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Teoria Literária - A4

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Prévia do material em texto

• Pergunta 1 
1 em 1 pontos 
 
Leia o excerto apresentado a seguir e, depois, responda ao que se 
pede. 
 
Husserl afirma que, ao nível da consciência, podemos ter a certeza sobre 
a forma como apreendemos os fenómenos em si mesmos, ilusórios ou 
reais, mesmo que não exista evidência sobre a existência independente 
das coisas. Toda a consciência é consciência de alguma coisa, isto é, não 
há consciência sem um objecto de referência, porque um pensamento 
está sempre ‘voltado para algum objecto. O mundo exterior fica assim 
reduzido àquilo que se forma na nossa consciência, às realidades que 
constituem os puros fenômenos (...). Se não pode existir um acto de 
pensamento consciente sem um objecto de referência, também não pode 
existir um objecto sem existir também um sujeito capaz de o interpretar 
e apreender. 
E-Dicionário de Termos Literários (EDTL), coord. de Carlos Ceia, 
ISBN: 989-20-0088-9, <http://www.edtl.com.pt>, consultado em 20 
ago. 2019. Grifo nosso. 
 
Assinale a alternativa que corresponde à corrente crítica que mais se 
aproxima dos postulados no excerto. 
 
Resposta Selecionada: 
Fenomenologia. 
 
Resposta Correta: 
Fenomenologia. 
 
Comentário 
da resposta: 
Resposta correta. A palavra-chave neste trecho é 
“fenômeno”. Mais uma vez, a associação do nome 
dos principais teóricos à terminologia nos auxilia 
nesta questão, visto que temos a citação de 
Husserl e de suas ideias. A crítica fenomenológica 
caracteriza-se por ser um modelo focado na 
apreensão de objetos concretos: um objeto só 
pode ser percebido se há quem o perceba; da 
mesma forma, só pode perceber algo quem tem 
um objeto a ser percebido. A crítica 
fenomenológica distancia-se de qualquer tentativa 
de explicação metafísica dos fenômenos, 
 
pautando-se exclusivamente naquilo que é real. 
Também se afasta completamente do 
psicologismo. 
 
• Pergunta 2 
0 em 1 pontos 
 
O trecho a seguir foi retirado do livro A hora da estrela, de Clarice 
Lispector. Leia-o e, depois, responda ao que se pede. 
 
Se a moça soubesse que minha alegria também vem de minha mais 
profunda tristeza e que tristeza era uma alegria falhada. Sim, ela era 
alegrezinha dentro de sua neurose. Neurose de guerra. E tinha um luxo, 
além de uma vez por mês ir ao cinema: pintava de vermelho 
grosseiramente escarlate as unhas das mãos. Mas como as roia quase 
até o sabugo, o vermelho berrante era logo desgastado e via-se o sujo 
preto por baixo. 
E quando acordava? Quando acordava não sabia mais quem era. Só 
depois é que pensava com satisfação: sou datilógrafa e virgem, e gosto 
de coca-cola. Só então vestia-se de si mesma, passava o resto do dia 
representando com obediência o papel de ser. Será que eu enriqueceria 
este relato se usasse alguns difíceis termos técnicos? Mas aí que está: 
esta história não tem nenhuma técnica, nem estilo, ela é ao deus-dará. 
Eu que também não marcharia por nada deste mundo com palavras 
brilhantes e falsas uma vida parca como a da datilógrafa. Durante o dia 
eu faço, como todos, gestos despercebidos por mim mesmo. Pois um dos 
gestos mais despercebidos é esta história de que não tenho culpa e que 
sai como sair. A datilógrafa vivia numa espécie de atordoado nimbo, 
entre céu e inferno. Nunca pensara em ‘eu sou eu’. Acho que julgava não 
ter direito, ela era um acaso. Um feto jogado na lata de lixo embrulhado 
em um jornal. Há milhares como ela? Sim, e que são apenas um acaso. 
Pensando bem: quem não é um acaso na vida? 
Quanto a mim, só me livro de ser apenas um acaso porque escrevo, o 
que é um ato que é um fato. É quando entro em contato forças interiores 
minhas, encontro através de mim o vosso Deus. Para que escrevo? E eu 
sei? Sei não. Sim, é verdade, às vezes também penso que eu não sou eu, 
pareço pertencer a uma galáxia longínqua de tão estranho que sou de 
mim. Sou eu? Espanto-me com o meu encontro. 
LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. São Paulo: Rocco, 1998. 
Disponível em: <http://colegioplante.com.br/wp-
content/uploads/2016/06/A-Hora-da-Estrela-Clarice-
Lispector.pdf>. Acesso em: 25 ago. 2019. 
 
 
Sob o ponto de vista da crítica literária de viés psicológico, assinale a 
alternativa correta. 
Resposta 
Selecionada: 
 
A psicologia analítica buscaria encaixar a 
personagem em um arquétipo de neurose para 
explicar sua falta de subjetividade ou traços de 
personalidade. 
Resposta 
Correta: 
 
A psicanálise aplicada neste trecho apontaria as 
pulsões que estão por trás da construção do 
“eu” dada pela frase “sou datilógrafa e virgem”. 
Comentário 
da resposta: 
Resposta incorreta. Em todo o romance aparecem 
marcas da subjetividade - ou nulidade da 
subjetividade - da personagem Macabéa. A frase 
“sou datilógrafa e virgem” é apenas uma delas, 
voltada, segundo a psicanálise, a uma pulsão 
sexual. De fato, existe uma fortíssima pulsão de 
morte em todo o trecho, mas aí caberia também à 
psicanálise a análise de tais pulsões. Também, o 
espelhamento entre narrador e personagem pode 
ser amplamente observado em todo o romance, 
mas pela psicanálise. À psicologia analítica e à 
psicologia social poderia caber a análise das 
questões sociais que condicionam a subjetividade 
de Macabéa e do narrador. À Gestalt e à psicologia 
cognitiva, a análise do quanto um leitor consegue 
se identificar com a personagem e/ou o narrador. 
 
 
 
• Pergunta 3 
1 em 1 pontos 
 
Leia o trecho a seguir, extraído do artigo Psicologia da literatura e 
psicologia na literatura, de Rosemary Conceição dos Santos et al. A 
seguir, responda ao que se pede. 
 
Considerando que o comportamento resulta dessa interação organismo-
ambiente, Leite entende que a psicologia atual deve ter, portanto, 
recursos para explicar duas formas de comportamento que interessam 
diretamente à literatura, que são, o pensamento criador e a leitura de 
obra literária. Examinar a adequação da psicologia para explicar esses 
 
dois comportamentos é lançar luz sobre como se realiza, e concretiza, a 
tentativa de tanto o psicólogo quanto o ficcionista apresentar a descrição 
convincente de uma pessoa e de um personagem. 
SANTOS, Rosemary Conceição dos; SANTOS, João Camilo dos; SILVA, 
José Aparecido da. Psicologia da literatura e psicologia na 
literatura. Temas psicol., Ribeirão Preto , v. 26, n. 2, p. 767-780, jun. 
2018 . Disponível 
em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
389X2018000200009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 24 ago. 
2019. http://dx.doi.org/10.9788/TP2018.2-09Pt>. 
 
Levando em consideração os seus conhecimentos a respeito das 
diversas teorias de psicologia aplicáveis à crítica literária, assinale a 
alternativa que corresponde ao ramo da psicologia elaborado no texto. 
Resposta Selecionada: 
Psicologia Social. 
Resposta Correta: 
Psicologia Social. 
Comentário 
da resposta: 
Resposta correta. As palavras-chave neste excerto 
são “ambiente”, “interação” e “comportamento”. 
Como sabemos, a Psicologia Social, que tem seu 
maior expoente em Lev Vygotsky, preconiza as 
interações entre sujeito e ambiente para a 
formação de personalidade. Deste modo, estará 
presente na análise literária embasada na 
Psicologia Social a consideração dos fatores sócio-
culturais que moldam, em relação dialética, a 
personalidade do autor, das personagens, dos 
leitores, bem como a recepção de uma obra. 
 
 
• Pergunta 4 
0 em 1 pontos 
 
Leia o trecho a seguir, retirado do romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de 
Machado de Assis e, em seguida, leia o trecho do artigo A alma exterior em Machado 
de Assis: um olhar psicanalítico de Lívia Mesquita de Sousa e Terezinha Camargo 
Viana. 
 
“— Vem cá, Eugênia, disse ela, cumprimenta o Dr. Brás Cubas, filho do Sr. Cubas; veio da 
Europa. 
E voltando-se para mim: — Minha filha Eugênia. 
Eugênia, a flor da moita, mal respondeu ao gesto de cortesia que lhe fiz; olhou-me 
admirada e acanhada, e lentamentese aproximou da cadeira da mãe. A mãe arranjou-
lhe uma das tranças do cabelo, cuja ponta se desmanchara. — Ah! travessa! dizia. Não 
imagina, doutor, o que isto é... E beijou-a com tão expansiva ternura que me comoveu um 
pouco; lembrou-me minha mãe, e, — direi tudo, — tive umas cócegas de ser pai. 
— Travessa? disse eu. Pois já não está em idade própria, ao que parece. 
— Quantos lhe dá? 
— Dezessete. 
— Menos um. 
— Dezesseis. Pois então! é uma moça. 
Não pôde Eugênia encobrir a satisfação que sentia com esta minha palavra, mas 
emendou-se logo, e ficou como dantes, ereta, fria e muda. Em verdade, parecia ainda 
mais mulher do que era; seria criança nos seus folgares de moça; mas assim quieta, 
impassível, tinha a compostura da mulher casada. Talvez essa circunstância lhe diminuía 
um pouco da graça virginal. Depressa nos familiarizamos; a mãe fazia-lhe grandes 
elogios, eu escutava-os de boa sombra, e ela sorria com os olhos fúlgidos, como se lá 
dentro do cérebro lhe estivesse a voar uma borboletinha de asas de ouro e olhos de 
diamante… 
ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Nova 
Aguilar, 1994. 
 
Na constituição do eu está presente de modo fundamental o outro. Antes mesmo do 
nascimento de uma criança, esse outro já fornece elementos para a construção de 
sua subjetividade. E ao longo da vida, manterão uma constante e permanente 
relação. É nesse sentido que Freud (1921/1981c, p. 2563) diz que toda psicologia é 
social, pois ‘na vida anímica individual aparece integrado sempre, efetivamente, ‘o 
outro’, como modelo, objeto, auxiliar ou adversário’. 
(...) 
A grande capacidade de observação e crítica é que possibilita uma produção literária 
capaz de ver que, em se tratando de ser humano, a sociedade e o indivíduo se 
formam em uma relação permanente e dialética. A noção de alma exterior tem o 
potencial de trazer à discussão a articulação entre as relações sociais e a 
subjetividade. 
SOUSA, Lívia Mesquita de; VIANA, Terezinha Camargo. A Alma Exterior em 
Machado de Assis: um olhar psicanalítico. Revista Mal-estar e Subjetividade, 
Fortaleza, v. 11, n. 3, p.1083-1111, set. 2011. 
 
No artigo, elabora-se uma questão central em toda a obra da maturidade de 
Machado de Assis: o lugar do sujeito na sociedade. Com base em seus 
conhecimentos e na leitura destes trechos, assinale a alternativa correta. 
Resposta 
Selecionada: 
 
O episódio da Flor da Moita é uma excelente representação 
da sensibilidade criativa de Machado de Assis em 
compreender os aspectos psicológicos das personagens 
femininas em suas angústias e dores, bem como em 
considerá-las em grande apreço, ao contrário da ordem 
vigente na época. 
 
Resposta 
Correta: 
 
O conhecido episódio da Flor da Moita, exposto no trecho em 
grifo, pode ser considerado como uma representação da 
questão do peso dos entraves sociais e da ascensão social 
para a formação da subjetividade, uma vez que Brás, 
enquanto personagem e narrador “eu” como testemunha, 
dá mais valor à deficiência de Eugênia do que às suas 
qualidades. 
Comentário 
da resposta: 
Resposta incorreta. Observamos neste episódio uma 
preocupação narcisista da personagem Brás Cubas com as 
aparências e o julgamento da esfera social sobre sua pessoa. 
Optar por deixar a moça por quem se encantara para trás 
pelo único motivo de esta ser deficiente física marca e critica 
o pensamento vigente da época, de que estas minorias eram 
indignas ao casamento. Ao final do episódio, vemos que a 
ascensão social proporcionada pelo ingresso à carreira 
política já lhe agradava e preocupava muito mais que os 
sentimentos de/por Eugênia. De fato, Machado de Assis é 
reconhecido por ser um autor que compreendia a 
personalidade das pessoas e isto fica claro, mais do que 
nunca, na exposição nua dos preconceitos da elite brasileira 
no discurso de Brás Cubas. É um olhar que revela profundo 
conhecimento a respeito dos mecanismos que regiam aquela 
sociedade. 
 
• Pergunta 5 
1 em 1 pontos 
 
Leia o excerto apresentado a seguir e, depois, responda ao que se pede. 
 
“O descentramento do sujeito anunciado (...) rompe com a concepção de um ser humano essencialista e 
universal compreendido pelos estruturalistas e permite pensar nas mais variadas formas de experiências 
vivenciadas em diferentes contextos, por diferentes indivíduos. Nesse sentido, compreende-se que (...) ‘[...] 
reafirma a importância da estrutura, não na constituição do Sujeito, mas sim na determinação das diferentes 
posições de sujeito, que emergem nos momentos de tomada de decisão’ (PEREIRA, 2010, p. 422). 
“[...] as teorias pós-críticas não limitam a análise do poder ao campo das relações econômicas do capitalismo. 
Com as teorias pós-críticas, o mapa do poder é ampliado para incluir os processos de dominação centrados 
na raça, etnia, no gênero e na sexualidade” (SILVA, 2005b, p. 149). 
Já Michel Foucault (1996), durante uma aula inaugural no Colégio da França, destaca que, intrínseco ao 
discurso, estão em jogo o desejo e o poder. “O discurso verdadeiro, que a necessidade de sua forma liberta do 
desejo e libera do poder, não pode reconhecer a vontade de verdade que o atravessa; e a vontade de verdade, 
essa que se impõe a nós há bastante tempo, é tal que a verdade que ela quer não pode deixar de mascará-la” 
(p. 20). 
Revista Conhecimento Online, Novo Hamburgo, v. 1, p. 36-44, mar. 2017. ISSN 2176-8501. Disponível 
em: <https://periodicos.feevale.br/seer/index.php/revistaconhecimentoonline/article/view/460/1852>. Acesso 
em: 19 aug. 2019. Grifo nosso. 
 
Assinale a alternativa que corresponde à corrente crítica que mais se aproxima dos postulados no excerto. 
Resposta Selecionada: 
Pós-estruturalismo. 
Resposta Correta: 
Pós-estruturalismo. 
Comentário da 
resposta: 
Resposta correta. Mais uma vez, a associação de determinados nomes a 
determinadas terminologias é importante no reconhecimento da corrente 
crítica em questão. No caso do trecho que estamos analisando, é feita uma 
citação direta de Michel Foucault, um dos nomes ligados ao Pós-estruturalismo. 
Além disso, como vimos anteriormente, o Pós-estruturalismo destaca-se em 
relação ao Estruturalismo por depreender algo de novo das estruturas literárias 
e de análise do discurso, indo ao encontro da heterogeneidade do discurso. 
 
• Pergunta 6 
0 em 1 pontos 
 
O poema a seguir é de autoria de Fernando Pessoa, poeta português 
conhecido por sua vasta produção heteronímica. Leia-o e, depois, 
responda ao que se pede. 
 
AUTOPSICOGRAFIA 
 
O poeta é um fingidor, 
Finge tão completamente, 
Que chega a fingir que é dor, 
A dor que deveras sente. 
 
E os que lêem o que escreve, 
Na dor lida sentem bem, 
Não as duas que ele teve, 
 
Mas só as que eles não têm. 
 
E assim nas calhas da roda 
Gira, a entreter a razão, 
Esse comboio de corda 
Que se chama coração. 
PESSOA, Fernando. Autopsicografia. In: PESSOA, 
Fernando. Cancioneiro. Lisboa: Ática, 1981. 
 
A partir da leitura do poema, assinale a alternativa correta. 
Resposta 
Selecionada: 
 
O poema aponta para um aspecto psicológico 
muito fortemente ligado à psicologia clínica, 
equiparando o fazer literário a uma forma de 
expressar as angústias, por parte do autor, para 
que os leitores possam saber a dor que ele 
sente. 
Resposta 
Correta: 
 
O poema anuncia o processo de 
despersonalização do sujeito poeta enquanto 
um fingidor, capaz de fingir sentimentos que não 
existiram. 
Comentário 
da resposta: 
Resposta incorreta. Este poema é um marco para 
os críticos literários que se ocupam da obra de 
Fernando Pessoa porque antecipa algumas 
questões centrais da heteronímia. O sistema 
heteronímico constrói-se primordialmente a partir 
da despersonalização do poeta, através do 
fingimento de emoções, sensações e experiências, 
em uma espécie de empatia levada ao seu grau 
mais extremo - culminando em um processo de 
outrar-se.Nisto, a poética pessoana evidencia 
bem o trabalho linguístico que se dá no poema 
para que o leitor seja capaz de experienciar e 
sentir alguma emoção em uma primeira leitura. 
 
 
 
• Pergunta 7 
0 em 1 pontos 
 
Leia os textos a seguir. 
 
“Ele sentia-se tão feliz, sem nenhuma preocupação deste mundo. Uma 
refeição a sós com ela, um passeio à noite pela estrada, um gesto para 
lhe acariciar os cabelos, a presença do seu chapéu de palha pendurado 
no fecho de uma janela e ainda muitas outras coisas que lhe davam 
prazer e com as quais nunca sonhara formavam agora a sua contínua 
felicidade. De manhã, na cama, com a cabeça no travesseiro ao lado 
dela, contemplava a luz do Sol a passar entre a pelugem das suas faces 
louras, meio cobertas pelos folhos da touca. Vistos de tão perto, os seus 
olhos pareciam maiores, sobretudo quando abria as pálpebras várias 
vezes de seguida ao acordar; negros à sombra e azul-escuros à luz do 
dia, tinham como que camadas de cores sucessivas, mais densas no 
fundo e ficando mais claras à superfície do esmalte. Os olhos de Charles 
perdiam-se naquelas profundezas, e ali ele via a miniatura da sua 
imagem até aos ombros, com o lenço de seda atado na cabeça e o peito 
da camisa entreaberto. Levantava-se. Ela punha-se à janela para o ver 
sair; ficava encostada ao peitoril, entre dois vasos de gerânios, dentro do 
seu roupão, que lhe caía, folgado, em volta do corpo. (...) 
FLAUBERT, Gustave. Madame Bovary. 2ª São Paulo: Martin Claret, 
2003. (Ouro). Cap V-VI. 
 
“Existindo então uma teoria do bovarismo, o leitor cultivado – francês ou 
brasileiro – localiza em sua memória a referência à célebre personagem 
criada por Gustave Flaubert (1821-1880). (...) Ele inaugurou uma 
narrativa impessoal, polifônica, uma técnica de escrita exigente e que 
demanda uma leitura criativa, não deixando a passividade se instalar no 
leitor. Segundo o especialista em Flaubert, Pierre-Marc de Biasi, os dois 
únicos elementos que acompanham o gosto do tempo são a análise 
psicológica e o retrato dos costumes. De resto, o leitor encontrava-se 
frente a uma escrita toda nova, desconcertante e transgressora. (...). 
Menos de dez anos depois da publicação do romance a palavra 
bovarismo já era de uso corrente para designar a representação de uma 
atitude tipicamente fundada na fantasia. Eis um termo que nadou de 
braçadas na imaginação coletiva. O passo seguinte – a elaboração de 
uma teoria do bovarismo – não se fez esperar. 
‘(...) Em 1892, J. de Gaultier elabora a teoria do ‘bovarismo’, complexão 
psicológica da pessoa que se vê diversa do que é na realidade, e que se 
condena, por suas ilusões e ideias pré-estabelecidas, a estar sempre 
desiludida pela banalidade da existência’.” 
 
SOUZA, Eliana Maria de Melo. Itinerários do bovarismo. Revista Ponto 
e Vírgula, São Paulo, p.01-20, jan. 2013. 
 
Assinale a alternativa que relaciona corretamente os conceitos críticos 
elaborados no artigo com elementos da narrativa. 
Resposta 
Selecionada: 
 
“Antes de casar, Emma julgara sentir amor; mas a 
felicidade que deveria resultar desse amor não 
aparecera, pelo que se deveria ter enganado, 
pensava ela. Procurava agora saber o que se 
entendia, ao certo, nesta vida, pelas palavras 
felicidade, paixão e êxtase, que, nos livros, Lhe 
haviam parecido tão belas.” é um trecho que 
marca com muita profundidade os costumes da 
época. 
 
Resposta 
Correta: 
 
O trecho “As comparações de noivo, de esposo, 
de amante celeste e de casamento eterno, que 
aparecem repetidamente nos sermões, 
despertavam-lhe no íntimo da alma imprevistas 
doçuras.” representa bem o que, no artigo, se diz 
sobre o bovarismo enquanto comportamento 
pautado na fantasia. 
Comentário 
da resposta: 
Resposta incorreta. Muitos momentos do trecho 
em destaque extraído do romance demonstram o 
que se diz, no artigo, a respeito de uma escrita 
transgressora, a exemplo de todos os momentos 
em que evidencia-se uma atitude de 
descontentamento por parte de Emma em relação 
ao casamento - na época em que Madame 
Bovary foi escrito isto não era comum, basta 
lembrar-nos da ideia mainstream 
de romance enquanto histórinha de amor entre 
duas pessoas. Um trecho que marca bem esta 
atitude transgressora é “ela repelia-o, meio 
sorridente, meio enfadada, como se faz a uma 
criança que se pendura em nós”. Os trechos em 
que há a descrição dos hábitos e costumes das 
pessoas, como este grifado anteriormente, são os 
 
mais representativos do que se diz a respeito da 
escrita de costumes da época. Observamos 
também, em todo o excerto, muita polifonia, visto 
que o narrador passa ora pela consciência de 
Emma, ora pela consciência de Charles. Por fim, 
em diversos momentos vemos marcas da 
desilusão de Emma em relação à realidade, como 
no trecho “As comparações de noivo, de esposo, 
de amante celeste e de casamento eterno, que 
aparecem repetidamente nos sermões, 
despertavam-lhe no íntimo da alma imprevistas 
doçuras.” em que constrói-se a fantasia da vida 
matrimonial e, depois, em “Antes de casar, Emma 
julgara sentir amor; mas a felicidade que deveria 
resultar desse amor não aparecera, pelo que se 
deveria ter enganado, pensava ela. Procurava 
agora saber o que se entendia, ao certo, nesta 
vida, pelas palavras felicidade, paixão e êxtase, 
que, nos livros, Lhe haviam parecido tão belas.” a 
desilusão com a vida de casada. 
 
 
• Pergunta 8 
0 em 1 pontos 
 
Leia o trecho a seguir, retirado do livro de Carl Gustav Jung, O espírito 
na arte e na ciência e, em seguida, responda ao que se pede. 
 
“(...) Nestes últimos tempos vimos várias vezes obras de arte poéticas 
serem interpretadas de um modo que correspondia justamente a esta 
redução a estágios mais elementares. Poderíamos talvez atribuir as 
condições de criação artística, o assunto e seu tratamento individual, às 
relações pessoais do poeta com seus pais, mas isto não contribuiria em 
nada para a compreensão de sua arte. Pode-se fazer a mesma redução 
em todos os outros possíveis casos, também nos casos de distúrbios 
patológicos. (...) Naturalmente, todos tiveram pais e todos têm um 
pretenso complexo de pai e mãe; todos possuem sexualidade e por isso, 
também, certas dificuldades típicas e outras, comuns ao ser humano. 
Um poeta pode ter sido influenciado mais pela relação com o pai, outro, 
pela ligação com a mãe e finalmente um terceiro pode demonstrar, 
através de suas obras, traços inconfundíveis de repressão sexual (...). E 
assim, nada de específico se apurou para o julgamento de uma obra de 
arte. (...) 
 
JUNG, Carl Gustav. O espírito na arte e na ciência. São Paulo: 
Vozes, 1985. 
 
Com base em sua leitura de Jung e conhecimentos anteriores, 
assinale a alternativa verdadeira sobre o que se pode afirmar a 
respeito da Psicologia Analítica. 
Resposta 
Selecionada: 
 
Jung discorda de Freud principalmente porque o 
pai da psicanálise propunha uma visão de 
intertexto entre arte e psicologia, sendo que 
para Jung o correto seria buscar uma explicação 
psicológica para o fenômeno artístico, 
explicando-o. 
Resposta 
Correta: 
 
Obra de arte e psicologia analítica têm uma 
relação dialética não redutiva. 
Comentário 
da resposta: 
Resposta incorreta. Verifica-se neste excerto uma 
relação dialética entre a obra de arte literária e a 
psicologia analítica, fugindo de interpretações 
reducionistas como quaisquer tentativas de 
explicação de uma obra, bem como quaisquer 
correlações estritas entre esta mesma obra e as 
questões psicológicas particulares do autor. O 
sentido da obra, para Jung, se dá a partir da 
observação da obra como foi concebida, sendo a 
psicologia analítica uma das possibilidades, um 
background para toda a análise. 
 
 
 
• Pergunta 9 
1 em 1 pontos 
 
Leia o excerto apresentado a seguir e, depois, responda ao que se 
pede. 
 
Essa universalidade do teor lírico, contudo,é essencialmente social. Só 
entende aquilo que o poema diz quem escuta, em sua solidão, a voz da 
humanidade; mais ainda, a própria solidão da palavra lírica é pré-
traçada pela sociedade individualista e, em última análise, atomística, 
assim como, inversamente, sua capacidade de criar vínculos universais 
(allgemeine Verbindlichkcit) vive da densidade de sua individuação. Por 
isso mesmo, o pensar sobre a obra de arte está autorizado e 
 
comprometido a perguntar concretamente pelo teor social, a não se 
satisfazer com o vago sentimento de algo universal e abrangente. 
ADORNO, Theodor W.. Notas de Literatura I. São Paulo: Editora 34, 
2003. Grifo nosso. 
 
Assinale a alternativa que corresponde à corrente crítica que mais se 
aproxima dos postulados no excerto. 
Resposta Selecionada: 
Materialismo. 
 
Resposta Correta: 
Materialismo. 
 
Comentário 
da resposta: 
Resposta correta. O materialismo é a corrente 
crítica por excelência a estudar as relações entre a 
obra literária e o contexto social. Dividido entre 
materialismo histórico e materialismo dialético, 
ambas as vertentes apontam para a questão 
essencial da indissociabilidade entre arte e meio, 
sendo que tanto a arte pode tomar influências do 
meio, quanto o meio pode tomar influências da 
arte. No caso do trecho apresentado, mais 
especificamente, estamos falando do 
materialismo dialético, pois o que prevalece é 
justamente o diálogo intrínseco entre os 
mecanismos formais (a singularidade de um 
poema) e o teor social. 
 
 
• Pergunta 10 
1 em 1 pontos 
 
Leia o excerto apresentado a seguir e, depois, responda ao que se pede. 
 
Sem deixar de estabelecer as necessárias conexões entre os gêneros e as 
diversas obras da mesma série, a postura imanentista encara o texto 
como objeto autônomo, e não como documento ou manifestação de 
qualquer instância exterior. O (...) propõe o abandono do exame 
particular das obras, tomando-as como manifestação de outra coisa 
para além delas próprias: a estrutura do discurso literário, formado pelo 
conjunto abstrato de procedimentos que caracterizam esse discurso, 
enquanto propriedade típica da organização mental do homem. 
 
 CULT: Fortuna crítica 4. São Paulo: Bregantini, out. 1998. Grifo 
Nosso 
 
Assinale a alternativa que corresponde à corrente crítica que mais se 
aproxima dos postulados no excerto. 
Resposta Selecionada: 
Estruturalismo. 
Resposta Correta: 
Estruturalismo. 
Comentário 
da resposta: 
Resposta correta. A palavra-chave da vez, nesta 
questão, é “estrutura”. Para os teóricos do 
Estruturalismo, o trabalho de linguagem em uma 
obra literária corresponde a uma regularidade 
dentre um conjunto abstratamente concebido de 
um tipo de discurso específico: o discurso literário. 
A obra literária é, então, compreendida como um 
organismo e analisada segundo as teorias do 
discurso. 
 
 
Segunda-feira, 29 de Novembro de 2021 21h21min10s BRT

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