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parte 6

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PSICOLOGIA DO 
DESENVOLVIMENTO 
DA ADOLESCÊNCIA AO 
ENVELHECIMENTO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
 > Descrever o processo de formação da identidade na adolescência.
 > Explicar como são estabelecidos relacionamentos interpessoais na ado-
lescência. 
 > Reconhecer os problemas de adaptação e as psicopatologias mais comuns 
na adolescência. 
Introdução
Ao longo da vida, o ser humano passa por diversas etapas, com distintas caracterís-
ticas físicas, sociais, cognitivas, afetivas, etc. Entender cada uma dessas etapas do 
ciclo vital é fundamental para várias áreas, como medicina, educação e psicologia.
Neste capítulo, você vai estudar, sob a ótica da psicologia, a adolescência, que 
é a fase marcada, segundo Erikson (1976a, 1976b), pelo conflito entre identidade e 
confusão de identidade. Você verá como ocorre o processo de formação da iden-
tidade nessa fase, entendendo qual é o papel das relações interpessoais e como 
elas se estabelecem. Também vai conhecer os principais problemas de adaptação 
característicos dessa fase do desenvolvimento, bem como as principais psico-
patologias, incluindo atitudes e comportamentos de risco como transgressões, 
delinquência juvenil, conduta antissocial, infecções sexualmente transmissíveis 
(ISTs), gravidez e maternidade na adolescência. 
Desenvolvimento 
psicossocial na 
adolescência 
Tania Beatriz Iwaszko Marques
Formação da identidade na adolescência 
O papel de criança já não serve mais ao adolescente, e novos desafios se 
impõem. Com toda a confusão que o adolescente vive, uma das suas tare-
fas é construir uma nova identidade. Nesta seção, você estudará o estágio 
psicossocial de identidade versus confusão de papéis, a partir dos estudos 
de Erikson (2000). Estudará, também, aspectos presentes na formação da 
identidade, como fatores étnicos e culturais, de gênero e orientação sexual. 
O estágio psicossocial de identidade versus confusão 
de papéis 
O psicanalista Erik Erikson (1902-1994) (Figura 1) foi o criador da teoria do 
desenvolvimento psicossocial, a qual considerou que o ciclo vital tem oito 
estágios e que em cada um deles há uma nova forma de interação da pessoa 
consigo mesma e com o ambiente. Mais recentemente, com o aumento da 
expectativa de vida, Joan Erikson, a esposa de Erik Erikson, acrescentou um 
nono estágio na edição revisada de O ciclo de vida completo (ERIKSON, 2000). 
Figura 1. Erik Erikson. 
Fonte: Feist, Feist e Roberts (2015, p. 145). 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 2
 O quinto estágio do desenvolvimento psicossocial, de acordo com Erikson 
(1976a), é a crise de identidade da adolescência, marcado pelo dilema: identi-
dade versus confusão de papéis. Martorell (2014, p. 312) chama de confusão de 
identidade e informa que também pode ser denominada “confusão de função”. 
Como o conceito de identidade é fundamental na crise da adoles-
cência, é interessante que você entenda o que ele significa, bem 
como o que é o processo de identificação. Veja, a seguir, algumas definições.
Identidade: “um conceito coerente de si mesmo, composto por objetivos, 
valores e crenças com os quais o indivíduo está socialmente comprometido” 
(MARTORELL, 2014, p. 312).
“A aquisição de um sentimento de identidade coeso e harmônico resulta do 
reconhecimento e da elaboração das distintas identificações parciais que, desde 
os primórdios de seu desenvolvimento, foram se incorporando ao sujeito pela 
introjeção de código de valores dos pais e da sociedade” (ZIMERMAN, 2008, p. 203).
Identificação: “processo psicológico central, realizado ativamente pela parte 
inconsciente do ego, pelo qual o sujeito se constitui e se transforma, assimilando 
ou se apropriando, parcial ou totalmente, dos aspectos, atributos ou traços das 
pessoas mais íntimas que o cercam” (ZIMERMAN, 2008, p. 204). 
Outeiral (1994), um psicanalista gaúcho dedicado ao estudo da adolescên-
cia, lembra que a própria palavra identidade se refere a identificações e que 
elas se iniciam pela mãe, passando pelo pai, pela família, pelos professores, 
pelos amigos, pelos ídolos e chegando à sociedade mais ampla. 
O autor assinala que, na adolescência, “O novo corpo é habitado por uma 
nova mente” (OUTEIRAL, 1994, p. 71), porém esse corpo que parece surgir da 
noite para o dia, com tamanha pressa, não tem na identidade uma compa-
nheira tão veloz e tem um tempo muito mais longo de constituição. Por isso 
em tantos momentos se faz presente a pergunta: quem sou eu?
 A confusão de papéis típica da adolescência é bem resumida por Bock, 
Furtado e Teixeira (1999, p. 203): “Uma vontade de ser criança e adulto ao 
mesmo tempo”. É comum que, nas vezes em que quer ser criança, os adultos 
cobrem do indivíduo que seja adulto, e quando quer ser adulto, a sociedade 
lhe diga que ainda é criança. 
 Embora em termos legais exista uma definição clara de quem é criança, 
quem é adolescente e quem é adulto, em termos de desenvolvimento, não 
há. Para o Estatuto da Criança e do Adolescente (BRASIL, 1990), é muito sim-
ples. É criança quem tem de zero a 12 anos incompletos, ou seja, até o dia 
anterior a completar 12 anos é criança e, no dia em que completa 12 anos, 
torna-se adolescente. É adolescente quem tem de 12 a 18 anos incompletos; é 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 3
adolescente até o dia anterior a completar 18 anos. No dia em que completar 
18 anos, é considerado adulto.
 Talvez a confusão de papéis exista por não haver “um critério claro para 
definir a fase que vai da puberdade até a idade adulta. Essa confusão acontece 
porque a adolescência não é uma fase natural do desenvolvimento humano, 
mas um derivado da estrutura socioeconômica” (BOCK; FURTADO; TEIXEIRA; 
1999, p. 291). Por isso, é melhor falar de adolescentes do que de adolescência, 
já que diferentes culturas têm diferentes tempos até que o jovem esteja 
preparado para uma vida adulta. 
Embora com diferenças no tempo reservado a esse processo, a construção 
da identidade não se dá de uma forma linear, mas “com ‘turbulências’ com 
‘idas e vindas’, provocando perplexidade e confusão nos adultos” (OUTEIRAL, 
1994, p. 72), que se esquecem de que também passaram por isso. 
Apesar de a legislação brasileira ditar a idade de 18 anos como sendo o 
ingresso na vida adulta, segundo Martorell (2014, p. 312), o sentimento de ser 
adulto só emerge quando são resolvidos alguns desafios da adolescência e 
se constrói uma identidade adulta: “a escolha de uma profissão ou ocupação, 
a adoção dos valores pelos quais se guiará pela vida e o desenvolvimento de 
uma identidade sexual que satisfaça”.
Na teoria do desenvolvimento psicossocial de Erikson, além dos fatores 
biológicos, os fatores sociais desempenham papel fundamental na construção 
da identidade. Na sequência, você conhecerá alguns deles. 
Fatores étnicos e culturais, gênero e orientação 
sexual 
Apesar de, em geral, o fator mais comentado para explicar as mudanças na 
adolescência seja o hormonal, há outros presentes na tarefa de construção 
de uma identidade nessa etapa da vida. Para Anacleto e Fonseca (2021, p. 3), “a 
ideia de adolescência é tributária da discursividade contemporânea, ou seja, 
ela é efeito de uma produção política e social que demarca uma diferença com 
o infantil”. Na sequência, você conhecerá alguns fatores como gênero, etnia e 
orientação sexual, que podem afetar a construção da identidade adolescente. 
Erikson (2000) considerava caminhos diferentes para a formação da iden-
tidade entre homens e mulheres. Enquanto para os homens prevaleceriam 
individualidade, autonomia e competitividade, nas mulheres prevaleceria 
o senso de responsabilidade e a capacidade de cuidar de si e dos outros. 
Em geral, segundo Martorell (2014), para aqueles que pertencem a uma 
cultura majoritária, os aspetos étnicos não costumam ter um papel importante. 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 4
Raça ou etnia e aspectos culturais costumam ser relevantes para os jovens que 
pertencem a grupos minoritários. No Brasil, amaioria da população festeja o 
Natal, sendo, portanto, uma cultura majoritária. Famílias de origem judaica 
não comemoram o Natal, fazendo parte de um grupo reduzido em número 
no Brasil, tratando-se, portanto, de uma cultura minoritária. 
Ter consciência da própria sexualidade faz parte da construção da iden-
tidade. A Associação Americana de Psiquiatria não encontrou relação entre 
homossexualidade e alguma doença mental a não ser as dificuldades advindos 
dos preconceitos. Em função das dificuldades encontradas no ambiente 
social, entre gays, lésbicas e bissexuais, “a identificação e a expressão de 
sua identidade sexual é mais complexa do que para heterossexuais” (MAR-
TORELL, 2014, p. 315).
 Nesta seção, você estudou a formação da identidade a partir da superação 
da crise identidade versus confusão de papeis, típica da adolescência. Na 
próxima, conhecerá algumas mudanças nos relacionamentos interpessoais 
nesse estágio do desenvolvimento psicossocial. 
Relacionamentos interpessoais na 
adolescência 
Assim como o corpo e a identidade mudam na adolescência, as relações 
interpessoais também se alteram, já que, além de se enxergar de forma dis-
tinta, o adolescente passa também a enxergar o outro de maneira diferente. 
Nesta seção, você estudará o papel e como se estabelecem as relações com a 
família, os amigos e a sociedade em geral na adolescência, além de conhecer 
o mito da rebeldia adolescente. 
Família, amigos e sociedade adulta
Os pais, que eram idealizados na infância, passam a ser vistos de outra forma, 
e a família, que ocupava papel central, vê o círculo interpessoal mudar e outras 
pessoas serem incluídas. Quando há um adolescente na família, segundo 
Outeiral (1994), a família toda adolesce junto, e muitos adultos acabam se 
identificando com o comportamento adolescente. É interessante ressaltar 
que pais de adolescente, em geral, estão vivendo outro momento de crise 
no ciclo vital, que é a crise da meia-idade. 
Embora a independência emocional nunca seja atingida plenamente, é 
necessário independentizar-se, com “a transformação de vínculos infantis de 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 5
relacionamento por um outro tipo e vínculo mais maduro, mais independente 
e mais adulto” (OUTEIRAL, 1994, p. 16). Para isso, o adolescente, muitas vezes, 
necessita desvalorizar os pais, confrontando as suas ideias, por exemplo, 
chamando-os de antiquados, que não fazem o que os outros pais fazem. As 
discussões, em geral, ocorrem por causa de “regras, padrões e regulamentos 
(vestuário, encontros, notas da escola, distribuição de tarefas domésticas” 
(CAMARGOS; LEHNEN; CORTINAZ, 2019, p. 157). 
No grupo de amigos, o adolescente se identifica, usando o mesmo tipo de 
roupas e de cabelo, falando o mesmo vocabulário, tendo comportamentos 
semelhantes. No grupo, busca sentir-se aceito. No entanto, embora os amigos 
assumam um grande papel na vida do adolescente, os valores familiares 
continuam a ser os mais importantes (STEINBERG, 2008). Se o grupo sugerir 
uma ação contrária aos valores fortemente construídos na família, como, por 
exemplo, um sequestro, o adolescente, em geral, não realizará essa ação. 
É no grupo de amigos, segundo Outeiral (1994, p. 72), que também se 
podem observar “dificuldades: por exemplo, quando um adolescente troca 
de ‘turma’, passando de uma com características mais adequadas para outra 
com peculiaridades negativas, estamos diante de um indicador de ‘problemas’ 
do próprio adolescente”. Isso é um indicador do que está acontecendo com 
ele. Isso ocorre, por exemplo, quando o jovem faz parte de um grupo que 
gosta de se vestir de preto e fazer reuniões no cemitério, o que não causa 
prejuízo nem a si, nem aos outros, mas então passa para um grupo que realiza 
furtos e assaltos.
Nesta fase, pessoas de fora do círculo familiar tornam-se modelos de 
identificação, e os professores costumam ter papel de destaque. Artistas, 
desportistas e outras figuras públicas também passam a ser importantes 
modelos de identificação. Algumas vezes, essa identificação é tão grande 
que os adolescentes “parecem assumir sua identidade: falam como eles, 
vestem-se da mesma forma, adquirem seus maneirismos, não sendo raro 
que tal situação se prolongue por um longo tempo” (OUTEIRAL, 1994, p. 72). 
Apesar das mudanças comportamentais e do turbilhão de sentimentos 
presentes na adolescência, a maioria dos jovens apresenta comportamentos 
adaptados. São poucos os que apresentam grandes problemas comportamen-
tais, dando origem a uma fama de que todo o adolescente é problemático. 
Leia mais sobre esse assunto na sequência. 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 6
Rebeldia adolescente
Talvez você possa ter sentido na pele as descrições de adolescentes como 
sendo rebeldes ou outros adjetivos pouco agradáveis. Leia uma típica des-
crição de adolescentes: 
Nossos adolescentes atuais parecem amar o luxo. Têm maus modos e desprezam 
a autoridade. São desrespeitosos com os adultos e passam o tempo vagando nas 
praças... São propensos a ofender seus pais, monopolizam a conversa quando 
estão em companhia de outras pessoas mais velhas; comem com voracidade e 
tiranizam seus mestres (OUTEIRAL, 1994, p. IV). 
É possível que você tenha concordado com alguns aspectos dessas des-
crições e pense que alguns adolescentes que você conhece se encaixam 
perfeitamente nelas. Só que ela foi escrita pelo filosofo Sócrates, no século 
V a.C. Parece que os adultos se esquecem de que foram adolescentes e os 
descrevem de forma negativa. Alguns chegam a chamar a adolescência de 
aborrescência, demonstrando desprezo. Mas será que os adolescentes são 
seres assim tão cheios de aspectos negativos e nada de bom? Será que, de 
fato, existe uma rebeldia adolescente ou será um mito? 
O período de adolescência às vezes é chamado de “época da rebeldia 
adolescente, envolvendo um turbilhão emocional, conflitos com a família, 
segregação da sociedade adulta, comportamento imprudente e rejeição dos 
valores adultos” (MARTORELL, 2014, p. 319). Embora a adolescência possa ser 
uma época difícil, com mais tensão do que outras fases da vida, são poucos 
os que apresentam, de fato, grandes problemas. 
É esperado que haja mudanças, mas nem sempre existe essa rebeldia 
tão grande. Para Outeiral (1994, p. 18), o “processo de estabelecimento de 
novos vínculos com a família e a sociedade, não mais em termos infantis, e 
si, dentro de um modelo mais adulto, é uma das tarefas básicas da adoles-
cência”. Portanto, você pode ter duas explicações para o mito, que não são 
excludentes: de fato, há alguns adolescentes que vivem o processo de forma 
mais intensa; e há adultos com mais dificuldades para lidar com as mudanças 
normais do adolescente. 
Nesta seção, você estudou as relações interpessoais na adolescência com 
diversos grupos como família, amigos e sociedade. Estudou também o mito 
da rebeldia adolescente. Na próxima, você conhecerá as principais psicopa-
tologias e dificuldades de adaptação dessa etapa do ciclo vital, incluindo 
atitudes e comportamentos de risco. 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 7
Desadaptações e psicopatologias na 
adolescência
A adolescência é um período de mudanças intensas no corpo e no cérebro em 
um curto período. É normal que surjam desadaptações, porque as respostas 
antes conhecidas não servem para os novos problemas que se apresentam. 
Mas elas podem ser superadas. Pode haver comportamentos que deixam 
marcas mais profundas. Existem, ainda, algumas psicopatologias que são 
típicas dessa fase do ciclo vital. Nesta seção, você estudará quais são, na 
adolescência, os principais problemas de adaptação, psicopatologias e com-
portamentos de risco, entre os quais transgressões, delinquência, conduta 
antissocial, ISTs, gravidez e maternidade precoces.
Síndrome da adolescência normal 
Erikson (1976a) considerava a adolescência como uma crise normativa, ou 
seja, uma crise do processo de desenvolvimento, que faz parte do processoevolutivo normal. Maurício Knobel (ABERASTURY; KNOBEL, 1992) descreveu a 
síndrome da adolescência normal, cujas características são descritas a seguir.
 � Busca de si mesmo e da identidade — a identidade infantil já não serve 
ao adolescente, que precisa construir uma nova, em um processo 
longo e não linear. 
 � Tendência grupal — por não ter uma identidade nova, a identificação com 
o grupo ajuda a ocupar esse lugar vago. No grupo, há uma espécie de 
identidade coletiva, com roupas, linguagem e comportamentos comuns. 
 � Necessidade de intelectualizar e fantasiar — como não pode controlar 
as mudanças físicas que acontecem rapidamente em seu corpo, uma 
forma de lidar com isso é se refugiar no mundo interno, que pode 
controlar. Como se torna capaz de pensar em termos teóricos, aplica 
novas teorias ao mundo, muitas vezes contraditórias entre si. 
 � Crises religiosas — da mesma forma que passa por contradições 
intelectuais, passa por contradições religiosas, mudando de crenças 
de forma rápida e intensa. 
 � Deslocalização temporal — o adolescente parece usar uma contagem 
de tempo diferente daquela do adulto. Por um lado, posterga eventos 
próximos, considerando-os distantes e, por outro, eventos que ainda 
estão distantes são sentidos como imediatos e já precisa, por exemplo, 
arrumar a mala para uma viagem que acontecerá dali a dois meses. 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 8
 � Evolução sexual manifesta — o contato exclusivo com o próprio corpo 
vai dando lugar ao maior interesse por outras pessoas. 
 � Atitude social reivindicatória — ao se independentizar cada vez mais, 
vai se dando conta de que o mundo é diferente daquilo que enxer-
gava enquanto criança e quer que ele seja menos hostil e reivindica 
mudanças. 
 � Contradições sucessivas em todas as manifestações da conduta — com 
sua impulsividade, não se dá conta de que, muitas vezes, sua conduta 
é contraditória. Exige que os adultos cuidem da Floresta Amazônica, 
mas não faz algo que está ao seu alcance como a separação entre o 
lixo orgânico e o reciclável. 
 � Separação progressiva dos pais — ama seus pais, mas quer experimen-
tar coisas novas. Para que isso aconteça, vai se afastando progressi-
vamente, mas, ao mesmo tempo, quer ter a certeza de que poderá ser 
cuidado quando necessário.
 � Constantes flutuações do humor — aqui não se tata do transtorno 
depressivo. Trata-se de uma oscilação de humor, por visualizar novas 
possibilidades com o crescimento, mas, ao mesmo tempo, vislumbrar 
as perdas sofridas. 
Embora possa ser caracterizada como um momento de desequilíbrios e 
instabilidades, essa fase é “absolutamente necessária, para o adolescente que, 
nesse processo vai estabelecer a sua identidade” (KNOBEL in ABERASTUTY; 
KNOBEL, 1992, p. 9). Nessa crise, o adulto é necessário como modelo acolhedor 
e respeitoso, que apresenta limites, sendo continente das ansiedades do 
adolescente, sem se confundir com eles. 
Desadaptação na adolescência e comportamentos 
de risco
Mudanças, na adolescência, constituem a síndrome da adolescência normal. 
Adaptações precisam ser feitas, sendo que algumas estão dentro de um es-
pectro mais esperado e outras dentro de um limite que tende ao patológico. 
As roupas largas e os cabelos coloridos não costumam trazer conse-
quências desfavoráveis à vida, embora chamem a atenção. Por outro lado, 
podem acontecer transgressões, delinquência juvenil e conduta antissocial, 
que podem se constituir em comportamentos desadaptados, com diferentes 
níveis de consequências sobre a vida do adolescente e de seus familiares. 
Para entender a sua gravidade, é necessário observar como se manifestam. 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 9
Alguns indicadores, conforme Osório (1989), ajudam a identificação do li-
mite entre o normal e o patológico nas adaptações: a intensidade, a duração e o 
significado regressivo do sintoma, as suas diferentes formas de manifestação, 
o fator desencadeante e a existência de sintomas semelhantes na infância. 
Quanto a critérios para identificação do grau de preocupação sobre os 
comportamentos antissociais e delinquentes, Martorell (2014) considera que 
o início precoce e o histórico familiar são dois dos principais indícios. 
No conflito identidade x confusão de papéis, há adolescentes em que 
prevalece o polo confusão de papéis, comum nos jovens delinquentes: “Alguns 
jovens procuram uma ‘identidade negativa’, uma identidade oposta a que 
lhes foi atribuída pela família e pelos amigos. Possuir uma identidade como 
‘delinquente’, às vezes, pode ser preferível a não ter qualquer identidade” 
(ELKIND, 1978, p. 8).
A forma de lidar com a sexualidade também pode ser fonte de preocupação, 
pois a partir de uma característica adolescente de negação da realidade, não 
tomando cuidados, o jovem pode se expor a situações de risco como ISTs, 
gravidez e maternidade precoces. As ISTs são infecções transmitidas por 
meio de ato sexual. Uma das mais comuns é o papilomavírus humano, que é 
o causador de muitos casos de câncer cervical. Já existe vacina, que deve ser 
administrada em adolescentes. Outras ISTs comuns em adolescentes, que têm 
cura se forem tratadas no início, são a clamídia e a gonorreia. Se não forem 
tratadas podem levar a sérios problemas de saúde. Outras ISTs comuns são 
a herpes genital e a tricomoníase.
A síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS), causada pelo vírus HIV, 
provocou muito medo quando se espalhou pelo mundo, nas últimas décadas 
do século XX. Com o passar do tempo e a chegada de tratamentos, muitos 
jovens se descuidaram da prevenção, sem uso de preservativos, e “em todo o 
mundo, das 4,1 milhões de novas infecções de HIV a cada ano, cerca da metade 
ocorre em jovens dos 15 aos 24 anos de idade” (MARTORELL, 2014, p. 317). 
A gravidez indesejada entre adolescentes com a consequente maternidade 
precoce, em grande parte das situações, leva a mudanças de planejamento 
de vida, como abandono de estudo, especialmente por parte das jovens 
mães. Muitos adolescentes acreditam em mitos como ser impossível engra-
vidar na primeira relação sexual ou praticam coito interrompido, negando 
a possibilidade de gravidez. Segundo Bee e Boyd (2011, p. 130) “quanto mais 
jovem uma menina se tornar sexualmente ativa, mais probabilidade ela tem 
de ficar grávida”. Destaca-se, portanto, a necessidade de orientação sexual, 
para que as decisões na área da sexualidade sejam conscientes. 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 10
 Mais recentemente, com a popularização dos telefones com câmeras, 
tornou-se frequente o envio de imagens com nudez, o que pode gerar tur-
bulências na vida pessoal e familiar. Em caso de término de relacionamento, 
muitos parceiros, como forma de vingança, divulgam as imagens nas redes 
sociais, de onde é difícil eliminá-las, o que pode ter consequências futuras 
indesejadas. Suicídios de meninas adolescentes já foram motivados por 
esse tipo de situação. Novamente, a informação e o diálogo franco são as 
melhores formas de prevenção ou de lidar com a situação, caso ela já tenha 
se instalado.
Além dos comportamentos desadaptados e de risco, são motivo de preo-
cupação algumas psicopatologias recorrentes na adolescência. Conheça 
algumas delas na sequência. 
Psicopatologias na adolescência
A intensidade dos conflitos familiares, envolvendo questões do cotidiano, 
podem afetar a saúde mental, especialmente das meninas. As interações 
familiares negativas podem refletir em aumento da depressão. Maus tratos 
aos adolescentes podem levar a “delitos criminais, crimes violentos, uso de 
drogas e álcool, comportamento sexual de risco e pensamentos suicidas” 
(MARTORELL, 2014, p. 320). Relações familiares saudáveis, por outro lado, 
tendem a prevenir esses quadros. 
As psicopatologias da adolescência podem ser externalizantes “quando os 
indivíduos voltam os seus problemas para o exterior”, como no transtorno de 
conduta e na delinquência juvenil, ou podem ser internalizantes, “quandoos 
indivíduos voltam seus problemas para o interior” como ansiedade, depressão, 
transtornos alimentares e suicídio (SANTROCK, 2014, p. 391).
Transtorno de conduta com início na adolescência
O transtorno de conduta é definido pela 5ª edição do Manual diagnóstico 
e estatístico de transtornos mentais (DSM-5) (AMERICAN PSYCHIATRIC ASSO-
CIATION, 2014) como um padrão comportamental com ansiedade em altos 
níveis, presença intensa de discussão, de provocação, de desobediência, de 
irritabilidade, de comportamentos ameaçadores e ruidosos. 
Uma patologia específica da adolescência é o transtorno de conduta de 
início na adolescência, que começa a partir dos 11 anos. Segundo Bee e Boyd 
(2011), não é tão grave quanto aquele que tem início mais precoce, sendo 
mais leve e transitório. O transtorno de conduta costuma estar relacionado 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 11
ao tipo de paternagem, relacionando-se com a falta de monitoração e de 
apoio familiar. 
A delinquência é um tipo de problema de conduta que se refere especifica-
mente à “violação intencional da lei”, como furtos e assaltos. Com frequência, 
o transtorno de conduta mais amplo e a delinquência estão associados, mas 
nem sempre. 
Transtornos alimentares 
Nos países industrializados, há muitos casos de adolescentes com sobrepeso 
e obesidade, causados pela má alimentação, com excesso de calorias vazia. Jo-
vens estão apresentando doenças consideradas de velhos, como hipertensão 
arterial, diabetes, doenças cardiovasculares, taxas altas de colesterol ruim 
e baixas taxas de colesterol bom (BEE; BOYD, 2011). 
Na anorexia, caracterizada pelo autoinanição, a pessoa tem uma imagem 
muito distorcida de si e, mesmo estando magra, acredita que esteja gorda. 
Nesse quadro, a pessoa tem grande desejo de perder peso, por meio de 
dieta extrema e muitos exercícios. Predomina no sexo feminino e pode levar 
à morte em 10% dos casos. A perda de peso extremo pode levar à morte por 
vários fatores, como a falência dos órgãos ou pela baixa imunidade que leva 
ao aumento de infecções (BEE; BOYD, 2011).
A bulimia é um transtorno alimentar que se caracteriza pelo abuso de 
ingestão de comida, seguido pelo uso de laxantes e de diuréticos, vômito 
induzido e exercício exagerado. A perda de peso não é tão visível quanto na 
anorexia, e, para o diagnóstico, são necessários dois episódios semanais por 
pelo menos três meses. Embora não seja tão letal quanto a anorexia, pode 
levar a muitos problemas de saúde (BEE; BOYD, 2011).
Dentre as explicações para a anorexia e a bulimia, existem alguns ele-
mentos culturais como o culto à magreza em determinados círculos, por 
exemplo, da moda e dos meios de comunicação. No entanto, é bem aceita a 
ideia de que esses estímulos afetam as pessoas que sofrem do transtorno 
de autoimagem, que ocorre quando a pessoa se enxerga diferente do que 
realmente é (MARTORELL, 2014). 
O transtorno de compulsão alimentar é caracterizado por episódios de 
comer compulsivo nos quais em pouco tempo a pessoa ingere quantidades 
exageradas de calorias. De uma só vez, a pessoa pode ingerir calorias que 
demoraria dias para ingerir (BEE; BOYD, 2011). 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 12
Depressão
Diferentemente do que se costumava pensar até há algumas décadas, a 
depressão é comum na adolescência e “entre as idades de 13 e 15 anos, as 
meninas têm duas vezes mais probabilidade de relatar níveis altos ou crôni-
cos de depressão” (BEE; BOYD, 2011, p. 435). É preciso estar atento, porque a 
depressão pode se manifestar de forma não tão óbvia quanto a tristeza. Com-
portamentos agressivos e autodestrutivos podem ser sintomas de depressão. 
Embora existam evidências de que adolescentes com pais depressivos 
tendam mais à depressão, não há certeza sobre o papel dos fatores genéti-
cos ou ambientais. Por outro lado, foram verificadas alterações na glândula 
hipófise que predispõem o adolescente à maior sensibilidade aos fatores 
estressores do meio, tais como mudanças de escola ou de cidade, separação 
dos pais, ambiente com brigas em casa, etc. (BEE; BOYD, 2011). 
Suicídio
O suicídio é fonte de preocupação entre os adolescentes. Dados dos Estados 
Unidos revelam que 17% dos estudantes do ensino médio já pensaram em 
suicídio e que em torno de “2 a 8% realmente tentaram o suicídio [...] Espe-
cialistas em saúde pública salientam que muitas mortes de adolescentes, 
tais como aquelas que resultam de acidentes de carro, podem ser contadas 
como acidentais, mas são na verdade suicídio” (BEE; BOYD, 2011, p. 436). 
No Quadro 1, você pode verificar os indícios apresentados por Osório 
(1982) quanto a um bom ou mal prognóstico, com relação à evolução dos 
comportamentos desadaptados, aos comportamentos de risco ou até mesmo 
sintomas de psicopatologias, ajudando a estabelecer o limite entre o normal 
e o patológico, entre o temporário e o permanente. 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 13
Quadro 1. Sintomas e tipos de evolução 
Evolução 
possivelmente 
favorável
1) Bom contato afetivo com familiares.
2) Ausência de antecedentes infantis de agressividade 
impulsiva, mito, clepto ou piromania.
3) Ingestão esporádica de drogas ou, se sistemática, 
apenas uso de maconha.
4) Prática de esportes ou hobbies e interesse 
artístico-cultural.
5) Desejo manifesto ou latente de buscar ajuda 
psicoterápica.
6) Presença e níveis significativos de ansiedade e 
certo grau de consciência da inadequação de seu 
comportamento. 
Evolução 
possivelmente 
desfavorável 
1) Frieza ou indiferença afetiva com o grupo familiar.
2) Presença de antecedentes infantis de agressividade 
impulsiva, mito, clepto ou piromania.
3) Ingestão sistemática de drogas “em escala”, ou 
seja, adolescente começa fumando maconha, passa 
para ingestão de comprimidos tranquilizantes ou 
estimulantes e chega à administração por via parietal.
4) Área de lazer circunscrita à prática de nítido sentido 
auto ou heterodestrutivo, sem nenhum propósito 
criativo.
5) Ausência de qualquer motivação para submeter-se à 
psicoterapia.
6) Ausência de ansiedade evidenciável e nenhum grau de 
consciência da inadequação de sua conduta. 
Fonte: Adaptado de Osório (1982). 
 Com certeza, os indícios apresentados no Quadro 1 não se constituem 
em um destino inevitável, mas auxiliam na distinção, tão importante, entre 
um comportamento dentro do espectro da síndrome da adolescência normal 
e comportamentos de risco até de uma patologia mais grave, de início na 
adolescência. 
 Nesta seção, você conheceu diferentes formas de adaptação na adoles-
cência, como a síndrome da adolescência normal, comportamentos de risco 
e algumas das principais psicopatologias. 
 Neste capítulo, você estudou a adolescência, sob a ótica da psicologia, 
focando especialmente na questão da formação da identidade e nos rela-
cionamentos interpessoais com a família, com o grupo de amigos e com a 
sociedade adulta. Você viu quais são as principais dificuldades adaptativas, 
as psicopatologias e os comportamentos de risco típicos da adolescência. 
Desenvolvimento psicossocial na adolescência 14
 A partir desse estudo, espera-se que você seja capaz de identificar a 
adolescência como um período de intenso conflito quanto à identidade e às 
transformações profundas nas relações interpessoais que levam a desadap-
tações possíveis de ser superadas, mas que, muitas vezes, geram comporta-
mentos de risco ou, até mesmo, psicopatologias. 
Referências 
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1992. 
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considerações psicanalíticas e educacionais. Educação em Revista, v. 37, p. 1-13, 2021.
BEE, H.; BOYD, D. A criança em desenvolvimento. 12. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.
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ERIKSON, E. Infância e sociedade. 2. ed. São Paulo: Zahar, 1976b.
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FEIST, J.; FEIST, G. J.; ROBERTS, T. A. Teorias da personalidade. 8. ed. Porto Alegre: 
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Alegre: AMGH, 2014.
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Desenvolvimento psicossocial na adolescência 15
Leituras recomendadas
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EIZIRIK, C. L.; BASSOLS, A. M. S. (org.). O ciclo da vida humana: uma perspectiva psico-
dinâmica. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
HABIGZANG, L. F.; DINIZ, E.; KOLLER, S. H. (org.). Trabalhando com adolescentes: teoria 
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Desenvolvimento psicossocial na adolescência 16

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