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DESCRIÇÃO Estudo das propriedades formais e funcionais dos gêneros textuais sob uma perspectiva de linguagem como ação e interação entre sujeitos. PROPÓSITO Compreender os gêneros textuais na sua relação com a linguagem como experiência de interação e a partir de suas diferentes propriedades para ampliar o domínio das competências leitora e escritora. PREPARAÇÃO Tenha em mãos um dicionário de Linguística para consultar os termos específicos da área. Na Internet você pode acessar o Dicionário de Termos Linguísticos, hospedado no Portal da Língua Portuguesa. OBJETIVOS MÓDULO 1 Comparar o uso da linguagem com o conceito de gênero textual MÓDULO 2 Identificar o tema e o estilo verbal como propriedades dos gêneros textuais MÓDULO 3 Identificar a construção composicional como propriedade dos gêneros textuais INTRODUÇÃO Você já pensou nas diversas situações em que usamos a língua para interagir com as pessoas, para desenvolver nossas atividades no trabalho ou para resolvermos problemas do nosso dia a dia? Em todas as situações de comunicação e interação por meio da língua, lidamos com textos que têm finalidades e características específicas. Estamos, na verdade, lidando com diversos gêneros textuais. Por isso, precisamos aprender mais sobre os gêneros textuais. Vamos, então, conhecer alguns conceitos importantes na relação entre linguagem e gênero para, depois, estudarmos as propriedades dos gêneros textuais. MÓDULO 1 Comparar o uso da linguagem com o conceito de gênero textual LINGUAGEM E GÊNERO TEXTUAL Vamos situar o conceito de gênero textual no interior dos estudos da linguagem, uma etapa necessária para estabelecer os princípios de base da comunicação humana, a qual se efetiva por meio de gêneros textuais, orais e escritos. Imagem: Shutterstock.com A linguagem humana não é somente um instrumento de comunicação, mas também uma forma de ação e interação entre sujeitos. Está necessariamente vinculada a um contexto comunicativo, que obedece a um conjunto de parâmetros, responsáveis por regular a comunicação. A linguagem humana possui diferentes modos de significação, competências e finalidades. Os gêneros textuais constituem uma unidade da comunicação, assegurando o reconhecimento e a conservação dos textos nos mais variados campos de atividade humana. ATENÇÃO No entanto, esses dispositivos comunicacionais — os gêneros textuais — não devem ser compreendidos como formas estáticas, pois estão sujeitos à variação em função do campo de atividade humana em que são produzidos, assim como do contexto comunicativo em que circulam. INTERAÇÃO PELA LINGUAGEM E GÊNEROS TEXTUAIS Como já pontuamos, a linguagem é uma forma de ação e interação entre sujeitos. Seja na modalidade oral, escrita ou sinalizada (línguas de sinais), os falantes se comunicam tendo em vista um sujeito receptor real — como em uma conversa entre amigos — ou fictício — como o leitor de um romance, projetado pelo autor. Desse modo, o uso que os falantes fazem da linguagem não acontece de forma desvinculada de um contexto, que é determinado pelos parâmetros da comunicação. Podemos listar como parâmetros da comunicação: As pessoas (falante/ouvinte); O espaço; O tempo; O suporte (impresso, eletrônico, audiovisual); O registro de linguagem (culto, padrão, coloquial, popular). Esses parâmetros são responsáveis por regular a comunicação entre o polo produtor e o polo receptor do texto. Desse modo, o falante adapta sua linguagem ao receptor (ouvinte, leitor) real ou potencial dos textos que produz. Disso se conclui que toda produção e recepção de linguagem encontra-se envolvida em um contexto comunicativo. Mas, contrariamente ao que se pode pensar, o falante não possui total liberdade para se comunicar. Ao se adaptar ao receptor, o falante obedece, de forma mais ou menos espontânea, a certos padrões de uso da linguagem, que adquirem forma e acabamento nos gêneros textuais. É possível que em determinado gênero textual alguém precise se ater mais rigorosamente à língua padrão e a formatos específicos na organização do texto, enquanto em outro gênero textual prevaleça a informalidade ou mesmo um tom jocoso ou bem-humorado dadas as exigências daquele gênero em função de seu contexto e finalidade (como fazer rir, por exemplo). Portanto, para se definir os gêneros textuais, é preciso conceber a linguagem humana como atividade entre sujeitos (uma interação), em suas diferentes dimensões e finalidades. O CARÁTER HETEROGÊNEO DA LINGUAGEM Uma dimensão importante da linguagem humana é seu caráter heterogêneo. Além de se realizar por meio de unidades verbais (palavras escritas ou faladas), a linguagem também possui modos de significação não verbais. que provoca o riso; engraçado, divertido, cômico. EXEMPLO Uma tela de pintura, apesar de prescindir de elementos verbais, comunica algum conteúdo, por meio de cores, formas, texturas. Uma das mais célebres pinturas da história da arte, a Monalisa, do pintor italiano Leonardo da Vinci (1452-1519), retrata uma aristocrata florentina do século XVI. O sucesso da obra deve-se, em boa parte, à técnica empregada pelo artista, conferindo à figura retratada um ar de mistério, manifestado, sobretudo, em seu olhar e seu sorriso. Imagem: Leonardo da Vinci /Wikimedia Commons/Domínio Público Monalisa, Museu do Louvre, entre 1503 e 1506. Assim sendo, a linguagem humana se realiza por meio de elementos verbais e não verbais, como gestos, expressões faciais, cores, formas, texturas. Com as novas tecnologias da informação e comunicação (TICs), a dimensão heterogênea da linguagem expande-se cada vez mais: sorrisos, abraços, entre outras reações típicas da comunicação “real”, em face a face, são significados por desenhos, os emojis, emoticons, stickers. COMPETÊNCIAS E FINALIDADES DA LINGUAGEM Outra dimensão da linguagem diz respeito às diferentes competências que envolvem sua produção e recepção. Dispensar Ao se comunicar, seja falando, seja escrevendo, seja sinalizando, o usuário da língua coloca em prática mais do que o conhecimento da gramática de uma língua. Com efeito, outras competências estão envolvidas no ato de comunicação e podem ser reunidas nos seguintes tipos de saberes: LINGUÍSTICO Conhecimento da gramática de uma língua. SOCIOLINGUÍSTICO Conhecimento das normas sociais que se refletem nos usos da língua. PRAGMÁTICO Saber ligado à intencionalidade do falante. TEXTUAL Saber relacionado às regras da textualidade, a exemplo da coesão e da coerência. GENÉRICO Saber relacionado às formas prototípicas dos textos, isto é, os aspectos que caracterizam a forma de determinado gênero textual. ENCICLOPÉDICO Conhecimento de mundo, adquirido por experiência ou por transmissão. IDEOLÓGICO Saber referente ao posicionamento histórico e social a partir do qual o falante se comunica. ENFIM, A LINGUAGEM HUMANA POSSUI DIFERENTES FINALIDADES OU FUNÇÕES. Imagem: Shutterstock.com Segundo Fiorin (2012), falamos ou escrevemos para: Estabelecer um contato com o receptor (função fática); Persuadir o receptor (função conativa); Informar algo (função referencial); Falar sobre a própria linguagem (função metalinguística); Provocar uma ação (função pragmática); Demonstrar sentimentos (função emotiva); Proporcionar o riso (função lúdica); Criar realidades (função poética); Estabelecer uma identidade social (função identitária). Tendo como princípio que a linguagem humana é uma atividade de ação e interação entre sujeitos, e que comporta diferentes dimensões e finalidades, podemos definir o caráter e os usos da linguagem, isto é, os gêneros textuais. GÊNEROS TEXTUAIS: DEFINIÇÃO O filósofo russo Mikhail Bakhtin (1895-1975) é considerado o autor do conceito de “ gêneros do discurso”. GÊNEROS DO DISCURSO Os termos gêneros do discurso e gêneros textuais são usados como equivalentes por diversos autores. javascript:void(0) levar (alguém ou a si mesmo) a acreditar, a aceitar ou a decidir (sobre algo); convencer(-se)evocar, sugerir, lembrar, significar, indicar, implicar, invocar, manifestar, expressar. Foto: Shutterstock.com Sua reflexão surgiu a partir da constatação de que outros campos do saber, a exemplo da Literatura e da Filosofia, elaboraram suas próprias tipologias de gêneros. Para Bakhtin (2016), no campo da Literatura, teríamos os gêneros literários (como o conto, o romance, a novela). No campo da Filosofia, teríamos os gêneros retóricos (gêneros da política, do judiciário, da praça pública). Conforme o filósofo russo, a linguística, ciência novata no início do século XX, pecava por não fornecer as bases de um estudo sistemático dos gêneros do discurso produzidos e circulados na sociedade, em diferentes campos de atividade humana. Surge, então, a definição clássica dos gêneros do discurso: TODOS OS DIVERSOS CAMPOS DA ATIVIDADE HUMANA ESTÃO LIGADOS AO USO DA LINGUAGEM [...]. O EMPREGO DA LÍNGUA EFETUA-SE EM FORMA DE ENUNCIADOS (ORAIS E ESCRITOS) CONCRETOS E ÚNICOS, PROFERIDOS PELOS INTEGRANTES DESSE OU DAQUELE CAMPO DA ATIVIDADE HUMANA [...]. EVIDENTEMENTE, CADA ENUNCIADO PARTICULAR É INDIVIDUAL, MAS CADA CAMPO DE UTILIZAÇÃO DA LÍNGUA ELABORA SEUS TIPOS RELATIVAMENTE ESTÁVEIS DE ENUNCIADOS, OS QUAIS DENOMINAMOS GÊNEROS DO DISCURSO. (BAKHTIN, 2016, p. 11) Essa definição inaugura uma concepção inovadora de linguagem, ao vincular as formas e usos da linguagem ao campo de atividade humana em que os textos são elaborados e postos em circulação. Para Bakhtin, a aparente desordem da linguagem adquire uma coerência, a partir do momento em que se correlacionam os textos aos lugares sociais em que eles são produzidos. Vejamos alguns exemplos que são considerados por Bakhtin como “enunciados” de gêneros do discurso, porque estão vinculados a determinado campo de atividade humana: PETIÇÃO JURÍDICA É um gênero típico do campo judiciário. E-MAIL INSTITUCIONAL Circula entre pessoas da mesma instituição (uma universidade, uma empresa, um ministério do governo). FICHAMENTO É um gênero característico do campo acadêmico. DITADO Assim como o fichamento, o ditado circula no campo escolar. DEBATE POLÍTICO Gênero proferido no campo da política. RECONHECIMENTO E CONSERVAÇÃO DOS GÊNEROS TEXTUAIS Os gêneros textuais possuem em comum certas particularidades, as quais predefinem sua estabilidade no meio em que circulam, assegurando seu reconhecimento pelo leitor/ouvinte e sua conservação na história. Um dos elementos que asseguram o reconhecimento e a conservação dos gêneros textuais é sua denominação. EXEMPLO Um poema, um soneto, um conto ou um romance não são simples “etiquetas”, mas um modo de conceber diferentes formas e funções assumidas pelos textos literários. Enquanto o poema e o soneto são escritos em versos, o conto e o romance são manifestações da prosa. E ainda, o soneto é um tipo particular de poema, composto por quatro estrofes, sendo dois quartetos (4 versos) e dois tercetos (3 versos). Já a diferença entre conto e romance está relacionada à presença de uma única intriga no conto e de várias no romance, dentre outras particularidades. A denominação também é um fator de reconhecimento e conservação dos gêneros textuais porque constitui uma forma de organizar o caos aparente da linguagem. Imagem: Shutterstock.com Em um site de notícias, a diversidade de textos publicados não impede que o leitor se situe e adote um certo comportamento, tendo em vista a denominação que cada texto recebe: notícia, reportagem, artigo de opinião, editorial, entrevista. Imagem: Shutterstock.com No discurso jornalístico, os gêneros textuais dividem-se em informativos (notícia, reportagem) e opinativos (editorial, artigo de opinião, entrevista). Essa categorização dos textos, com base em seu regime genérico, é, em boa parte, responsável pela construção do sentido do texto por parte do receptor. Na comunicação oral, observa-se a mesma realidade. Veja: Imagem: Shutterstock.com Uma aula, um telefonema, um seminário acadêmico, uma palestra, um pronunciamento do Presidente da República, dentre outros gêneros textuais orais, são facilmente reconhecidos a partir de sua denominação. Por meio dos gêneros textuais, opera-se uma classificação dos textos, constituindo uma tipologia não exaustiva. Entretanto, ainda que a denominação dos gêneros textuais seja de grande auxílio para seu reconhecimento e conservação, por outro lado, há textos que fogem a essa lógica. No campo da Literatura, muitas obras são intituladas pela denominação de outros gêneros textuais. EXEMPLO Cartas persas (1721), do filósofo francês Montesquieu; O diário de Anne Frank (1942), de Anne Frank; Elogio da loucura (1511), de Erasmo de Roterdã; A Bíblia de Amiens (1880), de John Ruskin; O Código Da Vinci (2003), de Dan Brown; entre outros. Em todos esses exemplos, não se trata de cartas, diário, elogio, Bíblia ou código, mas de obras de ficção literária, algumas de cunho filosófico, biográfico, policial. É necessário, portanto, avançar um pouco mais na compreensão do funcionamento dos gêneros textuais. GÊNEROS TEXTUAIS EMERGENTES E REGIMES DE GENERICIDADE A era da comunicação em massa, propulsionada pelo desenvolvimento das mais diversas mídias no suporte digital, coloca inúmeros desafios para uma definição segura de gêneros textuais. Foto: Shutterstock.com QUAL É A DIFERENÇA, POR EXEMPLO, ENTRE DIÁRIO E BLOG? RESPOSTA À primeira vista, diferem apenas com relação ao suporte: enquanto o diário é escrito no suporte impresso, o blog é veiculado no suporte digital. No entanto, os blogs não se limitam a relatar as impressões pessoais do dia a dia de seu escritor, como acontecia nos antigos diários. Há blogs pessoais, mas também comerciais; a comunicação é verbal, mas pode ser enriquecida por fotografias, remissões a outros conteúdos e sites. O blog também pode suportar outros gêneros textuais: biografia, entrevista, relato de viagem, relato histórico, e-book, meme. A comunicação em massa nos ambientes digitais dá origem, ainda, a novos gêneros textuais. Estamos falando dos chamados gêneros emergentes, para os quais ainda não existem denominações nem definições claras. O comentário do leitor, tão comum nas redes sociais, é um gênero textual? E o que dizer do meme e sua heterogeneidade radical? As mensagens instantâneas de aplicativos são uma evolução da conversa ou do telefonema? PARA TENTAR RESOLVER ESSA QUESTÃO, PARTIREMOS DO SEGUINTE PRINCÍPIO: OS GÊNEROS TEXTUAIS SE DEFINEM MENOS POR ASPECTOS FORMAIS DO QUE POR ASPECTOS FUNCIONAIS. Isso quer dizer que o gênero textual se define mais pelo campo de atividade humana em que ele é produzido e pelo contexto comunicativo em que ele circula. Embora os aspectos formais sejam importantes para se descrever o funcionamento de um gênero textual, como veremos nos próximos módulos, eles não são uma garantia completa para o aprendizado javascript:void(0) dessas formas complexas de linguagem que são os gêneros textuais, como explica Fiorin: O GÊNERO UNE ESTABILIDADE E INSTABILIDADE, PERMANÊNCIA E MUDANÇA. DE UM LADO, RECONHECEM- SE PROPRIEDADES COMUNS EM CONJUNTOS DE TEXTO; DE OUTRO, ESSAS PROPRIEDADES ALTERAM-SE CONTINUAMENTE. ISSO OCORRE PORQUE AS ATIVIDADES HUMANAS, SEGUNDO O FILÓSOFO RUSSO, NÃO SÃO NEM TOTALMENTE DETERMINADAS NEM ALEATÓRIAS. (FIORIN, 2008, p. 69) REGIMES GENÉRICOS Considerando, portanto, que o campo de atividade humana e o contexto comunicativo são fatores centrais para o reconhecimento, a conservação e a definição dos gêneros textuais, propomos uma classificação dos gêneros textuais com base em seu maior ou menor grau de variação, em função do campo de atividade humana em que ele é produzido. Chamaremos esses graus de “regimes genéricos”. Confira a seguir os regimes genéricos segundo o campo de atividade humana, baseado em Maingueneau (2004). CATEGORIA 1 CATEGORIA 2 CATEGORIA 3 CATEGORIA 4 CATEGORIA 1 Gêneros estáveis, geralmente sem autoria, produzidos nos campos de atividadehumana mais institucionalizados, na esfera pública e privada, a exemplo de documentos públicos, correspondência comercial, fichas administrativas, entre outros. CATEGORIA 2 Gêneros mais ou menos estáveis, produzidos em campos de atividade humana diversos, nos quais os gêneros produzidos estão submetidos a normas, mas aceitam variações. Um guia de viagem, um site comercial, uma notícia de agência jornalística são alguns exemplos. CATEGORIA 3 Gêneros instáveis, produzidos nos campos da publicidade, da música, das mídias em geral. Os gêneros desta categoria caracterizam-se pela inovação permanente, tendo em vista a necessidade de captar a atenção do receptor. CATEGORIA 4 Gêneros autorais, providos de autoria e produzidos nos campos da Literatura e da Filosofia. Os gêneros autorais caracterizam-se, ainda, pela originalidade, ao fundar discursos que servem de fonte para os gêneros das outras categorias. Imagem: Shutterstock.com O gênero textual anúncio publicitário manifesta um baixo grau de estabilidade em seu regime genérico. Isso se explica pela necessidade de inovação e criatividade no campo da publicidade, que deve atingir um receptor exaustivamente exposto a mensagens publicitárias Imagem: Shutterstock.com Por outro lado, a carta do leitor é um gênero textual mais ou menos estável, pois, apesar de ser possível antecipar o propósito para o qual o leitor decide reagir a uma publicação jornalística (reclamar, elogiar, sugerir, criticar), não é possível antecipar o teor do texto. Os exemplos citados referem-se, respectivamente, às categorias 3 e 2. No módulo 2, você verá exemplos de outras categorias quando for estudar aspectos dos gêneros textuais que envolvem essas categorias. RELEMBRANDO Até aqui, pudemos situar os gêneros textuais no interior da chamada perspectiva dialógica da linguagem, inaugurada pelos estudos bakhtinianos. Nessa concepção, a linguagem é o produto da interação verbal entre pelo menos dois falantes, e sua unidade é o conjunto de enunciados que compõem um dado gênero textual. A comunicação humana se realiza por meio de gêneros textuais, que integram unidades verbais (a língua) e não verbais, com diferentes dimensões, finalidades e denominações. No entanto, os gêneros textuais não devem ser concebidos como categorias estáticas ou rígidas, pois estão sujeitos à variação em função do campo de atividade humana e do contexto comunicativo. GÊNERO TEXTUAL E TIPO TEXTUAL Assista ao vídeo com a professora Aline Saddi Chaves explicando o conceito de gênero textual e falando sobre os tipos textuais. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. CONSIDERE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A LINGUAGEM E OS GÊNEROS TEXTUAIS: I – A RESPEITO DAS COMPETÊNCIAS ENVOLVIDAS EM TODA AÇÃO E INTERAÇÃO DE LINGUAGEM ENTRE SUJEITOS, DEVEMOS RECONHECER QUE AS NORMAS SOCIAIS INFLUENCIAM A PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DOS TEXTOS. II – O CONCEITO DE GÊNERO TEXTUAL ESTÁ RELACIONADO APENAS COM A LINGUAGEM ESCRITA, CORRESPONDENDO TÃO SOMENTE AOS TEXTOS LITERÁRIOS E FILOSÓFICOS. III – É POSSÍVEL QUE UM GÊNERO TEXTUAL OBEDEÇA A UM PADRÃO OU SEJA ADEQUADO A DETERMINADAS EXIGÊNCIAS SOCIAIS, COMO O USO DA NORMA PADRÃO DA LÍNGUA. IV – OS USOS DA LINGUAGEM, NAS SITUAÇÕES DE COMUNICAÇÃO E INTERAÇÃO, NÃO ESTÃO RELACIONADOS COM O CONCEITO DE GÊNERO TEXTUAL PORQUE TAL CONCEITO SE RESUME À CLASSIFICAÇÃO DO TIPO DE TEXTO. ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS: A) I e II. B) I e III. C) II e III. D) II e IV. E) III e IV. 2. CONSIDERANDO O QUE VOCÊ ESTUDOU SOBRE O FUNCIONAMENTO DOS GÊNEROS TEXTUAIS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Para o leitor, a denominação é o principal fator de reconhecimento dos gêneros textuais. B) A dimensão funcional dos gêneros textuais se sobrepõe aos aspectos formais do texto. C) O campo de atividade humana da publicidade tem como principal característica a autoria. D) Os gêneros emergentes não podem ser classificados, nem mesmo estudados por serem ainda muito recentes. E) Os regimes genéricos estão diretamente ligados aos aspectos formais dos gêneros textuais. GABARITO 1. Considere as afirmativas a seguir sobre a relação entre a linguagem e os gêneros textuais: I – A respeito das competências envolvidas em toda ação e interação de linguagem entre sujeitos, devemos reconhecer que as normas sociais influenciam a produção e recepção dos textos. II – O conceito de gênero textual está relacionado apenas com a linguagem escrita, correspondendo tão somente aos textos literários e filosóficos. III – É possível que um gênero textual obedeça a um padrão ou seja adequado a determinadas exigências sociais, como o uso da norma padrão da língua. IV – Os usos da linguagem, nas situações de comunicação e interação, não estão relacionados com o conceito de gênero textual porque tal conceito se resume à classificação do tipo de texto. Estão corretas apenas as afirmativas: A alternativa "B " está correta. Uma das competências envolvidas na comunicação é o saber sociolinguístico, que está relacionado ao papel determinante das normas sociais sobre os usos da língua. Essas normas podem ser explícitas ou tácitas, a depender do campo de atividade humana e do contexto comunicativo da interação. A título de exemplo, a variante linguística empregada por Chico Bento, personagem de história em quadrinhos, orienta o sentido de suas falas e cria efeitos de sentido de humor, tendo-se em vista uma representação do homem caipira na sociedade brasileira, ainda mais se considerarmos que os leitores de HQ se encontram nos centros urbanos. A mesma coisa pode ser dita com relação a um gênero textual mais padronizado, como a ficha de inscrição para se matricular em um curso. Nesse caso, as normas sociais exigem o emprego da norma padrão da língua portuguesa. 2. Considerando o que você estudou sobre o funcionamento dos gêneros textuais, assinale a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. Apesar de os gêneros textuais apresentarem uma denominação e um conjunto de propriedades formais, tais aspectos são superados pela dimensão funcional dos gêneros, isto é, seu contexto de produção (campo de atividade humana), circulação (suporte) e recepção (contexto comunicativo). Um livro intitulado “Diário” não deixará de ser uma obra de ficção autobiográfica somente em razão de sua denominação. Ou ainda, um anúncio publicitário em forma de fábula não deixa de ser um anúncio simplesmente porque coloca em cena personagens não humanos ou fantásticos em torno de um enredo. Por isso, diz-se que os gêneros textuais se definem menos por sua forma do que por sua função em dado contexto. MÓDULO 2 Identificar o tema e o estilo verbal como propriedades dos gêneros textuais O TEMA Vamos estudar a primeira propriedade dos gêneros textuais: o tema. Imagem: Shutterstock.com O tema, ou conteúdo temático, é uma das propriedades dos gêneros textuais, e não deve ser confundido com o assunto abordado em um texto. EXEMPLO Tomemos por exemplo uma receita culinária de torta de maçã, veiculada em um programa televisivo. O assunto do programa é sobre torta de maçã, mas seu tema refere-se ao conjunto dos temas possíveis no referido campo de atividade humana. A distinção entre assunto e tema é importante para identificar o universo temático de um gênero textual. Nesse sentido, toda receita culinária tem como tema o preparo de um alimento. Da mesma forma, um gênero como o fichamento terá como tema uma obra de referência indicada pelo professor; o e-mail institucional versará sobre assuntos restritos à esfera institucional. O TEMA EM GÊNEROS INSTÁVEIS 1. manusear; manejar 2. examinar ou estudar minuciosamente 3. praticar; exercitar 4. abordar, tratar 5. dizer respeito a; incidir em; tratar de Vejamos um exemplo de gênero textual da categoria 3 (os gêneros instáveis), que é mais propenso à variação. Na campanha publicitária de uma marca de cosméticos brasileira, em 2005, uma das peças trazia a imagem deuma modelo vestida com um capuz vermelho e a seguinte inscrição: “Use o Boticário e ponha o Lobo Mau na coleira”. O assunto do anúncio não tem relação imediata com o propósito do gênero, isto é, a promoção de um produto para venda e consumo. Em vez disso, coloca-se em cena uma modelo caracterizada com as vestimentas da conhecida personagem das histórias infantis: Chapeuzinho Vermelho. Os dizeres remetem a outro personagem da história, o Lobo Mau, que, na versão desse anúncio publicitário, submete-se à personagem feminina, orientando a leitura para a afirmação do lugar da mulher (potencial consumidora) na sociedade: não mais mocinha, agora vilã, metáfora da mulher independente e empoderada. Essa leitura é possível tendo-se em mente o universo temático do gênero textual “anúncio publicitário”, pertencente à Categoria 3 dos regimes de genericidade: fundamentalmente instáveis e sujeitos à variação (MAINGUENEAU, 2004). Essa leitura é reforçada, ainda, pelo histórico dos outros anúncios da referida marca de cosméticos, que, desde as últimas décadas, busca construir uma imagem afinada com os valores contemporâneos. O TEMA EM GÊNEROS ESTÁVEIS Vejamos, agora, um gênero textual da categoria 1, isto é, estável e geralmente desprovido de autoria. Imagem: Aline Saddi Chaves Formulário de inscrição. O gênero textual em questão é uma ficha de inscrição para tornar-se sócio de uma associação de professores. Com relação ao tema desse gênero, um conhecimento prévio orienta o leitor para informações relativas a dados pessoais do futuro associado, sua categoria, o local, a data e a assinatura daquele que preenche a ficha. Os dados pessoais referem-se a nome completo, data de nascimento, números de documentos pessoais de identificação (RG e CPF), endereço, número de telefone, e-mail. Já a categoria refere-se à situação do sócio: se professor de francês, sua formação, seu local de trabalho; se estudante, seu nível de conhecimentos, a escola onde aprende o idioma; se cultor da língua francesa, o nome da pessoa ou estabelecimento de ensino que o indicou. Imagem: Shutterstock.com Todos esses elementos relacionam-se ao tema do gênero textual “ficha de inscrição”, que, como nesse exemplo, dispensa a assinatura do produtor do texto, por tratar-se de um campo de atividade humana relacionado a uma instituição: uma associação de professores de francês. É nessa medida que um gênero textual da categoria 1 é desprovido de autoria reconhecida. Nesta categoria de gêneros textuais, os leitores podem antecipar o tema, pois há uma expectativa sobre as informações solicitadas. Não se imagina, por exemplo, que uma ficha de inscrição não solicite dados pessoais, ou que solicite informações sobre o salário ou orientação sexual do futuro associado. Em contrapartida, como em todo gênero textual, podem ocorrer instabilidades temáticas, como, por exemplo, solicitar que o associado anexe sua foto, ou que informe seu contato nas redes sociais, dentre outras informações que possam ser mais ou menos previstas no interior das regularidades temáticas do gênero textual em questão. O TEMA EM GÊNEROS AUTORAIS Vejamos, finalmente, um exemplo de gênero textual da categoria 4: o soneto. Esse gênero textual pertence ao campo de atividade humana da Literatura, o que explica sua variação temática. Com efeito, não é possível prever sobre qual assunto versará um dado soneto, ainda que tal gênero textual possua propriedades mais ou menos estáveis, como a construção composicional, isto é, sua organização textual: duas estrofes de quatro versos (quartetos) e duas estrofes de três versos (tercetos). A construção composicional será tratada mais adiante, por isso vamos nos ater à propriedade temática desse gênero textual. Vejamos este exemplo: AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER Amor é fogo que arde sem se ver, é ferida que dói, e não se sente; é um contentamento descontente, é dor que desatina sem doer. É um não querer mais que bem querer; é um andar solitário entre a gente; é nunca contentar-se de contente; é um cuidar que ganha em se perder. É querer estar preso por vontade; é servir a quem vence, o vencedor; é ter com quem nos mata, lealdade. Mas como causar pode seu favor nos corações humanos amizade, se tão contrário a si é o mesmo Amor. (CAMÕES, Luís. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1984.) Esse soneto, do poeta português Luís de Camões, publicado no século XVI, fala sobre o amor, um sentimento contraditório, que, ao mesmo tempo em que “arde”, não pode ser visto; “dói, e não se sente”; aprisiona, mesmo que seja voluntariamente. Essa oposição entre sentimentos provocados pelo amor atravessa todo o soneto, por meio da figura de estilo chamada “antítese”. Agora vejamos outro exemplo de soneto, também sobre o amor: SONETO DE FIDELIDADE De tudo, ao meu amor serei atento antes E com tal zelo, e sempre, e tanto Que mesmo em face do maior encanto Dele se encante mais meu pensamento Quero vivê-lo em cada vão momento E em seu louvor hei de espalhar meu canto E rir meu riso e derramar meu pranto Ao seu pesar ou seu contentamento E assim quando mais tarde me procure Quem sabe a morte, angústia de quem vive Quem sabe a solidão, fim de quem ama Eu possa lhe dizer do amor (que tive): Que não seja imortal, posto que é chama figura pela qual se opõem, numa mesma frase, duas palavras ou dois pensamentos de sentido contrário (p.ex.: com luz no olhar e trevas no peito); enantiose, síncrise. Mas que seja infinito enquanto dure (MORAES, Vinicius de. Poemas, sonetos e baladas. São Paulo: Gaveta, 1946.) EM QUE O SONETO DO POETA BRASILEIRO VINICIUS DE MORAES, PUBLICADO NO SÉCULO XX, DIFERE DO SONETO DE CAMÕES? RESPOSTA No soneto do poeta brasileiro Vinicius de Moraes, publicado no século XX, o retrato do amor difere do retrato daquele visto no soneto de Camões. O título anuncia tratar-se de um soneto de fidelidade, mas o que se lê é justamente a efemeridade do amor, como na última estrofe: “Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas que seja infinito enquanto dure”. Em Camões, o amor é retratado como sofrimento incondicional (“lealdade”), enquanto no soneto de Vinicius de Moraes, o mesmo sentimento é visto como passageiro (“vão momento”). javascript:void(0) Foto: Shutterstock.com Desse modo, os gêneros textuais da Categoria 4, oriundos do campo de atividade humana da Literatura e da Filosofia, têm por principais características a autoria e a originalidade, aspectos determinantes nesses campos, nos quais a própria noção de gênero literário é permanentemente renovada, ressignificada e não raro transgredida. Isso ocorre porque, para retratar as evoluções dos comportamentos humanos nas diferentes épocas e sociedades, tais gêneros tendem a sofrer rupturas. COMO EXPLICA FIORIN (2008, P. 68), “É ESSA DISSONÂNCIA ENTRE ESTRUTURA COMPOSICIONAL E CONTEÚDO TEMÁTICO QUE CRIA UM NOVO SENTIDO PARA A UTILIZAÇÃO DO SONETO”. Assim, o tema ou conteúdo temático de um texto está relacionado ao funcionamento do gênero textual como um todo, ou seja, seu campo de atividade humana, seu contexto comunicativo e outras propriedades que lhe dão forma e acabamento. Conhecer o conteúdo temático de um texto é particularmente importante para antecipar e relacionar informações no processo de leitura e compreensão de textos, mas também para ampliar a competência enciclopédica dos receptores. O ESTILO VERBAL A segunda propriedade dos gêneros textuais é o estilo verbal, que, assim como o tema, constitui uma garantia para a comunicação e reflete o funcionamento de determinado campo de atividade humana. Tradicionalmente, o termo “estilo” remete ao talento de um escritor, sua criatividade no emprego de figuras de linguagem, de modo a enriquecer a língua e mostrar todas suas potencialidades, sobretudo do ponto de vista artístico-literário. Foto: Shutterstock.com Na teoria bakhtiniana, contudo, o estilo não recebe o tratamento da estilísticaclássica. Quando falamos em gênero textual, literário ou não, o estilo verbal diz respeito aos elementos linguísticos mais recorrentes em um dado gênero textual, em nível gramatical (ortografia, pontuação, morfologia), lexical (vocabulário) e sintático (construção de frases e orações). Para Bakhtin (2016), “onde há estilo, há gênero”, ou seja, o estilo é predeterminado pelo gênero textual, que, como vimos, é orientado pelo campo de atividade humana em que ele é produzido. O ESTILO VERBAL DE UM TEXTO REFLETE, PORTANTO, O FUNCIONAMENTO DO GÊNERO TEXTUAL COMO UM TODO. Assim como acontece com o tema, o estilo verbal também está sujeito aos regimes adotados por um gênero textual. Quanto mais ou menos normativo for o gênero textual, em função de seu campo de atividade humana, mais ou menos normativo será seu estilo. Em outras palavras, a liberdade do estilo verbal empregado será menor nos gêneros textuais mais controlados (categorias 1 e 2) e maior nos gêneros originais ou autorais (categorias 3 e 4). O ESTILO VERBAL EM GÊNEROS ESTÁVEIS: O ARTIGO DE LEI Vejamos agora uma situação exemplar sobre estilo verbal em um texto pertencente ao gênero textual “artigo de lei”, mais especificamente o Artigo 208 da Constituição Federal do Brasil de 1988. Trata-se de um gênero textual da categoria 1, próprio aos campos de atividade humana mais padronizados e controlados, e geralmente desprovidos de um autor individual. No exemplo a seguir, trata-se do campo de atividade humana da política. Foto: Shutterstock.com Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: (EC n. 14/1996, EC n. 53/2006 e EC n. 59/2009) I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; II – progressiva universalização do ensino médio gratuito; III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino; IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade. V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um; VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando; VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. § 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo. § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente. § 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola. (BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.) Esse trecho da Constituição Federal (CF) está inserido na Seção I do Capítulo III do Título Da ordem social. Na referida seção, o artigo 208 versa sobre a educação, em meio a outros temas que compõem o texto da CF, como Organização dos Poderes e Tributação e Orçamento. Dentro dessa configuração temática e composicional, também está o estilo verbal do gênero textual. Dentre os recursos linguísticos do gênero textual “artigo de lei”, destacam-se: Imagem: Shutterstock.com A impessoalidade, observável no emprego da terceira pessoa e do sujeito indeterminado, como em “Compete ao Poder Público recensear [...]”. Imagem: Shutterstock.com A nominalização, isto é, emprego de formas substantivadas, como em “educação básica”, “acesso”, “oferta”, “atendimento”. Imagem: Shutterstock.com Formas verbais dos tempos Presente e Futuro do Indicativo, indicando que a lei passa a vigorar plenamente a partir da promulgação do artigo. São exemplos: “O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de [...]” e “O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo”. Imagem: Shutterstock.com O emprego da norma padrão da língua portuguesa, com observância de flexões de gênero e número (“as etapas da educação”), regência nominal (“ensino obrigatório”) e verbal (“atendimento ao”, “compete ao”). Imagem: Shutterstock.com O emprego de vocabulário técnico característico de textos de lei, como em “autoridade competente”, “direito público subjetivo”, “educando”, “recensear”. Esse conjunto de características estilísticas permite-nos situar o gênero textual “artigo de lei” na categoria 1, tendo em vista dois principais aspectos: linguagem padronizada e autoria coletiva. Podemos notar, ainda, que tais características estão em harmonia com as outras propriedades do artigo de lei, pois o tema e a construção composicional também indicam o alto grau de normatividade de um documento público. O tema da educação e a localização do artigo a esse respeito, dentro da estrutura bastante formal do artigo de lei, mostram que há pouca, ou nenhuma, liberdade para a criatividade e a individualidade nesse gênero textual. Prova disso é que as leis levam muito tempo para serem revisadas ou até mesmo para serem criadas. No campo de atividade humana da política pública, sobretudo em países republicanos, a vontade da coletividade se sobrepõe à do indivíduo. O ESTILO VERBAL EM GÊNEROS INSTÁVEIS: AS TIRINHAS Em uma tirinha da personagem Chico Bento, encontramos o seguinte diálogo: “— Mãe, hoje ocê pode contá uma história bem curtinha? — Uai! Pru que, Chico? — Pruque cas história grande eu cabo drumindo na metade i fico sem sabê o finar!” (SOUZA, M. Coleção um tema só: Chico Bento. São Paulo: Panini, 2019.) Perceba como o estilo verbal é característico do dialeto caipira, uma variante sociolinguística do meio rural brasileiro, em especial de certas localidades do interior dos estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná e Goiás. O tema da tirinha é representativo das histórias vividas por Chico Bento e, sobretudo, de sua personalidade: preguiçoso, engraçado, debochado, e apesar disso tudo, muito carismático. Nesse diálogo, em particular, Chico Bento pede à mãe que lhe conte uma história curta para dormir, porque, segundo ele, se a história for longa, ele acabará dormindo e não ficará sabendo do final. Mas a personagem tem um modo muito particular de dizer isso, ou melhor, um estilo verbal. O dialeto caipira se manifesta em toda a tirinha, no emprego dos seguintes recursos estilísticos: - Desvios de oralidade: “cabo”, “ocê”; - Diminutivo “curtinha”; - Desvios da norma padrão da língua portuguesa em nível morfológico, como em “cas história”, onde há ausência de concordância nominal de número (plural); - Interjeições, como “uai”; - Prosódia caipira, como em “contá”, “pruque”, “sabê”; - Pronúncia do “r” caipira, como em “finar”. estudo da acentuação vocabular. A partir desse exemplo, nota-se que o gênero textual “tirinha” manifesta uma instabilidade do ponto de vista estilístico. Ainda que o leitor possua uma expectativa sobre a variante linguística de Chico Bento, o dialeto caipira empregado é uma característica dessa história em quadrinhos em particular. Imagem: Shutterstock.com Em outras tirinhas, o estilo verbal empregado será diferente, pois, como vimos, os gêneros da categoria 3 são autorais e buscam a inovação e a criatividade. Vejamos este diálogo extraído de uma tirinha de Edibar e Edimunda, um casal de meia-idade: “— Querida, pegue uma cerva pra mim, por favor? — Estou vendo minha novela! — Opa, meu celular tá tocando. Alô? — Oi, sou eu! Já que você tá na cozinha, pegue uma cerveja pra mim? [...].” (OLIVEIRA, L. Edibar e Edimunda. In: Folha de Londrina, Londrina/PR, 18 mai. 2018.) Vamos analisar esse último diálogo? Nesse diálogo, o estilo verbal difere do diálogo anterior ao colocar em cena um casal de meia-idade, provavelmente em um meio urbano. O registro de linguagem coloquial,característico do meio urbano, é representado no uso da gíria “cerva” (cerveja) e no desvio de oralidade “tá” (está). Outros recursos, como a interjeição “opa”, contribuem para manter a estabilidade do gênero textual, mas permanece a ideia da inovação e da criatividade no diálogo dessa tirinha, que aborda o tema da vida conjugal em tom cômico e descontraído. Essas observações são indicativas de que a própria definição de gênero textual é problemática, visto que está sujeita à instabilidade, ainda que certas regularidades contribuam para garantir sua compreensão. RELEMBRANDO A esse respeito, é importante lembrar dois aspectos fundamentais dos gêneros textuais: eles são heterogêneos e relativamente estáveis, como disse Bakhtin. Essa incompletude dos gêneros textuais é fundamental para a compreensão de como esses dispositivos de linguagem funcionam. Por esses motivos, não se pode conceber um gênero textual sem relacioná-lo a seu campo de atividade humana e ao contexto comunicativo como um todo. TEMA E ESTILO VERBAL Assista ao vídeo com a professora Aline Saddi Chaves trazendo comentários e exemplos sobre o tema e o estilo verbal como propriedades dos gêneros textuais. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. UMA DAS PROPRIEDADES DOS GÊNEROS TEXTUAIS É O TEMA. COM RELAÇÃO À PROPRIEDADE TEMÁTICA DO GÊNERO TEXTUAL “ANÚNCIO PUBLICITÁRIO”, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) O público-alvo do anúncio não interfere na escolha do tema. B) O criador do anúncio busca inspiração nos temas da atualidade. C) Um anúncio de automóveis deve abordar temas da atualidade. D) O anúncio publicitário não possui autoria. E) O anúncio publicitário pode abordar qualquer assunto. 2. O ESTILO VERBAL É UMA PROPRIEDADE DOS GÊNEROS TEXTUAIS. ASSIM, AO AFIRMAR QUE “ONDE HÁ ESTILO, HÁ GÊNERO”, O FILÓSOFO RUSSO MIKHAIL BAKHTIN PRETENDIA EXPLICAR QUE: A) Todo gênero textual possui um estilo verbal que se opõe ao tema. B) O estilo verbal depende de outros aspectos do gênero textual, como o tema. C) O estilo verbal é uma característica do discurso literário e filosófico. D) O estilo é uma propriedade estável dos gêneros textuais. E) A variação estilística tem mais a ver com os recursos verbais do que não verbais do texto. GABARITO 1. Uma das propriedades dos gêneros textuais é o tema. Com relação à propriedade temática do gênero textual “anúncio publicitário”, assinale a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. O gênero textual anúncio publicitário é produzido no campo de atividade humana da publicidade, pertencente à categoria 3, dos gêneros instáveis. Por se tratar de um campo voltado para a inovação e a criatividade, a publicidade busca incessantemente aproximar-se do público-alvo, consumidor potencial dos produtos ou serviços anunciados. Desse modo, os temas da atualidade são uma fonte de inspiração para o setor de criação da publicidade e contribuem para criar ou fortalecer uma imagem de marca. 2. O estilo verbal é uma propriedade dos gêneros textuais. Assim, ao afirmar que “onde há estilo, há gênero”, o filósofo russo Mikhail Bakhtin pretendia explicar que: A alternativa "B " está correta. A afirmação do filósofo significa que o estilo verbal está relacionado ao gênero textual como um todo. Considerando-se que os gêneros discursivos/textuais não são estruturas fixas, mas altamente maleáveis, visto que refletem o funcionamento de um campo de atividade humana, o estilo verbal também acompanha as evoluções dos gêneros textuais e a eles se ligam de forma íntegra. Falar em estilo verbal é também considerar o campo de atividade humana, o contexto comunicativo e as outras propriedades dos gêneros textuais, como o tema e a construção composicional, que você verá no módulo 3. MÓDULO 3 Identificar a construção composicional como propriedade dos gêneros textuais A CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL Vamos estudar agora a terceira propriedade dos gêneros textuais: a construção composicional. O tema, o estilo verbal e a construção composicional integram o todo dessas manifestações de linguagem. A construção composicional diz respeito à forma composicional de um gênero, quando este se materializa em texto, no interior de um campo de atividade humana e de um contexto comunicativo preciso. Imagem: Shutterstock.com Devemos estabelecer, então, uma distinção entre gênero textual e texto. Qual é a diferença entre eles? O gênero (textual) é uma atividade de linguagem sócio-historicamente situada, enquanto o texto é a materialização de um gênero textual. Antes mesmo de um texto ser escrito, ele já pertence a um gênero textual, que orienta sua forma e seu acabamento, por meio das três propriedades em estudo. Assim como ocorre com o tema e o estilo verbal, a construção composicional dos gêneros textuais também apresenta regularidades, mais ou menos estáveis de acordo com o campo de atividade humana e o contexto comunicativo em que o texto circulará. A propriedade da construção composicional dos gêneros textuais está relacionada ao modo como os gêneros se estruturam. Vamos à primeira situação para exemplificarmos o que estamos falando. GÊNERO TEXTUAL RECEITA CULINÁRIA No gênero textual receita culinária, além de um tema e um estilo verbal mais ou menos característicos, há certa organização das partes que comporão o texto. Uma receita culinária costuma iniciar por um título, seguido da lista de ingredientes e, finalmente, do modo de preparo do alimento. Confira o exemplo a seguir: Foto: Pixabay. Batata sauté Imagens: Shutterstock.com TEMPO DE PREPARO 40 minutos Imagens: Shutterstock.com RENDIMENTO 6 porções Imagens: Shutterstock.com COMENTÁRIOS 89 Imagens: Shutterstock.com LIKES/CURTIDAS 3269 Imagens: Shutterstock.com ENVIADA POR EnsineMe Ingredientes 1kg de batata-inglesa (tamanho: médio); 1 maço de cheiro-verde (salsa e cebolinha) ou outro tempero verde de sua preferência; 1 cabeça de alho bem amassado; 1/2 cebola picada; Sal a gosto; 70ml de azeite de oliva. Modo de preparo Cozinhe as batatas com as cascas, descasque e reserve. Em uma panela, refogue o alho e a cebola no azeite. Em seguida, acrescente o cheiro-verde, o sal e as batatas. Diminua a chama do fogo e mexa cuidadosamente nas batatas (as batatas devem ficar inteiras). Pronto, agora é só levar à mesa! Outras informações Você pode servir as batatas acompanhadas de arroz branco e um filé. Essa receita estrutura-se segundo os elementos citados: título, ingredientes e modo de preparo. Mas também apresenta outras informações, como a fotografia do alimento preparado acompanhada da legenda e uma sugestão de acompanhamento. Na Internet, geralmente essas receitas estão hospedadas em sites de culinária ou gastronomia e costumam ter hiperlinks, isto é, referências clicáveis, que remetem a informações sobre o contexto comunicativo: autor da receita, interação dos leitores (“avalie esta receita”, “favoritos”, “comentários” etc.). Todos esses elementos, que extrapolam a estrutura convencional das receitas à moda antiga, escritas à mão em um caderno, mostram a que ponto os gêneros textuais são maleáveis e se adaptam ao contexto comunicativo. Assim, uma receita veiculada no suporte digital, por exemplo, sofre algumas modificações em sua construção composicional. O gênero textual “receita culinária” pertence à categoria 2, dos gêneros que revelam uma tendência à estabilidade, mesmo estando sujeitos à variação, o que não prejudica seu reconhecimento e circulação. Na realidade, o que essa receita de batata sauté tem de “diferente”, com relação aos outros textos do mesmo gênero textual, é seu direcionamento explícito para o destinatário, o qual é chamado a avaliá-la, estabelecendo uma interação verbal, o que é característico do suporte digital. A interação verbal, nesse gênero textual como em outros do suporte digital, também modifica a construção composicional da receita culinária, agora enriquecida com elementos gráficos (cores, diferentes fontese tamanhos das letras) e imagéticos (fotografia e ícone). Isso nos dá uma dimensão da evolução da escrita ao longo dos tempos; não mais estritamente verbal (gráfica), mas muito influenciada pelos recursos não verbais, resultado dos avanços da tecnologia digital. GÊNERO TEXTUAL PROJETO DE PESQUISA Vejamos agora um exemplo de construção composicional pouco sujeita à variação, no gênero textual “projeto de pesquisa”. Foto: Shutterstock.com O estudante que pretende desenvolver uma pesquisa científica, seja em nível de graduação, seja em nível de pós-graduação, deve apresentar um projeto, no qual expõe os principais procedimentos que servirão de base para o desenvolvimento da futura pesquisa. Esses elementos ou partes do projeto de pesquisa podem ser constituídos por: Identificação: título, área da pesquisa, autor e orientador, instituição; Tema-problema; Hipótese(s); Justificativa(s); Objetivo geral e objetivo(s) específico(s); Quadro teórico; Metodologia; Resultados esperados; Cronograma; Referências bibliográficas. Com algumas poucas variações, esses elementos costumam aparecer nos projetos de pesquisa. Trata-se de um gênero textual da categoria 2, mais controlado e normativo. Isso não significa, porém, que o projeto de pesquisa dispense a explicitação do autor. Ao contrário disso, a identidade do pesquisador é fundamental no gênero textual do campo de atividade acadêmico-científico. Sendo o campo de atividade humana determinante para a forma e o acabamento dos gêneros textuais, o projeto de pesquisa deve corresponder aos propósitos e às expectativas do referido campo. Desse modo, a seleção do tema, do estilo verbal e da construção composicional característicos do universo acadêmico-científico é de suma importância. EXEMPLO Não se pode conceber um projeto de pesquisa da área de Letras, por exemplo, que pretenda resolver um problema matemático, ou que empregue gírias e interjeições; ou ainda, que não apresente referências bibliográficas. No campo de atividade humana da Ciência, a clareza, a objetividade, a imparcialidade e a organização do texto, entre muitos outros fatores, são determinantes para o êxito da comunicação. O GÊNERO TEXTUAL MEME Vejamos, finalmente, um gênero textual que apresenta muitos desafios para a própria definição de gênero textual, com base em sua construção composicional: o meme. Imagem: Shutterstock.com A construção composicional é bastante variável. Há memes que conjugam texto escrito e imagem. Confira os exemplos a seguir: EXEMPLO Exemplo 1 Imagem: Shutterstock.com / Adaptado por Alan Gadelha. A frase “Quando falam que eu sou uma pessoa dramática” vem seguida da imagem de uma jovem num gesto de grande afetação, acompanhada dos seguintes dizeres: “Como se atreve!”. Exemplo 2 Imagem: Shutterstock.com / Adaptado por Alan Gadelha. A legenda “Sambando na cara da fome” acompanhada da imagem apelativa de um lanche ou sanduíche. Exemplo 3 Imagem: Shutterstock.com / Adaptado por Alan Gadelha. A frase “É bonitinho, mas só vive no mundo das ideias, e não das atitudes” acompanhada da imagem de Platão. Outros memes apresentam apenas elementos verbais, como no exemplo a seguir em que temos um diálogo entre duas pessoas. EXEMPLO Ela: Amor, eu te traí. Ele: Eu também. Ela: 1º de abril. Ele: 22 de março. (Autoria desconhecida) Nota-se que não há um padrão gráfico nem estético nos memes em geral. Os memes podem ser ilustrados pela cena de uma série televisiva de sucesso, reproduzir um anúncio publicitário, trazendo uma fotografia em alta resolução de determinado produto, ou se valerem da reprodução de pinturas ou imagens artísticas famosas. A organização das unidades verbais e não verbais também difere nos memes: ora o texto verbal aparece antes e depois da imagem, ora o texto verbal surge antes da imagem. Do ponto de vista da interpretação, todos os memes exemplificados possuem um efeito humorístico, mas com diferentes propósitos: descontrair, atingir o consumidor, ensinar, contar uma piada. Nos gêneros emergentes, como é o caso do meme, há uma diversidade de elementos que dificultam uma definição unívoca de gênero textual. Mas, para o leitor, não há dúvidas de que se trata de memes. GÊNEROS TEXTUAIS E TRANSFORMAÇÕES Por todos esses motivos, para compreender de forma adequada e aprofundada os gêneros textuais, é necessário assumir esses dispositivos comunicacionais em relação estreita com o campo de atividade humana e o contexto comunicativo, o que explica, de fato, as transformações que os gêneros textuais podem sofrer ao longo do tempo. Assim, um gênero textual num suporte material como um livro impresso ou uma folha de papel pode não apresentar alterações que identificaríamos num gênero que tem como seu suporte original o digital, a tela do computador ou do celular, por exemplo. Foto: Shutterstock.com Os recursos disponíveis no meio digital podem favorecer, então, o surgimento de novos gêneros textuais, como o meme, além de contribuírem para alguma alteração formal na construção composicional de outros gêneros textuais. OS GÊNEROS TEXTUAIS EM SALA DE AULA Ao estudarmos conceitos, características e propriedades dos gêneros textuais, precisamos lembrar que o trabalho com os textos em sala de aula deve ser marcado pela diversidade de tipos de texto e de 1. Que designa vários objectos distintos, mas do mesmo género , com o mesmo sentido: Planeta é termo unívoco de Vénus e de Marte. gêneros textuais. Usar diversos tipos de texto implica desenvolver práticas de leitura e de escrita com textos narrativos, descritivos, dissertativos e injuntivos ou instrucionais. A diversidade em relação aos gêneros textuais deve abranger tantos os gêneros orais quanto escritos. Como você aprendeu ao longo deste conteúdo, os diferentes gêneros textuais dão conta da variedade de discursos presentes nas situações de comunicação e de interação. RECOMENDAÇÃO Assim, é preciso transitar entre gêneros textuais orais e escritos como o e-mail, o debate, a entrevista, a propaganda, o resumo, a charge, o conto, o bilhete, a bula de remédio, a receita culinária, a lista de compras etc. Além de identificar as características e propriedades de cada gênero, é importante buscar os sentidos de cada texto ou discurso e desenvolver atividades de produção textual. Assim, promovemos o conhecimento do que são e como funcionam os gêneros textuais e desenvolvemos práticas de leitura e produção textual. Agora, vamos rever o que aprendemos? Para isso, complete as frases com as palavras do quadro. aproximem atividade humana comunicação contexto comunicativo estáveis gênero interação Como vimos, a propriedade da construção composicional dos gêneros textuais está relacionada ao modo como o texto se organiza em suas ---------- . O ---------- é compreendido como a manifestação de uma atividade de linguagem sócio-histórica, isto é, os gêneros textuais. memes partes internas texto Ao ser textualizado, um ---------- apresenta particularidades composicionais, que podem sofrer variações segundo o campo de ---------- e o ---------- . Os gêneros textuais mais ---------- tendem a manter os elementos composicionais mais recorrentes, a exemplo da receita culinária e do projeto de pesquisa, enquanto outros estão expostos a uma variação radical, a exemplo dos ---------- . Finalmente, diante da riqueza dos gêneros textuais, devemos promover o trabalho com a maior variedade possível de gêneros para que a leitura e a produção de textos se ---------- cada vez mais das situações de ---------- e ---------- nos diferentes espaços da vida em sociedade. RESPOSTA A sequência correta é: Como vimos, a propriedade da construção composicional dos gêneros textuais está relacionada ao modo como o texto se organiza em suas partes internas. O texto é compreendido como a manifestação de uma atividade de linguagem sócio-histórica, isto é, os gêneros textuais. Ao sertextualizado, um gênero apresenta particularidades composicionais, que podem sofrer variações segundo o campo de atividade humana e o contexto comunicativo. Os gêneros textuais mais estáveis tendem a manter os elementos composicionais mais recorrentes, a exemplo da receita culinária e do projeto de pesquisa, enquanto outros estão expostos a uma variação radical, a exemplo dos memes. Finalmente, diante da riqueza dos gêneros textuais, devemos promover o trabalho com a maior variedade possível de gêneros para que a leitura e a produção de textos se aproximem cada vez mais das situações de comunicação e interação nos diferentes espaços da vida em sociedade. A CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL Assista ao vídeo com a professora Aline Saddi Chaves trazendo explicações e exemplos sobre a construção composicional como propriedade dos gêneros textuais. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. A CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL É UMA DAS PROPRIEDADES DOS GÊNEROS TEXTUAIS. CONSIDERANDO ESSA PROPRIEDADE ESPECÍFICA, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) A propriedade da construção composicional é responsável pela estabilidade dos gêneros textuais. B) Não é possível prever a forma como um texto se organiza ou identificar como se dá a sua construção composicional. C) O suporte do gênero textual pode modificar sua construção composicional. D) A conservação dos gêneros textuais depende de sua construção composicional. E) Nos gêneros textuais do suporte digital, a construção composicional é exclusivamente imagética. 2. NOS GÊNEROS TEXTUAIS DO AMBIENTE DIGITAL, COMO O MEME, A CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL É: A) heterogênea. B) homogênea. C) apenas não verbal. D) verbal E) padrão estético invariável. GABARITO 1. A construção composicional é uma das propriedades dos gêneros textuais. Considerando essa propriedade específica, assinale a alternativa correta: A alternativa "C " está correta. A construção composicional é afetada quando o suporte de veiculação do gênero textual é alterado. A título de exemplo, uma receita culinária ou um diário, quando escritos em um caderno, sofrem alterações quando transportados para o ambiente digital. Isso porque, neste suporte, há um enriquecimento do texto com o acréscimo de imagens e hiperlinks, que, ao remeterem a outros conteúdos da web, instituem um novo modo de ler os textos, isto é, novos letramentos ou letramentos digitais. 2. Nos gêneros textuais do ambiente digital, como o meme, a construção composicional é: A alternativa "A " está correta. Nos gêneros textuais do ambiente digital, a construção composicional apresenta inúmeras variações: mistura de linguagem verbal e não verbal, ausência de padrão estético (formal), diferentes finalidades comunicativas. Por esse motivo, sua construção composicional é heterogênea, mas não pode ser considerada radical, inédita ou imprevisível, porque todo gênero textual mantém uma ou outra característica mais ou menos estável, sem a qual a comunicação seria impossível. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Como pudemos ver, os gêneros textuais fazem parte de nosso dia a dia, mediando as interações por meio da linguagem humana, uma atividade complexa e heterogênea que envolve parâmetros, tipos de linguagem, competências e finalidades. Quando nos comunicamos, empregamos sempre um gênero textual, seja oral, seja escrito, no intuito de nos adaptarmos ao ouvinte ou leitor. É por meio dos gêneros textuais que expressamos nossas ideias, compartilhamos nossas visões de mundo, em sintonia com a evolução dos comportamentos humanos. Com o advento da Internet, os gêneros textuais se transformam e se multiplicam, renovando as práticas de linguagem já existentes, e estabelecendo novos modos de construção de sentido. Os gêneros emergentes do ambiente digital são uma realidade da linguagem e também um desafio em termos de definição e estabilidade dos gêneros textuais. De tudo o que estudamos, deve permanecer a ideia de que os gêneros textuais não são estruturas rígidas, mas atividades de linguagem dinâmicas e flexíveis, na medida em que refletem os fenômenos sociais no curso da história. Enfim, mesmo que os gêneros apresentem regimes e propriedades que asseguram mais ou menos sua estabilidade, a exemplo de sua denominação, seu tema, seu estilo verbal e sua construção composicional, todos esses elementos devem ser apreendidos de forma íntegra, e sempre em relação a um contexto de produção — o campo de atividade humana — e de circulação — o contexto comunicativo. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra; notas da edição russa Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988. FIORIN, J. L. A linguagem humana: do mito à ciência. In: FIORIN, J. L. (org.). Linguística: que é isso? São Paulo: Contexto, 2012, p. 13-43. FIORIN, J. L. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2008. MAINGUENEAU, D. Diversidade dos gêneros de discurso. In: MACHADO, I. L.; MELLO, R. (orgs.). Gêneros: reflexões em análise do discurso. Belo Horizonte: NAD/FALE/UFMG, 2004, p. 43-57. EXPLORE+ Leia o texto Gêneros textuais: definição e funcionalidade, de um dos maiores conhecedores dos gêneros textuais no Brasil, o linguista Luiz Antônio Marcuschi. O texto está disponível no portal da USP. Aprofunde seus estudos sobre os gêneros textuais e sua relação com as novas mídias com o livro Hipermodernidade, multiletramentos e gêneros discursivos, de Roxane Rojo. Antes, você pode ler a resenha que saiu desse livro. Procure na Internet pelo texto Hipermodernidade, multiletramentos e gêneros discursivos, de Edvania Bandeira. Para uma interessante abordagem da relação entre a linguagem e os gêneros textuais, assista ao vídeo Linguagem e dialogismo, com a pesquisadora e professora da USP Beth Brait, disponível no canal da UNIVESP no YouTube. Confira explicações e exemplos de trabalho com gêneros textuais na sala de aula no vídeo Gêneros do discurso, com a linguista e professora Maria Inês Campos, no canal da UNIVESP no YouTube. CONTEUDISTA Aline Saddi Chaves CURRÍCULO LATTES javascript:void(0);
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