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Michelle Stapf - TXXII Farmacologia dos agentes antibacterianos INTRODUÇÃO • Origem dos principais antibióticos: - Fungos: penicilina (Penicillium notatum) e cefalosporina (Cephalosporium sp.) - Bactérias: bactracina, polimixina (Bacillus sub3lis); gentamicina, sisomicina (Micromonospara sp.); aztreanam (Chromobacterium sp.); • Classificação: - Quanto a origem: Antibiótico: é o produto de um ser vivo (bactérias, fungos) -> origem natural ou semi-sintético (modificação química sobre o produto natural) Quimioterápico: origem sintética - Quanto ao espectro de ação: Amplo espectro Pequeno espetro - Atividade na célula bacteriana: Bactericida: matam bactéria Bacteriostático: inibe seu crescimento • Mecanismo gerais de ação - Inibidores de síntese de parede bacteriana - Inibidores de síntese de ácido nucleico - Inibidores da síntese de folatos - Desestabilizadores de membrana - Inibidores de síntese de proteínas • Relembrando passos importantes dos processos de replicação, transcrição, tradução e como ocorre a formação da parede bacteriana: - Replicação: Na replicação temos a dupla fita de DNA se separando para que as fitas complementares se formem a partir dela, entretanto conforme as fitas de DNA se separam ocorre um superenrolamento dessa dupla fita, e para que o processo não seja danificado temos a ação das topoisomerases I e II Após a replicação bacteriana os cromossomos formados (que são circulares) se enrolam um no outro, e quem desfaz esse enrolamento é a topoisomerase II - Transcrição: a RNA polimerase sintetiza uma fita de RNA complementar (mRNA) a partir do DNA - Tradução: o ribossomo bacteriano é composto por uma subunidade 30S e uma 50S, e ele possui dois sítios nos quais o tRNA vai se ligar: o sítio P (peptidil), o qual possui a cadeia peptídica que está crescendo, e o sítio A (aminoacil), neste chegam os tRNAs trazendo os aminoácidos (que posteriormente se juntarão a cadeia peptídica formada no sítio P); como etapas temos: 1. Iniciação: temos o mRNA se ligando a subunidade 30S e uma molécula de tRNA se ligando também, depois temos a união das subunidades 30S e 50S do ribossomo; nesse momento temos o tRNA ligado ao sítio P do ribossomo 2. Elongação: temos a adição de aminoácidos a cadeia peptídica, isso ocorre pois tRNAs chegam no sítio A trazendo o aminoácido e a enzima peptidil transferase catalisa a ligação desse aminoácido que foi trazido com o aminoácido presente na cadeia peptídica do sítio P; após essa ligação ocorre ejeção do tRNA do sítio P e o tRNA do sítio A (que agora possui a cadeia peptídica) “pula” para o sítio P deixando o sítio A disponível para uma nova ligação e continuação dessa elongação 3. Terminação: temos a liberação da proteína formada Passos da tradução Michelle Stapf - TXXII - Formação da parede bacteriana: 1. Primeiramente temos a síntese dos monômeros de mureína, na qual é formada dois aminoaçúcares, o N-acetil-glicosamina (NAG) e o ácido N-acetilmurâmico (NAM) e pelos aminoácidos L-alanina, D-glutamato, L-lisina (na Gram-positiva) ou ácido diaminopiméliso (na Gram-negativa) e D-alanil-D-alanina 2. Após a síntese dos monômeros teremos a polimerização, a qual consiste no “transporte” para o espaço periplasmático para que o monômero possa se ligar ao polímero de mureína que está se formando; esse transporte ocorre graças ao bactoprenol 3. Uma vez no espaço periplasmático, o monômero fixa-se a uma cadeia de mureína em crescimento por ligações entre o NAM do monômero de mureína e a NAG do polímero de peptidoglicano em crescimento; essa ligação é a β1,4 e é catalisada por transglicosilases 4. Após a ligação de NAM com NAG esses monômeros se ligam entre si formando o polímero de mureína, sendo que nas Gram-positivas temos ligações cruzadas com pontes de glicina e na Gram- negativa também temos ligações cruzadas mas sem o uso de um polipeptídeo ligador; são as transpeptidases que realizam essas ligações INIBIDORES DA SÍNTESE DA PAREDE BACTERIANA • Geralmente são bactericidas -> por perderem a parede bacteriana eles também perdem resistência osmótica, então ocorre lise celular • Classes: - Antimicrobianos beta-lactâmicos Fazem parte: Penicilinas naturais: Penicilina V (Pen-ve oral ®) e Penicilina G (Benzetacil ®) Obs: não suportam pH gástrico, então a penicilina administrada via oral possui película protetora (por isso não pode amassar ou quebrar o comprimido, pois sua ação não acontecerá) Penicilina semi-sintética: Ampicilina (Binotal ®), Ampicilina/sulbacton (Unasyn ®), Pipertacilina/ tazobactan (Timentin ®), Oxacilina (Staficilin ®), Amoxicilina (Amoxil ®), Amoxicilina/ clavulanato (Clavulin ®), Caroxibenzilpenicilina (Carbenicilina ®), Ticarcilina/clavulanato (Timentin ®) Obs: nesse caso não é necessário uma cápsula protetora pois a penicilina é alterada quimicamente para aguentar o pH gástrico -> se tornam resistentes as beta-lactamases (enzimas que clivavam os anéis beta-lactâmicos) Cefalosporinas Cefalosporinas de 1ª geração: Cefalexina (Keflex ®), Cefalotina (Keflin ®), Cefazolina (Kefazol ®), Cefadroxila (Cefamox ®) Cefalosporinas de 2ª geração: Cefaclor (Ceclor ®), Cefuroxima (Zinnat ®), Cefoxitina (Mefoxin ®), Cefprozil (Cefzil ®) Cefalosporinas de 3ª geração: Ceftriaxona (Rocefin ®), Cefotaxima (Claforan ®), Ceftazidima (Fortaz ®), Cefoperazona (Cefopemax ®) Cefalosporinas de 4ª geração: Cefepime (Maxcef ®) Carbapenêmicos: Imipenem + Cilastatina (Tienam®) = é associada a imipenem pois a cilastina inibe a metabolização periférica do imipenem, Meropenem (Meronem®), Ertapenem (Invanz®) Monobactêmicos: Aztreonam (Azactan ®) -> possui pequeno espectro = só age em bactérias gram- negativas Mecanismo de ação dos beta-lactâmicos: Inibem competitivamente a transpeptidase (também chamada de proteína ligante de penicilina - PBP), a qual realiza as ligações cruzadas nos monômeros de mureína, formando a camada de peptideoglicano. Assim, ligam-se competitivamente ao sítio ativo da PBP, fazendo com que sua síntese fique deficiente, ocorrendo prejuízo da resistência osmótica da célula e causando lise da bactéria Michelle Stapf - TXXII - Glicopeptídeos: Fármacos: Vancomicina (Tienam ®) e Teicoplanina (Teiplan ®) Não tem atividade em bactérias gram-negativas Mecanismo de ação: interagem com o resíduo D-alanil-d-alanina e impedem que a transglicosilase realize a ligação β1,4 entre o NAG e NAM, desestabilizando a formação da parede e causando a lise osmótica da bactéria - Fosfomicinas Mecanismo de ação: inibe a enzima enol piruvato transferase (MurA), a qual participa da síntese do monômero de mureína; assim, não temos o término da formação do monômero, e consequentemente um prejuízo na parede bacteriana, resultando em lise osmótica - Ciclosserina Mecanismo de ação: inibição da alanina racemase (transforma de L-alanina em D-alanina) e da D- Ala-D-Ala sintetase (junta as D-alanina formando o dímero D-alanil-alanina), dessa maneira, também prejudica a síntese de monômero de mureína resultando em prejuízo da parede bacteriana - Bacitracina Mecanismo de ação: inibe a desfosforilação do bactoprenol (transportador do monômero de mureína para o espaço periplasmático) através da formação de um complexo com o pirofosfato de bactoprenol; dessa maneira impede a translocação do peptideoglicano, e consequentemente formação da parede bacteriana = lise osmótica Michelle Stapf - TXXII INIBIDOR DE SÍNTESE PROTEICA • Inibidores das topoisomerases - Quinolonas São quimioterápicos, ou seja, são sintetizados em laboratório Possuem atividade bactericida São divididos em gerações: Quinolônico de 1ª geração: Ácido nalidíxico (Wintomylon ®) Quinolônicos de 2ª geração (fluoroquinolônicos): Ciprofloxacino (Cipro ®), Norfloxacino (Floxacin ®) e Ofloxacina (Oflax ®) Quinolônicos de 3ª geração: Gatifloxacino (Zymar ®), Levofloxacino (Levaquin ®) e Movifloxacino (Avalox®) Quinolônicos de 4ª geração: Trovafloxacina (Trovan ®) = mais lentamente metabolizado por conter mais flúor Mecanismo de ação: inibem a ação das duas topoisomerases do tipo II, a topoisomerase IV e a DNA girase, com isso a replicação para, e consequentemente a bactéria morre • Inibidores de transcrição - Fármacos: Rifampicina (Rifaldin ®) e Rifabutina (Micobutin ®) - Atividade bactericida - Mecanismo de ação: inibem a RNA polimerase DNA-dependente bacteriana, inibindo a síntese de mRNA bacteriano, e consequentemente não tem síntese de proteína, o que leva a morte da bactéria • Inibidores da tradução - É possível pois o ribossomo bacteriano possui estrutura distinta da do ser humano; além do RNA bacteriano ser estruturalmente diferente da do ser humano - Classes: Interação com a subunidade ribossômica 30S Aminoglicosídeos Fármacos: Neomicina, Netilmicina, Tobramicina, Estreptomicina, Amicacina, Canamicina Atividade bactericida Mecanismo de ação: se ligam a subunidade ribossomal 30S e distorcem sua estrutura, assim interferem na iniciação da síntese proteica; também causam leitura incorreta do RNAm, causando mutação ou término prematuro da cadeia; ocorrendo prejuízo na síntese proteica temos morte da bactéria Tetraciclinas Farmacos: Tetraciclina (Tetrex ®), Clortetraciclina (Aureamicina ®),Oxitetramicina (Terramicina ®), Doxiciclina (Terramicina ®) Atividade bacteriostática, pois a ligação não é tão intensa, ou seja, é reversível Mecanismo de ação: interage com subunidade 30S do ribossomo impedindo que o aminoacil- RNAt se ligue com o sítio A do ribossomo bacteriano, dessa maneira impede a adição de novos aminoácidos ao peptídeo Interação com a subunidade ribossômica 50S Macrolídeos Atividade bacteristóstatica Fármacos: Eritromicina (Eritrex ®), Claritromicina (Klaricid ®) e Azitromicina (Azimix ®) Mecanismo de ação: se ligam a subunidade 50S e impedem a translocação do peptidil t-RNA do sítio A para o sítio P Lincosamidas: Fármaco: Clindamicina (Dalacin ®) Atividade bacteristóstatica Mecanismo de ação: se ligam a subunidade 50S inibindo a translocação do peptidil t-RNA do sítio A para o P ‣ Diferenciam-se dos macrolídeos pela forma química Michelle Stapf - TXXII Cloranfenicol: Fármaco: Cloranfenicol (Quemicetina ®) Atividade bacteristóstatica Mecanismo de ação: inibe a enzima peptidiltransferase (ela realiza a ligação do aminoácido presente no sítio A com o do sítio P) e em níveis elevados também inibe a síntese de proteínas mitocondriais Linezolida (oxazolidinonas): Fármaco: Linezolida (Zyvox ®) Só age em gram-positiva Atividade bacteristóstatica Mecanismo de ação: impede que a 50S se ligue ao 30S e forme o complexo 70S de início de tradução Estreptograminas: Fármaco: Dalfopristina + quinupristina (Sinercid ®) Atividade bacteristóstatica Mecanismo de ação: inibem a síntese proteica por sua ligação ao centro peptidiltransferase do rRNA 23S bacteriano INIBIDORES DA SÍNTESE DE ÁCIDO FÓLICO • Atividade bacteriostática • Dois fármacos que são utilizados juntos: Sulfametoxazol e Trimetoprima • Mecanismo de ação do Sulfametoxazol: 1. Inibe de forma competitiva a diidropteroato sintetase, pois essa enzima utiliza o PABA como substrato metabólico, e o sulfametoxazol “imita” o PABA para poder se ligar a diidropteroato sintetase e não deixar ela poder ser ativa 2. Com a inibição da diidropteroato sintetase temos também a inibição da diidropteroato redutase (essa enzima utiliza o produto gerado pela ação da diidropteroato sintetase sobre o PABA, entretanto como ela será inibida não terá substrato metabólico para ativar a diidropteroato redutase) 3. A diidropteroato redutase gera tetraidrofolato, e a partir dele temos a síntese de purina e pirimidina (nucleotídeos), assim, sem a ativação dessas enzimas não temos síntese de nucleotídeos • Mecanismo de ação da Trimetoprima: 1. Inibe a diidropteroato redutase pois ao se ligar a ela modifica sua estrutura conformacional, impedindo sua atuação 2. Como consequência dessa inibição também teremos inibição da diidropteroato redutase = sem síntese de nucleotídeos DESESTABILIZADORES DE MEMBRANA PLASMÁTICA • Polimixina B (Polixil ®) - O anel do peptideo policatiônico se liga a membrana externa das bactérias gram-negativas deslocando as pontes de cálcio e magnésio, que estabilizam o LPS, promovendo a ruptura da membrana e morte bacteriana • Daptomicina (Cubicin ®) - Integração e oligomerização de daptomicina, dependente de cálcio, nas membranas das bactérias gram- positivas, resultando na formação de poros, o que perturba a integridade funcional, despolariza a membrana, e desencadeia o vazamento de íons K+ levando a morte celular
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