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INSTITUIÇÕES DO PROCESSO CIVIL Rochele Oliveira Revisão técnica: Miguel do Nascimento Costa Advogado Mestre em Direito Público Especialista em Processo Civil Graduado em Ciências Sociais e Jurídicas Catalogação na publicação: Karin Lorien Menoncin CRB – 10/2147 I59 Instituições do processo civil / Rafael Ribeiro Albuquerque Adrião... et al.; [revisão técnica: Miguel do Nascimento Costa]. – Porto Alegre: SAGAH, 2018. 374 p. : il. ; 22,5 cm. ISBN 978-85-9502-451-9 1. Direito processual civil. I. Adrião, Rafael Ribeiro Albuquerque. CDU 347.9 Procedimentos especiais de jurisdição voluntária Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: � Conceituar as espécies de jurisdição. � Analisar os princípios da jurisdição e as características da jurisdição voluntária. � Descrever os procedimentos processuais de jurisdição voluntária. Introdução No cotidiano, é natural conhecermos pessoas que busquem o Judiciário em razão de alguma situação para a qual necessitem da prestação ju- risdicional. Via de regra, essas questões tratam-se de litígios, em que as partes divergem a respeito de um mesmo assunto, o mérito da questão, que será decidido/sentenciado pelo juiz competente ou, em caso de ação originária dos tribunais, pelo desembargador competente. Enfim, a maioria das ações que chegam ao Judiciário versam sobre um conflito de interesses, mas existem aquelas em que os interessados buscam apenas a concretude do seu direito, em que não se conflitam interesses e a prestação jurisdicional presta-se apenas a analisar e homo- logar o negócio jurídico apresentado em juízo, as quais denominamos de procedimentos de jurisdição voluntária. Neste capítulo, você vai aprender as espécies de jurisdição, além de conhecer os princípios da jurisdição e as características da jurisdição voluntária, bem como os procedimentos processuais que compõem essa espécie de jurisdição. Espécies de jurisdição Para que seja possível o melhor entendimento das espécies de jurisdição, se faz mister trazer para o estudo algumas conceituações de jurisdição. Nesse sentido, para Câmara (2006, p. 72), jurisdição é: [...] a função do Estado de atuar a vontade concreta do direito objetivo, seja afirmando-a, seja realizando-a praticamente, seja assegurando a efetividade de sua afirmação ou de sua realização prática. Já para Chiovenda (2002. p. 8), [...] pode-se definir jurisdição como a função do Estado que tem por escopo a atuação da vontade concreta da lei por meio da substituição, pela atividade de órgãos públicos, da atividade de particulares ou de outros órgãos públicos, já no afirmar a existência da vontade da lei, já no torná-la, praticamente, efetiva. Então, a jurisdição nada mais é do que a prestação estatal da Justiça. Ainda que não seja divisível, doutrinariamente, tem algumas espécies, que serão relacionadas a seguir. Jurisdição penal ou civil Conforme o objeto da demanda, a jurisdição poderá ser penal ou civil. Con- forme Neves (2016, p. 141), “tratando-se de matéria penal, naturalmente haverá jurisdição penal, e, de forma subsidiária, não sendo o direito material discutido na demanda de natureza penal, a jurisdição será civil”. Jurisdição superior ou inferior A jurisdição inferior é exercida pelo órgão jurisdicional que enfrenta o pro- cesso desde o início, ou seja, aquele que tem competência originária para a demanda, enquanto a jurisdição superior é exercida em hipótese de atuação recursal dos tribunais (NEVES, 2016). Nesse diapasão, essa espécie está ligada ao princípio do duplo grau de jurisdição, pois refere-se a uma situação de hierarquia desta, diante do inconformismo da parte que se sentir lesada com o resultado do processo. Procedimentos especiais de jurisdição voluntária2 Jurisdição especial ou comum A jurisdição especial é exercida pelas chamadas “Justiças Especiais”, que têm a fixação constitucional de sua competência em virtude da matéria que será objeto da demanda judicial. A Constituição Federal (CF) (BRASIL, 1988) reconhece três: Justiça do Trabalho (arts. 111 a 116), Justiça Eleitoral (arts. 118 a 121) e Justiça Militar (arts. 122 a 125, §§ 3º a 5º). Residualmente, ou seja, tudo o que não for de competência dessas Justiças Especiais, será de competência da Justiça Comum, falando-se nesse caso de jurisdição comum. A Justiça Comum é composta pela Justiça Federal, cuja competência vem prevista nos arts. 108 e 109 da CF, e pela Justiça Estadual, que tem competência residual dentro do âmbito da Justiça Comum (NEVES, 2016). Jurisdição de direito ou equidade No entendimento de Cintra; Grinover; Dinamarco (2015), na maioria das vezes o julgamento deve obedecer à lei, mas, em casos excepcionais, o juiz poderá se valer do critério da equidade, podendo a jurisdição ser de direito ou de equidade. Essa exceção está prevista no Código de Processo Civil (CPC) sob o art. 140, parágrafo único: Art. 140. O juiz não se exime de decidir sob a alegação de lacuna ou obscu- ridade do ordenamento jurídico. Parágrafo único. O juiz só decidirá por equidade nos casos previstos em lei. (BRASIL, 2015, documento on-line). Jurisdição contenciosa ou voluntária A jurisdição contenciosa ocorre quando há um litígio, um conflito de interesses buscando à prestação jurisdicional. Para Theodoro Júnior (2015, p. 182), [...] jurisdição contenciosa é a jurisdição propriamente dita, isto é, aquela função que o Estado desempenha na pacificação ou composição dos litígios. Pressupõe controvérsia entre as partes (lide), a ser solucionada pelo juiz. Na ordem constitucional, a justiça foi expressamente concebida como a presta- 3Procedimentos especiais de jurisdição voluntária dora da função jurisdicional necessária para tutelar os direitos lesados ou ameaçados de lesão (CF, art. 5º, XXXV). A jurisdição contenciosa é aquela em que existem partes, ao invés de meros interessados, em que há litígio, conflito. Assim, a maioria dos doutrinadores entende no sentido de que a jurisdição contenciosa é a própria jurisdição, sendo, inclusive, redundante a expressão. A jurisdição voluntária é aquela função estatal que dará validade ou ho- mologação a algum negócio jurídico, em que o mérito da questão não será um conflito, um litígio, apenas um interesse. O adjetivo voluntária não pode infirmar o substantivo jurisdição e não deve ser entendido como verdadeira contradição nos próprios termos. Mesmo que se possa pretender questionar o que pode ou não ser catalogado como de “jurisdição voluntária” em contra- posição ao que é (ou pode ser) de “jurisdição contenciosa”, importa destacar que, em qualquer caso, trata-se do exercício de jurisdição pelo Estado-juiz (BUENO, 2013). Bueno assim se coloca em virtude de existir dúvida com relação a algumas ações pertencerem a uma ou outra espécie de jurisdição. Nesse sentido, já com relação ao advento do novo CPC, Sá (2016) critica que, no Brasil, dividem-se os procedimentos especiais em aqueles que tramitam pela jurisdição conten- ciosa e aqueles que tramitam pela jurisdição voluntária. Há acesa divergência a respeito da inserção de cada qual na devida categoria estabelecida pela lei. Isso porque (e o CPC atual mantém a polêmica), apenas a título de exemplo, a interdição se localiza na jurisdição voluntária e o inventário e partilha em jurisdição contenciosa, quando ainda constitui fonte de discussão sobre qual categoria esses procedimentos pertenceriam. Portanto, enquanto a jurisdição contenciosa é a própria jurisdição, a função estatal de, por meio da prestação jurisdicional, pôr fim ao litígio, decidindo sobre o conflito apresentado pelas partes, a jurisdição voluntária é a função estatal que valida ou homologa um interesse que, apesar do termo “voluntá- ria”, obriga os interessados a buscarem o Judiciário, a fim de dar validade ao negócio pretendido. Veja as principais diferenças no Quadro 1. Procedimentos especiais de jurisdição voluntária4 Fonte: Araujo(2014, documento on-line). Jurisdição voluntária Jurisdição contenciosa Caráter administrativo. Caráter jurisdicional. Finalidade: criação de situações jurídicas novas. Finalidade: atuação do direito; pacificação social. Existe uma espécie de negócio jurídico com a participação do juiz. Existe a substituição da vontade das partes, que, se não cumprida, pode ser aplicada coercitivamente. Não há conflito de interesses, não há lide. A jurisdição atua a partir de uma lide, há conflito de interesses. Há interessados. Há partes. Não existe ação. Presença da ação. Não há coisa julgada. Há coisa julgada. Procedimento. Processo. Quadro 1. Jurisdição voluntária e jurisdição contenciosa. Princípios da jurisdição e características da jurisdição voluntária Princípios da jurisdição Princípio da investidura: o princípio da investidura refere-se ao poder atri- buído à pessoa física na pessoa do juiz. Neves (2016) explica o princípio da investidura: é natural que o Poder Judiciário, ser inanimado que é, tenha a necessidade de escolher determinados sujeitos, investindo-os do poder juris- dicional para que representem o Estado no exercício concreto da atividade jurisdicional. Esse agente público, investido de tal poder, é o juiz de direito, sendo por vezes chamado de Estado-juiz porque é justamente ele o sujeito responsável por representar o Estado na busca de uma solução para o caso concreto. 5Procedimentos especiais de jurisdição voluntária Princípio da territorialidade: conforme Theodoro Júnior (2015), todo juiz ou órgão judicial conta com uma circunscrição territorial dentro da qual exerce suas funções jurisdicionais, que pode ser a comarca, o Estado, o Distrito Federal ou todo o território nacional, conforme disposto na Constituição e nas leis de organização judiciária. Dessa forma se apresenta o princípio da territorialidade, a fim de demonstrar que a atividade jurisdicional deve obedecer a um limite territorial estabelecido em lei. Princípio da indelegabilidade: conforme o princípio da indelegabilidade, a atividade jurisdicional não poderá ser delegada. Tal princípio pode ser anali- sado sob duas diferentes perspectivas: externa e interna. No aspecto externo significa que o Poder Judiciário, tendo recebido da CF a função jurisdicional – ao menos como regra –, não poderá delegar tal função a outros Poderes ou outros órgãos que não pertencem ao Poder Judiciário. No aspecto interno, significa que, determinada concretamente a competência para uma demanda, o que se faz com a aplicação de regras gerais, abstratas e impessoais, o órgão jurisdicional não poderá delegar sua função para outro órgão jurisdicional (NEVES, 2016). Princípio da inevitabilidade: a vinculação é automática, não dependendo de qualquer concordância do sujeito, ou mesmo de acordo entre as partes para se vincularem ao processo e se sujeitarem à decisão, como ocorria no direito romano (litiscontestatio) (NEVES, 2016). Nesse sentido, a decisão proferida no processo é inevitável e independe da concordância das partes, obrigando-as ao cumprimento, seja qual for o seu teor. Princípio inafastabilidade ou indeclinabilidade: nos termos do art. 5º, XXXV, da CF: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça de lesão a direito” (BRASIL, 1988, documento on-line). Assim, conforme esse princípio, qualquer lesão ou ameaça ao direito deverá ser apreciada pelo Poder Judiciário, mediante provocação de parte interessada e independente de processo administrativo. Procedimentos especiais de jurisdição voluntária6 A exceção ao princípio da inafastabilidade também se encontra prevista na CF, no art. 217, § 1º (BRASIL, 1988), que dispõe sobre a necessidade de exaurimento mediante pro- cesso administrativo na Justiça Desportiva, para posterior procura ao Poder Judiciário. Princípio do juiz natural: a CF, art. 5º, LIII, dispõe que “ninguém será pro- cessado nem sentenciado senão pela autoridade competente” (BRASIL, 1988, documento on-line). Isso significa que o princípio do juiz natural representa a autoridade do juiz e a competência atribuída através dela: Só pode exercer a jurisdição aquele órgão a que a Constituição atribui o poder jurisdicional. Toda origem, expressa ou implícita, do poder jurisdicional só pode emanar da Constituição, de modo que não é dado ao legislador ordinário criar juízes ou tribunais de exceção, para julgamento de certas causas, tam- pouco dar aos organismos judiciários estruturação diversa daquela prevista na Lei Magna (THEODORO JÚNIOR, 2015, p. 180). Princípio do promotor natural: esse princípio é reconhecido apenas por parte da doutrina e caminha paralelamente ao princípio do juiz natural, uma vez que se entende impeditiva a designação discricionária de promotores ad hoc por procuradores gerais de Justiça, eliminando os acusadores públicos de “encomenda” (NEVES, 2016). Princípio da improrrogabilidade: esse princípio transmite a ideia de que não existe a possibilidade de o legislador modificar os limites do poder juris- dicional, estabelecidos na CF. Princípio da inércia: o Poder Judiciário somente age mediante provocação, embora seja uma garantia de todos. Princípio da unidade: de acordo com esse princípio, entendemos a unidade do Poder Judiciário: 7Procedimentos especiais de jurisdição voluntária O Poder Judiciário é único e soberano, embora a partilha de competência se dê entre vários órgãos. Dessa maneira, qualquer que seja aquele que solucio- ne o conflito, manifestará a vontade estatal única atuável diante dele. Nem mesmo a divisão constitucional entre várias justiças implica pluralidade de jurisdição, mas apenas a existência de estruturas diversas, estabelecidas de acordo com a especialidade de cada uma dessas justiças [...] (THEODORO JÚNIOR, 2015, p. 181). Esses são os princípios que norteiam a jurisdição de modo geral, sendo que sua aplicação e seu cumprimento são essenciais ao bom funcionamento da Justiça e do Poder Judiciário como um todo. Características da jurisdição voluntária Primeiramente, é importante destacar que, embora a jurisdição voluntária e a jurisdição contenciosa compartilhem de quase todas as características da jurisdição, nesse estudo traremos apenas aquelas que interessem à jurisdição voluntária, sendo elas: � Inércia: significa que o Poder Judiciário somente agirá mediante pro- vocação das partes. A jurisdição é inerte e imprescinde de provocação. Nesse sentido, prevê o art. 2º do CPC: “O processo começa por iniciativa da parte e se desenvolve por impulso oficial, salvo as exceções previstas em lei” (BRASIL, 2015, documento on-line). � Substitutividade: a jurisdição é substitutiva, pois substitui a vontade das partes, a partir do momento que provocada por elas. � Unidade: derivada do princípio da unidade, significa o poder soberano da jurisdição e do poder jurisdicional. A jurisdição é uma. � Imparcialidade: a jurisdição deve ser imparcial. Procedimentos processuais de jurisdição voluntária Os procedimentos especiais de jurisdição voluntária estão previstos nos arts. 719 e subsequentes do CPC, incluindo, nos incisos do art. 725: Procedimentos especiais de jurisdição voluntária8 [...] emancipação, [...] sub-rogação, [...] alienação, arrendamento ou oneração de bens de crianças ou adolescentes, órfãos e interditos, [...] alienação, locação, administração da coisa comum, [...] alienação de quinhão de coisa comum, [...] extinção do usufruto, [...] expedição de alvará [e] [...] homologação de autocomposição extrajudicial [...]. (BRASIL, 2015, documento on-line) Conforme Sá (2016, p. 667): [...] o interessado, o Ministério Público ou a Defensoria Pública tem legitimi- dade para dar início ao procedimento. Devem formular pedido, devidamente instruído com os documentos necessários, bem como com a indicação da providência judicial. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 dias. Notificação e interpelação O art. 726 do CPC dispõe que: [...] quem tiver interesseem manifestar formalmente sua vontade a outrem sobre assunto juridicamente relevante poderá notificar pessoas participantes da mesma relação jurídica para dar-lhes ciência de seu propósito. (BRASIL, 2015, documento on-line) Assim, o procedimento será o mesmo para a notificação e a interpelação, sendo a notificação o meio para informar alguém ou o público sobre alguma questão relevante no tocante à relação jurídica, já a interpelação serve para constituir o outro em mora. Esse procedimento estava incluído no CPC de 1973 (BRASIL, 1973) entre procedimentos cautelares específicos, sendo recolocado adequadamente entre os procedimentos de jurisdição voluntária. Alienação judicial Com uma previsão singela no CPC, no que lhe compete, está a alienação judicial em apenas um artigo: Art. 730. Nos casos expressos em lei, não havendo acordo entre os interessa- dos sobre o modo como se deve realizar a alienação do bem, o juiz, de ofício 9Procedimentos especiais de jurisdição voluntária ou a requerimento dos interessados ou do depositário, mandará aliená-lo em leilão, observando-se o disposto na Seção I deste Capítulo e, no que couber, o disposto nos arts. 879 a 903. (BRASIL, 2015, documento on-line). Trata-se da alienação do bem, por intermédio de leilão. Divórcio e separação consensuais, extinção consensual de união estável e alteração do regime de bens do matrimônio Esses procedimentos encontram-se previstos no CPC, a partir do art. 731 até o art. 734. Para conhecer os art. 731 a 734, acesse o link ou código a seguir (BRASIL, 2015). https://goo.gl/6b0EbE Dessa forma, por meio do acordo de vontades em todos os aspectos rela- cionados à causa, é possível realizar qualquer dos procedimentos citados de forma célere, sendo que, nos casos de divórcio, separação e extinção da união estável, essa possibilidade se estende à realização do ato em cartório, no caso de não existirem filhos incapazes. É importante destacar que andou bem o CPC de 2015 ao trazer previsão que, para fins procedimentais, equipara separação, divórcio e união estável. Trata-se de correta observância de princípio constitucional, que veda trata- mento discriminatório entre as diferentes formas de constituição da família (art. 226, § 3º, da CF) (SÁ, 2016). Procedimentos especiais de jurisdição voluntária10 https://goo.gl/6b0EbE Testamento e codicilos Com previsão nos arts. 735 e subsequentes do CPC (BRASIL, 2015), o pro- cedimento voluntário sobre o testamento e os codicilos dispõe sobre questões referentes às normas para a abertura, o registro, a confirmação e o cumprimento da última vontade do de cujus. De acordo com Marinoni; Arenhart; Mitidiero (2015), testamento é ato personalíssimo e revogável que serve para que alguém disponha sobre a totali- dade de seu patrimônio ou parte dele para depois de sua morte, além de servir para a prestação de outras declarações de última vontade – arts. 1.857 e 1.858 do Código Civil (CC); já codicilo é o ato de última vontade em que a pessoa faz disposições especiais sobre seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas e determinadas pessoas ou, indeterminadamente, aos pobres de certo lugar e lega móveis, roupas ou joias de pouco valor, de seu uso pessoal – art. 1.881 do CC. Herança jacente O procedimento relacionado à herança jacente encontra-se nos arts. 738 e subsequentes do CPC (BRASIL, 2015). Herança é chamada jacente nos casos em que alguém falece, não deixa testamento e também não são notoriamente conhecidos seus herdeiros legítimos. Seu procedimento, previsto no CPC, tramita na comarca de domicílio do falecido e tem como objetivos a arreca- dação dos bens do falecido e sua colocação sob a guarda de um curador até que sejam entregues a sucessor definitivamente habilitado ou seja declarada a sua vacância (SÁ, 2016). Bens dos ausentes O art. 744 do CPC dispõe: “Declarada a ausência nos casos previstos em lei, o juiz mandará arrecadar os bens do ausente e nomear-lhes-á curador na forma estabelecida na Seção VI, observando-se o disposto em lei” (BRASIL, 2015, documento on-line). É considerada ausente, para fins legais, a pessoa que desaparece do seu domicílio, a qual não se tem notícia e não tenha outorgado poderes a ninguém para que o represente na administração dos bens. Dessa forma, observado o estabelecido em lei, o juiz nomeará curador e publicará edital, com chamamento 11Procedimentos especiais de jurisdição voluntária de dois em dois meses, a fim de que o ausente se apresente. O edital permanecerá por um ano e findo o seu prazo se abrirá sucessão provisória, nos termos da lei. Coisas vagas As coisas vagas são aquelas perdidas por seu dono. Em apenas um artigo do CPC o legislador explica o procedimento atinente às coisas vagas. Vejamos: Art. 746. Recebendo do descobridor coisa alheia perdida, o juiz mandará lavrar o respectivo auto, do qual constará a descrição do bem e as declarações do descobridor. § 1º Recebida a coisa por autoridade policial, esta a remeterá em seguida ao juízo competente. § 2º Depositada a coisa, o juiz mandará publicar edital na rede mundial de computadores, no sítio do tribunal a que estiver vinculado e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da comarca, para que o dono ou o legítimo possuidor a reclame, salvo se se tratar de coisa de pequeno valor e não for possível a publicação no sítio do tribunal, caso em que o edital será apenas afixado no átrio do edifício do fórum. § 3º Observar-se-á, quanto ao mais, o disposto em lei. (BRASIL, 2015, do- cumento on-line). Interdição O procedimento da interdição encontra previsão legal nos arts. 747 e subse- quentes do CPC (BRASIL, 2015), sendo parte legítima para promovê-la o cônjuge ou companheiro, os parentes ou tutores, os representantes de entidade em que se encontra abrigado o interditando e o Ministério Público. É incumbência do autor a comprovação da incapacidade do interditando para administrar-se e administrar seus bens, em petição inicial, em que deverá ser juntado laudo que ateste a incapacidade alegada. O interditando será entrevistado pelo juízo e, não podendo comparecer na audiência, o juiz o ouvirá em local que for possível, dependendo da condição de saúde deste. Além disso, o interditando poderá constituir advogado, caso em que lhe será nomeado curador especial. No procedimento de interdição, comprovada a necessidade, é possível que o juiz defira a curatela provisória, como medida de urgência, até que se resolva Procedimentos especiais de jurisdição voluntária12 o processo. É dever do curador zelar pela saúde do interditando, inclusive buscando tratamento apropriado que lhe garanta autonomia. Disposições comuns à tutela e curatela Enquanto a curatela se refere aos incapazes, a tutela é mais específica, sendo instituto de proteção à criança e ao adolescente, que, por alguma razão, encon- tram-se com os pais ausentes. Do art. 759 ao art. 763 do CPC são elencadas as disposições legais que se aplicam tanto à tutela quanto à curatela: Art. 759. O tutor ou o curador será intimado a prestar compromisso no prazo de 5 (cinco) dias contado da: I – nomeação feita em conformidade com a lei; II – intimação do despacho que mandar cumprir o testamento ou o instrumento público que o houver instituído. § 1º O tutor ou o curador prestará o compromisso por termo em livro rubri- cado pelo juiz. § 2º Prestado o compromisso, o tutor ou o curador assume a administração dos bens do tutelado ou do interditado. Art. 760. O tutor ou o curador poderá eximir-se do encargo apresentando escusa ao juiz no prazo de 5 (cinco) dias contado: I – antes de aceitar o encargo, da intimação para prestar compromisso; II – depois de entrar em exercício, do dia em que sobrevier o motivo da escusa. § 1º Não sendo requerida a escusa no prazo estabelecido neste artigo, consi- derar-se-á renunciado o direito de alegá-la. § 2º O juiz decidirá de plano o pedido de escusa, e, nãoo admitindo, exercerá o nomeado a tutela ou a curatela enquanto não for dispensado por sentença transitada em julgado. Art. 761. Incumbe ao Ministério Público ou a quem tenha legítimo interesse requerer, nos casos previstos em lei, a remoção do tutor ou do curador. Parágrafo único. O tutor ou o curador será citado para contestar a arguição no prazo de 5 (cinco) dias, findo o qual observar-se-á o procedimento comum. Art. 762. Em caso de extrema gravidade, o juiz poderá suspender o tutor ou o curador do exercício de suas funções, nomeando substituto interino. Art. 763. Cessando as funções do tutor ou do curador pelo decurso do prazo em que era obrigado a servir, ser-lhe-á lícito requerer a exoneração do encargo. § 1º Caso o tutor ou o curador não requeira a exoneração do encargo dentro dos 10 (dez) dias seguintes à expiração do termo, entender-se-á reconduzido, salvo se o juiz o dispensar. § 2º Cessada a tutela ou a curatela, é indispensável a prestação de contas pelo tutor ou pelo curador, na forma da lei civil. (BRASIL, 2015, documento on-line). 13Procedimentos especiais de jurisdição voluntária Organização e fiscalização das fundações Com previsão nos arts. 764 e 765 do CPC (BRASIL, 2015), esse procedi- mento prevê sobre os estatutos, suas aprovações e suas alterações, mediante o Judiciário. Em razão do relevante papel desempenhado pelas fundações, dos volumes patrimoniais vultuosos necessários para a sua constituição e de sua finalidade sempre de interesse público, a fiscalização dessas pessoas jurídicas de direito privado é incumbência do Ministério Público (art. 66 do CC), cujas funções institucionais são a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127 da CF) (SÁ, 2016). Ratificação dos protestos marítimos e dos processos testemunháveis formados a bordo Previsto nos arts. 766 e subsequentes do CPC, esse procedimento confere garantia ao capitão do navio quanto aos acontecimentos ao longo da viagem: Art. 766. Todos os protestos e os processos testemunháveis formados a bordo e lançados no livro Diário da Navegação deverão ser apresentados pelo coman- dante ao juiz de direito do primeiro porto, nas primeiras 24 (vinte e quatro) horas de chegada da embarcação, para sua ratificação judicial. Art. 767. A petição inicial conterá a transcrição dos termos lançados no livro Diário da Navegação e deverá ser instruída com cópias das páginas que con- tenham os termos que serão ratificados, dos documentos de identificação do comandante e das testemunhas arroladas, do rol de tripulantes, do documento de registro da embarcação e, quando for o caso, do manifesto das cargas sinistradas e a qualificação de seus consignatários, traduzidos, quando for o caso, de forma livre para o português. Art. 768. A petição inicial deverá ser distribuída com urgência e encami- nhada ao juiz, que ouvirá, sob compromisso a ser prestado no mesmo dia, o comandante e as testemunhas em número mínimo de 2 (duas) e máximo de 4 (quatro), que deverão comparecer ao ato independentemente de intimação. § 1º Tratando-se de estrangeiros que não dominem a língua portuguesa, o autor deverá fazer-se acompanhar por tradutor, que prestará compromisso em audiência. § 2º Caso o autor não se faça acompanhar por tradutor, o juiz deverá nomear outro que preste compromisso em audiência. Art. 769. Aberta a audiência, o juiz mandará apregoar os consignatários das cargas indicados na petição inicial e outros eventuais interessados, nomeando para os ausentes curador para o ato. Procedimentos especiais de jurisdição voluntária14 Art. 770. Inquiridos o comandante e as testemunhas, o juiz, convencido da veracidade dos termos lançados no Diário da Navegação, em audiência, rati- ficará por sentença o protesto ou o processo testemunhável lavrado a bordo, dispensado o relatório. Parágrafo único. Independentemente do trânsito em julgado, o juiz determinará a entrega dos autos ao autor ou ao seu advogado, mediante a apresentação de traslado. (BRASIL, 2015, documento on-line). Segundo Gibertoni (1998, p. 261-262): O protesto é um dos meios de que se serve o capitão do navio para compro- var quaisquer ocorrências no curso da viagem, seja em relação a carga, aos passageiros ou ao próprio navio. Representa o registro de qualquer acidente ocorrido na viagem, constando, pois de uma declaração ou relato feito pelo capitão relativo às circunstâncias da viagem, às tempestades (borrascas), suportadas pelo navio, aos sinistros e acidentes supervenientes que o obriga- ram a procurar outro porto e aí se refugiar (arriba forçada), a própria conduta do capitão acerca de qualquer medida que julgou ser de seu dever tomar. É outrossim, o ato escrito do capitão do navio, tendente a comprovar sinistros, avarias ou quaisquer perdas sofridas pelo navio ou sua carga, ou ambos, e que tem por fim eximir o capitão pelos casos fortuitos ou de força maior (...). A ratificação judicial é condição de validade do protesto marítimo. Os protestos, quando confirmado pela ratificação sumária, têm fé pública e fazem prova em juízo, salvo prova em contrário. 1. Sobre as espécies de jurisdição, quanto ao objeto da demanda, a jurisdição será: a) comum ou especial. b) superior ou voluntária. c) inferior ou superior. d) civil ou contenciosa. e) penal ou civil. 2. Com relação aos princípios da jurisdição, marque a opção correta. a) O princípio da investidura refere-se ao poder atribuído à pessoa física na pessoa do juiz. b) Todo juiz ou órgão judicial conta com uma circunscrição territorial dentro da qual exerce suas funções jurisdicionais; isso se deve ao princípio do juiz natural. c) Conforme o princípio da inafastabilidade, a decisão judicial independe da concordância das partes. d) O inciso LIII do art. 5º da CF afirma que “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”, e 15Procedimentos especiais de jurisdição voluntária essa previsão legal refere-se ao princípio do promotor natural. e) O princípio de inafastabilidade é o único princípio da jurisdição que não apresenta nenhuma exceção. 3. Com relação às diferenças entre a jurisdição contenciosa e a jurisdição voluntária, assinale a alternativa correta. a) A jurisdição contenciosa independe de lide, enquanto que a voluntária poderá ser litigiosa. b) Na jurisdição voluntária não existe o instituto da revelia, ao contrário da contenciosa. c) Partes e interessados são as nomenclaturas dadas, respectivamente, aos envolvidos na jurisdição contenciosa e na jurisdição voluntária. d) Na jurisdição contenciosa, ao contrário da voluntária, instaura-se um procedimento para resolução da lide. e) A característica da lide é comum às duas espécies de jurisdição (contenciosa e voluntaria). 4. Leia com atenção as afirmativas a seguir e aponte a correta. a) A característica da imparcialidade materializa a ideia do poder soberano da jurisdição, que deverá ser uma. b) A ação de consignação em pagamento é um procedimento especial de jurisdição voluntária. c) A notificação e a interpelação são procedimentos cautelares específicos. d) É possível, no processo de interdição, a concessão em caráter de urgência de nomeação de tutor provisório ao interditando. e) O juiz poderá decidir por equidade nos casos previstos em lei. 5. Marque a alternativa que corresponde ao procedimento especial de jurisdição voluntária de bens dos ausentes. a) Quem tiver interesse em manifestar formalmente sua vontade a outrem sobre assunto juridicamente relevante poderá notificar. b) Findo o prazo previsto no edital, poderão os interessados requerer a abertura da sucessão provisória, observando-se o disposto em lei. c) O procedimento poderá ser realizado em cartório, por meio de escritura pública. d) Prestado o compromisso, o tutor ou o curador assume a administração dos bens do tutelado ou do interditado. e) O juiz ordenará que o oficialde justiça, acompanhado do escrivão ou do chefe de secretaria e do curador, arrole os bens e descreva-os em auto circunstanciado. Procedimentos especiais de jurisdição voluntária16 ARAUJO, T. Jurisdição voluntária x Jurisdição contenciosa. Mega Jurídico, 11 dez. 2014. Disponível em:<https://www.megajuridico.com/jurisdicao-voluntaria-x-jurisdicao- -contenciosa/>. Acesso em: 04 mai. 2018. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 03 mai. 2018. BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo Civil. Dispo- nível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869impressao.htm>. Acesso em: 03 mai. 2018. BRASIL. Lei nº 13.105, de 16 março de 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 03 mai. 2018.<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/ l13105.htm>. Acesso em: 03 mai. 2018. CÂMARA, A. F. Lições do Direito Processual Civil. 15. ed. v. 1. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.BUENO, C. S. Curso sistematizado de direito processual civil. São Paulo, Saraiva, 2013. CHIOVENDA, G. Instituições de Direito Processual Civil. 3. ed. v. 2. Campinas: Bookseller, 2002. CINTRA, A. C. A.; GRINOVER, A. P.; DINAMARCO, C. R. Teoria geral do processo. 31. ed. São Paulo: Malheiros, 2015. GIBERTONI, C.A.C. Teoria e prática do Direito Marítimo. Rio de Janeiro: Renovar, 1998. In: SÁ, R. M. de. Manual de Direito Processual Civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2016 MARINONI, L. G; ARENHART, S. C; MITIDIERO, D. Novo Código de Processo Civil comentado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015. NEVES, D. A. A. Manual de processo civil. 8. ed. Salvador: Juspodivm, 2016. SÁ, R. M. Manual de Direito Processual Civil. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. THEODORO JR., H. Curso de Processo Civil 56. ed. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2015. Vol I. 17Procedimentos especiais de jurisdição voluntária https://www.megajuridico.com/jurisdicao-voluntaria-x-jurisdicao- http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L5869impressao.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/ Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual da Instituição, você encontra a obra na íntegra. Conteúdo:
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