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Infanticídio (art. 123 CP) Matar sob influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após Pena detenção, de dois a seis anos. Estado Puerperal - passa a ganhar status de justificativa para que essa pena seja de 2 a 6 anos. Tal estado tratado no art. 123 é o caso de responsabilidade diminuída. Objetividade jurídica - Proteção ao direito à vida do neonato (aquele que acabou de nascer) e a do nascente (aquele que está nascendo). -Sujeitos ativo: O infanticídio é crime próprio, praticado pela mãe (sujeito ativo) da vítima, Infanticídio e concurso de agentes Pode ocorrer a hipótese de terceiro concorrer para a prática do crime. De acordo com o que preceitua o art. 30 do CP, “não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, salvo elementares do crime”. Assim, nos termos da disposição, a influência do estado puerperal (elementar) é comunicável aos participantes. Respondendo por infantícidio, aquele ou aquela, que vier contribuir para morte do nascente ou do neonato. - Sujeito passivo: É o recém nascido (neonato), e também o nascente (está nascendo) Importante: O infanticídio é diferente do aborto, pois o primeiro ocorre durante o parto, isto é, já se desencadeou o trabalho de parto. Antes do início do parto existe aborto, a partir do seu início, infanticídio. Início do parto: Com a dilatação do colo do útero, após vem a expulsão e por último a expulsão da placenta; com a expulsão desta o parto está terminado. A morte do sujeito passivo pode ocorrer em qualquer destas fases configurando infanticídio. Prova do início do parto com feto vivo No caso do feto nascente é indiferente se averiguar a capacidade de vida autônoma. Mais difícil é a prova da vida biológica no início do parto . O indício mais acreditado é a constatação da bossa sero -sanguínea . A existência dessa bossa demonstra que o parto já se iniciara, como também indica a reação vital do feto, portanto a sua presença faz se deduzir que o feto ainda estava vivo no início da expulsão. -Possibilidade de erro sobre a pessoa do infanticídio Por erro, estando no estado puerperal, acaba matando o filho de terceira pessoa, supondo o seu (responde por infanticídio) ou querendo matar seu filho e sendo impedida pela amiga, mata a amiga, para assim, executar a morte do filho (responde por infanticídio e homicídio qualificado). Conforme preconiza o CP sobre o erro sobre a pessoa no art. 20 §3°: § 3º - O erro quanto à pessoa contra a qual o crime é praticado não isenta de pena. Não se consideram, neste caso, as condições ou qualidades da vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. Elementos objetivos do tipo: Elemento Cronológico na Configuração Penal do Infanticídio- durante o parto ou logo após Na hipótese de infanticídio a circunstância temporal é muito importante para a classificação do delito. ➔ Durante o parto: seria um momento de transição entre o início do parto e a expulsão. O início do parto ocorre com a contração do útero e termina com a expulsão da placenta. ➔ Logo após o parto: não fixa a lei o limite de prazo após o parto em que será infanticídio e não homicídio. Conclusões sobre a influência do estado puerperal 1ª) Se em decorrência do estado puerperal é desencadeado acessos de persistente doença mental, causando a morte do próprio filho, de modo a anular de todo o entendimento e a vontade da parturiente, haverá uma exclusão da culpabilidade pela inimputabilidade causada pela doença mental – art. 26 caput. 2ª) Se em consequência da influência do estado puerperal a mulher vem a sofrer simplesmente perturbação da saúde mental, que não lhe retire a inteira capacidade de entendimento e de autodeterminação, aplica-se o disposto no art. 26 parágrafo único. Nesse caso responde por infanticídio com a pena atenuada. 3ª) É possível que em consequência do puerpério, a mulher venha a sofrer uma simples influência psíquica lhe retira os limites por lapso de tempo,responde por infanticídio sem atenuação da pena. -Elementos subjetivos do tipo O infanticídio só é punido a título de dolo ou direito eventual. Não há infanticídio culposo, pois no art. 123 o legislador não se refere à forma culposa. CONSUMAÇÃO E TENTATIVA -O infanticídio atinge a consumação com a morte do nascente ou neonato. -Trata-se de crime material (necessidade de um resultado externo), diante disso admite a tentativa. Ocorrerá a tentativa, sempre que iniciada a execução, a morte do nascente ou do neonato, não se consumar por motivo alheio à vontade do agente. Qualificação doutrinária: → próprio: exige uma capacidade especial do agente. → de dano: efetiva lesão do bem jurídico. → material: há necessidade de resultado externo. → instantâneo: a consumação não se prolonga, ocorre em um momento determinado. → comissivo ou omissivo impróprio: atividade positiva ou negativa. → simples: só atingem uma objetividade jurídica. → de forma livre: qualquer forma de execução. → monossubjetivo: suficiente um único agente -Ação penal Pública Incondicionada → Pena de 2 a 6 anos → Compete ao Tribunal do Júri. ➔ Aborto (124 a 128 do CP) Conceito: é a interrupção da gravidez não sendo necessário a expulsão do feto ou do produto da concepção. Precisa ocorrer a morte do feto ou do produto da concepção. Ovo- até três semanas Embrião- de três semanas a três meses Feto- após três meses Tipos penais do aborto: -Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento Art. 124 - Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque: Pena - detenção, de um a três anos. - Aborto provocado por terceiro Art. 125 - Provocar aborto, sem o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126 - Provocar aborto com o consentimento da gestante: Pena - reclusão, de um a quatro anos Figuras típicas 1º) aborto provocado pela gestante ou com o seu consentimento – CP art. 124; 2º) aborto provocado por terceiro sem o consentimento da gestante – CP art. 125; 3º) aborto provocado por terceiro com o consentimento da gestante – CP art. 126; 4º) aborto majorado – CP art. 127; 5º) aborto legal – CP art. 128; Objetividade jurídica: tutela-se nos artigos em estudo a vida humana em formação, a chamada vida intrauterina. Protege-se também a integridade corporal da gestante no caso do aborto provocado por terceito. -Sujeitos do delito Sujeito ativo: no caso do art. 124 é a gestante, tratando-se assim de uma condição especial. Nas demais figuras típicas, qualquer pessoa pode ser autor do delito. Passivo: é o feto, o produto da concepção. Obs; quando o aborto é praticado sem o consentimento da mulher, a gestante também é vítima do crime. -Elementos subjetivos do tipo → O aborto é um crime doloso. Portanto é necessário que o agente queira o resultado ou assuma o risco de produzi-lo. Dolo eventual: agride mulher grávida. → Não há crime de aborto culposo, a imprudência da mulher grávida não é punível. → O terceiro que por culpa causa o aborto, responde por lesão corporal culposa. → É preterdoloso no caso do art. 127 do CP (dolo antecedente, culpa consequente). CONSUMAÇÃO X TENTATIVA -Consuma-se o crime com interrupção da gravidez e a morte do feto, desnecessária a existência da expulsão. -A tentativa ocorre quando as manobras abortivas não interrompem a gravidez ou provocam a aceleração do parto. -Se o feto nasce viável e vem a perecer ulteriormente, em consequência das manobras abortivas, o crime de aborto se consuma, mas se a morte resultou de causa independente, existirá apenas tentativa de aborto. -Haverá concurso de crimes – aborto tentado e homicídio ou infanticídio consumado, se a criança sobrevive as manobras abortivas e sofre outro ataque. Poderá ser homicídio ou infanticídio. Autoaborto/ Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento. O autoaborto é previsto no art. 124 do CP. Possui duas figuras típicas: → provocar aborto em si mesma → consentir que outrem lhe provoque Na 1ª figura a gestante, por intermédio de meios executivos, químicos,físicos ou mecânicos, provoca em si mesma a interrupção da gravidez causando a morte do feto. Na IIª figura a gestante consente que um terceiro lhe provoque o aborto. Concurso de agentes: Dúvida surgem a respeito da possibilidade de concurso de agentes nos casos de aborto e aborto consentido. A 1ª posição diz que pode haver concurso de agentes no terceiro que induz, instiga ou auxilia, figurando ele como partícipe do art. 124. O terceiro somente responderia pelo art. 126 quando participasse do ato executivo, quando interviesse na execução ou no emprego dos meios abortivos. A IIª posição defende que quem participa do fato, ainda que apenas induzindo ou auxiliando o agente, responde como partícipe do art. 126. A melhor orientação é a de determinar a posição do partícipe pela verificação de sua atividade. Se ele induziu a gestante a consentir art. 124 Se ele provoca – art. 126. Aborto provocado por terceiro (art 125 do CP) Pena - reclusão de 3 a 10 anos. O dissentimento da ofendida pode ser real ou presumido.É real quando o sujeito emprega violência, grave ameaça ou fraude. É presumido quando ela é menor de 14 anos, alienada ou débil mental Art. 126 § único: Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 anos ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência. Provocar aborto com o consentimento da gestante (art. 126 do CP). Pena - reclusão, de um a quatro anos. → O delito previsto no artigo 126 configura a hipótese em que a gestante consente o aborto. O consenso não exclui o delito, a vida do feto e a vida e integridade física da mãe são indisponíveis. É necessário que a gestante tenha capacidade para consentir, não se tratando de capacidade civil. Se a gestante é menor de 14, alienada ou débil mental, responde como se não houvesse consentimento. O consentimento pode não ser verbal ou expresso, resultando da própria conduta da gestante; a passividade e a tolerância da mulher equivale ao consentimento tácito. O consentimento da gestante deve perdurar durante toda a prática abortiva, se ela se arrepender não se fala mais em aborto consentido. A alienação mental de que fala o § único do artigo 126 refere-se à vítima que se encontra nas condições previstas no artigo 26 caput. A simples perturbação mental de que trata o § único do artigo 26 não impede de consentir no aborto. Se a gestante é inimputável (26 caput) a agente responde pelo artigo 125 sem consentimento. Se a gestante é semi-imputável (§ único artigo 26) a agente responde pelo 126. O aborto majorado (apenas se aplica a aborto praticado por terceiro) O artigo 127 contempla as formas majoradas pelo resultado. Estas formas são exclusivamente aplicáveis aos crimes descritos nos artigos 125 e 126 do CP. É evidente que o resultado mais grave não deve ter sido querido pelo agente, nem menos eventualmente, pois no caso haverá concurso. → O artigo 127 se refere ao crime preterdoloso, pune o aborto à título de dolo e o resultado majorado à título de culpa –Como a lei não se refere só ao aborto no artigo 127, mas também aos meios empregados para provocá-lo, responderá o agente pela tentativa ou aborto majorado quando não se consumar a morte do feto, embora ocorra lesão grave ou morte da gestante. Não responde pela majorante a gestante, no caso do autoaborto ou aborto consentido – artigo 124. Não responde também o partícipe do crime do artigo 124 pela majorante. (Exemplo: em função das manobras abortivas, o aborto é consumado mas também acaba ocorrendo uma lesão grave e a vítima perde o útero, mas houve consentimento para o aborto será aplicado → art. 126 aborto consumado +art. 127 lesão corporal grave/ perda do útero). (Exemplo: As manobras abortivas empregadas expulsaram a criança viva e a criança sobreviveu mas a mulher perdeu o útero mesmo assim art. 126 + art. 14, II tentativa de aborto cominada com o art. 127 do CP/ tentativa de aborto pode ser majorada). ABORTO LEGAL (autorizado pela Lei Brasileira) Art. 128 - Não se pune o aborto praticado por médico: I- se não há outro meio de salvar a vida da gestante. (aborto necessário) II- se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal (aborto no caso de gravidez resultante de estupro). ADPF 54 → autoriza o aborto dos fetos anencefálicos 2012. No inciso I (aborto necessário ou terapêutico): No entender da doutrina, este aborto caracteriza caso de estado de necessidade. Só é permitido no caso de não haver outro meio de salvar a gestante, persistindo no caso de só preservar a saúde. Para evitar qualquer dificuldade, deixou o legislador consignado expressamente a possibilidade de o médico provocar este aborto. Nesse caso, não é necessário que o perigo seja atual, bastando a certeza que o desenvolvimento da gravidez poderá provocar a morte da gestante. No inciso II (aborto sentimental): É aquele que pode ser praticado por ter a gravidez resultado de estupro. Estupro → Art. 213. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos Nesse caso, é obrigatório que seja provocado por médico, tendo em vista que não existe estado de necessidade, não excluindo a ilicitude no caso de enfermeira praticá-lo. Nesse caso, é indispensável o consentimento da gestante. Sendo ela incapaz deve estar presente o consentimento de seu representante legal. Para que o médico pratique o aborto não há necessidade de sentença condenatória por estupro, nem mesmo de autorização judicial. Deve ele submeter-se apenas ao código de ética médica, admitindo como prova elementos sérios a respeito da ocorrência do estupro. Estupro de vulnerável → Art. 217-A. Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos. § 1° Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência. PORTARIA Nº 2.282, DE 27 DE AGOSTO DE 2020 Dispõe sobre o Procedimento de Justificação e Autorização da Interrupção da Gravidez nos casos previstos em lei, no âmbito do Sistema Único de Saúde-SUS. Qualificação doutrinária: Crime material – exige-se a conduta e o resultado morte do feto Crime instantâneo – a consumação ocorre em um só momento Crime de dano – se consuma com a lesão do bem jurídico Crime próprio – autoaborto: só pode ser sujeito ativo a mãe Crime de forma livre – executado por qualquer meio Crime comum – nos demais casos (125, 126, 128). PENA E AÇÃO PENAL Art. 124- Pena - detenção, de um a três anos (cabe a suspensão condicional do processo/sursi processual). Art. 125- Pena - reclusão, de três a dez anos. Art. 126- Pena - reclusão, de um a quatro anos (cabe a suspensão condicional do processo/ sursi processual). Ação Penal Pública Incondicionada Ação penal privada subsidiária da pública, quando o MP não oferece a denúncia no prazo- 5 dias réu preso - 15 dias réu solto Lesão Corporal (Crimes contra a pessoa)
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