Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CAPÍTULO 1- Seções Cônicas As curvas obtidas pela interseção de um plano com um cone são chamadas cônicas. Quando o plano intersepta o cone nas suas 2 folhas, a cônica obtida é uma hipérbole. Quando o plano é paralelo a uma geratriz do cone, a curva é uma parábola. E quando o plano não é paralelo a uma geratriz mas intercepta o cone em uma só folha, a curva obtida é uma elipse ou uma circunferência. Neste caṕıtulo nós descreveremos geometricamente as cônicas e determinare- mos suas equações cartesianas. Em seguida, mostraremos que uma curva plana dada por uma equação cartesiana do segundo grau nas variáveis x e y é necessariamente uma cônica. 1. Descrição Geométrica das Cônicas 1.1. Elipse Uma elipse é o lugar geométrico dos pontos cuja soma das distâncias a dois pontos fixos é constante. Esses pontos fixos são chamados focos da elipse, e o ponto médio desses focos é o centro da elipse. Vamos a seguir obter a equação geral de uma elipse cujo centro coincide com a origem do sistema cartesiano e cujos focos estão sobre o eixo x. Denotemos por 2c a distância entre os focos e por 2a a soma das distâncias de um ponto da elipse aos focos. Nesse sistema de coordenadas, os dois focos são (−c, 0) e (c, 0). Portanto a soma das distâncias de um ponto (x, y) qualquer a esses focos é √ (x+ c) 2 + y2 + √ (x− c)2 + y2 . A equação da elipse é então dada por √ (x+ c) 2 + y2 + √ (x− c)2 + y2 = 2a. Essa equação pode ser simplificada se eliminarmos os radicais. Para isto, colocamos um radical em cada membro da equação acima e elevamos ao quadrado, obtendo (x+ c) 2 + y2 = ( 2a− √ (x− c)2 + y2 )2 = 4a2 + (x− c)2 + y2 − 4a √ (x− c)2 + y2. Logo 4xc = 4a2 − 4a √ (x− c)2 + y2, e portanto a2 [ (x− c)2 + y2 ] = ( a2 − xc )2 . Conclúımos que a2x2 + a2c2 + a2y2 = a4 + c2x2. Para simplificar mais ainda esta equação, introduzimos o parâmetro b =√ a2 − c2. Esse parâmetro pode ser interpretado geometricamente como a metade do comprimento do eixo menor da elipse. A equação fica então b2x2 + a2y2 = a2b2, ou equivalentemente x2 a2 + y2 b2 = 1. Figure 1. Uma elipse com a = 2 e b = 1. 1.2. Hipérbole Uma hipérbole é o lugar geométrico dos pontos cuja diferença a dois pon- tos fixos é constante. Esses pontos fixos são chamados focos da hipérbole, e o ponto médio dos focos é o centro da hipérbole. Denotemos por 2c a distância entre os focos e por 2a a diferença entre as distâncias de um ponto da hipérbole aos focos. Sendo F1 e F2 os focos, um ponto P do plano está na hipérbole se d(P, F1)− d(P, F2) = 2a ou então d(P, F2)− d(P, F1) = 2a. Cada uma das igualdades acima define um ramo da hipérbole. A hipérbole é portanto constitúıda de 2 ramos. Vamos a seguir obter a equação geral de uma hipérbole cujo centro coincide com o centro do sistema cartesiano e cujos focos estão sobre o eixo x. Nesse sistema de coordenadas, os dois focos são F1 = (−c, 0) e F2 = (c, 0). Se P = (x, y) é um ponto da hipérbole, então satisfaz a alguma das equações acima e portanto√ (x+ c) 2 + y2 − √ (x− c)2 + y2 = ±2a. 2 Esta equação da hipérbole pode ser simplificada. Procedendo como acima obtemos a equação a2x2 + a2c2 + a2y2 = a4 + c2x2. A diferença desta equação para a equação da elipse é que nesse caso a < c. Definimos então o parâmetro b = √ c2 − a2. A interpretação geométrica deste parâmetro será vista mais adiante. Utilizando este parâmetro a equação acima se reduz a b2x2 − a2y2 = a2b2 ou equivalentemente x2 a2 − y 2 b2 = 1. Um fato importante relativo as hipérbole é que elas possuem 2 asśıntotas incli- nadas. São as retas y = ± bax . Esse fato nos permite interpretar o parâmetro b como um número que define as direções assintóticas da hipérbole. A demon- stração de que essas retas são de fato asśıntotas da hipérbole é deixada como exerćıcio para o aluno. Figure 2. Uma hipérbole com a = 2 e b = 1. 1.3. Parábola Uma parábola é o lugar geométrico dos pontos do plano equidistantes de um ponto e de uma reta fixos. O ponto é chamado foco e a reta diretriz da parábola. O ponto da parábola que está na reta que passa pelo foco e é per- pendicular a diretriz é o centro da parábola. Vamos a seguir obter a equação de uma parábola cujo centro coincide com o centro do sistema cartesiano, cujo foco está sobre o eixo x e cuja diretriz é perpendicular ao eixo x. 3 Nesse sistema de coordenadas, o foco tem coordenadas (p2 , 0) e a diretriz tem equação x = −p2 , onde estamos denotando por p a distância do foco a diretriz. Se (x, y) é um ponto da parábola, então equidista do foco e da diretriz, e portanto √( x− p 2 )2 + y2 = x+ p 2 Elevando ao quadrado obtemos y2 = 2px que é a equação da parábola. Figure 3. Uma parábola com p = 1. 2. Equações do Segundo Grau em 2 Variáveis As curvas dadas por equações do segundo grau nas variáveis x e y podem ser circunferências, elipses, parábolas ou hipérboles. Em alguns casos, essas curvas podem se degenerar em retas ou pontos. Antes de analisar a equação geral do segundo grau, vejamos alguns exemplos: Exemplo 1: A equação (x− x0)2 + (y − y0)2 = R2 corresponde à uma circunferência de centro (x0, y0) e raio R. Exemplo 2: A equação (x− x0)2 a2 + (y − y0)2 b2 = 1 corresponde à uma elipse de centro (x0, y0) e eixos principais x e y. O valor dos semi-eixos é a e b, respectivamente. Exemplo 3: A equação (x− x0)2 a2 − (y − y0) 2 b2 = 1 corresponde à uma hipérbole de centro (x0, y0) e eixos principais x e y. O semi-eixo na direção x é a e o coeficiente angular das asśıntotas é ± ba . 4 Exemplo 4: A equação y = y0 + 4p(x− x0)2 corresponde à uma parábola de eixo vertical e centro (x0, y0). A distância do foco a diretriz é p. Exemplo 5: A equação (x− x0)2 = 1 corresponde à um par de retas verticais. Uma equação geral do segundo grau pode ser escrita na forma Ax2 + 2Bxy + Cy2 +Dx+ Ey + F = 0 Vamos analisar primeiro equações do segundo grau com B = 0. Se A e C forem simultaneamente 0, a equação acima é na verdade do primeiro grau e a curva representada por ela é uma reta. Dividiremos a nossa análise em diversos casos, levando em conta os sinais de A e C. Caso 1: A = 0 ou C = 0. Analisaremos agora o caso em que C = 0 e A 6= 0. O caso em que C 6= 0 e A = 0 é análogo, bastando inverter-se os papéis de x e y. Nessa situação, a equação acima se reduz à Ax2 +Dx+ Ey + F = 0 que pode ser reescrita na forma A(x+ D 2A )2 + Ey = D2 4A − F Caso E 6= 0, esta é a equação de uma parábola. Caso E = 0, devemos ver o sinal de D 2 4A2 − F A . Se este número for positivo, a equação representa 2 retas verticais, se for 0, representa 1 reta vertical e se for negativo a equação não é satisfeita por nenhum ponto do plano. No caso de A e C serem não nulos, podemos reescrever a equação do segundo grau como A(x+ D 2A )2 + C(y + E 2C )2 = D2 4A + E2 4C − F Caso 2: A e C têm o mesmo sinal. Analisaremos o caso em que A > 0 e C > 0. No caso desses números serem negativos, multiplicamos a equação toda por −1. Nesse caso, temos que considerar o sinal de D 2 4A + E2 4C − F. Se esse número for negativo, a equação não é satisfeita em nenhum ponto do plano e se for 0 a equação representa um único ponto. No caso de ser um número positivo, a equação representa uma elipse, e se além disso, A = C, essa elipse é na verdade uma circunferência. 5 Caso 3: A e C têm sinais opostos. Neste caso, a equação representa uma hipérbole exceto quando D 2 4A + E2 4C−F = 0, caso em que a equação representa na verdade um par de retas concorrentes. Voltemos a considerar agora a equação geral do segundo grau, com B 6= 0. Mostraremos à seguir que através de uma rotação de eixos podemos voltar ao caso anterior com B = 0. Utilizaremos agora uma notação matricial, que encurta as fórmulas e que nos permite utilizar a teoria de auto-valorese auto-vetores de uma matriz simétrica. Apesar de ser posśıvel chegar aonde queremos sem usar matrizes, optamos por esse caminho por ser mais simples e claro, além de fazermos uma conexão com a álgebra linear. Uma rotação de ângulo α no plano xy corresponde a mudança de coordenadas dada por { x = cosα u− sinα v y = sinα u+ cosα v Em notação matricial escrevemos[ x y ] = [ cosα − sinα sinα cosα ] [ u v ] Ao fazermos uma rotação de eixos, a parte linear da equação original continua linear e portanto a parte quadrática da equação no sistema de coordenadas (u, v) provém somente da parte quadrática Q(x, y) = Ax2 + 2Bxy + Cy2 Em termos matriciais temos Q(x, y) = [ x y ] [ A B B C ] [ x y ] Observemos que a matriz M = [ A B B C ] é simétrica. A teoria das matrizes simétricas nos diz que M possui 2 autoval- ores reais, e que podemos tomar autovetores correspondentes formando uma base ortonormal. Se denotamos por [ cosα sinα ] um desses autovetores, o outro autovetor será [ − sinα cosα ] e matriz [ cosα − sinα sinα cosα ] diagonaliza a matriz M, i.e.,[ cosα sinα − sinα cosα ] [ A B B C ] [ cosα − sinα sinα cosα ] = [ A 0 0 C ] onde A e C são os autovalores de M. 6 No sistema (u, v), a parte quadrática da equação original se transforma então em Q(u, v) = Au2 + Cv2 como queŕıamos verificar. Observemos que o determinante de M é ∆ = AC − B2 e também é igual a AC. Portanto, podemos concluir que se ∆ = 0, estamos no caso 1 acima, e a equação pode representar uma parábola, um par de retas paralelas, uma reta ou então nada. Se ∆ > 0, estamos no caso 2 acima, e a equação pode representar uma elipse ou circunferência, um ponto ou então nada. Se ∆ < 0, estamos no caso 3, e a equação pode representar uma hipérbole ou um par de retas concorrentes. Se quisermos determinar explicitamente o valor de α que diagonaliza a matriz M , multiplicamos as matrizes do primeiro membro desta equação e igualamos o elemento da linha 1 e coluna 2 a 0. Temos então (A cosα+B sinα)(− sinα) + (B cosα+ C sinα)(cosα) = 0 e portanto B cos(2α) = (A− C) sin(2α) 2 . Assim, se A = C, escolhemos α = 450. Se A 6= C, escolhemos α satisfazendo a equação tan(2α) = 2B A− C . Exemplo 6: Considere a equação xy = 1. Para eliminarmos o termo em xy, faremos uma rotação de 450 no plano xy. As fórmulas para tal rotação são{ x = √ 2 2 ( u− v) y = √ 2 2 ( u+ v) . Substituindo estas fórmulas na equação acima obtemos u2 − v2 = 2, que é a equação de uma hipérbole. Figure 4. Hipérbole do Exemplo 6. 7 Exemplo 7: Considere a equação 3x2 + √ 3xy + 2y2 + x − √ 3y = 0. Para eliminarmos o termo em xy, consideramos uma rotação de ângulo α com tan(2α) = √ 3 . Escolhemos então α = 300. As fórmulas para tal rotação são{ x = √ 3 2 u− 1 2 v y = 12 u+ √ 3 2 v . Substituindo estas fórmulas na equação acima obtemos 7u2 + 3v2 − 4v = 0. Completando quadrados obtemos, 7u2 + 3(v − 2/3)2 = 4/3. que é a equação de uma elipse centrada em (u, v) = (0, 2/3) e com a = 221 √ 21, b = 2/3. Figure 5. Elipse do Exemplo 7. 3. Exerćıcios 1. Esboce o gráfico das seguintes cônicas: (a) (x+ 1)2 + 3(y + 2)2 = 1 (b) y − 1 = (x− 3)2 (c) x 2 4 − (y + 2) 2 = 1 (d) x2 + x+ y2 + 2y = 0 (e) 3x2 + 12x+ y2 = 8 (f) x2 − 2x− y2 + y = 2 2. Esboce os gráficos das cônicas abaixo: (a) x2 + xy + y2 = 1 (R: elipse, α = 450, a = √ 6/3, b = √ 2 ) (b) x2 + √ 3xy + 2y2 = 4 (R: elipse, α = 600, a = √ 8/5, b = √ 8 ) (c) xy + √ 2x = 1 (R: hipérbole, α = 450, a = 2, b = 2, centrada em (u, v) = (−1,−1)) (d) x2 + √ 3xy = 1 (R: hipérbole, α = 300, a = √ 2/3, b = √ 2 ) (e) x2 + 2xy + y2 + 4 √ 2x = 2 (R: parábola, α = 450, p = 1 centrada em (u, v) = (−1,−1) ) 8 3. Determine a equação das cônicas abaixo: (a) hipérbole centrada na origem com eixo de comprimento 4 fazendo um ângulo de 450 com o eixo x e com asśıntotas nas direções dos eixos x e y. (R: xy = 2) (b) elipse centrada na origem, eixo maior 6 e eixo menor 2, eixo maior fazendo um ângulo de 300 com o eixo x. (R: 13x 2+ 79y 2− 4 √ 3 9 xy = 1) (c) parábola centrada no ponto (−1, 1) e tendo como diretriz a reta y = x. (R:x2 + 2xy + y2 + 8x− 8y + 16 = 0) 4. Interceptando-se o cone x2 + y2 = z2 por um plano obtemos uma cônica. Identifique a cônica em cada caso: (a) z − 3y = 6 (R: hipérbole) (b) 2z = y − 1 (R:elipse ) (c) z = y + 1 (R: parábola ) (d) z = 2 (R:circunferência ) 5. Trace as seções cônicas degeneradas abaixo: (a) x2 − 2xy + y2 = 0 (R: reta x = y ) (b) √ 3x2−2xy− √ 3y2 = 0. (R: Par de retas x = √ 3y e y = − √ 3x) (c) x2 + 14y 2 − 2x− y + 2 = 0. (R: Ponto P = (1, 2) ) 6. Determine a equação da elipse centrada na origem, cujo eixo maior tem comprimento 4 fazendo um ângulo de π4 com o eixo x e cujo eixo menor mede 2. (R: 5x2 + 5y2 − 6xy = 8 ou 32 ) 7. Esboce o gráfico da cônica dada pela equação 2x2 + √ 3xy + y2 + x = 4 5 .(R: Em um sistema rotacionado de 30 0, a equação fica 52 (X + √ 3 10 ) 2 + 1 2 (Y − 1 2 ) 2 = 1 ) 8. Considere as cônicas C1 e C2 cujas equações são x 2 + y2 − 1 = 0 e x2 + y2 − 10x+ 9 = 0. (a) Esboce as cônicas C1 e C2. (b) Determine os coeficientes angulares das retas tangentes comuns a C1 e C2. (c) Determine as equações de todas as retas tangentes comuns a C1 e C2.Prove que as retas y = ± bax são asśıntotas da hipérbole x2 a2 − y 2 b2 = 1 (Dica: Reescreva a equação da hipérbole na forma x 2 y2 = a2 b2 + a2 y2 ) 9. Considere a elipse x 2 a2 + y2 b2 = 1, e sejam Ca e Cb ćırculos centrados na origem de raios a e b, respectivamente. Sejam pa e pb a interseção de uma semi-reta que parte da origem com Ca e Cb, respectivamente. Mostre que a reta horizontal que passa por pa intersecta a reta vertical que passa por pb em um ponto da elipse. 10. Reflexão de uma reta focal em uma cônica: (a) Mostre que a reta normal a elipse em um ponto é bissetriz do ângulo formado pelos segmentos que unem esse ponto aos focos. 9 (b) Mostre que a reta tangente a hipérbole em um ponto é bissetriz do ângulo formado pelos segmentos que unem esse ponto aos focos. (c) Mostre que a reta normal a parábola em um ponto é bissetriz do ângulo formado pela perpendicular a diretriz passando pelo ponto e pelo segmento que une esse ponto ao foco. 11. Excentricidade de uma cônica: Dada uma cônica qualquer, o número e = c a é chamado excentricidade da cônica. No caso de uma circunferência, e = 0, no caso de uma elipse, 0 < e < 1, e no caso de uma hipérbole e > 1. No caso de uma parábola definimos a excentricidade como sendo 1. (a) Seja l uma reta perpendicular ao eixo maior de uma elipse E, a uma distância ae do seu centro, e seja F o foco de E mais próximo de l. Mostre que a razão entre as distâncias de um ponto de E ao foco F e a reta l é constante e igual a e. A reta l é chamada diretriz da elipse. (b) Seja l uma reta perpendicular ao eixo de uma hipérbole H, a uma distância ae do seu centro, e seja F o foco de H mais próximo de l. Mostre que a razão entre as distâncias de um ponto de H ao foco F e a reta l é constante e igual a e. A reta l é chamada diretriz da hipérbole. 12. Considere uma cônica de excentricidade e e distância p entre o foco e a diretriz. Suponha que a origem do sistema de coordenadas coincida com o foco da cônica e que a diretriz esteja perpendicular ao eixo x. Mostre que a equação polar dessa cônica é r = ep 1− e cos θ 10
Compartilhar