Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Hepatites virais Hepatite corresponde aos padrões histológicos de lesão hepática, tanto aguda como crônica (dependendo do vírus específico), que são observados nos fígados infectados por vírus hepatotrópicos (bem como em hepatite autoimune e induzida por medicamentos ou toxinas). Ela é caracterizada por qualquer forma de lesão hepatocelular devida à infecção por outros vírus, geralmente sistêmicos, tais como a hepatite leve pelo vírus Epstein-Barr, às vezes observada na mononucleose infecciosa, citomegalovírus, herpes vírus e infecções por adenovírus, particularmente em pacientes recém-nascidos ou imunodeprimidos, e febre amarela (vírus da febre amarela), uma causa importante e grave de hepatite em países tropicais. Hepatite é um termo genérico que significa inflamação no fígado, que pode ser causada por medicamentos, doenças autoimunes, metabólicas, genéticas, álcool, substâncias tóxicas e vírus. Hepatite A O HAV é um pequeno picornavírus, não envelopado, de RNA de fita positiva, que ocupa seu próprio gênero (Hepatovírus). O receptor para o HAV é a HAVcr-1, uma glicoproteína tipo mucina de membrana integral classe I de aminoácido-451. O HAV é transmitido pela ingestão de água e alimentos contaminados e é eliminado nas fezes por 2 a 3 semanas antes e 1 semana após o início da icterícia, portanto, o contato pessoal próximo com um indivíduo afetado ou a contaminação fecal-oral durante esse período são responsáveis pela maioria dos casos e explicam os surtos em ambientes institucionais, como escolas e creches, e as epidemias transmitidas pela água em locais onde as pessoas vivem em condições de aglomeração, sem saneamento. A vacina contra HAV, disponível desde 1992, é eficaz para prevenir a infecção. O HAV também pode ser detectado no soro e na saliva, uma vez que a viremia por HAV é transitória, a transmissão do HAV pelo sangue ocorre apenas raramente, portanto, o sangue doado não é examinado especificamente para esse vírus. O vírus da hepatite A (HAV, do inglês, hepatitis A vírus) causa uma doença normalmente benigna e autolimitada, com um período de incubação de 2 a 6 semanas. O HAV não causa hepatite crônica ou um estado de portador e apenas raramente causa insuficiência hepática aguda. O HAV em si não parece ser citopático, a imunidade celular, particularmente as células TCD8 +, tem um papel central na lesão hepatocelular durante a infecção. Anticorpos IgM específicos contra o HAV aparecem com o início dos sintomas, constituindo um marcador confiável de infecção aguda. A eliminação fecal do vírus termina quando o título de IgM aumenta, a resposta de IgM geralmente começa a decair em alguns meses e é seguida pelo aparecimento de IgG anti-HAV. Hepatite B hepatite aguda seguida por recuperação e eliminação do vírus hepatite crônica não progressiva, doença crônica progressiva terminando em cirrose insuficiência hepática aguda com necrose hepática maciça um estado de portador assintomático “saudável”. O vírus da hepatite B (HBV) pode produzir: 1. 2. 3. 4. 5. A doença hepática crônica induzida por HBV é também um fator precursor importante para o desenvolvimento de carcinoma hepatocelular, mesmo na ausência de cirrose. O HBV tem um período de incubação prolongado (2 a 26 semanas). Via primária de transmissão é a parenteral, por contato com sangue e hemoderivados. É também transmitida por contato sexual e de mãe infectada para o recém nascido (durante o parto ou no período perinatal). Grupos de alto risco incluem os usuários de drogas injetáveis, homossexuais/heterossexuais com múltiplos parceiros. Ao contrário do HAV, o HBV permanece no sangue até e durante episódios ativos de hepatites aguda e crônica. Aproximadamente 65% dos adultos que adquiriram o HBV não são sintomáticos ou apresentam sintomas leves e não desenvolvem icterícia. Outros possuem sintomas como anorexia, febre, icterícia e dor no quadrante superior direito. Faz parte da família Hepadnaviridae: vírus de DNA que infecta o fígado, é envelopado, possui DNA circular de fita parcialmente dupla, com um trecho de RNA. Assim que há a infecção, o vírus entra em contato com a corrente sanguínea, circula e chega no fígado. Se a pessoa for vacinada ou se já teve anteriormente e se curou por anticorpos, há uma parada na infecção, já que os anticorpos vão eliminar as partículas que estão entrando. Se a pessoa não tem anticorpos, há o estabelecimento dessas partículas virais no fígado, o vírus entra no hepatócito e começa a replicação viral. Em 90% das pessoas com hepatite B, a infecção é resolvida espontaneamente, a pessoa se cura e nem sabe que foi infectada. Em outras pessoas, o vírus se estabelece, começa a ocorrer a viremia, grande quantidade de partículas virais viáveis são lançadas no sangue. Uma vez no sangue, começa a ficar disponível também no sêmen, saliva, secreções vaginais, leite materno, podendo infectar outra pessoa. A resposta imune do hospedeiro ao vírus é o principal determinante do resultado da infecção. Mecanismos imunes inatos protegem o hospedeiro durante as fases iniciais da infecção, e uma forte resposta pelas células CD4+ e CD8+ que produzem interferons (IFN)-γ vírus-específicos está associada com a resolução da infecção aguda. O HBV geralmente não causa lesão hepatocitária direta. Em vez disso, a lesão é causada por células T citotóxicas CD8+ que atacam as células infectadas. Hepatite C Abuso de drogas intravenosas Múltiplos parceiros sexuais Realização de cirurgia nos últimos 6 meses Ferimento por picada de agulha Contatos múltiplos com uma pessoa infectada por HCV Atividade profissional na área médica ou odontológica Os fatores de risco mais comuns para infecção por HCV são: O HCV, descoberto em 1989, é um membro da família Flaviviridae. Ele é um vírus RNA pequeno, envelopado, de fita única, que codifica uma única poliproteína com uma cadeia de leitura aberta, que é subsequentemente processada em proteínas funcionais. Em decorrência da baixa fidelidade da RNA polimerase do HCV, o vírus é inerentemente instável, originando múltiplos genótipos e subtipos. Dentro de um determinado indivíduo, o HCV existe como variantes genéticas estreitamente relacionadas, conhecidas como quasispécies. Com o tempo, dezenas de quasispécies podem ser detectadas em um indivíduo, todas elas derivadas a partir da cepa original de HCV que infectou o paciente. Infecção persistente e hepatite crônica são as marcas registradas da infecção por HCV, apesar da natureza geralmente assintomática da doença aguda . Uma característica única para a infecção da hepatite C é a associação com a síndrome metabólica. A proteína E2 do envelope é o alvo de muitos anticorpos anti-HCV, mas também é a região mais variável de todo o genoma viral, permitindo que cepas virais emergentes escapem dos anticorpos neutralizantes. O período de incubação da hepatite por HCV varia de 4 a 26 semanas, com uma média de 9 semanas. Em aproximadamente 85% dos indivíduos, o curso clínico da infecção aguda é assintomático e normalmente ignorado. Hepatite D Uma coinfecção aguda ocorre após a exposição a soro contendo tanto HDV quanto HBV. O HBV deve se estabelecer primeiro para fornecer o HBsAg necessário para o desenvolvimento de vírions de HDV completos. A coinfecção de HBV e HDV resulta na hepatite aguda, que é indistinguível da hepatite aguda B. Ela é autolimitada e é normalmente seguida pela eliminação de ambos os vírus. No entanto, há uma maior taxa de insuficiência hepática aguda em usuários de drogas intravenosas. A superinfecção ocorre quando um portador crônico de HBV é exposto a um novo inóculo de HDV. Isso resulta em doença 30 a 50 dias após, apresentando-se como uma hepatite aguda grave em um portador de HBV não reconhecido anteriormente, ou como uma exacerbação de infecção preexistente da hepatite B crônica. A infecção crônica por HDV ocorre em praticamente todos esses pacientes. A superinfecção pode ter duas fases: uma fase aguda, com replicação ativa de HDV e supressão de HBV com altos níveis de transaminase,e uma fase crônica, na qual a replicação de HDV diminui, a replicação de HBV aumenta, os níveis de transferase flutuam e a doença progride para cirrose e, algumas vezes, carcinoma hepatocelular. Também conhecido como “o agente delta”, o vírus da hepatite D (HDV) é um vírus de RNA único que depende do seu ciclo de vida no HBV. A infecção por HDV surge nas seguintes situações: 1. 2. A vacinação contra HBV também evita a infecção por HDV. O HDV é uma partícula duplamente revestida, o antígeno de revestimento externo do HBsAg envolve uma unidade polipeptídica interna, conhecida como antígeno delta (HDAg), a única proteína produzida pelo vírus. Hepatite E O vírus da hepatite E (HEV) é uma infecção transmitida entericamente pela água, que ocorre principalmente em jovens e adultos de meia-idade. O HEV é uma doença zoonótica com hospedeiros animais, como macacos, gatos, porcos e cães. O HEV não está associado à doença hepática crônica ou viremia persistente em pacientes imunocompetentes. A infecção crônica por HEV ocorre em pacientes com AIDS e pacientes transplantados imunossuprimidos. Síndromes Clinicopatológicas da Hepatite Viral infecção assintomática aguda com recuperação (apenas evidência sorológica); hepatite sintomática aguda com recuperação, anictérica ou ictérica; hepatite crônica, com ou sem progressão para cirrose; insuficiência hepática aguda com necrose hepática maciça ou submaciça; Infecção Assintomática Aguda com Recuperação Infecção Sintomática Aguda com Recuperação um período de incubação uma fase pré-ictérica sintomática uma fase ictérica sintomática Convalescença. Insuficiência Hepática Aguda Várias síndromes clínicas podem desenvolver-se após a exposição aos vírus de hepatite: 1. 2. 3. 4. Os pacientes desse grupo são identificados apenas incidentalmente com base na elevação mínima das transaminases séricas ou, após o fato, pela presença de anticorpos antivirais. No mundo todo, infecções por HAV e HBV frequentemente constituem eventos subclínicos na infância, verificados apenas na vida adulta pela presença de anticorpos anti-HAV ou anti-HBV. Independentemente do tipo de vírus, a doença é mais ou menos a mesma e pode ser dividida em quatro fases: 1. 2. 3. 4. O pico de infectividade ocorre durante os últimos dias assintomáticos do período de incubação e os primeiros dias dos sintomas agudos. A hepatite viral é responsável por 10% dos casos de insuficiência hepática aguda. A hepatite A e a E são as causas mais comuns, o tratamento para a insuficiência hepática aguda que segue a hepatite viral aguda é fornecer cuidados de suporte. O transplante de fígado é a única opção para pacientes cuja doença não cede antes do desenvolvimento de uma infecção secundária e insuficiência de outro órgão. Hepatite Crônica A hepatite crônica é definida como a evidência sintomática, bioquímica ou sorológica de doença hepática contínua ou recorrente por mais de 6 meses. Os aspectos clínicos da hepatite crônica são extremamente variáveis e não são indicativos da evolução. Em alguns pacientes, os únicos sinais de doença crônica são as elevações persistentes de transaminases séricas, prolongamento do tempo de protrombina e, em alguns casos, hiperglobulinemia, hiperbilirrubinemia e elevações leves dos níveis de fosfatase alcalina. Em indivíduos sintomáticos, o sintoma mais comum é a fadiga, sintomas menos comuns são o mal-estar, a perda de apetite e surtos ocasionais de icterícia leve. Na hepatite crônica pré-cirrótica, os achados físicos são poucos, sendo o mais comum a hepatomegalia leve, a sensibilidade hepática e a esplenomegalia leve. Morfologia das hepatites Hepatite viral aguda: os fígados acometidos por hepatite aguda leve parecem normais ou ligeiramente manchados. Na outra extremidade do espectro, na necrose hepática maciça o fígado pode diminuir bastante. Hepatite viral crônica: A característica histológica definidora da hepatite viral crônica é a infiltração mononuclear portal. Ela pode ser de leve a grave e variável, de um trato portal para o próximo. As alterações morfológicas na hepatite viral aguda e crônica são compartilhadas entre os vírus hepatotrópicos e podem ser imitadas por reações a medicamentos ou pela hepatite autoimune. Microscopicamente, tanto a hepatite aguda como a crônica evocam um infiltrado linfoplasmocítico (mononuclear). A inflamação portal na hepatite aguda é mínima ou inexistente. Grande parte da lesão do parênquima fica dispersa por todo o lóbulo hepático como “necrose focal” ou hepatite lobular. Na hepatite aguda grave, a necrose confluente de hepatócitos é observada ao redor das veias centrais. Há também, muitas vezes, além da hepatite lobular, a hepatite de interface, que se distingue pela sua localização na interface entre o parênquima hepatocelular e o estroma do trato portal. A característica da lesão hepática crônica progressiva é a cicatriz. Hepatócitos com aspecto em vidro fosco na infecção crônica por hepatite B, causados por acúmulo do antígeno de superfície do vírus B da hepatite. Observe as grandes e pálidas inclusões citoplasmáticas finamente granuladas e rosadas na coloração por hematoxilina e eosina. A imunomarcação (detalhe) confirma a presença do antígeno de superfície (em marrom). Hepatite viral crônica causada por HCV mostrando a característica expansão do trato portal por um folículo linfoide.
Compartilhar