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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1ª VARA CRIMINAL DO TRIBUNAL DO JÚRI DA COMARCA DE ... (espaço de 10 linhas) HELENA, já qualificada nos autos em epígrafe, através de seu advogado infra-assinado, com procuração anexa, vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, por não se conformar com a decisão de fl. ..., interpor o presente RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, nos termos do art. 581, IV, do Código de Processo Penal. Requer, assim, seja recebido e processado o presente recurso, juntando-se as inclusas razões, dignando-se Vossa Excelência a realizar o juízo de retratação, nos termos do art. 589, do Código de Processo Penal. Caso Vossa Excelência entenda por bem manter a respeitável decisão, requer a remessa dos autos ao Egrégio Tribunal ... Termos em que, pede deferimento. Local, data Alexander Galter OAB/SP 8308660 RAZÕES DE RECURSO EM SENTIDO ESTRITO Recorrente: Helena Recorrido: Justiça Pública Processo no. XXXX Meritíssimo Juiz Egrégio Tribunal de Colenda Câmara Douta Procuradoria de Justiça: O presente RECURSO EM SENTIDO ESTRITO, “data vênia”, deve ser provido em favor da recorrente, pois a mesma não merece ser enviada para julgamento pelo Tribunal do Povo, visto que ela é inocente, devendo ser absolvida sumariamente. I – Dos Fatos Consta nos autos que em 17 de junho de 2010, fora vista boiando em um pequeno córrego uma criança recém-nascida, que ao ser resgatada constatou-se que esta encontrava-se morta. A recorrente do presente pleito, Helena, mãe da criança, foi localizada e negou que houvesse jogado a vítima no córrego, alegou ainda que sua filha fora sequestrada por pessoa desconhecida. No decorrer do inquérito policial as testemunhas afirmaram que Helena apresentava quadro de profunda depressão no momento e também após o parto, não obstante, o resultado do exame médico pericial constatou que a recorrente, estava sob influência de estado puerperal. Dada a pequena quantidade de provas que pudessem comprovar a autoria do crime, a autoridade policial solicitou ao juízo competente que fosse permitida a interceptação da linha telefônica móvel usado pela recorrente, ato este devidamente deferido pelo juízo. Decretada a interceptação telefônica, foi possível comprovar que a recorrente efetivamente cometera o fato descrito, ao comentar com uma terceira pessoa de nome Lia, quando textualmente mencionou que havia ter atirado a criança no córrego em medida desesperada, mas que já estava arrependida de tal ato. Intimada, Lia confirmou em sede policial que a recorrente de fato havia atirado a criança, logo após o parto, no córrego, e em decorrência de tais provas, Helena foi denunciada pela prática do crime de infanticídio perante a 1ª Vara Criminal desta comarca. No decorrer da ação penal, fora juntado aos autos o laudo de necropsia realizado no corpo da vítima, e tal laudo comprovou que a criança já nascera morta, ocorre que em audiência de instrução realizada no dia 12 de agosto de 2010, Lia é novamente inquirida e nesta ocasião confirmou que a recorrente admitiu que além da confirmação de que Helena havia afirmado ter jogado o corpo da criança no córrego, trouxe aos autos nova informação que não fora prestada na fase do inquérito policial, onde em conversas com a mãe da criança afirma que havia ingerido substância abortiva uma vez que não possuía condições de criar o filho. Ao ser interrogada, a denunciada negou todos os fatos e assim, ao final da instrução, o Ministério Público manifestou-se pela pronúncia, nos termos da denúncia, e a defesa, pela impronúncia, com base no interrogatório da acusada, que negara todos os fatos. O magistrado, na mesma audiência, prolatou sentença de pronúncia, não nos termos da denúncia, e sim pela prática do crime descrito no art. 124 do Código Penal, punido menos severamente do que aquele inicialmente imputado à recorrente, intimando as partes no referido ato. II - Das Preliminares A) Da nulidade da sentença de pronúncia A testemunha Lia trouxe nova informação, que não consta na denúncia, no sentido de que a recorrente teria ingerido substância abortiva, razão pela qual o Magistrado proferiu decisão de pronúncia pela prática do crime de aborto, previsto no artigo 124, do Código Penal. Todavia, o Magistrado não observou o disposto no artigo 411, § 3º, do Código de Processo Penal, c.c o artigo 384, do Código de Processo Penal, já que, tendo em vista o surgimento de fato novo durante a instrução criminal, deveria ter concedido vista ao Ministério Público para aditar a denúncia, nos termos do 384, do Código de Processo Penal. Logo, deve ser declarada a nulidade da decisão de pronúncia. B) Da prova ilícita A autoridade policial representou pela interceptação telefônica, o que foi deferido pelo Magistrado. Todavia, nos termos do artigo 2º, inciso III, da Lei 9.296/1996, somente é admitida a interceptação telefônica se o fato investigado constituir infração penal apenado com reclusão. No caso, o crime de infanticídio, previsto no artigo 123, do Código Penal, e o crime de aborto, previsto no artigo 124, do Código Penal, são apenados com detenção. Logo, trata-se de prova ilícita. Além disso, a autoridade policial representou pela interceptação telefônica porque estava desconfiado de que a recorrente estaria envolvida na morte da criança. Todavia, não poderia ser admitida a interceptação telefônica, porque não havia indícios razoáveis de autoria ou participação da recorrente na morte da criança, nos termos do artigo 2º, inciso I, da Lei 9.296/1996. Por fim, a autoridade policial não esgotou todos os meios da investigação antes de representar pela interceptação telefônica, violando o disposto no artigo 2º, inciso II, da Lei 9.296/1996. Logo, a interceptação telefônica se trata de prova ilícita, devendo ser desentranhada dos autos, nos termos do artigo 157, do Código de Processo Penal. C) Da prova ilícita por derivação A autoridade policial tomou conhecimento da testemunha Lia a partir da interceptação telefônica ilícita. Logo, o testemunho de Lia se trata de prova ilícita por derivação, devendo ser desentranhada dos autos, nos termos do artigo 157, § 1º, do Código de Processo Penal. Toda e qualquer prova que fere os direitos previstos na Constituição Federal (1988), ou em outro diploma legal sendo elas prova oriunda ou por derivação, serão igualmente nulas e devem ser desentranhada do processo e sendo considerada ilícita derivada. Provas com vícios de ilicitude derivada ou qualquer prova que venha a ser adquirida de forma ilegal, ela perde toda a sua eficácia e com isso deve-se ser desconsiderada do processo, conforme reza o art. 5°, inciso LXVI, da Constituição Federal de 1988 que: “São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meio ilícito;”. Provas ilegais são aquelas que contrariam o próprio ordenamento jurídico, sendo, portanto, o gênero, das quais as demais provas não admitidas, são espécies. A obtenção da prova em colidência à lei, aos costumes, à moral e aos princípios gerais de direito, configura a prova proibida, cuja presençanos autos do processo é vedada. II – Do Mérito A) Da materialidade Durante a ação penal, foi juntado aos autos laudo de necropsia realizada no corpo da criança. A prova técnica concluiu que a criança já nascera morta. Todavia, não há prova da materialidade do crime de aborto, uma vez que a perícia não apontou que a criança faleceu em decorrência de eventual ingestão de substância abortiva. Logo, deve ser proferida decisão de impronúncia, nos termos do artigo 414, do Código de Processo Penal, ou absolvição sumária, com base no artigo 415, inciso I, do Código de Processo Penal. B) Da autoria O Magistrado se baseou na interceptação telefônica e no testemunho de Lia para proferir a sentença de pronúncia. Todavia, conforme referido acima, a interceptação telefônica e a prova testemunhal são provas ilícitas, devendo ser desentranhadas dos autos, nos termos do artigo 157, do Código de Processo Penal. Desta maneira, não havendo mais nenhuma prova que corrobore com a autoria, deverá ser proferida decisão de impronúncia ou de absolvição sumária. III – Do Pedido Ante o exposto, requer seja PROVIDO o presente recurso, com a REFORMA DA DECISÃO DE 1º GRAU, a fim de que seja: a. Declarada a nulidade da decisão de pronúncia; b. Declarada a ilicitude da interceptação telefônica, devendo ser desentranhada dos autos, nos termos do artigo 157, do Código de Processo Penal; c. Declarada a ilicitude da prova testemunhal de Lia, devendo ser desentranhada dos autos, nos termos do artigo 157, § 1º, do Código de Processo Penal; d. A ré impronunciada, com base no artigo 414, do Código de Processo Penal; e. A recorrente absolvida sumariamente, com base no artigo 415, incisos I e II, do Código de Processo Penal. Nestes termos, Pede deferimento. Local..., data... Alexander Galter OAB/SP 8308660
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