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Jheniffer Alves Transtorno Esquizofrênico A Esquizofrenia é um distúrbio psiquiátrico grave, crônico, heterogêneo, e com manifestações psicóticas que afetam em geral o comportamento social e a percepção de realidade do indivíduo, onde há deterioração global das funções mentais. Doenças do Pensamento: CID-10 do F20 a F29 (vários tipos de esquizofrenia) EMIL KRAEPELIN (1856 – 1926) Defendia que as doenças psiquiátricas eram causadas principalmente por desordens genéticas e biológicas (etiologia endógena); Descreveu a Esquizofrenia inicialmente como “demência precoce” EUGEN BLEULER (1857 – 1930) Criou o termo esquizofrenia em substituição ao conceito demência precoce, com o significado de “mente dividida”: esquizo = divisão/ frenes = mente Define os subtipos: paranoide, hebefrênica e catatônica simples Sintomas fundamentais: (os 4 “as” de Bleuler) Distúrbios de associação do pensamento Autismo (isolamento social) Distúrbios de afetividade (embotamento afetivo, dificuldades para demonstrar seus sentimentos) Ambivalência (presença de juízos contraditórios) Sintomas acessórios: Delírios Alucinações Alterações de personalidade, linguagem e escrita KURT SCHNEIDER (1887 – 1967) Ênfase às vivências delirantes e perda da autonomia do “eu” Sintomas de primeira ordem: Inserção do pensamento Sonorização do pensamento Alucinações auditivas (vozes que dialogam entre si, ou que acompanham as próprias ações) Vivencia de influencia corporal Roubo ou subtração do pensamento Percepção delirante Difusão do pensamento Vivência de influencia no domínio dos sentimentos, das tendências e das vontades Jheniffer Alves EPIDEMIOLOGIA Afeta cerca de 1% da população mundial Prevalência é maior no sexo masculino, onde também acontece mais precocemente (entre 10 e 25 anos) Em mulheres, a faixa etária mais acometida está entre a terceira e quarta década de vida Casos novos são raros antes da puberdade e depois dos 50 anos (após 50 anos, sintomas paranoides geralmente significam Alzheimer FISIOPATOLOGIA A etiologia da doença não é ainda bem explicada, sendo atualmente mais aceito o modelo de vulnerabilidade-estresse, onde o indivíduo com uma propensão genética estaria suscetível ao aparecimento dos sintomas após um fator estressante ambiental de ordem variada – de conflitos psicossociais a desordens autoimunes. Acredita-se que os sintomas ocorram pelo aumento da resposta dopaminérgica, em parte devido a resposta terapêutica a antagonistas dos receptores de dopamina e em outra pelos sintomas alucinógenos após estímulos envolvidos com as vidas dopaminérgicas mesocorticais. O uso de substâncias que aumentem a atividade desse neurotransmissor (cocaína e anfetamina) pode estar relacionado ao aparecimento ou piora dos sintomas. A influência das vias serotoninérgicas e do glutamato ainda precisa ser mais bem elucidada, embora a interação e desregulação de múltiplos sistemas pareçam ser necessárias para a fisiopatologia esquizofrênica. Fatores genéticos 10% para quem tem 1 irmão 18% de irmão gêmeo dizigótico 50% irmão gêmeo monozigótico Fatores ambientais Complicações de gestação e parto Problemas no desenvolvimento neuropsicomotor Abuso físico ou sexual na infância TCE prévio (traumatismo cranioencefálico) Uso de drogas (maconha, por exemplo) Urbanidade e migração Baixa condição socioeconômica A visão clássica da esquizofrenia, é que ela é uma doença neurodegenerativa, em que acontece a diminuição das funções cognitivas, e acarreta no surgimento de sintomas negativos ao longo do tempo. A doença é chamada de demência precoce, pois o paciente entrará em um quadro de demência. Há uma dificuldade em discriminar a realidade, ficando incapaz de distinguir a experiência real da imaginária. Portanto, a esquizofrenia é, entre as doenças mentais, a que acarreta maior prejuízo, principalmente por Jheniffer Alves alterar o psiquismo, incidir numa personalidade que ainda não está completamente desenvolvida e bloquear o processo do desenvolvimento dessa personalidade. Hipótese dopaminérgica: o que gera o sintoma psicótico é o excesso de dopamina na via mesolímbica. Esse excesso de dopamina gera o que chamamos de “saliência aberrante”, que gera o sintoma psicótico. O paciente passa a perceber uma coisa normal como uma coisa aberrante, e isso gera sintomas como delírio e alucinação. Não é a causa direta da esquizofrenia, mas a via final comum (estressores, drogas, genética) QUADRO CLÍNICO Crises de sintomas psicóticos + evolução cônica de sintomas negativos. Sintomas positivos são todos aqueles sintomas que estão a mais Delírios Alucinações Sintomas negativos são aqueles que o paciente vai perdendo com o tempo, e influem muito mais no prognóstico da Esquizofrenia do que os sintomas positivos, pois os sintomas positivos tem tratamento. Embotamento afetivo (dificuldade de sentir e expressar emoções autênticas) Retraimento emocional Isolamento social e contato pobre Passividade (ausência ou reduzida vontade de agir e também por uma fraca capacidade de reação) Dificuldade de pensamento abstrato Falta de espontaneidade Alterações de atenção Empobrecimento de fala Pensamento concreto ou estereotipado Avolição (incapacidade de iniciar e persistir em atividades dirigidas a um objetivo) Hipobulia (apatia, diminuição e a total incapacidade do potencial volitivo) Jheniffer Alves Anedonia (dificuldade ou incapacidade de uma pessoa em sentir prazer ou se motivar a realizar atividades que antes eram prazerosas) O curso natural da doença envolve períodos de remissão e recaída dos sintomas, geralmente acompanhados de uma deterioração geral do paciente a cada novo surto. Não raramente se observa um quadro de ansiedade e depressão prodrômico ao reaparecimento dos sintomas. A maioria dos pacientes apresenta história de isolamento e dificuldade de manter relacionamentos ou vínculos de longo prazo, inclusive trabalhistas e, já em uma observação inicial, algum traço de comportamento sinalizador da esquizofrenia, como estereotipias, tiques ou maneirismos. Tais padrões acabam exacerbados durante atividade alucinatória, que geralmente é auditiva e cinestésica (falsas percepções de movimentos), com percepção de falência de órgãos internos, e onde se concentram os períodos de agitação ou violência. Os delírios podem permanecer por mais tempo, com pensamentos autorreferentes de grandiosidade ou voltados para discursos religiosos. O afeto costuma ser embotado e a linguagem pode ser afetada tanto para mutismo quanto para mussitação (voz murmurada em tom baixo) ou monólogos recheados de neologismos. Jheniffer Alves Ação das vias dopaminérgicas na esquizofrenia: Via mesolímbica – prazer, estímulo: dopamina em excesso na esquizofrenia, sintomas positivos, agressivos e afetivos Via nigroestrial – movimento: normal na esquizofrenia/ antipsicóticos inibem essa via/ sintomas extrapiramidais (parkinsonismo) Via mesocortical – comportamento: relacionada a sintomas negativos, cognitivos e afetivos Via túbero infundibular – relacionado à liberação de prolactina: normal na esquizofrenia/ inibida pelos antipsicóticos causado hiperprolactinemia DIAGNÓSTICO Não existe um padrão específico ou exame complementar que permita o diagnóstico de esquizofrenia, o diagnóstico é clínico, feito através de análise comportamental e fenomenológica. 1. Delírio e/ou alucinações? 2. Secundários a condição médico-geral ou uso de substâncias? 3. Transtorno de humor com sintomas psicóticos? 4. Tempo e prejuízo suficientes? Critérios de diagnóstico: (2 ou mais de 5 sintomas) 1. Delírio 2. Alucinações 3. Discurso desorganizado 4. Desorganização de comportamento5. Sintomas negativos (avolia, embotamento) Somado aos critérios de diagnóstico, o paciente precisa ter mais de 6 meses de sintomas com pelo menos 1 episódio de crise psicótica e prejuízo funcional. Deve-se excluir outras causas como: Abuso de alucinógenos, anfetaminas, álcool, cocaína Intoxicações por medicações prescritas Doenças endócrinas, infecciosas e metabólicas Processos expansivos cerebrais Epilepsia do lobo temporal. Contudo, embora existam divergências na literatura quanto aos critérios específicos que devem ser preenchidos para o diagnóstico final, nenhuma classificação apresenta um padrão comportamental patognomônico. Preciso solicitar exames para fazer o diagnóstico? SIMMMM! Exames de imagem da cabeça e exames gerais para excluir outras causas de psicose. Jheniffer Alves HETEROGENICIDADE DE SINTOMAS Delírios mais comuns: persecutório (ideia de que alguém o segue, perseguindo, filmando, de que na rua as pessoas o olham) Grandioso, referente, místico religioso, bizarros Delírios de controle (ideia de que alguém superior está controlando sua mente/ações), influência ou passividade Alucinação mais comum: auditiva (sintomas Schneiderianos) Vozes que comentam atos do paciente entre elas Vozes de comando (ideia de que tem alguém mandando ele fazer algo) Outros sintomas: Eco de pensamento, inserção, roubo e irradiação do pensamento (sensação de que colocaram um chip em sua cabeça, estão tirando seus pensamentos, ou colocando algum pensamento em sua cabeça) Comportamento catatônico Neologismo, discurso incoerente, tangencial Pensamento concreto Falta de insight do quadro (ausência de consciência sobre ter a doença) TRATAMENTO Farmacológico (antipsicóticos, que vão inibir a dopamina) + tratamento não farmacológico, com foco em controle dos sintomas e recuperação funcional. Os antipsicóticos são classificados em: Típicos, de 1ª geração: causam mais sintomas extrapiramidais e aumento da prolactina, e farmacologicamente possuem forte inibição dopaminérgica. Haloperidol Clorpromazina Levomeprazina Periciazina Pimozida Clopixol Atípicos, de 2ª geração: menos efeitos extrapiramidais e menos hiperprolactinemia. Podem agir também em sintomas negativos, cognitivos e depressivos. Possuem ação dopaminérgica + ação serotoninérgica. Risperidona Quetiapina são mais utilizados/ 1ª escolha para o tratamento de psicoses em geral Olanzapina Aripiprazol Ziprazidona Lurasidona Amilsulprida Jheniffer Alves Clozapina As principais drogas e suas doses habituais estão descritas a seguir: Antipsicóticos típicos Baixa potência: Clorpromazina (300-800mg/dia); Levomepromazina (100-300mg/dia) Alta potência: Haloperidol (5-15mg/dia); Flufenazina (5-15mg/dia) Antipsicóticos atípicos Risperidona (2-8mg/dia) Olanzapina (5-20mg/dia) Quetiapina (300-400mg/dia) Clozapina (200-500mg/dia) Obs: antipsicóticos tratam a psicose, não a esquizofrenia!!! Eles vão tratar a psicose da esquizofrenia inibindo o excesso de dopamina da via mesolímbica. Tratamento não farmacológico Intervenção psicossocial Terapia ocupacional Psicoterapias individuais em grupo Treino de habilidades sociais Intervenção familiar Emprego protegido O tratamento psicossocial é fundamental na redução de hospitalizações e estabilização do paciente para realização de atividades diárias. A terapêutica deve constar de uma rede multidisciplinar e integrada à família, com profissionais capacitados ao cuidado de pacientes psiquiátricos e que visem a inserção dos indivíduos afetados em redes de convívio. CLASSIFICAÇÃO DA ESQUIZOFRENIA SEGUNDO O CID-10 ESQUIZOFRENIA PARANÓIDE É a mais comum. Nelas, predominam os delírios, que geralmente são paranoides (perseguição, autor referência – o paciente se considera o centro, grandeza), alucinações auditivas (ameaças, ordens – comandam a ação do indivíduo), percepções delirantes (paciente identifica o que está acontecendo no ambiente, mas interpreta de forma delirante). ESQUIZOFRENIA HEBEFRÊNICA Caracteriza-se pela desorganização do pensamento e do comportamento. Tem início na adolescência (esquizofrenia dos jovens). Paciente tem afeto superficial, inadequado, pueril e infantilizado, pensamento Jheniffer Alves desorganizado, tendência ao isolamento, comportamento sem sentido (apragmático), comportamentos bizarros. ESQUIZOFRENIA CATATÔNICA Predominam as perturbações psicomotoras, agitação extrema, estupor catatônico - flexibilidade cérea, obediência, alterações motoras, hipertonia, alterações na vontade, como negativismo e impulsividade. São comuns os extremos negativos, resistência a toda e qualquer instrução, postura rígida contra tentativas de imobilização, mutismos, posturas inadequadas ou bizarras, maneirismos proeminentes, trejeitos faciais, repetição de palavras ou sons e imitação de gestos e atitudes. Podem se ferir ou ferir outras pessoas durante o estupor, às vezes chegam à desnutrição ou à exaustão, requerendo um atendimento clínico. ESQUIZOFRENIA SIMPLES Apresenta mudanças na personalidade. O paciente prefere ficar isolado – o que inibe seu convívio social. É disperso aos acontecimentos do dia a dia e insensível no que diz respeito a afetos. ESQUIZOFRENIA RESIDUAL É diagnosticado quando existe a alteração no comportamento, nas emoções e no convívio social, mas não na mesma intensidade dos demais tipos. Algumas alucinações e delírios ainda podem estar presentes, mas de maneira menos intensa do que em fases anteriores da doença. ESQUIZOFRENIA INDIFERENCIADA Pacientes que não se enquadram perfeitamente em um dos tipos de esquizofrenia, contudo, podem desenvolver algumas das características citadas acima.
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