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Salvador 2021.2 Rafael Câmara NOVAS PRÁTICAS ARQUITETÔNICAS Arquitetura Líquida UNIVERSIDADE SALVADOR – UNIFACS FACULDADE DE ARQUITETURA Aula 9 2 Arquitetura Contemporânea I desgaste do pós-moderno historicista; esvaziamento da “revelação” desconstrucionista; relegitimação do Movimento Moderno no começo do século XXI. Reação às vertentes pós-moderna e desconstrutivista que sempre expressam uma mensagem literal ou metafórica. O objeto é suficiente em si, um meio. neutralidade: é mais evidente na sua relação com o contexto. O entorno não constitui legitimação nem inspiração, estas são derivadas do que se passa no interior, no programa. Além disso, muitas obras de escritórios globais que não tem laços com nenhuma nação. Pós-moderno: se expressa pela linguagem do edifício, segue convenções de tipologia, é simbólico Desconstrutivista: se expressa por metáforas, conceitos que tem uma mensagem abstrata e não literal X NEUTRALIDADE CRÍTICA ÀS NOVAS LINGUAGENS •Neutralidade: caixa neutra, fachadas lisas, translucidas, evocam a superficialidade, o edifício ou objeto não tem conteúdo ou substância. Prioriza a experiência direta, sensorial. •Compacidade: arquitetura da superfície, mais variadas nuances de materialidade, peles que envolvem volumes. Esculturas monolíticas que estabelecem relação de contraste da massa com contexto. •A percepção da obra através do jogo de reflexos e transparências, suprime qualquer identidade formal ao volume. •Uma fuga à banalidade, à variedade que se torna quase normal. NEUTRALIDADE E COMPACIDADE CARACTERÍSTICAS •Nova revolução industrial associada à tecnologia da informação e comunicação • Interatividade: uma arquitetura aberta que expande seu espaço interno para o exterior e vice- versa. Essa aproximação faz do visitante parte do edifício, interferindo na percepção da fachada, assim como a paisagem sempre presente no seu interior. • Interface: expressa pelos panos de vidro que desfazem o limite entre edifício e contexto e modificam a percepção de ambos nas suas diversas situações. O vidro deixa de ser o limite que define estar dentro ou fora e se torna o elemento de conexão. •Fluidez, ausência de limites, somente o valor da ação tem valor. •Um mundo sem forma, já que a forma sugere algo congelado, estático, permanente que limita a ação e a interação com o meio e as ações CAMPO EXPANDIDO IDEIAS BIBLIOTECA NACIONAL DA FRANÇA DOMINIQUE PERRAUT, 1995 COMPLEXO ESPORTIVO MONTIGALÀ DOMINIQUE PERRAUT, 2011 ESTÚDIO ÁBALOS E HERREROS, 2002 CASA EM LAS ROZAS ÁBALOS E HERREROS, 2007 REFÚGIO NO CAMPO ÁBALOS E HERREROS, 2007 ADEGA DOMINUS HERZOG & DE MERON, 1997 RUA DOS SUIÇOS HERZOG & DE MERON, 2000 FUNDAÇÃO CARTIER JEAN NOUVEL, 1994 GALERIAS LAFAYETTE JEAN NOUVEL, 1994 TOPOGRAFIA DO TERROR PETER ZUMTHOR, 2010 KUNSTHAUS BREGENZ PETER ZUMTHOR, 1991 GALERIA ADRIANA VAREJÃO TACOA ARQUITETOS, 2004 CASA NO MORUMBI BRASIL ARQUITETURA, 2005 CASA EM SANTA TERESA ANGELO BUCCI, 2004 CASA INGLATERRA ISAY WEINFELD, 2000 CASA BRASÍLIA ISAY WEINFELD, 2002 A cidade é tudo que fica do que costumava ser a cidade. Rem Koolhaas •Busca de um equilíbrio entre urbanização e respeito, internacionalização e manutenção da identidade. •A colisão e a sobreposição do novo com o velho, do artificial com o natural. • É mais uma questão de absorção de princípios que estavam por trás de soluções anteriores e de sua transformação de modo a atender a diferentes condições ou se adequar a novas intenções. •Obsessão com colagens, fragmentos em vez da totalidade urbana, refletia a louvável intenção de reconhecer lugares únicos, mas também denunciava uma perda de capacidade de projetar qualquer tipo de imagem alternativa para o futuro. INTERVENÇÕES PROJETOS MUSEU KOLUMBA PETER ZUMTHOR, 2012 cuidado com o uso dos materiais, e detalhes construtivos. utiliza tijolo cinza para unir os fragmentos destruídos do lugar. Estes fragmentos incluem as peças remanescentes da igreja gótica, ruínas de pedras dos períodos romano e medieval, e a capela para “Madonna of the Ruins” projetada pelo arquiteto alemão Gottfried Böhm em 1950. PINACOTECA DE SÃO PAULO PAULO MENDES DA ROCHA, 1998 Antigo edifício do Liceu de Artes e Ofícios, projetado no final do século XIX pelo escritório do arquiteto Ramos de Azevedo, que sofreu uma ampla reforma com projeto do arquiteto Paulo Mendes da Rocha. O projeto faz parte da revitalização da região da Luz que engloba também a restauração da Estação da Luz, o Museu da Língua. PRAÇA DAS ARTES BRASIL ARQUITETURA, 2012 MEDIATECA DE SENDAI TOYO ITO, 2001 CENTRO DE PESQUISAS ROLEX SANAA, 2010 NEW ART MUSEUM SANAA, 2007 •O novo paradigma da sustentabilidade: econômica, ecológica, social e cultural •Aquecimento global e eficiência energética •Arquitetura verde •Estudo da forma em relação aos condicionantes naturais •Utilização de materiais sustentáveis •Utilização de materiais reciclados •Estruturas efêmeras •Reciclagem de edifícios ou retrofit SUSTENTABILIDADE ABORDAGENS Ken Yeang Shigeru Ban Bernardes e Jacobsen 42 Zygmunt Bauman e a modernidade líquida. Ii - Nasceu no dia 19 de novembro de 1925 - Iniciou a trajetória acadêmica na Universidade de Varsóvia - Ganhou renome internacional principalmente após o ano de 1990 - Morreu em 09/01/2017 aos 91 anos em Leeds - No Brasil, há pelo menos 16 de seus livros traduzidos - Entre eles os principais são: “Globalização: as Consequências Humanas” (1998), “Amor Líquido” (2003), “Vida Líquida” (2005), “Tempos Líquidos” (2007) e “A Riqueza de Poucos Beneficia Todos Nós” (2015) - Modernidade líquida - Buscam meios para a compreensão da complexidade humana Zygmunt Bauman • Liquidez é a metáfora que Bauman utiliza para explicar o sentido da pós-modernidade. A crise das ideologias fortes, “pesadas”, “sólidas”, típicas da modernidade produziu, do ponto de vista cultural, um clima fluido, líquido, leve, caracterizado pela precariedade, incerteza, rapidez de movimento. • Os líquidos, diferentemente dos sólidos, não mantêm sua forma com facilidade [...] Enquanto os sólidos têm dimensões especiais claras, mas neutralizam o impacto e, portanto, diminuem a significação do tempo (resistem efetivamente a seu fluxo ou tornam irrelevante), os fluidos não se atêm muito a qualquer forma e estão constantemente prontos (e propensos) a mudá-la. • Neste mundo líquido, assistimos a algumas passagens importantes, que marcam o novo clima cultural. A primeira passagem é de uma vida segura para uma vida precária. "A vida líquida é uma vida precária, vivida em condições de incerteza constante.” (bauman, 2005b, p.8). Modernidade líquida de Bauman •Precário é o homem, que se sente inseguro não apenas para o trabalho – que não é mais fixo –, mas também pelo medo das pessoas novas que estão enchendo as cidades ocidentais, pela ameaça do terrorismo, pelo medo de não conseguir acompanhar as novidades tecnológicas. •Outra passagem que marca a modernidade líquida é a seguinte: de uma sociedade que acredita na eternidade para uma que vive a infinitude. A eternidade é, sem dúvida, um conceito de cunho religioso que, do ponto de vista filosófico, pode ser colocado entre as ideologias que a modernidade assumiu e que, ao mesmo tempo, orientou a vida dos homens modernos. A infinitude é o tempo presente protelado, esticado. “O dia de hoje pode-se esticar para além de qualquer limite e acomodar tudo aquilo que um dia se almejou vivenciar apenas na plenitude do tempo.” (bauman, 2005b, p.15). Modernidade líquida de Bauman ⚫Desmoronamento da antiga ilusão moderna, ou seja: Da crença de que há um fim do caminho em que andamos, um télos alcançável da mudança histórica, um Estado de perfeição a ser atingido amanhã, no próximo ano ou no próximo milênio, algum tipo de sociedade boa. ⚫Desregulamentação e a privatização das tarefas e deveres modernizantes. Na modernidadelíquida, não existem mais valores sociais, mas individuais. ⚫De agora em diante, vale somente aquilo que interessa para o indivíduo. Ninguém quer gastar mais o seu tempo para que os valores sociais sejam alcançados e realizados: vale somente o interesse individual. É esta a lógica do mercado que afeta a vida política e as atitudes da vida corriqueira. (bauman, 2005a, p.47). Características fazem da modernidade líquida •Nesta sociedade líquida, transformada pelo mercado, que rendeu qualquer coisa do valor da mercadoria de consumo, também os valores mais importantes da vida passam pelo mesmo processo de materialização. Assim, o amor, nesta cultura consumista, é tratado à semelhança de outras mercadorias. • “O amor é uma hipoteca baseada num futuro incerto e inescrutável” (bauman, 2003, p.23). Relação de bolso Ensaio Amores Líquidos - Meysa Medeiros • “Primeira condição: deve se entrar no relacionamento plenamente consciente e totalmente sóbrio. Lembre-se: nada de amor à primeira vista aqui” (bauman, 2003 p.37). •A segunda condição para que um “relacionamento de bolso” possa funcionar é manter o relacionamento do jeito que é. “Lembre-se de que não é preciso muito tempo para que a convivência se converta no seu oposto [...] Não deixe que o relacionamento caia do bolso, que é seu lugar”. (bauman, 2003, p.43). •“Nesse nosso mundo fluido, comprometer-se com uma única identidade para toda a vida, ou até menos do que a vida toda, mas por um longo tempo a gente, é um negócio arriscado. As identidades são para usar e exibir, para armazenar e manter” (BAUMAN, 2005c, p.96) •Se o problema, neste mundo fluido das rápidas mudanças, é sobreviver, então ninguém pode se permitir o luxo de ficar fixo a vida toda no mesmo esquema de valores. •O problema da identidade não é apenas algo que tem que ver com a esfera subjetiva da pessoa, mas é extremamente ligado ao contexto social no qual a pessoa é inserida. Foi na época moderna que nasceu a ideia de identidade nacional, ligada ao estado, ideia que Bauman critica bastante por considerá-la fruto da ideologia, algo imposto e não natural, ou seja, “não foi um ato de vida auto evidente. •O drama de tudo isso é que, na maioria dos casos, não percebemos que estamos substituindo os poucos relacionamentos profundos por uma profusão de contatos pouco consistentes e superficiais. Que tipo de identidade vivem as pessoas no mundo líquido? •Para Bauman, a sociedade contemporânea ocidental nos apresenta grandes dilemas existenciais. Diariamente desmoronam verdades e certezas que davam sustentação à visão de mundo vigente durante a modernidade, demolindo-se assim vários dos paradigmas que configuravam a civilização ocidental moderna. •Vivenciamos na sociedade pós-moderna a sensação de cansaço, de exaustão, um sentimento de falta de sentido e finalidade da existência. Essas sensações apenas ampliam o caráter ambivalente do mundo contemporâneo, fazendo com que ele nos pareça cada vez mais desordenado, dificultando nossa compreensão e nosso posicionamento em relação a ele, ampliando assim nosso sentimento de insegurança. Essa era de instabilidade e flexibilidade, de excessos e mudanças, de quebras de convenções e paradigmas é o que Bauman denomina de modernidade líquida. •Segundo Bauman, passamos hoje por um processo de descorporificação e desterritorialização. Atualmente, reconstrói-se um mundo onde a informação, cada vez mais imprescindível à vida na sociedade, viaja instantaneamente por todo o planeta. A pulverização das distâncias físicas, decorrente dessa ampla possibilidade de comunicação a distância, e também do desenvolvimento dos meios de transporte, tem alterado a percepção do tempo e as necessidades espaciais do homem contemporâneo, ampliando radicalmente a flexibilidade nas relações sociais e de trabalho. • O tempo adquire instantaneidade e urgência, e os espaços de trabalho e de relações pessoais perderam o imperativo da proximidade física, multiplicando-se e interagindo-se em distintos lugares físicos. O processo de “virtualização” da vida cotidiana tem demandado uma contínua revolução nos ambientes de trabalho, de moradia e de convívio social, contribuindo para a emergência de uma espacialização leve e fluida. •Mobilidade e leveza são características intrínsecas aos habitantes do mundo pós-moderno, tornando-os “viajantes na velocidade dos cruzamentos virtuais e urbanos”, caracterizando a tendência da vida fluxo. 51 Arquitetura líquida. Ii •No campo da arquitetura, alguns arquitetos contemporâneos vêm trabalhando com o conceito de arquitetura líquida. Marcos Novak desenvolve, nesse sentido, formas e espaços líquidos virtuais, enquanto o grupo NOX investe na busca de uma arquitetura líquida fisicamente edificável, explorando a interatividade dos usuários com a obra. Já Solà-Morales centra-se nas contingências da arquitetura para abrigar uma vida líquida; mais que a forma em si, lhe preocupa a questão do tempo e a apropriação humana dos espaços. 52 Arquitetura líquida •Para a arquitetura, além da questão estética, a liquidez sugere uma incidência na arquitetura de maneira ainda mais significativa em outras questões, como a capacidade de se adaptar às contingências, o dinamismo no uso do espaço e do tempo, a flexibilidade para abarcar funções ou programas, a transformabilidade de espaços e de materiais, a sustentabilidade. •A modernidade líquida de Bauman, tal como exposta, tem uma significativa repercussão na questão espacial. Isso nos leva a pensar nas conotações que podem ter o conceito de liquidez no campo da arquitetura; ou, o que seria uma arquitetura líquida. 53 Arquitetura líquida • foi um dos pioneiros na exploração da tecnologia digital na geração de formas arquitetônicas virtuais. Novak se descreve como um “transarquiteto”, termo criado por ele para designar alguém que desenha espaços e os objetos que o preenchem, diretamente em realidade virtual. Ele defende que esse espaço virtual deve ser envolvente e interativo. 54 Marcos Novak •Utilizando a capacidade da computação, ele busca superar as limitações impostas pelas leis da física e pela geometria euclidiana, a fim de criar uma infinidade de formas virtuais. Novak vale-se do termo arquitetura líquida para designar as formas e espaços fluidos e dinâmicos, gerados em ambientes digitais. Essa definição de forma líquida é a que mais se difundiu na arte eletrônica, no design e na arquitetura. • Ele busca assim a manipulação de novas formas, digitalmente “ampliadas”, sua fluidez dinâmica, e a geração de espaços virtuais compartilháveis com o que chama, não de habitantes, mas de “usuários” desses espaços. Em seu trabalho Dancing with the virtual Dervish: worlds in progress, de 1993, ele trabalha com a telepresença simultânea de pessoas que interagem no mesmo espaço virtual, ainda que geograficamente distantes umas das outras 55 Marcos Novak •Em seu trabalho Dancing with the virtual Dervish: worlds in progress, de 1993, ele trabalha com a telepresença simultânea de pessoas que interagem no mesmo espaço virtual, ainda que geograficamente distantes umas das outras. •A arquitetura líquida de Novak se concentra − e se limita − à exploração das formas e espaços virtuais, com total independência em relação à realidade física, livre das leis da gravidade. É uma arquitetura radicalmente virtual, sem compromisso com a completude da arquitetura real, em sua concretude e complexidade social. Trata-se da forma autônoma, alheia às limitações físicas referentes à exequibilidade, assim como às demais condicionantes projetuais incidentes na arquitetura. A radical virtualidade da arquitetura líquida de Novak é, ao mesmo tempo, sua força e sua debilidade. 56 Marcos Novak • fundado pelo arquiteto holandês Lars Spuybroek, assumidamente influenciado pelas teorias de Novak, investiu na busca da obtenção de uma arquitetura líquida fisicamente edificável. Lidando também com formase espaços fluidos, o trabalho do grupo explora especialmente a interatividade dos usuários com a obra, tendo projetado algumas das obras mais relevantes nesse sentido, como o Pavilhão de Água Doce na H2O-Expo e a D-Tower. 57 Lars Spuybroek (NOX) •Na D-Tower, as cores e a iluminação são alteradas a partir de ações pessoais, determinando respostas arquitetônicas momentâneas e passageiras. •No caso do H2O-Expo, a interatividade do usuário potencializa de maneira especial o caráter de liquidez da arquitetura, explorado na forma e materialidade do espaço e no movimento do usuário. 58 Nox D-Tower H2O-Expo H2O-Expo •Nessa obra, o espaço interno é conformado por superfícies com diferentes níveis de piso, parede e teto, caracterizando um ambiente de difícil equilíbrio e exploração. •O visitante tem que se mover de maneira similar à passagem da água pelo espaço. •O mutante espaço interno gera uma inquietude visual e tátil, diluindo a noção de materialidade da obra. •A fluidez está presente em toda a experiência da visita: na conformação espacial, nos materiais, na ambiência, na interatividade e no movimento do usuário do espaço. •Os textos e experimentos dos integrantes do grupo nos levam a refletir sobre a utilização da metáfora da liquidez no espaço contemporâneo e sobre a interação das pessoas com ele. •A arquitetura líquida por eles proposta, além da geometria fluida, busca a mutabilidade, a flexibilidade, o transitório, por meio da interatividade. •A arquitetura deixa de ser pensada como possuidora de um espaço estático e mutável, para ser tratada como um campo de constantes transformações. 62 • Formou-se em matemática na Universidade Americana de Beirute. Após se formar, passou a estudar na Architectural Association de Londres. •Depois de se graduar em arquitetura, tornou-se membro do Office for Metropolitan Architecture (OMA), trabalhando com seu antigo professor, o arquiteto Rem Koolhaas. • Em 2004, se tornou a primeira mulher a receber o Prêmio Pritzker de Arquitetura, 63 Zaha Hadid https://pt.wikipedia.org/wiki/Office_for_Metropolitan_Architecture https://pt.wikipedia.org/wiki/Rem_Koolhaas https://pt.wikipedia.org/wiki/Pr%C3%AAmio_Pritzker Vitra Fire Station , Alemanha • Embora Zaha Hadid tenha começado sua notável carreira de arquitetura no final dos anos 1970, não seria até os anos 1990 que seu trabalho elevaria seus desenhos e pinturas para serem realizados na forma física. O Quartel de Bombeiros Vitra, foi um dos primeiros projetos de design de Hadid a serem construídos. •Os planos de concreto que se cruzam obliquamente no edifício, que servem para moldar e definir a rua que atravessa o complexo, representam a primeira tentativa de traduzir os fantásticos e poderosos desenhos conceituais de Hadid em um espaço arquitetônico funcional. 65 Vitra Fire Station •As intenções de projeto resultaram em uma estrutura longa e estreita que estendeu o programa ao longo da beira da rua. O próprio edifício é composto por uma série de paredes lineares de concreto e elementos de cobertura, com o programa encaixado nos espaços intersticiais entre eles. Vitra Fire Station •Os planos que formam as paredes e o telhado são feitos de concreto aparente moldado no local. •Hadid especificou que a pureza visual desses elementos deveria ser estritamente mantida; •Ao insistir na simplicidade estética, Hadid pretendia destacar a natureza altamente conceitual do design. O excesso de detalhes prejudicaria a abstração dos volumes de concreto 67 Vitra Fire Station •O resultado é um edifício altamente escultural e que se assemelha às pinturas pelas quais Zaha Hadid já era bem conhecida na época em que foi contratada. 68 Vitra Fire Station 69 Serpentine Sackler Gallery, Londres •Consiste de duas partes distintas, a reconversão de uma estrutura clássica de alvenaria do Século XIX - o Magazine – e uma estrutura tensionada contemporânea. •O Magazine foi construído para ser um paiol de pólvora em 1805. Combina dois espaços com cobertura em abóbada de berço a uma estrutura envoltória mais baixa e de planta quadrada dotada de uma colunata frontal. •A estrutura circundante foi desvelada e racionalizada para tornar-se um sequência contínua, aberta, de espaços de exposição ao redor dos dois paióis centrais 71 Serpentine Sackler Gallery •A expansão foi projetada para complementar o edifício clássico, calmo e sólido, com um espaço leve, transparente, dinâmico e claramente contemporâneo do século XXI. A síntese entre o antigo e o novo é, assim, uma síntese contrastes. A nova adição parece efêmera, como uma estrutura temporária. No entanto, é uma edificação permanente plenamente funcional. 72 Serpentine Sackler Gallery 73 74 Heydar Aliyev Center O projeto estabelece uma relação contínua e fluida entre a praça circundante e o interior do edifício. A praça, como superfície do solo; acessível a todos como parte do tecido urbano, surge para envolver um espaço interior igualmente público e definir uma sequência de espaços dedicados à celebração coletiva da cultura contemporânea e tradicional. Formações elaboradas como ondulações, bifurcações, dobras e inflexões modificam a superfície da praça em uma paisagem arquitetônica que desempenha uma infinidade de funções Heydar Aliyev Center 78 •Para Solà-Morales, na arquitetura líquida a construção não chega a desmaterializar-se, mas permanece com uma existência fenomenológica, ainda que procure, com diversas estratégias libertar-se de formas tradicionais de projeto, baseadas em estabilidade, permanência, significado e simbolismo. 79 Ignasi de Solà- Morales •Solà-Morales define que a arquitetura do final do século passado substitui a firmeza pela fluidez e o tempo sobrepuja o espaço. • Ele pondera que essa mudança não ocorreu tão simplesmente e necessitou de estágios intermediários no processo. •O Quadro sintetiza as principais condições assumidas pela arquitetura ao longo do tempo, classificadas pelo autor como sólida, viscosa e líquida. 80 Ignasi de Solà-Morales •Observa-se, então, que não se trata de uma arquitetura estável, mas de um espaço constantemente tencionado pela flexibilidade e pela estabilidade, rompendo com a tríade vitruviana. •A argumentação em torno da experiência está muito presente no texto de SolàMorales ao retomar o conceito de filósofo Henri Bergson, sendo possível extrair a ideia de que o acontecimento também faz parte da arquitetura: •Arquitetura líquida significa, sobretudo, um sistema de acontecimentos em que o espaço e o tempo estão simultaneamente presentes como categorias abertas, múltiplas, não redutivas, mas como composição de forças criativas, como arte (SOLÀ-MORALES, 2002, p.130). 81 Ignasi de Solà-Morales CASA AIGUABLAVA, BEGUR - 1989 •Solà-Morales é crítico com uma abordagem restrita ao aspecto formal da liquidez. Ele assim descreve as verdadeiras características que uma arquitetura líquida deve possuir para que seja plausível ao contexto social pós-moderno: •“Uma arquitetura líquida, fluida, não é voltada para a representação ou o espetáculo. Uma arquitetura que abarque fluxos humanos em conexões de tráfego, aeroportos, terminais, estações de trens não pode se preocupar com aparência ou imagem. Tornar-se fluxo significa manipular a contingência dos eventos, estabelecendo estratégias para a distribuição de indivíduos, bens ou informação. •Produzir formas para a experiência do fluido e torná-las disponíveis para análise, experimentação e projetos urbanos, ainda hoje são mais um desejo do que uma realidade alcançável. Dar forma à experiência sinestética do fluxo no movimento da metrópole, de modo a experimentar outros acontecimentos, outras performances, é um dos desafios fundamentais da arquitetura que visa o futuro.” (SOLÀ-MORALES, 1977, p.47-48) 82 •A respeito de como relacionar a arquitetura ao conceito de liquidez, vimos que, tanto em Novak quanto em Nox e Zaha, esse conceito se expressa na forma arquitetônica: a forma fluida, dinâmica, informe. Nesse sentido, essa arquitetura formalmente líquida se insere no contexto de toda uma produção arquitetônica surgida na década de 90, que explora formalmente os diversos conceitos procedentes da ciência da complexidade. •Essa é uma premissa válida e importante mas, sob vários aspectos, limitada. •Limitada pela evidente parcialidade na abordagem da arquitetura, muito ou quase exclusivamente centrada na sua aparência, facilmente banalizada com o passar do tempo. E limitada também porque se vê aplicada em umas poucas obras de muito alcance midiático, mas de pouco acesso à maior parte da população. Nesse sentido, a visão de Solà-Morales parece mais ampla e mais consistente. 83 •Leandro Karnal • Zygmunt Bauman: Mundo Líquido 84 https://www.youtube.com/watch?v=zKPvRuuLf1U&ab_channel=Territ%C3%B3rioConhecimento R EF ER ÊN C IA S •CURTIS, Willian J. R. Arquitetura Moderna desde 1900. Porto Alegre: Bookman, 2008. Capítulo 35 •FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 2003. capítulo 4, parte III •VIDLER, Antony. O Campo Ampliado da Arquitetura. In SYKES, Krista (org). O Campo Ampliado da Arquitetura. São Paulo: Cosac e Naify, 2013 •MONEO. Rafael. Paradigmas Del fin de Siglo – lós noventa, entre La fragmentación y La compacidad. In Arquitetura Viva, n. 66, mai-jun/1999. •MONTANER, Josep Maria. Sistemas Arquitetônicos Contemporâneos. Barcelona: Gustavo Gilli, 2009. •ZAERA-POLO, Alejandro. Un mundo lleno de agujeros. In El Croquis, n. 53, 1992. P. 308 – 323. 85
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