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Por Eduarda Lins e Isabela Rubini Patologia Especial III – Dr. Carlos Takita HIPÓFISE É composta por dois componentes distintos morfológica e funcionalmente: o lóbulo ante- rior (adeno-hipófise) e o lóbulo posterior (neuro-hipófise). A neuro-hipófise consiste em células gliais mo- dificadas e processos axonais de neurônios hi- potalâmicos. É responsável pela secreção de dois hormônios: a ocitocina e o hormônio an- tidiurético (ADH ou vasopressina). Esses, na realidade, são sintetizados no hipotálamo e armazenados dentro dos terminais axônicos encontrados na neuro-hipófise. A adeno-hipófise, por sua vez, constitui cerca de 80% da glândula e a produção da maioria de seus hormônios é controlada predominan- temente pela liberação de fatores estimulan- tes a partir do hipotálamo. A maior exceção é a prolactina – seu controle hipotalâmico pri- mário é inibitório, através da ação da dopa- mina. TUMORES PRIMÁRIOS A maioria dos tumores primários de hipófise são adenomas, sendo que os carcinomas são raros. Os adenomas hipofisários são classifica- dos com base no hormônio produzido pelas células neoplásicas, as quais são detectadas por colorações imuno-histoquímicas. Alguns adenomas hipofisários podem secre- tar dois hormônios (com HC e prolactina, sendo a combinação mais comum), e rara- mente, os adenomas hipofisários são pluri- hormonais. Podem ainda ser divididos em funcionais (i.e., associados com o excesso de hormônio e as manifestações clínicas disto) ou não funcionais (i.e., demonstração imuno-histoquímica e/ou ultraestrutural da produção hormonal no nível do tecido, sem sintomas clínicos do excesso de hormônio). 2 Dos tumores malignos de hipófise, o mais co- mum é o metastático de câncer de mama. Classificação 1. De células produtoras de: Prolactina: lactotrófico GH: somatotrófico TSH: tireotrófico ACTH: corticotrófico 2. De células gonadotróficas (produtores de FSH e LH): geralmente silenciosos, corres- pondendo à maioria dos casos de “células nulas”, isto é, sem imagem à imuno-histo- química. 3. Mistos (pluri-hormonais): mais comumente produção associada de GH e prolactina (mamossomatotrófico). 4. Hormônio-negativos Microscopia Descrição da aula: células monomórficas se- melhantes a linfócitos (pequenas, redondas e com pequenos nucléolos), ao corar peça com reticulina, peça não se cora (sem trama de re- ticulina). Este monomorfismo celular e a ausência de uma rede de reticulina significativa distinguem os adenomas hipofisários do parênquima da adeno-hipófise não neoplásica. Diagnóstico O melhor método de imagem é a RMN, pela qual são classificados em micro (menores que 1 cm) ou macroadenomas (com risco de her- niação uncal). Macroadenomas (> 1cm) são in- dicações formais de cirurgia, sendo geral- mente tipo silencioso ou de células nulas. O tipo mais frequente é o lactotrófico/prolac- tinoma (26%), seguido dos de células nulas (17%) e dos corticotróficos (15%). Os demais ocorrem nas seguintes frequências: Somatotrófico: 14% Pluri-hormonal: 13% Gonadotrófico: 8% Oncitoma (céls. oncocíticas símile): 6% Tireotrófico: menos comum, 1% Quadro clínico Os sinais e sintomas comuns seriam os por efeito de massa local. Pela proximidade com o quiasma, lesões hipofisárias expansivas geral- mente comprimem as fibras cruzadas no qui- asma óptico, levando a anormalidades do campo visual (hemianopsia bitemporal). O au- mento da PIC pode levar a dor de cabeça, náu- sea e vômito. Ademais, o quadro clínico específico varia con- forme o hormônio produzido pelas células de origem. Prolactinomas Os níveis séricos aumentados da prolactina, ou prolactinemia, causam amenorreia, galac- torreia, perda da libido e infertilidade. O diag- nóstico de um adenoma é feito mais pronta- mente na mulher do que no homem, especi- almente entre as idades de 20 a 40 anos, pre- sumivelmente por causa da sensibilidade da menstruação de ser interrompida pela hiper- prolactinemia. Somatotróficos Níveis persistentemente elevados de HC esti- mulam a secreção hepática do fator de cresci- mento semelhante à insulina 1 (IGF-1 ou so- matomedina C), o que causa muitas das mani- festações clínicas. 3 Se aparece em crianças antes do fechamento das epífises, níveis elevados de HC (e IGF-1) re- sultam em gigantismo (aumento generalizado do corpo + braços e pernas desproporcional- mente longos). Quando já completado o fe- chamento, resultam em acromegalia. O excesso de HC leva a uma variedade de ou- tros distúrbios, incluindo disfunção gonadal, diabetes melito, fraqueza muscular generali- zada, hipertensão, artrite, insuficiência cardí- aca congestiva e um risco aumentado de cân- ceres gastrointestinais. Corticotróficos A produção excessiva de ACTH leva à hiperse- creção suprarrenal de cortisol e ao desenvol- vimento de hipercortisolismo (síndrome de Cushing). Os estágios iniciais se apresentam com hipertensão e ganho de peso, que com o tempo se torna característica, com obesidade central, fácies em lua cheia e formação da giba (“corcova de búfala”). Causa uma atrofia seletiva das miofibras de contração rápida (tipo 2), resultando em massa muscular diminuída e fraqueza nos membros proximais. Os glicocorticoides indu- zem a gliconeogênese e inibem a captação de glicose pelas células, resultando em diabetes secundário. Os efeitos do catabolismo causam perda de colágeno e reabsorção óssea. Consequente- mente, a pele é fina, frágil e facilmente machu- cada; a cicatrização de ferimentos é fraca; e as estrias cutâneas são particularmente comuns na área abdominal. A reabsorção óssea re- sulta no desenvolvimento de osteoporose, com consequente dor nas costas e suscetibilidade a fraturas aumentada. Não funcionais Sua apresentação típica são os efeitos de massa. Essas lesões também podem compro- meter suficientemente a adeno-hipófise resi- dual, causando o hipopituitarismo. Isto pode ocorrer como resultado do aumento gradual do adenoma ou após o aumento abrupto do tumor devido a uma hemorragia aguda (apo- plexia hipofisária). As manifestações clínicas do hipofunciona- mento podem ser muito variáveis. Deficiência de GH: falha de cresci- mento (nanismo hipofisário) Deficiência de gonadotrofina o Mulheres: amenorreia e inferti- lidade o Homens: diminuição da libido, impotência e perda de pelos pubianos e axilares Deficiência de TSH: hipotireoidismo Deficiência de ACTH: hipoadrenalismo Deficiência de prolactina: falha da lac- tação pós-parto A adeno-hipófise também é uma rica fonte de hormônio estimulador de melanócitos (MSH), sintetizado a partir da mesma molécula pre- cursora que produz o ACTH. Portanto, uma das manifestações do hipopituitarismo inclui palidez decorrente da perda dos efeitos esti- mulatórios do MSH nos melanócitos. Diagnóstico diferencial Síndrome de Sheehan: necrose pós- parto da adeno-hipófise Hipofisite autoimune Craniofaringioma: cístico à RMN, relati- vamente comum, derivado de células resquiciais embrionárias Meningioma Cistos da fenda de Rathke Entre outros DIABETES INSIPITUS Causada pela deficiência de ADH. A maioria é de causa idiopática (30%), seguido dos glio- mas (em adultos, 25%), pós-hipofisectomia (20%) e traumatismos (15%). 4 Caracteriza-se pela micção excessiva (poliúria) decorrente da incapacidade do rim de absor- ver a água apropriadamente da urina nos duc- tos coletores. O sódio sérico e a osmolalidade estão aumentados como resultado da perda renal excessiva de água livre, resultando em sede e polidipsia. _______________________________________________ PATOLOGIA PEDIÁTRICA NÃO NEOPLÁSICA I No primeiro ano de vida, as principais causas de óbito são: Malformações congênitas, deformida- des e anomalias cromossômicas Complicações por prematuridade e baixo peso ao nascer Síndrome da morte súbita do lactente Distúrbios da placenta, membranas amnióticas e cordão umbilical Síndrome da angústia respiratória do recém-nascido Sepse bacteriana do recém-nascido Hipóxia intrauterina e asfixia ao nasci- mento MALFORMAÇÕES Representam erros primários na morfogê- nese, em que existe desenvolvimento anormal intrínseco no processo de desenvolvimento. Incluem alterações desde poli e sidactilia até dismorfogenesia externa incompatível com a vida. A maioria das malformações são tidas como multifatoriais (20-25%) ou de causa desconhe- cida (40-60%). As conhecidas são: Genéticas o Aberrações cromossômicas: 10 a 15% o Herança mendeliana: 2 a 10% Ambientais o Infecções (SToRC e HIV): 2 a 3% o Doença materna (PKU, DM e endocrinopatias): 6 a 8% DISTÚRBIOS DA PLACENTA, MEMBRANAS E CORDÃO UMBILICAL DISRUPÇÃO As rupturas, ou disrupturas, resultam da des- truição secundária de um órgão ou de uma re- gião do corpo, cujo desenvolvimento prévio era normal. Logo, ao contrário das malforma- ções, surgem a partir de um distúrbio extrín- seco na morfogênese. O exemplo mais clássico são as faixas ou ban- das amnióticas. Decorrem da ruptura do âm- nio durante o desenvolvimento fetal, podem 5 comprimir, fixar ou circundar partes do feto em desenvolvimento. OLIGODRÂMNIO Uma sequência consiste em um padrão de anomalias desencadeadas em cadeia a partir de uma aberração inicial. Um bom exemplo é a sequência oligoidrâmnio (ou de Potter). Foi primeiramente descrito em 1950, pela pa- tologista pediátrica Dra. Potter. Suas causas incluem o extravasamento crô- nico de líquido amniótico devido a ruptura do âmnio, insuficiência uteroplacentária secun- dária à hipertensão materna ou toxemia grave e agenesia renal no feto (urina fetal é um com- ponente importante do líquido amniótico). A compressão fetal associada ao oligoidrâm- nio significativo acarreta um fenótipo clássico no recém-nascido, incluindo face achatada e anormalidades posicionais das mãos e dos pés (talipe equinovaro). Os quadris podem es- tar luxados. O crescimento da parede torácica e dos pul- mões também é comprometido, e, por conse- guinte, costuma haver hipoplasia pulmonar. Com frequência, há nódulos no âmnio (âmnio nodoso) e apresentação pélvica do feto. SÍNDROME DA ANGÚSTIA RESPIRATÓRIA É a causa mais comum de dificuldades respi- ratórias no recém-nascido. Também é conhe- cida como doença da membrana hialina, pela deposição de uma membrana de material 6 proteináceo hialino nos espaços aéreos peri- féricos dos neonatos que sucumbem a esse distúrbio. O neonato quase sempre é prematuro e AIG, e há associações fortes, mas não invariáveis, ao diabetes materno e ao parto cesáreo. Patogenia A imaturidade dos pulmões é o elemento mais importante que leva ao desenvolvimento desse distúrbio. A incidência de SAR é inversa- mente proporcional à idade gestacional. Ela ocorre em cerca de 60% dos recém-nascidos com menos de 28 semanas de gestação e me- nos de 5% daqueles nascidos com até 37 se- manas de gestação. Seu defeito fundamental é uma deficiência de surfactante pulmonar, cuja produção pelas células alveolares tipo II é acelerada no feto após a 35ª semana de gestação. Ao nascimento, a primeira respiração requer altas pressões inspiratórias para expandir os pulmões. Com níveis normais de surfactantes, os pulmões conservam até 40% do volume de ar residual após a primeira incursão respirató- ria, necessitando de pressões inspiratórias bem menores nas seguintes. Com uma deficiência de surfactante, os pul- mões sofrem colapso a cada incursão respira- tória, por aumento da tensão superficial alve- olar. Assim, o esforço de cada uma é tão in- tenso quanto o da primeira. O problema dos pulmões atelectásicos rígidos é agravado pela parede torácica flexível, que é puxada para dentro quando o diafragma desce. Então, a atelectasia progressiva e uma com- placência pulmonar reduzida causam hipoxe- mia e retenção de CO2 que evoluem para aci- dose, vasoconstrição e hipoperfusão pulmo- nares, gerando lesão endotelial. Há conse- quente exsudação rica em proteína e fibrina para dentro dos espaços alveolares, com a formação de membranas hialinas que agem como barreiras à troca de gases, levando à re- tenção de CO2 e hipoxemia. Por sua vez, a hi- poxemia prejudica ainda mais a síntese de surfactante, e um círculo vicioso se instala. Prevenção e tratamento A síntese de surfactante é modulada por uma variedade de hormônios e fatores de cresci- mento, como cortisol, insulina, prolactina, tiro- xina e TGF-β. O papel dos glicocorticoides é es- pecialmente importante. As condições associa- das ao estresse intrauterino e à RCF que au- mentam a liberação de corticoesteroides di- minuem o risco de desenvolvimento da SAR. O trabalho de parto é conhecido por aumen- tar a síntese de surfactantes; logo, o parto ce- sáreo induzido antes do trabalho de parto pode induzir o risco de SAR. Uma parte importante do controle da SAR ba- seia-se na prevenção, seja por adiamento do 7 parto até que o pulmão fetal atinja a maturi- dade ou pela indução da maturação dos pul- mões nos fetos em risco. Os corticoesteroides reduzem a morbidade e a mortalidade neonatais quando administra- dos às mães em ameaça de parto prematuro com 24 a 34 semanas de gestação. Isso pois induzem a formação de lipídios, surfactantes e apoproteínas nos pulmões fetais. A administração profilática de surfactante exó- geno ao nascimento em neonatos extrema- mente prematuros (IG de 26 a 28 semanas) ajuda a evitar a morte. Após o nascimento, a base do tratamento consiste na reposição de surfactante e administração de oxigênio. O tratamento possui risco de toxicidade do oxigênio causado por radicais livres derivados do oxigênio. Altas concentrações de oxigênio administradas por períodos prolongados ge- ram duas complicações bem conhecidas: reti- nopatia da prematuridade e displasia bronco- pulmonar. Macroscopia Pulmões de tamanho normal, mas sólidos, desprovidos de ar e roxo-avermelhados. Microscopia Microscopicamente, os alvéolos são mal de- senvolvidos, e aqueles presentes sofreram co- lapso. Quando o neonato morre no início do curso da doença, restos celulares necróticos podem ser observados nos bronquíolos ter- minais e ductos alveolares. Descrição da aula: atelectasia alternante e di- latação dos alvéolos, com membranas hialinas eosinofílicas espessas que revestem os alvéo- los dilatados. Complicações Os lactentes que se recuperam da SAR apre- sentam um risco maior para o desenvolvi- mento de uma variedade de outras complica- ções associadas ao parto prematuro, sendo as mais importantes a persistência do canal arte- rial, a hemorragia intraventricular e a enteroco- lite necrosante. Enterocolite necrosante Mais comum em lactentes prematuros, inver- samente proporcional à IG. Tem potencial de ruptura intestinal com evolução para perito- nite purulenta ou fecaloide por distensão glo- bal das alças, podendo culminar em sepse. São vistas áreas de infarto hemorrágico e ne- crose coagulativa transmural à microscopia. As radiografias abdominais costumam de- monstrar gás dentro da parede intestinal (pneumatose intestinal). SÍNDROME DA MORTE SÚBITA DO LACTENTE Definida como morte súbita de um lactente menor de um ano de idade que permanece inexplicada após uma investigação minuciosa do caso, incluindo a realização de uma ne- cropsia completa, exame do local da morte e revisão da história clínica. 8 A incidência vem aumentando. Aproximada- mente 90% de todas as mortes por SMSL ocorrem durante os 6 primeiros meses de vida, a maioria entre 2 e 4 meses. Etiologia e fatores de risco O fatordesencadeante parece ser um desen- volvimento retardado de “estímulos” e con- trole cardiorrespiratório, por imaturidade do tronco encefálico, sobretudo do bulbo. Inúmeros fatores de risco foram propostos; a academia americana de pediatria aponta que a causa mais relacionada é a posição ventral ao dormir. Morfologia O achado mais comum são petéquias múlti- plas (aproximadamente 80% dos casos); elas geralmente estão presentes no timo, na pleura parietal e visceral, e no epicárdio. Ma- croscopicamente, os pulmões estão geral- mente congestionados, e microscopicamente observa-se, na maioria dos casos, ingurgita- mento vascular com ou sem edema pulmonar. Estudos morfométridos sofisticados revela- ram anormalidades quantitativas do TE, como a hipoplasia do núcleo arqueado ou uma dimi- nuição na população neuronal no tronco en- cefálico nos casos graves. HIDROPSIAS FETAIS Referem-se ao acúmulo de líquido no feto du- rante o crescimento intrauterino. Pode ser di- fuso, com edema generalizado do feto (hidro- pisia fetal), uma condição geralmente fatal, ou focal, com acúmulo de fluido pós-nucal (hi- groma cístico), que são compatíveis com a vida. Suas causas dividem-se entre imunes e não imunes. Até recentemente, a anemia hemolí- tica por incompatibilidade Rh (hidropsia imune) era a causa mais comum, mas o su- cesso de sua profilaxia fez com que as hidro- pisias não imunes emergissem como as prin- cipais culpadas. As três causas principais da hidropisia não imune incluem os defeitos cardiovasculares, anormalidades cromossômicas e anemia fetal. Entre as anormalidades cromossômicas, o ca- riótipo 45,X (síndrome de Turner) e as trisso- mias do 21 e do 18 estão associados à hidro- pisia fetal. As anemias fetais por α-talassemia 9 monozigótica e infecção transplacentária por parvovírus B19 também são causas de hidrop- sias fetais não imunes. Nas hidropisias associadas à anemia fetal, tanto o feto como a placenta são caracteristi- camente pálidos. Na maioria dos casos, o fí- gado e o baço estão aumentados devido a in- suficiência cardíaca e congestão. Adicionalmente, a medula óssea exibe uma hi- perplasia compensatória dos precursores eri- troides (sendo a aplasia das hemácias associ- ada ao parvovírus 19 uma grande exceção) e a hematopoese extramedular (pequenas célu- las azuis) ocorre no fígado, no baço e nos lin- fonodos, e, possivelmente, em outros tecidos como os rins, pulmões e até mesmo o cora- ção. A atividade hematopoética aumentada justi- fica a presença de um grande número de he- mácias imaturas na circulação periférica, inclu- indo reticulócitos, normoblastos e eritroblas- tos (eritroblastose fetal). A ameaça mais séria na hidropisia fetal é a le- são do sistema nervoso central conhecida como kernicterus. O cérebro afetado apre- senta-se aumentado e edemaciado e, quando seccionado, apresenta uma coloração ama- relo-brilhante, particularmente nos núcleos basais, tálamo, cerebelo, massa cinzenta cere- bral e medula espinal. Essa condição ocorre principalmente em lac- tentes prematuros, pois a BHE não é bem de- senvolvida. Esse acúmulo de bilirrubina nos núcleos da base, secundária à degradação de hemácias pela hidropsia, culmina em condi- ção neurológica de retardo mental irreversí- vel. Microscopia _______________________________________________ TIREOIDE A tireoide é uma glândula localizada na porção anterior do pescoço a nível da cartilagem cri- 10 coide. Consiste em dois lobos laterais volumo- sos conectados por um istmo relativamente fino, geralmente localizados abaixo e anterior- mente à laringe. Cerca de 8 a 12% das pessoas apresentam ainda um lóbulo acessório, deno- minado piramidal, este sempre localizado su- periormente, nunca inferior. É inervada pelo nervo laríngeo recorrente, ramo do nervo vago. Este pode ser lesionado na abordagem cirúrgica da glândula, gerando rouquidão, afonia/disfonia, etc. ANOMALIAS CONGÊNITAS – ECTOPIA Tireoide ectópica é qualquer tecido tireoide- ano localizado fora de sua topografia habitual, podendo apresentar-se na linha mediana do pescoço ou, mais raramente, na região cervi- cal lateral. A localização mais frequente é a re- trolingual, que pode obstruir vias respiratórias e causar insuficiência respiratória. Outras localizações são intralingual, sublin- gual, pré-laríngico, intratraqueal e substernal, em ordem decrescente de ocorrência. O diag- nóstico é feito por cintilografia, pela visualiza- ção de massa que capta iodo radioativo. O pa- ciente com tireoide ectópica pode ou não ter tireoide “tópica”. BÓCIO COLOIDE MULTINODULAR O aumento da tireoide, ou bócio, é a manifes- tação mais comum de doença tireoidiana. O bócio difuso e multinodular reflete a síntese prejudicada de hormônio tireoidiano, mais frequente por deficiência alimentar de iodo. O dano na síntese de hormônio tireoideano (T4) leva a aumento compensatório no nível sérico de TSH, que gera hipertrofia e hiperpla- sia das células foliculares tireoidianas e conse- quente aumento macroscópico da glândula. Esse aumento compensatório é capaz de su- perar a deficiência hormonal, garantindo o es- tado metabólico eutireoideo na maioria dos indivíduos. Se o distúrbio for suficientemente grave, a res- posta compensatória é insuficiente e resulta em hipotireoidismo bocioso. O grau do au- mento glandular é proporcional ao nível e à duração da deficiência do hormônio tireoidi- ano. Morfologia A glândula grosseiramente nodular contém áreas de fi- brose e de alteração cística. Descrição da aula: nódulos delimitados por traves fibrosas. Na maior parte dos casos, a hipertrofia e a hi- perplasia das células foliculares tireoidianas induzidas pelo TSH resultam inicialmente em aumento difuso e simétrico da glândula (bócio difuso). Os folículos estão revestidos por células colu- nares agrupadas, que podem se amontoar e formar projeções semelhantes àquelas vistas 11 na doença de Graves. Se o iodo dietético au- mentar subsequentemente ou se as deman- das por hormônio tireoidiano forem reduzi- das, o epitélio folicular estimulado involui para formar uma glândula aumentada, rica em co- loide (bócio coloide). A superfície de corte da tireoide nesses casos geralmente é marrom, com aspecto um tanto vítreo, e translúcida. As lesões mais antigas exibem áreas de fibrose, hemorragia, calcifica- ção e alteração cística. Comentário aleatório do professor: mandioca é bociogênica. Com o tempo, episódios recorrentes de hiper- plasia e involução se combinam para produzir aumento mais irregular da tireoide, denomi- nado bócio multinodular. Virtualmente todos os bócios difusos de longa duração se conver- tem em bócios multinodulares. Microfotografia de uma amostra de nódulo hiperplásico, com parênquima tireoidiano residual comprimido na peri- feria. Os folículos hiperplásicos contêm “coloide” rosado abundante nos seus lumens. Observe a ausência de cáp- sula proeminente, uma característica que diferencia essas lesões das neoplasias da tireoide. HIPOTIREOIDISMO É razoavelmente comum e a prevalência do hi- potireoidismo aparente na população é de 0,3%, enquanto o hipotireoidismo subclínico pode ser encontrado em mais de 4%. Quanto à causa, pode ser primário (anormalidade tire- oideana) ou secundário (doença hipofisária ou hipotalâmica). O hipotireoidismo primário pode ser congê- nito, adquirido ou autoimune. O tipo autoi- mune é o mais comum em áreas do mundo com iodo suficiente, sendo a grande maioria decorrente da tireoidite de Hashimoto, des- crita por Hashimoto em 1912. Quadro clínico O termo mixedema é aplicado ao hipotireoi- dismo que se desenvolve em crianças mais ve- lhas ou em adultos. Caracteriza-se por lenti- dão das atividades física e mental. Os sintomas iniciais incluem fadiga generali-zada, apatia e preguiça mental. As funções de linguagem e intelectuais se tornam lentas. Os pacientes são apáticos, intolerantes ao frio e frequentemente estão acima do peso. A atividade simpática diminuída resulta em constipação e sudorese diminuída (pele seca). A pele desses pacientes é fria e pálida devido à redução do fluxo sanguíneo. O débito cardí- aco reduzido provavelmente contribui para o encurtamento da respiração e a capacidade de exercício reduzida. Além disso, o hipotireoidismo promove um perfil aterogênico – aumento dos níveis de co- lesterol total e lipoproteína de baixa densi- dade (LDL). Outras queixas incluem alopecia, bócio, vitiligo, galactorreia, ascite, leuconíquia (sobretudo leuconíquia punctata, que con- siste em um ou mais pontos brancos na unha), hidrocele, redução de pelos genitais, reflexo aquileu prolongado, derrame pleural, infusão pericárdica, surdez, edema orbital (pálpebra infiltrada), ptose palpebral, cabelos brancos prematuros e expressão letárgica (sem vivaci- dade). Histologicamente há um acúmulo de substân- cias matriciais na pele, no tecido subcutâneo e em vários pontos viscerais. Isso resulta em edema não depressível, um alargamento e en- grossamento das características faciais (fácies mixedematosa), aumento da língua e aprofun- damento da voz. 12 O cretinismo se refere ao hipotireoidismo que se desenvolve no período da lactância. Atual- mente é uma complicação rara graças À tria- gem neonatal. Morfologia A tireoide está, com frequência, difusamente aumentada. A tireoide normal apresenta cor âmbar, enquanto a com tireoidite de Hashi- moto, apresenta coloração branco-acinzen- tada de consistência “borrachosa” com peque- nos nódulos difusos. Apresenta infiltrado linfocitário que vai pouco a pouco destruindo a arquitetura normal da glândula formando folículos linfoides nos cen- tros germinativos. Os folículos tireoidianos são atróficos e estão revestidos em muitas áreas por células epiteliais diferenciadas pela presença de abundante citoplasma eosinofí- lico e granular, denominadas células de Hürthle, ou oxifílicas. Isso constitui uma res- posta metaplásica do epitélio folicular cuboi- dal normalmente baixo à lesão continuada. HIPERTIREOIDISMO A tirotoxicose é um estado hipermetabólico causado por níveis circulantes elevados de T3 e T4 livres. Como essa condição é causada mais comumente pelo hiperfuncionamento da glândula tireoide, é frequentemente co- nhecida como hipertireoidismo. As três causas mais comuns de tirotoxicose estão também associadas ao hiperfunciona- mento da glândula: Hiperplasia difusa da tireoide por do- ença de Graves (85% dos casos) Bócio multinodular hiperfuncionante Adenoma hiperfuncional da tireoide Quadro clínico Inclui mudanças conhecidas como estado hi- permetabólico induzido pelo excesso de hor- mônio tireoidiano e pela superatividade do sistema nervoso simpático. Desse modo, os sintomas incluem pele quente, macia e ruborizada pelo FS aumen- tado e vasodilatação periférica para aumento da perda de calor. A intolerância ao calor é co- mum. A taxa metabólica basal aumentada também resulta em perda de peso aumen- tada a despeito do apetite aumentado. As manifestações cardíacas estão entre as mais precoces e mais consistentes caracterís- ticas do hipertireoidismo. Taquicardia, palpita- ções e cardiomegalia são comuns. As arrit- mias, particularmente fibrilação atrial, ocor- rem frequentemente e são mais comuns em pacientes idosos. 13 No sistema neuromuscular, a superatividade do sistema nervoso simpático produz tremor, hiperatividade, labilidade emocional, ansie- dade, incapacidade de concentração e insô- nia. Fraqueza muscular proximal e massa muscular diminuída são comuns (miopatia ti- reoidiana). Um olhar fixo e arregalado e movimento lento da pálpebra superior estão presentes por causa da superestimulação simpática do le- vantador de pálpebra superior. A oftalmopatia tireoidiana associada à proptose é vista so- mente na doença de Graves. No TGI, há hiperestimulação causando hiper- motilidade, má absorção e diarreia. No sis- tema esquelético, hormônio tireoidiano esti- mula a reabsorção óssea, causando osteopo- rose e risco aumentado de fraturas. Outros achados incluem atrofia do músculo esquelético, com infiltração gordurosa e infil- trados linfocíticos intersticiais focais; dilatação hepática mínima devida às alterações adipo- sas nos hepatócitos; e hiperplasia linfoide ge- neralizada e linfadenopatia em pacientes com doença de Graves. Morfologia A glândula tireoide está, em geral, simetrica- mente aumentada por causa da hipertrofia e hiperplasia difusas das células epiteliais folicu- lares da tireoide. Em corte, o parênquima tem uma aparência macia e carnuda, parecendo um músculo normal. Há um aumento simétrico difuso da glândula e um pa- rênquima muito avermelhado e carnoso. Histologicamente, as células epiteliais folicula- res, em casos não tratados, são altas e mais populosas do que o normal. Esta superpopu- lação frequentemente resulta na formação de pequenas papilas, que se projetam no lúmen folicular e passam dos limites do coloide, algu- mas vezes enchendo os folículos. Tais papilas não apresentam núcleos fibrovas- culares, contrariamente às do carcinoma pa- pilar. O coloide no lúmen folicular é pálido, com margens recortadas. Os infiltrados linfoi- des, consistindo predominantemente em cé- lulas T, com poucas células B e plasmócitos maduros, estão presentes por todo o interstí- cio; os centros germinativos são comuns. Descrição da aula: vacúolos secretório no polo apical das células foliculares. TIREOIDITES Inflamação da glândula, podendo cursar com hipo ou hipertireoidismo. Tipos Hashimoto Pós-parto indolor: mais frequente Indolor esporádica: infrequente De De Quervain/subaguda granuloma- tosa: mais frequente, 20 a 60 anos, 14 possível etiologia virótica, dor local à palpação o Microscopia: granulomas com células epitelioides e células gi- gantes multinucleadas decor- rente da ruptura dos folículos com migração de infiltrado in- flamatório Infecciosa aguda De Riedel/fibrótica crônica: em discus- são se é evolução da tireoidite de Hashimoto; infiltrado inflamatório exu- berante acompanhado de fibrose; pode ser confundido com carcinoma infiltrativo (diagnóstico diferencial) o Recomenda-se investigação por biópsia Observação: nódulos > 1 cm de diâmetro deve ser feita punção aspirativa CLASSIFICAÇÃO DE BETHESDA Para classificação material de punção. Classe III: 3 a 4 meses de seguimento do paci- ente, repetindo os exames. Se houver cresci- mento, realizar nova punção. Classes V e VI: casos cirúrgicos. TUMORES DE TIROIDE O nódulo tireoidiano solitário é um aumento palpavelmente distinto na glândula tireoide aparentemente normal. Os nódulos simples são cerca de 4x mais comuns em mulheres do que em homens. A incidência de nódulos tire- oidianos aumenta ao longo da vida. Adenomas São tipicamente massas solitárias, discretas e derivadas do epitélio folicular, e por isso são conhecidos como adenomas foliculares. Em geral, não são precursores dos carcinomas. Embora, em sua grande maioria, os adenomas sejam não funcionantes, uma pequena pro- porção produz hormônios tireoidianos e causa tireotoxicose clinicamente aparente. Quando é hiperfuncionante (na cintilografia, ou seja, quando capta iodo) é chamado de do- ença de Plummer. O adenoma tireoidiano típico é uma lesão so- litária, esférica e encapsulada que é bem de- marcada do parênquima tireoidiano circun- dante. Os adenomas foliculares medem cerca de 3 cm de diâmetro, mas alguns são um pouco maiores (≥10 cm em diâmetro). As células neoplásicas são demarcadas do pa- rênquima adjacente por uma fina cápsulade 15 tecido conjuntivo bem definida e intacta. Na ausência de cápsula, trata-se de carcinoma fo- licular bem diferenciado, que corresponde a 10% dos casos. Observação: todo tumor com características pa- pilíferas é carcinoma, não adenoma; adenoma folicular da tireoide é o único que existe. Células formam folículos aparentemente uni- formes que contêm coloides, com padrão de crescimento folicular geralmente um tanto distinto do da tireoide não neoplásica adja- cente. As células epiteliais que compõem o adenoma folicular revelam uma pequena vari- ação na morfologia celular e nuclear, e figuras mitóticas são raras. Carcinomas A maioria dos carcinomas tireoidianos (exceto carcinomas medulares) é derivada do epitélio folicular tireoidiano, e, destes, a grande maio- ria é formada por lesões bem definidas. São relativamente raros, predominando no sexo feminino. O principal fator predispo- nente é radiação, particularmente na infância. Os tipos mais comuns são o carcinoma papilí- fero (cerca de 80%) e o folicular (15%). O papilífero predomina entre os 20 e 40 anos, o folicular mais tarde (entre 40 e 50 anos). Po- dem ser únicos ou múltiplos, encapsulados ou não. Ambos tipos geralmente não captam iodo radioativo, aparecendo em cintilografias como nódulos frios. Carcinoma papilífero Elevada taxa de cura, de 98 a 100%. É mal de- limitado, às vezes, na microscopia, macrosco- pia tem excrescências papilíferas dentro de uma cavidade. Tende a dar metástases a linfo- nodos regionais. Contudo, é de crescimento muito lento e o prognóstico é bom (98 % de sobrevida em 10 anos). As células tendem a dispor-se ao longo de ei- xos conjuntivo-vasculares ramificados, for- mando papilas. As células costumam ser cu- boides ou colunares baixas, uniformes e bem diferenciadas. Atualmente, a arquitetura papi- lífera não é mais considerada o critério deci- sivo para o diagnóstico deste tipo de tumor, dando-se maior importância às características nucleares. Diagnóstico é feito pela arquitetura da lesão à microscopia: cromatina vesiculosa clara e ho- mogênea, gerando núcleos com aspecto em vidro fosco (“em olhos da órfã Annie”, caracte- rísticas mais importantes) e pseudoinclusão nuclear. 16 As pseudoinclusões nucleares resultam de in- vaginações da membrana nuclear contendo citoplasma (invaginações do citoplasma para dentro do núcleo). A imagem é criada por su- perposição, não se tratando de inclusão ver- dadeira. São uma feição comum do carcinoma papilífero. Às vezes é possível visualizar fenda na membrana nuclear, de aspecto seme- lhante, este sendo artefato da coloração. Um tipo de calcificação laminar concêntrica característica é chamada de corpo psamoma- toso e está presente em carcinomas papilífe- ros em geral (ovário, pâncreas, pulmão, etc.) Têm importância para o diagnóstico de carci- noma papilífero porque são muito mais raros em outros tipos de carcinoma da tiroide como o folicular, medular e anaplásicos. 17 Os carcinomas papilíferos têm pelo menos al- guns folículos em meio às papilas. Em alguns, o componente folicular pode predominar muito sobre o papilífero, ou o tumor pode ser exclusivamente folicular. Nesses casos, o diag- nóstico de carcinoma papilífero baseia-se nas características nucleares. Esses carcinomas papilíferos são chamados de variante folicular e se comportam biologi- camente como os carcinomas papilíferos ha- bituais, ou seja, são infiltrativos localmente e, geralmente, não são encapsulados. Seu prog- nóstico é melhor que o do carcinoma folicular verdadeiro. Carcinomas papilíferos podem ocorrer como lesões solitárias ou multicêntricas na tiroide. Alguns tumores são bem delimitados e até en- capsulados. Outros, contudo, infiltram o pa- rênquima adjacente com margens mal defini- das. Carcinoma folicular Segundo mais frequente, representando 10 a 15%. É francamente invasivo, apresentando pior prognóstico em relação ao papilífero, com propensão a invadir vasos e dar metástases a distância para ossos, pulmões, fígado, etc. A chance de cura é de 65 a 75%. 18 O critério diagnóstico é invasão da cápsula fi- brosa (carcinoma folicular bem diferenciado), gerando imagem em cogumelo, ou infiltração vascular desta. Diferentemente do que ocorre nos cânceres papilares, a disseminação linfá- tica é incomum em cânceres foliculares. Carcinomas foliculares demonstram invasão capsular (se- tas) que é mínima, como nesse caso, ou ampla, com exten- são para as estruturas locais do pescoço Carcinoma medular Representa cerca de 5% dos carcinomas. É es- porádico e unilateral em 85% dos casos. Em torno de 15% pode ser familiar ou fazer parte das síndrome de neoplasia endócrina múlti- pla. Sua característica é a produção de calcitonina (substância amiloide). Às vezes, faz parte de uma síndrome que tem múltiplos neurofibro- mas ou neuromas na ponta da língua ou na mucosa bucal, fazendo parte de uma neopla- sia endócrina múltipla: NEM2A: carcinoma medular de tire- oide em 100% + feocromocitoma em 40-50% + hiperparatireoidismo em 10- 25% NEM2B: carcinoma medular de tire- oide em 100% + feocromocitoma em 50% + ganglioneuroma e hábito marfa- noide associados – pessoas altas, ma- gras, às vezes jogadoras de basquete Carcinoma familiar isolado Carcinoma anaplásico Subtipo mais agressivo, com sobrevida de até 1 ano após o diagnóstico. Apresenta alto grau de infiltração de estruturas vizinhas. À micros- copia, mostra-se muito pouco diferenciado, com células gigantes e células fusiformes e es- pinhosas. _______________________________________________ PATOLOGIA PEDIÁTRICA NÃO NEOPLÁSICA II FIBROSE CÍSTICA É a doença genética letal mais comum na po- pulação branca, sendo incomum em asiáticos e afrodescendentes. Apresenta transmissão autossômica recessiva simples e não afeta portadores heterozigotos. Seu defeito primária é a função anormal de uma proteína do canal de cloreto epitelial co- dificada pelo gene regulador de condutância transmembrana (CFTR – transportador trans- membrana da fibrose cística). Essa alteração funcional se dá por mutação, que pode ser grave, gerando doença multissistêmica, ou branda, com quadro de extensão e gravidade limitados. A alteração deste transportador torna as membranas epiteliais relativamente impermeáveis aos íons cloreto, cuja repercus- são será órgão-específica. Quadro clínico Nos ductos da glândulas sudoríparas, a princi- pal função da CFTR é reabsorver íons de clo- 19 reto luminais e aumentar a reabsorção de só- dio através do canal de sódio epitelial. Logo, sua disfunção leva a uma redução na reabsor- ção de cloreto de sódio e à produção de suor hipertônico (“salgado”). Já nos epitélios intestinal e respiratório, a CFTR é um dos caminhos mais importantes para a secreção luminal ativa de cloreto. Assim, há perda ou redução da secreção de cloreto no lúmen. Ao contrário, a patogenia das compli- cações respiratórias e intestinais na FC parece advir de uma camada de líquido superficial isotônica, porém de volume baixo. Nos pul- mões, essa desidratação leva à ação mucoci- liar defeituosa e ao acúmulo de secreções vis- cosas concentradas que obstruem as passa- gens de ar e predispõem a infecções pulmo- nares recorrentes. Essas secreções mucosas atipicamente visco- sas que bloqueiam as vias respiratórias e os ductos pancreáticos são responsáveis pelas duas manifestações clínicas mais importantes: infecções pulmonares recorrentes e crônicas e insuficiência pancreática. Essa última é muito comum, sendo que 90% dos pacientes possuem alterações morfológicas no pân- creas. A causa mais comum de mortalidade são as manifestações cardiopulmonares, sobretudo as infecções pulmonares, frequentemente causadas por Pseudomonasresistentes e que culminam em bronquiectasia e insuficiência cardíaca direita. São frequentemente acome- tidos por sinusite e polipose. O baquetea- mento digital é comum. Outro sistema comumente afetado é o repro- dutivo, cujo achado típico em meninos é infer- tilidade por agenesia bilateral de ductos defe- rentes. 95% dos pacientes apresentam esteri- lidade e/ou azospermia. O íleo meconial é visto em 5 a 10%, causado pela obstrução do intestino delgado por tam- pões de muco espesso e viscoso. A cirrose he- pática difusa é vista em 5% dos pacientes e re- sulta da obstrução dos canalículos biliares por muco. Macroscopia Descrição da aula: secção transversal de pul- mão com brônquios dilatados até próximo à pleura + áreas de broncopneumonia (consoli- dação esverdeada) bilaterais. Microscopia Pâncreas: dilatação de ácinos e ductos preen- chidos por mucina + fibrose dos ácinos do 20 pâncreas exócrino. Com o tempo, desenvolve- se DM por destruição das ilhotas. MÁ ABSORÇÃO Pode ser primária, decorrente de alteração de superfície mucosa ou por deficiência enzimá- tica, ou secundária a doença, cirurgia, trauma e drogas. Manifesta-se mais comumente como diarreia crônica e caracteriza-se por de- feito de absorção das gorduras (principal), vi- taminas lipossolúveis e hidrossolúveis, proteí- nas, carboidratos, eletrólitos, sais minerais e água. Doença celíaca (forma infantil) ou esteatorreia idiopática (forma adulta) É uma enteropatia imunomediada desenca- deada pela ingestão de cereais que contêm glúten, como trigo, centeio ou cevada, em pes- soas geneticamente predispostas. Isto é, trata-se de uma hipersensibilidade ao glúten e seus derivados, sobretudo a gliadina. O glúten é digerido por enzimas luminais e da borda em escova em aminoácidos e peptí- deos, incluindo um peptídeo de 33 aminoáci- dos, a gliadina, que é resistente à degradação por proteases gástricas, pancreáticas e do in- testino delgado. A gliadina é capaz de interagir com HLA-DQ2 ou HLA-DQ8 em células apresentadoras de antígenos e ser apresentada a células T CD4+. Essas células T produzem citocinas que po- dem contribuir para o dano tecidual e a histo- patologia típica da mucosa. Uma resposta tí- pica de células B se segue: isso inclui a produ- ção de anticorpos antitransglutaminase teci- dual, antigliadina desamidada e, talvez como resultado de epítopos de reatividade cruzada, antiendomísio, que são úteis para o diagnós- tico. Quadro clínico No geral, costuma se manifestar sob a forma de diarreia crônica (> 30 dias). Manifestações Clínicas da Má Absorção Intestinal Doença Processo Associação genética Sintomas Tratamento Má absorção específica Intolerância à lactose Deficiência de lactase (dissa- caridase) Rara Distensão abdominal, flatulên- cia, diarreia associada a inges- tão de produtos lácteos Administração de lactase Abetalipoproteinemia Falência da sín- tese de apopro- teína B Autossômica recessiva Perda de reflexos tendinosos profundos, ataxia, acantoci- tose eritrocitária Ingestão de triglicerídeos de cadeia média Espru tropical Contaminação intestinal pro- longada com bactérias Ausente Esteatorreia, anemia, perda de peso, deficiência de ácido fó- lico e vitamina B12, hipoalbu- minemia Tetraciclina e ácido fólico Má absorção generalizada Doença celíaca Lesão epitelial, adenovírus?, AC antiendomisi- ais, anti-glia- dina? HLA-B8, DR8, DQ2 Má absorção generalizada as- sociada à ingestão de trigo, ce- vada, centeio (exposição à glia- dina); dermatite herpetiforme Dieta sem glúten Doença de Whipple Tropheryma whippelii Ausente Má absorção generalizada; achados sistêmicos Antibióticos Associada a hipogama- globulinemia (adqui- rida) Disfunção imune, com Gi- ardia associada Ausente Má absorção generalizada Metronidazol Linfangiectasia Dilatação dos vasos quilíferos Ausente Esteatorreia com perda de proteína, linfopenia, ascite qui- losa Tratar distúrbios subjacen- tes (pancreatite, sarcoidose), cirurgia Enterite por radiação Irradiação Ausente Anorexia, cólicas, diarreia Sintomático 21 Nos adultos, costuma manifestar-se entre 30 e 60 anos. Quando sintomática, frequente- mente associada a anemia (devido à deficiên- cia de ferro e, menos comumente, deficiência de B12 e folato), diarreia, distensão abdominal e fadiga. A doença celíaca pediátrica se manifesta, com sintomas clássicos, tipicamente por volta dos 6-24 meses (após a introdução de glúten na dieta), com irritabilidade, distensão abdomi- nal, anorexia, diarreia, déficit de crescimento, perda de peso ou perda de massa muscular. Uma típica lesão cutânea pruriginosa, com bo- lhas, a dermatite herpetiforme, também está presente em até 30% dos pacientes, locali- zada em face extensora de membros, sobre- tudo antebraço. Diagnóstico Testes sorológicos não invasivos geralmente são realizados antes da biópsia. Os testes mais sensíveis são a presença de AC anti- transglutaminase tecidual ou anti-gliadina de- samina. Os ACs antiendomísio são altamente específicos, mas menos sensíveis que os ou- tros. Também é feita, nesta primeira fase, a pesquisa de HLA-DQ2 e HLA-DQ8. Sua ausên- cia é útil pela alto valor preditivo negativo, mas a presença não serve de confirmação diagnós- tica. Caso as sorologias sejam negativas ou incon- clusivas, é realizada EDA com biópsia intestinal das primeiras porções do jejuno (preferível). Geralmente também é feita colonoscopia con- comitante. Microscopia Descrição da aula: atrofia de vilos + hiperplasia das criptas glandulares + infiltrado de linfóci- tos (T CD8+) no epitélio de revestimento (> 4 por 10 campos de grande aumento, > 8 prati- camente fecha o diagnóstico). 22 Doença de Whipple Condição sistêmica rara causada por actino- miceto Gram-positivo, Tropheryma whippelii). O quadro clínico cursa com diarreia, perda de peso e má absorção, associado a manifesta- ções extraintestinais, tais quais: artrite, febre, linfadenopatia, doença neurológica, cardíaca ou pulmonar. Microscopia O marco morfológico da doença de Whipple é o acúmulo denso de macrófagos espumosos e distendidos na lâmina própria do intestino delgado (A). Os macrófagos contêm grânulos ácido periódico-Schiff (PAS)-positivos e resis- tentes à diástase, que representam lisosso- mos recheados com bactérias parcialmente digeridas (B). Bacilos em forma de bastão in- tactos também podem ser identificados por microscopia eletrônica (C). Descrição da aula: vilos com macrófagos de ci- toplasma finamente espumoso. Com a colora- ção PAS, o citoplasma se mostra granuloso, pela presença das bactérias. _______________________________________________ SUPRARRENAIS ANATOMIA As glândulas suprarrenais são órgãos endócri- nos pareados que consistem em um córtex e uma medula. Abaixo da cápsula da suprarre- nal está a camada estreita da zona glomeru- losa. Uma zona reticular igualmente estreita li- mita a medula. Dividindo, está a ampla zona fasciculada que constitui cerca de 75% do cór- tex total. O córtex sintetiza três diferentes tipos de es- teroides 1. Glicocorticoides: principalmente cor- tisol), na zona fasciculada e, em menor grau, reticulada Níveis fisiológicos: inibem sín- tese proteica + aumentam de- gradação proteica + aumentam gliconeogênese Excesso: adiposidadade de face e tronco, hipertensão arte- rial, suprime processo cicatri- cial, imunossupressão, anti-in- flamatório, inibe crescimento, causa osteoporose, ulceração péptica e estado diabético 23 2. Mineralocorticoides: sobretudo aldos- terona, na zona glomerulosa 3. Esteroides sexuais: estrogênios e an- drogênios, na zona reticular As células na zona glomerular se dispõe em trabéculas e apresentam citoplasma granu- loso e vesiculoso. Adisposição se torna mais dessa conforme mais profunda-se nas zonas mais internas. A medular suprarrenal é composta de células cromafínicas, as quais sintetizam e secretam catecolamina, principalmente epinefrina. Quando normal, a suprarrenal é de difícil visu- alização, pois fica entremeada no tecido adi- poso perirrenal, no polo superior. HIPERPLASIA SUPRARRENAL CONGÊNITA Definida pela hiperplasia cortical suprarrenal bilateral causa, principalmente, por deficiência da enzima 21-hidroxilase. Esse defeito enzi- mático leva ao acúmulo de esteroides inter- mediários de colesterol, que são convertidos em andrógenos. Consequências da deficiência da 21-hidroxilase. A deficiên- cia da 21-hidroxilase prejudica a síntese tanto de cortisol quanto de aldosterona. A diminuição resultante na inibi- ção retroativa (linha pontilhada) causa uma secreção au- mentada de ACTH, resultando, por fim, em hiperplasia su- prarrenal e síntese aumentada de testosterona. Os locais de ação da 11-, 17- e 21- hidroxilase são mostrados pelos números nos círculos. A produção aumentada de andrógenos leva à virilização. Quando no sexo feminino, há hi- pertrofia de clitóris e fusão de pregas labioes- crotais. Em meninos, ocorre pseudopuber- dade precoce. INSUFICIÊNCIA CORTICOSSUPRARENAL Crônica Maior parte é primária (Doença de Addison). Causas secundária incluem infecções (TB, PCM – principal causa secundária no Brasil), metástase de CA, amiloidose e sarcoidose. Sintomas: aumento da pigmentação na mu- cosa gengival ou mucosa oral, aumento da pigmentação da pele (aspecto bronzeado), es- curecimento dos cabelos, aparecimento de sardas, vitiligo, acentuação da pigmentação na área de mamilos e áreas de fricção, concentra- ção de pigmentos em dobras cutâneas e cica- trizes, perda de peso, anorexia, vômito, diar- reia, fraqueza muscular. Na doença de Addison de causa primária (adrenalite autoimune), há formação de anti- corpos contra a enzima 21-hidroxilase. À me- dida que a doença evolui, ocorre falência su- prarrenal completa. Tem componente familiar, com associação com alguns haplótipos, síndrome autoimune poliglandular tipo I (quando ocorre na infância ou adolescência com hipoparatireoidismo e candidíase mucocutânea crônica) e II (ocorre entre 20-40 anos, associação a doença de Graves ou tireoidite de Hashimoto, diabetes mellitus insulino-dependente e falência ovari- ana prematura). Morfologia Glândula atrófica com atrofia das 3 camadas corticais (glomerular, fascicular e reticular) as- sociada a inflamação crônica (infiltrado linfoci- tário leva à destruição quase total da glândula) do tecido e fibrose do córtex adrenal. 24 Aguda, Síndrome de Waterhouse-Friderichsen Acomete mais crianças, sobretudo na faixa dos 6-7 aos 10-12 anos, mas também pode ocorrer em adultos. Há destruição abrupta da glândula por infarto hemorrágico bilateral do córtex da adrenal em decorrência de menin- gococcemia (causa mais comum) ou septice- mia por Pseudomonas (hoje mais raro devido ao conhecimento). Pode ocorrer hipotensão e choque, sendo po- tencialmente fatal. A clínica é de febre de início abrupto, associada a petéquias, artralgia, fra- queza, e mialgia, seguidos por necrose hemor- rágica aguda das glândulas suprarrenais e dis- função cardiovascular severa. É possível visualizar meningococos dentro de neutrófilos em exame de sangue, LCR ou swab de orofaringe. Morfologia Descrição da aula: destruição hemorrágica da cortical, destruição da arquitetura. HIPERADRENALISMO Síndrome de Cushing Causada por qualquer condição que produza níveis elevados de glicocorticoides. A sín- drome de Cushing pode ser geralmente divi- dida em causas exógenas e endógenas. A vasta maioria dos casos de síndrome de Cus- hing é o resultado da administração de glico- corticoides exógenos. Ocorre em 4 padrões distintos: 1. Tipo hipofisária: adenoma produtor de ACTH que estimula hiperplasia do cór- tex da adrenal 2. Decorrente de um tumor produtor de corticosteroide dentro da própria glân- dula suprarrenal: geralmente ade- noma produtor de corticosteroide, que vai estimular a parte que não está comprometida, ocorrendo hiperplasia nodular na forma de pseudotumores Histologia: tumor único solitá- rio, com hiperplasia das zonas produtoras de corticoide (fasci- culada e reticular) Síndrome de Wa- terhouse-Fride- richsen em uma criança. As glân- dulas suprarre- nais escuras e hemorrágicas es- tão distendidas com sangue. 25 3. Paraneoplásica: produção ectópica de ACTH a partir de uma neoplasia à dis- tância Mais comum: carcinoma de pulmão, geralmente o de célu- las pequenas/oat cell carci- noma/carcinoma avenocelular) 80-85% dos casos terá achado pulmonar, tendo necessidade de investigação 4. Iatrogênica: causa medicamentosa, por ingestão de corticoides; determina atrofia adrenal Sintomas: obesidade central (85-90%; “cor- cunda de búfalo”), fácies em lua cheia (85%), fraqueza e cansaço (85%), hirsutismo (75%), hipertensão arterial (75%; cardiopatia hiper- tensiva com hipertrofia de VE), pletora (75%), intolerância à glicose e diabetes (75%), osteo- porose (75), distúrbios neuropsiquiátricos (em até 80%), anormalidades do ciclo menstrual (70%; amenorreia) e estrias cutâneas (50%; so- bretudo na região abdominal lateroinferior), tumor ou hiperplasia de suprarrenal (depen- dendo do tipo), pele fina e enrugada, púrpura, cicatrização precária de feridas. Síndrome de Conn Causada por níveis elevados de mineralocorti- coides (aldosterona), chamado de hiperaldos- teronismo primário. A etiologia mais comum (95%) é um adenoma produtor de aldoste- rona, que, na maioria absoluta das vezes, (99%) é condição benigna. O restante ocorre por hiperplasia adrenal bilateral ou, rara- mente, por carcinoma. Sintomas: sinal de Chvostek (presença de es- pasmos dos músculos faciais em resposta à percussão do nervo facial na região zigomá- tica) e Trousseau/tetania latente (observado em pacientes com hipocalcemia, quando es- pasmos carpais pode ser provocados ao se ocluir a artéria braquial) positivos, perda fecal de potássio aumentada, aumento do líquido extracelular/edema, sódio corporal aumen- tado, hipertensão arterial. Morfologia Características histológicas de um adenoma cortical su- prarrenal. As células neoplásicas são vacuolizadas por causa da presença de lipídios intracitoplasmáticos. Há ple- omorfismo nuclear leve. Atividade mitótica e necrose não são observadas. Carcinoma: tumor irregular amarelo ou mar- rom, repleto de necrose e hemorragia, com alto pleomorfismo nuclear e anisocitose (ati- pias nucleares). TUMORES ZONA MEDULAR E SISTEMA PARA- GANGLIONAR Os gânglios e paragânglios localizam-se ao ní- vel da bexiga, ilíacas internas, aorta, veia e hilo renal, VCS, ao longo da artéria carótida pró- xima ao nervo vago e veia jugular. Ninhos de células paraganglionares podem formar isola- damente tumores. 26 Quando formados fora da suprarrenal são chamados de paragangliomas e quando den- tro da suprarrenal feocromocitoma. Ambos são malignos e o grau de malignidade de- pende do estadiamento do tumor. Embriogênese Células da crista neural → simpatogônias → 2 linhas de diferenciação: feocromoblastos e neuroblastos Feocromoblastos: origina células cromafins Dentro da medula: feocromocitoma Fora da medula: paraganglioma Neuroblastos: podem sofrer 2 linhas de dife- renciação Direta formando neuroblastoma Indireta (passando por estágio de neu- rônios-gânglios simpáticos) formando ganglioneuroma Neuroblastoma Tumor de células redondas azuis caracterís- tico da infância, derivado dos neuroblastos, sendo um dos tumores malignos da região medular da suprarrenal. Ganglioneuroma Também ocorre na região medular, porém temcomportamento benigno, tumor não ne- oplásico (necessita biópsia para diagnóstico), derivado de neurônios dos gânglios simpáti- cos. Feocromocitoma Pode estar associado a síndromes familiares, como NEM2A e NEM2B, síndrome Sturge-We- ber, Síndrome de von Hippel-Lindau e Sín- drome de von Recklinghausen NEM2A: carcinoma medular da tireoide e hi- perplasia de células C em 100% praticamente, feocromocitomas e hiperplasia da medular da suprarrenal em geral 50/50%, hiperplasia de paratireoides NEM 2B: carcinoma medular da tireoide ou hi- perplasia de células C, feocromocitomas e hi- perplasia medular da suprarrenal 50/50%, neuromas mucosos e hábitos marfanoides. Síndrome de von Hippel-Lindau: cistos renais, hepáticos e pancreáticos e do epidídimo + car- cinoma de células renais (células claras) + feo- cromocitoma + angiomatose + hemangioblas- toma cerebelar. Síndrome de von Recklinghausen: neurofibro- matose (manchas cutâneas café-com-leite) + schwanoma + meningioma + glioma + feocro- mocitoma. Síndrome de Sturge-Weber: hemangiomas ca- vernosos na distribuição do nervo trigêmeo + feocromocitoma. Mieloblastoma Tumor maligno indiferenciado de células da medula suprarrenal. Comum na infância. Prognóstico depende da presença ou ausên- cia da amplicação do oncogene CNIC. METÁSTASES ADRENAIS 1. CA de pulmão 2. CA de mama (nas mulheres) 3. Melanoma (2º nos homens) _______________________________________________ PÂNCREAS O pâncreas endócrino, formado pelas ilhotas de Langerhans, é composto por 4 tipos celula- res principais: 27 Células beta: produtoras de insulina, maioria (70%) Células alfa: produtoras de glucagon, 20% Células delta: produtoras de somatos- tatina, 8% Células PP: produtoras de polipeptídeo pancreático, 2% Para diferenciá-las, é preciso recorrer à imu- nocitoquímica, para avaliar a quantidade de cada tipo de célula presente ou pela micros- copia eletrônica (que não é feita na prática, usada apenas em pesquisas). Produção hormonal nas células das ilhotas pancreáticas. A coloração com imunoperoxidase mostra um produto de reação escuro para a insulina nas células β (A), glucagon nas células α (B), e somatostatina nas células δ (C). D, Mi- crografia eletrônica de uma célula β mostrando grânulos característicos envoltos por membrana, cada um contendo um núcleo denso e frequentemente retangular e um halo distinto. E, Porções de uma célula α (esquerda) e de uma célula δ (direita) também mostram grânulos, mas com membranas contactadas intimamente. O grânulo da cé- lula α mostra um centro denso e arredondado. HORMÔNIOS E SUAS FUNÇÕES Insulina: promove a entrada de glicose no in- terior das células, síntese de glicogênio e sua degradação, lipogênese e lipólise, e, junta- mente com o GH, promove a síntese proteica. No tecido periférico aumenta lipogênese, inibe lipólise e aumenta captação de glicose pelas células. No fígado, a insulina diminui glicogênese e aumenta lipogênese, o que tem implicação direta no diabético. Nesses pacientes, a bióp- sia hepática revelará esteatose micro ou ma- crogoticular. Desse modo, a DM por si só, au- menta o risco de câncer hepático. Glucagon: promove a síntese de proteínas, promove a degradação do glicogênio (apenas do fígado) e gliconeogênese (glicose a partir de proteínas). Somatostatina: inibe a secreção de insulina e do glucagon. Polipeptídeo pancreático: função ainda desco- nhecida. Pâncreas normal. Fotomicrografia de grande aumento mostrando uma ilhota de Langerhans (à direita) circun- dada por ácinos pancreáticos exócrinos e por um ducto (à esquerda). DIABETES MELLITUS Em 2007, os países com maior incidência eram, em ordem decrescente: Índia, China, EUA, Rússia, Alemanha, Japão, Paquistão e Brasil (8º lugar). Para 2025, a projeção da po- sição do Brasil é de 4º lugar. Causas Mutações gênicas estão sendo descobertas, tanto para tipo 1 (deficiência absoluta da pro- dução de insulina) quanto 2 (existe produção de insulina que a longo prazo é insuficiente – sofre resistência insulínica periférica devido, principalmente, aos fatores de HAS, dislipide- mia e ganho de peso). 28 Algumas síndromes genéticas aumentam a in- cidência como Síndrome de Down, Klinefelter, Turner, Prader-Willi e DM gestacional, além de drogas, sobretudo glicocorticoides. Entre as infecções, as principais relacionadas são as por CMV, vírus coxsackie B e rubéola congênita. Outras causas incluem endocrino- patias, defeitos na ação da insulina e doenças pancreáticas exócrinas, como pancreatite crô- nica, tumores do pâncreas, hemocromatose, fibrose cística. Tipo 1 ou juvenil É uma doença autoimune, por alteração here- ditária ou desencadeada por virose, caracteri- zada pela destruição das células β e uma defi- ciência absoluta de insulina. Ele é responsável por aproximadamente 5% a 10% de todos os casos, e é o subtipo mais comum diagnosti- cado antes dos 20 anos. Tipo 2 É causado por uma combinação de resistência periférica à ação da insulina e uma resposta secretória inadequada das células β pancreá- ticas (“deficiência relativa de insulina”). Aproxi- madamente 90% a 95% dos pacientes diabé- ticos têm o diabetes do tipo 2, e a grande mai- oria de tais indivíduos é obesa. Embora classicamente considerada como “de início na vida adulta”, a prevalência do tipo 2 em crianças e adolescentes está aumentando a passos alarmantes. Fatores de risco Sobrepeso, IMC > 25 HF em parente de 1º grau Sedentarismo Pré-diabetes, prova de glicemia de je- jum inapropriada ou tolerância dimi- nuída a glicose HAS História de DM gestacional ou parto com RN > 4 kg Síndrome dos ovários policísticos Dislipidemia: HDL< 35 ou Tri > 250 DCV ou acantose nigricans (pele ás- pera de aspecto liquidificado em áreas de dobras, principalmente no pescoço ou nas axilas; condição associada tam- bém a neoplasias) Diferenças Tipo 1 Início em geral na infância e adolescência. Peso normal ou perda de peso anterior ao di- agnóstico. Níveis de insulina vão diminuindo progressiva- mente até parar totalmente de produzir. Pre- sença de autoanticorpos contra células da ilhota (doença imunomediada). Ocorre cetoa- cidose diabética (CAD) na ausência da terapia de insulina. Pode apresentar ligação com alterações gené- ticas (genes MHC classes I e II e VNTRs do gene da insulina). Patogenia: disfunção nas células T regulatórias (Tregs) levando à interrupção da autotolerân- cia aos autoantígenos das ilhotas. Insulite (infiltrado inflamatório de célu- las T e macrófagos) Depleção importante de células β, ge- rando atrofia das ilhotas Insulite autoimune em modelo murino (BB) de diabetes au- toimune. Esse distúrbio também é observado no diabetes humano do tipo 1. 29 Tipo 2 Em geral no adulto, com aumento recente da incidência na idade mais jovem. Cerca de 80% são obesos. Inicialmente há aumento da insulina e, poste- riormente, há platô (estabilização) e, mais tar- diamente (em 10-15 anos), há diminuição da produção de insulina a ponto de precisar do uso da insulina. Não há autoanticorpos contra células da ilhota. Cursa mais comumente com coma hiperosmolar não-cetótico mais co- mum. Nenhuma ligação com HLA; ligação a genes candidatos a diabetogênicose relacionados à obesidade (TCF7L2, PPARG, FTO etc.) Patogenia: Resistência à insulina nos tecidos periféricos, falha na compensação pelas célu- las β. Múltiplos fatores associados à obesi- dade (ácidos graxos não-esterificados circu- lantes, mediadores inflamatórios, adipocitoci- nas) ligados à patogenia da resistência à insu- lina. Nenhuma insulite Deposição amiloide nas ilhotas Depleção branda de células β Amiloidose de uma ilhota pancreática no diabetes do tipo 2. A amiloidose é tipicamente observadaposteriormente na história natural dessa forma de diabetes, sendo a inflama- ção das ilhotas percebida nas primeiras observações. Observação: por isso, muitas pessoas, depois de uma cirurgia bariátrica, têm controle total da DM tipo 2. Quadro clínico Tipo 1 O início é marcado por poliúria, polidipsia, po- lifagia e, quando grave, cetoacidose, todas re- sultando de desarranjos metabólicos. Como a insulina é um dos principais hormônios ana- bólicos no corpo, a deficiência de insulina re- sulta em um estado catabólico que afeta não somente o metabolismo de glicose, mas tam- bém o metabolismo de gordura e proteínas. O catabolismo de proteínas e gorduras tende a induzir um balanço de energia negativo, o que, por sua vez, leva ao apetite aumentado (polifagia), logo completando a tríade clássica do diabetes: poliúria, polidipsia e polifagia. A despeito do apetite aumentado, os efeitos ca- tabólicos prevalecem, resultando em perda de peso e fraqueza muscular. A combinação da polifagia e da perda de peso é paradoxal e deve sempre levantar a suspeita de diabetes. A cetoacidose diabética é uma complicação sé- ria do diabetes tipo 1, mas também pode ocorrer no diabetes tipo 2, embora não tão 30 comumente e não em uma extensão tão sig- nificativa. Tipo 2 Também pode apresentar poliúria e poli- dipsia, mas, diferentemente do que ocorre no diabetes tipo 1, os pacientes, em geral, são mais velhos (acima de 40 anos) e frequente- mente obesos. No entanto, com o aumento da obesidade e do estilo de vida sedentário na nossa sociedade, o diabetes tipo 2 agora é visto em crianças e adolescentes com uma fre- quência crescente. Em alguns casos, a atenção médica é procu- rada por causa de fraqueza ou perda de peso inexplicados. No entanto, mais frequente- mente, o diagnóstico é feito após teste de san- gue e de urina rotineiros em pessoas assinto- máticas. No estado descompensado, esses pacientes podem desenvolver coma hiperosmolar não cetótico decorrente da desidratação grave como resultado de uma diurese osmótica sus- tentada (particularmente em pacientes que não bebem água suficiente para compensar as perdas urinárias da hiperglicemia crônica). Complicações a longo prazo Cardiovasculares Hipertensão Aterosclerose Microangiopatia Infartos cerebrais hemorrágicos Doença coronariana isquêmica (angina atípica, com equivalentes anginosos, diaforese) Doença vascular periférica: gangrena, infecções e formação de úlceras de di- fícil controle devido às infecções Oculares 1. Retinopatia diabética o Microaneurismas o Hemorragias o Hemorragias + exsudato o Proliferativa: irreversível 2. Catarata precoce 3. Glaucoma Pancreáticas: perda das células da ilhota e in- sulite no tipo 1 e amiloidose no tipo 2. Renais Nefroesclerose com glomeruloescle- rose: doença de Kinnestiel-Wilson (co- loração de PAS), muito característico de diabetes – quase toda autópsia tem – superfície enrugada e irregular, com 31 múltiplas cicatrizes na superfície ex- terna e atrofia cortical Arterioloesclerose Pielonefrite crônica Papilite necrosante ou necrotizante: complicação renal bem específica de diabetes, podendo levar a insuficiência renal aguda Glomerosclerose diabética difusa e nodular (coloração PAS). Observe o aumento difuso na matriz mesangial e os nódulos PAS-positivos acelulares característicos. Neuroautonômicas Neuropatia periférica Disfunção erétil Bexiga “preguiçosa”: inervação da be- xiga urinária está deteriorada e então a pessoa perde o controle miccional Disfunções autonômicas no geral Aumento da incidência de diarreia TUMORES NEUROENDÓCRINOS O termo preferido para os tumores das célu- las das ilhotas pancreática (“tumores das célu- las das ilhotas”) é neoplasias endócrinas pan- creáticas. As três síndromes mais comuns e mais distintivas clinicamente são: 1. Hiperinsulinismo 2. Hipergastrinemia e a síndrome de Zol- linger-Ellison 3. Neoplasia endócrina múltipla (MEN) Insulinoma Os tumores de células β são as neoplasias en- dócrinas pancreáticas mais comuns. Elas po- dem ser responsáveis pela produção de insu- lina suficiente para induzir uma hipoglicemia clinicamente significativa. Insulina está au- mentada em 80% dos casos com aumento da hipoglicemia em 25% das vezes. O quadro clínico característico é dominado por episódios hipoglicêmicos, os quais são precipitados pelo jejum ou exercício e são prontamente aliviados pela alimentação ou administração parenteral de glicose. Ocorrem com glicemia < 50 mg/dL do soro e consistem principalmente em manifestações do sistema nervoso central, como confusão, estupor e perda de consciência. Geralmente trata-se de tumor solitário, menor que 2 cm no maior diâmetro. Há deposição fo- cal de substância amiloide com hiperplasia fo- cal das ilhotas de Langerhans. Pode ocorrer fora do tecido pancreático, na vizinhança. 32 Gastrinoma – Sínd. de Zollinger-Ellison A hipersecreção marcante de gastrina geral- mente tem sua origem em tumores produto- res de gastrina (gastrinomas). Associação entre as lesões das células das ilhotas pancreáticas, a hipersecreção de ácido gástrico e a ulcera- ção péptica grave está presente em 90% a 95% dos pacientes. Os gastrinomas podem surgir no pâncreas, na região peripancreática (tecidos moles), ou na parede do duodeno. Mais da metade dos tu- mores produtores de gastrina são localmente invasivos ou já metastizaram no momento do diagnóstico. Em aproximadamente 25% dos pacientes, os gastrinomas surgem em con- junto com outros tumores endócrinos, como parte da síndrome de MEN-1, sendo geral- mente multifocais. As úlceras duodenais e gástricas são frequen- temente múltiplas. Embora sejam idênticas àquelas encontradas na população em geral, elas são frequentemente não responsivas à terapia. Além disso, as úlceras podem ocorrer em lo- calizações incomuns tal como o jejuno; quando úlceras jejunais intratáveis são encon- tradas, a síndrome de Zollinger-Ellison deve ser considerada. Mais de 50% dos pacientes têm diarreia; em 30% este é o sintoma de apresentação. A prin- cipal causa de óbito é a metastização hepática, cujo crescimento progressivo leva à falência do órgão em cerca de 10 anos. Glucagonoma Tumor de células alfa de baixo grau de malig- nidade. Estão associados aos níveis séricos aumenta- dos de glucagon e a uma síndrome que con- siste em diabetes melito brando, uma erupção de pele característica (eritema migratório ne- crolítico) e anemia. Eles ocorrem mais fre- quentemente em mulheres na perimeno- pausa e pós-menopausa e são caracterizados por níveis extremamente altos do glucagon plasmático. Somatostatinoma Tumor de células beta de baixo grau de malig- nidade. Estão associados a diabetes melito, colelitíase, esteatorreia e hipocloridria. Eles são extrema- mente difíceis de serem localizados préopera- toriamente. Níveis plasmáticos altos de soma- tostatina são necessários para o diagnóstico. VIPoma Tumor maligno de células PP. O VIPoma (diarreia aquosa, hipocalemia, aclo- ridria ou síndrome WDHA) é um tumor endó- crino que induz uma síndrome característica, causada pela liberação de peptídeos intesti- nais vasoativos (VIP) pelo tumor. Alguns des- ses tumores são localmente invasivos e me- tastáticos. O diagnóstico é por imuno-histo- química. Os tumores da crista neural, como neuroblas- tomas, ganglioneuroblastomas e ganglioneu- romas e feocromocitomas, também podem estar associados à síndrome do VIPoma.
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