Buscar

Diarreia Aguda

Prévia do material em texto

Diarreia Aguda: 03/ 10 - Dr. José Mario 
Definição: 
- Eliminação súbita de fezes acima do 
normal, acompanhada de um aumento do 
número de evacuações. 
• 3 a 5 evacuações/ dia. 
• Independente da consistência das fezes. 
- DIARREIA AGUDA: 
• Início abrupto. 
• Duração de até 14 dias. 
- Diarreia aguda com sangue (DESINTERIA): 
• Presença de sangue nas fezes. 
• Por lesão da mucosa intestinal. 
- DIARREIA PERSISTENTE: 
• Maior que 15 dias. 
• Auto limitada. 
• Após quadro de enterite. 
• Pode ser persistente após quadro de 
diarreia aguda. 
- DIARREIA CRÔNICA: 
• Maior que 30 dias. 
• Início abrupto ou insidioso. 
• Pode levar à síndrome de má absorção 
intestinal (problemas de nutrição, 
crescimento a longo prazo). 
Diarreia aguda: 
- Início abrupto. 
- Etiologia infecciosa (vírus, bactérias e 
protozoários). 
• 90% das diarreias nas crianças são 
causadas por vírus. 
- Duração inferior de 14 dias. 
- Aumento de frequência e/ ou volume das 
evacuações. 
- Perda de água e eletrólitos. 
- Desnutrição (quando há quadros repetidos). 
Introdução: 
- Distribuição universal. 
- Autolimitada. 
- Duração de até 14 dias. 
- Má absorção de água e eletrólitos. 
• Desidratação = grande problema. 
- Alta morbidade infantil mundial. 
- Populações mais pobres geralmente. 
- Transmissão oral fecal (maioria). 
- Aleitamento materno (importante manter 
mesmo durante o quadro diarreico). 
Patogenia: 
- Desequilíbrio entre os processos de 
absorção e secreção de água e eletrólitos 
no intestino por ação do patógeno. 
• Aumento do fluxo de água, eletrólitos e 
nutrientes do meio interno para luz 
intestinal. 
• Principais íons: sódio, potássio, cloro, 
bicarbonato e hidrogênio. 
• Primeiro perde os eletrólitos e depois 
a água (por osmolaridade). 
- Mecanismos principais de produção de 
diarreia: 
• Diarreia osmótica. 
• Diarreia secretora. 
- DIARREIA OSMÓTICA: 
• Os patógenos eram lesão no epitélio com 
diminuição da atividade das enzimas 
dissacaridaes (ex: lactase). 
• Levando à diminuição da absorção/ 
digestão dos açúcares e aumento da 
osmolaridade luminal. 
• Aumenta o conteúdo fecal = diarreia 
osmótica. 
Catarina Alipio XXII-B Página 29
- DIARREIA SECRETORA: 
• Ocorre através de enterotoxinas 
bacterianas que aumentam a secreção 
intestinal e ativação de 
proteinocinases com abertura dos 
canais de cloreto. 
• Caí mais íons na luz intestinal puxando 
sódio e água = diarreia secretora. 
- Característica das fezes: 
• Diarreia osmótica: 
- Fezes explosivas, com gases. 
- Distensão e cólicas abdominais. 
- Hiperemia da região perineal pela acidez 
das fezes. 
• Diarreia secretora (extremamente 
grave): 
- Grande perda de água e eletrólitos. 
- Pode causar desidratação grave e 
choque. 
Etiologia: 
- Bacteriana. 
- Viral. 
- Protozoários. 
Etiologia bacteriana: 
- E coli enteropatogênica: 
• Causa má absorção de água, eletrólitos 
e nutrientes. 
• Crianças < 2 anos. 
• Surtos em hospitais, berçários e pós 
enterite. 
• Diarreia aquosa com vômitos, febre e 
dor abdominal. 
- E coli enterotoxigênica: 
• Contaminação de água e alimentos. 
• Prevalente em países em desenvolvimento. 
• Acomete indivíduos de todas as idades. 
• Diarreia do viajante. 
• Diarreia aquosa e abundante. 
• Autolimitada (em 5 dias). 
- E coli enteroinvasiva: 
• Pouco frequente no 1º ano de vida. 
• Diarreia aquosa passando a 
mucossanguinolenta. 
• Tenesmo, cólica, febre e anorexia. 
- E coli enterohemorrágica: 
• Transmitida pela ingestão de carne mal 
cozida ou leite não pasteurizado. 
• Mais comum em crianças de 5 a 9 anos. 
• Diarreia sanguinolenta, dor abdominal 
em cólica com vômitos. 
• Duração média de 4 dias. 
• Síndrome hemolítica urêmica: 
- Diarreia sanguinolenta, anemia 
hemolítica, trombocitopenia, IRA = 
morte. 
- Grande causa de mortalidade na criança, 
muito grave. 
- Ocorre entre 5 a 10% das crianças que 
manifestam a E coli enterohemorrágica. 
- E coli enteroagregativa: 
• Diarreias persistentes. 
• Desnutrição e retardo no crescimento. 
• Diarreia aquosa, secretora com muco e 
febre baixa. 
- E coli enteroaderente difusa: 
• Diarreia prolongada. 
• Crianças < 6 anos. 
- Shygella sp: bactéria gram negativa, 
produtora de citotoxinas e neurotoxinas. 
Responsável pela disenteria bacilar: 
Catarina Alipio XXII-B Página 30
• Evacuações em pequenos volumes e grade 
frequência. 
• Presença de água, sangue, muco e pus. 
• Tenesmo e cólicas abdominais. 
• Altamente contagiosa. 
• Transmissão pessoa - pessoa. 
• Disseminação hematogênica ( = sepse). 
• Mais comum entre 1 a 4 anos. 
• Duração de 5 a 7 dias. 
- Salmonella sp: 
• Bacilo gram negativo. 
• Acomete crianças < 5anos. 
• Fezes aquosas com muco e sangue. 
• Cefaleia, dor abdominal e febre. 
• Pode cair no sangue e causar 
manifestações sistêmicas. 
• Pode ser dividida em: 
- Tifóide: infecta exclusivamente o 
homem. 
- Não tifóide: infecta o homem e outros 
animais. 
- Yersinia sp: 
• Divide-se em 2 sorotipos: 
- Y enterocolítica. 
- Y pseudotuberculosis. 
• Adultos e crianças. 
• Países de clima temperado. 
• Encontrada em animais domésticos, água, 
leite e carnes contaminadas. 
• Suínos: principal foco de transmissão para 
o homem. 
• Cólicas, vômitos, febre e diarreia com 
sangue. 
• Complicações: 
- Ulcerações. 
- Perfurações intestinais. 
- Megacólon tóxico. 
- Intussuscepção. 
- Clampylobacter sp: 
• Bacilos gram negativos. 
• Países industrializados. 
• Reservatório principal = animais. 
• Ingestão de alimentos contaminados. 
• Transmissão animal - pessoa. 
• Diarreia de início abrupto com muco e 
sangue. 
• Febre, cefaleia, mialgia, dor 
abdominal e sepse. 
- Vibrio cholera (cólera): 
• Bacilo gram negativo. 
• Responsável por grandes epidemias de 
diarreia. 
• Transmissão por água e alimentos 
contaminados. 
• Gastroenterite grave e vômitos. 
• Grande perda de água e eletrólitos = 
choque. 
• Fezes com água e muco (água de arroz). 
- Clostridium difficile: 
• Bacilo gram positivo. 
• Transmissão pessoa-pessoa. 
- Infecção nosocomial. 
- Ambiente hospitalar e/ ou uso de ATB. 
- Causa a colite pseudomembranosa: 
diarreia com sangue e muco, dor 
abdominal, febre e desidratação. 
Etiologia viral: 
- Até a década de 70 não existia hipótese 
diagnostica por vírus e todas diarreias eram 
tratadas com ATB. 
- Em 1972 = primeiros agentes virais. 
• Mudou totalmente o diagnóstico e 
tratamento das diarreias. 
Catarina Alipio XXII-B Página 31
• 90% das diarreias de crianças são 
causadas por vírus (não entra com ATB). 
- Distribuição universal. 
- Transmissão oral-fecal e pessoa-pessoa. 
- Água, alimentos e objetos 
contaminados. 
- Rotavírus (principal): 
• Principal causa de diarreia grave em 
crianças < 2 anos. 
• Sorotipos G1 e G4 são os mais 
importantes. 
• Diarreia líquida e abundante, vômitos, 
febre e desidratação. 
• Duração de 5 a 7 dias. 
• Vacina = diminuiu muito infecção pelo 
rotavírus evita reinternação e quadros 
repetidos de diarreia na criança. 
- Norovírus: 
• Diarreia associada a contaminação 
alimentar. 
• Ex cruzeiros marítimos. 
• Foi o vírus isolado que descobriu a etiologia 
viral de diarreias em crianças. 
• Acomete todas as idades. 
• Diarreia com náuseas e vômitos. 
- Astrovírus: 
• Em crianças < 1 ano. 
• Infecções nosocomiais: 
- Creches. 
- Imunodeprimidos. 
• Fezes líquidas, vômitos e febre baixa. 
Etiologia por protozoários: 
- Giardia lamblia: 
• Transmissão pessoa - pessoa ou 
ingestão de água e alimentos 
contaminados. 
• Diarreia aguda ou crônica com 
síndrome de má absorção. 
• Fezes com muco. 
- Entamoeba histolytica: 
• Transmissão pela ingestão de água e 
alimentos contaminados ou via direta. 
• Mais comum em escolares e 
adolescentes. 
• Evacuações com muco, sangue, cólicas 
e tenesmo. 
Quadro clínico: 
- Evitar a desidratação. 
- Fatores dependentes (onde mora,com 
quem mora, higiene, saneamento, 
alimentação…). 
- Alterações do transporte de água e 
eletrólitos no trato digestivo. 
- Mecanismo digestivo, absortivo e 
secretório do intestino comprometido. 
- Febre, vômitos, dor abdominal (tipo 
cólica), diminuição do apetite. 
- Raros: sepse, insuficiência renal, convulsões, 
choque. 
- Desnutrição e desidratação = distúrbios 
eletrolíticos. 
Diagnóstico: 
- Autolimitadas, por isso dificilmente 
pedimos exames. 
- Acabamos pedindo exames em casos 
específicos: 
• Lactentes jovens. 
• Desnutridos graves. 
• Imunodeprimidos. 
- Exames: 
• Parasitológicos de fezes e 
coprocultura (não pedimos na urgência 
pois demora, são de rotina). 
• Pesquisa de vírus nas fezes. 
• pH fecal e substâncias redutoras. 
Catarina Alipio XXII-B Página 32
- É difícil pedirmos exames específicos para 
diarreia. 
Tratamento: 
- Previnir e repor as perdas de agua e 
eletrólitos para manter o aporte calórico. 
- A partir da avaliação clinica vamos ter 3 
planos de tratamento: 
• Plano A. 
• Plano B. 
• Plano C. 
Plano A: 
- Quadro clínico: 
• Desidratação leve ou sem sinal de 
desidratação. 
• Perda de peso < 5%. 
• Alerta. 
• Estado geral preservado. 
• Lágrimas e saliva presentes. 
• Bebendo água normalmente. 
• Pulso cheio. 
• Enchimento capilar normal (até 3 
segundos). 
• Sem sinal da prega. 
• Olhos normais. 
- É uma criança com diarreia sem 
desidratação ou perda de peso. 
- Tratamento em domicílio. 
- Aumentar oferta de líquidos. 
- Alimentação habitual. 
- Sinais de alarme: de agravamento. 
• Aumento de evacuações/ vômitos. 
• Recusa alimentar. 
• Sangue nas fezes. 
• Plano B (?): plano A complicando para 
plano B. 
Plano B: 
- Quadro clínico: 
• Desidratação moderada. 
• Perda de peso entre 5 a 10%. 
• Irritabilidade. 
• Olhos fundos. 
• Mucosa seca. 
• Sedenta. 
• Sinal da prega com desaparecimento. 
• Pulso rápido. 
• Enchimento capilar lentificado. 
- É uma criança com algum grau de 
desidratação e perda de peso. 
- Terapia de reehidratação oral (TRO) sob 
supervisão médica. 
• Soros caseiros ou soros prontos. 
- Manter aleitamento materno. 
- Jejum durante TRO. 
- Iniciar alimentação no serviço. 
- Sinais de alarme: 
• Evacuações/ vômitos persistirem. 
• Evolução para desidratação grave ou 
retornar ao PS. 
• Plano C (?). 
Catarina Alipio XXII-B Página 33
Plano C: 
- Quadro clínico: 
• Comatoso. 
• Olhos muito fundos. 
• Mucosas muito secas. 
• Incapacidade de beber. 
• Sinal da prega muito lenificado. 
• Pulso débil. 
- É uma criança com desidratação grave 
ou sem melhora após o plano B. 
- Correção de desidratação grave por via 
parenteral (soro EV). 
- FASE RÁPIDA: 
• SF 0,9% 50 mL/ Kg sem eletrólito para 
correr em 2 horas. 
• Reavaliar e observar diurese. 
- Hidratação satisfatória: quando… 
• Passamos da fase rápida para de 
manutenção. 
• Se ela não apresentar essa diurese, 
podemos fazer uma nova fase rápida. 
• Aleitamento materno mantido. 
• Manter dieta habitual. 
- FASE DE MANUTENÇÃO: 
• Regra de Holiday e Segar: volume em 
24 horas de hidratação. 
- Peso corporal até 10 Kg = 100 mL/ kg. 
- Peso corporal entre 10 e 20 Kg = 1000 
mL + 50 mL/ kG ACIMA DE 10 kG. 
- Peso corporal maior que 20 Kg = 1500 
mL + 20 mL/ Kg acima de20 kg. 
Tratamento: 
- Medicação: uso criterioso. 
• Antibióticos: podem ser usados nas 
diarreias com sangue. 
- Shigella. 
- Cólera. 
- Giardíase. 
- Amebíase. 
• Antieméticos (não usa mais, induzem a 
sono, e comprometa avaliação da criança). 
- Uso de zinco: 
• Reduz a duração do quadro de diarreia. 
• Diminui a ocorrência de novos 
episódios de diarreia. 
• DOSE: 
- 10 mg nos primeiros 6 meses de vida. 
- 20 mg a partir de 6 meses. 
- Duração de 10 a 14 dias. 
- Racecadotrila: 
• Reduz a secreção intestinal de água e 
eletrólitos. 
• Reduz as perdas diarreicas (reduz 
volume da diarreia) 
• Não interfere na motilidade intestinal. 
• Duração: usar durante o processo 
diarreico. 
- Probióticos: 
• Diminui as perdas diarreicas (???) - alguns 
pacientes tem melhoras e outros não. 
- Lactobacilos GG (mais usado). 
- Lactobacilos Reuteri. 
- Sacharomyces bolardii (menos comum 
no BRA). 
- Vitamina A: diminui o risco de 
hospitalização. 
• Em doses de tratamento. 
• Diminui o número de evacuações. 
Prevenção: 
- Vacina rotavírus: diminuiu muito a 
incidência e morbidade. 
- Melhoria das condições de saneamento e 
higiene alimentar. 
Catarina Alipio XXII-B Página 34
Considerações finais: 
➡ Etiologia é na maioria dos casos uma 
infecção viral. 
➡ É prioritária a prevenção e correção da 
desidratação. 
➡ A realimentação deve ser precoce conforme 
alimentação habitual da criança. 
➡ Nunca suspender o aleitamento materno. 
➡ Não se recomenda o uso de antidiarreicos. 
➡ A diarreia aguda é uma doença 
autolimitadaç. 
➡ Orientar sempre quanto aos sinais de 
desidratação. 
Catarina Alipio XXII-B Página 35

Continue navegando