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A TIREÓIDE ASPECTOS ANATÔMICOS Glândula endócrina. Responsável pela produção dos hormônios T3 e T4. Localizada na porção anterior do pescoço → abaixo e anteriormente a laringe. Formada por dois lobos laterais, conectados por um istmo. ASPECTOS HISTOLÓGICOS A glândula apresenta uma cápsula de tecido conjuntivo que é rica em capilares sanguíneos (fenestrados). A cápsula divide a glândula em lóbulos (septos de tecido conjuntivo) compostos por 20 a 40 folículos que: → Estão uniformemente distribuídos por um septo fibroso e estreito. → São revestidos por um epitélio cuboide ou colunar, composto por células foliculares. → Dentro dos folículos há um colóide repleto com tireoglobulina (Tg), onde é armazenado T3 e T4. → Entre os folículos estão as células C (parafoliculares), que sintetizam calcitonina. o Estas apresentam o citoplasma mais claro. o Calcitonina: hormônio hipocalcemiante por inibir a reabsorção óssea. TIPOS DE CÉLULAS FOLICULARES Células foliculares colunares: maior atividade secretora de hormônios. Células foliculares achatadas: menor atividade secretora de hormônios. HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Eixo hipotálamo-hipófise-tireoide: → TRH → TSH → T3, T4 HORMÔNIO LIBERADOR DE TIREOTROFINA (TRH OU TRF) Hormônio que estimula a hipófise a liberar o TSH. Produzido pelo hipotálamo. HORMÔNIO ESTIMULANTE DA TIREOIDE (TSH) Hormônio tireotrófico, também chamado de tireotrofina. → “Trofismo para a tireoide” Estimula a tireoide a produzir tiroxina (T4) e triiodotironina (T3). Produção de TSH se dá através do TRH. O aumento na concentração de T4 e T3 reduz a secreção de TSH (feedback negativo). TRIIODOTIRONINA (T3) E TIROXINA (T4) Proporção de produção na tireoide: T4 : T3 (20 : 1) T4 é produzido na tireoide. T3 → 20% proveniente da tireoide / 80% pela conversão do T4 (fígado e rim). Na periferia, a maioria do T4 livre se transforma em T3. 30% de T4 é convertido em T3 → desiodase tipo 1 e desiodase tipo 2. 40% de T4 é convertido em T3r (T3 inativo) → desiodase tipo 3. T3 é 4x mais ativo que T4. → Os receptores celulares têm bem mais afinidade por T3. → As proteínas sanguíneas se ligam a T4 mais fixamente que a T3 (mais difícil de ir para o sítio de ação). A maioria do T3 e T4 liberado na circulação sanguínea estão ligados a proteínas plasmáticas circulantes, como: → Globulina ligadora de hormônio tireoidiano (TBG) → Transtiretina → Albumina SÍNTESE E LIBERAÇÃO DOS HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Etapas principais da síntese: 1. Síntese da tireoglobulina 2. Captação de iodeto circulante (iodo) 3. Oxidação do iodeto intracelular 4. Iodação das moléculas de tirosina da tireoglobulina Etapa 1: → A síntese da Tg irá acontecer no RER e no complexo de golgi das células foliculares. o Carboidrato é adicionado à proteína tirosina, formando a tireoglobulina. o Ela deixa o complexo de golgi no interior de vesículas que se juntam à membrana e liberam a tireoglobulina para o lúmen do folículo. Etapa 2: → Captação de iodeto circulante pelas células foliculares. → Iodeto intracelular é oxidado pela enzima peroxidase tireoidiana e H2O2. Etapa 3: → Iodo oxidado é transportado para a cavidade do folículo. → Esse transporte é feito pela molécula pendrina. Etapa 4: → No interior do colóide ocorre a iodação (organificação) das moléculas de tirosina da tireoglobulina. → Primeiramente ocorre a formação de MIT e DIT. → MIT + DIT → T3 → DIT + DIT → T4 → Os hormônios formados no colóide ficam armazenados no folículo aguardando o estímulo certo para a sua liberação. Observação: conteúdo do colóide = tireoglobulina, iodo oxidado, MIT, DIT, T3 e T4. Etapa 5: → Células foliculares da tireoide captam coloide por endocitose. → Essas vesículas vão ser digeridas nos lisossomos. → T4 e T3 são liberadas no citoplasma. → MIT e DIT restantes são liberados no citoplasma e sofrem ação da enzima deiodinase, clivando essas moléculas e reciclando iodo e tirosina. DISFUNÇÕES: AUMENTO DOS NÍVEIS CIRCULANTES DE HORMÔNIOS TIREOIDIANOS Pode ser causado por: → Fonte extratireoidiana → Liberação excessiva do hormônio tireoidiano pré-formado (hormônio que estava estocado no colóide) → Hiperfuncionamento da glândula = hipertireoidismo Observação: sempre que for hipertireoidismo terá tirotoxicose. TIROTOXICOSE • Definição: Estado hipermetabólico causado por níveis circulantes elevados de T3 e T4 livres. Hipertireoidismo é somente uma das causas (embora a mais comum) da tirotoxicose. As três causas mais comuns de tirotoxicose estão também associadas ao hiperfuncionamento da glândula e incluem o seguinte: → Hiperplasia difusa da tireoide associada à doença de graves (85% dos casos) → Bócio multinodular hiperfuncionante → Adenoma hiperfuncional da tireoide • Curso clínico: Estado hipermetabólico induzido: → Pelo excesso de hormônio tireoidiano → Sistema nervoso simpático estimulado (receptores B- adrenérgicos) Níveis excessivos do hormônio tireoidiano resultam em um aumento na taxa metabólica basal. Exemplo = perda de peso aumentada apesar do apetite aumentado. • Atividade metabólica: Aumento do número e a atividade das mitocôndrias. Aumento do transporte ativo de íons através das membranas celulares: aumento da bomba de sódio potássio, aumenta o metabolismo da célula e produz calor. Crescimento esquelético excessivo: estimula a maturação dos ossos, tornando a criança consideravelmente alta em idade precoce. Estimulação do metabolismo de carboidratos: captação rápida da glicose pelas células, aumento da glicólise. Estimulação do metabolismo das gorduras. Efeito nas gorduras plasmáticas e hepáticas. Redução do peso corporal. Observação: o resultado final desses processos é o aumento da taxa metabólica basal. • Sistema cardiovascular: Vasodilatação. Circulação da pele: pele quente e ruborizada por causa do fluxo sanguíneo aumentado e da vasodilatação periférica para aumentar a perda de calor; sudorese aumentada. Coração: → Efeito direto na excitabilidade do coração, o que eleva a FC → Aumento no débito cardíaco → Arritmias (fibrilação atrial) → Taquicardia, palpitações e cardiomegalia são comuns → Disfunção ventricular esquerda reversível e insuficiência cardíaca → Superatividade do SNS → aumento no tônus beta adrenérgico Pressão arterial: aumento da pressão sistólica. • Sistema neuromuscular: Superatividade do SNS. Insônia, paranoia, ansiedade, hiperatividade, incapacidade de concentração. Efeito na função dos músculos: → Um leve aumento → faz com que os músculos reajam com vigor. → Um grande aumento → os músculos ficam enfraquecidos devido ao excesso de catabolismo proteico. Tremor muscular leve: diferente do Parkinson ou de calafrios; atividade aumentada das sinapses neuronais que controlam o tônus muscular. Mudanças oculares: devido a superestimulação simpática do músculo levantador da pálpebra superior. • Sistema digestório: Apetite maior. Aumento da secreção digestiva. Hiperestimulação sistêmica do intestino: aumento da motilidade do trato gastrointestinal (diarreias frequentes). • Sistema ósseo: Causa saída de cálcio dos ossos – o que é lançado no sangue e eliminado pela urina (Rarefação óssea). Osteoporose – risco aumentado de fraturas em pacientes com hipertireoidismo crônico. • Sistema respiratório: Aumenta o metabolismo – aumenta o consumo de O2 e a eliminação de CO2. Dilatação brônquica. • Outros: Onicólise: conhecida como unha de plummer; unhas que se separam do leito ungueal, podendo ficar mais levantadas. TEMPESTADE TIREOIDIANA Também chamada de crise tireotóxica. O paciente apresentaum hipertireoidismo grave, não controlado. O paciente tem a tirotoxicose provocada pelo hipertireoidismo. Essa tempestade tireoidiana acontece quando há um aumento dos níveis de catecolaminas produzidas pela glândula adrenal (epinefrina, norepinefrina). Elas podem aumentar por conta de cirurgias, infecções, estresse, interrupção de medicamentos antitireoidianos e etc. A FC, PA e temperatura corporal sobem a níveis perigosamente altos. Se não for tratado a tempo, o paciente pode morrer por arritmia cardíaca, portanto se trata de uma emergência médica. DIAGNÓSTICO DE HIPERTIREOIDISMO • Mensuração da concentração sérica de TSH Os níveis se encontram diminuídos em todos os estágios, por conta do feedback negativo (altos níveis de T3 e T4 → diminuição de TRH e TSH). Exceção: hipertireoidismo associado a hipófise (distúrbio secundário) → os níveis de TSH estão normais ou aumentados, pois o feedback negativo não funciona. Observação: aumento normal no TSH após a administração de TRH → exclui o hipertireoidismo secundário. • Valor baixo de TSH que é confirmado com: T4 livre aumentado. T3 aumentado (“toxicose de T3”): os níveis de T4 livres podem estar diminuídos, por isso é importante mensurar T3 (significa que muito T4 foi convertido). BÓCIO Aumento físico da tireoide. Não necessariamente está relacionado com hipertireoidismo. DOENÇA DE GRAVES OU BÓCIO DIFUSO TÓXICO Bócio = aumento físico da tireoide. | Difuso = por toda a tireoide. | Tóxico = pois há aumento de T3 e T4. Causa mais comum de hipertireoidismo endógeno. Caracterizada por uma tríade de achados clínicos: → Hipertireoidismo: aumento hiperfuncional difuso da tireoide. → Oftalmopatia infiltrativa com exoftalmo resultante (olhos esbugalhados). → Dermopatia infiltrativa localizada (mixedema pré-tibial): presente em uma minoria de pacientes. Características: → 10x mais frequente em mulheres do que em homens. → Idade entre 20 a 40 anos. → Paciente agitado, inquieto, com pele quente e úmida. → Nervosismo, insônia, transpiração excessiva, intolerância ao calor, fadiga fácil, fraqueza muscular, perda de peso, aumento do apetite, hiperdefecação, sintomas oculares. → Exoftalmia é um dos sinais característicos da doença. Observação: a exoftalmia é agravada em fumantes. O tabagismo agrava o quadro clínico e diminui a resposta aos tratamentos. → Doença autoimune de etiologia não esclarecida. Certamente multifatorial e com evidente predisposição genética. • Hipersensibilidade do tipo II Nesse caso, os anticorpos (IgM e IgG) interferem em funções celulares e causam doença sem ocorrer lesão tecidual (não danificam o tecido, mas estimulam a função celular). Patogenia: Nesse caso, o receptor de TSH está atuando como um antígeno. Interrupção da autotolerância aos autoantígenos tireoidianos (receptor de TSH). Formação de anticorpos contra os receptores de TSH. Imunoglobulinas estimuladoras da tireoide → se ligam ao receptor de TSH e mimetizam a ação do TSH, aumentando a liberação de hormônios tireoidianos. Imunoglobulinas estimuladoras da tireoide do crescimento → direcionadas para o receptor de TSH, provocam a proliferação do epitélio folicular tireoidiano. Imunoglobulinas inibidoras da ligação do TSH → evitam que o TSH se ligue ao seu receptor nas células epiteliais tireoidianas. Dependendo do tipo de imunoglobulina: → Estimulação da atividade das células epiteliais tireoidianas. → Inibir a função tireoidiana: alguns pacientes com a doença de Graves podem ter episódios de hipotireoidismo (raro). Observação: o paciente vai produzir muito T3 e T4, vai inibir o eixo (TSH baixo) e mesmo assim vai ter T3 e T4 alto. • Oftalmopatia Infiltrativa Processo inflamatório na região da órbita. Receptores de TSH que se encontram nos fibroblastos e nos músculos da órbita. Anticorpos liberam citocinas que estimulam: → Proliferação fibroblástica → Síntese de proteínas da matriz extracelular → Aumentam a expressão do receptor de TSH da superfície Tudo isso irá gerar: → Edema dos músculos da órbita → Proptose do olho (exoftalmia) → Diplopia (percepção de 2 imagens de um único objeto) → Congestão + edema conjuntival e periorbitário • Alterações macroscópicas Glândula tireoide simetricamente aumentada por causa da hipertrofia e hiperplasia difusas das células epiteliais foliculares da tireoide. Bócio é difuso, não nodular, dando à glândula aspecto carnoso homogêneo. Termo tóxico significa que acompanha hipertireoidismo. • Alterações microscópicas Processo inflamatório. Folículos pequenos, contendo pouco ou nenhum colóide, ou com colóide pálido → pois as células foliculares estão com atividade elevada, então não armazenam conteúdo e liberam tudo para a corrente sanguínea. Folículos linfóides com centros germinativos. Aumento das células foliculares → alta atividade. • Diagnóstico: Níveis elevados de T3 e T4 livres. Níveis diminuídos de TSH. Presença de TRAb (anticorpo antirreceptor do TSH). Captação de iodo radioativo está aumentada e o mapeamento do radioiodo mostra captação difusa de iodo (iodo é o contraste utilizado no exame) → devido ao estímulo contínuo dos folículos tireoidianos pelas imunoglobulinas estimuladoras da tireoide. HIPOTIREOIDISMO DEFINIÇÕES Trata-se da alteração na produção de níveis adequados do hormônio tireoidiano, causado por qualquer desarranjo estrutural ou funcional. É um distúrbio razoavelmente comum, cuja prevalência aumenta com a idade, sendo 10x mais comum em mulheres do que em homens. Resultado de um defeito em algum lugar do eixo hipotalâmico- hipofisário-tireoidiano. É dividido nas categorias: • Primária: surge de uma anormalidade intrínseca na própria tireoide. É responsável pela grande maioria dos casos de hipotireoidismo e pode ser acompanhado por um aumento no tamanho da glândula tireoide (bócio), e que pode ter origem congênita, adquirida ou autoimune. • Secundária: resultado de uma doença hipofisária ou hipotalâmica (na hipófise ou no hipotálamo). HIPOTIREOIDISMO PRIMÁRIO • Hipotireoidismo congênito: Bócio desormonogenético: o paciente apresenta erros inatos do metabolismo tireoidiano, podendo ocorrer em qualquer um dos passos que levam à síntese do hormônio da tireoide. Pode estar deficiente: → Transporte do iodo para dentro dos tirócitos → “Organificação” do iodo (ligação do iodo aos resíduos de tirosina da proteína de armazenamento, tiroglobulina) → Acoplamento de iodotirosina para formar T3 e T4 hormonalmente ativos Exemplos = (1) Mutações no gene da peroxidase tireoidiana (TPO) são a causa mais comum; (2) Síndrome de Pendred: hipotireoidismo e surdez sensorineural. É causada por mutações no gene SLC26A4, que tem como produto a pendrina, é um transportador de ânions expressado na superfície apical dos tirócitos e no ouvido interno e é responsável pelo transporte de iodo para o interior do folículo tireoidiano. Deficiência endêmica de iodo na dieta. Ausência completa de parênquima tireoidiano (agenesia tireoidiana). Glândula pode estar grandemente reduzida em tamanho (hipoplasia tireoidiana). Síndrome da resistência ao hormônio tireoidiano: → É um distúrbio autossômico dominante raro → As mutações herdadas no receptor do hormônio tireoidiano suprimem a habilidade do receptor de se ligar ao hormônio tireoidiano → Pacientes demonstram resistência generalizada ao hormônio tireoidiano → Há altos níveis de T3 e T4 circulantes, visto que, a hipófise também é resistente à retroalimentação dos hormônios tireoidianos, assim, os níveis de TSH também tendem a ser altos • Hipotireoidismo adquirido: Pode ser causado por:→ Deficiência de iodo na dieta → Ablação (retirada) induzida por cirurgia → Radiação do parênquima da tireoide → Drogas: dadas intencionalmente para diminuir a secreção da Kreoide (como metimazol e propiltiouracil) ou agentes usados para tratar condições não- tireoidianas (como lítio, ácido p- aminosalicílico) → Iodeto em altas concentrações: ele limita o seu próprio transporte e inibe de forma aguda e transitoriamente a síntese de iodotirosinas e iodotironinas (o efeito de Wolff-Chaikoff), apresentando um importante efeito clínico da concentração de iodo no plasma elevada consiste na inibição da liberação de hormônio tireoidiano (a ação é rápida e eficaz na tireotoxicose grave) • Hipotireoidismo autoimune: É a causa mais comum de hipotireoidismo em áreas do mundo com iodo suficiente. Maioria dos casos ocorre por tireoidite de Hashimoto. Pode ocorrer isoladamente ou em conjunto com a síndrome poliendócrina autoimune (APS). HIPOTIREOIDISMO SECUNDÁRIO É causado pela deficiência de TSH e, muito mais raramente, pela deficiência do TRH. Causas: → Qualquer uma das causas do hipopituitarismo: trauma, tumor hipofisário, tumores não hipofisários e necrose hipofisária pós-parto (a hipófise é muito requisitada durante a gravidez e aumenta muito de tamanho, e, caso se tenha alguma hemorragia durante o parto, interfere diretamente na vascularização da hipófise, gerando uma necrose) → Danos hipotalâmicos causados por trauma, tumores, terapia de radiação e doenças infiltrativas Curso clínico: → Estado hipometabólico induzido pela redução de hormônio tireoidiano. Níveis reduzidos do hormônio tireoidiano resultam em uma menor taxa metabólica basal. Sistema cardiovascular: → Circulação da pele: pele fria e ressecada, com sensibilidade exagerada ao frio. → Coração: diminuição dos batimentos cardíacos. → Dispneia → Pressão arterial: aumento da pressão diastólica. Sistema nervoso: → Cansaço, depressão, sono: hormônios tireoidianos agem nos sistemas noradrenérgico e serotoninérgico. → São importantes para: libido, humor, memória, raciocínio e sono-vigília. Sistema endócrino: → Apetite alterado (reduzido) → Aumento de peso → Ciclo menstrual alterado o Frequentemente, causa: menorragia e polimenorreia, isto é, sangramento menstrual excessivo e frequente, respectivamente o Estranhamente, em outras mulheres pode causar ciclos menstruais irregulares e, ocasionalmente, até mesmo amenorreia (ausência de sangramento menstrual) o Aumenta prolactina = não há ovulação o Efeito da fase lútea = diminuição da fase lútea (progesterona baixa) → Colesterol elevado → Tornozelos e rosto inchados → Unhas e cabelos ásperos, secos e quebradiços, com perda de cabelo e diminuição da síntese proteica Sistema digestório: → Prisão de ventre/constipação: diminuição do peristaltismo intestinal. Sistema respiratório: → Rouquidão: mixedema ou mesmo à paralisia de pregas vocais. MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS CLÁSSICAS DE HIPOTIREOIDISMO • Cretinismo: Trata-se do hipotireoidismo desenvolvido no período de desenvolvimento fetal ou infância. Causas: → Deficiência de iodo (cretinismo endêmico) → Erros inatos no metabolismo que interferem com a biossíntese dos níveis normais do hormônio tireoidiano (bócio desormonogenético) → Ausência congênita da tireoide (cretinismo congênito) A tireoide é a primeira glândula endócrina a se desenvolver, com formação iniciada cerca de 24 dias após a fecundação. Na sétima semana, ela tem sua forma e localização definitivas, com formação dos folículos tireoidianos na 11a semana e produção hormonal de TSH e tiroxina na 20a semana, atingindo níveis adultos em torno da 35a semana. A identificação da presença de receptores de T3 no cérebro fetal por volta da décima semana e a observação da primeira fase de rápido desenvolvimento cerebral no segundo trimestre, período no qual o suprimento de hormônios tireoidianos se faz principalmente às custas da passagem materna, sugerem que baixas concentrações maternas de T4 podem resultar em déficit neurológico irreversível na criança. Características clínicas incluem: → Desenvolvimento prejudicado do sistema esquelético e do sistema nervoso central → Estatura baixa → Língua projetada → Retardo mental grave → Características faciais grosseiras A gravidade do prejuízo mental no cretinismo parece estar relacionada com o tempo em que a deficiência tireoidiana ocorre no útero. Se há uma deficiência tireoidiana materna antes do desenvolvimento da glândula tireoide fetal, o retardo mental é grave. A redução nos hormônios tireoidianos maternos mais tardiamente na gravidez, após o desenvolvimento da tireoide fetal, permite o desenvolvimento normal do cérebro. Um neonato sem tireoide: → Pode ter aparência e função normais, por ter recebido alguma quantidade (embora geralmente insuficiente) de hormônio tireoidiano materno, durante a vida uterina. → Algumas semanas após o nascimento, os movimentos do neonato passam a ser lentos, e o seu desenvolvimento físico e mental fica bastante retardado. O tratamento do neonato com cretinismo é feito, em qualquer momento, com quantidades adequadas de iodo ou tiroxina, geralmente provoca a normalização do crescimento físico. A menos que o cretinismo seja tratado a partir de algumas semanas após o nascimento, o desenvolvimento mental permanece retardado de forma permanente. Esse estado ocorre devido a retardo do crescimento, ramificação e mielinização das células neuronais do sistema nervoso central e nesse momento crítico de desenvolvimento das capacidades mentais. A ausência de hormônio tireoidiano durante o período de neurogênese ativa (até 6 meses após o parto) resulta em deficiência intelectual irreversível (cretinismo) e é acompanhada de várias alterações morfológicas no encéfalo, sendo que essas alterações morfológicas graves decorrem: de um distúrbio na migração neuronal, da desorganização das projeções axônicas e de uma redução da sinaptogênese. A suplementação de hormônio tireoidiano iniciada durante as primeiras 2 semanas de vida pós- natal pode impedir o desenvolvimento dessas alterações morfológicas. O crescimento esquelético da criança com cretinismo é caracteristicamente mais inibido que o do tecido mole. Resultado dessa desproporcionalidade do crescimento: → Tecidos moles apresentam probabilidade de crescer excessivamente, dando à criança uma aparência obesa, estrutura brevilínea e baixa estatura. → A língua se torna tão grande, em relação ao crescimento esquelético, que obstrui a deglutição e a respiração, induzindo uma respiração gutural característica, que, por vezes, sufoca a criança. • Mixedema: Também conhecida por Doença de Gull. Trata-se do hipotireoidismo prolongado que se desenvolve em crianças mais velhas ou em adultos. Manifestações clínicas variam com a idade de início da deficiência: → Crianças mais velhas apresentam sinais e sintomas intermediários entre aqueles dos cretinos e aqueles de adultos com hipotireoidismo → Adulto tem a condição aparecendo insidiosamente e pode levar anos para alcançar o nível de suspeita clínica Os aspectos clínicos são caracterizados por lentidão das atividades física e mental. Sintomas iniciais incluem: fadiga generalizada, apatia e preguiça mental. Mimetiza a depressão nos estágios iniciais da doença. Aspectos clínicos: → Funções de linguagem e intelectuais se tornam lentas → Pacientes são apáticos, intolerantes ao frio e frequentemente estão acima do peso → Constipação e sudorese diminuída → A pele desses pacientes é fria e pálida devido à redução do fluxosanguíneo → Débito cardíaco reduzido contribui para o encurtamento da respiração e a capacidade de exercício reduzida. Os hormônios tireoidianos regulam a transcrição de genes sarcolêmicos, como as ATPases de cálcio, cujos produtos codificados são críticos para a manutenção do débito cardíaco eficiente. → Promoção de um perfil aterogênico com aumento dos níveis de colesterol total e lipoproteína de baixa densidade (LDL), provavelmente contribuindo para as taxas de mortalidade cardiovascular. Aparência física: flacidez sob os olhos e o inchaço da face. Por motivos não explicados, a quantidade muito elevada de ácido hialurônico e sulfato de condroitina, ligados a proteínas, forma um excesso de gel tecidual nos espaços intersticiais, aumentando a quantidade total do líquido intersticial. Como o líquido em excesso trata-se de um gel, é essencialmente imóvel, e o edema é pouco deprimível. Histologicamente, há um acúmulo de substâncias matriciais, como glicosaminoglicanos e o ácido hialurônico, na pele, no tecido subcutâneo e em vários pontos viscerais, resultando em: → Um alargamento e engrossamento das características faciais → Aumento da língua → Edema pouco depressível → Aprofundamento da voz DIAGNÓSTICO Avaliação laboratorial: é papel vital no diagnóstico, devido à natureza não específica dos sintomas. Pacientes com aumento inexplicado no peso corporal ou hipercolesterolemia devem ser avaliados para um potencial hipotireoidismo. A mensuração dos níveis séricos de TSH é o teste de mapeamento mais sensível. O nível de TSH está aumentado no hipotireoidismo primário, sendo resultado da perda da inibição retroativa do TRH. O nível de TSH não está aumentado em pessoas com hipotireoidismo secundário, decorrente de doença hipotalâmica ou hipófise primária. Os níveis de T4 estão diminuídos em indivíduos com hipotireoidismo de qualquer origem. TIREOIDITES TIREOIDITE DE HASHIMOTO É a causa mais comum de hipotireoidismo em áreas do mundo onde os níveis de iodo são suficientes. Ocorre a falência gradual da tireoide devido à destruição autoimune da glândula tireoide. Não se sabe muito bem sua origem, porém, é sabido que possui um forte componente genético. Há uma suscetibilidade aumentada em polimorfismos à genes associados à regulação imunológica mais significativa, como polimorfismos do antígeno associado ao linfócito T citotóxico 4 (CTLA4), que apresenta nível reduzido da proteína ou de sua função (é um regulador negativo das respostas da célula T), afetando diretamente na glândula. Patogenia: → A tireoide tem as células foliculares, que envolvem o folículo. → Os pacientes com essa condição têm uma produção de anticorpos contra essas células foliculares, se ligando a elas. Então, tem um reconhecimento pelas células NK, resultando na destruição das células foliculares. → Outra possibilidade é o reconhecimento das células foliculares por parte dos linfócitos T como antígenos, havendo a secreção de interferon-gama, que ativa macrófago e lesa as células foliculares. → Por fim, as células T CD8 reconhecem as foliculares no receptor FAS, sendo uma ligação com o FAS-L (receptor da célula), sendo citotóxica para as células foliculares. → Independente da via, a destruição das células foliculares resulta na diminuição da síntese de T3 e T4, causando o hipotireoidismo. Alterações macroscópicas: → A tireoide está um pouco aumentada de volume (portanto, mostra bócio), mas geralmente o aumento é discreto (causado pelas células inflamatórias). → Geralmente, possui uma cor mais acastanhada (por conta do colóide). No paciente com tireoidite de Hashimoto, tem uma destruição das células foliculares, então, elas são substituídas por um intenso infiltrado linfocitário formando folículos linfóides com centros germinativos. Alterações microscópicas: → Observa-se um intenso infiltrado inflamatório, que podem se organizar e forma2r folículos linfóides (redondinhos com áreas brancas de produção de anticorpos). → Os folículos tireoidianos são destruídos, mas sobram algumas, que possuem filtrado inflamatório ao redor. Os que sobram possuem uma luz muito pequena. → Folículos são atróficos e contêm pouco ou nenhum coloide. → Os folículos linfóides são células inflamatórias que se organizam e possuem produção de anticorpos, com uma hipotrofia dos folículos tireoidianos e com proliferação fibrosa. Semelhanças com a doença de Graves, mas na tireoidite de Hashimoto: → Infiltrado é mais intenso → Células foliculares são menores → Células foliculares sem aspecto sugestivo de hiperatividade funcional, ou seja, um epitélio mais cúbico Alguns folículos tireoidianos atróficos são revestidos em muitas áreas por células epiteliais, chamadas de células de Hürthle, que apresentam um citoplasma abundante, eosinofílico e granular. Trata-se de uma resposta metaplásica do epitélio folicular cuboide baixo normal à lesão em andamento. Em amostras de biópsia aspiradas com uma agulha fina, a presença de células de Hürthle em conjunto com uma população heterogênea de linfócitos é característica da tireoidite de Hashimoto. Curso Clínico: Tem-se o aumento indolor da tireoide, geralmente associado a algum grau de hipotireoidismo, em uma mulher de meia-idade. É simétrico e difuso, mas em alguns casos pode ser suficientemente localizado para provocar uma suspeita de neoplasia. Uma tireoidite linfocítica, como a tireoidite de Hashimoto, pode inicialmente gerar aumento tireoidiano, mas a atrofia eventualmente ocorrerá, com o resultante hipotireoidismo. Hipotireoidismo se desenvolve gradualmente e pode ser precedido por tirotoxicose transitória, visto que se tem a destruição dos folículos e, assim, liberação dos hormônios T3 e T4, uma liberação secundária dos hormônios tireoidianos (“hashitoxicose”). Os níveis de T3 e T4 livres estão elevados, o TSH está diminuído e a captação de iodo radioativo está diminuída. Tem-se a manutenção do hipotireoidismo, em que os níveis de T3 e T4 caem acompanhados por um aumento compensatório no TSH. Ainda com esse aumento de TSH, os níveis de T3 e T4 não sobem por se ter uma inflamação branda na tireoide que não permite que ocorra a síntese destes hormônios. Exames complementares: guiado pela suspeita de hipertireoidismo associado a dosagens séricas de: TSH, T4 livre, T3 e anticorpos antitireoperoxidase (anK-TPO), sendo este último: → Exame detecta autoanticorpos contra uma enzima específica da tireoide → Valores altos indicam lesão autoimune da glândula → Podem ser observados na tireoidite de Hashimoto e na doença de Graves, mas os títulos mais altos ocorrem na tireoidite de Hashimoto (já que o anticorpo é mais alto por se contra as próprias células) Risco aumentado de desenvolver: → Outras doenças autoimunes: endócrinas (diabetes tipo 1 ou adrenalite autoimune) ou não- endócrinas (lúpus eritematoso sistêmico, miastenia grave e síndrome de Sjögren) → Linfomas não-Hodgkin de células B: linfomas de MALT. TIREOIDITE LINFOCÍTICA (INDOLOR) SUBAGUDA Trata-se de uma tireoidite indolor, com aumento bocioso. Apresenta um hipertireoidismo leve, com aumento bocioso da glândula, ou de ambos, em que se tem um período transitório de tireotoxicose seguido de hipotireoidismo autolimitado. Maior frequência ainda é controvérsia: adultos de meia- idade/mulheres (livro Robbins) ou crianças e adolescentes (livro Bogliolo). Patogenia: É uma variante da tireoidite de Hashimoto, em que os pacientes têm: → Anticorpos antiperoxidase tireoidiana circulantes → Histórico familiar de outros distúrbios autoimunes Cerca de 50% dos casos à evolução paraa própria tireoidite de Hashimoto. Alguns pacientes, sem explicação, conseguem regenerar as células foliculares (teve tiroxicose do mesmo jeito, mas há uma recuperação posterior) 1/3 casos pode evoluir para hipotireoidismo aparente ao longo do tempo, visto que, a histologia da tireoide semelhante à da tireoidite de Hashimoto. Alterações macroscópicas: → Aumento simétrico leve, em que a tireoide aparece normal no exame macroscópico. → Dependência da intensidade do processo inflamatório e/ou fibrose. Alterações microscópicas: → Infiltração linfocítica → Centros germinativos hiperplásicos → Ruptura de folículos → Diferentemente do que ocorre na síndrome de Hashimoto: fibrose + metaplasia das células de Hürthle não são características proeminentes Curso clínico: Podem apresentar: → Bócio indolor → Hipertireoidismo aparente → Ambos Alguns pacientes: mudam de um estado hipertireoidiano para o hipertireoidismo antes da recuperação. TIREOIDITE GRANULOMATOSA Conhecida como tireoidite de De Quervain. É comum entre as idades de 40 e 50 anos. Afeta com mais frequência as mulheres (4x mais) do que os homens. Patogenia: Causas: → Algumas desconhecidas → É mais provável por uma infecção viral proveniente do trato respiratório superior, apresentando associação com coxsackievírus, caxumba, sarampo, adenovírus e outras doenças virais Formam-se antígenos que estimulam os linfócitos T citotóxicos os quais danificam as células foliculares. A resposta imunológica é iniciada pelo vírus e não é autoperpetuante, sendo um processo que é limitado, diferentemente da reação autoimune que se retroalimenta. Geralmente, é focal, tendo regiões que sofrem inflamação, lesão tecidual, tentativa de recuperação e fibrose do tecido. Alterações microscópicas: Evolução: → Inicialmente à folículos são destruídos e substituídos por neutrófilos formadores de abscessos (é o acúmulo de exsudato formado por neutrófilos, destruindo tecidos e formação de cavidades novas). → Fase mais adiantada apresenta linfócitos, plasmócitos, macrófagos e células gigantes de corpo estranho, que vão envolvendo coloide = granuloma. → Estágio mais tardio à infiltrado inflamatório crônico e com formação de fibrose. Se a fibrose for muito intensa o paciente tem hipotireoidismo, por destruição da glândula com substituição do tecido. Alterações macroscópicas: → Aumento unilateral ou bilateral da glândula. → As áreas atingidas são amarelo- esbranquiçadas e firmes, em contraste com as regiões normais (marrons e flexíveis). → Substituição do parênquima por tecido fibroso, por se ter uma lesão intensa do tecido. Curso clínico: → Inflamação tireoidiana e o hipertireoidismo são transitórios, geralmente diminuindo em 2 a 6 semanas, mesmo se o paciente não for tratado (autolimitado). → Possui níveis séricos altos de T3 e T4 e níveis séricos baixos de TSH. → Após a recuperação, geralmente em 6 a 8 semanas, a função tireoidiana normal retorna, se não apresentar áreas muito grandes de fibrose. → Se a área de fibrose for muito grande, evolui para hipotireoidismo. BÓCIO DEFINIÇÃO Toda vez que se falar de bócio refere- se ao aumento da tireoide. Existem bócios que podem ser causados pela tireoidite, doença de Graves ou outras eutis. BÓCIO DIFUSO NÃO TÓXICO (SIMPLES) Ocorre o alargamento da glândula inteira sem a produção de modularidade. Os folículos aumentados estão repletos de coloide, sendo também chamado de bócio coloidal. Não é tóxico, então, o paciente não tem hipertireoidismo (sem alteração dos hormônios T3 e T4). Pode ser: bócio endêmico e bócio esporádico. • Bócio endêmico: É aquele presente em mais de 10% da população em dada região. Causas: → Ocorre em áreas geográficas onde o solo, a água e o suprimento de comida contêm baixos níveis de iodo. → Populações nativas que sobrevivem de alimentos bociogênicos, como a raiz de mandioca que contém um tiocianato (= no caso de perclorato contaminante) que inibe o transporte de iodo para dentro da tireoide. Gera: → Síntese diminuída do hormônio tireoidiano → Aumento compensatório no TSH → Hipertrofia e hiperplasia das células foliculares. Quando o aporte de iodo é baixo, ocorre redução na produção dos hormônios tireoidianos, o TSH é secretado em excesso, e a tireoide torna-se hiperplásica e sofre hipertrofia (aumenta número de células e tamanho das células = bócio) Cerca de 50 miligramas de iodo por ano são necessários para a formação de quantidade adequada de hormônio tireoidiano. → Certas regiões do mundo, como nos Alpes Suíços, nos Andes e na região dos Grandes Lagos nos Estados Unidos, existem quantidade insuficiente de iodo no solo, de modo que os alimentos não possuem sequer essa minúscula quantidade. → Nos tempos anteriores ao sal de cozinha iodado, muitas pessoas que viviam nessas áreas desenvolviam tireoides extremamente aumentadas, chamadas bócios endêmicos. • Bócio esporádico: Ocorre menos frequentemente do que o bócio endêmico, com uma preponderância feminina e tem o pico de incidência na puberdade ou em adultos jovens, quando ocorre um aumento da demanda fisiológica por hormônios. Causas: → Ingestão de substâncias que interferem com a síntese do hormônio tireoidiano. Exemplos = repolho, couve-flor, couve-de- bruxelas, nabos e mandioca. → Defeitos enzimáticos hereditários que interferem com a síntese do hormônio tireoidiano, como no bócio desormonogenético. → Na maioria dos casos, causa não está aparente. Fases: hiperplásica e involução coloide. Fase hiperplásica: tem a diminuição de T3 e T4, com aumento de TSH e, assim, hiperplasia e hipertrofia. A tireoide aumentada e estimulada torna-se notavelmente eficiente na extração de traços residuais de iodeto do sangue. O paciente tem um episódio de hipotireoidismo, então, ocorre esse aumento de TSH. Uma baixa de iodo na dieta continuada faz com que as células foliculares de iodo não consigam se proliferar (elas são células estáveis, que só proliferam de forma limitada com estimulação), assim, ocorre o hipotireoidismo com bócio, sem acumular coloide no tecido. → A glândula difusa e simetricamente aumentada, com 100 a 150 g. → Os folículos revestidos por uma grande quantidade de células colunares, que podem se acumular e formar projeções similares àquelas vistas na doença de Graves. Este acúmulo não é uniforme através da glândula e, então, alguns folículos estão enormemente distendidos, enquanto outros permanecem pequenos. Involução coloide: a glândula fica rica em colóide, com epitélio achatado e cuboidal e a superfície de corte da tireoide é geralmente marrom, transparente e translúcida. Resulta da aumenta da ingesta de iodo ou alteração alimentar e da diminuição da demanda de hormônios tireoidianos. Curso clínico: a grande maioria dos pacientes são eutireoideas, que apresentam níveis de T3 e T4 normais e TSH sérico está geralmente elevado ou no limite máximo do normal. Suas manifestações clínicas estão primariamente relacionadas com os efeitos de massa da glândula tireoide aumentada. • Bócio multinodular: Aumento mais irregular da tireoide, sendo um resultado de episódios recorrentes de hiperplasia e involução, por se gerar uma irregularidade no crescimento da glândula. Todos os bócios simples de longa duração se convertem em bócios multinodulares. No crescimento, a glândula fica mais sujeita a traumas, formando os nódulos. Patogenia: estresse físico (hiperplasia folicular irregular, geração de novos folículos, acúmulo desigual de coloide) → ruptura de folículos e vasos, hemorragias, cicatrização, algumas vezes calcificações→ com a cicatrização a nodularidade aparece. Algumas células em um folículo têm vantagem no crescimento. Células → anormalidades genéticas intrínsecas → clones de células proliferantes à formação de um nódulo → crescimento contínuo e autônomo, sem um estímulo externo. Uma minoria substancial de pacientes apresenta um nódulo autônomo, que pode se desenvolver em um bócio de longa duração e produzir hipertireoidismo. → Nódulos autônomos clinicamente aparentes possam se desenvolver em aproximadamente 10% dos bócios multinodulares em 10 anos de acompanhamento. → Um subgrupo de nódulos tireoidianos autônomos sofre mutações que afetam proteínas da via de sinalização do TSH, com uma ativação constitutiva desta via. Produzem os aumentos mais extremos da tireoide, podendo ser mais frequentemente confundidos com o envolvimento neoplásico. Como derivam do bócio simples, o bócio multinodular ocorre tanto na forma esporádica quanto na endêmica, na mesma distribuição entre homens e mulheres e tem presumivelmente as mesmas origens. A diferença é que acaba afetando indivíduos mais velhos porque é complicação tardia. Alterações macroscópicas: multilobulada, assimetricamente aumentada e pode alcançar um peso de mais de 2.000g. → Bócio pode envolver um lobo muito mais do que o outro, causando uma pressão lateral nas estruturas da linha média, tais como a traqueia e o esôfago. Quando bócio cresce atrás do esterno e das clavículas, diz-se que é bócio intratorácico ou bócio mergulhante. → Outras alterações macroscópicas é que se observam nódulos irregulares contendo quantidades variáveis de coloide marrom e gelatinoso. → As lesões mais antigas apresentam áreas de: fibrose, hemorragia, calcificações e mudança cística. Alterações microscópicas: → Os folículos estão ricos em coloide e revestidos por um epitélio achatado e inativo. → Observam-se áreas de hiperplasia folicular. → Em contraste com os neoplasias foliculares, a cápsula proeminente entre os nódulos hiperplásicos e o parênquima tireoidiano residual não está presente. → Observa-se na imagem um nódulo hiperplásico, com parênquima tireoidiano residual comprimido na periferia, ausência de uma cápsula proeminente (é presente na neoplasia), uma característica distinguível das neoplasias foliculares. → Alguns folículos são bem maiores que o normal e contêm abundante coloide, enquanto há folículos que lembram folículos normais são pequenos. → Existem traves de tecido fibroso que dão à glândula aspecto nodular. → As células foliculares podem ser colunares, achatadas ou cúbicas, indicando variação na atividade funcional. Curso clínico: → Efeitos cosméticos: uma massa muito grande. → Efeitos de massa da glândula aumentada: obstrução das vias aéreas, disfagia, compressão dos grandes vasos no pescoço e no tórax superior = síndrome da veia cava superior. → A maioria dos pacientes é eutireoidea, ou seja, que possuem T3 e T4 normais. → Uma minoria substancial de pacientes possui nódulo autônomo (funcionais que geral hipertireoidismo) pode se desenvolver em um bócio de longa duração = síndrome de Plummer. Não é acompanhada pela oftalmopatia infiltrativa e dermopatia da doença de Graves. Nódulos dominantes em um bócio multinodular podem se apresentar como um “nódulo tireoidiano solitário”, em que se mimetiza uma neoplasia tireoidiana. Pode ser realizada, para uma diferenciação: → Biópsia por aspiração com agulha fina → Mapeamento de radioiodo: uma captação de iodo desigual (incluindo, se for o caso, o nódulo autônomo “quente” = produz T3 e T4) ou envolvimento difuso do parênquima (= mistura da hiperplasia e dos nódulos involutivos no bócio multinodular) Glândula tireoidiana apresentando múltiplas áreas com captação menor do que o restante do parênquima, ou seja, nódulos hipocaptantes ou frios = compatível com bócio (as células não trabalham o suficiente). Se o distúrbio subjacente for suficientemente grave (isto é, um defeito congênito da biossíntese), as respostas compensatórias podem ser inadequadas para superar o comprometimento da síntese hormonal, resultando em hipotireoidismo com bócio. O grau de aumento tireoidiano é proporcional ao nível e à duração da deficiência hormonal tireoidiana. NEOPLASIAS Critérios clínicos que fornecem pistas da natureza de um determinado nódulo tireoidiano: • Nódulos solitários, em geral, são mais susceptíveis de serem neoplásicos do que os nódulos múltiplos (maior chance de ser bócio multinodular). A chance de malignidade não aumenta com o número de nódulos. • Nódulos em pacientes jovens são mais susceptíveis de serem neoplásicos do que os encontrados em pacientes mais velhos. • Nódulos em homens são mais susceptíveis de serem neoplásicos do que os de mulheres. • O histórico de tratamento por radiação da cabeça e do pescoço está associado a uma incidência aumentada de malignidade tireoidiana. • Nódulos funcionais que captam iodo radioativo nos estudos de imageamento (nódulos quentes) são significativamente mais susceptíveis de serem benignos do que malignos. A avaliação morfológica de um determinado nódulo tireoidiano, por aspiração com agulha fina ou estudo histológico do parênquima tireoidiano cirurgicamente ressecado, que fornece a informação mais definitiva sobre sua natureza. Sinais e história de risco de malignidade: História clínica Sinais clínicos Irradiação prévia na região cervical Nódulo de crescimento rápido Paciente < 20 ou > 60 anos Nódulo de consistência endurecida e/ou irregular Sexo masculino Fixação no tecido adjacente História familiar de câncer de tireoide Linfoadenomegalia ipsilateral Mudança na voz ou deglutição Paralisia da corda vocal ipsilateral O nódulo pode ser classificado de 1-5, de acordo com características e se há a necessidade da PAAF (punção de agulha fina), aliado com o ultrassom, dividindo em benigno, não suspeito, pouco suspeito, moderadamente suspeito ou altamente suspeito, de acordo com a categoria TI RADS de 2017. ADENOMAS São tipicamente massas benignas solitárias, discretas e derivadas do epitélio folicular e, por isso, são conhecidos como adenomas foliculares. O termo "adenoma" definido pela Organização Mundial de Saúde consiste em um: "tumor bem encapsulado mostrando diferenciação das células foliculares”. São geralmente solitários e apresentam uma cápsula fibrosa bem definida. Se não tivesse a cápsula seria um bócio multinodular. Em geral, os adenomas foliculares não são precursores dos carcinomas, sendo apenas algumas alterações genéticas compartilhadas e suportam a possibilidade de que pelo menos um subgrupo de carcinomas foliculares surja em adenomas preexistentes. Grande maioria: não funcionantes = sem sintomatologia. Minoria: produz hormônios tireoidianos, chamados de adenomas funcionais (“adenomas tóxicos”). É independente da estimulação do TSH, havendo uma autonomia tireoidiana que causa tirotoxicose clinicamente aparente. O adenoma é uma neoplasia benigna, originada da proliferação de uma única célula, portanto, monoclonal (célula folicular cria autonomia na proliferação). O bócio nodular é uma hiperplasia, em que várias células proliferam em resposta a influências hormonais. Patogenia: A minoria (<20%) dos adenomas foliculares não funcionantes. Caso apresentem mutações de RAS ou PI3KC ou carregue um gene fusionado PAX8-PPARG serão apresentadas alterações genéticas compartilhadas com os carcinomas foliculares. Adenomas tóxicos: são mutações somáticas da via de sinalização do receptor de TSH (TSHR ou GNAS). Essas mutações de ganho-de-função em um dosdois componentes deste sistema de sinalização fazem com que as células foliculares secretem o hormônio tireoidiano, independentemente da estimulação do TSH (“autonomia Kreoidiana”), resultando num hipertireoidismo em que o nódulo tireoidiano é “quente” na imagem. As mutações em TSHR ou GNAS são raras nos carcinomas foliculares. Os adenomas tóxicos não parecem ser precursores de malignidade. Alterações macroscópicas: Lesão: solitária, esférica, encapsulada e medem cerca de 3 cm de diâmetro (alguns são um pouco maiores, podendo ter≥10 cm em diâmetro), cor varia de branco-acinzentado a vermelho-pardocento (dependendo da celularidade do adenoma e seu conteúdo coloidal), bem demarcada do parênquima tireoidiano circundante (células neoplásicas são demarcadas do parênquima adjacente por uma cápsula bem definida e intacta). Estas características são importantes para se fazer a distinção dos bócios multinodulares. As diferenças para os bócios multinodulares são que estes (bócios) contém: múltiplos nódulos em sua superfície lesionada, mas o paciente pode se apresentar clinicamente com um nódulo dominante solitário. Pode-se apresentar, tanto no bócio quanto no adenoma, áreas de fibrose (no bócio separa os nódulos e no adenoma reveste o nódulo como um todo), hemorragia, calcificação e mudanças císticas. Alterações microscópicas: É constituído por folículos pequenos, muito menores que o normal e geralmente sem colóide. O tumor é delimitado por uma cápsula fibrosa. Não há atipias celulares, mitoses ou necrose. Não há infiltração neoplásica da cápsula nem de vasos, o que é o único critério seguro para se diferenciar adenoma de adenocarcinoma. O tecido tireoidiano em volta do tumor sofre atrofia por compressão. Os adenomas podem ser histologicamente indistinguíveis dos nódulos hiperplásicos observados nos bócios nodulares, sendo a melhor maneira de diferenciá-los é na macroscopia. Observa-se na imagem que: → O tumor é bem delimitado do tecido tireoidiano circunjacente por cápsula fibrosa de espessura variável. → O tecido neoplásico é mais compacto que o tecido tireoidiano normal. → Os folículos tireoidianos próximos ao tumor são de diâmetro irregular e contêm coloide. Há áreas onde: → As células neoplásicas tendem a arranjar-se em folículos, imitando a estrutura básica do tecido tireoidiano normal. → Os folículos têm diâmetro e quantidade de coloide variáveis. Em outras áreas; → Arranjo folicular, mas os folículos não contém coloide. → As células são cúbicas ou colunares baixas, com núcleo redondo e cromatina densa, mas bem distribuída. → Não há pleomorfismo, hipercromatismo ou figuras de mitose. Ainda em outras áreas: luz folicular é diminuta ou inexistente, dando ao tecido aspecto sólido, em que não há colóide. Este padrão conhecido como adenoma fetal, sendo o aspecto da tireoide no feto, quando os folículos ainda não formaram luz. Diagnóstico diferencial entre adenoma e carcinoma da tireoide baseia-se em cuidadoso exame histológico do espécime cirúrgico, em que se procura invasão da cápsula ou de vasos. São os únicos critérios seguros, pois pleomorfismo ou mitoses não são confiáveis. Curso clínico: A grande maioria dos adenomas não sofre malignização, já que os carcinomas parecem originar-se já como tais, e não a partir de adenomas. Muitos adenomas foliculares se apresentam como massas indolores unilaterais, que são frequentemente descobertas durante um exame físico de rotina. Grandes massas podem produzir sintomas locais, como dificuldade de engolir. Adenomas não-funcionais: captam menos iodo radioativo do que o parênquima tireoidiano normal e geralmente aparecem com nódulos frios em relação ao tecido tireoidiano adjacente. Até 10% dos nódulos frios eventualmente se mostram malignos na análise histológica. Adenomas tóxicos: são ativos e tratam-se de nódulos quentes. Malignidade é rara nos nódulos quentes. Devido à necessidade de se avaliar a integridade capsular, o diagnóstico definitivo do adenoma somente pode ser feito após um exame histológico. Os adenomas suspeitos da tireoide são, portanto, removidos cirurgicamente para excluir a malignidade. Os adenomas foliculares têm excelente prognóstico não recorrem ou não dão metástases. CARCINOMAS A maioria dos carcinomas tireoidianos (exceto carcinomas medulares) derivam do epitélio folicular tireoidiano, sendo sua grande maioria formada por lesões bem definidas. São relativamente raros, predominando no sexo feminino. O principal fator predisponente é radiação, particularmente na infância. Os principais subtipos de carcinoma tireoidiano são: → Carcinoma papilar (>85% dos casos) → Carcinoma folicular (5% a 15% dos casos) → Carcinoma anaplásicos/indiferenciados (<5% dos casos) → Carcinoma medular (5% dos casos) CARCINOMAS PAPILARES São a forma mais comum, com frequência maior entre 25 e 50 anos de idade. Pode ser único ou múltiplo, encapsulado ou não. É muito mais provável em indivíduos expostos a altas doses de radiação ionizante. Patogenia: Existem várias vias de sinalização dentro da célula que podem causar alterações que gerem carcinomas. Alterações macroscópicas: As lesões podem conter áreas de fibrose e calcificações, são frequentemente císticas e podem ser solitárias ou multifocais. Alguns tumores podem estar bem circunscritos e até mesmo encapsulados ou infiltrar no parênquima adjacente com margens mal definidas. Alterações microscópicas: Podem apresentar papilas ramificadas, com uma haste fibrovascular e coberta por células epiteliais cuboides. Os núcleos das células contêm: → Cromatina finamente dispersa, sendo opticamente clara ou vazia = núcleo de vidro moído/ claro/ fosco ou olho da órfã Annie. → Invaginações do citoplasma. Em um corte transversal, tem-se a aparência de inclusões intranucleares (“pseudoinclusões”) ou sulcos intranucleares. Observam-se estruturas concentricamente calcificadas chamadas de corpos de psamonas, que são uma forte indicação de que a lesão é um carcinoma papilar. Corpos de psamonas: estruturas calcificadas; são exclusivas de carcinoma papilar. Existem focos de invasão linfática pelo tumor, estando frequentemente presentes. O envolvimento de vasos sanguíneos é relativamente raro, particularmente em lesões menores. Estima-se que metástases para os linfonodos cervicais adjacentes ocorram em mais da metade dos casos. O diagnóstico de carcinoma papilar é feito com base nas características nucleares, mesmo na ausência da arquitetura papilar; Há mais de uma dúzia de variantes histológicas de carcinoma papilar que podem: → Mimetizar outras lesões da tireoide → Abrigar implicações prognósticas distintas → Variante mais comum é a variante folicular Variação folicular: pode surgir sem o aspecto papilífero, mas constituindo folículos com a característica de fenda e núcleo claro. → O diagnóstico histológico é dado pela análise dos núcleos (que é característico do carcinoma papilar). → É mais frequentemente encapsulada → Apresenta incidência de metástases nos linfonodos + extensão extratireiodiana menores do que os carcinomas papilares convencionais Curso clínico: São nódulos tireoidianos assintomáticos, geralmente frios à cintilografia. Primeira manifestação pode ser uma massa em um linfonodo cervical. Geralmente um nódulo simples. Nódulo que se move livremente durante a deglutição. Sintomas: rouquidão, disfagia, tosse e dispnéia nos casos avançados. Apresentam excelente prognóstico, sendo a taxa de sobrevivência por 10 anos em mais de 95%. Crescimento lento, com baixo grau de malignidade.Metástase a distância em 5%: pulmões (70%), ossos (20%) e SNC (10%). Pacientes eutireoidianos (nódulos frios).
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