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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ UNIVERSIDADE DE FORTALEZA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS CURSO DE PSICOLOGIA Disciplina: Teorias Psicológicas V: Psicanálise. Professor(a): Sabrina Serra Matos. Alunos(as): Flora Dimitria Melo Oliveira - 2114474, Maryane Ellen Medeiros - 2114535 e Victória Diniz dos Santos - 2118201. Lacan: o retorno a Freud Também conhecido como o grande freudiano, Jacques Lacan dedicou anos de sua vida a seminários, onde visou um retorno aos textos do mestre vienense. Em uma primeira etapa de tais seminários, nota-se a leitura dos textos freudianos sendo atrelados a conceitos de sua época, como a antropologia e a linguística, buscando elaborar novos conhecimentos a partir de uma análise profunda dos textos de Freud (FERREIRA, 2005). Em um segundo desdobramento, Lacan traz uma associação com a matemática e a lógica, buscando atrelar o conceito de real e suas articulações com o simbólico (FERREIRA, 2005). Inicialmente devemos entender que Lacan está inserido na psicanálise como fiel às ideias de Freud. Como podemos definir o denominado retorno à Freud na perspectiva Lacaniana? Em seus diversos seminários, Lacan expõe seu pensamento sobre a teoria e a prática fundadas por Freud terem sido distorcidas pelos seus seguidores. De acordo com Ferreira (2005), Lacan, em um de seus seminários, introduz os quatro conceitos freudianos fundamentais: inconsciente, repetição, transferência e pulsão. No que diz respeito ao primeiro dos conceitos listados, o inconsciente, foi visto como uma conceituação esquecida pelos pós-freudianos. Para Lacan, o inconsciente é composto como linguagem. Segundo Coimbra (2007), o uso da linguagem, na fala e escrita sobre inconsciente, desejo, gozo e tantos outros tópicos, é o responsável pela disseminação de suas ideias que serão lidas e ouvidas, independente de quem irá consumir esse conteúdo. Dessa forma, ao serem lidas e ouvidas, poderão ser decifradas e compreendidas. Com relação ao conceito de repetição, Lacan a diferencia em dois tipos: a que diz respeito ao encontro com o real, denominado de Tiquê, e ao encontro com o simbólico, como uma rede de significantes, denominado de Autômaton. Neste olhar, como afirma Gusmão (2017), o real ganha grande destaque nas considerações lacanianas acerca da repetição, não como sendo o que retorna, mas como o que se repete como falta. Desta forma, essas definições podem ser vistas, como ilustrado pelo jogo do Fort-da, descrito por Freud, no jogo da presença e da ausência do objeto. Para Freud, a repetição traz características do que foi recalcado pelo complexo de Édipo, remetendo-se ao conceito de Autômaton apresentado por Lacan. Para ele, a compulsão a repetição exige ao sujeito o retorno da satisfação perdida e tem como componente motor a rede de significantes descrita no Autômaton. Sobre a transferência, que Freud afirma ser necessária no tratamento analítico, Lacan apresenta o conceito de "sujeito suposto saber", dizendo que “se há sujeito-suposto-saber há transferência” (FERREIRA, 2005, p. 27 e 28). Essa troca, como podemos definir a transferência, ocorre numa busca de dar fim ao que prejudica o narcisismo. Ser amado representa, deste modo, uma tentativa de mediação entre o narcisismo e a castração. Lacan, ao definir a transferência como um fechamento do inconsciente, encontra a conceituação freudiana do amor como uma tentativa de recobrir a falta constitutiva, atribuindo o amor de transferência como fundamento da própria transferência (PISETTA, 2011). Por fim, temos Lacan como responsável pela retomada do último conceito em questão, o da pulsão. Para Freud, as pulsões são categorizadas em pulsão de vida e pulsão de morte. Já para Lacan, há uma distinção com relação a esse dualismo, visto que para ele se há uma pulsão que é de vida e de morte. Nos ditos freudianos, a pulsão manifesta a sexualidade humana, como sendo a fronteira entre o que é físico e psíquico. Essa ideia é reforçada por Lacan, que diz haver, de um lado a rede significante - como recalcado primordial - e do outro, o desejo. Entre ambos, há a pulsão sexual (DO CARMO MURTA, 2021). Para além do retorno aos quatro conceitos fundamentais de Freud, de acordo com Ferreira (2005) Lacan traz consigo a volta da percepção psicanalítica sobre a produção de um saber na criação literária, tomando a proposta freudiana ao pé da letra, e afirma que os poetas sempre dizem as coisas na frente dos outros, tal qual Freud um dia nos disse: “Aonde quer que eu vá, descubro que um poeta esteve lá antes de mim.” Para Lacan a relação da poesia e da psicanálise é clara, pois esta estabelece uma nova relação simbólica com o mundo. Conforme apontado por Ferreira (2005), Lacan reconstrói, então, a reinclusão dos psicanalistas no mundo do saber, mundo este que os mesmos haviam se afastado, tendo em vista a redução da psicanálise por parte dos autores pós-freudianos a uma técnica de adaptação ligada à medicina. Lacan, sendo reconhecido hoje como o grande freudiano, se assemelha ao seu mestre no desejo incessante de saber sobre as questões cruciais do homem. No tocante à contribuição de Lacan para a psicanálise que se seguiu, a partir dos estudos de Freud, podemos mencionar a junção dos conceitos com assuntos que Freud não tivera acesso, como a linguística e a antropologia estrutural. Além disso, sua paixão pela filosofia e seu interesse pela matemática e pela lógica o levam a produzir constantemente uma articulação desses campos do saber com a psicanálise. Seguindo os passos de Freud, Lacan também almeja conquistar o status de ciência para a psicanálise. (FERREIRA, 2005, p. 12) Lacan se preocupou, também, em trazer à tona a singularidade do processo analítico de cada caso analisado. Ao redigir sua tese psiquiátrica, utilizou-se de uma metodologia psicanalítica. Pois, ao invés de abordar a psicose paranóica através do exame de diversos casos clínicos, opta por investigar e explorar um único caso, em sua máxima complexidade, tal como Freud, em 1911, quando escreve o Caso Schreber. (FERREIRA, 2005, p. 23) Dessa maneira, Lacan reafirma o método de Freud, que certa vez disse: “Preocupo-me com o fato isolado e espero que dele jorre, por si mesmo, o universal.” valorizando este pensamento e afirmando que a ciência só se transmite ao articular oportunamente o particular. Em conformidade com Ferreira (2005), Lacan passou seus dez primeiros anos de seminário realizando um trabalho de releitura dos textos de Freud, dessa maneira podemos afirmar com notoriedade que mesmo com seus acréscimos singulares para a psicanálise, como a ênfase na linguagem e na matemática junto aos conceitos psicanalíticos, para que esta seguisse o caminho da ciência, Lacan nos trouxe de volta para Freud, para que pudéssemos decifrá-lo e segui-lo no caminho de se tornar um psicanalista. Referências Bibliográficas COIMBRA, Maria Lúcia Salvo de. O retorno a Freud de Lacan. Reverso, v. 29, n. 54, p. 29-36, 2007. GUSMÃO, Ricardo Otávio Maia. A repetição em Freud e Lacan: vicissitudes na clínica da neurose e psicose. Revista Eletrônica Acervo Saúde/Electronic Journal Collection Health ISSN, v. 2178, p. 2091. DO CARMO MURTA, Claudia Pereira; JUNIOR, Jacir Silvio Sanson. IMPLICAÇÕES DO “RETORNO A FREUD” PROPOSTO POR JACQUES LACAN, A PARTIR DE UMA ANÁLISE DO CONCEITO DE PULSÃO. Eleuthería-Revista Do Curso De Filosofia Da UFMS, v. 6, n. Especial, p. 108-130, 2021. PISETTA, Maria. O SUJEITO SUPOSTO SABER E TRANSFERÊNCIA. Revista Digital AdVerbum, v. 6, p. 64-73, Jan a Jul de 2011. FERREIRA, Nadiá Paulo. Lacan, o grande freudiano. Rio de Janeiro: Zahar, 2005. 87 p.
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