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Hanseníase • A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa e curável, cujo agente etiológico é o Mycobacterium leprae. • Esta moléstia também é denominada “lepra”. - Muitos países, incluindo-se o Brasil, adotaram a terminologia “moléstia Hansen” (MH), ou “hanseníase”, pois o termo antigo “lepra” é altamente estigmatizante tanto para o doente, quanto para sua família e sociedade. • Se não tratada na forma inicial, a doença quase sempre evolui, torna-se transmissível e pode atingir pessoas de qualquer sexo ou idade. • Acomete, inicialmente, o sistema nervoso periférico (SNP); para depois, atingir a pele (grupo nao contagiante, paucibacilar) acomete os outros órgãos e sistemas, exceto o sistema nervoso central (grupo contagiante, multibacilares). Epidemiologia • É endêmica em várias áreas do globo e caracteriza-se, principalmente, por manifestações neurológicas, oftalmológicas, musculares, articulares, dermatológicas e nas vias aéreas superiores. • O brasil tem a 2° maior incidência mundial. • No entanto, o diagnóstico da doença tem sido feito tardiamente. - O doente, em geral, percorre vários médicos, com queixas específicas da moléstia (parestesia, neurite,rinite, artralgia e/ou artrite e até manchas ou placas na pele) e nem mesmo se aventa a hipótese de hanseníase. - No Brasil, apenas 20% (em média) dos doentes são diagnosticados com a moléstia na fase inicial; cerca de 70% já apresentam algum grau de incapacidade física ao serem diagnosticados. Agente Etiológico • Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, é um parasita intracelular obrigatório, com afinidade por células cutâneas e por células dos nervos periféricos. • O bacilo de Hansen é de alta infectividade e baixa patogenicidade e virulência. Portanto, admite-se que muitas pessoas se infectam em áreas endêmicas, mas somente a minoria evolui para a doença. • O homem é reconhecido como único reservatório Bacilo de Hansen e seu Neurotropismo • O BH é a única micobactéria com capacidade ou habilidade para invadir o SNP. • Ao selecionar a célula de Schwann como nicho preferido, a M. leprae adquiriu vantagem de sobrevivência: - Na célula de Schwann, o bacilo permanece protegido dos mecanismos de defesa do hospedeiro = Como a célula de Schwann não tem capacidade fagocítica profissional, ela é incapaz de destruir patógenos -> Assim, permite ao bacilo multiplicar-se e ainda, a barreira sanguínea do nervo limita o acesso de vários medicamentos na célula de Schwann. • É importante notar que o acometimento neural ocorre em todas as formas e grupos da hanseniase (em especial, de forma tardia), independentemente do estado imunológico do doente. • A invasão da célula de Schwann e o consequente dano neural determinam perda sensitiva e, mais tarde, lesões motoras, responsáveis pelas deformidades e incapacidades da moléstia. Transmissão • As vias de eliminação dos bacilos são, especialmente, as vias aéreas superiores e áreas da pele e/ou mucosas erosadas, de qualquer área do tegumento. • Ocorre por meio de contato próximo e prolongado de uma pessoa suscetível (que possui maior probabilidade de adoecer) com um doente que não está sendo tratado. - Normalmente, a fonte da doença é um parente próximo que não sabe que está doente, como avós, pais, irmãos, cônjuges, etc = Quanto mais íntimo e prolongado for o contato, maior será a possibilidade de se adquirir a infecção. • Os bacilos também podem ser eliminados pelo leite materno, suor, secreções vaginais e esperma, urina e fezes. • Estima-se que 90% da população possua defesa natural (imunidade) contra o M. leprae; portanto, a maior parte das pessoas que entrarem em contato com o bacilo não adoecerão. • A frequência da hanseníase é igual em ambos os sexos, mas predomina a forma virchowiana nos homens (2:1) e isso ode ter alguma relação com fatores hormonais • O período de incubação dura, em média, de 2 a 7 anos. Obs: Quando a pessoa doente inicia o tratamento quimioterápico, ela deixa de ser transmissora da doença, pois as primeiras doses da medicação matam os bacilos. Obs: É sabido que a susceptibilidade ao M. leprae possui influência genética. Evolução Natural da Doença • Quando o bacilo de Hansen penetra no organismo humano, verifica-se que a infecção pode evoluir de várias maneiras: →O indivíduo tem resistência natural e abortará a infecção. →A infecção evolui para doença subclínica que regride espontaneamente. →Evolui para hanseníase indeterminada (MHI) - A maioria dos doentes (70%) com MHI pode também curar-se espontaneamente. - Menor número de doentes (30%) com MHI evolui com manifestações espectrais, conforme descrição a seguir: ▪ Forma ou tipo tuberculoide polar (TTp): - Aqui o doente depois de organizar granuloma tuberculoide no nervo e/ou na pele, estimulado pelos bacilos de Hansen, expressa seu fator genético de defesa celular e sua resposta ao antígeno de Mitsuda torna-se 3+ ulcerada. - Nessa forma, haverá elaboração de boa resposta imune celular em que as células CD4 são numerosas e dispõem-se junto aos macrófagos na área central, enquanto na periferia estão localizadas as células CD8. - Não ocorre multiplicação dos bacilos que, na grande maioria, serão eliminados. - Surgirá granuloma tuberculoide e a pesquisa anti-PGL-1 será com títulos baixos. ▪ Grupotuberculoidesubpolaroudimorfotuberculoideou,paraogrupodimorfo-dimorfo,dimorfovirc howiano ou virchowiano subpolar, conforme as características imunológicas do indivíduo e a carga bacilar recebida na infecção: - A reação de Mitsuda é negativa, mas pode ser temporariamente, pois os doentes incluídos até nesse grupo nasceram com fator natural de Rotberg ; quando a carga bacilar diminui, eles podem organizar granuloma tuberculoide e, então, passam a reagir positivamente ao antígeno de Mitsuda. ▪ Forma virchowiano polar (VVp): - Se o doente não tiver resistência e pertencer à margem Hansen anérgica de Rotberg, a reação de Mitsuda sempre será negativa e os bacilos se multiplicarão livremente nos macrófagos de todos os tecidos exceto no sistema nervoso central (SNC), caracterizando a forma grave e contagiante da moléstia. - Se o indivíduo receber carga bacilar alta na infecção e a imunidade celular específica estiver temporariamente negativa, haverá evolução para o grupo intermediário entre as formas polares e dimorfa (D) que, às vezes, se caracteriza por manifestações muito semelhantes ao tipo tuberculoide (TT ou DT) ou à forma virchowiana (DV). Fisiopatologia • A infecção ativa pelo Mycobacterium leprae é caracterizada por um curso clínico que pode variar de uma doença paucibacilar (Th1; poucos bacilos presentes), a uma multibacilar (Th2; grande carga bacilar presente nas lesões). • A resposta imune do hospedeiro pode ser do tipo resistente, ou do tipo suscetível. • Quando as células T são estimuladas a se diferenciar no padrão Th1 (secreção de IL-2, IFNɣ, IL-12, etc), a imunidade mediada por células prevalece. - Com isso, o macrófago é ativado e mata ou impede a proliferação intracelular do bacilo (um granuloma imune pode ser formado no local). - Como consequência, teremos uma forma mais branda da doença ou cura. - Temos na forma tuberculóide esse tipo de resposta. • Quando as células T são estimuladas a se diferenciar no padrão Th2 de resposta (com secreção de IL-4, IL-10), há uma grande resposta humoral, as células B são estimuladas a produzir grande quantidade de anticorpos, principalmente IgE. - Além disso, a ativação do macrófago é inibida e a resposta imune passa a ser ineficaz, o que acarreta em uma infecção progressiva. - Como consequência, teremos uma forma mais grave e de evolução lenta, como a forma virchowiana. - A forma virchowiana apresenta níveis elevados de anticorpos para o glicolipídeo fenólico 1 (anti-PGL-1 = antígeno específico da parede celular do bacilo de Hansen) e disseminam-se pela grande maioria dos tecidos caracterizando a forma grave e contagiante da moléstia (hanseníase virchowiana polar). • O padrão Th3, também supressor da imunidade mediada por células, pode ser ativado na presença de grandes quantidades deIL-4, liberadas na presença do bacilo, podendo ser usado pelo mesmo como mecanismo de evasão da resposta imune competente. Classificação • A OMS propôs também uma classificação. Nessa classificação, os doentes são divididos em: →Paucibacilares (PB): - Doentes não contagiantes; - Com poucos bacilos e acometimento neural e cutâneo; - Baciloscopia - ; - Presença de até cinco lesões de pele; - Tuberculoides e indeterminados; →Multibacilares (MB): - Doentes contagiantes; - Com muitos bacilos em todos os tecidos acometidos (exceto no SNC) e, portanto, também muitas lesões cutâneas. - Presença de seis ou mais lesões de pele ou baciloscopia + - Dimórfica e virchowiana Manifestaçoes Clinicas • As primeiras manifestações e lesões clínicas da MH ocorrem, exclusivamente, no SNP e, em geral, passam despercebidas e antecedem os sinais cutâneos. • No início, são sensitivas: ocorre perturbação da sensibilidade térmica, em seguida, dolorosa e, finalmente, a tátil. • Os ramúsculos neurais (componentes mais distais do SNP) são os primeiros a serem afetados, instalando-se a ramusculite periférica. • A seguir, a infecção progride, na direção proximal e ,finalmente, aos troncos neurais periféricos, que se tornam edemaciados, dolorosos à palpação ou percussão (sinal de Tinel+). - Essa inflamação ocorre, principalmente, próxima às articulações e provoca graves perturbações na circulação neural, agravando a isquemia. • Os importantes nervos mistos (sensitivo-motores) afetados são: - Ulnar (garra ulnar; hipo ou anestesia nos IV e V dedos); - Mediano (garra do mediano; hipo ou anestesia nos I, II e III dedos); - Radial (“mão caída”); -Fibular (hipo ou anestesia plantar - As alterações sensitivas e motoras desse nervo conjugam-se na fisiopatologia da úlcera plantar, uma das incapacidades mais graves causadas pela hanseníase ); trigêmeo e o facial. - Tibial (paralisia dos músculos intrínsecos do pé - “dedos em garra”). • As lesões motoras levam a paresias ou paralisias que correspondem à fraqueza muscular, amiotrofias, retrações tendíneas e fixações articulares (garras). Clinica Cutânea: • Áreas da pele, ou manchas hipocrômicas, acastanhadas ou avermelhadas, com alterações de sensibilidade ao calor e/ou dolorosa, e/ou ao tato. • Formigamentos, choques e câimbras nos braços e pernas, que evoluem para dormência – a pessoa se queima ou se machuca sem perceber; • Pápulas, tubérculos e nódulos. • Diminuição ou queda de pelos, localizada ou difusa, especialmente nas sobrancelhas (madarose) • Pele infiltrada (avermelhada), com diminuição ou ausência de suor no local. Formas Clínicas • As manifestações clínicas da doença estão diretamente relacionadas ao tipo de resposta ao M. leprae. → Hanseníase Indeterminada: • Resposta Th0, o corpo ainda não definiu qual padrão de resposta vai seguir; • Todos os pacientes passam por essa fase no início da doença; • É a forma inicial, a qual evolui espontaneamente para a cura na maioria dos casos ou evolui para as formas polarizadas, o que pode ocorrer no prazo de 3 a 5 anos. • Geralmente, encontra-se apenas uma lesão, de cor mais clara que a pele normal, sem alteração de relevo, com distúrbio da sensibilidade, ou áreas circunscritas de pele com aspecto normal e com distúrbio de sensibilidade (térmica e/ou dolorosa, normalmente a tátil é preservada), podendo ser acompanhadas de alopecia e/ou anidrose. • Não há comprometimento de troncos nervosos nesta forma clínica, apenas ramúsculos nervosos cutâneos. • A baciloscopia é negativa. • O teste de Mitsuda pode ser positivo ou negativo e não é diagnóstico. • O aspecto geral das lesões pode sugerir a evolução do doente: • - Se o número dessas lesões for pequeno e as alterações sensitivas forem bem acentuadas, é bem possível que a resistência imunocelular aos bacilos tenha sido estimulada = o doente poderá curar-se espontaneamente ou evoluirá para a forma tuberculoide. • - Se o doente apresentar muitas lesões maculosas de limites pouco precisos, nas quais os distúrbios de sensibilidade são discretos, a imunidade celular, provavelmente, é baixa ou nula e a evolução natural, se não tratada, será para as formas dimorfa ou virchowiana. → Hanseníase Tuberculóide: • Forma da doença em que o sistema imune da pessoa consegue destruir os bacilos espontaneamente; tem um tempo de incubação de cerca de 5 anos. • Descrevem-se inicialmente máculas, que evoluem para lesões em placas com bordas papulosas, e áreas de pele eritematosas ou hipocrômicas. • São, em geral, únicas ou em pequeno número, com distribuição assimétrica e podem localizar-se em qualquer lugar da pele. • Os distúrbios sensitivos nas lesões cutâneas são bastante acentuados, assim como as alterações da sudorese e vasomotoras. • Pode haver alopecia parcial ou total. • Em algumas ocasiões, pequenos nervos espessados parecem emergir das placas e constituem o que se denomina de lesão tuberculoide “em raquete” • Apesar da possibilidade de cura espontânea na HT, a orientação é de que os casos sejam tratados para reduzir o tempo de evolução da doença e o risco de dano neural. • A baciloscopia nas lesões é negativa. • O teste de Mitsuda é fortemente positivo e essa forma clínica tem tendência à cura espontânea. → Hanseníase Dimorfa (borderline): • Forma intermediária, resultante de uma imunidade intermediária. • Características clínicas e laboratoriais podem se aproximar do polo tuberculoide ou virchowiano; • O período de incubação é de 10 anos ou mais. • A variedade de lesões cutâneas é maior e estas apresentam-se como placas, nódulos eritêmato-acastanhados, em grande número, com tendência à simetria. • Há perda parcial a total da sensibilidade, com diminuição de funções autonômicas (sudorese e vasorreflexia à histamina). • As lesões mais características dessa forma clínica são denominadas lesões pré-faveolares ou faveolares, elevadas ou não, com áreas centrais deprimidas e aspecto de pele normal, com limites internos nítidos e externos difusos. • O acometimento dos nervos é mais extenso, podendo ocorrer neurites agudas de grave prognóstico. • A infiltração assimétrica da face e dos pavilhões auriculares, bem como a presença de lesões no pescoço e nuca, é elemento sugestivo desta forma clínica. • A baciloscopia da borda infiltrada das lesões, quando bem coletada é frequentemente positiva, exceto em casos raros em que a doença está confinada aos nervos. • A hanseníase dimorfa pode ser subclassificada em: ▪ Borderline Tuberculoide (BT): Se caracteriza por lesões com aspecto tuberculoide, com centro da lesão deprimido ou até,normal, mais numerosas que no tipo tuberculoide polar, dispostas assimetricamente no tegumento - A baciloscopia é negativa. ▪Borderline Borderline (BB): lesões semelhantes ao “queijo suíço” (“esburacadas”), também descritas como anulares ou foveolares, com limite interno nítido e limites externos imprecisos, com bordas de cor ferruginosa. - A baciloscopia geralmente é positiva. - Edema de membros inferiores e febre acompanham esta reação. ▪ Borderline Virchowiana (BV): Apresenta lesões que não são tão polimorfas quanto as das formas virchowianas, predominando as placas foveolares (placas com área central de pele normal, borda interna bem delimitada e a externa espessada e mal delimitada); Nódulos com tonalidade pardacenta ou ferruginosa; são numerosas distribuindo- se por todo o tegumento. - A baciloscopia é positiva. → Hanseníasevirchowiana(oulepromatosa): • É a forma mais contagiosa da doença. • Nesse caso, a imunidade celular é nula e o bacilo se multiplica com mais facilidade, levando a uma maior gravidade, com anestesia dos pés e mãos. • Apresenta polimorfismo muito grande de lesões. - Inicialmente, são manchas muito discretas, hipocrômicas, múltiplas e de limites imprecisos, às vezes, observáveis somente em diferentes incidências de luz. - Insidiosa e progressivamente, tornam-se eritematosas, eritematopigmentadas, ferruginosas e espessadas. • Na evolução da doença, é comum aparecerem caroços (pápulas e nódulos) escuros, endurecidos e assintomáticos (hansenomas). • Quandoa doença encontra-se em estágio mais avançado, pode haver perda parcial a total das sobrancelhas (madarose) e também dos cílios, além de outros pelos; - Quando as lesões são muito numerosas na face e há conservação dos cabelos, caracteriza-se o aspecto de “fácies leonina”. • Dor nas articulações e câimbras são comuns. • A baciloscopia nas lesões é sempre positiva. • O teste de Mitsuda é negativo. • Na hanseníase virchowiana o diagnóstico pode ser confirmado facilmente pela baciloscopia dos lóbulos das orelhas e cotovelos, que se apresenta fortemente positiva (multibacilar). Reaçoes Hanseniacas • São alterações do sistema imunológico que se exteriorizam como manifestações inflamatórias agudas e subagudas que se intercalam no curso crônico da hanseníase. • Essas reações podem ocorrer antes do diagnóstico da doença (às vezes, levando à suspeita diagnóstica de hanseníase), durante ou depois do tratamento, normalmente seguem-se a fatores desencadeantes (como infecções recorrentes, estresse, etc). → Reação Tipo 1 : • • • • • • • • • • • Essas manifestações agudas ou subagudas ocorrem nos doentes interpolares; isto é, naqueles com MH tuberculoide subpolar, dimorfo tuberculoide, dimorfo-dimorfo e em alguns doentes dimorfos muito avançados. As lesões da reação tipo I têm muito constante predileção por algumas regiões: face, palmas das mãos (frequente) e planta dos pés; por vezes, as lesões são enormes, ocupando todo um segmento. De degradação ou de piora: Ocorre, em geral, nos doentes virgens de tratamento ou naqueles que tomam irregularmente suas medicações. As lesões existentes se tornam mais eritematoedematosas e aparecem outras lesões novas agudas com as mesmas características em outros locais do tegumento e em pequeno número; são hipertérmicas e dolorosas. Pode haver edema acentuado das extremidades e acometimento de maior número de nervos. Do ponto de vista baciloscópico, ocorre aumento da carga bacilar. O teste de Mitsuda torna-se negativo. Inversa ou reversa ou de melhora: + Comum nos paucibacilares Hipersensibilidade tipo 4 = hipersensibilidade a antígenos liberados pela destruição bacilar realizada ou pelas defesas do hospedeiro e/ou pela ação dos medicamentos quando estão sendo utilizados. Mediada pela imunidade celular, é marcado pelo aparecimento de novas lesões dermatológicas (manchas ou placas), infiltração, alterações de cor e edema nas lesões antigas, com ou sem espessamento e neurite. Febre baixa pode estar presente. → Reação Tipo 2 (eritema nodoso hansênico): • + Comum em multibacilares. • São mediadas por anticorpos e correspondem às reações tipo 3 de Gell e Combs. • Desencadeada por depósito de imunocomplexos nos tecidos e vasos (hipersensibilidade tipo 3), é a expressão clínica mais frequente, cujo quadro inclui nódulos subcutâneos dolorosos, acompanhados ou não de febre, dores articulares e mal-estar generalizado, com ou sem espessamento e neurite. • Às vezes, a febre alta e prolongada domina o quadro clínico • As lesões pré-existentes permanecem inalteradas. → Fenômeno de Lucio • Necrose de arteríolas com invasão maciça de bacilos. Tratamento das Reações → Reação tipo 1: Iniciar prednisona na dose de 1mg/kg/dia ou dexametasona na dose de 0,15mg/kg/dia em casos de pacientes hipertensos ou cardiopatas, conforme avaliação clínica; ▪ Manter a PQT, se o doente ainda estiver em tratamento específico; ▪ Imobilizar o membro afetado com tala gessada, em caso de neurite associada; ▪ Monitorar a função neural sensitiva e motora; ▪ Reduzir a dose de corticoide, conforme resposta terapêutica; → Reação tipo 2: A talidomida é a droga de escolha na dose de 100 a 400mg/dia, conforme a intensidade do quadro. - Na impossibilidade do seu uso, prescrever prednisona, na dose de 1mg/kg/dia ou dexametasona na dose equivalente. ▪ Introduzir corticosteroide em caso de comprometimento neural, segundo o esquema já referido; ▪ Reduzir a dose da talidomida e/ou do corticoide, conforme resposta terapêutica; ▪ Na associação de talidomida e corticoide, usar AAS 100 mg/dia como profilaxia para tromboembolismo. Diagnostico → • • • • • Diagnóstico clínico: Inicialmente deve-se realizar uma boa anamnese + exame dermatoneurológico. Observar a simetria dos movimentos palpebrais e sobrancelhas, avaliar se há espessamento visível ou palpável dos nervos do pescoço, punho e pés. Depois, palpe os nervos ulnar(quarto e quinto dedos da mão), fibular(lateral da perna e dorso do pé)e tibial (região plantar), observando se eles estão visíveis, assimétricos, endurecidos, dolorosos ou com sensação de choque. - Caso alguma anormalidade seja encontrada, iniciar teste de sensibilidade (térmica, dolorosa e tátil). Em seguida, examinar toda a pele, começando pela face e terminando nos membros inferiores. Quando encontrar alguma lesão, marca-la para posteriormente realizar os testes de sensibilidade, se necessário. • Teste da sensibilidade térmica: Faça o teste de sensibilidade térmica nas áreas suspeitas: lesões de pele não elevadas (manchas) ou elevadas (placas, nódulos); áreas de pele secas ou áreas referidas pelo paciente como regiões com alteração de sensibilidade; territórios dos nervos ulnar (quarto e quinto dedos da mão), do nervo radial (dorso da mão até o terceiro dedo), do nervo fibular (lateral da perna e dorso do pé), do nervo tibial (região plantar). - Compare com a área de pele normal contralateral ou adjacente. - Se houver diferença na percepção da temperatura nas lesões (hipo ou anestesia) circundada por áreas periféricas de sensibilidade normal (normoestesia) é sinal de alteração da sensibilidade térmica. • Teste da sensibilidade dolorosa: Faça o teste da sensibilidade dolorosa utilizando uma agulha. - Encoste a ponta nas lesões de pele com uma leve pressão, tendo o cuidado de não perfurar o paciente, nem provocar sangramento. - Faça isso alternando área interna e externa à lesão, observando expressão facial e queixa de respostas à picada. - A anestesia ou hipoestesia dentro da área de lesão confirma o diagnóstico. • Teste da sensibilidade tátil: Embora a sensibilidade tátil seja frequentemente a última a ser perdida, deve-se buscar as diferenças de sensibilidade sobre a área a ser examinada e a pele normal circunvizinha, utilizando-se algodão, fio dental. → Diagnóstico laboratorial: • Na maior parte dos casos, os exames complementares não serão necessários para o diagnóstico e classificação dos doentes mas, sempre que solicitados, relacionar os resultados ao quadro clínico do paciente. 1) Baciloscopia de raspado intradérmico: - Pode ser realizada na borda da lesão, a fim de classificar os pacientes; - Normalmente é negativa em paucibacilares e positivo em multibacilares. - Pode ser coletado material também dos lóbulos das orelhas e dos cotovelos (áreas “frias” da pele), quando não houver lesões de pele visíveis. - Havendo lesões visíveis, sempre uma lesão de pele, pelo menos, deve ser representada. 2) Histamina exógena: - Consiste numa prova funcional para avaliar a resposta vasorreflexa à droga, indicando integridade e viabilidade do sistema nervoso autonômico de dilatar os vasos cutâneos superficiais, o que resulta na presença do sinal da pápula e eritema. - Como resposta ao difosfato de histamina 1,5%, em áreas normais, são esperados três sinais típicos que caracterizam a tríplice reação de Lewis: →Sinal da punctura: lesões puntiformes avermelhadas que surgem quase que imediato (até 15 segundos) à escarificação por agulha de insulina dentro da gota aplicada sobre a área hipocrômica; →Eritema reflexo: eritema que atinge de 2 a 8cm ao redor da área com limites fenestrados percebido a partir de 30 a 60 segundos após a escarificação; →Pápula: caracteriza-se por lesão intumecida lenticular que surge após 2 a 3 minutos no local da punctura/escarificação. - Se não ocorrer o eritema, não sendo uma lesão de nascença (nervo anêmico), ou se o paciente não estiver utilizando antialérgicos, essa ocorrência (prova da histamina incompleta) é altamente sugestiva de hanseníase. - O teste deve ser feito também em umaárea de pele não comprometida, para controle positivo, onde a prova deve ser completa (observa-se as 3 fases descritas anteriormente). • A prova de histamina endógena também permite avaliar a função vascular por meio da liberação de histamina endógena que consiste em traçar uma reta na pele do paciente utilizando-se de um instrumento rombo (tampa de caneta esferográfica, cotonete, chave, etc). O traçado deve ser aplicado com moderada força e de maneira contínua, iniciando na região supostamente normal superior, passando pela área de lesão e terminando distalmente sobre área de normalidade. - Deve-se ficar atento às mesmas fases descritas acima, esperando-se um eritema reflexo linear e homogêneo de 0,5 a 1cm de largura junto ao traço. - Nas lesões de hanseníase, esse eritema não acontece internamente e as manchas se tornam mais definidas em contraste ao eritema externo intenso. 3) Exame histopatológico (biópsia de pele): - Na hanseníase indeterminada, encontra-se, na maioria dos casos, um infiltrado inflamatório que não confirma o diagnóstico de hanseníase. A procura de bacilos (BAAR) é quase sempre negativa. - Na hanseníase tuberculóide, encontra-se um granuloma do tipo tuberculóide (ou epitelióide) que destrói pequenos ramos neurais, agride a epiderme e outros anexos da pele. A procura de bacilos (BAAR) é negativa. - Na hanseníase virchowiana, encontra-se um infiltrado histiocitário xantomizado ou macrofágico, e a pesquisa de bacilos mostra incontáveis bacilos dispersos e organizados em grumos (globias). - Na hanseníase dimorfa, há um infiltrado linfo-histiocitário, que varia desde inespecífico até com a formação de granulomas tuberculóides; a baciloscopia da biópsia é frequentemente positiva, sobretudo nos nervos dérmicos e nos músculos lisos dos pelos. Prova da Pilocarpina: Vai detectar a anidrose -> evoca a sudorese pelos nervos periféricos locais. Tratamento • O tratamento da hanseníase é eminentemente ambulatorial, utilizando a poliquimioterapia que é uma associação de rifampcina, dapsona e clofazimina, na apresentação de blíster que mata o bacilo e evita a evolução da doença, levando à cura. • Deve-se iniciar o tratamento já na primeira consulta, após a definição do diagnóstico, se não houver contraindicações formais (alergia à sulfa ou à rifampicina). • O bacilo morto é incapaz de infectar outras pessoas, rompendo a cadeia epidemiológica da doença. → Esquemas terapêuticos para paucibacilar (PB): 6 cartelas. • O comparecimento deve ser mensal para dose supervisionada; • O tratamento estará concluído com 6 doses supervisionadas em até 9 meses; na 6a dose, os pacientes deverão ser submetidos ao exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e do grau de incapacidade física, antes de receber alta por cura. OBS: A gravidez e o aleitamento não contraindicam o tratamento PQT padrão. → Esquemas terapêuticos para multibacilar: 12 cartelas • O tratamento estará concluído com 12 doses supervisionadas em até 18 meses. • Na 12a dose, os pacientes deverão ser submetidos ao exame dermatológico, à avaliação neurológica simplificada e do grau de incapacidade física, antes de receberem alta por cura. Dose de BCG em pacientes com Hanseniase: → Menores de 1 (um) ano de idade2: - Não vacinados: administrar 1 (uma) dose de BCG. - Comprovadamente vacinados que apresentem cicatriz vacinal: não administrar outra dose de BCG. - Comprovadamente vacinados que não apresentem cicatriz vacinal: administrar uma dose de BCG seis meses após a última dose. → A partir de 1 (um) ano de idade2: - Sem cicatriz: administrar 1 (uma) dose. - Vacinados com 1 (uma) dose: administrar outra dose de BCG, com intervalo mínimo de 6 (seis) meses após a dose anterior. - Vacinados com 2 (duas) doses: não administrar outra dose de BCG
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