
Medicamentos em apresentações adequadas a 
idosos com distúrbios de deglutição tornam-se 
normalmente desafios na prática clínica. 
 
A via parenteral – subcutânea, intramuscular ou 
intravenosa – garante bom grau de absorção, 
embora em idosos frágeis e/ou altamente 
dependentes, quadros de sarcopenia e alterações 
no tecido subcutâneo interfiram no tempo e 
dosagem de absorção medicamentosa. Merece 
observação que essa via propicia o risco de 
complicações, desconforto e alto custo, sendo 
pouco frequente seu uso a longo prazo. 
 
Outras vias – tópica, sublingual, retal, bucal ou 
transdérmica – embora opções em algumas 
circunstâncias, tornam-se limitadas pelo número 
de fármacos em disponibilidade comercialmente. 
Observa-se, porém, que, mesmo com 
possibilidades terapêuticas restritas, essas vias 
contêm potencial de interações medicamentosas e 
de sobredoses, visto que – com exceção da 
transdérmica e da tópica parcialmente – o processo 
de absorção farmacológica nelas encontra-se 
vinculado a mucosas. 
 
 
Torna-se assim cada vez mais comum – em idosos 
incapacitados de utilizarem a via oral – a indicação 
de sondas de alimentação como alternativa para o 
aporte de nutrientes e administração de 
medicamentos.

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