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Gêneros textuais

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DESCRIÇÃO
Estudo das propriedades formais e funcionais dos gêneros textuais sob uma perspectiva de linguagem
como ação e interação entre sujeitos.
PROPÓSITO
Compreender os gêneros textuais na sua relação com a linguagem como experiência de interação e a
partir de suas diferentes propriedades para ampliar o domínio das competências leitora e escritora.
PREPARAÇÃO
Tenha em mãos um dicionário de Linguística para consultar os termos específicos da área. Na Internet
você pode acessar o Dicionário de Termos Linguísticos, hospedado no Portal da Língua Portuguesa.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
Comparar o uso da linguagem com o conceito de gênero textual
MÓDULO 2
Identificar o tema e o estilo verbal como propriedades dos gêneros textuais
MÓDULO 3
Identificar a construção composicional como propriedade dos gêneros textuais
INTRODUÇÃO
Você já pensou nas diversas situações em que usamos a língua para interagir com as pessoas, para
desenvolver nossas atividades no trabalho ou para resolvermos problemas do nosso dia a dia?
Em todas as situações de comunicação e interação por meio da língua, lidamos com textos que têm
finalidades e características específicas. Estamos, na verdade, lidando com diversos gêneros textuais.
Por isso, precisamos aprender mais sobre os gêneros textuais.
Vamos, então, conhecer alguns conceitos importantes na relação entre linguagem e gênero para,
depois, estudarmos as propriedades dos gêneros textuais.
MÓDULO 1
 Comparar o uso da linguagem com o conceito de gênero textual
LINGUAGEM E GÊNERO TEXTUAL
Vamos situar o conceito de gênero textual no interior dos estudos da linguagem, uma etapa necessária
para estabelecer os princípios de base da comunicação humana, a qual se efetiva por meio de gêneros
textuais, orais e escritos.
 
Imagem: Shutterstock.com
A linguagem humana não é somente um instrumento de comunicação, mas também uma forma de ação
e interação entre sujeitos. Está necessariamente vinculada a um contexto comunicativo, que obedece a
um conjunto de parâmetros, responsáveis por regular a comunicação.
A linguagem humana possui diferentes modos de significação, competências e finalidades.
Os gêneros textuais constituem uma unidade da comunicação, assegurando o reconhecimento e a
conservação dos textos nos mais variados campos de atividade humana.
 ATENÇÃO
No entanto, esses dispositivos comunicacionais — os gêneros textuais — não devem ser
compreendidos como formas estáticas, pois estão sujeitos à variação em função do campo de atividade
humana em que são produzidos, assim como do contexto comunicativo em que circulam.
INTERAÇÃO PELA LINGUAGEM E GÊNEROS
TEXTUAIS
Como já pontuamos, a linguagem é uma forma de ação e interação entre sujeitos.
Seja na modalidade oral, escrita ou sinalizada (línguas de sinais), os falantes se comunicam tendo em
vista um sujeito receptor real — como em uma conversa entre amigos — ou fictício — como o leitor de
um romance, projetado pelo autor.
Desse modo, o uso que os falantes fazem da linguagem não acontece de forma desvinculada de um
contexto, que é determinado pelos parâmetros da comunicação.
Podemos listar como parâmetros da comunicação:
As pessoas (falante/ouvinte);
O espaço;
O tempo;
O suporte (impresso, eletrônico, audiovisual);
O registro de linguagem (culto, padrão, coloquial, popular).
Esses parâmetros são responsáveis por regular a comunicação entre o polo produtor e o polo receptor
do texto.
Desse modo, o falante adapta sua linguagem ao receptor (ouvinte, leitor) real ou potencial dos textos
que produz.
Disso se conclui que toda produção e recepção de linguagem encontra-se envolvida em um contexto
comunicativo.
Mas, contrariamente ao que se pode pensar, o falante não possui total liberdade para se comunicar. Ao
se adaptar ao receptor, o falante obedece, de forma mais ou menos espontânea, a certos padrões de
uso da linguagem, que adquirem forma e acabamento nos gêneros textuais.
É possível que em determinado gênero textual alguém precise se ater mais rigorosamente à língua
padrão e a formatos específicos na organização do texto, enquanto em outro gênero textual prevaleça a
informalidade ou mesmo um tom jocoso ou bem-humorado dadas as exigências daquele gênero em
função de seu contexto e finalidade (como fazer rir, por exemplo).
Portanto, para se definir os gêneros textuais, é preciso conceber a linguagem humana como atividade
entre sujeitos (uma interação), em suas diferentes dimensões e finalidades.
O CARÁTER HETEROGÊNEO DA LINGUAGEM
Uma dimensão importante da linguagem humana é seu caráter heterogêneo.
Além de se realizar por meio de unidades verbais (palavras escritas ou faladas), a linguagem também
possui modos de significação não verbais.
que provoca o riso; engraçado, divertido, cômico.
 EXEMPLO
Uma tela de pintura, apesar de prescindir de elementos verbais, comunica algum conteúdo, por meio de
cores, formas, texturas.
Uma das mais célebres pinturas da história da arte, a Monalisa, do pintor italiano Leonardo da Vinci
(1452-1519), retrata uma aristocrata florentina do século XVI. O sucesso da obra deve-se, em boa parte,
à técnica empregada pelo artista, conferindo à figura retratada um ar de mistério, manifestado,
sobretudo, em seu olhar e seu sorriso.
 
Imagem: Leonardo da Vinci /Wikimedia Commons/Domínio Público
 Monalisa, Museu do Louvre, entre 1503 e 1506.
Assim sendo, a linguagem humana se realiza por meio de elementos verbais e não verbais, como
gestos, expressões faciais, cores, formas, texturas.
Com as novas tecnologias da informação e comunicação (TICs), a dimensão heterogênea da linguagem
expande-se cada vez mais: sorrisos, abraços, entre outras reações típicas da comunicação “real”, em
face a face, são significados por desenhos, os emojis, emoticons, stickers.
COMPETÊNCIAS E FINALIDADES DA LINGUAGEM
Outra dimensão da linguagem diz respeito às diferentes competências que envolvem sua produção e
recepção.
Dispensar
Ao se comunicar, seja falando, seja escrevendo, seja sinalizando, o usuário da língua coloca em prática
mais do que o conhecimento da gramática de uma língua. Com efeito, outras competências estão
envolvidas no ato de comunicação e podem ser reunidas nos seguintes tipos de saberes:
LINGUÍSTICO
Conhecimento da gramática de uma língua.
SOCIOLINGUÍSTICO
Conhecimento das normas sociais que se refletem nos usos da língua.
PRAGMÁTICO
Saber ligado à intencionalidade do falante.
TEXTUAL
Saber relacionado às regras da textualidade, a exemplo da coesão e da coerência.
GENÉRICO
Saber relacionado às formas prototípicas dos textos, isto é, os aspectos que caracterizam a forma de
determinado gênero textual.
ENCICLOPÉDICO
Conhecimento de mundo, adquirido por experiência ou por transmissão.
IDEOLÓGICO
Saber referente ao posicionamento histórico e social a partir do qual o falante se comunica.
ENFIM, A LINGUAGEM HUMANA POSSUI DIFERENTES
FINALIDADES OU FUNÇÕES.
 
Imagem: Shutterstock.com
Segundo Fiorin (2012), falamos ou escrevemos para:
Estabelecer um contato com o receptor (função fática);
Persuadir o receptor (função conativa);
Informar algo (função referencial);
Falar sobre a própria linguagem (função metalinguística);
Provocar uma ação (função pragmática);
Demonstrar sentimentos (função emotiva);
Proporcionar o riso (função lúdica);
Criar realidades (função poética);
Estabelecer uma identidade social (função identitária).
Tendo como princípio que a linguagem humana é uma atividade de ação e interação entre sujeitos, e
que comporta diferentes dimensões e finalidades, podemos definir o caráter e os usos da linguagem,
isto é, os gêneros textuais.
GÊNEROS TEXTUAIS: DEFINIÇÃO
O filósofo russo Mikhail Bakhtin (1895-1975) é considerado o autor do conceito de “ gêneros do
discurso”.
GÊNEROS DO DISCURSO
Os termos gêneros do discurso e gêneros textuais são usados como equivalentes por diversos
autores.
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levar (alguém ou a si mesmo) a acreditar, a aceitar ou a decidir (sobre algo); convencer(-se)evocar, sugerir, lembrar, significar, indicar, implicar, invocar, manifestar, expressar.
 
Foto: Shutterstock.com
Sua reflexão surgiu a partir da constatação de que outros campos do saber, a exemplo da Literatura e
da Filosofia, elaboraram suas próprias tipologias de gêneros.
Para Bakhtin (2016), no campo da Literatura, teríamos os gêneros literários (como o conto, o romance, a
novela). No campo da Filosofia, teríamos os gêneros retóricos (gêneros da política, do judiciário, da
praça pública).
Conforme o filósofo russo, a linguística, ciência novata no início do século XX, pecava por não fornecer
as bases de um estudo sistemático dos gêneros do discurso produzidos e circulados na sociedade, em
diferentes campos de atividade humana.
Surge, então, a definição clássica dos gêneros do discurso:

TODOS OS DIVERSOS CAMPOS DA ATIVIDADE HUMANA
ESTÃO LIGADOS AO USO DA LINGUAGEM [...]. O EMPREGO
DA LÍNGUA EFETUA-SE EM FORMA DE ENUNCIADOS
(ORAIS E ESCRITOS) CONCRETOS E ÚNICOS, PROFERIDOS
PELOS INTEGRANTES DESSE OU DAQUELE CAMPO DA
ATIVIDADE HUMANA [...]. EVIDENTEMENTE, CADA
ENUNCIADO PARTICULAR É INDIVIDUAL, MAS CADA
CAMPO DE UTILIZAÇÃO DA LÍNGUA ELABORA SEUS TIPOS
RELATIVAMENTE ESTÁVEIS DE ENUNCIADOS, OS QUAIS
DENOMINAMOS GÊNEROS DO DISCURSO.
(BAKHTIN, 2016, p. 11)
Essa definição inaugura uma concepção inovadora de linguagem, ao vincular as formas e usos da
linguagem ao campo de atividade humana em que os textos são elaborados e postos em circulação.
Para Bakhtin, a aparente desordem da linguagem adquire uma coerência, a partir do momento em que
se correlacionam os textos aos lugares sociais em que eles são produzidos.
Vejamos alguns exemplos que são considerados por Bakhtin como “enunciados” de gêneros do
discurso, porque estão vinculados a determinado campo de atividade humana:
PETIÇÃO JURÍDICA
É um gênero típico do campo judiciário.
E-MAIL INSTITUCIONAL
Circula entre pessoas da mesma instituição (uma universidade, uma empresa, um ministério do
governo).
FICHAMENTO
É um gênero característico do campo acadêmico.
DITADO
Assim como o fichamento, o ditado circula no campo escolar.
DEBATE POLÍTICO
Gênero proferido no campo da política.
RECONHECIMENTO E CONSERVAÇÃO DOS
GÊNEROS TEXTUAIS
Os gêneros textuais possuem em comum certas particularidades, as quais predefinem sua estabilidade
no meio em que circulam, assegurando seu reconhecimento pelo leitor/ouvinte e sua conservação na
história.
Um dos elementos que asseguram o reconhecimento e a conservação dos gêneros textuais é sua
denominação.
 EXEMPLO
Um poema, um soneto, um conto ou um romance não são simples “etiquetas”, mas um modo de
conceber diferentes formas e funções assumidas pelos textos literários.
Enquanto o poema e o soneto são escritos em versos, o conto e o romance são manifestações da
prosa.
E ainda, o soneto é um tipo particular de poema, composto por quatro estrofes, sendo dois quartetos (4
versos) e dois tercetos (3 versos).
Já a diferença entre conto e romance está relacionada à presença de uma única intriga no conto e de
várias no romance, dentre outras particularidades.
A denominação também é um fator de reconhecimento e conservação dos gêneros textuais porque
constitui uma forma de organizar o caos aparente da linguagem.
 
Imagem: Shutterstock.com
Em um site de notícias, a diversidade de textos publicados não impede que o leitor se situe e adote um
certo comportamento, tendo em vista a denominação que cada texto recebe: notícia, reportagem, artigo
de opinião, editorial, entrevista.
 
Imagem: Shutterstock.com
No discurso jornalístico, os gêneros textuais dividem-se em informativos (notícia, reportagem) e
opinativos (editorial, artigo de opinião, entrevista).
Essa categorização dos textos, com base em seu regime genérico, é, em boa parte, responsável pela
construção do sentido do texto por parte do receptor.
Na comunicação oral, observa-se a mesma realidade. Veja:
 
Imagem: Shutterstock.com
Uma aula, um telefonema, um seminário acadêmico, uma palestra, um pronunciamento do Presidente
da República, dentre outros gêneros textuais orais, são facilmente reconhecidos a partir de sua
denominação.
Por meio dos gêneros textuais, opera-se uma classificação dos textos, constituindo uma tipologia não
exaustiva.
Entretanto, ainda que a denominação dos gêneros textuais seja de grande auxílio para seu
reconhecimento e conservação, por outro lado, há textos que fogem a essa lógica.
No campo da Literatura, muitas obras são intituladas pela denominação de outros gêneros textuais.
 EXEMPLO
Cartas persas (1721), do filósofo francês Montesquieu; O diário de Anne Frank (1942), de Anne Frank;
Elogio da loucura (1511), de Erasmo de Roterdã; A Bíblia de Amiens (1880), de John Ruskin; O Código
Da Vinci (2003), de Dan Brown; entre outros.
Em todos esses exemplos, não se trata de cartas, diário, elogio, Bíblia ou código, mas de obras de
ficção literária, algumas de cunho filosófico, biográfico, policial.
É necessário, portanto, avançar um pouco mais na compreensão do funcionamento dos gêneros
textuais.
GÊNEROS TEXTUAIS EMERGENTES E
REGIMES DE GENERICIDADE
A era da comunicação em massa, propulsionada pelo desenvolvimento das mais diversas mídias no
suporte digital, coloca inúmeros desafios para uma definição segura de gêneros textuais.
 
Foto: Shutterstock.com
QUAL É A DIFERENÇA, POR EXEMPLO, ENTRE
DIÁRIO E BLOG?
RESPOSTA
À primeira vista, diferem apenas com relação ao suporte: enquanto o diário é escrito no suporte impresso, o
blog é veiculado no suporte digital. 
 
No entanto, os blogs não se limitam a relatar as impressões pessoais do dia a dia de seu escritor, como
acontecia nos antigos diários. Há blogs pessoais, mas também comerciais; a comunicação é verbal, mas
pode ser enriquecida por fotografias, remissões a outros conteúdos e sites. O blog também pode suportar
outros gêneros textuais: biografia, entrevista, relato de viagem, relato histórico, e-book, meme.
A comunicação em massa nos ambientes digitais dá origem, ainda, a novos gêneros textuais. Estamos
falando dos chamados gêneros emergentes, para os quais ainda não existem denominações nem
definições claras.
O comentário do leitor, tão comum nas redes sociais, é um gênero textual? E o que dizer do meme e sua
heterogeneidade radical? As mensagens instantâneas de aplicativos são uma evolução da conversa ou
do telefonema?
PARA TENTAR RESOLVER ESSA QUESTÃO, PARTIREMOS
DO SEGUINTE PRINCÍPIO: OS GÊNEROS TEXTUAIS SE
DEFINEM MENOS POR ASPECTOS FORMAIS DO QUE POR
ASPECTOS FUNCIONAIS.
Isso quer dizer que o gênero textual se define mais pelo campo de atividade humana em que ele é
produzido e pelo contexto comunicativo em que ele circula.
Embora os aspectos formais sejam importantes para se descrever o funcionamento de um gênero
textual, como veremos nos próximos módulos, eles não são uma garantia completa para o aprendizado
javascript:void(0)
dessas formas complexas de linguagem que são os gêneros textuais, como explica Fiorin:

O GÊNERO UNE ESTABILIDADE E INSTABILIDADE,
PERMANÊNCIA E MUDANÇA. DE UM LADO, RECONHECEM-
SE PROPRIEDADES COMUNS EM CONJUNTOS DE TEXTO;
DE OUTRO, ESSAS PROPRIEDADES ALTERAM-SE
CONTINUAMENTE. ISSO OCORRE PORQUE AS ATIVIDADES
HUMANAS, SEGUNDO O FILÓSOFO RUSSO, NÃO SÃO NEM
TOTALMENTE DETERMINADAS NEM ALEATÓRIAS.
(FIORIN, 2008, p. 69)
REGIMES GENÉRICOS
Considerando, portanto, que o campo de atividade humana e o contexto comunicativo são fatores
centrais para o reconhecimento, a conservação e a definição dos gêneros textuais, propomos uma
classificação dos gêneros textuais com base em seu maior ou menor grau de variação, em função do
campo de atividade humana em que ele é produzido.
Chamaremos esses graus de “regimes genéricos”.
Confira a seguir os regimes genéricos segundo o campo de atividade humana, baseado em
Maingueneau (2004).
CATEGORIA 1
CATEGORIA 2
CATEGORIA 3
CATEGORIA 4
CATEGORIA 1
Gêneros estáveis, geralmente sem autoria, produzidos nos campos de atividadehumana mais
institucionalizados, na esfera pública e privada, a exemplo de documentos públicos, correspondência
comercial, fichas administrativas, entre outros.
CATEGORIA 2
Gêneros mais ou menos estáveis, produzidos em campos de atividade humana diversos, nos quais os
gêneros produzidos estão submetidos a normas, mas aceitam variações. Um guia de viagem, um site
comercial, uma notícia de agência jornalística são alguns exemplos.
CATEGORIA 3
Gêneros instáveis, produzidos nos campos da publicidade, da música, das mídias em geral. Os
gêneros desta categoria caracterizam-se pela inovação permanente, tendo em vista a necessidade de
captar a atenção do receptor.
CATEGORIA 4
Gêneros autorais, providos de autoria e produzidos nos campos da Literatura e da Filosofia. Os
gêneros autorais caracterizam-se, ainda, pela originalidade, ao fundar discursos que servem de fonte
para os gêneros das outras categorias.
 
Imagem: Shutterstock.com
O gênero textual anúncio publicitário manifesta um baixo grau de estabilidade em seu regime
genérico.
Isso se explica pela necessidade de inovação e criatividade no campo da publicidade, que deve atingir
um receptor exaustivamente exposto a mensagens publicitárias
 
Imagem: Shutterstock.com
Por outro lado, a carta do leitor é um gênero textual mais ou menos estável, pois, apesar de ser
possível antecipar o propósito para o qual o leitor decide reagir a uma publicação jornalística (reclamar,
elogiar, sugerir, criticar), não é possível antecipar o teor do texto.
Os exemplos citados referem-se, respectivamente, às categorias 3 e 2. No módulo 2, você verá
exemplos de outras categorias quando for estudar aspectos dos gêneros textuais que envolvem essas
categorias.
 RELEMBRANDO
Até aqui, pudemos situar os gêneros textuais no interior da chamada perspectiva dialógica da
linguagem, inaugurada pelos estudos bakhtinianos.
Nessa concepção, a linguagem é o produto da interação verbal entre pelo menos dois falantes, e sua
unidade é o conjunto de enunciados que compõem um dado gênero textual.
A comunicação humana se realiza por meio de gêneros textuais, que integram unidades verbais (a
língua) e não verbais, com diferentes dimensões, finalidades e denominações.
No entanto, os gêneros textuais não devem ser concebidos como categorias estáticas ou rígidas, pois
estão sujeitos à variação em função do campo de atividade humana e do contexto comunicativo.
GÊNERO TEXTUAL E TIPO TEXTUAL
Assista ao vídeo com a professora Aline Saddi Chaves explicando o conceito de gênero textual e
falando sobre os tipos textuais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. CONSIDERE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR SOBRE A RELAÇÃO ENTRE A
LINGUAGEM E OS GÊNEROS TEXTUAIS: 
 
I – A RESPEITO DAS COMPETÊNCIAS ENVOLVIDAS EM TODA AÇÃO E
INTERAÇÃO DE LINGUAGEM ENTRE SUJEITOS, DEVEMOS RECONHECER QUE
AS NORMAS SOCIAIS INFLUENCIAM A PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DOS TEXTOS. 
 
II – O CONCEITO DE GÊNERO TEXTUAL ESTÁ RELACIONADO APENAS COM A
LINGUAGEM ESCRITA, CORRESPONDENDO TÃO SOMENTE AOS TEXTOS
LITERÁRIOS E FILOSÓFICOS. 
 
III – É POSSÍVEL QUE UM GÊNERO TEXTUAL OBEDEÇA A UM PADRÃO OU
SEJA ADEQUADO A DETERMINADAS EXIGÊNCIAS SOCIAIS, COMO O USO DA
NORMA PADRÃO DA LÍNGUA. 
 
IV – OS USOS DA LINGUAGEM, NAS SITUAÇÕES DE COMUNICAÇÃO E
INTERAÇÃO, NÃO ESTÃO RELACIONADOS COM O CONCEITO DE GÊNERO
TEXTUAL PORQUE TAL CONCEITO SE RESUME À CLASSIFICAÇÃO DO TIPO DE
TEXTO. 
 
ESTÃO CORRETAS APENAS AS AFIRMATIVAS:
A) I e II.
B) I e III.
C) II e III.
D) II e IV.
E) III e IV.
2. CONSIDERANDO O QUE VOCÊ ESTUDOU SOBRE O FUNCIONAMENTO DOS
GÊNEROS TEXTUAIS, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) Para o leitor, a denominação é o principal fator de reconhecimento dos gêneros textuais.
B) A dimensão funcional dos gêneros textuais se sobrepõe aos aspectos formais do texto.
C) O campo de atividade humana da publicidade tem como principal característica a autoria.
D) Os gêneros emergentes não podem ser classificados, nem mesmo estudados por serem ainda muito
recentes.
E) Os regimes genéricos estão diretamente ligados aos aspectos formais dos gêneros textuais.
GABARITO
1. Considere as afirmativas a seguir sobre a relação entre a linguagem e os gêneros textuais: 
 
I – A respeito das competências envolvidas em toda ação e interação de linguagem entre
sujeitos, devemos reconhecer que as normas sociais influenciam a produção e recepção dos
textos. 
 
II – O conceito de gênero textual está relacionado apenas com a linguagem escrita,
correspondendo tão somente aos textos literários e filosóficos. 
 
III – É possível que um gênero textual obedeça a um padrão ou seja adequado a determinadas
exigências sociais, como o uso da norma padrão da língua. 
 
IV – Os usos da linguagem, nas situações de comunicação e interação, não estão relacionados
com o conceito de gênero textual porque tal conceito se resume à classificação do tipo de texto. 
 
Estão corretas apenas as afirmativas:
A alternativa "B " está correta.
 
Uma das competências envolvidas na comunicação é o saber sociolinguístico, que está relacionado ao
papel determinante das normas sociais sobre os usos da língua. Essas normas podem ser explícitas ou
tácitas, a depender do campo de atividade humana e do contexto comunicativo da interação. A título de
exemplo, a variante linguística empregada por Chico Bento, personagem de história em quadrinhos,
orienta o sentido de suas falas e cria efeitos de sentido de humor, tendo-se em vista uma representação
do homem caipira na sociedade brasileira, ainda mais se considerarmos que os leitores de HQ se
encontram nos centros urbanos. A mesma coisa pode ser dita com relação a um gênero textual mais
padronizado, como a ficha de inscrição para se matricular em um curso. Nesse caso, as normas sociais
exigem o emprego da norma padrão da língua portuguesa.
2. Considerando o que você estudou sobre o funcionamento dos gêneros textuais, assinale a
alternativa correta:
A alternativa "B " está correta.
 
Apesar de os gêneros textuais apresentarem uma denominação e um conjunto de propriedades formais,
tais aspectos são superados pela dimensão funcional dos gêneros, isto é, seu contexto de produção
(campo de atividade humana), circulação (suporte) e recepção (contexto comunicativo). Um livro
intitulado “Diário” não deixará de ser uma obra de ficção autobiográfica somente em razão de sua
denominação. Ou ainda, um anúncio publicitário em forma de fábula não deixa de ser um anúncio
simplesmente porque coloca em cena personagens não humanos ou fantásticos em torno de um
enredo. Por isso, diz-se que os gêneros textuais se definem menos por sua forma do que por sua função
em dado contexto.
MÓDULO 2
 Identificar o tema e o estilo verbal como propriedades dos gêneros textuais
O TEMA
Vamos estudar a primeira propriedade dos gêneros textuais: o tema.
 
Imagem: Shutterstock.com
O tema, ou conteúdo temático, é uma das propriedades dos gêneros textuais, e não deve ser
confundido com o assunto abordado em um texto.
 EXEMPLO
Tomemos por exemplo uma receita culinária de torta de maçã, veiculada em um programa televisivo. O
assunto do programa é sobre torta de maçã, mas seu tema refere-se ao conjunto dos temas possíveis
no referido campo de atividade humana.
A distinção entre assunto e tema é importante para identificar o universo temático de um gênero textual.
Nesse sentido, toda receita culinária tem como tema o preparo de um alimento.
Da mesma forma, um gênero como o fichamento terá como tema uma obra de referência indicada pelo
professor; o e-mail institucional versará sobre assuntos restritos à esfera institucional.
O TEMA EM GÊNEROS INSTÁVEIS
1. manusear; manejar
2.	examinar ou estudar minuciosamente
3.	praticar; exercitar
4.	abordar, tratar
5.	dizer respeito a; incidir em; tratar de
Vejamos um exemplo de gênero textual da categoria 3 (os gêneros instáveis), que é mais propenso à
variação.
Na campanha publicitária de uma marca de cosméticos brasileira, em 2005, uma das peças trazia a
imagem deuma modelo vestida com um capuz vermelho e a seguinte inscrição: “Use o Boticário e
ponha o Lobo Mau na coleira”.
O assunto do anúncio não tem relação imediata com o propósito do gênero, isto é, a promoção de um
produto para venda e consumo. Em vez disso, coloca-se em cena uma modelo caracterizada com as
vestimentas da conhecida personagem das histórias infantis: Chapeuzinho Vermelho.
Os dizeres remetem a outro personagem da história, o Lobo Mau, que, na versão desse anúncio
publicitário, submete-se à personagem feminina, orientando a leitura para a afirmação do lugar da
mulher (potencial consumidora) na sociedade: não mais mocinha, agora vilã, metáfora da mulher
independente e empoderada.
Essa leitura é possível tendo-se em mente o universo temático do gênero textual “anúncio publicitário”,
pertencente à Categoria 3 dos regimes de genericidade: fundamentalmente instáveis e sujeitos à
variação (MAINGUENEAU, 2004).
Essa leitura é reforçada, ainda, pelo histórico dos outros anúncios da referida marca de cosméticos, que,
desde as últimas décadas, busca construir uma imagem afinada com os valores contemporâneos.
O TEMA EM GÊNEROS ESTÁVEIS
Vejamos, agora, um gênero textual da categoria 1, isto é, estável e geralmente desprovido de autoria.
 
Imagem: Aline Saddi Chaves
 Formulário de inscrição.
O gênero textual em questão é uma ficha de inscrição para tornar-se sócio de uma associação de
professores.
Com relação ao tema desse gênero, um conhecimento prévio orienta o leitor para informações relativas
a dados pessoais do futuro associado, sua categoria, o local, a data e a assinatura daquele que
preenche a ficha. Os dados pessoais referem-se a nome completo, data de nascimento, números de
documentos pessoais de identificação (RG e CPF), endereço, número de telefone, e-mail. Já a categoria
refere-se à situação do sócio: se professor de francês, sua formação, seu local de trabalho; se
estudante, seu nível de conhecimentos, a escola onde aprende o idioma; se cultor da língua francesa, o
nome da pessoa ou estabelecimento de ensino que o indicou.
 
Imagem: Shutterstock.com
Todos esses elementos relacionam-se ao tema do gênero textual “ficha de inscrição”, que, como nesse
exemplo, dispensa a assinatura do produtor do texto, por tratar-se de um campo de atividade humana
relacionado a uma instituição: uma associação de professores de francês. É nessa medida que um
gênero textual da categoria 1 é desprovido de autoria reconhecida.
Nesta categoria de gêneros textuais, os leitores podem antecipar o tema, pois há uma expectativa sobre
as informações solicitadas.
Não se imagina, por exemplo, que uma ficha de inscrição não solicite dados pessoais, ou que solicite
informações sobre o salário ou orientação sexual do futuro associado.
Em contrapartida, como em todo gênero textual, podem ocorrer instabilidades temáticas, como, por
exemplo, solicitar que o associado anexe sua foto, ou que informe seu contato nas redes sociais, dentre
outras informações que possam ser mais ou menos previstas no interior das regularidades temáticas do
gênero textual em questão.
O TEMA EM GÊNEROS AUTORAIS
Vejamos, finalmente, um exemplo de gênero textual da categoria 4: o soneto.
Esse gênero textual pertence ao campo de atividade humana da Literatura, o que explica sua variação
temática.
Com efeito, não é possível prever sobre qual assunto versará um dado soneto, ainda que tal gênero
textual possua propriedades mais ou menos estáveis, como a construção composicional, isto é, sua
organização textual: duas estrofes de quatro versos (quartetos) e duas estrofes de três versos (tercetos).
A construção composicional será tratada mais adiante, por isso vamos nos ater à propriedade temática
desse gênero textual.
Vejamos este exemplo:
AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER
Amor é fogo que arde sem se ver, 
é ferida que dói, e não se sente; 
é um contentamento descontente, 
é dor que desatina sem doer. 
 
É um não querer mais que bem querer; 
é um andar solitário entre a gente; 
é nunca contentar-se de contente; 
é um cuidar que ganha em se perder. 
 
É querer estar preso por vontade; 
é servir a quem vence, o vencedor; 
é ter com quem nos mata, lealdade. 
 
Mas como causar pode seu favor 
nos corações humanos amizade, 
se tão contrário a si é o mesmo Amor.
(CAMÕES, Luís. Lírica. São Paulo: Cultrix, 1984.)
Esse soneto, do poeta português Luís de Camões, publicado no século XVI, fala sobre o amor, um
sentimento contraditório, que, ao mesmo tempo em que “arde”, não pode ser visto; “dói, e não se sente”;
aprisiona, mesmo que seja voluntariamente.
Essa oposição entre sentimentos provocados pelo amor atravessa todo o soneto, por meio da figura de
estilo chamada “antítese”.
Agora vejamos outro exemplo de soneto, também sobre o amor:
SONETO DE FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor serei atento antes 
E com tal zelo, e sempre, e tanto 
Que mesmo em face do maior encanto 
Dele se encante mais meu pensamento 
 
Quero vivê-lo em cada vão momento 
E em seu louvor hei de espalhar meu canto 
E rir meu riso e derramar meu pranto 
Ao seu pesar ou seu contentamento 
 
E assim quando mais tarde me procure 
Quem sabe a morte, angústia de quem vive 
Quem sabe a solidão, fim de quem ama 
 
Eu possa lhe dizer do amor (que tive): 
Que não seja imortal, posto que é chama 
figura pela qual se opõem, numa mesma frase, duas palavras ou dois pensamentos de sentido contrário (p.ex.: com luz no olhar e trevas no peito); enantiose, síncrise.
Mas que seja infinito enquanto dure 
 
(MORAES, Vinicius de. Poemas, sonetos e baladas. São Paulo: Gaveta, 1946.)
EM QUE O SONETO DO POETA BRASILEIRO
VINICIUS DE MORAES, PUBLICADO NO SÉCULO XX,
DIFERE DO SONETO DE CAMÕES?
RESPOSTA
No soneto do poeta brasileiro Vinicius de Moraes, publicado no século XX, o retrato do amor difere do retrato
daquele visto no soneto de Camões. O título anuncia tratar-se de um soneto de fidelidade, mas o que se lê é
justamente a efemeridade do amor, como na última estrofe: “Que não seja imortal, posto que é chama/ Mas
que seja infinito enquanto dure”.
Em Camões, o amor é retratado como sofrimento incondicional (“lealdade”), enquanto no soneto de Vinicius
de Moraes, o mesmo sentimento é visto como passageiro (“vão momento”).
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Desse modo, os gêneros textuais da Categoria 4, oriundos do campo de atividade humana da Literatura
e da Filosofia, têm por principais características a autoria e a originalidade, aspectos determinantes
nesses campos, nos quais a própria noção de gênero literário é permanentemente renovada,
ressignificada e não raro transgredida.
Isso ocorre porque, para retratar as evoluções dos comportamentos humanos nas diferentes épocas e
sociedades, tais gêneros tendem a sofrer rupturas.
COMO EXPLICA FIORIN (2008, P. 68), “É ESSA
DISSONÂNCIA ENTRE ESTRUTURA COMPOSICIONAL E
CONTEÚDO TEMÁTICO QUE CRIA UM NOVO SENTIDO
PARA A UTILIZAÇÃO DO SONETO”.
Assim, o tema ou conteúdo temático de um texto está relacionado ao funcionamento do gênero textual
como um todo, ou seja, seu campo de atividade humana, seu contexto comunicativo e outras
propriedades que lhe dão forma e acabamento.
Conhecer o conteúdo temático de um texto é particularmente importante para antecipar e relacionar
informações no processo de leitura e compreensão de textos, mas também para ampliar a competência
enciclopédica dos receptores.
O ESTILO VERBAL
A segunda propriedade dos gêneros textuais é o estilo verbal, que, assim como o tema, constitui uma
garantia para a comunicação e reflete o funcionamento de determinado campo de atividade humana.
Tradicionalmente, o termo “estilo” remete ao talento de um escritor, sua criatividade no emprego de
figuras de linguagem, de modo a enriquecer a língua e mostrar todas suas potencialidades, sobretudo
do ponto de vista artístico-literário.
 
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Na teoria bakhtiniana, contudo, o estilo não recebe o tratamento da estilísticaclássica.
Quando falamos em gênero textual, literário ou não, o estilo verbal diz respeito aos elementos
linguísticos mais recorrentes em um dado gênero textual, em nível gramatical (ortografia,
pontuação, morfologia), lexical (vocabulário) e sintático (construção de frases e orações).
Para Bakhtin (2016), “onde há estilo, há gênero”, ou seja, o estilo é predeterminado pelo gênero textual,
que, como vimos, é orientado pelo campo de atividade humana em que ele é produzido.
O ESTILO VERBAL DE UM TEXTO REFLETE, PORTANTO, O
FUNCIONAMENTO DO GÊNERO TEXTUAL COMO UM TODO.
Assim como acontece com o tema, o estilo verbal também está sujeito aos regimes adotados por um
gênero textual. Quanto mais ou menos normativo for o gênero textual, em função de seu campo de
atividade humana, mais ou menos normativo será seu estilo. Em outras palavras, a liberdade do estilo
verbal empregado será menor nos gêneros textuais mais controlados (categorias 1 e 2) e maior nos
gêneros originais ou autorais (categorias 3 e 4).
O ESTILO VERBAL EM GÊNEROS ESTÁVEIS: O
ARTIGO DE LEI
Vejamos agora uma situação exemplar sobre estilo verbal em um texto pertencente ao gênero textual
“artigo de lei”, mais especificamente o Artigo 208 da Constituição Federal do Brasil de 1988.
Trata-se de um gênero textual da categoria 1, próprio aos campos de atividade humana mais
padronizados e controlados, e geralmente desprovidos de um autor individual. No exemplo a seguir,
trata-se do campo de atividade humana da política.
 
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Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de: (EC n. 14/1996, EC
n. 53/2006 e EC n. 59/2009)
I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada
inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria;
II – progressiva universalização do ensino médio gratuito;
III – atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede
regular de ensino;
IV – educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade.
V – acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a
capacidade de cada um;
VI – oferta de ensino noturno regular, adequado às condições do educando;
VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas
suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa
responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada
e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.
(BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.)
Esse trecho da Constituição Federal (CF) está inserido na Seção I do Capítulo III do Título Da ordem
social. Na referida seção, o artigo 208 versa sobre a educação, em meio a outros temas que compõem o
texto da CF, como Organização dos Poderes e Tributação e Orçamento. Dentro dessa configuração
temática e composicional, também está o estilo verbal do gênero textual.
Dentre os recursos linguísticos do gênero textual “artigo de lei”, destacam-se:
 
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A impessoalidade, observável no emprego da terceira pessoa e do sujeito indeterminado, como em
“Compete ao Poder Público recensear [...]”.
 
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A nominalização, isto é, emprego de formas substantivadas, como em “educação básica”, “acesso”,
“oferta”, “atendimento”.
 
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Formas verbais dos tempos Presente e Futuro do Indicativo, indicando que a lei passa a vigorar
plenamente a partir da promulgação do artigo. São exemplos: “O dever do Estado com a educação será
efetivado mediante a garantia de [...]” e “O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público
subjetivo”.
 
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O emprego da norma padrão da língua portuguesa, com observância de flexões de gênero e número
(“as etapas da educação”), regência nominal (“ensino obrigatório”) e verbal (“atendimento ao”, “compete
ao”).
 
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O emprego de vocabulário técnico característico de textos de lei, como em “autoridade competente”,
“direito público subjetivo”, “educando”, “recensear”.
Esse conjunto de características estilísticas permite-nos situar o gênero textual “artigo de lei” na
categoria 1, tendo em vista dois principais aspectos: linguagem padronizada e autoria coletiva.
Podemos notar, ainda, que tais características estão em harmonia com as outras propriedades do artigo
de lei, pois o tema e a construção composicional também indicam o alto grau de normatividade de um
documento público.
O tema da educação e a localização do artigo a esse respeito, dentro da estrutura bastante formal do
artigo de lei, mostram que há pouca, ou nenhuma, liberdade para a criatividade e a individualidade
nesse gênero textual. Prova disso é que as leis levam muito tempo para serem revisadas ou até mesmo
para serem criadas. No campo de atividade humana da política pública, sobretudo em países
republicanos, a vontade da coletividade se sobrepõe à do indivíduo.
O ESTILO VERBAL EM GÊNEROS INSTÁVEIS: AS
TIRINHAS
Em uma tirinha da personagem Chico Bento, encontramos o seguinte diálogo:
“— Mãe, hoje ocê pode contá uma história bem curtinha?
— Uai! Pru que, Chico?
— Pruque cas história grande eu cabo drumindo na metade i fico sem sabê o finar!”
(SOUZA, M. Coleção um tema só: Chico Bento. São Paulo: Panini, 2019.)
Perceba como o estilo verbal é característico do dialeto caipira, uma variante sociolinguística do meio
rural brasileiro, em especial de certas localidades do interior dos estados de São Paulo, Mato Grosso do
Sul, Minas Gerais, Paraná e Goiás.
O tema da tirinha é representativo das histórias vividas por Chico Bento e, sobretudo, de sua
personalidade: preguiçoso, engraçado, debochado, e apesar disso tudo, muito carismático.
Nesse diálogo, em particular, Chico Bento pede à mãe que lhe conte uma história curta para dormir,
porque, segundo ele, se a história for longa, ele acabará dormindo e não ficará sabendo do final. Mas a
personagem tem um modo muito particular de dizer isso, ou melhor, um estilo verbal.
O dialeto caipira se manifesta em toda a tirinha, no emprego dos seguintes recursos estilísticos:
- Desvios de oralidade: “cabo”, “ocê”; 
- Diminutivo “curtinha”; 
- Desvios da norma padrão da língua portuguesa em nível morfológico, como em “cas história”,
onde há ausência de concordância nominal de número (plural); 
- Interjeições, como “uai”; 
- Prosódia caipira, como em “contá”, “pruque”, “sabê”; 
- Pronúncia do “r” caipira, como em “finar”. 
estudo da acentuação vocabular.
A partir desse exemplo, nota-se que o gênero textual “tirinha” manifesta uma instabilidade do ponto de
vista estilístico. Ainda que o leitor possua uma expectativa sobre a variante linguística de Chico Bento, o
dialeto caipira empregado é uma característica dessa história em quadrinhos em particular.
 
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Em outras tirinhas, o estilo verbal empregado será diferente, pois, como vimos, os gêneros da categoria
3 são autorais e buscam a inovação e a criatividade.
Vejamos este diálogo extraído de uma tirinha de Edibar e Edimunda, um casal de meia-idade:
“— Querida, pegue uma cerva pra mim, por favor?
— Estou vendo minha novela!
— Opa, meu celular tá tocando. Alô?
— Oi, sou eu! Já que você tá na cozinha, pegue uma cerveja pra mim? [...].”
(OLIVEIRA, L. Edibar e Edimunda. In: Folha de Londrina, Londrina/PR, 18 mai. 2018.)
Vamos analisar esse último diálogo?
Nesse diálogo, o estilo verbal difere do diálogo anterior ao colocar em cena um casal de meia-idade,
provavelmente em um meio urbano.
O registro de linguagem coloquial,característico do meio urbano, é representado no uso da gíria “cerva”
(cerveja) e no desvio de oralidade “tá” (está). Outros recursos, como a interjeição “opa”, contribuem para
manter a estabilidade do gênero textual, mas permanece a ideia da inovação e da criatividade no
diálogo dessa tirinha, que aborda o tema da vida conjugal em tom cômico e descontraído.
Essas observações são indicativas de que a própria definição de gênero textual é problemática, visto
que está sujeita à instabilidade, ainda que certas regularidades contribuam para garantir sua
compreensão.
 RELEMBRANDO
A esse respeito, é importante lembrar dois aspectos fundamentais dos gêneros textuais: eles são
heterogêneos e relativamente estáveis, como disse Bakhtin.
Essa incompletude dos gêneros textuais é fundamental para a compreensão de como esses dispositivos
de linguagem funcionam.
Por esses motivos, não se pode conceber um gênero textual sem relacioná-lo a seu campo de atividade
humana e ao contexto comunicativo como um todo.
TEMA E ESTILO VERBAL
Assista ao vídeo com a professora Aline Saddi Chaves trazendo comentários e exemplos sobre o tema e
o estilo verbal como propriedades dos gêneros textuais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. UMA DAS PROPRIEDADES DOS GÊNEROS TEXTUAIS É O TEMA. COM
RELAÇÃO À PROPRIEDADE TEMÁTICA DO GÊNERO TEXTUAL “ANÚNCIO
PUBLICITÁRIO”, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) O público-alvo do anúncio não interfere na escolha do tema.
B) O criador do anúncio busca inspiração nos temas da atualidade.
C) Um anúncio de automóveis deve abordar temas da atualidade.
D) O anúncio publicitário não possui autoria.
E) O anúncio publicitário pode abordar qualquer assunto.
2. O ESTILO VERBAL É UMA PROPRIEDADE DOS GÊNEROS TEXTUAIS. ASSIM,
AO AFIRMAR QUE “ONDE HÁ ESTILO, HÁ GÊNERO”, O FILÓSOFO RUSSO
MIKHAIL BAKHTIN PRETENDIA EXPLICAR QUE:
A) Todo gênero textual possui um estilo verbal que se opõe ao tema.
B) O estilo verbal depende de outros aspectos do gênero textual, como o tema.
C) O estilo verbal é uma característica do discurso literário e filosófico.
D) O estilo é uma propriedade estável dos gêneros textuais.
E) A variação estilística tem mais a ver com os recursos verbais do que não verbais do texto.
GABARITO
1. Uma das propriedades dos gêneros textuais é o tema. Com relação à propriedade temática do
gênero textual “anúncio publicitário”, assinale a alternativa correta:
A alternativa "B " está correta.
 
O gênero textual anúncio publicitário é produzido no campo de atividade humana da publicidade,
pertencente à categoria 3, dos gêneros instáveis. Por se tratar de um campo voltado para a inovação e a
criatividade, a publicidade busca incessantemente aproximar-se do público-alvo, consumidor potencial
dos produtos ou serviços anunciados. Desse modo, os temas da atualidade são uma fonte de inspiração
para o setor de criação da publicidade e contribuem para criar ou fortalecer uma imagem de marca.
2. O estilo verbal é uma propriedade dos gêneros textuais. Assim, ao afirmar que “onde há estilo,
há gênero”, o filósofo russo Mikhail Bakhtin pretendia explicar que:
A alternativa "B " está correta.
 
A afirmação do filósofo significa que o estilo verbal está relacionado ao gênero textual como um todo.
Considerando-se que os gêneros discursivos/textuais não são estruturas fixas, mas altamente
maleáveis, visto que refletem o funcionamento de um campo de atividade humana, o estilo verbal
também acompanha as evoluções dos gêneros textuais e a eles se ligam de forma íntegra. Falar em
estilo verbal é também considerar o campo de atividade humana, o contexto comunicativo e as outras
propriedades dos gêneros textuais, como o tema e a construção composicional, que você verá no
módulo 3.
MÓDULO 3
 Identificar a construção composicional como propriedade dos gêneros textuais
A CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Vamos estudar agora a terceira propriedade dos gêneros textuais: a construção composicional. O tema,
o estilo verbal e a construção composicional integram o todo dessas manifestações de linguagem.
A construção composicional diz respeito à forma composicional de um gênero, quando este se
materializa em texto, no interior de um campo de atividade humana e de um contexto comunicativo
preciso.
 
Imagem: Shutterstock.com
Devemos estabelecer, então, uma distinção entre gênero textual e texto. Qual é a diferença entre eles?
O gênero (textual) é uma atividade de linguagem sócio-historicamente situada, enquanto o texto é a
materialização de um gênero textual.
Antes mesmo de um texto ser escrito, ele já pertence a um gênero textual, que orienta sua forma e seu
acabamento, por meio das três propriedades em estudo.
Assim como ocorre com o tema e o estilo verbal, a construção composicional dos gêneros textuais
também apresenta regularidades, mais ou menos estáveis de acordo com o campo de atividade humana
e o contexto comunicativo em que o texto circulará.
A propriedade da construção composicional dos gêneros textuais está relacionada ao modo como os
gêneros se estruturam.
Vamos à primeira situação para exemplificarmos o que estamos falando.
GÊNERO TEXTUAL RECEITA CULINÁRIA
No gênero textual receita culinária, além de um tema e um estilo verbal mais ou menos característicos,
há certa organização das partes que comporão o texto.
Uma receita culinária costuma iniciar por um título, seguido da lista de ingredientes e, finalmente, do
modo de preparo do alimento.
Confira o exemplo a seguir:
 
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 Batata sauté
 
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TEMPO DE PREPARO
40 minutos
 
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RENDIMENTO
6 porções
 
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COMENTÁRIOS
89
 
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LIKES/CURTIDAS
3269
 
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ENVIADA POR
EnsineMe
Ingredientes
1kg de batata-inglesa (tamanho: médio);
1 maço de cheiro-verde (salsa e cebolinha) ou outro tempero verde de sua preferência;
1 cabeça de alho bem amassado;
1/2 cebola picada;
Sal a gosto;
70ml de azeite de oliva.
Modo de preparo
Cozinhe as batatas com as cascas, descasque e reserve.
Em uma panela, refogue o alho e a cebola no azeite.
Em seguida, acrescente o cheiro-verde, o sal e as batatas.
Diminua a chama do fogo e mexa cuidadosamente nas batatas (as batatas devem ficar inteiras).
Pronto, agora é só levar à mesa!
Outras informações
Você pode servir as batatas acompanhadas de arroz branco e um filé.
Essa receita estrutura-se segundo os elementos citados: título, ingredientes e modo de preparo. Mas
também apresenta outras informações, como a fotografia do alimento preparado acompanhada da
legenda e uma sugestão de acompanhamento.
Na Internet, geralmente essas receitas estão hospedadas em sites de culinária ou gastronomia e
costumam ter hiperlinks, isto é, referências clicáveis, que remetem a informações sobre o contexto
comunicativo: autor da receita, interação dos leitores (“avalie esta receita”, “favoritos”, “comentários”
etc.).
Todos esses elementos, que extrapolam a estrutura convencional das receitas à moda antiga, escritas à
mão em um caderno, mostram a que ponto os gêneros textuais são maleáveis e se adaptam ao contexto
comunicativo.
Assim, uma receita veiculada no suporte digital, por exemplo, sofre algumas modificações em sua
construção composicional.
O gênero textual “receita culinária” pertence à categoria 2, dos gêneros que revelam uma tendência à
estabilidade, mesmo estando sujeitos à variação, o que não prejudica seu reconhecimento e circulação.
Na realidade, o que essa receita de batata sauté tem de “diferente”, com relação aos outros textos do
mesmo gênero textual, é seu direcionamento explícito para o destinatário, o qual é chamado a avaliá-la,
estabelecendo uma interação verbal, o que é característico do suporte digital.
A interação verbal, nesse gênero textual como em outros do suporte digital, também modifica a
construção composicional da receita culinária, agora enriquecida com elementos gráficos (cores,
diferentes fontese tamanhos das letras) e imagéticos (fotografia e ícone).
Isso nos dá uma dimensão da evolução da escrita ao longo dos tempos; não mais estritamente verbal
(gráfica), mas muito influenciada pelos recursos não verbais, resultado dos avanços da tecnologia
digital.
GÊNERO TEXTUAL PROJETO DE PESQUISA
Vejamos agora um exemplo de construção composicional pouco sujeita à variação, no gênero textual
“projeto de pesquisa”.
 
Foto: Shutterstock.com
O estudante que pretende desenvolver uma pesquisa científica, seja em nível de graduação, seja em
nível de pós-graduação, deve apresentar um projeto, no qual expõe os principais procedimentos que
servirão de base para o desenvolvimento da futura pesquisa.
Esses elementos ou partes do projeto de pesquisa podem ser constituídos por:
Identificação: título, área da pesquisa, autor e orientador, instituição;
Tema-problema;
Hipótese(s);
Justificativa(s);
Objetivo geral e objetivo(s) específico(s);
Quadro teórico;
Metodologia;
Resultados esperados;
Cronograma;
Referências bibliográficas.
Com algumas poucas variações, esses elementos costumam aparecer nos projetos de pesquisa.
Trata-se de um gênero textual da categoria 2, mais controlado e normativo. Isso não significa, porém,
que o projeto de pesquisa dispense a explicitação do autor. Ao contrário disso, a identidade do
pesquisador é fundamental no gênero textual do campo de atividade acadêmico-científico.
Sendo o campo de atividade humana determinante para a forma e o acabamento dos gêneros textuais,
o projeto de pesquisa deve corresponder aos propósitos e às expectativas do referido campo.
Desse modo, a seleção do tema, do estilo verbal e da construção composicional característicos do
universo acadêmico-científico é de suma importância.
 EXEMPLO
Não se pode conceber um projeto de pesquisa da área de Letras, por exemplo, que pretenda resolver
um problema matemático, ou que empregue gírias e interjeições; ou ainda, que não apresente
referências bibliográficas.
No campo de atividade humana da Ciência, a clareza, a objetividade, a imparcialidade e a organização
do texto, entre muitos outros fatores, são determinantes para o êxito da comunicação.
O GÊNERO TEXTUAL MEME
Vejamos, finalmente, um gênero textual que apresenta muitos desafios para a própria definição de
gênero textual, com base em sua construção composicional: o meme.
 
Imagem: Shutterstock.com
A construção composicional é bastante variável.
Há memes que conjugam texto escrito e imagem. Confira os exemplos a seguir:
 EXEMPLO
Exemplo 1
 
Imagem: Shutterstock.com / Adaptado por Alan Gadelha.
A frase “Quando falam que eu sou uma pessoa dramática” vem seguida da imagem de uma jovem num
gesto de grande afetação, acompanhada dos seguintes dizeres: “Como se atreve!”.
Exemplo 2
 
Imagem: Shutterstock.com / Adaptado por Alan Gadelha.
A legenda “Sambando na cara da fome” acompanhada da imagem apelativa de um lanche ou
sanduíche.
Exemplo 3
 
Imagem: Shutterstock.com / Adaptado por Alan Gadelha.
A frase “É bonitinho, mas só vive no mundo das ideias, e não das atitudes” acompanhada da imagem de
Platão.
Outros memes apresentam apenas elementos verbais, como no exemplo a seguir em que temos um
diálogo entre duas pessoas.
 EXEMPLO
Ela: Amor, eu te traí. 
Ele: Eu também. 
Ela: 1º de abril. 
Ele: 22 de março. (Autoria desconhecida)
Nota-se que não há um padrão gráfico nem estético nos memes em geral. Os memes podem ser
ilustrados pela cena de uma série televisiva de sucesso, reproduzir um anúncio publicitário, trazendo
uma fotografia em alta resolução de determinado produto, ou se valerem da reprodução de pinturas ou
imagens artísticas famosas.
A organização das unidades verbais e não verbais também difere nos memes: ora o texto verbal
aparece antes e depois da imagem, ora o texto verbal surge antes da imagem.
Do ponto de vista da interpretação, todos os memes exemplificados possuem um efeito humorístico,
mas com diferentes propósitos: descontrair, atingir o consumidor, ensinar, contar uma piada.
Nos gêneros emergentes, como é o caso do meme, há uma diversidade de elementos que dificultam
uma definição unívoca de gênero textual. Mas, para o leitor, não há dúvidas de que se trata de memes.
GÊNEROS TEXTUAIS E TRANSFORMAÇÕES
Por todos esses motivos, para compreender de forma adequada e aprofundada os gêneros textuais, é
necessário assumir esses dispositivos comunicacionais em relação estreita com o campo de atividade
humana e o contexto comunicativo, o que explica, de fato, as transformações que os gêneros textuais
podem sofrer ao longo do tempo.
Assim, um gênero textual num suporte material como um livro impresso ou uma folha de papel pode não
apresentar alterações que identificaríamos num gênero que tem como seu suporte original o digital, a
tela do computador ou do celular, por exemplo.
 
Foto: Shutterstock.com
Os recursos disponíveis no meio digital podem favorecer, então, o surgimento de novos gêneros
textuais, como o meme, além de contribuírem para alguma alteração formal na construção
composicional de outros gêneros textuais.
OS GÊNEROS TEXTUAIS EM SALA DE AULA
Ao estudarmos conceitos, características e propriedades dos gêneros textuais, precisamos lembrar que
o trabalho com os textos em sala de aula deve ser marcado pela diversidade de tipos de texto e de
1. Que designa vários objectos distintos, mas do mesmo género , com o mesmo sentido: Planeta é termo unívoco de Vénus e de Marte.
gêneros textuais.
Usar diversos tipos de texto implica desenvolver práticas de leitura e de escrita com textos narrativos,
descritivos, dissertativos e injuntivos ou instrucionais.
A diversidade em relação aos gêneros textuais deve abranger tantos os gêneros orais quanto escritos.
Como você aprendeu ao longo deste conteúdo, os diferentes gêneros textuais dão conta da variedade
de discursos presentes nas situações de comunicação e de interação.
 RECOMENDAÇÃO
Assim, é preciso transitar entre gêneros textuais orais e escritos como o e-mail, o debate, a entrevista, a
propaganda, o resumo, a charge, o conto, o bilhete, a bula de remédio, a receita culinária, a lista de
compras etc.
Além de identificar as características e propriedades de cada gênero, é importante buscar os sentidos de
cada texto ou discurso e desenvolver atividades de produção textual.
Assim, promovemos o conhecimento do que são e como funcionam os gêneros textuais e
desenvolvemos práticas de leitura e produção textual.
Agora, vamos rever o que aprendemos?
Para isso, complete as frases com as palavras do quadro.
aproximem
atividade
humana
comunicação
contexto
comunicativo
estáveis
gênero
interação
Como vimos, a propriedade da
construção composicional dos gêneros
textuais está relacionada ao modo
como o texto se organiza em suas 
---------- .
O ---------- é compreendido como
a manifestação de uma atividade de
linguagem sócio-histórica, isto é, os
gêneros textuais.
memes
partes internas
texto
Ao ser textualizado, um ----------
apresenta particularidades
composicionais, que podem sofrer
variações segundo o campo de 
---------- e o ---------- .
Os gêneros textuais mais 
---------- tendem a manter os
elementos composicionais mais
recorrentes, a exemplo da receita
culinária e do projeto de pesquisa,
enquanto outros estão expostos a uma
variação radical, a exemplo dos 
---------- .
Finalmente, diante da riqueza dos
gêneros textuais, devemos promover o
trabalho com a maior variedade
possível de gêneros para que a leitura
e a produção de textos se 
---------- cada vez mais das
situações de ---------- e 
---------- nos diferentes espaços
da vida em sociedade.
RESPOSTA
A sequência correta é:
Como vimos, a propriedade da construção composicional dos gêneros textuais está relacionada ao
modo como o texto se organiza em suas partes internas.
O texto é compreendido como a manifestação de uma atividade de linguagem sócio-histórica, isto é, os
gêneros textuais.
Ao sertextualizado, um gênero apresenta particularidades composicionais, que podem sofrer variações
segundo o campo de atividade humana e o contexto comunicativo.
Os gêneros textuais mais estáveis tendem a manter os elementos composicionais mais recorrentes, a
exemplo da receita culinária e do projeto de pesquisa, enquanto outros estão expostos a uma variação
radical, a exemplo dos memes.
Finalmente, diante da riqueza dos gêneros textuais, devemos promover o trabalho com a maior
variedade possível de gêneros para que a leitura e a produção de textos se aproximem cada vez mais
das situações de comunicação e interação nos diferentes espaços da vida em sociedade.
A CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL
Assista ao vídeo com a professora Aline Saddi Chaves trazendo explicações e exemplos sobre a
construção composicional como propriedade dos gêneros textuais.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL É UMA DAS PROPRIEDADES DOS
GÊNEROS TEXTUAIS. CONSIDERANDO ESSA PROPRIEDADE ESPECÍFICA,
ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA:
A) A propriedade da construção composicional é responsável pela estabilidade dos gêneros textuais.
B) Não é possível prever a forma como um texto se organiza ou identificar como se dá a sua construção
composicional.
C) O suporte do gênero textual pode modificar sua construção composicional.
D) A conservação dos gêneros textuais depende de sua construção composicional.
E) Nos gêneros textuais do suporte digital, a construção composicional é exclusivamente imagética.
2. NOS GÊNEROS TEXTUAIS DO AMBIENTE DIGITAL, COMO O MEME, A
CONSTRUÇÃO COMPOSICIONAL É:
A) heterogênea.
B) homogênea.
C) apenas não verbal.
D) verbal
E) padrão estético invariável.
GABARITO
1. A construção composicional é uma das propriedades dos gêneros textuais. Considerando
essa propriedade específica, assinale a alternativa correta:
A alternativa "C " está correta.
 
A construção composicional é afetada quando o suporte de veiculação do gênero textual é alterado. A
título de exemplo, uma receita culinária ou um diário, quando escritos em um caderno, sofrem alterações
quando transportados para o ambiente digital. Isso porque, neste suporte, há um enriquecimento do
texto com o acréscimo de imagens e hiperlinks, que, ao remeterem a outros conteúdos da web,
instituem um novo modo de ler os textos, isto é, novos letramentos ou letramentos digitais.
2. Nos gêneros textuais do ambiente digital, como o meme, a construção composicional é:
A alternativa "A " está correta.
 
Nos gêneros textuais do ambiente digital, a construção composicional apresenta inúmeras variações:
mistura de linguagem verbal e não verbal, ausência de padrão estético (formal), diferentes finalidades
comunicativas. Por esse motivo, sua construção composicional é heterogênea, mas não pode ser
considerada radical, inédita ou imprevisível, porque todo gênero textual mantém uma ou outra
característica mais ou menos estável, sem a qual a comunicação seria impossível.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como pudemos ver, os gêneros textuais fazem parte de nosso dia a dia, mediando as interações por
meio da linguagem humana, uma atividade complexa e heterogênea que envolve parâmetros, tipos de
linguagem, competências e finalidades.
Quando nos comunicamos, empregamos sempre um gênero textual, seja oral, seja escrito, no intuito de
nos adaptarmos ao ouvinte ou leitor. É por meio dos gêneros textuais que expressamos nossas ideias,
compartilhamos nossas visões de mundo, em sintonia com a evolução dos comportamentos humanos.
Com o advento da Internet, os gêneros textuais se transformam e se multiplicam, renovando as práticas
de linguagem já existentes, e estabelecendo novos modos de construção de sentido. Os gêneros
emergentes do ambiente digital são uma realidade da linguagem e também um desafio em termos de
definição e estabilidade dos gêneros textuais.
De tudo o que estudamos, deve permanecer a ideia de que os gêneros textuais não são estruturas
rígidas, mas atividades de linguagem dinâmicas e flexíveis, na medida em que refletem os fenômenos
sociais no curso da história.
Enfim, mesmo que os gêneros apresentem regimes e propriedades que asseguram mais ou menos sua
estabilidade, a exemplo de sua denominação, seu tema, seu estilo verbal e sua construção
composicional, todos esses elementos devem ser apreendidos de forma íntegra, e sempre em relação a
um contexto de produção — o campo de atividade humana — e de circulação — o contexto
comunicativo.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. Organização, tradução, posfácio e notas de Paulo Bezerra;
notas da edição russa Serguei Botcharov. São Paulo: Editora 34, 2016.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, 1988.
FIORIN, J. L. A linguagem humana: do mito à ciência. In: FIORIN, J. L. (org.). Linguística: que é isso?
São Paulo: Contexto, 2012, p. 13-43.
FIORIN, J. L. Introdução ao pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, 2008.
MAINGUENEAU, D. Diversidade dos gêneros de discurso. In: MACHADO, I. L.; MELLO, R. (orgs.).
Gêneros: reflexões em análise do discurso. Belo Horizonte: NAD/FALE/UFMG, 2004, p. 43-57.
EXPLORE+
Leia o texto Gêneros textuais: definição e funcionalidade, de um dos maiores conhecedores dos
gêneros textuais no Brasil, o linguista Luiz Antônio Marcuschi. O texto está disponível no portal da
USP.
Aprofunde seus estudos sobre os gêneros textuais e sua relação com as novas mídias com o livro
Hipermodernidade, multiletramentos e gêneros discursivos, de Roxane Rojo. Antes, você pode ler
a resenha que saiu desse livro. Procure na Internet pelo texto Hipermodernidade, multiletramentos
e gêneros discursivos, de Edvania Bandeira.
Para uma interessante abordagem da relação entre a linguagem e os gêneros textuais, assista ao
vídeo Linguagem e dialogismo, com a pesquisadora e professora da USP Beth Brait, disponível no
canal da UNIVESP no YouTube.
Confira explicações e exemplos de trabalho com gêneros textuais na sala de aula no vídeo
Gêneros do discurso, com a linguista e professora Maria Inês Campos, no canal da UNIVESP no
YouTube.
CONTEUDISTA
Aline Saddi Chaves
 CURRÍCULO LATTES
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