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• Pergunta 1 1 em 1 pontos Leia o excerto apresentado a seguir e, depois, responda ao que se pede. Husserl afirma que, ao nível da consciência, podemos ter a certeza sobre a forma como apreendemos os fenómenos em si mesmos, ilusórios ou reais, mesmo que não exista evidência sobre a existência independente das coisas. Toda a consciência é consciência de alguma coisa, isto é, não há consciência sem um objecto de referência, porque um pensamento está sempre ‘voltado para algum objecto. O mundo exterior fica assim reduzido àquilo que se forma na nossa consciência, às realidades que constituem os puros fenômenos (...). Se não pode existir um acto de pensamento consciente sem um objecto de referência, também não pode existir um objecto sem existir também um sujeito capaz de o interpretar e apreender. E-Dicionário de Termos Literários (EDTL), coord. de Carlos Ceia, ISBN: 989-20-0088-9, <http://www.edtl.com.pt>, consultado em 20 ago. 2019. Grifo nosso. Assinale a alternativa que corresponde à corrente crítica que mais se aproxima dos postulados no excerto. Resposta Selecionada: Fenomenologia. Resposta Correta: Fenomenologia. Comentário da resposta: Resposta correta. A palavra-chave neste trecho é “fenômeno”. Mais uma vez, a associação do nome dos principais teóricos à terminologia nos auxilia nesta questão, visto que temos a citação de Husserl e de suas ideias. A crítica fenomenológica caracteriza-se por ser um modelo focado na apreensão de objetos concretos: um objeto só pode ser percebido se há quem o perceba; da mesma forma, só pode perceber algo quem tem um objeto a ser percebido. A crítica fenomenológica distancia-se de qualquer tentativa de explicação metafísica dos fenômenos, pautando-se exclusivamente naquilo que é real. Também se afasta completamente do psicologismo. • Pergunta 2 0 em 1 pontos O trecho a seguir foi retirado do livro A hora da estrela, de Clarice Lispector. Leia-o e, depois, responda ao que se pede. Se a moça soubesse que minha alegria também vem de minha mais profunda tristeza e que tristeza era uma alegria falhada. Sim, ela era alegrezinha dentro de sua neurose. Neurose de guerra. E tinha um luxo, além de uma vez por mês ir ao cinema: pintava de vermelho grosseiramente escarlate as unhas das mãos. Mas como as roia quase até o sabugo, o vermelho berrante era logo desgastado e via-se o sujo preto por baixo. E quando acordava? Quando acordava não sabia mais quem era. Só depois é que pensava com satisfação: sou datilógrafa e virgem, e gosto de coca-cola. Só então vestia-se de si mesma, passava o resto do dia representando com obediência o papel de ser. Será que eu enriqueceria este relato se usasse alguns difíceis termos técnicos? Mas aí que está: esta história não tem nenhuma técnica, nem estilo, ela é ao deus-dará. Eu que também não marcharia por nada deste mundo com palavras brilhantes e falsas uma vida parca como a da datilógrafa. Durante o dia eu faço, como todos, gestos despercebidos por mim mesmo. Pois um dos gestos mais despercebidos é esta história de que não tenho culpa e que sai como sair. A datilógrafa vivia numa espécie de atordoado nimbo, entre céu e inferno. Nunca pensara em ‘eu sou eu’. Acho que julgava não ter direito, ela era um acaso. Um feto jogado na lata de lixo embrulhado em um jornal. Há milhares como ela? Sim, e que são apenas um acaso. Pensando bem: quem não é um acaso na vida? Quanto a mim, só me livro de ser apenas um acaso porque escrevo, o que é um ato que é um fato. É quando entro em contato forças interiores minhas, encontro através de mim o vosso Deus. Para que escrevo? E eu sei? Sei não. Sim, é verdade, às vezes também penso que eu não sou eu, pareço pertencer a uma galáxia longínqua de tão estranho que sou de mim. Sou eu? Espanto-me com o meu encontro. LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. São Paulo: Rocco, 1998. Disponível em: <http://colegioplante.com.br/wp- content/uploads/2016/06/A-Hora-da-Estrela-Clarice- Lispector.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2019. Sob o ponto de vista da crítica literária de viés psicológico, assinale a alternativa correta. Resposta Selecionada: A psicologia analítica buscaria encaixar a personagem em um arquétipo de neurose para explicar sua falta de subjetividade ou traços de personalidade. Resposta Correta: A psicanálise aplicada neste trecho apontaria as pulsões que estão por trás da construção do “eu” dada pela frase “sou datilógrafa e virgem”. Comentário da resposta: Resposta incorreta. Em todo o romance aparecem marcas da subjetividade - ou nulidade da subjetividade - da personagem Macabéa. A frase “sou datilógrafa e virgem” é apenas uma delas, voltada, segundo a psicanálise, a uma pulsão sexual. De fato, existe uma fortíssima pulsão de morte em todo o trecho, mas aí caberia também à psicanálise a análise de tais pulsões. Também, o espelhamento entre narrador e personagem pode ser amplamente observado em todo o romance, mas pela psicanálise. À psicologia analítica e à psicologia social poderia caber a análise das questões sociais que condicionam a subjetividade de Macabéa e do narrador. À Gestalt e à psicologia cognitiva, a análise do quanto um leitor consegue se identificar com a personagem e/ou o narrador. • Pergunta 3 1 em 1 pontos Leia o trecho a seguir, extraído do artigo Psicologia da literatura e psicologia na literatura, de Rosemary Conceição dos Santos et al. A seguir, responda ao que se pede. Considerando que o comportamento resulta dessa interação organismo- ambiente, Leite entende que a psicologia atual deve ter, portanto, recursos para explicar duas formas de comportamento que interessam diretamente à literatura, que são, o pensamento criador e a leitura de obra literária. Examinar a adequação da psicologia para explicar esses dois comportamentos é lançar luz sobre como se realiza, e concretiza, a tentativa de tanto o psicólogo quanto o ficcionista apresentar a descrição convincente de uma pessoa e de um personagem. SANTOS, Rosemary Conceição dos; SANTOS, João Camilo dos; SILVA, José Aparecido da. Psicologia da literatura e psicologia na literatura. Temas psicol., Ribeirão Preto , v. 26, n. 2, p. 767-780, jun. 2018 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413- 389X2018000200009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 24 ago. 2019. http://dx.doi.org/10.9788/TP2018.2-09Pt>. Levando em consideração os seus conhecimentos a respeito das diversas teorias de psicologia aplicáveis à crítica literária, assinale a alternativa que corresponde ao ramo da psicologia elaborado no texto. Resposta Selecionada: Psicologia Social. Resposta Correta: Psicologia Social. Comentário da resposta: Resposta correta. As palavras-chave neste excerto são “ambiente”, “interação” e “comportamento”. Como sabemos, a Psicologia Social, que tem seu maior expoente em Lev Vygotsky, preconiza as interações entre sujeito e ambiente para a formação de personalidade. Deste modo, estará presente na análise literária embasada na Psicologia Social a consideração dos fatores sócio- culturais que moldam, em relação dialética, a personalidade do autor, das personagens, dos leitores, bem como a recepção de uma obra. • Pergunta 4 0 em 1 pontos Leia o trecho a seguir, retirado do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis e, em seguida, leia o trecho do artigo A alma exterior em Machado de Assis: um olhar psicanalítico de Lívia Mesquita de Sousa e Terezinha Camargo Viana. “— Vem cá, Eugênia, disse ela, cumprimenta o Dr. Brás Cubas, filho do Sr. Cubas; veio da Europa. E voltando-se para mim: — Minha filha Eugênia. Eugênia, a flor da moita, mal respondeu ao gesto de cortesia que lhe fiz; olhou-me admirada e acanhada, e lentamentese aproximou da cadeira da mãe. A mãe arranjou- lhe uma das tranças do cabelo, cuja ponta se desmanchara. — Ah! travessa! dizia. Não imagina, doutor, o que isto é... E beijou-a com tão expansiva ternura que me comoveu um pouco; lembrou-me minha mãe, e, — direi tudo, — tive umas cócegas de ser pai. — Travessa? disse eu. Pois já não está em idade própria, ao que parece. — Quantos lhe dá? — Dezessete. — Menos um. — Dezesseis. Pois então! é uma moça. Não pôde Eugênia encobrir a satisfação que sentia com esta minha palavra, mas emendou-se logo, e ficou como dantes, ereta, fria e muda. Em verdade, parecia ainda mais mulher do que era; seria criança nos seus folgares de moça; mas assim quieta, impassível, tinha a compostura da mulher casada. Talvez essa circunstância lhe diminuía um pouco da graça virginal. Depressa nos familiarizamos; a mãe fazia-lhe grandes elogios, eu escutava-os de boa sombra, e ela sorria com os olhos fúlgidos, como se lá dentro do cérebro lhe estivesse a voar uma borboletinha de asas de ouro e olhos de diamante… ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. Na constituição do eu está presente de modo fundamental o outro. Antes mesmo do nascimento de uma criança, esse outro já fornece elementos para a construção de sua subjetividade. E ao longo da vida, manterão uma constante e permanente relação. É nesse sentido que Freud (1921/1981c, p. 2563) diz que toda psicologia é social, pois ‘na vida anímica individual aparece integrado sempre, efetivamente, ‘o outro’, como modelo, objeto, auxiliar ou adversário’. (...) A grande capacidade de observação e crítica é que possibilita uma produção literária capaz de ver que, em se tratando de ser humano, a sociedade e o indivíduo se formam em uma relação permanente e dialética. A noção de alma exterior tem o potencial de trazer à discussão a articulação entre as relações sociais e a subjetividade. SOUSA, Lívia Mesquita de; VIANA, Terezinha Camargo. A Alma Exterior em Machado de Assis: um olhar psicanalítico. Revista Mal-estar e Subjetividade, Fortaleza, v. 11, n. 3, p.1083-1111, set. 2011. No artigo, elabora-se uma questão central em toda a obra da maturidade de Machado de Assis: o lugar do sujeito na sociedade. Com base em seus conhecimentos e na leitura destes trechos, assinale a alternativa correta. Resposta Selecionada: O episódio da Flor da Moita é uma excelente representação da sensibilidade criativa de Machado de Assis em compreender os aspectos psicológicos das personagens femininas em suas angústias e dores, bem como em considerá-las em grande apreço, ao contrário da ordem vigente na época. Resposta Correta: O conhecido episódio da Flor da Moita, exposto no trecho em grifo, pode ser considerado como uma representação da questão do peso dos entraves sociais e da ascensão social para a formação da subjetividade, uma vez que Brás, enquanto personagem e narrador “eu” como testemunha, dá mais valor à deficiência de Eugênia do que às suas qualidades. Comentário da resposta: Resposta incorreta. Observamos neste episódio uma preocupação narcisista da personagem Brás Cubas com as aparências e o julgamento da esfera social sobre sua pessoa. Optar por deixar a moça por quem se encantara para trás pelo único motivo de esta ser deficiente física marca e critica o pensamento vigente da época, de que estas minorias eram indignas ao casamento. Ao final do episódio, vemos que a ascensão social proporcionada pelo ingresso à carreira política já lhe agradava e preocupava muito mais que os sentimentos de/por Eugênia. De fato, Machado de Assis é reconhecido por ser um autor que compreendia a personalidade das pessoas e isto fica claro, mais do que nunca, na exposição nua dos preconceitos da elite brasileira no discurso de Brás Cubas. É um olhar que revela profundo conhecimento a respeito dos mecanismos que regiam aquela sociedade. • Pergunta 5 1 em 1 pontos Leia o excerto apresentado a seguir e, depois, responda ao que se pede. “O descentramento do sujeito anunciado (...) rompe com a concepção de um ser humano essencialista e universal compreendido pelos estruturalistas e permite pensar nas mais variadas formas de experiências vivenciadas em diferentes contextos, por diferentes indivíduos. Nesse sentido, compreende-se que (...) ‘[...] reafirma a importância da estrutura, não na constituição do Sujeito, mas sim na determinação das diferentes posições de sujeito, que emergem nos momentos de tomada de decisão’ (PEREIRA, 2010, p. 422). “[...] as teorias pós-críticas não limitam a análise do poder ao campo das relações econômicas do capitalismo. Com as teorias pós-críticas, o mapa do poder é ampliado para incluir os processos de dominação centrados na raça, etnia, no gênero e na sexualidade” (SILVA, 2005b, p. 149). Já Michel Foucault (1996), durante uma aula inaugural no Colégio da França, destaca que, intrínseco ao discurso, estão em jogo o desejo e o poder. “O discurso verdadeiro, que a necessidade de sua forma liberta do desejo e libera do poder, não pode reconhecer a vontade de verdade que o atravessa; e a vontade de verdade, essa que se impõe a nós há bastante tempo, é tal que a verdade que ela quer não pode deixar de mascará-la” (p. 20). Revista Conhecimento Online, Novo Hamburgo, v. 1, p. 36-44, mar. 2017. ISSN 2176-8501. Disponível em: <https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistaconhecimentoonline/article/view/460/1852>. Acesso em: 19 aug. 2019. Grifo nosso. Assinale a alternativa que corresponde à corrente crítica que mais se aproxima dos postulados no excerto. Resposta Selecionada: Pós-estruturalismo. Resposta Correta: Pós-estruturalismo. Comentário da resposta: Resposta correta. Mais uma vez, a associação de determinados nomes a determinadas terminologias é importante no reconhecimento da corrente crítica em questão. No caso do trecho que estamos analisando, é feita uma citação direta de Michel Foucault, um dos nomes ligados ao Pós-estruturalismo. Além disso, como vimos anteriormente, o Pós-estruturalismo destaca-se em relação ao Estruturalismo por depreender algo de novo das estruturas literárias e de análise do discurso, indo ao encontro da heterogeneidade do discurso. • Pergunta 6 0 em 1 pontos O poema a seguir é de autoria de Fernando Pessoa, poeta português conhecido por sua vasta produção heteronímica. Leia-o e, depois, responda ao que se pede. AUTOPSICOGRAFIA O poeta é um fingidor, Finge tão completamente, Que chega a fingir que é dor, A dor que deveras sente. E os que lêem o que escreve, Na dor lida sentem bem, Não as duas que ele teve, Mas só as que eles não têm. E assim nas calhas da roda Gira, a entreter a razão, Esse comboio de corda Que se chama coração. PESSOA, Fernando. Autopsicografia. In: PESSOA, Fernando. Cancioneiro. Lisboa: Ática, 1981. A partir da leitura do poema, assinale a alternativa correta. Resposta Selecionada: O poema aponta para um aspecto psicológico muito fortemente ligado à psicologia clínica, equiparando o fazer literário a uma forma de expressar as angústias, por parte do autor, para que os leitores possam saber a dor que ele sente. Resposta Correta: O poema anuncia o processo de despersonalização do sujeito poeta enquanto um fingidor, capaz de fingir sentimentos que não existiram. Comentário da resposta: Resposta incorreta. Este poema é um marco para os críticos literários que se ocupam da obra de Fernando Pessoa porque antecipa algumas questões centrais da heteronímia. O sistema heteronímico constrói-se primordialmente a partir da despersonalização do poeta, através do fingimento de emoções, sensações e experiências, em uma espécie de empatia levada ao seu grau mais extremo - culminando em um processo de outrar-se.Nisto, a poética pessoana evidencia bem o trabalho linguístico que se dá no poema para que o leitor seja capaz de experienciar e sentir alguma emoção em uma primeira leitura. • Pergunta 7 0 em 1 pontos Leia os textos a seguir. “Ele sentia-se tão feliz, sem nenhuma preocupação deste mundo. Uma refeição a sós com ela, um passeio à noite pela estrada, um gesto para lhe acariciar os cabelos, a presença do seu chapéu de palha pendurado no fecho de uma janela e ainda muitas outras coisas que lhe davam prazer e com as quais nunca sonhara formavam agora a sua contínua felicidade. De manhã, na cama, com a cabeça no travesseiro ao lado dela, contemplava a luz do Sol a passar entre a pelugem das suas faces louras, meio cobertas pelos folhos da touca. Vistos de tão perto, os seus olhos pareciam maiores, sobretudo quando abria as pálpebras várias vezes de seguida ao acordar; negros à sombra e azul-escuros à luz do dia, tinham como que camadas de cores sucessivas, mais densas no fundo e ficando mais claras à superfície do esmalte. Os olhos de Charles perdiam-se naquelas profundezas, e ali ele via a miniatura da sua imagem até aos ombros, com o lenço de seda atado na cabeça e o peito da camisa entreaberto. Levantava-se. Ela punha-se à janela para o ver sair; ficava encostada ao peitoril, entre dois vasos de gerânios, dentro do seu roupão, que lhe caía, folgado, em volta do corpo. (...) FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. 2ª São Paulo: Martin Claret, 2003. (Ouro). Cap V-VI. “Existindo então uma teoria do bovarismo, o leitor cultivado – francês ou brasileiro – localiza em sua memória a referência à célebre personagem criada por Gustave Flaubert (1821-1880). (...) Ele inaugurou uma narrativa impessoal, polifônica, uma técnica de escrita exigente e que demanda uma leitura criativa, não deixando a passividade se instalar no leitor. Segundo o especialista em Flaubert, Pierre-Marc de Biasi, os dois únicos elementos que acompanham o gosto do tempo são a análise psicológica e o retrato dos costumes. De resto, o leitor encontrava-se frente a uma escrita toda nova, desconcertante e transgressora. (...). Menos de dez anos depois da publicação do romance a palavra bovarismo já era de uso corrente para designar a representação de uma atitude tipicamente fundada na fantasia. Eis um termo que nadou de braçadas na imaginação coletiva. O passo seguinte – a elaboração de uma teoria do bovarismo – não se fez esperar. ‘(...) Em 1892, J. de Gaultier elabora a teoria do ‘bovarismo’, complexão psicológica da pessoa que se vê diversa do que é na realidade, e que se condena, por suas ilusões e ideias pré-estabelecidas, a estar sempre desiludida pela banalidade da existência’.” SOUZA, Eliana Maria de Melo. Itinerários do bovarismo. Revista Ponto e Vírgula, São Paulo, p.01-20, jan. 2013. Assinale a alternativa que relaciona corretamente os conceitos críticos elaborados no artigo com elementos da narrativa. Resposta Selecionada: “Antes de casar, Emma julgara sentir amor; mas a felicidade que deveria resultar desse amor não aparecera, pelo que se deveria ter enganado, pensava ela. Procurava agora saber o que se entendia, ao certo, nesta vida, pelas palavras felicidade, paixão e êxtase, que, nos livros, Lhe haviam parecido tão belas.” é um trecho que marca com muita profundidade os costumes da época. Resposta Correta: O trecho “As comparações de noivo, de esposo, de amante celeste e de casamento eterno, que aparecem repetidamente nos sermões, despertavam-lhe no íntimo da alma imprevistas doçuras.” representa bem o que, no artigo, se diz sobre o bovarismo enquanto comportamento pautado na fantasia. Comentário da resposta: Resposta incorreta. Muitos momentos do trecho em destaque extraído do romance demonstram o que se diz, no artigo, a respeito de uma escrita transgressora, a exemplo de todos os momentos em que evidencia-se uma atitude de descontentamento por parte de Emma em relação ao casamento - na época em que Madame Bovary foi escrito isto não era comum, basta lembrar-nos da ideia mainstream de romance enquanto histórinha de amor entre duas pessoas. Um trecho que marca bem esta atitude transgressora é “ela repelia-o, meio sorridente, meio enfadada, como se faz a uma criança que se pendura em nós”. Os trechos em que há a descrição dos hábitos e costumes das pessoas, como este grifado anteriormente, são os mais representativos do que se diz a respeito da escrita de costumes da época. Observamos também, em todo o excerto, muita polifonia, visto que o narrador passa ora pela consciência de Emma, ora pela consciência de Charles. Por fim, em diversos momentos vemos marcas da desilusão de Emma em relação à realidade, como no trecho “As comparações de noivo, de esposo, de amante celeste e de casamento eterno, que aparecem repetidamente nos sermões, despertavam-lhe no íntimo da alma imprevistas doçuras.” em que constrói-se a fantasia da vida matrimonial e, depois, em “Antes de casar, Emma julgara sentir amor; mas a felicidade que deveria resultar desse amor não aparecera, pelo que se deveria ter enganado, pensava ela. Procurava agora saber o que se entendia, ao certo, nesta vida, pelas palavras felicidade, paixão e êxtase, que, nos livros, Lhe haviam parecido tão belas.” a desilusão com a vida de casada. • Pergunta 8 0 em 1 pontos Leia o trecho a seguir, retirado do livro de Carl Gustav Jung, O espírito na arte e na ciência e, em seguida, responda ao que se pede. “(...) Nestes últimos tempos vimos várias vezes obras de arte poéticas serem interpretadas de um modo que correspondia justamente a esta redução a estágios mais elementares. Poderíamos talvez atribuir as condições de criação artística, o assunto e seu tratamento individual, às relações pessoais do poeta com seus pais, mas isto não contribuiria em nada para a compreensão de sua arte. Pode-se fazer a mesma redução em todos os outros possíveis casos, também nos casos de distúrbios patológicos. (...) Naturalmente, todos tiveram pais e todos têm um pretenso complexo de pai e mãe; todos possuem sexualidade e por isso, também, certas dificuldades típicas e outras, comuns ao ser humano. Um poeta pode ter sido influenciado mais pela relação com o pai, outro, pela ligação com a mãe e finalmente um terceiro pode demonstrar, através de suas obras, traços inconfundíveis de repressão sexual (...). E assim, nada de específico se apurou para o julgamento de uma obra de arte. (...) JUNG, Carl Gustav. O espírito na arte e na ciência. São Paulo: Vozes, 1985. Com base em sua leitura de Jung e conhecimentos anteriores, assinale a alternativa verdadeira sobre o que se pode afirmar a respeito da Psicologia Analítica. Resposta Selecionada: Jung discorda de Freud principalmente porque o pai da psicanálise propunha uma visão de intertexto entre arte e psicologia, sendo que para Jung o correto seria buscar uma explicação psicológica para o fenômeno artístico, explicando-o. Resposta Correta: Obra de arte e psicologia analítica têm uma relação dialética não redutiva. Comentário da resposta: Resposta incorreta. Verifica-se neste excerto uma relação dialética entre a obra de arte literária e a psicologia analítica, fugindo de interpretações reducionistas como quaisquer tentativas de explicação de uma obra, bem como quaisquer correlações estritas entre esta mesma obra e as questões psicológicas particulares do autor. O sentido da obra, para Jung, se dá a partir da observação da obra como foi concebida, sendo a psicologia analítica uma das possibilidades, um background para toda a análise. • Pergunta 9 1 em 1 pontos Leia o excerto apresentado a seguir e, depois, responda ao que se pede. Essa universalidade do teor lírico, contudo,é essencialmente social. Só entende aquilo que o poema diz quem escuta, em sua solidão, a voz da humanidade; mais ainda, a própria solidão da palavra lírica é pré- traçada pela sociedade individualista e, em última análise, atomística, assim como, inversamente, sua capacidade de criar vínculos universais (allgemeine Verbindlichkcit) vive da densidade de sua individuação. Por isso mesmo, o pensar sobre a obra de arte está autorizado e comprometido a perguntar concretamente pelo teor social, a não se satisfazer com o vago sentimento de algo universal e abrangente. ADORNO, Theodor W.. Notas de Literatura I. São Paulo: Editora 34, 2003. Grifo nosso. Assinale a alternativa que corresponde à corrente crítica que mais se aproxima dos postulados no excerto. Resposta Selecionada: Materialismo. Resposta Correta: Materialismo. Comentário da resposta: Resposta correta. O materialismo é a corrente crítica por excelência a estudar as relações entre a obra literária e o contexto social. Dividido entre materialismo histórico e materialismo dialético, ambas as vertentes apontam para a questão essencial da indissociabilidade entre arte e meio, sendo que tanto a arte pode tomar influências do meio, quanto o meio pode tomar influências da arte. No caso do trecho apresentado, mais especificamente, estamos falando do materialismo dialético, pois o que prevalece é justamente o diálogo intrínseco entre os mecanismos formais (a singularidade de um poema) e o teor social. • Pergunta 10 1 em 1 pontos Leia o excerto apresentado a seguir e, depois, responda ao que se pede. Sem deixar de estabelecer as necessárias conexões entre os gêneros e as diversas obras da mesma série, a postura imanentista encara o texto como objeto autônomo, e não como documento ou manifestação de qualquer instância exterior. O (...) propõe o abandono do exame particular das obras, tomando-as como manifestação de outra coisa para além delas próprias: a estrutura do discurso literário, formado pelo conjunto abstrato de procedimentos que caracterizam esse discurso, enquanto propriedade típica da organização mental do homem. CULT: Fortuna crítica 4. São Paulo: Bregantini, out. 1998. Grifo Nosso Assinale a alternativa que corresponde à corrente crítica que mais se aproxima dos postulados no excerto. Resposta Selecionada: Estruturalismo. Resposta Correta: Estruturalismo. Comentário da resposta: Resposta correta. A palavra-chave da vez, nesta questão, é “estrutura”. Para os teóricos do Estruturalismo, o trabalho de linguagem em uma obra literária corresponde a uma regularidade dentre um conjunto abstratamente concebido de um tipo de discurso específico: o discurso literário. A obra literária é, então, compreendida como um organismo e analisada segundo as teorias do discurso. Segunda-feira, 29 de Novembro de 2021 21h21min10s BRT
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