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8ºAula A Teoria das Restrições (TOC) como estratégia de melhoria do desempenho de sistemas de produção Objetivos de aprendizagem Ao término desta aula, vocês serão capazes de: • compreender os princípios que regem a teoria das restrições; • identificar os gargalos de produção; • aplicar as etapas da sistemática TOC. Prezados(as) alunos(as), Estamos começando a oitava e última aula da nossa disciplina, na qual abordaremos uma estratégia de melhoria do desempenho de sistemas de produção utilizada pelo PCP, a Teoria das Restrições (TOC). Após trabalharmos todos os níveis de planejamento de um sistema de produção: o estratégico, o tático e o operacional, veremos agora uma estratégia, executada em nível de controle da produção, para promover um melhor uso dos recursos do sistema, com vistas ao aumento do lucro nas empresas. A estratégia TOC visa aumentar o lucro das empresas por meio da identificação e tratamento de gargalos ou restrições que limitam a capacidade do sistema de gerar ganhos. Veremos, nesta aula, os princípios que regem a teoria das restrições bem como as etapas de execução desta sistemática. Está pronto para conhecer um pouco mais sobre a gestão da produção que tem como foco as restrições de um sistema produtivo? Vamos então começar a nossa aula. Bons estudos! 219 Planejamento e Controle da Produção 72 Seções de estudo 1. Introdução 2. Princípios da teoria das restrições 3. Etapas da sistemática TOC 1 - Introdução Após abordarmos ao longo das nossas 7 aulas anteriores as atividades desempenhadas pelo PCP nos níveis estratégico, tático e operacional, nesta aula, abordaremos uma estratégia que aplica um conjunto de princípios relacionados ao PCP, ou seja, trabalharemos com a Teoria das Restrições. A teoria das restrições ou Theory of Constraints (TOC), de acordo com Quelhas et al. (2015), foi desenvolvida na década de 1970, e é uma teoria que leva em consideração, simultaneamente, a estrutura do produto e do processo, viabilizando a análise em paralelo entre a capacidade de produção e o sequenciamento do programa. Segundo Fernandes e Godinho Filho (2010, p. 217), “a ideia básica da TOC é conseguir lucro por meio da identificação e exploração das restrições”. A TOC foi originada por meio de um conceito chamado Optimized Production Technology (OPT), que significa Tecnologia de Produção Otimizada, que de acordo com Corrêa e Corrêa (2013), consiste em uma técnica de gestão de produção e operações que foi desenvolvida por um grupo de pesquisadores israelenses. A técnica de gestão de produção e operações, OPT, busca tratar um problema chamado “gargalo”. Ao longo das aulas anteriores você deve ter se deparado com este termo e, mesmo sem que nós o tenhamos definido diretamente, você já deve ter em mente que os gargalos impactam de maneira negativa nos resultados de um sistema produtivo. Já que o gargalo é um problema a ser tratado na estratégia abordada nesta aula, é importante defini-lo para que não restem dúvidas. Podemos afirmar que um gargalo de produção se refere a um ou mais pontos (pode ser uma máquina, um colaborador, um setor), dentro de um sistema produtivo, que limitam a capacidade de produção, ou seja, causam uma redução no índice de produtividade de uma empresa. Vamos imaginar uma indústria cuja linha de produção seja capaz de processar 1.500 unidades de um determinado produto por dia de trabalho. Imaginemos agora que o setor de embalagem desses produtos, da mesma indústria, tenha a capacidade de embalar apenas 1.200 unidades deste produto. O setor de embalagem, nesse caso, caracterizará um gargalo de produção, pois este irá restringir a capacidade de produção total da empresa a 1.200 unidades de produto acabado por dia de trabalho. Nesse exemplo de situação em que nos deparamos com o gargalo, duas coisas podem acontecer: a empresa pode passar a produzir apenas 1.200 unidades por dia, que é a quantidade que o setor de embalagem tem capacidade de processar, ou então a linha de produção continua produzindo as 1.500 unidades por dia, e um estoque de produtos não embalados será formado (ao ritmo de 300 unidades por dia), o que implicaria em custos para a empresa. De acordo com a situação que ilustramos há pouco, de nada adiantaria aumentar a capacidade da linha de produção, pois a capacidade do setor de embalagem está restringindo a capacidade total do sistema. Assim sendo, a teoria das restrições trabalha com a identificação dos recursos que estão restringindo a capacidade que a empresa tem de gerar lucros, estuda e explora estas restrições de modo a melhorar o seu desempenho, e consequentemente o desempenho de todo o sistema. 2 A estratégia TOC de Planejamento e Controle da Produção é composta por 11 princípios, que serão apresentados na sequência. Baseamo-nos em Fernandes e Godinho Filho (2010 p. 217): 1. Balancear o fluxo e não a capacidade; 2. Utilização dos não gargalos é determinada pelas restrições impostas pelos gargalos; 3. Ativar um recurso não gargalo nem sempre é igual a utilizar tal recurso; 4. Uma hora perdida em um gargalo é uma hora perdida em todo o sistema; 5. Uma hora economizada num não gargalo é uma miragem; 6. Gargalos governam o volume de produção e o volume de estoques em processo; 7. Lote de transferência nem sempre é igual ao lote de processo; 8. Por motivos similares ao princípio anterior, os lotes de processo devem ser variáveis, não fixos; 9. A lei de Murphy (se algo de errado puder ocorrer, ele vai ocorrer) é conhecida e seus transtornos podem ser isolados e minimizados; 10. A soma dos ótimos locais no geral não é igual ao ótimo global; 11. A sistemática TOC sempre deve ser usada para melhorar o desempenho de um sistema de produção. Para melhor compreender os princípios vamos discutir um pouco a respeito de cada um deles, de acordo com a perspectiva dos autores supracitados. “Balancear a capacidade” significa fazer com que todos os recursos produtivos trabalhem durante todo o tempo o disponível, gerando o máximo de resultado que lhes é possível. No entanto, para que isso seja possível, é necessário trabalhar com altos volumes de estoque em processo e também produzir quantidades maiores do que o necessário para aquele período, de modo que itens serão fabricados para serem vendidos num futuro incerto. Já quando falamos em “balancear o fluxo” significa que a capacidade do sistema será utilizada de acordo com as necessidades exatas, de modo que ela somente será usada 100% nos recursos gargalos. Utilização dos não gargalos é determinada pelas o recurso gargalo determina o nível de utilização do recurso não gargalo, como 220 73 no exemplo que citamos na introdução, onde a linha de produção contava com uma capacidade de produção de 1.500 unidades por dia e o setor de embalagem com uma capacidade menor, de 1.200 unidades por dia. Nesse caso, o gargalo (setor de embalagem) determina a utilização da linha de produção em 1.200 unidades, já que ele não será capaz de processar toda a produção proveniente da linha sem a formação de estoques em processo. Podemos ver a ilustração dessa situação na figura 8.1. 1.200 unidades/dia 1.500 unidades/dia Insumos Linha de produção Setor embalagem Figura 8.1: Representação de um setor gargalo. Conforme podemos ver na figura 8.1, a taxa de saída do sistema é de 1.200 unidades por dia. Dessa forma, de nada adiantaria investir no aumento da capacidade dos postos de trabalho que compõem a linha de produção se o setor que representa o gargalo do sistema não for priorizado. Por exemplo, aumentar a capacidade da linha de produção para 2.000 unidades por dia não resolveria o problema e ainda, acarretaria custos de estocagem para a empresa, e a taxa de saída do sistema ainda seria de 1.200 unidades por dia. Em resumo, esse princípio diz que devemos nivelar o volume a ser produzido pela linha de produção de acordo com a capacidade que o setor de embalagempossui para processar os itens, ou seja, deve-se, nesse caso, restringir a produção da linha para 1.200 unidades. Ou então melhorar o desempenho do setor de embalagem. Ativar um recurso não gargalo nem sempre é igual a utilizar tal recurso: um recurso não gargalo somente terá sido utilizado quando o que se produziu nele for totalmente absorvido por um recurso gargalo. Caso a produção de um recurso não gargalo não seja absorvida por um recurso gargalo, dizemos que o recurso não gargalo foi apenas ativado e não utilizado. Uma hora perdida em um gargalo é uma hora perdida em todo o sistema: quando se perde uma hora em um gargalo, ela não poderá ser recuperada, pois existe um volume de produção no sistema como um todo que deixou de ser produzido em função desta hora. Uma hora economizada num não gargalo é uma miragem: dizemos que esta hora é uma miragem, pois essa economia é utilizada para a fabricação de itens que acabam não sendo absorvidos pelos gargalos. Quando essa economia não é utilizada ela acaba aumentando a ociosidade do recurso não gargalo. Podemos dizer que, nesses dois casos citados (utilização da economia para a fabricação de itens e não utilização), perde-se dinheiro, pois o custo para se obter essa redução de tempo não foi convertido em nenhum benefício. Gargalos governam o volume de produção e o volume de estoques em processo: Por esse princípio podemos dizer que os gargalos definem a taxa de saída de um sistema e também o volume de estoques em processo. Como no exemplo apresentado na figura 8.1, caso se opte por manter a produção da linha em 1.500 unidades por dia, como o setor de embalagem (gargalo) só pode processar 1.200 unidades por dia, este determinará que o volume de estoques em processo será de 300 unidades por dia e que o volume de produção de itens acabados será de 1.200 unidades por dia. de processo: de acordo com Corrêa e Corrêa (2013) o lote de transferência corresponde a uma fração do lote de processamento. Os autores afirmam que o lote de processamento é o tamanho do lote que vai ser processado por um recurso antes que este seja preparado novamente para o processamento de outro item. Já o lote de transferência consiste na definição do tamanho dos lotes que serão transferidos para operações subsequentes. Esses lotes não tem a obrigação de ser iguais, ou seja, as quantidades de material processado podem ser transferidas para a próxima operação antes que todo o material do lote de processamento esteja processado. nesse caso, conforme afirmam Corrêa e Corrêa (2013), o tamanho dos lotes de processamento é uma função da situação da fábrica e pode, potencialmente, variar de operação para operação. Eles podem ser calculados considerando os custos de calcular estoques, os custos de preparação, as necessidades de fluxo de determinados itens, os tipos de recurso gargalo e não gargalo, entre outros. A lei de Murphy (se algo de errado puder ocorrer, ele vai ocorrer) é conhecida e seus transtornos podem ser isolados e minimizados: por meio da utilização da capacidade e estoques de segurança em pontos estratégicos para imunizar o programa de produção contra refugos, quebras de máquinas etc. A soma dos ótimos locais no geral não é igual ao ótimo global: quando falamos que a soma dos ótimos locais no geral não é igual ao ótimo global queremos dizer que as restrições não devem ser tratadas de maneira isolada no controle da produção, mas sim de maneira sistêmica, ou seja, todas as restrições e objetivos precisam ser considerados simultaneamente. No entanto, isso não é fácil de ser alcançado. Temos que uma consequência desta regra é que o lead time dos itens é originado a partir da programação feita, levando em consideração todas as restrições e não pode ser predeterminado. A sistemática TOC sempre deve ser usada para melhorar o desempenho de um sistema de produção: esse último princípio refere-se à TOC como sendo uma estratégia de melhoria de desempenho do sistema, assim, esta deve ser utilizada de maneira contínua. Ou seja, sempre que se encerram as etapas desta sistemática, deve-se voltar ao início, repetindo o ciclo de melhoria. Na seção abordaremos as etapas de execução da TOC em sistemas de produção. De acordo com Sipper e Bulfin (1997), citados por Fernandes e Godinho Filho (2010), a TOC tem como premissa básica o fato de que o output do sistema de produção é definido por suas restrições. Podemos dizer que uma restrição corresponde a qualquer elemento ou fator que impede que um sistema conquiste um nível melhor de desempenho em relação à sua meta. Os mesmos autores expõem os três tipos de restrições existentes: 221 Planejamento e Controle da Produção 74 • Restrição de recurso interno: é o clássico gargalo, que pode ser representado por uma máquina, trabalhador ou até mesmo uma ferramenta; • Restrição de mercado: ocorre quando a demanda é menor do que a capacidade produtiva, quando isso ocorre, é a demanda que dita o ritmo de produção; • Restrição de política: ocorre quando alguma política da empresa é a restrição (por exemplo, não trabalhar com subcontratações). 3 - Etapas da sistemática TOC As etapas da execução da sistemática TOC em sistemas produtivos que utilizam a ferramenta OPT, ou seja, uma gestão de produção com foco em resolver problemas de gargalo, apresentadas baseiam-se em Corrêa e Corrêa (2013): • Passo 1: identificar as restrições do processo ou os gargalos; identificar os recursos cuja capacidade produtiva restringe a capacidade do sistema em sua totalidade de atender a seu fluxo de vendas de produtos. Atenção para o fato de que é possível que a restrição esteja na própria demanda do mercado; • Passo 2: explorar as restrições do processo; explorar as restrições significa tirar o máximo delas. Não perder tempo algum nas máquinas gargalo, por exemplo. Usar as restrições ao máximo possível é o que esse passo significa; • Passo 3: subordinar todas as demais decisões às restrições – os gargalos definem o fluxo de produção e os estoques, a ocupação dos recursos não gargalos, entre outros; • Passo 4: procure relaxar a restrição: significa aumentar de alguma forma a capacidade de produção do gargalo, no sentido de aumentar a capacidade de fluxo do sistema. Esse passo só deveria ser dado após a restrição de ter sido explorada ao máximo, visto que pode repercutir em certo aumento nas despesas operacionais (por exemplo, com subcontratação, turnos extras, compra de máquinas etc.); • Passo 5: se no passo 4 uma restrição foi relaxada, voltar ao passo 1 para identificar a próxima restrição do sistema. Essas etapas formam um ciclo de melhoramento contínuo utilizando a lógica da teoria das restrições, conforme mencionamos no 11° princípio do TOC anteriormente. De acordo com Fernandes e Godinho Filho (2010), a metodologia TOC tem como um de seus objetivos aumentar os lucros da empresa. Dessa forma, as medidas de desempenho financeiras são muito importantes. Essas medidas são o lucro em rede (net profit = NP), o retorno sobre o investimento (ROI = return on investment), o fluxo de caixa (FC) e a contribuição unitária do produto i (Ci). Nessa metodologia, o aumento nos lucros da empresa é possível quando se identifica e se explora as restrições que comprometem os resultados da empresa, muitas das vezes, estas restrições se constituem em gargalos produtivos. Por esse motivo, é importante conhecer as medidas de desempenho operacionais também. Abaixo apresentamos as medidas de desempenho que devem ser levadas em conta na teoria das restrições, de acordo com Corrêa e Corrêa (2013). • Ganho (throughput = T): consiste na taxa segundo a qual o sistema gera ganho de dinheiro por meio da venda de seus produtos. É importante ressaltar que ganho refere-se ao fluxo de produtos vendidos. Os produtos feitos e que ainda não foram vendidos devem ser considerados como estoques; • Estoque (E): pode ser quantificado por meio do dinheiro quea empresa empregou nos bens que pretende vender. Refere-se apenas ao valor das matérias-primas envolvidas, não incluindo o valor agregado ou o conteúdo do trabalho (mão de obra e os trabalhos realizados no produto). O valor agregado ao produto está incluso nas despesas operacionais. • Despesas operacionais (DO): consiste no dinheiro que o sistema gasta para transformar estoque em ganho. Para melhor compreensão da sistemática da teoria das restrições veremos na sequência um exemplo, baseado em Fernandes e Godinho Filho (2010, p. 219), aplicando as suas 5 etapas. : Suponha um sistema de produção que produza três produtos: A, e C. As demandas semanais desses três produtos são de, respectivamente, 200, 100 e 300 produtos. Os preços de venda unitário desses produtos são de, respectivamente, $ 80, $ 90 e $ 100. Esse sistema de produção dispõe de quatro centros de trabalho, W, X, Y e Z. O centro de trabalho X dispõe de duas máquinas com capacidade total de 4.800 minutos por semana (40 horas semanais). Os centros de trabalho W, Y e Z dispõem cada um de somente uma máquina e, portanto, têm uma disponibilidade de 2.400 minutos semanais cada. Existem cinco matérias-primas (1, 2, 3, 4 e 5) com preços unitários de compra, respectivamente, de $15, $10, $15, $10 e $8. O roteiro de fabricação, bem como os dados para nosso exemplo, são ilustrados na figura 8.2. Para esses dados, vamos mostrar como determinar o mix de produção mais lucrativo seguindo as cinco etapas da sistemática TOC. Figura 8.2: Roteiro de fabricação e dados para o exemplo 8.1. Fonte: Fernandes e Godinho Filho (2010). Solução: 222 75 gargalos Para identificar a restrição do sistema é necessário verificar a carga de trabalho em cada um dos centros de trabalho, conforme apresentamos no quadro 8.1. Quadro 8.1: Cálculo das cargas de trabalho para os dados do exemplo 8.1 Centro de trabalho Minutos utilizados por semana para processar uma unidade Minutos utilizados por semana para processar a demanda total W 5 4 3 400 900 X 10 8 11 800 5 0 4 0 Z 6 3 2 300 600 Carga total semanal Minutos disponíveis por semana Utilização do centro de trabalho 95,8% 127,1% 91,7% 87,5% Os resultados apresentados no quadro 8.1, mostram os tempos de produção unitários de cada produto, em cada centro de trabalho. A partir disso são calculados os tempos (minutos) necessários para se produzir a demanda total de cada produto, em cada centro de trabalho. Enfim, calcula-se a utilização de cada centro de trabalho. Podemos ver que o gargalo é o centro de trabalho X (127,1% de utilização). Identificada a restrição, passamos para o passo 2. Após identificar a restrição, ela deve ser aproveitada ao máximo, ou seja, ela deve ser utilizada de forma que não haja desperdícios de sua capacidade, visando contribuir da melhor maneira para o alcance da meta (obtenção de lucro para a organização). Assim sendo, como a restrição impossibilita a produção de toda a demanda de todos os itens, deve-se escolher o mix de produção de forma a maximizar o retorno por unidade utilizando da restrição. Dessa forma, não interessa somente a contribuição unitária que cada produto fornece em termos de lucros para a empresa, mas sim a relação entre essa contribuição e a utilização da restrição. O quadro 8.2 apresenta o cálculo da contribuição por unidade da restrição. Quadro 8.2: Cálculo da contribuição por unidade da restrição de cada produto do exemplo 8.1 Produto A Produto C 80 90 100 25 15 18 55 75 82 Tempo gasto na restrição 10 8 11 Contribuição por minuto utilizado na restrição 5,5 9,38 7,45 Por meio dos resultados apresentados no quadro 8.2, podemos afirmar que a maior contribuição é a do produto C, no entanto este produto é o que mais gasta tempo na restrição. Quando relacionamos as contribuições de cada produto com o tempo gasto em cada restrição, vemos que o produto B é aquele que apresenta maior contribuição por minuto utilizado da restrição X. Por meio dessa análise podemos dizer que se deve produzir o máximo possível de B (100 unidades), depois o máximo possível de C (300 unidades) e completar a capacidade com o que for possível de A. Dessa forma, se temos 4.800 minutos disponíveis no centro de trabalho X e iremos processar o máximo do produto B e C (que totaliza uma necessidade de 4.100 minutos), sobram 700 minutos para processar o produto A, como cada produto necessita de 10 minutos no centro de trabalho X, temos que a quantidade de produto A a ser produzida é de 70 unidades e não mais de 100 unidades, para que toda a capacidade da restrição seja utilizada. O quadro 8.3 apresenta os novos cálculos da utilização da capacidade para o novo mix de produtos. Quadro 8.3: Novos cálculos da utilização de capacidade para o novo mix de produtos produzindo-se 70 unidades do produto A Centro de trabalho Minutos utilizados por semana para processar uma unidade Minutos utilizados por semana para processar a demanda total W 5 4 3 350 400 900 X 10 8 11 700 800 5 0 4 350 0 Z 6 3 2 420 300 600 Carga total semanal Minutos disponíveis por semana Utilização do centro de trabalho 68,8% 100,0% 64,6% 55,0% Podemos constatar por meio dos resultados apresentados no quadro 8.3 que agora o centro de trabalho X não excede o limite de capacidade. Passemos então ao próximo passo do TOC. O terceiro passo da sistemática da TOC sugere que todas as decisões, por exemplo, compra de matérias-primas, programação de operações, promessa de prazos, dentre outras, devem ser feitas em função da decisão de mix feita no passo 2. Destsa forma, deve-se comprar somente 70 unidades das matérias-primas 1 e 2 (usadas para fabricar o produto A), uma vez que somente 70 unidades do produto A serão produzidas, e assim por diante. 223 Planejamento e Controle da Produção 76 Nessa etapa, deve-se fazer o possível para melhorar o desempenho da restrição. Assim sendo, algumas medidas que podem ser tomadas são: redução do tempo de setup, manutenção preventiva, redução do número de paradas, dentre outras. Outra solução que pode ser tentada é a transferência de tarefas com menor contribuição por unidade de tempo para outros recursos que não restringem o ganho da empresa, ou seja, recursos que não apresentem capacidade menor do que a demanda. A busca pela melhoria do desempenho da restrição é necessária, pois a produção de um novo mix foi planejada no passo 3, considerando a utilização de 100% da capacidade da restrição. Assim sendo, qualquer tipo de desvios que ocorrerem nos recursos do centro de trabalho que apresenta a restrição, podem fazer com que o sistema opere abaixo de sua capacidade. Caso a restrição tenha sido relaxada no passo 4, deve-se voltar ao passo 1, com a finalidade de encontrar uma nova restrição. Assim, os passos da sistemática TOC devem ser repetidos, como num ciclo, visando a melhoria contínua do desempenho do sistema. A seguir apresentaremos mais um exemplo da sistemática TOC, de acordo com Fernandes e Godinho Filho (2010). : Aplique os passos da TOC, decidindo o mix de produtos na seguinte situação: Suponha um sistema de produção que produza dois produtos: A e B. As demandas semanais desses produtos são de, respectivamente, 150 e 80 produtos. Os preços de venda unitário desses produtos são de, respectivamente, $110 e $120. Esse sistema de produção dispõe de três centros de trabalho: X, Y e Z. Cada um desses centros de trabalho dispõe de somente uma máquina com uma disponibilidade total de 2.400 minutos semanais. Existem quatro matérias-primas (1, 2, 3 e 4) com preços unitários de compra, respectivamente, de $25, $15, $21 e $12. O roteiro de fabricação, bem como os dados para este exemplo, são ilustrados na figura 8.3. Produto A Demanda: 150 unidades Preço de venda: $110/unidade Produto B Demanda: 80 unidades Preço de venda: $120/unidade Centro de trabalho X Tempo de produção unitário: 9 minutos Centro de trabalho Y Tempo deprodução unitário: 11 minutos Centro de trabalho Z Tempo de produção unitário: 7 minutos Matéria-prima 2 $15/unidade Centro de trabalho X Tempo de produção unitário: 11 minutos Centro de trabalho Z Tempo de produção unitário: 4 minutos Matéria-prima 4 $12/unidade Matéria-prima 3 $21/unidade Centro de trabalho Y Tempo de produção unitário: 7 minutos Centro de trabalho Y Tempo de produção unitário: 8 minutos Matéria-prima 1 $25/unidade Centro de trabalho Z Tempo de produção unitário: 3 minutos Figura 8.3: Dados para o exemplo 8.2. Fonte: Fernandes e Godinho Filho (2010) Solução: gargalos Para identificar a restrição do sistema é necessário verificar a carga de trabalho em cada um dos centros de trabalho, conforme apresentamos no quadro 8.4. Quadro 8.4: Cálculo das cargas de trabalho nos centros de trabalho para os dados Centro de trabalho Minutos utilizados por semana para processar uma unidade Minutos utilizados por semana para processar a demanda total X 9 11 880 880 11 15 1200 Z 7 7 560 560 Carga total semanal Minutos disponíveis por semana Utilização do centro de trabalho 92,9% 118,8% 67,1% Os resultados apresentados no quadro 8.4 mostram os tempos de produção unitários de cada produto, em cada centro de trabalho. A partir disso são calculados os tempos (minutos) necessários para se produzir a demanda total de cada produto, em cada centro de trabalho. Por meio do cálculo da utilização de cada centro de trabalho, constatamos que o gargalo é o centro de trabalho Y (118,8% de utilização). Identificada a restrição, passamos para o passo 2. O quadro 8.5 apresenta o cálculo da contribuição por unidade da restrição. Quadro 8.5: Cálculo da contribuição por unidade da restrição de cada produto do exemplo 8.2 Produto A 110 120 40 33 70 87 Tempo gasto na restrição em minutos 11 15 Contribuição por minuto utilizado na restrição 6,36 5,80 Por meio dos resultados apresentados no quadro 8.5 podemos afirmar que a maior contribuição é a do produto B, no entanto este produto é o que mais gasta tempo na restrição. Quando relacionamos as contribuições de cada produto com o tempo gasto em cada restrição, vemos que o produto A é aquele que apresenta maior contribuição por minuto utilizado da restrição Y. Por meio dessa análise, podemos dizer que se deve produzir o máximo possível de A (150 unidades) e depois completar a capacidade com o que for possível de B. Dessa forma, se temos 2.400 minutos disponíveis no centro de 224 77 trabalho Y e iremos processar o máximo do produto A (que totaliza uma necessidade de 1.650 minutos), sobram 750 minutos para processar o produto B, como cada produto necessita de 15 minutos no centro de trabalho Y, temos que a quantidade de produto B a ser produzido é de 50 unidades e não mais de 80 unidades, para que toda a capacidade da restrição seja utilizada. O quadro 8.6, apresenta os novos cálculos da utilização da capacidade para o novo mix de produtos. Quadro 8.6: Novos cálculos da utilização de capacidade para o novo mix de produtos produzindo-se 50 unidades do produto B Centro de trabalho Minutos utilizados por semana para processar uma unidade Minutos utilizados por semana para processar a demanda total X 9 11 1350 550 11 15 1650 750 Z 7 7 1050 350 Carga total semanal Minutos disponíveis por semana Utilização do centro de trabalho 1900 79,2% 2400 100,0% 1400 58,3% Podemos constatar por meio dos resultados apresentados no quadro 8.6 que agora o centro de trabalho Y não excede o limite de capacidade. Passemos, então, ao próximo passo da TOC. Comprar apenas 50 unidades das matérias-primas 3 e 4 (usadas para fabricar o produto B), uma vez que somente 50 unidades do produto B serão produzidas. Para melhorar o desempenho desta restrição, na prática, devem-se conhecer as particularidades do sistema. De uma maneira genérica, as medidas citadas no passo 4 do exemplo 8.1 podem ser adotadas. Caso o passo 4 tenha sido executado com sucesso, deve- se voltar ao passo 1, com a finalidade de encontrar uma nova restrição. Retomando a aula não, antes disso vamos recordar os principais pontos trabalhados nesta aula: 1 - Introdução Na primeira seção abordamos os assuntos introdutórios que embasam a teoria das restrições. Abordamos a definição de OPT (Optimized Production Technology - OPT), que significa Tecnologia de Produção Otimizada e vimos que este foi o conceito que deu origem a teoria das restrições. Trabalhamos também o conceito de gargalo, sendo que este é o principal foco de atuação da TOC. 2 - Princípios da teoria das restrições Nesta seção abordamos os 11 princípios que regem a teoria das restrições. Em essência, esses 11 princípios abordam o balanceamento do fluxo em um sistema de produção e afirma que os gargalos governam o volume de produção e o volume de estoques em processo. 3 - Etapas da sistemática TOC Na última seção abordamos os passos de execução da sistemática TOC. Vimos que são cinco os passos da sistemática TOC: identificação das restrições do processo ou os gargalos; exploração das restrições do processo; subordinação de todas as demais decisões; relaxamento da restrição; voltar ao passo 1 para identificar a próxima restrição do sistema. Abordamos também dois exemplos de aplicação dos passos da sistemática TOC. FERNANDES, F. C. F.; GODINHO FILHO, M. Planejamento e Controle da Produção. São Paulo: Atlas, 2010. GOLDRATT, E. M; COX, J. A Meta: Teoria das Restrições (TOC) aplicada à indústria. 3 ed. Editora: Nobel, 2014. Vale a pena ler Vale a pena Filme: A meta. Descrição: O filme baseia-se no livro “A meta”, escrito por Eliyahu M. Goldratt e Jeff Cox, em 1984, apresentando o conceito da Teoria das Restrições aplicado em um sistema de produção desbalanceado e com pouca rentabilidade. Vale a pena assistir 225
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